terça-feira, 17 de maio de 2016

Retratos do golpe no Brasil (12 de maio de 2016)

por José Gilbert Arruda Martins

O Brasil não tem tradição democrática, em pouco mais de 100 anos sofremos nada menos que cinco golpes de Estado – 1889, 1930, 1937, 1964, 2016 – que desmantelaram as nossas já precárias instituições.


Sendo que, com exceção do de 1964 – que derrubou um governo trabalhista de João Goular – e o atual, 2016 – que apeou um governo popular de Dilma Roussef -, todos os outros foram rearranjos da própria burguesia.

O Brasil tem atualmente cerca de 36 partidos políticos e mais 54 em processo de criação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), desses apenas quatro podem ser denominados de esquerda ou progressistas - PT, PCdoB, PDT, PSOL e PCO -,  o golpe foi articulado e efetivado dentro das outras 32 agremiações políticas.

Você pode perguntar: E o PSTU? Não é de esquerda? Me recuso a citar esse partido e colocá-lo ao lado da esquerda progressista no Brasil, o PSTU é um dos apoiadores do golpe.

Foi essa arquitetura parlamentar atrasada, ultra conservadora, apegada a Igrejas Evangélicas, que rasgaram a Constituição e as leis dia 12 de maio de 2016.

O Congresso brasileiro hoje é dominado pela Bíblia, pela Bala e pelo latifúndio – “Bíblia” é uma referência aos parlamentares eleitos e apoiados por igrejas, principalmente as evangélicas neopentecostais; a  “bala” é uma referência aos parlamentares ligados ao setor militar, defensores da máxima “bandido bom é bandido morto” e do extermínio das populações negras periféricas;  “latifúndios” referência ao agronegócio nacional e internacional que domina o campo no país expulsando, invadindo terras de pequenos agricultores e assassinando lideranças camponesas.

Esse acima é um pequeno retrato da atual composição do Congresso que deu o golpe no governo eleito com mais de 54 milhões de votos.

Diversos fatores motivaram e criaram o cenário e  as condições políticas e jurídicas para o golpe, dois deles se destacam, o primeiro é a questão do petróleo, o Brasil em 2006 descobriu “um mar de óleo” uma quantidade imensa de petróleo de primeira qualidade nas entranhas da bacia atlântica, o governo Lula da Silva, para resguardar a soberania e os interesses do país, resolveu criar uma nova empresa estatal para cuidar da questão e mais criou um sistema que deu à Petrobrás o controle sobre a exploração, esse fato jogou as empresas multinacionais do petróleo para cima do governo; o outro ponto, não menos importante, é a questão dos Programas Sociais – Certificação de terras aos quilombolas – de 2004 a março de 2016 foram entregues mais de 2.800 certificações de terras quilombolas -, Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Prouni, Fies, Mais Médicos, Pronatec, para citar apenas alguns, que retiraram da pobreza extrema milhares de brasileiros antes completamente esquecidos pelas elites.

São esses dois projetos, o pré-sal e o Projeto Popular de resgate da cidadania perdida, que motivaram os golpistas.

O governo de Dilma Roussef foi usurpado, não porque ela cometeu erros, mas por ter acertado, por dá continuidade aos projetos de autonomia do país e do povo.

Projeto Popular que a chamada “Casa Grande” – referência ao poder dos Senhores de Engenho do Brasil Colonial -, não aceitou e, como não conseguem vencer no voto, resolveram, com a ajuda da velha e carcomida mídia, com uma estrutura judiciária atrasada e cheia de mandonismo , autoritarismo e vícios seculares, rasgar a Constituição e apear um governo eleito democraticamente.

O Brasil tem uma estrutura oligopolizada de mídia completamente antidemocrático e autoritário.

Foi esse monopólio midiático que, durante os últimos treze anos, de forma ininterrupta e diuturnamente, veio atacando a esquerda, os movimentos sociais e o governo, preparando o cenário para o desfecho golpista do dia 12 de maio.

Sem o apoio da mídia – a verdadeira oposição política do Brasil, liderada pela Rede Globo de Televisão  -, o golpe dificilmente teria tido sucesso.


Nenhum comentário:

Postar um comentário