por José Gilbert Arruda Martins
Acredito que uma questão precisa ser vista por todos aqueles que defendem a rua como espaço livre e democrático, que é a possibilidade real de controle, também dos espaços públicos, pelo grande capital.
Em Londres, nesse final de ano, cada pessoa que viu de perto a queima de fogos no réveillon, pagou cerca de R$ 40. E as pessoas que não podem pagar? Ficarão exilados em suas casas na periferia e bairros pobres vendo pela TV?
É possível enxergar no tipo de violência desencadeada por movimentos como o dos Black Bloc alguma coisa de positivo? Não sei.
Mas, quando o capital rentista ou grandes empresas, inclusive das áreas de mobilidade urbana, lazer, cultura, cobram desde estacionamentos até o acesso das pessoas a espaços, equipamentos culturais e eventos, valores absurdos, que servem como verdadeiros filtros sociais, para permitir que apenas uma parte abastada da sociedade tenha acesso, isso é um tipo de violência?
Que tipo de equipamento cultural e de lazer as periferias pobres possuem para permitir que as pessoas tenham acesso, sem precisar ir ao centro da cidade?
Que tipo de transporte público é oferecido às comunidades das periferias das médias e grandes cidades do Brasil que permitam aos jovens e, às pessoas usufruírem dos bens culturais que, muitas vezes, são instalados apenas nos centros das cidades? Isso é um tipo de violência?
E, quando existe o transporte de qualidade, qual o valor da tarifa? Em Brasília cerca de R$ 3,00; no Rio de Janeiro R$ 4,50 e em São Paulo R$ 3,50. São valores que, se somados ao mês, podem inviabilizar completamente o acesso dos jovens pobres aos equipamentos de lazer, estudo, trabalho e cultura. Isso é um tipo de violência?
Mas acredito também, que, se os espaços públicos fossem respeitados, com acesso real e concreto aos jovens e à sociedade em geral, esse tipo de movimento - Black Bloc - ficaria, talvez, sem muito sentido.
Participei, como faço sempre, de um movimento de rua ontem aqui em Brasília organizado pela CUT - Central Única dos Trabalhadores -, enquanto os dirigentes dos sindicatos apenas falavam, o GDF continuou no seu silêncio sepulcral, quando resolvemos ocupar a S1, do outro lado da Praça do Buriti, provocando um verdadeiro caos no trânsito no centro da capital, o GDF chamou uma Comissão para negociar.
Se os trabalhadores e trabalhadoras, que estão com 13°, salário de dezembro mais férias atrasados, estivessem permanecidos apenas no blá blá, o governo teria aberto para negociar? Por que não o fez no início do evento?
Nós que fechamos duas das principais vias do centro de Brasília temos "ódio no coração" por isso?
Por que existem movimentos como os Black Blocs? São apenas para fazer baderna? Depredar o patrimônio?
Quem vandaliza mesmo?
Manifestações
PM aproveita protesto para lançar "meme anti Black Bloc"
por Redação — publicado 09/01/2015 23:53
Mensagens intolerantes divulgadas em rede social afirmam que manifestantes com rosto coberto têm "maldade no coração"
As bombas de efeito moral lançadas pela Polícia Militar de São Paulo contra manifestantes que compareceram ao ato convocado pelo Movimento Passe Livre (MPL) ainda ecoavam na região da Avenida Paulista nesta sexta-feira 9, e o protesto já sofria outro tipo de ataque por parte da corporação, desta vez no ambiente virtual.
Em meio à divulgação de dados de pessoas presas e de imagens do protesto contra o aumento da passagem de ônibus na cidade, o perfil oficial no Twitter começou a publicar mensagens contrárias àqueles "vestidos como Black Blocs" e fotos com frases de ataque a esses manifestantes, no estilo dos memes. Chama a atenção o tom de intolerância dirigido a uma parcela da população partindo de uma organização oficial.
Uma das primeiras postagens afirmava que havia representantes Black Blocs na manifestação para, então, questionar seu mérito: "Isso é democracia?"
Outra dizia: "Pessoas que escondem o rosto em uma manifestação guarda (sic) maldade no coração. Destroem nosso patrimônio e coloca (sic) em risco a vida de pesoas (sic) inocentes". A foto que acompanha o texto foi oportunamente cortada para trazer a frase "é crime" sem o sujeito, alterando seu sentido original.
Como que antecipando críticas de excessos que já começaram a aparecer, o perfil publicou então que apoiava "o direito constitucional", mas "repudiava o vandalismo". Nesta semana, a entidade Artigo 19 protocolou no TJ-SP um parecer jurídico que acusa a PM de não ter nenhum protocolo de uso de força que garanta o direito de livre manifestação.
A divulgação das informações, que acontecem num meio que justamente ajudou a dar forma à onda de protestos que marcaram o mês de junho de 2013, começou com um slogan: "Polícia Militar - Garantindo a ordem pública no movimento Passe Livre". Os fatos não tardariam a mostrar a verdadeira face da frase.
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