quinta-feira, 31 de março de 2016

Traduzindo o Golpe do Impeachment III (O Golpe é para acabar com o "Mais Médicos")

por José Gilbert Arruda Martins

Dos Programas Sociais do Governo Federal, o Mais Médicos é um dos que encabeçam a fila daqueles que os golpistas desejam acabar.

"Criado em 2013, o Programa Mais Médicos ampliou à assistência na Atenção Básica fixando médicos nas regiões com carência de profissionais. Por meio da iniciativa, 14.462 mil médicos passaram a atender a população de 3.785 mil municípios, o equivalente a 68% dos municípios do país e os 34 Distritos Sanitários Indígenas (DSEIs). Cerca de 50 milhões de brasileiros são beneficiados."



Esse Programa é um dos principais alvos dos golpistas. Quando o Mais Médicos foi lançado, a direita e um grupo de médicos reacionários, insuflados pela oposição raivosa, receberam os médicos cubanos nos aeroportos com selvageria. Prometeram acabar com o Programa.

Depois disso, partidos de direita entre eles o PSDB e o DEM prometeram em várias ocasiões rever o programa.

O combate dos conservadores ao Mais Médicos não é apenas ideológico, existe algo mais profundamente prejudicial ao povo que é a tentativa de acabar não apenas com o programa, mas acabar também com o SUS.

Portanto, o golpe do impeachment não é apenas para derrubar um governo legitimamente eleito, é também para diminuir ou retirar direitos.

O Programa andou e hoje é um sucesso.

Brasileiros de mais de 4 mil municípios, que nunca tiveram a oportunidade de fazer uma consulta, estão sendo atendidos.

O Programa é uma verdadeira revolução no atendimento médico no país.

A cada ano o Programa cresce e se desenvolve ainda mais.

Os golpistas estão de olho no Programa, esse talvez seja um dos primeiros a ser desativado ou, no mínimo, sofrerá mudanças para pior com o desligamento de todos os médicos estrangeiros.

GOLPE - 'Se fazem isso contra mim, o que não farão contra o povo?", diz Dilma sobre impeachment

na Rede Brasil Atual

Durante lançamento da terceira fase do Minha Casa, Minha Vida, presidenta reafirmou a importância da preservação de direitos


Dilma
'Acreditar que o outro não merece ser tratado com respeito é a base da violência. Não podemos aceitar'

São Paulo – No lançamento da terceira fase do programa Minha Casa, Minha Vida, a presidenta Dilma Rousseff lamentou aqueles que, segundo ela, vêm destilando o ódio no país, e disse que a intolerância é a base da violência. "No Brasil, o outro não é um estranho, é nosso irmão, porque é brasileiro. Um ser humano, como nós, e, como tal tem que ser respeitado", disse, em cerimônia realizada hoje (30), no Palácio do Planalto, com a presença de representantes de movimentos sociais que lutam por moradia, representantes dos empresários da construção civil e ministros do governo.
Mesmo frente às dificuldades do quadro econômico, a presidenta frisou que não é possível fazer ajustes cortando gastos sociais, e que o MCMV representa também um esforço para a retomada do crescimento econômico e a criação do emprego, mas que, para tanto, depende também de estabilidade política. "Nós queremos que a economia retome o seu caminho. Sem estabilidade política, não chegaremos." A presidenta afirmou também que não é possível pensar a solução para o déficit de moradia através apenas do mercado, sem a participação do estado, por conta dos elevados níveis de desigualdade de renda.
Dilma reafirmou o combate à desigualdade e a preservação dos direitos como prioridades do governo, dentre eles, especialmente a democracia. "A democracia é um direito que conquistamos. A democracia não caiu do céu. Foi conquistada com muito empenho e participação de todos nós. Resistimos, metabolizamos e engolimos a ditadura", lembrou a presidenta, destacando que os valores democráticos são protegidos pela Constituição.
Sobre a ameaça de impeachment, Dilma fez questão de lembrar que, segundo a Constituição, não vivemos sob um regime parlamentarista, em que o governo pode ser derrubado pelo parlamento, seguindo amplos critérios. No presidencialismo, a Constituição prevê o estatuto do impeachment, mas que só pode ser utilizado mediante crime de responsabilidade. "Impeachment sem crime de responsabilidade é golpe. É essa a questão", desabafou a presidenta.
Ela lembrou também que o suposto critério que fundamenta o pedido de afastamento em curso baseia-se em aditivos às contas do Orçamento de 2015, que deverão ser apresentadas em abril, segundo Dilma, e que, portanto, nem sequer foram julgadas pelo Tribunal de Contas da União, e menos ainda pelo Congresso.
Dilma disse que tal processo de impeachment sem base legal não é uma agressão apenas à ela, na figura da presidenta, mas aos direitos da população. "Se fazem isso contra mim, o que não farão contra o povo?", indagou Dilma.
O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, frente à atual conjuntura, que classificou como "perigosa e criminosa ofensiva golpista contra a democracia", também afirmou não ser possível falar apenas de moradia. "Hoje liberdades democráticas, garantias constitucionais e a soberania do voto estão ameaçadas pelo golpismo."
"Impeachment em si não é golpe. Mas sem crime de responsabilidade e conduzido por um bandido é golpe, sim senhor. É golpe, e não tem legitimidade", frisou Boulos, fazendo referência ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que conduz o processo pelo afastamento de Dilma.
Boulos também chamou a atenção que, junto com o movimento de afastamento, surgem boatos de eventuais cortes nos subsídios para os programas de moradia, num eventual novo governo e prometeu o combate através da mobilização. "É por tudo isso que estamos e estaremos nas ruas para não deixar que esse golpe passe."

Programa

O coordenador de políticas de Habitação da Federação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar,Elvio Mota, saudou a nova fase do programa Minha Casa, Minha Vida e disse que representa avanços que são fruto da mobilização dos movimentos, das cidades e do campo. Ele também destacou a importância da mulher no âmbito do programa, principalmente na modalidade Entidades, em que as construções são realizadas a partir do modelo de autogestão.
"A família e, principalmente, as mulheres, participam da construção. São elas que estão dizendo ‘Olha, a casa é pequena, precisava aumentar’", disse Elvio. Ele cobrou também que as residências voltadas para o campo sejam ampliadas e afirmou que a ameaça de impeachment põe em risco os avanços das políticas sociais. "O golpe não é contra o seu governo, é contra os pobres desta nação", disse, dirigindo-se à presidenta.
Já a presidenta nacional da Confederação de Nacional das Associações de Moradores, Bartíria Costa, destacou a participação dos movimentos de moradia na construção das políticas para o setor. "Os movimentos são protagonistas, não só no Entidades, mas na organização de comunidades que seguem na luta por cidadania e direitos. Só quem vive o cotidiano das comunidades, que está no dia a dia, sabe o impacto desse programa e de tantos", citando, além do Minha Casa, Minha Vida, programas do governo como o Luz para Todos, o Mais Médicos e o Prouni.
"Sairemos daqui mobilizados para garantir o sucesso e a viabilidade desse programa e de tantos outros. Já estamos mobilizados, vigilantes, para defender todos os direitos garantidos. Não permitiremos retrocessos. Combateremos todos os fascistas e golpistas. Lutaremos com todas as forças em defesa da nossa democracia e da Constituição. Golpe nunca mais", disse Bartíria.

A intolerância política chegou às escolas

na Carta Capital

Em Curitiba, uma professora foi perseguida por pais de alunos por se posicionar contra o impeachment

por Rene Ruschel 


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Alunos realizaram manifestações em apoio à professora

De Curitiba
Curitiba, sede da Operação Lava Jato, vê-se às voltas com um episódio de macarthismo verde amarelo. Uma professora de História dos Movimentos Sociais do Século XX e História da América Latina, que prefere ter o nome mantido no anonimato por temer pela segurança de sua família, foi vilipendiada nas redes sociais por um grupo fechado de mais de 800 pessoas, liderados por pais de alunos do Colégio Medianeira, da capital paranaense.
Tudo começou quando ela escreveu em sua página no Facebook que “hoje vi crianças numa escola, vestindo preto e pedindo golpe. Desprezando a democracia e exalando ódio (...) parece que não conseguimos escapar do que Marx profetizou (...) que a história se repete, primeiro como tragédia, depois como farsa”. A reação foi como um rastilho de pólvora.
Centenas de pais de alunos cujos filhos manifestaram apoio “ao golpe” contra a presidenta Dilma Rousseff entupiram as redes sociais chamando-a de “comunista descarada”. Pediam à direção do colégio sua demissão alegando que “se minha filha aparecer em casa com alguma ideia esquerdista vai dar confusão”.
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A professora usou uma imagem do fascismo para ilustrar a postagem em que criticou a manifestação dos alunos (Reprodução / Facebook)
“[Caso] esses professores ‘dinossauros’ ultrapassados continuem a lecionar, vamos ter problemas!!!!’. Exaltados, afirmavam que “se eu pegar algum texto comunista no caderno do meu filho eu vou rasgar e devolver rasgado”.
Segundo a assessoria de imprensa do colégio, a professora, que leciona há 10 anos na instituição, sempre teve uma conduta exemplar. Pela natureza das disciplinas ministradas, os temas debatidos em sala de aula incluíam questões políticas e sociais como meio-ambiente, pobreza, comunismo, socialismo ou capitalismo, sem que jamais tivessem aflorado qualquer radicalismo nos debate entre os alunos.
No entanto, dadas as notícias veiculadas pela mídia nos últimos meses, questões como impeachment, corrupção e Operação Lava Jato surgiram naturalmente no dia a dia dos adolescentes.
Por decisão dos alunos, sob a orientação da escola, foi proposto um debate sobre o tema em dias alternados. Os grupos, divididos em dois, apresentariam no pátio do colégio seus pontos de vista sobre cada situação.
Os alunos contrários ao governo da presidenta Dilma vieram trajando roupas pretas; os demais com o uniforme tradicional da escola onde predomina a cor branca. Não houve agressões ou brigas. Tudo transcorreu dentro da normalidade esperada. A gota d’água deu-se com o massacre, pelas redes sociais, à opinião pessoal da professora em relação aos defensores “do golpe”.
Em nota oficial, a direção do Medianeira afirmou que a instituição condena “toda e qualquer incitação ao ódio, difamação e injúria, violência física ou verbal (...) e reitera o papel da instituição como mediadora na interação entre alunos, educadores e famílias no afã de edificar uma sociedade mais justa e igualitária”.
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Alunos protestam em favor da professora ((Reprodução / Facebook)
Reitera o colégio que repudia a coação e hostilidade que possam vitimizar os educadores da instituição. “Reafirmamos nosso compromisso com a liberdade de expressão e a livre manifestação do pensamento os quais fazem parte do modus operandi de uma instituição da Rede Jesuíta de Educação”. 
Apesar de formalizado o pedido de demissão, a professora ainda faz parte do quadro de empregados da escola. Os alunos têm promovido uma série de manifestações pedindo seu retorno, tanto na escola como pelas redes sociais.
Pais lançaram um manifesto pela internet de apoio ao colégio, afirmando que “apoiamos a continuidade de seu projeto político-pedagógico, que é pautado, entre outros princípios, na busca do diálogo, da livre expressão de ideias, do respeito aos direitos humanos e do estado democrático”. 
Ainda segundo a assessoria de imprensa do colégio, a expectativa da diretoria é que "ela retorne à sala de aula para dar continuidade aquilo que melhor sabe fazer: ensinar e instruir os jovens e adolescentes com lições de conhecimento e democracia."

Máfia da merenda - “Yousseff” do merendão do PSDB deve se entregar na quinta, 31

na Carta Capital

Foragido desde janeiro, principal lobista da máfia da merenda não quer delatar nomes de políticos

por Henrique Beirangê 


Fachada da Assembleia Legislativa de São Paulo
Ex-presidente da Alesp, Leonel Julio, foi preso como suspeito de envolvimento na máfia da merenda

O lobista Marcel Ferreira Júlio, principal elo entre a administração paulista e máfia da merenda, deve se entregar na manhã de quinta-feira, 31, em Bebedouro, interior de São Paulo. Marcel está foragido desde o início do ano quando foi deflagrada a operação Alba Branca, que apura desvios de ao menos 25 milhões de reais, só no ano passado, dos cofres públicos paulista.
O lobista era encarregado dos contatos com a Casa Civil, a Educação e a Secretaria de Agricultura do governo Geraldo Alckmin para a elaboração de contratos fraudados de suco de laranja. O lobista é visto entre os investigadores como a caixa-preta do esquema. A força-tarefa avalia que Marcel está para a máfia da merenda como o doleiro Alberto Yousseff está para a operação Lava Jato.
Marcel decidiu se entregar depois que o pai, o ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo Leonel Júlio ter sido preso ontem, apontado como um dos envolvidos no esquema. Caberia a Leonel a aproximação política com prefeituras de São Paulo para a celebração de fraudes na merenda escolar. A investigação aponta que ao menos 22 administrações municipais também estariam envolvidas. 
Leonel Julio
Leonel Julio foi presidente da Alesp na década de 1970
Para o lobista se entregar, a defesa quer uma serie de regalias. Entre elas, que seja solto após prestar depoimento e que a imprensa não tenha acesso ao local da oitiva. O lobista já deu indicativos de que não pretende entregar o nome de políticos envolvidos no esquema.  Com isso, a força-tarefa ainda não sabe se aceitará os termos de Marcel para que sua prisão preventiva seja suspensa.
As escutas telefônicas mostram que o apetite dos merendeiros não se restringiu a São Paulo. O objetivo era estender a fraude pelo interior do Nordeste, Rio de Janeiro, Paraná e Salvador. A sequência de diálogos grampeados durante a Operação Alba Branca mostra que os dirigentes da Coaf, sediada em Bebedouro, interior paulista, citam nome de políticos que estariam por trás da “exportação” do merendão. Entre eles, o aliado do vice-presidente Michel Temer, o deputado federal Baleira Rossi.
 Em uma das interceptações, os investigados afirmam que um membro da executiva do PMDB paulista era próximo a “Michel” e que ajudaria a “abrir muitas portas”.
Até o momento foram citados em depoimentos e interceptações telefônicas os nomes do ex-secretário da Casa Civil, Edson Aparecido; da Agricultura, Arnaldo Jardim; de Logística e Transportes, Duarte Nogueira e do ex-secretário de Educação Herman Voorwald. A operação apura o envolvimento direto do tucano e presidente da Assembleia paulista Fernando Capez, de Baleia Rossi (PMDB) e Nelson Marquezelli (PTB), deputados federais, e Luiz Carlos Gondim (SD), deputado estadual. Todos negam as acusações.  

Entrevista - Dulce Critelli - Quando crianças adotam o discurso de ódio

na Carta Capital

Professora de filosofia analisa o que leva crianças a hostilizarem umas às outras por motivações partidárias e as consequências disso para a sociedade

por Ingrid Matuoka 


Desenho-infantil
Imagem publicada em uma rede social em março

Em São Paulo, um menino de 9 anos foi xingado e ameaçado por seus colegas de escola por usar uma peça da cor vermelha – era uma camiseta com a bandeira da Suíça. Um pai publicou em uma rede social, orgulhoso, o desenho que seu filho criou na aula de artes - Dilma e Lula, lado a lado, acompanhados por mensagens que pedem a morte dos dois. Em outra escola, uma adolescente se sente isolada pelos amigos e luta contra professores para ter o direito de defender o capitalismo e outras posições à direita. 
Estes episódios pouco se diferenciam dacultura de violência que se instalou e se iniciou entre os brasileiros – adultos. E, agora, as crianças e adolescentes estão refletindo o mundo da "gente grande", com consequências igualmente grandes para eles e para a sociedade.
Para a professora da PUC de São Paulo Dulce Critelli, especializada em filosofia da educação, a sociedade está semeando uma ambiente de intolerância que tem em sua base a incapacidade de respeitar o outro.
CartaCapital: Quais podem ser as consequências para uma criança de estar em um ambiente violento e de intolerância, reproduzindo discursos de ódio?
Dulce Critelli: Essas atitudes são um controle social a respeito de coisas absolutamente aparentes, por defesas de convicções que nem sempre são conscientemente assumidas ou compreendidas. O que assusta é isso, e na criança fica mais visível.
Qual é a capacidade que uma criança ou adolescente tem de conhecer mais profundamente, e de forma ponderada, os exemplos históricos e as posições que está assumindo? É uma adesão sem compreensão, muito por alto.
Uma criança que vê uma briga não entende o que está acontecendo, e nem a sociedade tem conseguido compreender. Adultos que supõem que o outro está em uma posição diferente da dele já estão se omitindo de conversar para evitar brigas. Uma criança, no entanto, não tem essa ponderação. Ela vive ressoando o que está no ambiente dela e que aprendeu naturalmente.
Durante a infância, acumulamos uma série de princípios, atitudes e valores muito distraidamente, e isso vai formando nosso caráter. Aquilo que aprendemos e reproduzimos naturalmente tende a permanecer conosco até o final da vida. Faz-se necessária muita leitura, muita história vivida e reflexão para conseguir ponderar o que se está fazendo. As crianças não têm essa condição.
Publicação
CC: Quais podem ser as consequências para a sociedade de ter crianças se desenvolvendo em um ambiente como este?
DC: Se nós e a escola não ajudarmos a mudar esse tipo de comportamento, é muito tentador dizer que caminhamos para o que vemos de convivência social e política nos países regidos por fundamentalismos e posições radicais. Toda essa intolerância anuncia como futuro possível o que está acontecendo nesses atentados em Paris, em Bruxelas, porque é a incapacidade de respeitar o outro.  
O ideal é que a sociedade eduque as crianças favorecendo nelas o respeito pela própria opinião e pela opinião alheia, e que sejam capazes de construir acordos. Isso não significa ceder ou não ter opinião, mas compreender que, como todos os diferentes vivem no mesmo lugar, precisamos permitir que essas diferenças apareçam sem se destruir mutuamente. Uma sociedade precisa disso porque sempre vão surgir posições muito diferentes, e é necessário que surjam.
É muito duvidoso que todo mundo que esteja a favor ou contra o impeachment tenha uma posição só, por exemplo. Temos uma diversidade e uma singularidade imensa e cada um de nós provoca no meio social uma diferença. Não somos como os animais, que simplesmente se reproduzem constantemente no seu jeito e condição e são os mesmos ao longo da história.
Manifestação
Em bastão de manifestante lê-se 'Aos petistas com carinho' (Foto: Lula Marques/Agência PT)
CC: O fato de crianças estarem se envolvendo em brigas e violência por questões partidárias mostra o que sobre a nossa sociedade?
DC: Mostra quanto não temos um espírito cívico. Mas ao mesmo tempo é o começo de um interesse pela questão pública. Pode ser que ele não esteja sendo bem tratado e nem bem experimentado, mas é um começo.
CC: Qual seria a forma ideal para os pais e responsáveis se portarem em relação às crianças nesse momento de intolerância?
DC: Um dos artigos de Hannah Arendt sobre educação diz que toda criança, quando adentra uma sociedade, é uma novidade, e sua tendência é de não respeitar as tradições. A responsabilidade dos pais e professores seria a de fazer uma ligação: respeitar essa novidade, mas inseri-la no contexto da tradição.
Às vezes usamos essa palavra de uma maneira inadequada e parece que tradição é algo pesado e fechado, quando na verdade ela nos oferece um fio condutor que organiza nosso modo de ser atual.
Por exemplo, não faz parte de nossa tradição a noção de que a coisa pública também nos pertence e agora parece que isso está despertando. Respeitar essa tradição não é fazer de novo o mesmo, mas é entender o que vem vindo, conversar com o que nos organizou anteriormente e poder corrigir esse rumo.
Então os filhos sempre têm ideias diferentes dos pais e essa é uma oportunidade de começar a aprender que o pensamento do outro também tem valor, tanto quanto o seu. É um momento de criar acordos entre o novo e o velho, o possível e o atual. Não é porque elas já estão estabelecidas que são melhores, tampouco são melhores por serem novas. É nesse confronto, que não é um conflito, entre as duas facetas que se pode criar comportamentos novos.
E para isso eles têm de ouvir o que as crianças estão dizendo e refletir com elas, começando a oferecer a oportunidade de construir uma capacidade de compreensão e reflexão e de não pegar as coisas por alto, só porque o amigo também pensa assim.
CC: Que atitude um professor pode ter para promover um ambiente mais saudável?
DC: Nossa educação é precária e muitas escolas já têm um viés ideológico forte em que a intransigência e intolerância fazem parte, com a ideia de que existe uma verdade. Acho que a escola tem de se rever.
Um professor, por mais que tenha posição partidária clara para ele, não tem o direito de, numa escola, impor e mostrar que aquela é a única posição possível. Ele tem obrigação de mostrar todas as facetas de um debate.
Tenho aqui uma frase da Hannah Arendt que resume o fundamento da educação na escola e em casa: “Qualquer pessoa que se recuse a assumir a responsabilidade coletiva pelo mundo não deveria ter crianças. E é preciso proibi-la de tomar parte na sua educação”.

Marco Aurélio: sem crime é Golpe!

no Conversa Afiada

Mello não aceita argumento de Barroso


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No Globo http://oglobo.globo.com/brasil/marco-aurelio-diz-que-impeachment-nao-resolvera-crise-18983840, militante do Golpe que não vai haver:

O ministro Marco Aurélio Mello (do Supremo Tribunal Federal) concordou com oargumento da presidente Dilma de que, se o impeachment for calcado em fatos que não configurem crime de responsabilidade, ocorrerá um golpe. Além disso, disse ela, os fatos narrados no processo referem-se a 2014 – portanto, as acusações são de fatos anteriores ao mandato atual.

— Acertada a premissa, ela tem toda razão. Se não houver fato jurídico que respalde o processo de impedimento, esse processo não se enquadra em figurino legal e transparece como golpe — concluiu Marco Aurélio.

(...)

Marco Aurélio declarou que, se o Congresso Nacional decidir pelo impeachment, existe a possibilidade de o governo apresentar recurso ao STF

— Pode (recorrer). O Judiciário é a última trincheira da cidadania. E pode ter um questionamento para demonstrar que não há fato jurídico, muito embora haja fato político, suficiente ao impedimento. E não interessa de início ao Brasil apear esse ou aquele chefe do Executivo nacional ou estadual. Porque, a meu ver, isso gera até mesmo muita insegurança. O ideal seria o entendimento entre os dois poderes, como preconizado pela Constituição Federal para combater-se a crise que afeta o trabalhador, a mesa do trabalhador, que é a crise econômico-financeira. Por que não se sentam à mesa para discutir as medidas indispensáveis nesse momento? Por que insistem em inviabilizar a governança pátria. Nós não sabemos — concluiu.

quarta-feira, 30 de março de 2016

Saída do PMDB deixou Planalto de bom humor: abre espaço para um novo governo.

no Blog Amigos do Presidente Lula

A entrevista coletiva do ministro Jaques Wagner sobre a saída do PMDB do governo não deixa margem de dúvidas: o Palácio do Planalto ficou mais leve, até o humor melhorou.



Aliás, a popularidade de Dilma deve subir, pois o PMDB tem uma das piores imagens política para o povo, associada à corrupção e que contaminava a imagem do governo.

E o PMDB nem é um partido tão grande assim. Pode ser substituído por outros. E estava sendo um estorvo no governo, porque em vez de ajudar a governar, como os partidos aliados devem fazer, estava atrapalhando, sabotando, traindo e ainda contaminando com a má imagem.

Livrar-se da novela do PMDB ser ou não governo foi um alívio. 

E como disse Jaques Wagner agora dá para renovar o governo, dando uma virada, reorganizando a base governista com outros partidos, mesmo que seja menor, mas será mais consistente, mais comprometida com as transformações sociais que o povo deseja.

Quem não deve estar gostando disso é muito peemedebista que já percebeu que Temer e Cunha vão afundar o PMDB. Não vão conseguir dar o golpe e ainda ficarão com fama de golpistas, traidores e de ratos que abondam o navio.

#RenunciaTemer bombou nas redes sociais

A saída do PMDB do governo gerou críticas pela população. Nas redes sociais bombou a mensagem #RenunciaTemer cobrando coerência e fazendo piadinhas. 

Afinal anunciar sair do governo e não largar o osso do cargo de vice eleito na aba da Dilma, foi considerado sem-vergonhice pelos internautas.

OBSTRUÇÃO À JUSTIÇA - Moro admite ao STF equívoco ao divulgar conversa de Lula e Dilma

por José Gilbert Arruda Martins

Democracia é isso, você tem que ler e ouvir imbecilidades a todo tempo, mas...parabéns ao Rede Brasil Atual, boa matéria. Ficou claro o que especialistas vêm afirmando, a Lava Jato pode está com os dias contados, pois tinha o único objetivo de derrubar o governo e humilhar o ex presidente Lula. Os tolos, incautos, desinformados não conseguem enxergar um palmo além do próprio umbigo não conseguem ver a cortina de fumaça jogada com o "combate" à corrupção que esconde os reais interesses de uma elite medonha, com fome de poder. A corrupção é secular no Brasil, mas alguns só vem a corrupção hoje.

O listão da Odebrecht sendo enviado ao STF libera a bancada de cerca de 270 parlamentares brasileiros - envolvidos com todo tipo de falcatruas e crimes, alguns são acusados, inclusive de assassinatos -, para votar tranquilamente pelo impedimento da presidenta que não cometeu nenhum crime.

Fica evidente à opinião da sociedade os interesses das elites com a Lava Jato.

Repito o que venho defendendo, Sérgio Moro precisa ser desconstituído, para o bem da Democracia.



na Rede Brasil Atual

Moro disse ao ministro Teori Zavascki que não teve intenção de provocar polêmicas, conflitos ou constrangimentos

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STF decidirá quinta-feira se Moro continuará à frente das investigações do ex-presidente Lula

por André Richter, da Agência Brasil

Brasília – O juiz federal Sérgio Moro admitiu hoje (29) ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki que se equivocou ao autorizar a divulgação de escutas telefônicas entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidenta Dilma Rousseff. Ao ministro, Moro também disse que não teve intenção de provocar polêmicas, conflitos ou constrangimentos.
"O levantamento do sigilo não teve por objetivo gerar fato político-partidário, polêmicas ou conflitos, algo estranho à função jurisdicional, mas, atendendo o requerimento do MPF, dar publicidade ao processo e especialmente a condutas relevantes do ponto de vista jurídico e criminal do investigado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que podem eventualmente caracterizar obstrução à Justiça ou tentativas de obstrução à Justiça", justificou Moro.
Moro enviou as informações a pedido de Zavascki após a decisão do ministro que determinou a suspensão das investigações da Operação Lava Jato que envolvem Lula e envio dos processos ao Supremo.
Na quinta-feira (31), o STF decidirá se o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela investigação da Operação Lava Jato na primeira instância da Justiça Federal, continuará na condução dos inquéritos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na semana passada, o ministro Teori atendeu a pedido da Advocacia-Geral da União (AGU) e suspendeu, com base em jurisprudência da Corte, a divulgação das interceptações envolvendo a Presidência da República e fixou prazo de dez dias para que Sérgio Moro preste informações sobre a divulgação dos áudios do diálogo entre a presidenta Dilma Rousseff e Lula, tornadas públicas após decisão do juiz.

terça-feira, 29 de março de 2016

Traduzindo o Golpe II (Golpe contra o Minha Casa, Minha Vida)

por José Gilbert Arruda Martins

O Golpe do impeachment tem o objetivo de acabar com os Programas Sociais, entre eles o Minha Casa, Minha Vida.


Historicamente as elites brasileiras nunca de importaram de fato em criar um programa habitacional que atendesse para valer as camadas mais pobres da sociedade.

A parte da sociedade mais pobre, que precisa de uma casa para morar, tinha que recorrer a financiamentos em instituições privadas absurdamente caros, ou pagar aluguel.

O Programa Mina Casa Minha Vida criado em 2009 no governo Lula da Silva e fortalecido no governo Dilma Roussef, já entregou mais de 1,7 milhões de casas e apartamentos, beneficiando cerca de 10 milhões de brasileiros e brasileiras.

É um programa para pessoas de baixa renda, famílias de brasileiros, que sempre sonharam com uma casinha um teto sobre as cabeças e que não tinham oportunidade nenhuma.


"Números do Minha Casa Minha Vida
O Programa já beneficiou mais de 10 milhões de pessoas, com a entrega de 2,6 milhões de moradias em todo o país. No Pará, mais de 259 mil pessoas foram beneficiadas com a entrega de mais de 64,8 mil unidades. Na Bahia, foram entregues mais de 175,3 mil unidades, beneficiando mais de 701,2 mil pessoas. Já no Piauí, o PMCMV beneficiou mais de 203,2 mil pessoas com a entrega de mais 50,8 mil unidades habitacionais. No estado de São Paulo, foram entregues mais de 457,4 mil unidades, beneficiando mais de 1,8 milhão de pessoas."


O golpe do impeachment é contra esse Programa que alcança milhares de brasileiros. 

Tenha total atenção ao que está acontecendo, acompanhe, essa história de combate à corrupção (que todos nós queremos que seja combatida) esta história está servindo para encobrir os reais interesses dos entreguistas da direita: PSDB, DEM, PPS... e do grande capital daqui e de fora.

Lula diz à imprensa estrangeira que impeachment é risco à democracia do Brasil

na Rede Brasil Atual

Para o ex-presidente, o governo de Dilma deve sobreviver à crescente pressão que vem sofrendo do Congresso

por Paulo Victor Chagas, da Agência Brasil

Para Lula, Dilma poderá resistir ainda que parte do PMDB decida deixar o governo



Brasília – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje (28) acreditar que a presidenta Dilma Rousseff deve sobreviver à crescente pressão que têm sofrido no Congresso Nacional pelo seu impeachment. Em entrevista coletiva para jornalistas de veículos internacionais, ele afirmou que a democracia do Brasil estará em risco caso o processo de impedimento de Dilma seja aprovado.
De acordo com o portal online do jornal New York Times, o ex-presidente, nomeado recentemente ministro-chefe da Casa Civil, afirmou que a presidenta poderá resistir ainda que parte do PMDB decida deixar o governo.
Lula, cuja nomeação para o cargo está suspensa pela Justiça até que o Supremo Tribunal Federal (STF) tome uma decisão definitiva, informou ainda, segundo o New York Times, que vai conversar com o vice-presidente Michel Temer, presidente nacional da legenda, e outros políticos em Brasília com o objetivo de ajudar Dilma a continuar no cargo.
Na tarde desta segunda-feira, a Ordem dos Advogados do Brasil protocolou na Câmara dos Deputados um novo pedido de impeachment contra a presidenta. Amanhã (29), o  Diretório Nacional do PMDB vai se reunir para decidir se deixa ou não o governo.
Lula concedeu a entrevista a diversos jornais estrangeiros, entre eles o El PaísWall Street JournalFinancial TimesTelamAgência LusaThe Guardian e Le Monde.
Ainda de acordo com o New York Times, o ex-presidente disse que não quer ser um “intruso” no governo da presidenta e negou as afirmações de que ele aceitou o cargo de ministro-chefe da Casa Civil para evitar ser preso por acusações de corrupção.

Ex-presidente do PP cita FHC, ministro do TCU e irmã de Aécio em delação

Blog Amigos do Presidente Lula


O ex-deputado federal Pedro Corrêa (PE), ex-presidente do PP com mais de 40 anos de atividade parlamentar, citou políticos da oposição e da base do governo em sua delação premiada, negociada por cerca de oito meses e assinada há duas semanas com a PGR. 

De acordo com Corrêa, o ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da União, recebia mesada de José Janene, ex-deputado do PP. Nardes, responsável pelo parecer das "pedaladas fiscais", que dá base ao impeachment, também foi deputado pelo PP.

Reportagem da Folha de S. Paulo com trechos da delação premiada que vem sendo negociada pelo ex-deputado indica que se esta for homologada pelo Supremo Tribunal Federal pode garantir transtornos à oposição. 

Quando Nardes foi nomeado ministro do TCU, em 2005, um recibo que comprovava o pagamento da propina teria sido destruído. O valor era entre R$ 10 mil e R$ 20 mil.

Corrêa também mencionou a irmã do senador Aécio Neves (PSDB-MG), Andrea Neves, uma das principais assessoras do político, em uma lista de operadores de propina, como a responsável por conduzir movimentações financeiras ligadas ao tucano.

Em outro trecho, Corrêa fala que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comprou a emenda da reeleição, com o apoio de grandes empresários, como do banqueiro Olavo Setúbal, já falecido, ex-dono do Itaú.

"Olavo Setubal dava bilhetes a parlamentares que acabavam de votar, para que se encaminhassem a um doleiro em Brasília e recebessem propinas em dólares americanos", diz o anexo da delação.

domingo, 27 de março de 2016

Traduzindo o golpe (O golpe contra os trabalhadores no Brasil)

por José Gilbert Arruda Martins

Os trabalhadores, trabalhadoras e o povo em geral precisam entender: O impeachment é GOLPE e algumas explicações simples demonstram esse fato.



1. Dilma não é investigada na justiça.

2. Pedalada Fiscal não é crime.

3. Outros presidentes e governadores já fizeram.

4. O parecer do Tribunal de Contas da União não foi julgado pelo Congresso.

5. E mesmo que fosse, o alegado - pedaladas fiscais -, não aconteceu neste mandato.

6. Dilma Roussef não cometeu crime de responsabilidade nenhum, 100% da população brasileira sabe disso. 100% dos parlamentares sabem disso. 100% do judiciário sabe disso. 100% da mídia sabe disso.

Então por que a oposição, a Globo e a velha e carcomida mídia, parte do MP e do judiciário quer o impeachment?

Querem derrubar Dilma e Lula da Silva para:

1. Acabar com o Minha Casa, Minha Vida;

2. Acabar com o Bolsa Família;

3. Acabar com o Prouni, Fies, Pronatec...

4. Privatizar as Universidades Federais.

5. Entregar o pré sal aos estrangeiros.

6. Privatizar os Correios, a Caixa Econômica, o Banco do Brasil, a Petrobrás, o BNDES...

7. Desemprego, Arrocho Salarial...

Além dos pontos acima, se o golpe tiver sucesso teremos no país uma grande perseguição aos sindicatos, centrais sindicais, movimentos sociais, movimentos LGBTs, Movimentos Negros e Quilombolas, Indígenas, perseguições às religiões de matriz africana...

Essa história de acabar com a corrupção é apenas um pretexto para que as elites coloquem o PSDB, o DEM, o PMDB, o PPS e demais partidos conservadores no poder. O grande objetivo é mudar o caráter do Estado Brasileiro, acabar com o Estado do Bem Estar Social, que estávamos construindo e implantar o Estado Neoliberal e executar políticas de arrocho salarial e demais maldades expostas acima.


'Podem investigar o que quiserem, não vão encontrar nada'

na Carta Maior

“Ou ele (Lula) vem como ministro ou vem como assessor, isso ninguém poderá impedir, virá de uma forma ou de outra. Nós vamos trazer o presidente Lula para que ajude o governo”.


Roberto Stuckert Filho/ PR

“Lula é, sem sombra de dúvidas, o maior líder do Brasil depois de Getúlio Vargas… eu convidei o presidente Lula para participar do governo há muito tempo, ele sempre foi meu conselheiro…trabalhamos juntos durante seis anos, quando eu era ministra da Casa Civil, mas agora eu quero que ele ajude o governo neste momento de crise.”

Golpe institucional e ditaduras

“É muito triste lembrar este 24 de março, quando se completam 40 anos do golpe de Estado na Argentina, mas ao mesmo tempo devemos estar felizes de que agora os argentinos tenham um sistema democrático. Os golpes mudam suas características com o passar do tempo. Se hoje houvesse um golpe neste Brasil democrático, seria um tipo de golpe institucional”.

Essa foi a primeira resposta da presidenta Dilma Rousseff durante uma entrevista de quase 100 minutos, na ampla mesa de madeira circular do terceiro andar do Palácio do Planalto. Dilma e o ministro das Comunicações, Edinho Silva, se sentaram próximos a uma parede branca onde se vê o brasão da República. Ela pede para ligar o ar condicionado, enquanto os garçons oferecem suco de laranja natural. É uma manhã de calor, típica do outono no cerrado brasileiro: o atípico é que, até o início do encontro, não se viram grupos hostis ao governo e à democracia, acampados em frente ao Palácio, os que aparecem quase todos os dias, para protestar em favor do impeachment, e alguns inclusive pedindo intervenção das Forças Armadas”.

“Nós tivemos golpes militares na América Latina, nos Anos 60 e 70, eu sei o que aconteceu na Escola de Mecânica da Marinha (campos concentração usado pela ditadura, em Buenos Aires)… agora não se dão mais golpes como aqueles, a estratégia agora, como neste caso brasileiro, é romper o delicado tecido democrático… alimentam a intolerância… buscam quebrar o pacto (social) baseado na Constituição de 1988”. Ela afirma que “não se pode derrubar um presidente da República legitimamente eleito, a não ser que se prove que ele cometeu crime de responsabilidade. Se não há provas contra mim (para sustentar o impeachment) isso é um golpe, um golpe contra a democracia”, reforçou a mandatária, durante o encontro no qual também participaram jornalistas do The New York Times, Le Monde, El País, The Guardian e Die Zeit.

“Esta é uma democracia e temos que reagir de forma democrática. Vamos recorrer a todos os instrumentos legais para deixar claro as características deste golpe. Mas eu recomendo que se perguntem quem está se beneficiando desta situação, muitos dos quais ainda estão escondidos por trás do cenário principal dos fatos”.

Enquanto subimos do segundo ao terceiro piso do Palácio por uma rampa helicoidal – projetada pelo arquiteto modernista Oscar Niemeyer, a mesma pela qual Lula e Dilma desceram há 8 dias, quando ele pretendia assumir o cargo de ministro –, um assessor fala do carácter “aguerrido” da presidenta, que se incrementa a medida em que o cerco se fecha sobre o Planalto.

Muito mais magra, graças a baterias de exercício em bicicleta todas as manhãs, e pelo estresse de enfrentar uma conspiração por dia, Dilma não tem o semblante de quem está abatida. Talvez o contrário. Sóbria, vestia uma blusa de cor bordô e negra, combinada com um colar dourado, pouca maquiagem, pintura nos lábios, mas não nas unhas.

Quando indagada sobre a possibilidade de renunciar, ela alça a voz e responde olhando com firmeza a um dos correspondentes.

Renunciar jamais

“Querem que eu renuncie? Por que? Por ser uma mulher frágil? Não, eu não sou uma mulher frágil. Minha vida não foi isso. Pedem que eu renuncie para evitar a vergonha de ter que derrubar de forma ilegal a uma presidenta eleita democraticamente”.

Ela assegura que os inimigos do governo subestimam sua capacidade de enfrentar as adversidades. “Eles pensam que eu estou completamente afetada, pressionada, desestruturada, e não estou. A verdade é que não estou. Tive uma vida muito complicada. Eu tinha 19 anos (início dos Ano 70, época em que ela militou numa organização armada de resistência à ditadura) quando fui presa, e estive presa por três anos.

Aqui, a prisão não era nada leve, era muito difícil, talvez similar ao que houve na Argentina, embora o caso argentino tenha tido o agravante de ter sido mais generalizado que aqui em termos de assassinatos de pessoas. Mas no Brasil também houve mortes. Eu lutei naquela época, em condições muito mais duras que as de hoje, que estamos em democracia. Esta situação de hoje é mais segura. Eu vou lutar, não vou renunciar, para me tirar daqui vão ter que provar (que houve crime de responsabilidade). Por isso digo que temos que reagir, por isso a consigna daqueles que me apoiam é `não vai ter golpe´”.

Dilma lembra que o mentor do processo de impeachment contra ela é o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, dono de várias contas comprovadas na Suíça, nas quais foram depositados cinco milhões de dólares, fruto de possíveis esquemas de suborno para mediar contratos na Petrobras.

Dilma contrasta a situação de Cunha, sobre quem as investigações não avançam, com o fato de que desde que começou o seu segundo governo, em 2014, foi criada o que ela considera uma campanha para derrubá-la, com acusações insustentáveis. “Eu fui investigada devida e indevidamente pela imprensa e por todo mundo. Podem investigar o que quiserem, não vão encontrar nada”.

Ela considera o impeachment “muito frágil em termos legais”, e recorda: “esse processo surgiu quando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, disse que se não votássemos contra uma investigação contra ele, colocaria o processo de impeachment na pauta”.

“Não tenho sentimento de culpa. Aqui no Brasil, você pode ser preso por ter cachorro ou por não ter, então não sei qual é a resposta correta. Sei que me criticam por não estar deprimida. E eu tenho dormido muito bem. Me deito às 22h e me levanto às 5h45”.

Palácio sitiado

Segurança reforçada, agentes colocados em pontos estratégicos da Praça dos Três Poderes, no centro da cidade, controles de metais mais rigorosos para a entrada à sede de uma administração que, sitiada, se torna trincheira da defesa da democracia. “Não passarão”, garante a chefa de governo, assumindo que o gigante sul-americano está diante de uma eventual guerra política de desfecho incerto.

Tanto ela quanto seu companheiro Luiz Inácio Lula da Silva, “o maior líder político” do país, chegaram à conclusão de que o campo opositor – juízes, meios de comunicação, banqueiros e partidos conservadores – desde o começo de março, passou a agir para desestabilizar o país, combinando manobras de obstrução no Congresso com denúncias espalhafatosas e sem fundamento, um golpismo sem rodeios.

Junto com esse crescimento das forças pró-impeachment, também surgiu o protagonismo do juiz Sérgio Moro, uma espécie de templário contra a corrupção e adversário jurado de Lula.

No dia 16 de março, esse magistrado de primeira instância interceptou uma ligação de Lula e Dilma, e poucas horas depois entregou o conteúdo à opositora Rede Globo de Televisão.

Segundo Moro, a presidenta e seu correligionário fizeram um acordo antecipar a nomeação de Lula, para que ele, como ministro, tivesse foro qualificado, e pudesse burlar a Justiça.

Fascismo

Dilma Rousseff discorda do juiz Moro. Ela sustenta que o grampo telefônico e sua posterior divulgação foram uma forma de alimentar a ira dos opositores, que voltaram a ocupar as ruas no mesmo dia 16.

Segundo ela, alguns setores que aproveitam a efervescência do público para “estimular a violência, a agressão aos ministros (em restaurantes e aviões), aos deputados, e isso tem um nome, isso se chama fascismo”.

Membros do gabinete consideram que essa intercepção telefônica difundida por Moro não foi somente uma estratégia para excitar as hordas. Com ela, o juiz também buscou impedir que Lula assumisse o cargo de ministro, no dia seguinte.

Após o incêndio causado pela divulgação dos grampos, e as críticas que eles receberam de vários juristas, Moro ensaiou uma justificativa polêmica, ao comparar o ocorrido no Caso Watergate, nos Estados Unidos, nos Anos 70 – quando o então presidente Richard Nixon acabou renunciando ao seu cargo.

A comparação do juiz foi refutada por Dilma. “Alegar que o antecedente norte-americano justifica essa ação é ridículo, porque naquele caso, o grande invasor das conversações era o presidente da República (Nixon), que grampeava quem entrava (na Casa Branca), enquanto aqui o que aconteceu foi que um juiz de primeira instância grampeou a presidenta da República”.

“A atitude correta (de Moro) deveria ser o envio da gravação ao Supremo Tribunal Federal” que é o único órgão que tem competência para julgar uma chefa de Estado.

Sem mencionar o nome do juiz, Dilma criticou o magistrado federal do Paraná, dizendo que comunga da estratégia pregada pela oposição, do “quanto pior melhor”.

A interceptação telefônica é algo inaceitável, afirmou a presidenta, e logo arrematou “o juiz tem que ser imparcial, não pode jogar com as paixões políticas”.

Trump e Berlusconi

Dilma fala sobre os recentes protestos multitudinários contra e a favor do seu governo, ambos mostrando grande capacidade de mobilização. Ela aceita que houve multidões nas ruas, mas que, ainda assim, os mobilizados não chegaram “nem a 2% da população brasileira”.

Uma das curiosidades desta rebelião “neocon” é que os protestos contra o governo também registram hostilidade contra a maioria da dirigência partidária opositora. No ato com o maior número de pessoas, realizado no dia 13 de março, quando 500 mil pessoas foram ao centro de São Paulo, os manifestantes revoltados, a maioria gente branca de classe média ou da elite da cidade, não se limitaram a exigir a queda de Dilma Rousseff, e descarregaram sua raiva nos “presidenciáveis” da oposição, o senador mineiro Aécio Neves e o governador paulista Geraldo Alckmin, ambos dos PSDB. Os dois foram impedidos de discursar no evento, sob vaias e gritos que os qualificavam como “corruptos”.

O único personagem celebrado na Avenida Paulista foi o juiz Sérgio Moro, que diz pretender realizar no Brasil um processo similar ao da Operação Mãos Limpas, que aconteceu na Itália, nos Anos 90.

O advogado e deputado federal do PT, Wadih Damous opina que Moro na verdade a implosão do sistema político para projetar a si mesmo como uma espécie de “salvador da pátria”, ao estilo Silvio Berlusconi, o magnata que emergiu da queda do modelo político italiano após a Operação Mãos Limpas”.

Depois de abordar o “clima das ruas” e o que elas dizem, Dilma mostrou que aceita o ambiente onde o Brasil exibe um empate entre as forças democráticas e as destituintes. A presidenta sugere que uma forma de romper esse impasse seria una negociação com a oposição, mas sem chantagens.

“Qual é a solução que defendemos? Que se abra o diálogo… mas esse pacto não pode ser realizado por fora da cultura democrática, tem que ser feito dentro do marco democrático. O que isso quer dizer? Que não pode haver tentativas impeachment infundadas. Nesse pacto, é preciso discutir qual é a saída democrática para a crise. Vamos discutir mudanças no sistema político? Vamos combinar o (atual) presidencialismo com um parlamentarismo? Estamos dispostos a discutir a quantidade de partidos que temos, creio que catorze ou mais, e eu acho que deveríamos ter até cinco.”

“O mais grave desta crise é essa desconfiança na política, que é estimulada pela oposição, plantando um clima de caos, e depois se cria um `salvador da pátria´. Essa é uma solução autoritária e trágica”.

São cerca de 12h30, Dilma encerra a entrevista com um “até aqui chegamos com as perguntas”, e se dirigiu até a saída do seu escritório. Sorridente, ela conta que é um costume que o anfitrião abra a porta, como gesto de que deseja que os convidados regressem.

Em meio às despedidas, perguntamos: você falou do fantasma da antipolítica, acha que o Brasil corre o risco de que surja um Donald Trump ou um Silvio Berlusconi?”.

“Ai querido, não me faça essa pergunta. Por ser presidenta, eu não posso falar do que acontece em outros países… quando terminar o meu mandato, ou respondo e te digo exatamente o que penso disso”.

Tradução: Victor Farinelli