segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O Que Somos Afinal? Somos Todos Keynesianos? Somos Todos Neoliberais?


por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

Fundamental é entender, principalmente em ano de eleição, o que seja Keynesiano ou Neoliberal.
Por que entender tais temas se o tempo que me resta é apenas para trabalhar?
Por que entender se ainda sou muito jovem e "tenho todo o tempo do mundo"?
Por que entender se já sou muito velho?
Por que...
Acredito que a leitura de mundo serve para todas as idades, para todas as pessoas. Leitura de mundo serve para você melhorar sua análise do que seja um governo, uma política pública, um candidato por exemplo, e, uma forma importante para se adquirir visão de mundo é lendo; não lendo qualquer coisa, no Brasil temos dezenas de revistas e jornais, muitos são muito bons, uma minoria é esgoto puro.
Escolhi começar a segunda-feira escrevendo sobre esse tema devido a um artigo que tive a grata oportunidade de conhecer e ler no último número da Revista do Brasil. O artigo de Emir Sader tem o seguinte título: O que resta à direita latino-americana - Na falta de projetos ela (direita) se refugia em setores da mídia para formar cadeias que resistem a transformações democráticas. Ótimo artigo.
O autor analisa como, durante todo o século XX, a América Latina sofreu com governos conservadores e com as crises econômicas-sociais estruturais advindas de políticas que apostaram em governos que escolheram trilhar caminhos  conservadores baseados em pressupostos do velho e do novo capitalismo favorecendo as minorias ricas que assaltaram o Estado provocando a ampliação da miséria no continente.
Mesmo com o fim das ditaduras militares, que foram colocadas no poder pelos grupos conservadores para defender os interesses das elites da região, ampliamos absurdamente a miséria, tanto no Brasil como em quase todos os países do continente, as eleições tidas como democráticas, que levaram ao poder vários presidentes conservadores/neoliberais e no Brasil o Sr. FHC, por exemplo, não foram capazes de diminuir a miséria no continente. Num relatório do PNUD - órgão das Nações Unidas para o desenvolvimento -, lançado no início dos anos 2000, atesta os fatos que destacamos acima, vejam o que diz o relatório:
"A América Latina apresenta atualmente um extraordinário paradoxo. Por um lado, a região pode mostrar. com grande orgulho, mais de duas décadas de governos democráticos. Por outro, enfrenta uma crescente crise social. Persistem profundas desigualdades, existem níveis de pobreza elevados, o crescimento econômico tem sido insuficiente e a insatisfação (expressa em muitos lugares, por um amplo descontentamento popular) das cidadãs e dos cidadãos com essas democracias tem aumentado". (Relatório Pnud, pág. 13, 2004)
É fundamental lembrar que todos esses governos ditos democráticos, por que foram eleitos por eleições diretas logo após as ditaduras militares, apostaram na política neoliberal imposta goela abaixo pelos Estados Unidos da América e pela Inglaterra no continente, quase todos os países adotaram, uns mais outros menos. Todos vimos no que deu, mais miséria, mais violência. A escolha de governantes através do voto é a coisa mais saudável, mas a democracia não se esgota aí, precisamos avanças muito mais atendendo às demandas da maioria do Povo.
Esse modelo conservador/neoliberal que tem como meta ajustes fiscais para ampliar interesses de banqueiros, grandes empresários, não vingou, pelo menos não vingou para a sociedade como um todo, para os trabalhadores e trabalhadoras. Vejam o que diz Emir Sader:
"O modelo, pujante no seu início, revelou no entanto seus limites. As crises financeiras se multiplicaram - do México à Coreia do Sul, do Brasil à Rússia, da Argentina à Grécia. Depois de ter sido o continente que teve mais governos neoliberais e nas suas modalidades mais radicais - com os de Pinochet no Chile (1973-1990) e Menem na Argentina (1990 - 2000) -, a América Latina viu florescer governos antineoliberais. Esses governos ocuparam lugares amplos no campo político, deslocando a direita tradicional, agora associada à "nova" direita". Emir Sader, Revista do Brasil, n° 98, pág. 33, 2014).
Quem ganha se fizermos apenas ajustes fiscais em detrimento das Políticas Sociais? os já ricos, os grandes empresários, as grandes corporações. Agora, quem ganha, se o governo faz os ajustes fiscais, por exemplo, controle da inflação, mas dá centralidade às Políticas Sociais? todos, inclusive e principalmente os mais pobres, os trabalhadores e trabalhadoras. Precisamos manter o Estado Indutor de crescimento e de direitos sociais, no lugar da centralidade do mercado. Emir Sader, sobre isso, defende:
"Novos governos - Venezuela, Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia, Equador - se consolidaram por atuar nos pontos mais frágeis do neoliberalismo: promovendo a centralidade das políticas sociais no lugar dos ajustes fiscais. Recuperando o papel do Estado como indutor de crescimento e de direitos sociais, no lugar da centralidade do mercado. Priorizando diálogo regional em vez de tratados com os Estados Unidos". (Idem).
A América Latina e o Brasil avançaram muito em quase todas as áreas nesses últimos doze anos de governos progressistas. A dita "nova direita" perdeu e se desestabilizou, não só por que perdeu as eleições, mas por que não tem projetos de inclusão, com isso o Povo, mesmo aqueles que votavam por "cabresto", se afastaram. Com isso, a direita daqui e do continente buscou amparo nas redes de grandes mídias - TVs, Jornais, Rádios etc. -, aqui no Brasil, TV Globo, revista Veja, jornais como a Folha e o Estadão, fizeram o papel de oposição, não uma oposição séria, propositiva, mas desonesta e golpista. Sobre isso Emir Sader também escreve:
"Resta à direita latino-americana promover formas de desestabilização, combinando campanhas terroristas na mídia, mobilizações de setores que resistem às transformações democráticas e apoio internacional, buscar brecar os impulsos desses governos e, eventualmente ganhar eleições." (Ibidem).
Os números, como diz alguns, não mentem. Se olharmos sem paixão e ódio, seremos capazes de enxergar países bem melhores no continente. Muita coisa tem por fazer, mas os avanços são inegáveis.

por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

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