segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Comissão Nacional da Verdade Para família de vítimas da ditadura, CNV trouxe justiça histórica, mas não de fato Falta de cooperação das Forças Armadas para descobrir paradeiro dos desconhecidos é uma das maiores frustrações da comissão e dos parentes dos mortos e desaparecidos políticos

Antonio Cruz/ Agência Brasil
Desaparecidos
Protesto pelos desaparecidos na ditadura (1964-1985)
no Site da Carta Capital

por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

A resistência armada foi parte de um cenário criado pelo Estado quando implantou a Ditadura Militar no Brasil. É completamente descabida e sem parâmetros éticos, morais e de conhecimento histórico, usar argumentos que tentam desacreditar fatos históricos como a Ditadura Militar Brasileira.
É fato, o Estado e as Forças Armadas brasileiras sabiam e usaram arcabouço legal, a força institucionalizada e ampliada ao extremo para caçar opositores do regime.
A resistência armada foi fruto de uma violência perpetrada pelo Estado brasileiro na época, patrocinador de uma das mais cruéis ditaduras das Américas, isso é fato. 
O Brasil institucionalizou a tortura, só isso - que não é pouco -, deveria ser suficiente para ensejar punições adequadas aos mandantes e aos torturadores.
O Brasil, deveria ser levado aos tribunais internacionais como o de Haia, talvez, e ser forçado a punir os algozes do povo e exigir retratação das Forças Armadas Brasileiras.
A resistência armada era quase toda ela formada por jovens secundaristas ou universitários. Jovens que foram jogados na clandestinidade pelo próprio sistema ditatorial. Eram poucos, grupo inexpressivo se comparado à força legal patrocinada pelo Estado brasileiro.
Não ajuda em nada defender o indefensável. É fato a desproporcionalidade entre os grupos de poucas pessoas, na sua maioria jovens inexperientes, e a força bruta e todo seu aparato legal altamente organizado, usando as dependências das Forças Armadas, das delegacias e instituições estatais.
A Comissão Nacional da Verdade, infelizmente, não tem poder de punir, mas uma coisa deixou claro para toda a sociedade, o Estado brasileiro, as Forças Armadas sabiam e concretamente participaram do esquema de violações aos direitos humanos e à tortura e assassinatos durante a Ditadura Militar brasileira. É fato.

Comissão Nacional da Verdade

Para família de vítimas da ditadura, CNV trouxe justiça histórica, mas não de fato

Falta de cooperação das Forças Armadas para descobrir paradeiro dos desconhecidos é uma das maiores frustrações da comissão e dos parentes dos mortos e desaparecidos políticos
A escassez de informações a respeito do destino de presos e desaparecidos políticos durante a ditadura era o maior desapontamento dos familiares das vítimas no dia de lançamento do relatório final da Comissão Nacional da Verdade.
“A grande frustração das famílias é não saber ao certo o que aconteceu com os desaparecidos e nem saber a localização exata dos restos mortais”, afirmou Maria Eliana de Castro, irmã de Antônio Deodoro de Castro, o Raul da Guerrilha do Araguaia. Segundo ela, o irmão foi assassinado pelo major Curió, oficial que em seu livro de memórias relatou ter dado um tiro no peito de Antônio. “Quem não teve a chance de enterrar os seus mortos nunca vai esquecer o que aconteceu.”
O caso do irmão de Maria e da Guerrilha do Araguaia servem para ilustrar uma problemática encontrada pela comissão durantes as suas investigações. A falta de cooperação das Forças Armadas criou empecilhos, segundo os coordenadores, na procura por vítimas do período. “As Forças Armadas mataram esses opositores [no caso da Guerrilha do Araguaia] e tiveram os corpos em suas mãos”, afirma Pedro Dallari, presidente da Comissão Nacional da Verdade. “Como podem, agora, alegar que não sabem onde eles estão? É um fenômeno sobre o qual os militares têm absoluto controle, porque as mortes ocorrem num contexto de enfrentamento militar.”
Wadih Damous, presidente da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, também apontou o silêncio do Exército como um mecanismo que dificultou a elucidação dos casos. "Vivenciamos a sistemática negativa da colaboração das Forças Armadas Brasileiras para alcançar os nossos objetivos.” Desde que iniciou seus trabalhos, a Comissão Nacional da Verdade localizou três corpos, em mais de 200 desaparecidos.
A frustração foi reforçada no pronunciamento de Togo Meirelles Neto, cujo pai, Thomaz Antônio da Silva Meirelles Netto, desapareceu em maio de 74 no Rio de Janeiro. “Infelizmente, a Comissão da Verdade não conseguiu reunir todas as informações sobre os desaparecidos. Infelizmente, não teve a colaboração daquele que têm as respostas.” Com a voz embargada, Togo prometeu, em nome de todos os parentes dos desaparecidos, “nunca desistir até saber tudo o que aconteceu. Essa dor nunca vai desaparecer até o dia da minha morte."
Os familiares afirmaram, ainda assim, que o trabalho da comissão é importante e trouxe reparação histórica para o Brasil, ainda que não tenha ocorrido a prisão dos culpados. Para eles, houve uma expectativa de punição dos responsáveis que não se concretizou. "Não sou a favor da pena de morte, mas gostaria de ver os torturadores em prisão perpétua, morrendo na cadeia.", disse Maria, que ainda espera ver os torturadores presos.
Para Damous, o relatório entregue hoje deve ser interpretado como uma “obra aberta”. “Não é o fim. Tenho certeza de que outras investigações podem aprofundar o trabalho da Comissão Nacional da Verdade”, declarou, reforçando a atuação de comissões estaduais. “Ainda não sabemos onde está o corpo de Rubens Paiva, Stuart Angel e todos os demais desaparecidos políticos do Brasil. Não vamos descansar até encontrá-los todos.”

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