sábado, 30 de abril de 2016

Já que a "justiça" não tem coragem, o povo do Paraná punirá Beto Richa

por José Gilbert Arruda Martins

Há exatamente um ano, o Paraná, o Brasil e o mundo, presenciaram um dos maiores massacres perpetrados por um governante a servidores públicos em um país democrático. Era o "Massacre de Curitiba", 2.323 balas de aço revestidas de borracha, 1.094 granadas de efeito moral, 300 bombas de gás lacrimogênio, 213 pessoas feridas, 40 delas gravemente.




O governo Beto Richa investiu R$ 1 milhão apenas na repressão à manifestação, se contarmos com os R$ 2,7 milhões investidos em uma campanha publicitária lançada logo depois, para "justificar" perante a sociedade paranaense o massacre - dos quais só a afiliada da rede globo, levou R$ 1,2 milhões -, o governo totalizou um gasto de R$ 3,7 milhões com a operação de repressão aos servidores públicos do Estado.

É o povo pagando para bater em si próprio.

O Massacre de Curitiba é parte de um projeto do PSDB para a Educação Pública no Paraná, São Paulo, Goiás, Pará e para o País como um todo.

Mas, e agora, o que fazer, já que se passaram 1 ano e a "justiça" do Paraná não fez nada?

Temos que continuar na luta, com manifestações, com organização, com nossa garra.

E, temos que votar contra o PSDB e seus aliados no Estado do Paraná nas próximas eleições municipais, não tem outra alternativa que atinja de forma contundente o Beto Richa e seus apaniguados. Vote e faça campanha contra o PSDB e seus aliados.

O PSDB E A EDUCAÇÃO - Um ano depois do Massacre de Curitiba, Beto Richa segue impune

na Rede Brasil Atual

"Quando lembro daquele momento não vejo o rosto do soldado que apertou o gatilho. Vejo a cara do Beto Richa atirando", diz servidor atingido no rosto por uma bala durante manifestação no Centro Cívico

por Ricardo Gozzi, especial para RBA

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Curitiba – O agente penitenciário paranaense Cláudio Franco tinha acabado de completar 43 anos. Era o fim de abril de 2015 e ele tirava alguns dias de folga do estressante trabalho no Complexo Médico Penal de Pinhais, região metropolitana de Curitiba. Marcado para morrer por facções criminosas, depois de ajudar a desbaratar um esquema de entrada clandestina de telefones celulares e drogas no presídio, Cláudio pretendia se distanciar um pouco daquele cotidiano e participar da queda-de-braço entre governo e servidores públicos paranaenses que se arrastava desde o início do ano. "Eu participo de todo evento que ameaça a minha categoria", diz.
O período de folga, devido a dezenas de horas extras trabalhadas acumuladas, coincidiu com a segunda investida em menos de três meses do governador Carlos Alberto Richa (PSDB) ao fundo de previdência dos servidores públicos do Paraná. Ao decidir participar das manifestações contra a iniciativa do governador, Cláudio viu a discrição pela qual tanto zela em sua vida pessoal ser arrastada para longe. Seu rosto ensanguentado, flagrado pelas lentes do fotógrafo Giuliano Gomes logo depois de ser atingido por uma bala de aço revestida de borracha disparada por um policial, transformou-se em um dos símbolos da brutalidade da repressão ordenada pelo governo paranaense contra os funcionários públicos na tarde daquele 29 de abril.

O tiro à queima-roupa do qual Cláudio foi alvo sintetizou a covardia e a brutalidade da repressão perpetrada no Centro Cívico de Curitiba. Pouco depois, entidades sindicais, movimentos sociais, jornalistas, advogados e defensores dos direitos humanos no Paraná uniram-se no chamado Fórum de Lutas 29 de Abril. Em breve, a história também será publicada em livro pela editora paulistana Veneta.
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Dezenas de professores ficaram feridos; sede da prefeitura transformou-se num pronto-socorro improvisado
Era uma quarta-feira, mas desde o fim de semana anterior a Polícia Militar vinha se preparando para uma operação de guerra. Centenas de policiais foram levados de cidades do interior para a capital para cercar o Legislativo estadual e impedir a entrada dos manifestantes. A medida era amparada em um interdito proibitório concedido por um juiz local para que os deputados estaduais pudessem consumar a estratégia de Beto Richa para ganhar acesso a bilhões de reais depositados no fundo previdenciário dos profissionais do serviço público. E assim obter recursos ante o iminente colapso financeiro decorrente de seu primeiro mandato como governador. "Temo por um massacre", advertiu na ocasião o então líder da oposição a Richa, deputado Tadeu Veneri (PT)

Colega de farda

Ao mesmo tempo em que centenas de pessoas acampavam na região do Centro Cívico – professores em sua maioria –, milhares de outros funcionários públicos passaram a ir diariamente à região para protestar. Cláudio Franco entre eles. O agente é morador da região central da capital paranaense, próximo do consultório onde oferece tratamento psicológico gratuito a colegas de profissão, uma vez que o estado não proporciona atendimento especializado aos expostos a esse tenso cotidiano profissional.
Além de agente penitenciário concursado, Cláudio Franco é psicólogo e professor. Naquele dia, deixou sua residência logo cedo e perto das 9h chegou à Praça Nossa Senhora de Salette, epicentro dos protestos que sacudiram Curitiba no primeiro semestre de 2015. A aglomeração aumentou com o passar das horas e por volta das 14h30 mais de 20 mil pessoas encontravam-se em frente à Assembleia Legislativa do Paraná, onde seria votado o projeto de lei por meio do qual Beto Richa pretendia apropriar-se do fundo de aposentadoria custeado pelos servidores públicos.
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Truculência policial não poupou idosos, crianças nem pessoas com deficiência
Cláudio foi para o protesto daquele dia vestindo uma farda do Departamento de Execução Penal (Depen) paga do próprio bolso, uma vez que o estado não fornecia novo enfardamento aos agentes penitenciários havia pelo menos quatro anos. Mas nem a farda que poderia distingui-lo em meio à multidão foi suficiente para inibir a truculência da PM do Paraná. Faltava apenas um estopim para a consumação da tragédia. E veio, na forma da pressão de um pequeno grupo de manifestantes às grades da Assembleia Legislativa, pouco antes das 15h. Naquele instante, Cláudio encontrava-se perto do cordão de isolamento estabelecido pela PM. Conversava com outros manifestantes e não se deu conta de que a polícia havia partido para cima dos servidores.
Policiais dispararam contra manifestantes  2.323 balas de aço revestidas por borracha, 1.094 granadas de efeito moral e 300 bombas de gás lacrimogêneo. As despesas do governo com a operação totalizaram R$ 1 milhão
As pessoas mais próximas saíram correndo desesperadamente para escapar do avanço da PM. Uma senhora caiu no chão bem na frente de Cláudio. "Ela ia ser pisoteada, então me aproximei para ajudá-la a levantar." Agachou-se, ergueu a mulher e uma pessoa que vinha correndo ajudou-a a se afastar. Quando ia se levantar, Cláudio percebeu que seu par de óculos escuros havia caído no chão. Ele pegou os óculos, colocou-os no rosto e, quando se levantou com o objetivo de afastar-se, viu-se de frente para um policial da Tropa de Choque com uma arma apontada para seu rosto. "Em nenhum instante pensei que ele fosse atirar. Achei que fosse me reconhecer como um colega de farda. Afinal, ele pertence à mesma secretaria que eu."
O momento seguinte foi de atordoamento. "Primeiro achei que uma bomba tivesse explodido perto de mim e meus tímpanos tivessem estourado por causa do deslocamento de ar", relembra. Mas não se tratava de uma bomba. A bala de aço revestida de borracha disparada pelo soldado da Tropa de Choque da PM atingiu em cheio o lado esquerdo de seu rosto. O impacto o deixou desorientado, fraturou seu maxilar superior e quebrou no meio um de seus molares. Fosse munição real, a PM teria inadvertidamente prestado serviço às facções criminosas interessadas na morte do agente penitenciário. Cláudio precisou de duas cirurgias de reconstrução, ambas pagas com recursos próprios.

A cara do Richa

"Toda vez que me recordo daquele momento não vejo o rosto do soldado que apertou o gatilho. Vejo a cara do Beto Richa", afirma Cláudio, uma das primeiras entre as centenas de vítimas daquela violência policial que só cessou depois de duas horas, quando o procurador-geral do Ministério Público do Paraná, Gilberto Giacoia, ladeado pelos promotores Olympio de Sá Sotto Maior e Eliezer Gomes da Silva, telefonou para o então secretário-chefe da Casa Civil de Richa, Eduardo Sciarra. No momento do telefonema, Giacoia, Sotto Maior e Gomes da Silva estavam no Centro Cívico e testemunharam a ação desproporcional da polícia. Naquela mesma noite, Giacoia convocou Sciarra e dirigentes sindicais à sede do MP e adiantou que seria aberto um inquérito para apurar as responsabilidades. O processo tramita na velocidade comum às ações judiciais que apresentam tucanos como réus.
Trabalhando noite adentro, funcionários da prefeitura de Curitiba tiveram dificuldade para concluir a angustiante tarefa de contabilização dos feridos. Amigos, familiares, companheiros de trabalho e dirigentes sindicais percorriam hospitais para localizar e verificar o estado de saúde das vítimas, prestar alguma forma de ajuda ou manifestar solidariedade.
Integrantes do governo do Paraná, por sua vez, responsabilizavam os servidores públicos em greve na tentativa de culpar a vítima pela violência. As cenas registradas eram fortes. Nenhum dos noticiosos televisivos transmitidos em rede nacional na noite de 29 de abril de 2015 teve como se omitir. A repressão rapidamente ocupou lugar de destaque nas capas dos sites dos principais veículos de comunicação nacionais e internacionais.

'Tudo bem, pai'?

"Meu celular começou a vibrar um pouco depois (do tiro)", relata Cláudio. "Era meu filho perguntando se estava tudo bem. Eu não queria deixá-lo preocupado, respondi que sim e quis saber por que ele estava perguntando. Ele respondeu: 'Por isso', e mandou uma foto junto na mensagem. Era minha foto com o rosto todo ensanguentado. Circulou muito rápido. Eu só soube como estava meu rosto quando vi a foto que meu filho mandou pra mim."
Parte da mídia nacional, simpatizante do governador e de seu partido, apressou-se na tentativa de encontrar alguma explicação que negasse o que as imagens mostravam. Alguns compraram a versão oficial de "infiltração de black blocs" entre os manifestantes. Outros falaram de "confronto". O "confronto" tinha de um lado servidores públicos desarmados e do outro tropas armadas com fuzis, granadas, bombas e toda a tecnologia repressiva disponível. Mas as imagens circularam o mundo e "falavam". Nas primeiras horas da noite o episódio já tinha nome e sobrenome. Para uns, o Massacre de Curitiba; para outros, o Massacre do Centro Cívico.
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Governo Richa preparou-se para a ação que só poderia terminar em violência
A sede da prefeitura de Curitiba transformou-se num pronto-socorro improvisado pelo qual passaram 213 pessoas com algum tipo de ferimento. Quarenta e três feridos em estado mais grave, muitos deles alvejados em pontos vitais pelas balas emborrachadas, precisaram de transferência, 36 para o Hospital do Cajuru e sete para o Hospital do Trabalhador. As ambulâncias tiveram dificuldade em chegar às vítimas, tamanho o bombardeio.
A truculência policial não poupou idosos, crianças nem pessoas com deficiência. Sobrou até para um deputado e para um cinegrafista, mordidos por cães da PM já dentro das dependências da Assembleia. Houve 25 soldados da PM atendidos pelo serviço ambulatorial da Casa, todos com sintomas de intoxicação. Passaram mal depois de inalar o gás lacrimogêneo lançado por seus colegas de farda. Pelo menos 13 pessoas foram detidas, entre elas um menor de idade. O governo tentou, desde antes da repressão, rotular manifestantes como "black blocs", mas a alegação foi desqualificada pela Defensoria Pública do Paraná.
Dados de um ofício entregue pela PM ao Ministério Público de Contas do Paraná, quase um mês depois, proporcionaram dimensão não apenas do massacre, mas de como o governo preparou-se para uma ação que só poderia terminar em violência. A ação daquele 29 de abril contou com a participação de 1.661 policiais – 15% do contingente da PM de todo o estado concentrara-se ali. Não faltam relatos de que criminosos aproveitaram para fazer festa em diversas cidades do interior. Os policiais dispararam contra professores, alunos, servidores públicos e outros manifestantes um total de 2.323 balas de aço revestidas por borracha, 1.094 granadas de "efeito moral" e 300 bombas de gás lacrimogêneo. Uma bomba a cada 24 segundos, nove granadas por minuto e um tiro de bala de borracha a cada três segundos.
Nos dias que se seguiram ao massacre, uma campanha veiculada pelo governo na mídia local custou aos cofres paranaenses R$ 2,7 milhões, sendo que a RPC, afiliada local da Rede Globo, ficou com nada menos que R$ 1,2 milhão
Parte desses artefatos foi lançada de um helicóptero da polícia que sobrevoou a baixa altitude a Praça Nossa Senhora de Salette, considerada o coração da política e da cidadania do Paraná. As despesas diretas do governo com a operação totalizaram quase R$ 1 milhão. O dado leva em conta apenas as munições empregadas na ação e as diárias extras pagas aos policiais deslocados do interior – muitos depois obrigados a devolver ao governo o dinheiro destinado a sua alimentação.
Nos dias que se seguiram ao massacre, uma campanha veiculada pelo governo custou aos cofres paranaenses R$ 2,7 milhões, sendo que a RPC, afiliada local da Rede Globo, ficou com nada menos que R$ 1,2 milhão (44,4%). Ou seja, o governo que se propunha a impor perdas aos servidores, a pretexto de reduzir despesas, gastou quase R$ 4 milhões em algumas horas de repressão e numa campanha de publicidade destinada a justificá-las.

Blindagem

Na Justiça Militar do Paraná, o promotor Misael Duarte Pimenta Neto recomendou em fevereiro o arquivamento do Inquérito Policial Militar aberto com o pretenso objetivo de apurar as responsabilidades dos agentes estatais envolvidos. Ao tentar empurrar para baixo do tapete as graves violações cometidas pela polícia, Pimenta alegou que a operação da PM foi "concluída exitosamente" e que as ações dos líderes dos protestos eram "coisa genuinamente de facções radicais e regimes político-ideológico sectários e corruptos". A atitude do promotor causou desconforto entre integrantes do Ministério Público e foi criticada até mesmo pelo líder da bancada do governo na Assembleia, Luiz Cláudio Romanelli.

Sem educação

Tentativas de blindagem à parte, as escolhas e os atos de Beto Richa como governador falam muito mais sobre sua visão para a educação pública do que qualquer um de seus discursos de campanha. As promessas de construção de novas escolas, de melhoria das instalações existentes, de valorização do magistério, de implementação de tecnologias e de ações para melhorar a qualidade do ensino no Paraná são palavras ao vento diante da "pedagogia do porrete" e da "pedagogia das planilhas", posturas essas muito parecidas com as que levaram a ações executadas em outros estados por brasileiros por governadores como Geraldo Alckmin, em São Paulo, e Marconi Perillo, em Goiás – ambos do PSDB, como Richa.
"Trata-se da mentalidade de Estado mínimo, no sentido de retirar a função social, a função coletiva do Estado e o Estado máximo para beneficiar elites empresariais, políticas, econômicas e financeiras", define o professor Ricardo Costa de Oliveira, da Universidade Federal do Paraná.
Decorrido um ano do massacre, professores e funcionários da rede pública estadual de ensino do Paraná ocuparão as ruas do centro de Curitiba e sairão em passeata até o Palácio Iguaçu, sede do governo, onde realizarão ato para marcar este "dia de luto e de luta", na defesa de valores frontalmente ameaçados pelo avanço conservador, como a democracia, a escola pública e a valorização dos educadores.
Beto Richa
A forma como Beto Richa conduz a política de educação guarda semelhança com as de seus colegas tucanos de SP e GO

sexta-feira, 29 de abril de 2016

O Gângster que se delicia em ser Gângster

por José Gilbert Arruda Martins

Diz o dicionário: Gângster é o membro de um bando organizado de malfeitores. Malfeitos? O que Eduardo Cunha fez e faz não vem ao caso. A justiça brasileira simplesmente se acovardou e o parlamentar "deita e rola" na direção do segundo poder na linha de sucessão de um dos mais importantes países do planeta.


Ele zomba da justiça.

Ele zomba de toda a sociedade brasileira.

Ele zomba dos seus pares na Câmara dos Deputados.

Ele zomba do Supremo Tribunal Federal, que de "supremo" parece não ter restado nada sobre nada.

Sua empáfia parece segura num acordo/pacto que amedronta praticamente 100% da classe política brasileira.

Um pacto que deixa a sociedade como um todo estarrecida.

O gângster Cunha tem pelo menos 22 processos contra ele apenas no Supremo Tribunal Federal.

As falcatruas do gângster vem desde 1999 quando era presidente da Companhia de Habitação do Estado do Rio de Janeiro (CEBH-RJ).

Quando a reação popular explodir em revoltas, não venham com choramingueiras, quem construiu o monstro que o controle.

Neste momento, no entanto, parece simplesmente sem nenhum controle. Não tem Comissão de Ética, não tem PGR, não tem STF, estão todos "juntos e misturados", envolvidos em uma avalanche de torpidade que ninguém jamais, nem o mais pessimista dos especialistas sobre Brasil ou América Latina, poderia imaginar ou apostar.

Um País do tamanho e da importância do Brasil, a 7a. economia do mundo,mais de 200 milhões de habitantes, um País que ajudou a criar o G20, os BRICS; um País de um povo maravilhoso, ajoelhado aos pés de um gângster chamado Eduardo Cunha.

"Pai afasta de mim este cale-se"







PM se contradiz ao depor contra Rafael Braga, preso pelas manifestações de junho de 2013

na Ponte

por 

PM, que no depoimento anterior disse que fazia patrulhamento de rotina, apresentou outra versão

RafaelBraga
Rafael Braga. / Foto: Luiza Sansão

Em audiência de instrução e julgamento no TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), foram ouvidas, na tarde desta terça-feira (12/04), testemunhas de acusação e de defesa do ex-catador de latas Rafael Braga Vieira, de 27 anos, preso pela segunda vez na manhã do dia 12 de janeiro último, quando se dirigia à padaria próxima da casa de sua mãe, na comunidade Vila Cruzeiro, na Penha, zona norte do Rio de Janeiro.
Ele foi abordado por seis policiais militares da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da comunidade, que o torturaram e o ameaçaram de estupro e de “jogar arma e droga na conta” dele caso ele não delatasse traficantes da região.
Preso na grande manifestação de 2013 na capital fluminense, Rafael cumpria pena em regime aberto e usando uma tornozeleira eletrônica desde 1º de dezembro de 2015.
Seriam ouvidos, na audiência desta terça-feira, dois dos seis policiais que detiveram Rafael, mas um deles não compareceu ao TJ-RJ por se encontrar hospitalizado, o que tornou necessária a realização de uma nova audiência, que foi agendada para o dia 11 de maio.
Única testemunha de acusação ouvida na ocasião, o PM Pablo Vinícius Cabral, lotado na UPP da Vila Cruzeiro, apresentou contradições em relação ao depoimento dado na 22ª Delegacia de Polícia (Penha) na ocasião da prisão de Rafael. A Ponte Jornalismo acompanhou a audiência com exclusividade.
Contradições no depoimento do PM
Na versão apresentada anteriormente, o policial afirmou que o grupo de PMs fazia um patrulhamento rotineiro na comunidade Vila Cruzeiro quando um morador informou um dos policiais de que havia uma pessoa vendendo drogas na região conhecida como “Sem Terra”, e os policiais então se dirigiram ao local, deparando-se com Rafael.
Já na audiência, Cabral afirmou que os PMs faziam uma operação na região na manhã do dia 12/01 porque havia “engenheiros fazendo metragem” no local e, quando receberam a denúncia do morador, ele e os colegas se depararam com um grupo de pessoas, e todas teriam corrido em fuga, restando apenas Rafael com uma sacola plástica nas mãos, contendo “drogas e um ou dois morteiros”, segundo o PM.
Indagado pelos advogados de defesa de Rafael sobre ter afirmado no primeiro depoimento que se tratava de um patrulhamento rotineiro, Cabral respondeu que “operação na favela é todo dia” e naquele dia especificamente a operação foi motivada pela presença dos engenheiros. Sobre ter alegado anteriormente que, quando chegaram ao local denunciado pelo morador, encontraram apenas “um meliante”, e na audiência ter afirmado que havia um grupo, o PM respondeu que “devia ter uns dois ou três, mas os outros correram”. O policial também afirmou não saber qual era a firma de engenharia que “fazia metragem” na região naquela manhã.

Única testemunha de defesa viu Rafael ser agredido pelos PMs
Rafael não levava nada nas mãos, segundo a testemunha de defesa ouvida na audiência, que mora na região e foi a única pessoa a presenciar o momento em que Rafael foi agredido, pouco antes das oito horas da manhã. “Eu estava no muro da minha casa, aí ele [Rafael] estava passando, balançando os braços, aí eu mexi com ele, ri pra ele, e ele passou. Aí quando ele chegou um pouquinho pra frente, tinha uns policiais que abordaram ele, e no meio dos policiais tinha um alto, branco, de nariz fino, que jogou ele pra um canto, começou a bater nele, e bateu muito, e depois arrastou ele pro canto de uma parede. Aí já não dava mais pra eu ver”, narrou a testemunha, que não será identificada por questão de segurança.
Ela afirmou ainda que as agressões eram socos e chutes, desferidos “principalmente pelo policial branco, alto, de nariz fino”. Ao ver o que acontecia, ela foi avisar a mãe de Rafael, Adriana Braga. “Eu fui correndo chamar a mãe dele e, quando ela chegou, já tinham levado ele”, completou.


Defesa requer relaxamento de prisão ou liberdade provisória com base em fragilidade de provas
Os advogados de defesa de Rafael, Carlos Eduardo Martins, Ednardo Motta, João Henrique Tristão e Lucas Sada, do DDH (Instituto de Defensores de Direitos Humanos) apresentaram ao juízo um requerimento de relaxamento de prisão, “por claríssima ausência de motivação para que ela subsista”, ou, subsidiariamente, de liberdade provisória do acusado, visto que “o mesmo possui ocupação lícita, no escritório de advocacia João Tancredo Advogados, trabalhando na condição de auxiliar de serviços gerais, bem como possui residência fixa, fatos que foram comprovados no âmbito de sua audiência de custódia”.

Adriana Braga, mãe de Rafael, no TJ-RJ após a audiência. / Foto: Luiza Sansão
Adriana Braga, mãe de Rafael, no TJ-RJ após a audiência. / Foto: Luiza Sansão
Adriana Braga, mãe de Rafael, no TJ-RJ após a audiência. / Foto: Luiza Sansão
Foram apresentadas ainda, pela defesa, as seguintes diligências: “que seja oficiado ao Comando da 7ª UPP, do 16º Batalhão [na Penha], nomes e dados de todos os policiais em serviço na referida UPP na manhã do dia 12/01, e os “nomes e dados de todos os PMs envolvidos na operação, bem como anotações do livro de plantões e trocas de turno”; que a referida UPP seja questionada sobre “qual a firma de engenharia que realizava obras na comunidade no dia em que o acusado foi detido”; “que seja determinado o fornecimento dos registros de GPS das viaturas utilizadas na incursão e das imagens das câmeras instaladas na sede da UPP, referentes à manhã do dia 12/01, especialmente as que ficam à frente do contêiner”; que a SEAP (Secretaria de Estado de Administração Penitenciária) forneça os dados de registro da tornozeleira eletrônica que Rafael portava, referentes à manhã em que foi detido, a fim de demonstrar precisamente a localidade onde o mesmo foi abordado e detido.
A defesa pediu ainda que sejam ouvidos os demais policiais militares que participaram da abordagem a Rafael, aos quais o PM ouvido na audiência, Pablo Vinícius Cabral, se referiu como: soldados Lago e Faustino, os cabos Farley e Pimentel. Havia ainda o PM Rodrigues, que, segundo o depoente, faleceu.
Devido ao número de diligências, o Ministério Público irá estudar o caso e deverá responder às solicitações feitas pela defesa de Rafael dentro de aproximadamente cinco dias.
“Não foi ainda completada a prova. A princípio, existem contradições a serem exploradas, mas como o caso é complexo, complexo por apresentar versões em disputa, acredito que tenhamos que apurar mais e colaborar para o esclarecimento do que aconteceu naquele dia de fato. Os pedidos de diligência são bastante razoáveis, na medida em que se prestam a esclarecer a situação real do dia de sua prisão”, avalia Carlos Eduardo Martins, advogado de defesa de Rafael, em entrevista à Ponte Jornalismo.
Ativistas da Campanha Pela Liberdade de Rafael Braga fazem manifestação em frente ao TJ-RJ. / Foto: Luiza Sansão
Ativistas da Campanha Pela Liberdade de Rafael Braga fazem manifestação em frente ao TJ-RJ. / Foto: Luiza Sansão
Ativistas da Campanha Pela Liberdade de Rafael Braga fazem manifestação em frente ao TJ-RJ. / Foto: Luiza Sansão
Segundo a mãe de Rafael, Adriana Braga, o filho demonstrou esperança de ter sua inocência reconhecida na audiência, quando ela o visitou um dia antes (segunda-feira, 11/04), na penitenciária de Bangu (Cadeia Pública Paulo Roberto Rocha), unidade prisional onde ele se encontra, localizada na zona oeste do Rio de Janeiro. “Ele estava tão ansioso, falou ‘mãe, vou ser julgado inocente e quinta-feira eu estou em casa’. Ele estava alegre”, conta.
Ao final da tarde, na porta do TJERJ, ativistas da campanha Pela Liberdade de Rafael Braga, que se reuniram ao meio-dia para uma manifestação em defesa do ex-catador em frente ao Fórum, ainda aguardavam, em vigília, a aparição dos advogados de defesa, para lhes dar notícias de Rafael.
Desde 2013, o grupo se reúne semanalmente e recolhe doações para Adriana Braga levar ao filho preso, além de espalhar o rosto de Rafael, em cartazes e graffitis, por toda a capital fluminense, levando a mensagem de que o jovem negro e pobre preso em 2013 e novamente detido em 2016 não foi e não será esquecido.

Ganhador do Nobel da Paz que diz que impeachment de Dilma é golpe de estado

no Blog Amigos do Presidente Lula

Pérez Esquivel disse que veio prestar “solidariedade e apoio para que não se interrompa o processo constitucional de Brasil porque isso seria um dano não apenas para o povo brasileiro como para toda a América Latina.”



A presidente Dilma recebeu nesta quinta-feira (28) o apoio do ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1980, o argentino Adolfo Pérez Esquivel, contra o processo de impeachment que tramita no Senado.

“Está muito claro que o que se está preparando aqui é um golpe de estado encoberto, o que nós chamamos de um golpe brando”, afirmou Esquivel, após o encontro no Palácio do Planalto.

Ele comparou o processo de impeachment de Dilma ao que ocorreu em Honduras e no Paraguai com as destituições dos presidentes Manuel Zelaya, em 2009, e Fernando Lugo, em 2012. “Agora, a mesma metodologia, que não necessita das Forças Armadas, está sendo utilizada aqui no Brasil. A metodologia é a mesma, não há variação com o golpe de estado nesses países. Países que querem mudar as coisas com políticas sociais são alvo dessa política de tratar de interromper o processo democrático.”

Solidário com Dilma

O Nobel da Paz disse que veio prestar “solidariedade e apoio para que não se interrompa o processo constitucional de Brasil porque isso seria um dano não apenas para o povo brasileiro como para toda a América Latina.” “Seria um retrocesso muito grave para o continente. Sou um sobrevivente da época da ditadura [militar na Argentina]. Nos custou muito fortalecer as instituições democráticas. Aqui se está atacando as instituições democráticas”, afirmou Esquivel.

Segundo o argentino, um eventual governo de Michel Temer poderia ser questionado no Mercosul e na União de Nações Sul-Americanas (Unasul), que poderiam não reconhecer uma administração que surja de um “golpe de estado.” Da Agência Brasil

Virada Cultural e 1° de Maio, Dia do (a) Trabalhador (a)

por José Gilbert Arruda Martins

Para barrar o golpe, só as ruas cheias de trabalhadoras e trabalhadores, cheias de gente que acredita na democracia e na legalidade. Venha, será no sábado dia 30 de  abril e 1° maio, no estacionamento da Torre de TV entre a Funarte e a Feira.


quinta-feira, 28 de abril de 2016

CONTRA O GOLPE - Luta na madrugada: os bastidores das ações do MTST nesta quinta

no Brasil de Fato

Em SP, 13 pontos foram travados com barricadas em chamas: "Fiz o cafezinho e vim pra luta"


"É a maneira que a gente tem de inferir no sistema, travando a circulação de mercadorias", explica coordenador do movimento - Créditos: Gisele Brito/ Brasil de Fato
"É a maneira que a gente tem de inferir no sistema, travando a circulação de mercadorias", explica coordenador do movimento / Gisele Brito/ Brasil de Fato

Às quatro da manhã, Ana Amália da Silva, de 25 anos, ligou ansiosa para Naila Ferreira, 27, para que elas não se atrasassem. Mas era cedo demais. Elas e outras 50 pessoas iam participar da concentração de um ato que trancou a Marginal Tietê, uma das mais movimentadas vias do país, por 30 minutos, com pneus, paus e lixo em chamas. Era só às 6h e a ação só começou às 7h. O ato era um dos 13 fechamentos de vias promovidos pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) em São Paulo nesta quinta (28).


Além de São Paulo, o MTST travou rodovias ou vias muito movimentadas em oito estados do país. A ação aconteceu de maneira simultânea no Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Fortaleza, Goiânia, Belo Horizonte, Uberlândia e Brasília, para reivindicar moradia. O movimento também quer deixar claro para o vice-presidente Michel Temer de que não irá se calar caso o processo de impeachment seja bem-sucedido e ele substitua a atual presidenta Dilma Rousseff. Para os manifestantes, um possível governo de Temer seria ilegítimo.
Ana e Anália vivem de aluguel, no Bom Retiro e na Casa Verde, bairros próximos ao ponto de concentração. Mas outros manifestantes vieram de longe. Como aqueles que vieram das ocupações Copa do Povo, localizada no Parque do Carmo, Dandara, em São Matheus, Esperança Vermelha, da Cidade Tiradentes, todas na zona leste. Além delas, havia militantes das ocupação Estaiadinha, localizada próxima ao ponto de interdição.
“Deixei meu inocente prontinho pra ir pra creche, fiz o cafezinho e vim pra luta. Tudo que a gente quer é ter nossos direitos”, conta Naila, com um copinho da bebida, trazida em uma garrafa térmica. O “inocente” é um bebê de 11 meses. Por causa dele, ela não tem trabalhado.
Ana, no entanto, trabalha no comércio e ia para o trabalho depois de alimentar o fogo na Marginal. “Estou correndo atrás do meu objetivo, que é ter uma casa. Mas na luta, fazendo o certo”, afirmou.
A ideia de fechar rodovias não à toa, explica Josué Rocha, da coordenação estadual do MTST. “Para o MTST, esse tipo de ação de travamento é extremamente importante, porque interfere na cadeia de produção. É a maneira que a gente tem de inferir no sistema, travando a circulação de mercadorias”.

Opiniões sobre Dilma

Ana e Amália, no entanto, entendem os motoristas e passageiros de ônibus que passavam na outra pista da via e hostilizavam os manifestantes. “É um pouco constrangedor. Porque todo mundo aqui é trabalhador. Quando eu não estava no movimento, criticava também. Mas depois que você entende a luta, muda de ideia”, explica Ana, que é vendedora. “Eu sou muito a favor da Dilma, acho que isso [a tentativa de impeachment] é uma corrupção mesmo. Ela ajuda muito as pessoas trabalhadores, igual a gente. Pelo menos para mim. E esse Temer, se fosse por mim, já estava fora faz tempo”, afirma ela.
Dilma não é unânime entre o MTST. Em março, o movimento divulgou um manifesto fazendo severas críticas à sua gestão. No texto, sua política econômica é classificada como “desastrosa” e o movimento afirma não ter “nenhuma expectativa de que o governo Dilma tome este rumo”. Ainda assim, o movimento avalia que é fundamental brecar o golpe em curso para salvar as conquistas dos últimos anos e poder avançar.
“Os movimentos que tomaram as ruas nas últimas semanas têm em comum a defesa da democracia. A gente entende que o governo Dilma, desde que assumiu seu segundo mandato, adotou uma agenda de ajuste que vai contra os interesses dos trabalhadores. Por isso, nos posicionamentos criticamente durante todo esse período. Mas o que está aconteceu foi um processo de golpe. Estão, de fato, atacando a democracia”, afirma Josué.
Em vídeo na semana passada, que sinalizava as ações de hoje, Guilherme Boulos, da coordenação nacional do movimento, afirmou que é o processo de impedimento é uma “uma farsa encenada por mais de 300 picaretas”, e que Temer seria um presidente “biônico”.
Ele ainda ressaltou a importância da esquerda manter a unidade e dela se “reinventar”, já que as evidências de que o sistema o atual “sistema político faliu” e “não produz mais nada para esse país”.
Edição: Camila Rodrigues da Silva

Feitiçaria, golpe e fim de ciclo

no Outras Palavras

POR RICARDO CAVALCANTI-SCHIEL

160427-Ritual

Como em certos rituais indígenas, sistema político busca, pelo impeachment, purgar seus fantasmas… e se acomodar com isso. Mas tal farsa só é possível porque um projeto político está esgotado
Por Ricardo Cavalcanti-Schiel | Imagem: Coppo di Marcovaldo,Inferno (1260-70)

O Brasil tem vivido nas últimas semanas uma intensa guerra discursiva. Na noite do último dia 17 teve lugar seu primeiro desenlace. Por impressionantes 25 votos além dos dois terços necessários do plenário, a Câmara dos Deputados aprovou a continuidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que vai agora para o Senado, casa que, conforme a Constituição, tem a “competência privativa” para julgar os presumidos “crimes de responsabilidade” imputados à presidente e destituí-la do cargo em consequência disso. No entanto, trata-se de um julgamento político, no qual o reconhecimento desses “crimes” poderia não demandar una estrita definição jurídica, como recentemente chegou a insinuar o STF, cujo presidente dirigirá a sessão de julgamento do Senado. Disso se trata a guerra discursiva, pois o casuísmo de todo o processo o torna muito próximo de um simples golpe de Estado.
Algo similar ocorre em algumas sociedades indígenas, com o fenômeno que os antropólogos chamam de “acusação de feitiçaria”. Não se trata, nesse caso, de comprovar a feitiçaria em si, como encadeamento causal objetivo, mas, uma vez tomada ela como pacífica, põem-se em movimento outros mecanismos sociais (outros encadeamentos lógicos) que especificarão a figura do feiticeiro, atribuindo-a a alguém em particular, seja por conta de seus defeitos éticos seja simplesmente por conta da fragilidade da sua posição social. A partir daí, vários destinos podem aguardar os eventuais feiticeiros, inclusive (como em uma das sociedades em que trabalhei) sua morte a golpes de facão. A acusação de feitiçaria é quase sempre uma maneira (talvez a mais contundente) de uma sociedade se purgar dos seus fantasmas… e se acomodar com isso. Evidentemente que a ausência de objetividade intrínseca, no caso da acusação de feitiçaria, conspira contra a episteme jurídica moderna, daí a que os ocidentais muitas vezes chamarem procedimentos dessa classe de “medievais”. Mas… e na política? pode-se tudo? inclusive em casos em que se trata de uma irremediável imbricação com a lógica jurídica, da qual um processo qualquer extrai seu próprio fundamento de legalidade?
Mais que fragilidade, o governo Dilma parece ter chegado ao ápice da sua nulidade. Sem iniciativa política, encastelado no mito tecnocrata da suficiência da gestão, perdendo-se em iniciativas equivocadas, abraçando programas que traem tudo o que prometeu nas eleições, caçoando, enfim, dos seus próprios eleitores, o atual governo do Partido dos Trabalhadores (PT) não se parece em nada com o programa histórico que alentou essa sigla em suas duas primeiras décadas de existência. Reflexo pálido do “lulismo”, de seu programa de conciliação de classes e de uma inclusão via consumo ― sem mover uma palha nos termos da regulação da cidadania, conforme a lógica pré-existente do privilégio―, o governo Dilma pretendeu ser a governanta de una casa política em processo de ruína, uma vez ido abaixo o boom das commodities. Estabeleceu-se com ministérios provavelmente os mais inexpressivos de toda a história política brasileira e não soube (tanto quanto não quis) estabelecer canais de entendimento, seja com os movimentos sociais seja com os setores produtivos (exceto o agronegócio latifundiário ―para desespero dos ambientalistas e defensores dos direitos indígenas). Para culminar, abraçou toscamente o austericídio neoliberal e lançou o país na maior recessão econômica dos últimos cem anos.
Por outro lado, o programa político do lulismo, sua opção maximizada pelo consumo e sua escusação da cidadania por meio da pretensa suficiência dos expedientes assistenciais, engendraram uma forma de antipolítica que esvaziou não apenas a antes pujante mediação organizativa da representação social, como também os valores do coletivo e da participação, em nome do individualismo das “oportunidades”. A miragem do lulismo consistiu na ideia de que a gestão da máquina governativa e seus programas cosméticos de distribuição seriam suficientes para proporcionar uma inclusão social que não precisaria se traduzir em ampliação de direitos e em nos valores de uma sociabilidade não excludente. A miragem do lulismo expressou-se, em último termo, como uma recusa da política, uma recusa da dimensão coletiva e da representação. A reificação da “gestão”, na figura de Dilma Rousseff, é apenas a lapidação lógica dessa miragem.
resultado, por fim, foi a eleição, junto com o segundo mandato de Dilma, do parlamento mais conservador desde o final da ditadura; um parlamento fragmentado em 28 partidos, mas que, na prática, é dominado por um grupo de 120 deputados pessoalmente fieis ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, inimigo encarniçado da presidente, e sobre quem, há 25 anos, pesam consistentes acusações judiciais por corrupção. A renúncia do PT em fazer política por meio da mobilização social produziu esse mesmo Congresso que no último domingo assestou um pesado golpe contra o mandato da presidente.
Ao se absolutizar o processo de impeachment como julgamento político, o que os fatos desse domingo propiciariam seria a caução da absoluta fragilidade do governo no Executivo diante da Câmara ― presumidamente, esta, uma representação mais “capilarizada” da sociedade: os representantes do povo “no varejo”. De maneira que, simbolicamente, o julgamento sobre o mandato da presidente já chegaria ao Senado em condições de desvantagem para ela. Mais uma vez, estamos em plena guerra discursiva: se se trata de uma confrontação de legitimidades ou se se trata de um golpe de força, pura e simplesmente.
Se as acusações de feitiçaria prosperam, em parte, por conta da fragilidade daquele sobre quem é posta a carapuça de feiticeiro, por outra parte, a própria feitiçaria precisa ser pressuposta como dada, que é o que torna eficaz e inexorável a imputação. Aqui entra o discurso reducionista e messiânico sobre a corrupção, sua mágica de servir como explicação suficiente e totalizadora para a muita saúva e pouca saúde do país, como também a midiática mágica seletiva de tornar o PT o padrinho da corrupção no Brasil, silenciando, oportuna e concertadamente, sobre a aritmética óbvia que lembraria que a recente Operação Zelotes apurou, sob a forma de sonegação de impostos por bancos e grandes empresas, um desvio de 3 vezes o valor apurado como desvios da Petrobrás, e que o caso Banestado desviou para o exterior, durante os governos FHC (sobretudo em propinas da privatização das teles), entre 15 e 20 vezes o valor apurado no mesmo caso Petrobrás. Não é difícil suspeitar que até hoje as offshores tucanas financiem suas campanhas, comprem fábrica de sorvete e sabe-se lá o que mais.
No que respeita à guerra discursiva, o esforço da direita por caracterizar, a posteriori, as manobras de compensação orçamentária do Executivo federal, usualmente praticadas pelos governos anteriores, como crime, consumando uma tentativa de retroatividade legal, impossibilita que, objetivamente, se reconheça a existência de crime de responsabilidade. Juridicamente, ninguém comete crime quando não existe reconhecimento legal do crime. A retroatividade da lei foi um recurso largamente utilizado pelo Estado nazista para culpabilizar tanto os seus indesejáveis quanto a resistência dos países ocupados, como nos lembra Costa-Gavras no clássico “Sessão Especial de Justiça” (1975). Nossos ilustres deputados, no dantesco espetáculo de mediocridade proporcionado no domingo, recusaram-se a sustentar seus votos sobre qualquer argumento processualmente objetivo. Tratava-se apenas de manejar os códigos de uma acusação de feitiçaria, na qual, curiosamente, “Deus”, tal como em processos análogos séculos atrás, foi chamado a ser um dos principais partícipes. Torna-se bastante óbvio que o processo de impeachment, sobre as bases em que se desenrola, configura um golpe de força por parte da direita, a saber, tão apenas um golpe de Estado.
Nessa guerra, o argumento da defesa da democracia animou a oposição ao impeachment a ocupar um patamar discursivo mais universal, o da defesa de princípios elementares da convivência política, congregando toda a esquerda e a cidadania íntegra, e recusando o particularismo de uma estrita defesa do “governo Dilma” (ainda que muitos petistas, tão empedernidos quanto obtusos, assim o queiram entender); governo que hoje, claramente e por todos os seus méritos, não é defensável senão por algo como 9% da população.
A direita, como sempre, não está nem um pouco preocupada com esses escrúpulos. Como é usual, quando se trata da lógica do privilegio, os caprichos oligárquicos não se pautam por outra coisa senão… seus caprichos mesmos. Essa sempre foi sua pragmática implacável. Aplicá-la nunca foi uma questão de necessidade ou de sobrevivência, mas meramente uma questão de oportunidade. Os governos do PT sempre estiveram cegos para isso; foram tão arrogantes em suas ingênuas verdades “republicanas” que desprezaram irresponsavelmente o inimigo. Neste momento, com seus recursos institucionais, econômicos e midiáticos, é a direita que está na dianteira. Mas a eficácia da acusação de feitiçaria que ela arremeteu não seria possível sem um Congresso venal e cínico e, sobre tudo, sem os erros e a recusa da política por parte do lulismo e da tecnocracia autoritária de Dilma Rousseff.
É possível que o eventual (e até provável) impeachment de Dilma, dada a crescentemente flagrante ilegitimidade desse processo (aí incluída sua repercussão na imprensa internacional), acabe, por ironia, por colocar Lula, o patrimônio carismático maior do PT, em excelentes condições para fazer frente às próximas eleições presidenciais, caso não seja antes alcançado pela caçada judicial que já se espera que a direita lançará contra ele. Não obstante, a novidade de tudo isso é que, por conta do seu crônico esgotamento político, o PT se mostre incapaz de capitalizar a indignação gerada no âmbito dessa guerra discursiva, exatamente no patamar mais universal em que agora está posta ― tal como outrora, na década de 80, pôde fazê-lo ―; uma indignação que vem também lastreada como reação ao discurso de ódio propalado pela direita, a mesma que deixou escapar seus mais íntimos fantasmas: aqueles que têm como fantasia erótica dar cabo de todos os feiticeiros esquerdistas a golpes de facão.
A esperança que resta ao PT, portanto, parece ser, cada vez mais exclusivamente, Lula; o que dobraria a aposta e a expectativa em um populismo tout court. Ou então, o que se poderia vislumbrar, a partir da esquerda, seria o começo da gestação de algo para além do progressismo petista, tal como ele se instalou, e que não parece, na atual conformação de referências, de forma alguma representado por um insípido marinismo oportunista que se basta em permanecer à espreita, alheio à guerra discursiva e às contingências que ela instaura.
Por diferentes meios e diferentes modos, o progressismo latino-americano parece estar em refluxo nos espaços de governo (não necessariamente equivalentes a espaços do poder) que vem ocupando no continente, seja através de eleições, golpes parlamentares ou crises intermináveis. O que parece comum a todos os casos não é a existência ou legitimidade de projetos alternativos ― a direita, de sua parte, não tem outra alternativa que não reinstaurar a plenitude institucional e regulatória da lógica do privilegio ―, mas sim os impasses a que conduziram suas próprias insuficiências.

Ricardo Cavalcanti-Schiel

Antropólogo (mestre e doutor nessa área), pesquisador, viajante, cinéfilo, melômano.

Deputados golpistas e anti-trabalhadores do Distrito Federal

por José Gilbert Arruda Martins

Em 2018 teremos eleições gerais no Brasil, será nesse momento que todos e todas nós lembraremos dos deputados e senadores golpistas. Por isso vamos divulgar aqui durante os próximos dias e, para não esquecermos, durante os próximos dois anos, o nome, a foto e as falcatruas dos deputados e senadores que apoiaram o golpe contra um governo legítimo e contra uma presidenta que não cometeu crime algum.



Esses "respeitáveis" senhores da imagem acima são deputados federais pelo DF, eleitos pelo povo para fazer pelo povo mas, ao contrário, rasgaram a Constituição, jogaram a história e a nossa jovem democracia no lixo.

Conheça mais de perto cada um deles. O Resistência irá mostrar aqui, em detalhes, a vida pública desses capachos de Cunha, homens que esqueceram você eleitor e eleitora, traíram sua confiança, e devem pagar por isso.

O jeito mais eficiente que os trabalhadores e trabalhadoras têm de dar o troco nos golpistas daqui e de todo o País é votando contra seus partidos, candidatos na próxima eleição para prefeitos e neles próprios nas eleições gerais em 2018.

Para começarmos a dar o troco a esses golpistas, vamos acompanhar as eleições do próximo mês de outubro no entorno de Brasília: Luziânia, Valparaíso, Cidade Ocidental, Planaltina de Goiás, Águas Lindas...vamos fazer campanha e votar contra os candidatos apoiados por esses traidores do povo.

Para isso acontecer, marque bem a cara de cada um, guarde bem a cara dos golpistas e vota contra na primeira oportunidade, dessa maneira eles sentirão nossa revolta democrática.

Aqui no Distrito Federal elegemos 8 deputados federais nas últimas eleições, apenas uma, Érika Kokay do Partido dos Trabalhadores votou contra o golpe.

Vamos ao longo dos próximos dias colocar aqui a cara deles todos e um resumo da história suja desses vermes golpistas do DF.

A partir de amanhã iremos divulgar um a um.


Luzes Pela Democracia

por José Gilbert Arruda Martins

Ontem (27/04), centenas de manifestantes, mobilizados exclusivamente pelas redes sociais, lotaram o gramado em frente ao Congresso Nacional em um ato de luzes pela Democracia. Mostraram ao Brasil e ao mundo que a luta começou.

Foto: Resistência

O Ato Luzes pela democracia aconteceu em Brasília e em outros estados, como no Farol da Barra em Salvador ou na caminhada em Belém do Pará.

A ideia é continuarmos a luta, fazendo ato grande e pequenos, como pouca gente ou multidões, para barrarmos o golpe em curso que está no Senado.

Foi um evento digno da beleza e da garra dessa gente iluminada que sabe da importância da democracia.

Um ato de real beleza, não só nas luzes iluminando a noite fria de Brasília, mas beleza no coração e alma daqueles e daquelas que sabem das manipulações, das traições e do tamanho do Brasil.

O gramado ficou mais lindo com a presença de pessoas de todas as cores e raças, crianças, jovens, adultos, homens e mulheres que entraram na luta até o fim.

Dia 30 tem Virada Cultural, vamos lá, estacionamento da Torre de TV, e dia 1°, Dia do Trabalhador e da Trabalhadora, vamos botar muita gente nas ruas, mostra aos golpistas que somos milhões contra o golpe.





APOLOGIA À TORTURA - Parlamentares entram com representação contra Bolsonaro na PGR

na Rede Brasil Atual

Líderes do PT, Psol, PCdoB, PDT e Rede pedem que Bolsonaro tenha seu mandato caçado por homenagear torturador condenado em votação na Câmara dos Deputados

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Bolsonaro dedicou o seu voto pelo impeachment de Dilma a um militar condenado por tortura

São Paulo –Líderes de cinco partidos na Câmara dos Deputados (PT, Psol, PCdoB, PDT e Rede) protocolaram hoje (27) uma representação junto à Procuradoria-Geral da República contra o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Os parlamentares pedem que ele seja investigado, com possível cassação de mandato, por apologia à tortura e injúria, crimes que teriam sido cometidos durante votação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff na Casa, no último dia 17.
Bolsonaro, ao votar pelo afastamento da presidenta, dedicou o sua posição ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, condenado em decisão judicial por torturas praticadas durante o regime militar (1964-1985). “Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff”, disse ao proferir voto. O coronel morreu em outubro do ano passado. No artigo 287 do Código Penal Brasileiro, “fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou autor de crime”, é considerado crime contra a paz.
Os parlamentares que entraram com representação argumentam que Bolsonaro extrapolou os limites da imunidade parlamentar, que isenta deputados e senadores penalmente por opiniões. No entanto, desrespeitar a Constituição ultrapassa este ponto, na visão dos deputados, bem como da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional do Rio de Janeiro (OAB-RJ), que protocolou ação semelhante, tanto na PGR, quanto na Câmara.
“Conduta é claramente inconstitucional e não pode ser abraçada pelo manto da imunidade parlamentar (…) Bolsonaro, de forma reincidente, discrimina, induz e incita a prática de crime e a discriminação étnica, racial, de gênero e contra movimentos sociais e políticas sociais, em postura incompatível com a construção da experiência democrática”, afirma o documento. “O parlamentar atua de forma extremamente fascista no exercício do seu mandato”, completa.

REPÚBLICA DOS BANANAS - O balanço da bossa do golpe

na Rede Brasil Atual

É evidente a agressão dos vazamentos da Lava Jato ao ex-presidente Lula e à presidenta Dilma e o quanto eles e a mídia golpista poupam as figuras da oposição

or Flavio Aguiar, para a RBA

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Brasil e Argentina estão diante de uma nova bossa. Para dar um golpe, basta enganar muitos por bastante tempo

Conhecemos a máxima de Lincoln: é possível enganar todos por algum tempo; alguns, o tempo todo; mas não todos por todo o tempo.
Mas no Brasil – também na Argentina – estamos diante de uma nova bossa. Para dar um golpe, basta enganar muitos por bastante tempo. E depois o resto – inclusive o bagaço dos enganados – que se virem.
É verdade que na Argentina, no ano passado, não houve um golpe. Mas a tática usada para garantir que Macri ganhasse a eleição e conseguisse instalar seu programa de governo foi a mesma usada no Brasil para montar o golpe que está em curso.
O esquema foi igual: pressão contínua e mentirosa da mídia oligárquica, mais abusos coordenados a partir de setores do Judiciário, perseguição a líderes oposicionistas, plantação de noticiário diversionista para desviar a atenção quando denúncias surgiam sobre figuras da direita. Na Argentina, isso aconteceu em relação às denúncias das operações offshore de Macri e familiares, quando da revelação dos "Panama Papers". Imediatamente juízes denunciaram Cristina Kirchner por irregularidades que passaram a ocupar as manchetes de La Nación e El Clarín, os conglomerados que querem comandar – e cercear – a informação no país vizinho.
No Brasil, é evidente a agressão dos vazamentos da Lava Jato ao ex-presidente Lula e à presidenta Dilma e o quanto eles e a mídia golpista poupam as figuras da oposição.
Fica evidente, através da comparação dos dois casos, que a tática, sendo a mesma, tem uma origem comum, provavelmente, e há muitos indícios nesta direção, provinda dos Estados Unidos. Antigamente, logo depois da Segunda Guerra, o ex-presidente republicano e general Dwight Eisenhower alertou sobre a existência de um "complexo industrial-militar" que, na verdade, comandava os Estados Unidos. Hoje pode-se falar num complexo sistema de informação reunindo agências como a National Security Agency, empresas de terceirização da espionagem e de inteligência, ONGs e Think Tanks que certamente forjaram este treinamento para elementos dos sistemas judiciários dos países da América Latina, além de órgãos de segurança, como as polícias federais respectivas e adjacências.
Junto a esse esquema, é indispensável contar com a operação midiática que bombardeie com constância frases e manchetes que cativem as mentes e corações dos que querem ser cativados, é bom que se diga, convencendo as pessoas de platitudes vazias, como a de que "sim, sempre houve corrupção, mas o PT a institucionalizou", quando não convencendo os mais afoitos em acreditar em qualquer coisa que proteja o que veem como seu direito a privilégios, que foi o PT que a inventou.
Fica claro o objetivo desse estupro da inteligência ao se considerar que o "futuro governo" de Michel Temer já acena com os cortes dos direitos trabalhistas, da suspensão da obrigatoriedade de investimentos em educação e segurança e de cortes nos programas sociais, até com afirmações de que o Bolsa Família está "inchado".
Esses arautos da regressão histórica aos tempos da República Velha estão convencidos, e trabalham com o sentimento difuso em parcelas de nossas elites e classes médias de que o Brasil precisa mesmo ter um "exército de reserva miserável" para funcionar, para manter a percepção de que direitos são privilégios de classe. Esse golpe armado precisa também desconstruir a narrativa de que os governos petistas melhoraram a condição de vida da população. Seu objetivo maior é "desconvencer" o povo de que ele tem direito a ter direitos.

Para tanto, esses golpistas dispersos em toda a parte, mas sobretudo concentrados em aparelhos de Estado não estão hesitando em dar um golpe que, além de cobrir o Brasil de descrédito em escala mundial, vai potencializar a corrupção, agora sim, como nunca se viu antes nesta uma vez chamada de Terra dos Papagaios, agora se transformando na República dos Bananas. Não que todos sejam bananas, porque é possível que alguns sejam bananas o tempo todo, mas é impossível que todos sejam bananas todo o tempo. Mas basta um bando de bananas por algum tempo, para abrir o bananal à sanha da direita.