Nas minhas aulas no dia de ontem sobre Idade Média/Feudalismo, fizemos uma coisa que tento sempre em sala de aula, que é trazer para próximo da realidade de nossos alunos e alunas o fato histórico distante; na aula de ontem, quando debatíamos sobre a vida super explorada dos servos - trabalhadores - do sistema feudal europeu, levantamos e detalhamos quem eram os detentores do poder político, econômico, religioso e ideológico daquela sociedade, na hora de debatermos sobre o poder religioso/ideológico sobrou para a igreja católica, os próprios alunos e alunas levantaram então que ainda hoje, em quase todas as religiões, o controle por parte de uma boa parcela de pastores evangélicos e padres católicos conservadores, é tão presente quanto na época medieval.
Somos professores e professoras de estudantes de escolas públicas e o que se observa é que os alunos e alunas mais intolerantes - são alunos e alunas de 13/14 anos de idade, são aqueles mais ligados às igrejas e padres/pastores conservadores que pregam, também aqui em Brasília, a mesma coisa que esse senhor candidato a deputado negro da Bahia. Em nossa escola, tivemos casos de alunos e alunas que se retiraram de sala quando o professor iniciou a projeção de filme com temática religiosa voltada ao Candomblé, se recusaram inclusive, a fazer as tarefas propostas.
Essas eleições, isso já aconteceu em outras, mas nessas eleições esse tipo de intolerância parece mais visível, mostrando o quanto nossa sociedade vem aprofundando a intolerância, o racismo, a homofobia, o desrespeito. Precisamos debater esse tema com mais seriedade nas escolas e em todos os espaços públicos. O respeito às religiões afro-brasileiras é de fundamental importância para mantermos a cultura do nosso Povo. A preservação, o fortalecimento, a divulgação e conhecimento da cultura popular, pode ser uma forma de acabar ou diminuir com a intolerância.
por José Gilbert Arruda Martins (Professor)
Blog Maria Frô
De todas as propostas esdrúxulas dos mais de 14 mil candidatos a deputado federal nas eleições de 2014, a campanha do pastor candidato, Elionai Muralha, chega ao requinte da intolerância. Ele prega abertamente uma verdadeira caça às bruxas ao patrimônio cultural baiano: quer retirar todas as esculturas dos orixás de locais públicos na Bahia.
Carybé, Jorge Amado, Pierre Verger e tantos outros artistas, escritores e pesquisadores das religiões de matrizes africanas devem estar dando muitas voltas no túmulo e espero que os vivos como Mario Cravo e toda sociedade pensante brasileira reajam.
O que é mais assustador é que o ataque vem de uma pessoa negra. Só Frantz Fanon pode explicar a ignorância fundamentalista do candidato pastor que ataca uma tradição herdada dos africanos que se confunde com a própria identidade baiana. As religiões afro-brasileiras são patrimônio imaterial e as esculturas dos orixás, patrimônio brasileiro. Os orixás são referências culturais transformadas em obras de arte expostas em locais públicos. Mas elas incomodam tanto o pastor que ele deseja retirá-las do dique do Tororó, de praças, tornando a bandeira de sua campanha.
O pastor candidato ignora por absoluto o fato de que nas religiões ancestrais de matrizes africanas, o espaço da natureza é sagrado. Assim como os povos indígenas, o povo de terreiro lida com o mar, as cachoeiras, os rios, as matas como espaços importantes para exercer seus rituais. No entanto, o candidato pastor vai além, ele quer riscar do mapa baiano esculturas que são cartão postal de várias cidades do estado. Qual será o próximo passo? Fazer terra arrasada das igrejas? Demolir as estátuas de santo católicos nas praças? Imagine um candidato pai, mãe de santo propondo demolir igrejas evangélicas?
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Deputado é contra retirada de Orixás do dique por: Colbert Martins Filho
Caso vingue o argumento que o candidato a deputado federal pastor Elionai Muralha está usando para tentar retirar as estátuas dos Orixás do Dique do Tororó, em Salvador, uma série de privilégios públicos para todas as religiões deverão ser revistos, tais como concessões de TV, doação de terrenos públicos e apoios financeiros para igrejas e até mesmo a isenção de impostos, conforme contra-argumenta o deputado federal Colbert Martins (PMDB).
Colbert destaca que, em matéria publicada na imprensa, o pastor alega que seu argumento se baseia na “isonomia na função social de órgãos e repartições que não podem atender a uma única crença”, salientando ainda Elionai que “local público não pode ser confundido com local de culto. A Bahia é conhecida de uma única crença: o candomblé. Não tem cabimento”.
“Creio que o ponto de vista do pastor remeta também à proibição de emprego de dinheiro público, ou qualquer serviço ou bem público em benefício de qualquer religião. Pelo meu ponto de vista, a existência dos Orixás no dique é mais uma visão histórica do que propriamente apenas de crença, assim como o Candomblé se confunde com a história da Bahia. A retirada das estátuas seria descabida, uma falta de respeito à história da Bahia e ao candomblé”, afirma Colbert Martins.
Comentário de um internauta no blog da Maria Frô:
Pastor Elionai, não lhe conheço, mas desejo muito que o senhor seja derrotado em qualquer eleição que o senhor venha a concorrer. Como ser humano o considero como alguém totalmente destituído de qualquer ligação com suas raízes, pelo que vejo na sua cor o senhor é negro e com esta postura intolerante e preconceituosa contra as religiões afro-brasileiras o senhor está afrontando e mais do que isto, está desrespeitando a memória dos seus e dos nossos antepassados. O senhor demonstra uma ignorância cega quanto ao significado das simbologias representadas nos cultos religiosos do Candomblé e da Umbanda. O senhor está desrespeitando todas as pessoas que cultivam livremente sua crença religiosa, o senhor está desrespeitando a Constituição Brasileira que comporta e protege todas as manifestações de credo, o senhor está desrespeitando seus próprios seguidores os evangélicos de boa fé, pois esses entendem o verdadeiro espírito de Jesus Cristo que vai no caminho justamente da tolerância e do amor. Por isso tudo, o senhor não deve ganhar votos nem do Candomblé e nem dos evangélicos, pois o senhor é um falso profeta descrito claramente na Bíblia, os trechos em que há essa descrição pode-se ver o senhor lá de uma forma muito clara.
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