DOCUMENTO
Nos
EUA, a confirmação da mão de Roberto Marinho nos bastidores da ditadura.
Roberto Marinho e o Ditador Costa e Silva
Em telegrama ao Departamento de
Estado norte-americano, embaixador Lincoln Gordon relata interlocução do dono
da Globo com cérebros do golpe em decisões sobre sucessão e endurecimento do
regime
por Helena Sthephanowitz publicado 05/04/2014
15:25, última modificação 05/04/2014 15:27
No
dia 14 de agosto do 1965, ano seguinte ao golpe, o então embaixador dos Estados
Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, enviou a seus superiores um telegrama então
classificado como altamente confidencial – agora já aberto a consulta pública.
A correspondência narra encontro mantido na embaixada entre Gordon e Roberto
Marinho, o então dono das Organizações Globo. A conversa era sobre a sucessão
golpista.
Segundo
relato do embaixador, Marinho estava “trabalhando silenciosamente” junto a um
grupo composto, entre outras lideranças, pelo general Ernesto Geisel, chefe da
Casa Militar; o general Golbery do Couto e Silva, chefe do Serviço Nacional de
Informação (SNI); Luis Vianna, chefe da Casa Civil, pela prorrogação ou
renovação do mandato do ditador Castelo Branco.
No
início de julho de 1965, a pedido do grupo, Roberto Marinho teve um encontro
com Castelo para persuadi-lo a prorrogar ou renovar o mandato. O general
mostrou-se resistente à ideia, de acordo com Gordon.
No
encontro, o dono da Globo também sondou a disposição de trazer o então
embaixador em Washington, Juracy Magalhães, para ser ministro da Justiça.
Castelo, aceitou a indicação, que acabou acontecendo depois das
eleições para governador em outubro. O objetivo era ter Magalhães por perto
como alternativa a suceder o ditador, e para endurecer o regime, já que o
ministro Milton Campos era considerado dócil demais para a pasta, como descreve
o telegrama. De fato, Magalhães foi para a Justiça, apertou a censura aos meios
de comunicação e pediu a cabeça de jornalistas de esquerda aos donos de
jornais.
No
dia 31 de julho do mesmo ano houve um novo encontro. Roberto Marinho explica
que, se Castelo Branco restaurasse eleições diretas para sua sucessão, os
políticos com mais chances seriam os da oposição. E novamente age para
persuadir o general-presidente a prorrogar seu mandato ou reeleger-se sem o
risco do voto direto. Marinho disse ter saído satisfeito do encontro, pois o
ditador foi mais receptivo. Na conversa, o dono da Globo também disse que o
grupo que frequentava defendia um emenda constitucional para permitir a
reeleição de Castelo com voto indireto, já que a composição do Congresso não
oferecia riscos. Debateu também as pretensões do general Costa e Silva à sucessão.
Lincoln
Gordon escreveu ainda ao Departamento de Estado de seu país que o sigilo da
fonte era essencial, ou seja, era para manter segredo sobre o interlocutor
tanto do embaixador quanto do general: Roberto Marinho.
RBA
E seu relato, Gordon
menciona Marinho entre os cérebros da continuidade do golpe. E cita Milton
Campos como muito respeitável, mas um "gentleman"
RBA
Eleições diretas
poderiam das margens para "esquerdistas" como o marechal
Lott; regime criaria eleição indireta
RBA
Marinho discutiu com
Caslelo Branco a possibilidade de Costa e Silva vir a sucedê-lo
O histórico de apoio das Organizações Globo à ditadura não dá margens
para surpresas. A diferença, agora, é confirmação documental.
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