Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Funcionários e alunos da USP fazem protesto na entrada do campus no Butantã
Essa matéria da revista Carta Capital é uma
demonstração tácita da política neoliberal desenvolvida no âmbito nacional por
FHC nos anos 90 e nos últimos 20 anos de governo PSDB no Estado de São Paulo.
É importante que as pessoas, eleitores ou não, do
Brasil inteiro entenda as diferenças entre governos neoliberais e governos que
defendem que o Estado tenha o tamanho das necessidades da maioria da sociedade.
A ideia central do neoliberalismo é diminuir a
importância e o tamanho do Estado e aumentar ainda mais a participação das
grandes empresas na condução da economia e da vida das pessoas.
Não existe nenhum exemplo claro de que isso tenha
dado certo, até nos EUA e na Inglaterra esse modelo fracassou.
A sociedade brasileira e os eleitores precisam
entender e ser capazes de distinguir um do outro.
No governo FHC o país passou por uma ampla e
profunda privatização em vários setores, e, ao contrário do que foi divulgado,
a miséria e o sofrimento das pessoas no Brasil aumentou absurdamente.
Nos governos Lula da Silva e Dilma Roussef,
aumentou a participação do Estado e a miséria diminui, inclusive com a ONU
divulgando números favoráveis ao Brasil o que não fazia desde a época da sua
criação em 1945.
Leia a matéria a baixo na sua integra, entenda MAIS.
Por José Gilbert Arruda Martins (Professor)
Ensino Superior
A privatização indireta das universidades estaduais paulistas
Desde o
início da greve, temas como doações financeiras de ex-alunos e corporações e
cobrança de mensalidades têm sido trazidos ao debate
por
Cássio Garcia Ribeiro, Fabiana de Cássia Rodrigues e Henrique T. Novaes
Fonte: Site da revista Carta Capital – retirado dia 18/06/2014
A
greve que atravessas as três universidades estaduais paulistas desde o final de
maio evidencia uma nova ofensiva privatista, que vem sendo facilitada por
informações divulgadas por reitores e alguns setores da imprensa. Temas
como doações financeiras de ex-alunos e corporações e, principalmente, cobrança
de mensalidades, têm sido trazidos à baila pelos setores mais conservadores da
sociedade.
Com a
adesão do Brasil à agenda neoliberal, não apenas por parte do governo central
(o caso do estado de São Paulo é sintomático, sobretudo nessas duas décadas de
gestão do PSDB), o setor público vai, paulatinamente, se descomprometendo
(total ou parcialmente) de uma série de funções transferidas ao mercado. Nesse
contexto, o precário “Estado de bem-estar social”, subjacente à Constituição de
1988, assiste a seu setor público brasileiro atendendo apenas superficialmente
às demandas de sua população.
Diante desse quadro, a educação se
transforma em mercadoria, dando ensejo à criação de nichos de mercado (nos
ensinos fundamental, médio e superior). Ao mesmo tempo, são visíveis os
processos de sucateamento e precarização pelos quais passam a educação pública
brasileira (em todos os níveis), com investimentos insuficientes,
infraestrutura inadequada e profissionais cada vez menos valorizados.
Especificamente no caso da política
voltada para o ensino superior, cabe salientar o fenômeno de “privatização
indireta” pelo qual vem passando a universidade pública, com o incentivo
(pressão?) à captação de recursos externos por parte dos docentes. Com a Lei da
Inovação criada em 2004 e o crescimento do poder das Fundações universitárias,
parte dos professores se converte em “empresários da inovação”. Nesse contexto,
ganham destaque as “Agências de Inovação” (UIN, na Unesp; Agência de Inovação,
da Unicamp e USP) e as parcerias entre as Universidades e as corporações
transnacionais e nacionais - de alguns ramos - via Fapesp.
Se é verdade que mais de 90% dos
recursos das três universidades paulistas ainda vêm dos fundos públicos como
ICMS, também é verdade que a cada ano os cursos de extensão e especialização,
além das consultorias, vêm ganhando terreno na agenda de uma parcela dos
docentes, como uma forma visível de “complementação” salarial. Vale observar
que, além disso, a privatização indireta é reforçada quando algumas
universidades públicas condicionam a progressão na carreira à captação de
recursos externos.
A ameaça privatista não para por aí. De
tempos em tempos, vem à tona a proposta da cobrança de mensalidade como
panaceia para as dificuldades orçamentárias das universidades públicas, como
tem ocorrido atualmente na “crise” enfrentada pelas estaduais paulistas.
Novamente, a privatização surge como alternativa à “escassez” e “má gestão dos
recursos públicos”.
Todavia,
nada se fala sobre a política do governo paulista de ampliação de cursos e campi oferecidos
pela USP, Unicamp e Unesp, não acompanhados por aumentos nas verbas destinadas
a essas universidades (o percentual do ICMS repassado às três estaduais
paulistas é o mesmo desde 1995), tampouco pela contratação de novos professores
e funcionários.
Assim, a ampliação se dá, de cima para
baixo, não oferecendo, muitas vezes, condições mínimas em termos de recursos
humanos e materiais, como é o caso dos campi experimentais da Unesp. A
irresponsabilidade dessa política de ampliação salta aos olhos no caso da
interdição do campus Zona Leste da USP, cujas instalações foram construídas
sobre solo contaminado.
Além disso, não foi dado nenhum
esclarecimento por parte do governo do estado de São Paulo sobre a denúncia do
Fórum das Seis de que tal não teriam sido repassados cerca de R$ 2 bilhões às
coirmãs paulistas, entre 2008 e 2013. Aqui, é importante lembrar as
contribuições de Aloysio Biondi sobre as privatizações brasileiras, segundo o
qual, em muitos casos, primeiramente as estatais eram sucateadas (deixavam de
receber financiamento do governo e eram usadas como instrumento de combate à
inflação), e, em seguida, transmitia-se à sociedade a ideia de que elas eram
ineficientes. Finalmente, após alcançar legitimação, ao menos por parte de uma
parcela da população, tais estatais eram privatizadas, em processos que com
frequência eram escandalosamente obscuros (com deságio, financiamento
“camarada” do BNDES e dívidas assumidas pelo ex-proprietário – ou seja, o
próprio governo brasileiro).
Isso parece muito com o que vem
acontecendo na atual campanha lançada por alguns setores da imprensa em prol da
privatização das universidades públicas paulistas. Ora, se o orçamento do setor
público é escasso e tais universidades não conseguem geri-lo adequadamente, a
saída seria sua privatização. Qualquer semelhança com as privatizações da era
FHC não é mera coincidência.
Conforme salientado, é evidente a
influência neoliberal no governo paulista e, em sua “agenda de
desenvolvimento”, apregoa-se a importância da diminuição das funções assumidas
pelo Estado, com vistas a torná-lo mais eficiente. “Estado mínimo” e “mercado
máximo”, eis a solução para nossos problemas.
Diante desse contexto, salta aos olhos
o perigo da proposta de cobrança de mensalidade nas universidades públicas do
estado de São Paulo. Um deles reside na possibilidade de que o governo
paulista, com a implementação dessa proposta e o aumento dos recursos “não
públicos” na formação do orçamento de tais universidades, poderá se sentir
tentado a reduzir unilateralmente os repasses a elas.
Infelizmente, nos sentimos desamparados
pelo Cruesp (Conselho dos Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo),
que, em vez de defender-nos dos ataques privatistas, repete o mantra do governo
paulista: “frente ao baixo crescimento do PIB” e à “queda na arrecadação do
ICMS”, é preciso fazer alguns sacrifícios (leia-se arrocho salarial, cortes em
fomento para participação em eventos científicos, redução de recursos para a
atividade de extensão etc.).
É de se lamentar a omissão do Cruesp à
política de sucateamento praticada pelo governo do estado de São Paulo em
relação à USP, à Unesp e à Unicamp, bem como a falta de abertura para o diálogo
e de transparência em relação a suas contas.
Combatemos veementemente a privatização
de qualquer natureza como solução para os problemas enfrentados pelas
universidades públicas paulistas. Defendemos uma universidade pública, gratuita
e de qualidade. Concebendo-a como espaço privilegiado do pensamento livre, como
responsável pela realização de ensino de qualidade, pesquisas e extensão
voltadas a atender os interesses do conjunto da população brasileira, na
construção de uma nação soberana. Condições incapazes de serem alcanças por
universidades submetidas à lógica mercantil.
* Cássio Garcia Ribeiro é docente da
Unesp - Franca; Fabiana de Cássia Rodrigues é professora substituta da
Unicamp; e Henrique T. Novaes é docente da Unesp - Marília.
registrado
em: usp unesp unicamp greve universidades
estaduais paulistas ensino
superior
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