sábado, 28 de março de 2015

Na Tunísia, Via Campesina defende fortalecimento da soberania alimentar

no Portal do MST
Debate realizado no Fórum Social Mundial, em Túnis, expôs a necessidade de combater o modelo de produção das multinacionais e fortalecer a produção familiar agroecológica.

por José Gilbert Arruda Martins
O FSM é uma importante "arma" que os movimentos sociais do mundo têm para combater a crescente destruição da vida no planeta.
A destruição da vida, não apenas do meio ambiente, mas a vida humana em todos os sentidos.
Vejamos, o grande capital é o responsável pelo controle das grandes empresas e empreendimentos que hoje poluem e aumentam a camada de ozônio além de fragilizar praticamente todos os ecossistemas, um exemplo absurdo, são os efeitos no fundo dos ocanos com extinção ou diminuição de corias que são importantes fontes de oxigênio para a vida na terra.
O FSM é um instrumento fundamental para alertar e educar as novas gerações criando a possibilidade, através da educação e de uma nova cultura preservacionista e alternativa, de um futuro onde se construíra relações com o planeta terra muito mais respeito.
As alternativas, que o grande capital rentista passa a todos e todas, é que só temos uma, exatamente aquela predatória, que, para produzir em larga escola, tem que ter depredação, em outras palavras é exatamente o que defendem.
Agora, esse debate e as resoluções e decisões do Fórum Social Mundial, precisam ser debatidos nas escolas e universidades de todo o mundo, do contrário pode virar letra morta e apenas retórica.

Na Tunísia, Via Campesina defende fortalecimento da soberania alimentar

Debate realizado no Fórum Social Mundial, em Túnis, expôs a necessidade de combater o modelo de produção das multinacionais e fortalecer a produção familiar agroecológica.
Por Simone Freire
Especial à Página do MST, de Túnis (Tunísia)

A necessidade de reverter a atual crise do sistema alimentar se torna cada vez mais urgente, e a possibilidade de solucionar essa questão estaria na criação de alternativas que visem o fortalecimento da produção familiar agroecológica. Esta foi a conclusão de uma das primeiras atividades da Via Campesina no Fórum Social Mundial 2015 (FSM), em Túnis (Tunísia), nesta quarta-feira (25).

Sob o tema “Recuperar os sistemas alimentares locais”, a atividade propôs um intercâmbio das experiências ao redor do mundo. Para os presentes, o primeiro passo para ampliar este tipo de produção é romper com a lógica capitalista, que entende o alimento como mercadoria e trata a alimentação como uma ação mecanizada.

“Precisamos pensar como podemos nos apropriar do sistema alimentar. Quando compramos comida esquecemos que isso é um ato político”, destacou Judith Hirchman, da rede internacional de apoio à agricultura comunitária, URGENCI.

Para ela, entender a diferença entre segurança alimentar e soberania alimentar também é um ponto chave no debate, pois, embora eles estejam relacionados, há diferenças quando se vai à luta prática e real. 

“Nós queremos comida local produzida por produtores pequenos, sem produtos químicos, sem veneno. Mas, soberania também é decidir o que e como comer. Na cidade, por exemplo, precisamos saber de onde vem nosso alimento. A agroecologia é uma forma de entender a alimentação das pessoas e se passa a ideia de solidariedade coletiva. Não está relacionada às transnacionais”, disse.

Para Adriana Oliveira, do MST, também se deve romper com a ideia de padronização alimentar e qualquer forma de produção transgênica, uma vez que ela não respeita a terra, a biodiversidade e as particularidades de cada região.

Com um papel de “guardiãs das sementes”, a integrante do MST também destacou a participação fundamental da mulher na produção desses alimentos. 

“Temos que ter um olhar sobre a agricultura de semear, proteger e respeitar o tempo da natureza. A agricultura precisa dialogar com a biodiversidade de cada local, ao contrário do monocultivo”, explica.

A experiência brasileira

No Brasil, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) do ano passado, há mais de quatro milhões de estabelecimentos familiares rurais. A participação desses agricultores no Produto Interno Bruto (PIB) Agropecuário é de 33% e, no que se refere à geração de empregos, o setor emprega 74% da mão de obra no campo.

Sob esta perspectiva, os Sem Terra buscam criar uma grande rede de produção alimentar. Não à toa, o MST possui 100 cooperativas e 96 agroindústrias, que buscam fortalecer a economia e renda das milhares de famílias assentadas e acampadas por todo o Brasil. 

Sua produção inclui arroz, feijão, milho, batata, mandioca, leite, entre outros alimentos que são destinados para consumo das próprias famílias, mas também comercializados em feiras e enviados para a merenda escolar de alguns municípios.

Partilhando estas experiências concretas, Adriana expôs alguns exemplos no sul do Brasil. O primeiro deles foi o de Santa Tereza do Oeste, a cerca de 520 quilômetros de Curitiba, no oeste do Paraná, onde o Movimento ocupou um terreno da multinacional suíça Syngenta AG (SYT)* usado para plantio de milho transgênico. “A Via Campesina ocupou esta aérea e hoje tem dezenas de famílias produzindo alimentos agroecológicos com uma produção cooperada”, disse.

Outro exemplo foi o da ocupação na área da Fazenda Tabapuã, em Centenário Sul, pertencente ao grupo Atalla, dona da Usina Central do Paraná. Lá, cerca de 1.500 famílias vivem e também produzem alimentos. 

“O que se via antes era apenas queima do solo e agrotóxicos para a produção de etanol. Era uma cidade sem população porque a população da cidade só existia no momento do corte de cana-de-açúcar”, explicou. Atualmente, a ocupação tem se fortalecido e já possui, inclusive, uma escola itinerante para mais de trezentas crianças. 

O papel do Estado

Além de lutar contra o poder das multinacionais, os movimentos do campo também travam uma resistência com o Estado. Políticas públicas nacionais e acordos internacionais estão cada vez mais atrelados ao mercado internacional e tendem a dificultar e atrasar os avanços da agroecologia.

Para Judith, neste sentido, o problema estaria no fato dos Estados (e as pessoas, de modo geral) não reconhecerem o alimento como um direito. 
“As autoridades não reconhecem a inclusão social. O que queremos é que as autoridades reconheçam as alternativas. Os acordos internacionais tendem a roupar a soberania e a sobrevivência local”, disse, ao alertar a necessidade de resistir a este processo.

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