quarta-feira, 10 de julho de 2019

MORTE POLÍTICA DE MORO




(Carta Capital artigo de Marcos Coimbra)

A morte política de Moro

Em si, Sérgio Moro não tem mais importância na política brasileira.
Todos os verbos que se referem a ele estão no passado.
Chegou a ser uma hipótese de figura de primeira grandeza, quando surgiu para a opinião pública nacional como o juiz ferrabrás de uma tal Lava Jato.
A maioria não o conhecia e somente os mais interessados no dia a dia do Judiciário sabiam quem era.
Às vezes, acende-se uma pequena luz no quadro da política.
Pode ser um prefeito que chama a atenção, um procurador inovador, um ministro que se destaca, um empresário com boas ideias.
Ser governador de estado aumenta a chance de ser visto. A luz se acende, mas costuma apagar-se. É preciso mais que a oportunidade para criar um personagem relevante. No mínimo, é necessário ter carisma e substância.
Tome-se o caso de alguém cujo conceito original se enraizava em lugar semelhante ao de Moro no imaginário da sociedade.
A luz de Fernando Collor faiscou em 1987, quando assumiu o governo de um dos menores estados do País com a bandeira da “Guerra aos Marajás”.
Recebeu toda a ajuda que teve (e não foi pouca), mas só virou presidente porque a matéria-prima de sua imagem era forte, várias vezes mais forte que a do ex-juiz.
O nome de Moro chegou a ser incluído em algumas pesquisas na última eleição. Em uma do Datafolha de setembro de 2017, não alcançava 10%, apesar de ser conhecido por quase 80% dos entrevistados (Collor, em condições semelhantes, a onze meses da eleição e entre quem o conhecia, passava de 40%).
Números decepcionantes para alguém com tantas pretensões, que devem tê-lo ajudado a desistir da aventura.
Percebendo que seu cacife era pequeno, Moro provavelmente avaliou que o melhor caminho seria tornar-se um “grande eleitor”, assumir o governo com o vitorioso e, a partir daí, garantir uma poltrona na primeira fila da política nacional.
A esse projeto se dedicou desde o começo de 2018, esperando, pelo menos, o prêmio de consolação de uma cadeira no Supremo.
Cumpriu o combinado com Bolsonaro e o antipetismo, correndo para tirar Lula da eleição, custasse o que custasse, passando por cima das normas mais básicas do Direito.
Graças ao The Intercept Brasil, temos agora uma ideia de como ele e sua turma agiram para interferir na eleição.
Nada, porém, que surpreenda quem se lembra de suas fotos debochadas com Michel Temer e os amigos tucanos.
As revelações até agora publicadas do Intercept (e deve haver outras) bastam para colocar uma pá de cal nas ambições de Moro.
Bolsonaro e o bolsonarismo erram, contudo (como é regra), ao rir-se das desventuras de Moro e de seus patéticos esforços de se agarrar a eles para não afundar.
Destituído de futuro, sem um presente que possa ser defendido, resta como símbolo de um passado, em que era ampla a sustentação da Lava Jato e da hipotética renovação que representaria.
Os que permanecem presos a essa ilusão não podem admitir a morte de Moro.
Quem o patrocinou lá atrás, como o sistema Globo, um pedaço da cúpula do Judiciário e do Exército, só o jogará fora se não houver jeito.
É o único herói da “revolução gloriosa” que fabricaram, a luta para acabar com Lula e o PT a pretexto de erradicar a corrupção.
Sem Moro, a imagem do projeto que arquitetaram é o constrangedor retrato do zoológico bolsonarista.
Para todos, bem como para Bolsonaro e seu governo de figuras ridículas e inexpressivas, a morte política de Moro é um revés.
Há outra hipótese, de Moro ser capaz de resolver seu problema e Bolsonaro mostrar-se um presidente competente na solução de crises, mas podemos descartá-la. Os próximos meses serão piores para o capitão.

Carta Capital artigo de Marcos Coimbra: https://www.cartacapital.com.br/opiniao/revelacoes-do-intercept-colocam-pa-de-cal-nos-planos-de-sergio-moro/

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