APURAÇÃO Comissão de Direitos Humanos (CDH) decide
acompanhar de perto as investigações sobre a morte do ex-coronel Paulo Malhães
para assegurar que a hipótese de queima de arquivo seja considerada (Foto: Marcelo Oliveira/CNV)
Comissão de Direitos Humanos (CDH) quer
acompanhar investigações e apurar hipótese de queima de arquivo
Najla Passos
Carta Maior
Carta Maior
A Comissão de Direitos Humanos (CDH) decidiu, nesta terça (29),
acompanhar de perto as investigações sobre a morte do coronel reformado do
Exército Paulo Malhães, o único agente da repressão a admitir à Comissão da
Verdade que as práticas de tortura e ocultamento de cadáver eram política de
Estado da ditadura.
O objetivo é averiguar a veracidade dos resultados preliminares
das investigações conduzidas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, que indicam
que o militar morreu de causa natural, durante roubo da chácara em que vivia,
na zona rural de Nova Iguaçu, na última sexta (25), exatos 30 dias após ele
confessar sua atuação em centros clandestinos de tortura e no desaparecimento
dos corpos de presos políticos assassinados.
“Nós vamos estar atentos para assegurar que a investigação seja
feita da forma mais séria possível. A tese de latrocínio adotada pela Polícia
não nos convence, porque é uma linha de investigação possível, mas não é a
única. E nós queremos que todas sejam consideradas, inclusive a de queima de
arquivo”, afirmou a Presidente da CDH, senadora Ana Rita (PT-ES).
“Tudo indica que foi queima de arquivo, porque o Malhães foi o
primeiro e o único agente da ditadura a falar abertamente sobre os crimes que
praticou. Ele era peça chave para a condução dos trabalhos da Comissão da
Verdade. Então, não dá para aceitar essa tese de latrocínio pura e
simplesmente”, disse à Carta Maior o presidente da Subcomissão de Verdade,
Memória e Justiça, senador João Capiberibe (PCdoB-AP).
Em reunião nesta terça (29), os senadores membros da CDH
aprovaram uma diligência externa ao Rio de Janeiro para ouvir os responsáveis
pelas investigações. De acordo com Capiberibe, a data da viagem ainda não está
confirmada, mas deve ocorrer ainda no início da semana que vem. Além dele, o
senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) já confirmou participação.
Os senadores também solicitaram uma reunião imediata com o
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para cobrar a atuação da Polícia
Federal no caso. De acordo com a senadora Ana Rita, o encontro foi longo e
produtivo. “O ministro telefonou para o governo do Rio em exercício, o Pezão, e
acertou com ele que a Polícia Feral vai acompanhar as investigações. O
Ministério da Justiça também não está convencido da tese de latrocínio”,
relatou ela.
Imune às críticas, o delegado Pedro Medina, sustenta que as
investigações se baseiam em provas materiais, e não apenas no perfil da vítima.
“Na análise da cena do crime não há nenhum elemento que possa determinar essa
queima de arquivo”, afirmou à Carta Maior. Segundo ele, outras hipóteses também
foram consideradas nas investigações, mas não encontraram respaldo técnico.
“Não estamos em busca de não de uma solução fácil. Nós queremos a verdade”,
ressaltou.
Corrobora com sua versão o depoimento do caseiro da chácara,
Rogério Pires Teles, que confirmou a participação no crime, ao lado de dois
irmãos e uma terceira pessoa ainda não identificada, com o único intuito de se
apoderar do dinheiro, das joias e das armas que o coronel mantinha na
propriedade. “E eu quero ressaltar que não foi uma confissão que levou a gente
ao caseiro, mas uma série de fatos que, com a confissão dele no final, fecharam
o quebra cabeças”, acrescentou o delegado.
Há elementos, porém, que justificam apreensão dos senadores com
a convicção apressada de Medina. Embora a imprensa tenha divulgado que Malhães
morrera de infarto, a Polícia Civil ainda não recebeu o laudo oficial do
Instituto Médico Legal (IML) que determinará não só a causa da morte, mas
também especificará como ela ocorreu de fato.
Além disso, o delegado não tem como confrontar o depoimento do
caseiro com os dos demais envolvidos, que se encontram foragidos. E, ainda, não
tem acesso ao conteúdo dos arquivos apreendidos no local do crime pelo
Ministério Público e Polícia Federal, incluindo processos relativos ao período
da ditadura. “Na delegacia, não apreendemos nada. O nosso trabalho é investigar
apenas o homicídio”, rebate ele.
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