O perseguido Tyrion: Shakespeare, Tolkien ou Paulo Coelho?
por Nirlando Beirão
Fonte: site da revista Carta Capital – retirado dia 27/06/2014
A primeira impressão de quem
chega a Game of Thrones (HBO2, domingo, às 16 horas, e HBO
Signature, segunda-feira, às 23 horas) é de que se trata de um Shakespeare
reescrito por Tolkien, ou vice-versa. À medida que a quarta temporada se
arrasta, Game of Thrones se revela um Paulo Coelho filmado por
trainees da Disney Kids.
A
saga de Westeros veste uma fantasia caprichada de clãs brasonados, guerreiros
encouraçados e princesas maliciosas, em trama freudiana de punhaladas e
traições, sem se acanhar com a súbita irrupção, à moda dos melhores (e dos piores)
contos de fadas, de bichos monstruosos e criaturas enfeitiçadas.
O
excesso cenográfico da série, o figurino copioso e o décor digno da Broadway
acobertam a narrativa pueril que a inspira. O americano George R. R. Martin com
certeza gostaria de manusear o caldeirão de bruxarias com a expertise maligna
de uma J.K. Rowling, a do Harry Potter (reparem a fixação desses ficcionistas
por nomes abreviados). No entanto, nas mãos de R. R. a varinha de condão pesa
tanto quanto a espada Excalibur.
É
passatempo que, invertendo os papéis, não recomendo aos maiores de idade, sua
pretensão adulta se limitando a jogos de alcova (o lema da insinuante Shae é
“coma, beba, trepe, viva”) e se traindo na sanguinolência gratuita de liças de
espada. O enredo se dilui nele próprio.O diferente – e suas consequências: ódio
e preconceito – é representado por Tyrion, o filho anão dos disfuncionais
Lannister. Peter Dinklage é um gigante de ator, mas é muito peso para carregar
em seus frágeis ombrinhos.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário