A redescoberta da nação
A grande crise que começou
em 2013 dura até hoje.
No plano econômico, ela é
estrutural; decorre do fato de desde os anos 1980 tanto o Estado quanto o setor
privado terem perdido capacidade de investir; no plano político, ela começa com
as grandes manifestações de junho de 2013 que marcaram o rompimento da classe
média brasileira com o pacto democrático-popular das Diretas-Já.
O rompimento da classe média
decorreu da incapacidade dos governos, tenham sido eles de centro-direita ou de
centro-esquerda, de retomar o desenvolvimento econômico interrompido em 1980.
A partir de 1990, no quadro
da democracia, com a preferência pelo consumo imediato, os interesses
financeiros prevaleceram sobre o componente desenvolvimentista do pacto, e a
classe média se viu espremida entre uma classe alta, financeiro-rentista, que
se beneficiava dos juros e do câmbio apreciado, enquanto os pobres eram
beneficiados pelas políticas sociais e pelo aumento do salário mínimo.
O rompimento da classe média
ocorreu em 2013, quando essa classe deu uma grande guinada para a direita e se
submeteu ao neoliberalismo.
Quando, em 2014, o PT ganhou
as eleições por pequena margem, não obstante haver perdido o apoio das elites
econômicas, esse partido e seu líder foram transformados em “inimigos
públicos”, aprofundando a crise política.
O desencadeamento de uma
crise financeira e fiscal nesse mesmo ano de 2014, cuja culpa foi atribuída ao
governo Dilma Rousseff, agravou essa guinada.
Ocorre, então, uma sequência
de conluios que aproveitam da hegemonia neoliberal.
Primeiro, o vice-presidente
Michel Temer, para obter o apoio das elites e da classe média e lograr o
impeachment, encomendou a economistas neoliberais o documento “Uma Ponte Para o
Futuro”; ao mesmo tempo, para se legitimar as violências contra o Estado de
Direito da Operação Lava Jato, o então juiz Sergio Moro e seus procuradores
escolheram o PT e Lula como seus alvos; finalmente, e segundo a mesma lógica, o
candidato Bolsonaro escolheu um economista radicalmente ortodoxo, Paulo Guedes,
para alcançar a Presidência.
Esses três conluios não
foram apenas contra a esquerda, foram contra o Brasil.
Os governos que deles
resultaram colocaram todas as suas fichas em uma incompetente política fiscal
procíclica de corte dos investimentos públicos, mostrando-se, assim, incapazes
de adotar as políticas necessárias para a retomada do desenvolvimento
econômico, enquanto procuravam vender as empresas públicas monopolistas a
estrangeiros.
Hoje, o fracasso desse
conservadorismo e dessa dependência radical aos Estados Unidos está minando a
hegemonia neoliberal.
E vemos, de repente,
ressurgir a ideia da nação brasileira.
Vemos intelectuais e
políticos tanto na centro-esquerda quanto na centro-direita, que haviam
“esquecido” o nacionalismo econômico, voltarem-se para ele —voltarem-se para
uma nação que, não obstante as lutas inerentes à sociedade civil, seja capaz de
unir os brasileiros em torno de um projeto nacionalista e desenvolvimentista.
Não basta para um país a
competitividade técnica (a produtividade); é preciso que o país tenha também
competitividade monetária, ou seja, uma taxa de câmbio competitiva que assegure
às empresas brasileiras igualdade de condições na concorrência com as empresas
de outros países.
Não basta ser contra a venda
dos móveis da família. É preciso que a família brasileira abandone a
não-política de um regime econômico voltado para o consumo e o substitua por um
regime de política econômica voltado para a produção e a competitividade.
O nacionalismo econômico só
faz sentido quando o país, além de rejeitar a dependência, abandona a
preferência pelo consumo imediato e se dispõe a competir no nível
internacional.
Do professor Luiz Carlos
Bresser-Pereira: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2019/07/a-redescoberta-da-nacao.shtml
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