sábado, 18 de abril de 2015

Que falta faz o Professor Paulo Freire...

no Portal da Carta Maior

Vivemos realmente tempos sombrios no que tange a consciência política de um setor da nossa sociedade.

Arquivo

por José Gilbert Arruda Martins

Para que Paulo Freire, se temos Jorge Soros?

Para que Paulo Freire, se temos Miriam Leitão para nos ensinar a consumir e consumir sem pensar?

O que me importa é consumir, e isso eu posso fazer, é isso que me importo.

Fui um dos blogueiros que divulgou aqui em Brasília foto com essa famigerada faixa acima.

O texto diz tudo, impressiona o comportamento dessa classe média, ela que é filha também da luta pela democracia e do processo de abertura no final do anos 1980, comporta-se hoje, como se não precisasse de nada e de ninguém, só dela própria.

Vou, para talvez, potencializar ainda mais o debate, publicar um comentário do internauta Gerson a seguir:

Gerson Alvim Pessoa - 17/04/2015Esta geração de Brasileiros que foi "educada" pelo regime ditatorial civil/militar, foi embrutecida e emburrecida pelos nossos algozes de sempre. Não sabem nada, não raciocinam, vivem para si, somente para si, não respeitam o próximo nem mesmo a si próprios, pois permitem que o stablichment não os respeite ao pensar e dar-lhes o caminho a seguir. É uma geração tosca, completamente tosca e alienada. Como podemos exigir que saibam quem foi Paulo Freire e respeitem a sua memória? IMPOSSÍVEL. Chafurdam na lama da ignorância total, mas usam roupas de grife. Precisam mais que isso?

Nós que militamos em Brasília, que, frequentemente saímos às ruas para lutar contra as medidas arbitrárias desse novo Congresso, diga-se, "Redução Maioridade Pena, Terceirização etc., observamos de perto esse comportamento que beira ao fascismo.

A arrogância na maneira de expressar-se, de andar nas ruas e quadras, de usar seus carrões, de andar a 100 km em vias de 50, impressiona.

São, na sua maioria, jovens brancos, moradores de bairros nobres da cidade, Plano Piloto, principalmente da Asa Norte, Águas Claras, Sudoeste e Noroeste, locais que abrigam um contingente muito grande de jovens funcionários públicos, estudantes da Universidade de Brasília e de Faculdades particulares.

São pessoas que desprezam completamente Políticas Públicas que se referem aos trabalhadores e seus filhos, Cotas para Negros em Universidade Pública, locais de estacionamento para cadeirante, filas de banco para idosos, qualquer tipo de política que crie oportunidades iguais para todos, são completamente desrespeitadas.

São grandes defensores da liberdade, desde que a liberdade seja para eles, por exemplo, namoro com sexo apenas para fazer com moças que não "servem para casar", "mulher boa é mulher que respeita, que prepara o jantar, que calça os sapatos, que leva o prato até a sala de TV, que, enfim seja encabrestada.

São defensores de político tipo Eduardo Cunha, ou Bolsonaro, numa discussão sobre estupro, ficam quase sempre contra a mulher estuprada.

São jovens, que almoçam todos os dias em restaurantes bons da cidade, fazem churrascos semanais nos seus condomínios que tem desde piscinas gigantes a todo tipo de divertimento, só precisam sair para trabalhar e participar de eventos a favor da volta da ditadura militar.

Jovens, que na sua maioria não usam transporte público, têm seus próprios carros, e não são automóveis baratos, que jogam lixo pela janela do carrão, mas são contra o Bolsa Família, as Cotas nas Universidades...

Jovens que usam o PIG - Partido da Imprensa Golpista -, para se informar no dia a dia. São leitores da veja, quando estão comprando cervejas de marca na fila do supermercado, assinam o jornal Correio Braziliense, para ler as manchetes de domingo, adoram o futebol no telão dos barzinhos do Plano para poder gritar impropérios contra times, jogadores negros e mulheres...

Esse é um pequeno retrato de parte da juventude que pede a intervenção militar e apoia políticos que defendem estupro.

E, não se iludam, você encontra esse tipo até em sala de aula de escolas públicas. Olha a merda!


Que falta faz o Professor Paulo Freire...

Vivemos realmente tempos sombrios no que tange a consciência política de um setor da nossa sociedade.

Robson Leite
De todas as faixas das duas últimas manifestações que vimos “televisionadas com chamadas ao vivo em rede nacional”, a que mais me chocou não foi, por mais incrível que possa parecer, o pedido de “intervenção militar constitucional” (?) ou o pedido de socorro aos “irmãos do norte”, mas uma em que se pedia um “basta à Paulo Freire”. 

Talvez pouca gente no Brasil saiba, mas Paulo Freire, educador brasileiro mais homenageado e reconhecido internacionalmente da nossa história, foi um dos últimos presos políticos autorizados a voltar ao nosso país durante o processo de anistia. Evidentemente que isso não foi obra do acaso, afinal de contas, o projeto concebido por Paulo Freire – chamado de pedagogia do oprimido – e escrito no Chile de Salvador Allende representava uma grande ameaça ao governo ditatorial brasileiro dos anos 80. 

A Pedagogia do Oprimido, uma das obras latino-americanas mais reconhecidas e premiadas pelas grandes Universidades do mundo, simplesmente ensinava a como alfabetizar um adulto despertando nesse a consciência política. Se tivéssemos que resumi-la, bastaria trocar o “vovó viu a uva” das cartilhas alfabetizadoras pela frase “o povo tem o voto” que a sua essência libertadora contida no método seria bem percebida. E, evidentemente, que um povo consciente é um perigo para governos opressores, colonialistas, ditatoriais e não-populares como foram os do período militar brasileiro.

Inclusive, é interessante recordar que o Chile de Allende sofreu o seu golpe militar quando nacionalizou as minas de cobre de seu país. Da mesma forma, o golpe empresarial-militar que em 1964 derrubou Jango no Brasil foi imediatamente após o anuncio, no seu discurso da Central do Brasil, das reformas de base e da nacionalização do petróleo brasileiro.

A correlação é oportuna, pois o que está acontecendo hoje na Petrobras é uma clara tentativa de se aproveitar de um problema de desvio de recursos – corretamente descoberto pela Polícia Federal e que terá como consequência os seus envolvidos indiciados e levados à julgamento pela Justiça – para se fabricar uma crise que enfraqueça a empresa e force o governo brasileiro a uma volta a um triste passado, não tão distante, e que foi marcado pelo que convencionamos chamar de “entreguismo” e submissão dos interesses nacionais aos interesses do grande capital internacional, sobretudo no setor de petróleo. Falo dos anos 90.

Um triste exemplo, mas que ilustra bem esse cenário, era o interesse depredador das empresas de petróleo estrangeiras, que levavam todas as nossas riquezas através do modelo de exploração da era Tucana chamado de "Concessão". Nele, o Estado Brasileiro só via, na exploração do Petróleo, os Royalties e o bônus de participação. O grosso da riqueza presente no óleo retirado do solo brasileiro ficava inteiro com quem explorasse aquele poço - quase sempre as empresas internacionais vencedoras dos leilões. Com o modelo de partilha utilizado no pré-sal e instituído nos governos Lula e Dilma, a riqueza dos poços de petróleo será compartilhado pelas empresas exploradoras com a União. Trata-se de um novo projeto de nação onde os conceitos de conteúdo local e desenvolvimento com distribuição de renda e soberania nacional tornaram-se os pilares dessa concepção. 

Precisamos ficar atentos, pois destruir esse projeto em curso no Brasil é apenas um exemplo que alimenta as esperanças dos saudosistas da Alca, do FMI e da “Petrobrax”. Saudosistas que se aproveitam desse momento para tentar enfraquecer a Petrobras e o Governo em curso e democraticamente eleito. Se alguém ainda duvida, sugiro pesquisar e ler a terrível PEC recentemente apresentada pelo Senador José Serra, que propõe a volta aos tempos sombrios do modelo de concessão, inclusive no pré-sal, enfraquecendo a Petrobras e o Fundo Social Soberano - aprovado em 2013 e que transformará o antigo lucro exorbitante das empresas estrangeiras aqui presentes em recursos, em um futuro não tão distante, para a educação e a saúde. É a turma do “entreguismo” do patrimônio nacional louca de vontade de retornar ao poder para retomar o projeto de venda do Brasil, como foi com a Vale, com a Light e com a CSN.

Além disso, há mais um elemento importante e que precisa ser levado em consideração na analise de conjuntura do atual momento político brasileiro: parte do grupo que está coordenando esses atos no Brasil deseja, na verdade, que se acabe com os combates efetivos à corrupção que a Polícia Federal tem feito. Não se enganem, pois a lista do HSBC e a operação Zelotes estão mexendo com os interesses de muita gente poderosa no Brasil. E essa movimentação para acabar com o combate à corrupção combinado com a interrupção do projeto de nação em curso são os ingredientes favoritos dos "entreguistas e golpistas" de plantão, que não conseguem aceitar o resultado eleitoral de outubro último.

Para concluir, sou a favor das manifestações de rua, mas daquelas que lutem e reivindiquem por mais saúde, mais educação, melhor transporte público e que defendam o emprego do trabalhador e da trabalhadora brasileira. Aliás, eu não vi nenhuma dessas placas e cartazes nas recentes manifestações de rua. Manifestações que, nem de longe, lembram as de julho de 2013. E, tão contraditório quanto ter uma faixa pedindo um “basta a Paulo Freire” em uma manifestação política é ver uma faixa pedindo a volta da ditadura em uma manifestação pública e “democrática”. 

É... vivemos realmente tempos sombrios no que tange a consciência política de um setor da nossa sociedade... setor que, infelizmente, não conheceu nem a obra e nem o pensamento profundamente pedagógico e generoso do saudoso educador Paulo Freire.
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Robson Leite é funcionário concursado da Petrobrás, tendo sido deputado estadual pelo PT do Rio de Janeiro no período de fevereiro de 2011 a janeiro de 2014.


Créditos da foto: Arquivo

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