Relatório aponta 23 pontos de vulnerabilidade ao abuso sexual em rodovias que cortam o DF
Cada vez mais, as garras dos aliciadores que movimentam o lucrativo mercado do sexo arrastam crianças e adolescentes que, muitas vezes, ficam expostos como mercadoria às margens da rodovias federais.
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Um mapeamento produzido pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) identificou 23 pontos de vulnerabilidade para a exploração sexual infantil nas principais rodovias que cortam o DF – são 13 a mais em relação ao último levantamento. Em todo o Brasil, foram encontrados 1.776 locais vulneráveis à exploração de menores.
O relatório, divulgado ontem, no Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, apontou as estradas que mais estão sujeitas à presença de adolescentes se prostituindo. Com oito locais, a BR-020, que passa por Sobradinho e Planaltina, tem o maior número de áreas vulneráveis. A BR-060, que passa pelo DF e Águas Lindas (GO), é a segunda rodovia com maior predisposição ao crime, com seis pontos críticos.
Segundo a coordenadora do projeto que produziu o documento, inspetora Márcia Freitas, é preciso lembrar que existem características específicas que motivam a existência de pontos de prostituição infantil às margens das estradas. “São situações com ausência ou fraca iluminação pública, presença de adultos se prostituindo, falta de vigilância privada, aglomeração de veículos em trânsito e consumo de bebida alcóolica. As boates e bares que existem entre as cidades de Valparaíso (GO) e Luziânia (GO) são locais clássicos que podem ocorrer casos como este”, destaca.
Trechos Urbanos
A inspetora da PRF explica que os pontos vulneráveis que ficam dentro do perímetro urbano não foram divulgados pelo relatórios. “Vamos entrar em contato com a Companhia de Polícia Militar Rodoviária (CPRv) da PM, que é responsável pelo patrulhamento nos trechos urbanos e monitorar esses pontos mais vulneráveis”, disse a inspetora.
Ontem à noite, a Secretaria de Segurança do DF deflagrou uma operação específica para combater a exploração sexual infantil. A ação foi realizada em locais mapeados pela pasta. Na Asa Norte, as forças de segurança atuaram nas quadras 715, 315 e 314; na Quadra 5 do Setor Comercial Sul; em Taguatinga Centro; em Ceilândia, nas QNM 03, 04 e 05; e em Samambaia
Redes articuladas e lucrativas
Especialistas em direitos humanos e exploração sexual de crianças e adolescentes destacam a existência de um imenso mercado consumidor para serviços sexuais, tanto no Distrito Federal quanto em outras unidades da Federação. Considerando que o sexo é uma mercadoria altamente vendável, principalmente o chamado “sexo jovem”, de grande valor comercial. Exemplos são os “leilões de virgens”, crime que já foi investigado pela Polícia Civil goiana e Polícia Rodoviária Federal.
Segundo o professor e especialista que pertence ao Grupo de Pesquisa sobre Violência, Exploração Sexual e Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes (Violes) da Universidade de Brasília (UnB), Vicente Faleiros, as redes que exploram a prostituição infantil não são invenções abstratas, mas partem da articulação de atores ou organizações. “São forças existentes no território, para uma ação conjunta multidimensional, com responsabilidade compartilhada e negociada”, ponderou.
Redes
O especialista observou que o caráter de rede presente na violência sexual contra crianças e adolescentes é cada vez mais claro para os estudiosos do tema, principalmente nas situações de seu uso no comércio sexual. No entanto, a articulação de redes – violentas e de proteção – não é ainda suficientemente considerada, nem tem sido muito estudada nas situações de relacionamento interpessoal sexual . “Com a expansão do mercado do sexo, as organizações e empresas de uso comercial do sexo passaram a atuar em redes, articuladas em nível nacional e internacional. Segundo pesquisas, o comércio e a indústria do sexo articulam-se com outras redes, como as de tráfico de drogas e de mulheres, de corrupção, e inclusive as de pedofilia e de pornografia, via internet”, afirmou Faleiros.
Estudos feitos pelo Violes apontam que as redes de prostituição organizam o tráfico de adolescentes, crianças e adultos para o comércio sexual e estabelecem rotas, abastecem prostíbulos, boates, casas de shows. A indústria pornográfica produz material (revistas, fotos, filmes, vídeos, objetos) distribuídos nacional e internacionalmente. “O tráfico nacional e internacional de mulheres e adolescentes é, por vezes, articulado com o turismo sexual. Trata-se da globalização de mercados da contravenção, que atuam através de redes clandestinas, muito poderosas, mafiosas e violentas, vigiadas por fortes esquemas de segurança”, ressaltou o especialista.
As entrevistas e levantamentos do Violes definiram boa parte das características que envolvem a exploração sexual infantil. Trata-se de redes de silêncio, tolerância, conivência, medo, impunidade, tanto de membros das famílias onde ocorre o crime, como amigos, vizinhos, colegas de escola, trabalho e lazer, professores, pessoal dos serviços de saúde e de segurança. “São detalhes que podem ajudar qualquer pessoa identificar a prática desse crime e denunciar”, disse Faleiros.
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