terça-feira, 24 de maio de 2016

Fundação Cultural Palmares, Quilombo Urbano

por José Gilbert Arruda Martins

“Não existe Brasil sem África e, portanto, não existe identidade nacional sem a cultura afro-brasileira” (RATTS; DAMASCENO, 2006, p. 180)


O presente texto tem como objetivo apresentar aos estudantes do Brasil e do exterior, um pouco da Fundação Cultural Palmares (FCP) e seu trabalho de reconhecer e desenvolver ações com vistas a garantir a reprodução física, social, econômica e cultural das comunidades negras urbanas e quilombolas.

Constam no Plano Nacional de Cultura (Lei 12.343/2010, artigo 2°), os objetivos de ‘reconhecer e valorizar a diversidade cultural, étnica e regional brasileira; estimular o pensamento crítico reflexivo em torno dos valores simbólicos; qualificar a gestão na área cultural, nos setores público e privado’.
A FCP tem como missão garantir que esses e outros objetivos do PNC, bem como toda a política cultural, por meio de suas secretarias e órgãos vinculados, contemplem as especificidades dos agentes culturais afro-brasileiros.

O conceito de quilombo atravessa o tempo e designa os territórios onde se organizavam negros africanos que, trazidos com a colonização portuguesa, insurgiam contra a situação de escravidão.
No Brasil Colonial (século XVI ao XVIII) existia mais de uma centena de quilombos no país. Palmares era o mais populoso e mais conhecido.

Constituir um quilombo, então, tornou-se um imperativo de sobrevivência, visto que a Lei Áurea os deixou abandonados à própria sorte.

Desprovidos de qualquer patrimônio, vivendo na mais absoluta miséria, os negros recusaram-se a conviver no mesmo espaço com aqueles que os considera inferiores e não os respeitava na sua humanidade. Além disso, enfrentaram resistências e preconceitos de uma sociedade que desprezava sua cultura e sua visão de mundo.

Muitas comunidades permanecem agregadas até os dias de hoje, algumas, inclusive,  guardando resquícios arqueológicos.

O seu reconhecimento não se materializa mais pelo isolamento geográfico. É possível afirmar que a ligação com o passado reside na manutenção de práticas de resistência e reprodução do seu modo de vida num determinado local, onde prevalece a coletivização dos bens materiais e imateriais.

Hoje são territórios de resistência cultural e deles são remanescentes os grupos éticos raciais que assim se identificam.

As comunidades remanescentes de quilombos são grupos sociais cuja identidade étnica os distingue do restante da sociedade.

A identidade étnica de um grupo é a base para sua organização, sua relação com os demais grupos e sua ação política.

A maneira pela qual os grupos sociais definem a própria identidade é resultado de uma confluência de fatores, escolhidos por eles mesmos: de uma ancestralidade comum, formas de organização política e social, elementos linguísticos e religiosos.

Até o advento da Constituição de 1988, o País não havia debatido nada sobre a questão quilombola.
“Marco histórico contemporâneo de extrema relevância, o processo constituinte de 1988 propiciou uma ampla mobilização da sociedade civil brasileira. No cerne desta  mobilização estavam entidades do Movimento Negro urbano, buscando incluir dentre os princípios constitucionais a luta quilombola pelo direito à terra e ampliando o debate no campo das políticas públicas acerca da realidade da população negra.”

O decreto nº 4.887, de 20 de novembro de 2003, regulamentou em todo território nacional os procedimentos para identificação, delimitação, reconhecimento e titulação das terras ocupadas por comunidades quilombolas.

Portanto, as comunidades remanescentes de quilombos já são reconhecidas e amparadas pela lei brasileira.

Este mesmo decreto transferiu para o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) a função de delimitar as terras das comunidades quilombolas remanescentes.

“A interpretação conjunta e harmônica destes dispositivos constitucionais cria uma nova realidade jurídica: as terras quilombolas devem ser consideradas como ‘Território Cultural Afro-Brasileiro’ (art. 6° Portaria n° 6, de 1° de março de 2004 da Fundação Cultural Palmares)”

O Governo federal assumiu as responsabilidades do Estado Brasileiro com o cumprimento dos preceitos constitucionais.

Desta forma, em 21 de março, por meio da Medida Provisória n° 111 – convertida na Lei n° 10.678, de 23 de maio de 2003 - , foi criada a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), com a tarefa institucional de coordenar e articular a formulação, coordenação e avaliação das políticas públicas afirmativas de promoção da igualdade racial e de combate à discriminação racial e étnica.

Hoje são mais de 2.800 comunidades quilombolas certificadas pelo Governo Federal de 2004 a 2016.
A Fundação Cultural Palmares (FCP), criada em 1988, para mim, é uma espécie de quilombo na cidade, um ponto importante de resistência institucional.

A Fundação Cultural Palmares é uma entidade pública brasileira vinculada ao Ministério da Cultura instituída pela Lei Federal nº 7.668, de 22 de agosto de 1988.

A entidade teve seu Estatuto aprovado pelo Decreto nº 418, de 10 de janeiro de 1992, e tem como missão os preceitos constitucionais de reforços à cidadania à identidade, à ação e à memória dos segmentos étnicos dos grupos formadores da sociedade brasileira, além de fomentar o direito de acesso à cultura e à indispensável ação do Estado na preservação das manifestações afro-brasileiras. No artigo 1º, da Lei que a instituiu, lê-se:

"(...) promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira."

A FCP tem sua sede em Brasília no Setor Comercial Sul quadra 2 bloco C n° 256 edifício Toufic além de representações nos Estados da Bahia, em Salvador; Alagoas, em Maceió; Maranhão, em São Luis; Rio de Janeiro, na cidade do Rio; e Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
·         Revista Programa Brasil Quilombola. Brasília, 2005
·         Revista Palmares – Cultura afro-brasileira. Ano X Ed. 08, novembro de 2014.
·         Reis, Alexandro Anunciação. Cartilha comunidades quilombolas no processo de licenciamento ambiental. Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2014.

·         http://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/quilombos/

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