José Gilbert Arruda Martins*
A educação para filhos e filhas
de trabalhadores precisa ser gratuito. Não é razoável, o país manter por mais
de um século o ensino superior gratuito aos filhos das classes abastadas e,
agora, que a coisa melhorou um pouco, a universidade mudar sua política e
passar a cobrar dos ainda poucos pobres que adentram o ensino superior.
Menos lucro, mais investimentos na sociedade. A educação pública precisa continuar. Educadores e educadoras do
país precisam se mobilizar.
O mercado vem, aos poucos e de
forma contundente, infiltrando-se cada dia mais na educação pública.
Olha o que diz a professora
Nora Krawczyk da Faculdade de educação da Unicamp, na revista Carta na Escola
n° 87: “Hoje a escola pública é um mercado enorme para o setor privado, por
meio de venda de apostilas, de formação de professores, cursos de gestão,
materiais didáticos etc.”
É fundamental que povo,
trabalhadores e trabalhadoras, se engajem na luta pela manutenção da educação
pública de qualidade.
Professores e professoras
precisam se inteirar do que está e pode acontecer. Precisam ler o Plano
Nacional de Educação (PNE), precisam conhecer a LDB, precisam conhecer o Financiamento
da Educação Pública no Brasil.
Cresce a cada ano os interesses
e a participação dos empresários na educação. A educação é um grandioso negócio
e o mercado capitalista sabe disso. Leia o que diz mais uma vez a professora
Nora Krawczyk.
“...Nós chamamos isso de uma
aliança entre os grupos empresariais e o poder público para pensar a política
educacional do País. Isso não quer dizer que todo o Ministério da Educação seja
exatamente igual e pensem todos da mesma maneira. Isso não é verdade. Porque
existem projetos diferentes e eles estão presentes no interior do MEC e de alguns estado. Mas qual é o projeto que tem mais força? Qual é o projeto
hegemônico? O projeto empresarial.”
Essa presença economicista na
educação brasileira cresceu muito fortemente no governo neoliberal de FHC. O
Ministério da Educação na época com Paulo Renato, abriu as portas da educação
pública à lógica do mercado. Nora Krawczyk acrescenta.
“A escola virou, nos últimos 20
anos, um novo nicho de mercado. Com o desenvolvimento do capitalismo foram se
esgotando determinados espaços de lucratividade e é uma dinâmica própria dele
gerar novos espaços de produção de lucro. Um dos espaços é o mercado
educacional. A educação passou a ser um bom negócio porque é algo que todo
mundo deseja.”
As organizações de
trabalhadores e trabalhadoras em educação pública do Brasil e da América latina
precisa enxergar o que está acontecendo e provocar ainda mais o debate e as
ações contra a presença e o controle do mercado sobre a educação pública.
* Professor de escola pública
em Brasília-DF.
“A atenção principal do País deveria
ser para os ensinos primário e secundário”
Para reitor da USP, são nessas etapas
que se aprofundam as desigualdades sociais
Por Thais Paiva*
Em conversa com a imprensa durante o III Encontro Internacional de
Reitores, ocorrido no Rio de Janeiro nos dias 28 e 29 de julho e organizado
pelo Banco Santander, o reitor da Universidade de São Paulo (USP), Marco
Antonio Zago, falou sobre as principais metas da instituição e os desafios da
educação brasileira e sugeriu que existe a possibilidade de a USP adotar o Enem
como forma de acesso. Para ele, "todas as universidades brasileiras estão
atrasadas" e "para uma universidade ter qualidade não é preciso que
ela seja cobrada".
No evento, que reuniu mais de 1 mil reitores de universidades de 33
países, Zago presidiu a mesa de debate "Pesquisa, inovação e
transferência" e explorou novas parcerias e caminhos para a
internacionalização da instituição. Confira a opinião do reitor sobre alguns
temas abordados na conversa:
Política de internacionalização da USP
O futuro das relações internacionais na USP tomará um aspecto diferente. Não vai ser por meio de escritórios em Singapura, Boston e Londres. Todos foram fechados com o término do programa em 25 de janeiro. A política de internacionalização será de compartilhamento, de troca de representantes entre a USP e algumas universidades parceiras, por exemplo, a Universidade de Lyon (França), a Universidade de Salamanca (Espanha).
O futuro das relações internacionais na USP tomará um aspecto diferente. Não vai ser por meio de escritórios em Singapura, Boston e Londres. Todos foram fechados com o término do programa em 25 de janeiro. A política de internacionalização será de compartilhamento, de troca de representantes entre a USP e algumas universidades parceiras, por exemplo, a Universidade de Lyon (França), a Universidade de Salamanca (Espanha).
Qualidade e gratuidade
A USP é a universidade de melhor qualidade do Brasil, provavelmente da América Latina, e é gratuita. Para uma universidade ter qualidade não é preciso que ela seja cobrada. Esta é uma questão muito controvertida. Alguns entendem que há uma necessidade em cobrar daqueles que podem pagar, seria uma medida de justiça social. A nossa posição é que esta não é uma questão importante a ser resolvida neste momento.
A USP é a universidade de melhor qualidade do Brasil, provavelmente da América Latina, e é gratuita. Para uma universidade ter qualidade não é preciso que ela seja cobrada. Esta é uma questão muito controvertida. Alguns entendem que há uma necessidade em cobrar daqueles que podem pagar, seria uma medida de justiça social. A nossa posição é que esta não é uma questão importante a ser resolvida neste momento.
Queda no ranking do Quacquarelli
Symonds (QS) entre as universidades da América Latina para a PUC do Chile
Não podemos comparar a missão de duas universidades tão diversas. A PUC-Chile tem 25 mil alunos, é particular e está em um país cujo Ensino Secundário (Médio) tem maior qualidade. Na USP são 90 mil estudantes, é gratuita e num país cujo Ensino Secundário é pior.
Não podemos comparar a missão de duas universidades tão diversas. A PUC-Chile tem 25 mil alunos, é particular e está em um país cujo Ensino Secundário (Médio) tem maior qualidade. Na USP são 90 mil estudantes, é gratuita e num país cujo Ensino Secundário é pior.
Ensino superior público X particular
Ninguém planejou que teríamos no Brasil 70% de Ensino Superior no setor privado e 30% no público. Tal quadro foi consequência de uma expansão grande da população jovem brasileira. Como o governo não teve condições de bancar a expansão das universidades públicas, as particulares encontraram aqui um filão, um grande negócio. Houve um esforço para expandir o Ensino Superior público, mas ele ainda é reduzido. São Paulo dedica 9,5% de toda a sua arrecadação para as suas três universidades públicas (USP, UNESP, Unicamp). É um recurso vultoso. Por outro lado, no mesmo estado, 460 mil jovens terminam o Ensino Secundário (Médio) anualmente. Destes, apenas 20 mil entram nas três universidades públicas e outros 20 mil, nas Instituições de Ensino Paula Souza. Ou seja, todo o sistema de educação superior do Estado de São Paulo dá conta de menos de 10% dos jovens.
Ninguém planejou que teríamos no Brasil 70% de Ensino Superior no setor privado e 30% no público. Tal quadro foi consequência de uma expansão grande da população jovem brasileira. Como o governo não teve condições de bancar a expansão das universidades públicas, as particulares encontraram aqui um filão, um grande negócio. Houve um esforço para expandir o Ensino Superior público, mas ele ainda é reduzido. São Paulo dedica 9,5% de toda a sua arrecadação para as suas três universidades públicas (USP, UNESP, Unicamp). É um recurso vultoso. Por outro lado, no mesmo estado, 460 mil jovens terminam o Ensino Secundário (Médio) anualmente. Destes, apenas 20 mil entram nas três universidades públicas e outros 20 mil, nas Instituições de Ensino Paula Souza. Ou seja, todo o sistema de educação superior do Estado de São Paulo dá conta de menos de 10% dos jovens.
Ensino médio e desigualdades sociais
A atenção principal do País deveria ser para os ensinos primário e secundário (os atuais Fundamental e Médio), porque há dados objetivos que mostram que não estamos bem comparativamente a outros países do mundo. Em segundo lugar, os que chegam ao Ensino Superior não são bem preparados. Em terceiro - e talvez seja o mais crítico - é que no Ensino Secundário se aprofundam as diferenças sociais que vão permanecer pelo resto da vida. É neste momento que os filhos de famílias mais abastadas recebem um ensino de melhor qualidade e se tornam competitivos para o resto da vida. Na universidade, esta diferença fica evidente. Dos 460 mil concluintes do Ensino Secundário, 80 mil vêm do ensino privado e 380 mil, do ensino público. Entretanto, do total de inscritos na Fuvest 63% são do ensino privado e apenas 37% , do público. Entre os 11 mil aprovados na USP, 32% são do ensino público. Os sociólogos dizem - e eu acredito ser verdade - que a grande maioria dos alunos da rede pública desiste do vestibular da USP porque percebe não ter nenhuma chance.
A atenção principal do País deveria ser para os ensinos primário e secundário (os atuais Fundamental e Médio), porque há dados objetivos que mostram que não estamos bem comparativamente a outros países do mundo. Em segundo lugar, os que chegam ao Ensino Superior não são bem preparados. Em terceiro - e talvez seja o mais crítico - é que no Ensino Secundário se aprofundam as diferenças sociais que vão permanecer pelo resto da vida. É neste momento que os filhos de famílias mais abastadas recebem um ensino de melhor qualidade e se tornam competitivos para o resto da vida. Na universidade, esta diferença fica evidente. Dos 460 mil concluintes do Ensino Secundário, 80 mil vêm do ensino privado e 380 mil, do ensino público. Entretanto, do total de inscritos na Fuvest 63% são do ensino privado e apenas 37% , do público. Entre os 11 mil aprovados na USP, 32% são do ensino público. Os sociólogos dizem - e eu acredito ser verdade - que a grande maioria dos alunos da rede pública desiste do vestibular da USP porque percebe não ter nenhuma chance.
Cotas sociais e raciais
A política de cotas poderia ser uma solução (para os alunos da rede pública entrarem na USP), mas existe uma confusão entre cotas sociais e cotas raciais. Se nós considerarmos apenas as cotas sociais, as raciais já ficam contempladas porque nos extratos mais baixos da população predomina a população mais negra. A USP aplica uma política cotas embora isso não seja dito abertamente. Nunca dissemos que iríamos reservar 50% das vagas para o ensino público, mas que até 2017 esperamos ter 50% dos nossos alunos vindos do ensino público. Este ano tivemos 32% porque aplicamos uma política de bônus - quem vem do ensino público e tem bom desempenho tem pontos acrescidos. Como o exame é muito competitivo, isto faz diferença.
A política de cotas poderia ser uma solução (para os alunos da rede pública entrarem na USP), mas existe uma confusão entre cotas sociais e cotas raciais. Se nós considerarmos apenas as cotas sociais, as raciais já ficam contempladas porque nos extratos mais baixos da população predomina a população mais negra. A USP aplica uma política cotas embora isso não seja dito abertamente. Nunca dissemos que iríamos reservar 50% das vagas para o ensino público, mas que até 2017 esperamos ter 50% dos nossos alunos vindos do ensino público. Este ano tivemos 32% porque aplicamos uma política de bônus - quem vem do ensino público e tem bom desempenho tem pontos acrescidos. Como o exame é muito competitivo, isto faz diferença.
Enem como acesso à USP
Nada se impõem na USP. Não se chega e diz agora é assim. É preciso convencer as pessoas, discutir. Acho o Enem um exame muito bom. Mas uma coisa é certa: a USP já está reestudando seu vestibular e as formas de acesso. O Enem é uma possibilidade. Não posso adiantar porque é o conselho universitário que decide essas coisas.
Nada se impõem na USP. Não se chega e diz agora é assim. É preciso convencer as pessoas, discutir. Acho o Enem um exame muito bom. Mas uma coisa é certa: a USP já está reestudando seu vestibular e as formas de acesso. O Enem é uma possibilidade. Não posso adiantar porque é o conselho universitário que decide essas coisas.
*A repórter viajou a convite do III
Encontro Internacional de Reitores/Universia
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