terça-feira, 27 de maio de 2014

O melão amarelo e a desigualdade social


Disponívelhttps://www.google.com.br/search?q=Charge+sobre+desigualdade+social&newwindow=1&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=nIaEU9vxHYK_sQSf9YHICA&ved=0CC4QsAQ&biw=1280&bih=667
 Por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

Num debate com alunos e alunas sobre sistema de Castas e sistema de Classes sociais, tentamos fazer uma comparação, é claro, antes que nos critiquem, as diferenças teóricas existem, por exemplo, no sistema de classes da antiga Índia - hoje teoricamente já não existe mais -, não havia possibilidade de uma pessoa mudar de uma casta para outra, no sistema classes sim, é só a pessoa ganhar e guardar mais dinheiro ou bens.
Na conversa, usamos um melão amarelo, fruta usada no lanche das escolas públicas no Distrito Federal, para talvez assim, facilitar o entendimento; todos sabemos que a riqueza de um país, aqui ou em qualquer lugar do mundo, é medida principalmente pelo tamanho do PIB (Produto Interno Bruto), que é o montante de bens produzidos pela sociedade nas áreas da indústria, comércio, serviços e agricultura.
Repartimos o melão, primeiro em duas partes 75% e 25% cada, depois, pegamos a parte menor e dividimos novamente em cerca de 30 minúsculos pedaços e as entregamos a 30 alunos (as), a outra parte maior ficou para os outros 10 alunos (as).
É óbvio, aqueles alunos e alunas que receberam as menores partes reclamaram muito pois foram prejudicados na distribuição que deveria ser igualitária. Por sua vez a minoria que recebeu as partes maiores ficou em silêncio.
Outro detalhe conhecido por quase todo mundo é que, como o melão, a riqueza, o PIB, tem um tamanho, um limite e que não existe fantasia nisso, não podemos aumentar ou diminuir o tamanho da riqueza com toques de magia.
Os 75% da turma, portanto a maioria, que recebeu a menor parte da fatia do melão, iniciou um processo de reinvindicação e insubordinação que foi prontamente suplantado pelas justificativas do tipo: “recebemos a maior parte porque somos mais educados”, o grupo da maioria se sentiu amedrontada e calou-se.
Uma garota do grupo da maioria inconformada e certa de que estava sendo ludibriada, ponderou que a riqueza (o melão) é produzida por todos, ricos e pobres, e que era um absurdo aquela injusta distribuição.
O sistema de Castas, tipo indiano, tem suas origens numa complexa justificativa religiosa onde o destino de cada indivíduo é o que ajuda a determinar sua posição na sociedade. Claro que debatemos isso também, e, como é cultural, é histórico, feito pelos humanos, portanto, pode ser repensado, reestruturado, refeito.
No sistema de classes, que também é histórico, é humano, a posição social de uma pessoa é determinada por seu poder econômico, os mais abastados, ocupam as posições mais altas e se privilegiam dos bens produzidos por todos.
Moral dessa história toda, o melão amarelo está sendo abocanhado por uma minoria. No sistema de Castas como no sistema de Classes, a maioria que trabalha, produz, paga percentualmente mais impostos, vive historicamente com menos e, às vezes com nada.
Quem trabalha mais? O rico ou o pobre?

Leia o texto a seguir que talvez ajude a entender o de cima e vice versa.

O problema da concentração econômica
O livro de Thomas Piketty serve de alerta para a proeminência do capital financeiro no mundo
por Paulo Yokota — publicado 26/05/2014 04:11, última modificação 26/05/2014 04:58
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/economia/o-problema-da-concentracao-economica-1363.html
A publicação da versão em inglês do livro Capital in the Twenty First Century, do economista francês Thomas Piketty, provocou um novo surto da discussão do problema da concentração econômica. O assunto que vem sendo discutido desde Karl Marx, indicando ser da natureza do sistema capitalista provocar este fenômeno, mostra que mesmo com a aspiração igualitária existente no mundo, expressa na atual política da maioria dos países, como aponta o professor Antonio Delfim Netto, não se conseguiu estabelecer um sistema eficiente desta correção, tanto pela tributação como pelas agências que procuram preservar a concorrência.
Nas principais economias do mundo, inclusive a chinesa e a russa, por motivos que vão além da natureza do funcionamento do sistema de mercado, como as privatizações de antigas estatais e suportes governamentais que beneficiaram grupos ligados ao poder, os dados disponíveis mostram que está havendo uma concentração da renda, mesmo com a existência de uma tributação que pretende ser progressiva para corrigir parte do problema. Na realidade, além da renda o que vem ocorrendo é a transferência de patrimônios que privilegiam poucos.
Alem do que ocorre ao nível dos contribuintes individuais, e das atividades que por razões tecnologias determinam tendências monopolísticas, as dimensões crescentes dos grupos econômicos se inclinam à formação de oligopólios aproveitando as vantagens das escalas. Nem mesmo a existência de algumas agências que têm como finalidade a preservação dos mecanismos de concorrência corrige esta propensão. Constata-se que nos processos de desenvolvimento acelerado das economias, aproveitando os ganhos das dimensões, mesmo com intenções oficiais de melhoria da distribuição da renda, ocorrem acentuadas concentrações que nem sempre são neutralizadas.
O setor financeiro aparenta ser o que mais determina o aproveitamento de sua dimensão, provocando inclusive o controle de outros segmentos da economia. Chega a dificultar medidas corretivas ou punitivas de parte das autoridades, mesmo quando constatados comportamentos condenáveis, como os que estão sendo divulgados recentemente. Alegam riscos sistêmicos que possam até abalar algumas economias nacionais, consagrando-se o princípio de que são demasiadamente grandes para falirem.
Tradicionalmente, o setor de petróleo é clássico onde algumas poucas empresas possuem participação preponderante, com o abuso do poder político que conseguem, mesmo que tenham sido combatidas. O desmembramento da antiga Standard Oil resultou nos Estados Unidos, na primeira metade do século XX, em alguns artifícios para a continuidade de grandes grupos econômicos, como a criação de holdings.
Também as commodities agrícolas sempre contaram com as chamadas “majors”, que aproveitaram as vantagens das suas escalas mundiais para operarem, num número limitado, no comércio internacional. As dimensões mínimas existentes em algumas atividades sempre favoreceram que poucas empresas tivessem um papel preponderante em alguns setores como ocorre na mineração, siderurgia, produção de alumínio, papel, cimento, farmacêutica, construção pesada e muitos outros. Não é um fenômeno que se restringe a alguns países, inclusive, independe do regime político adotado.
Atualmente, a dimensão e o poder do segmento financeiro acabam inibindo ações de controle de organismos internacionais como o FMI – Fundo Monetário Internacional, BIS – Banco Internacional de Compensações (o banco central dos bancos centrais), o BCE – Banco Central Europeu entre outros. Todos sabem que alguns bancos deflagraram a crise mundial a partir de 2007/2008 e, no entanto, receberam assistência astronômica de alguns países para evitarem um mal maior. Os seus lucros foram exorbitantes, premiando dirigentes que deveriam ser punidos por gestões perigosas.
Os fluxos financeiros que superam em milhares de vezes as movimentações comerciais continuam sem possibilidade de regulamentação, ainda que os especialistas entendam que eles devam ter algumas restrições importantes. São desequilíbrios que podem conduzir a situações perigosas, diante das exageradas concentrações econômicas, onde opoder político ainda não encontrou mecanismos eficientes para suas correções. Mas, é necessário que continuem tentando, pois devemos crer que um mínimo de racionalidade acabará prevalecendo.
registrado em: Desigualdade social


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