sábado, 1 de dezembro de 2018

Povos Mesopotâmicos - Sumérios - Parte II






Sumérios
Os primeiros povos a estabelecerem-se na Mesopotâmia foram os sumérios, por volta de 5000 a.C.
Eles fundaram as primeiras cidades da região, das quais se destacam, por exemplo, Ur, Uruk, Eridu, Nipur, Lagash.
As cidades sumérias logo assumiram a condição de cidades-estado, ou seja, possuíam total autonomia e uma administração própria.
Essas cidades estiveram em constante estado de guerra umas com as outras pela disputa de terras.
Curiosidade: Atualmente, podem ser consideradas cidades-estado o Vaticano, Singapura e Mônaco.
Cada uma delas possuía um deus ou deusa distinto e, para a adoração desse deus, eram construídos templos conhecidos como zigurates.
As cidades sumérias desenvolveram uma característica típica dos agrupamentos humanos: as diferenças entre classes sociais.
Na Suméria, existia uma pequena classe bem estabelecida e privilegiada que vivia à custa do trabalho das classes baixas.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Povos Mesopotâmicos - Parte I



Povos da Mesopotâmia
Na Mesopotâmia, formaram-se as primeiras civilizações da humanidade.
Os sumérios foram os povos mais antigos da região, que também abrigou amoritas, assírios e caldeus.
Mesopotâmia foi o nome da região localizada entre os rios Tigre e Eufrates, no Oriente Médio, principalmente onde hoje se concentra o Iraque.
Essa região é considerada um dos berços da civilização, uma vez que as primeiras cidades do mundo surgiram lá.
A palavra “Mesopotâmia” teve origem no idioma grego e significa “terra entre rios”, fazendo menção exatamente aos dois rios que banhavam seu território.
Povos da Mesopotâmia
A Mesopotâmia abrigou diversos povos da antiguidade, atraídos pela fertilidade do solo que era garantida pelos ciclos de cheias dos rios Tigre e Eufrates.
Entre os inúmeros povos que habitaram a região, destacam-se os sumérios, os amoritas, os assírios e os caldeus.
Outros povos que tiveram relevância na história mesopotâmica foram os acádios e os elamitas.
REFERÊNCIAS:
Povos da Mesopotâmia. Disponível:  https://www.todamateria.com.br/povos-da-mesopotamia/Acessado dia 29.11.2018.
Povos da Mesopotâmia. Disponível: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/povos-mesopotamia.htm Acessado dia 29.11.2018.




sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Educação discute ações do Programa Estrada do Conhecimento no Tocantins com técnicos do Banco Mundial

por Secretaria Educação Juventude e Esporte do Tocantins

Representantes do Banco Mundial se reuniram com a equipe da Secretaria de Estado da Educação, Juventude e Esportes (Seduc), nesta quarta-feira, 7, para avaliar o andamento das ações desenvolvidas na Educação com recursos do Banco Mundial. A missão setorial da instituição financeira cumpre agenda de visita esta semana no Tocantins com a finalidade de supervisionar as atividades do Projeto de Desenvolvimento Regional Integrado e Sustentável (PDRIS).


Equipe técnica da Seduc apresenta projetos contemplados pelo PEC e PDRIS
Equipe técnica da Seduc apresenta projetos contemplados pelo PEC e PDRIS - Manoel Lima / Governo do Tocantins


Entre as ações desenvolvidas pela Educação apresentadas durante reunião estão o Estudo Longitudinal de alunos do ensino médio de seis municípios contemplados com ações do Programa Estrada do Conhecimento (PEC),a fim de diagnosticar o perfil dos estudantes, estudo piloto de diagnóstico da qualidade do ensino da educação infantil, assessoramento técnico e apoio logístico para realizar a pesquisa piloto de observação de sala de aula, treinamento de observadores da sala de aula e formação dos professores e estudo de gênero e violência contra crianças e adolescentes.
À equipe da missão setorial também foi apresentado o cronograma das obras de reformas nas escolas atendidas pelo PEC no Estado,localizadas às margens da BR-153, que apresenta índice acentuado de crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social.
Para a titular da Seduc, Adriana Aguiar, foi um momento muito rico de avaliar as ações desenvolvidas no Estado. “Essa colaboração com o Banco Mundial traz para a Secretaria um conjunto de ações, de levantamento de indicadores, de formação, de melhoria da infraestrutura das unidades escolares, que possibilitam um avanço na qualidade de vida da população tocantinense”, ressaltou.
O representante do Banco Mundial Satoshi Ogita disse que os resultados apresentados foram satisfatórios. “O objetivo da nossa visita é avaliar os avanços das ações. Percebemos que as atividades estão andando bem, de estudos com alunos, treinamento, formação. Algumas ações, como aquelas que dependem de licitação, é preciso acelerar os processos a fim de finalizar as atividades que beneficiam a sociedade tocantinense”, destacou.
PEC
O Programa Estrada do Conhecimento é parte do acordo de compromisso firmado entre Banco Mundial/Brasil e Governo do Tocantins e tem como objetivo subsidiar o PDRIS, com recursos do Banco Mundial.
O Programa, de caráter intersetorial, tem participação de diversos órgãos do Estado, e visa promover educação efetiva e integrada, de modo a viabilizar o acesso à qualidade de vida e a inclusão social às crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social às margens da Rodovia Belém Brasília, contribuindo para a melhoria da qualidade do ensino mediante a utilização de situações didáticas significativas de forma a garantir a permanência do aluno na escola; estimulando a criação de oportunidades de trabalho e geração de renda para alunose famílias em situação de vulnerabilidade social.
 
Para secretária Adriana foi um momento de avaliar as ações desenvolvidas no Estado
Para secretária Adriana foi um momento de avaliar as ações desenvolvidas no Estado - Manoel Lima / Governo do Tocantins

O representante do Banco Mundial Satoshi Ogita disse que os resultados apresentados foram satisfatórios
O representante do Banco Mundial Satoshi Ogita disse que os resultados apresentados foram satisfatórios - Manoel Lima / Governo do Tocantins



quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Brigadeiro Rui Barbosa Moreira Lima: Perseguido, Preso e Torturado




Revolta de Aragarças
Apesar da anistia concedida por JK aos militares envolvidos na Revolta de Jacareacanga em fevereiro de 1956, o clima de insatisfação e de conspiração contra o governo continuou, sobretudo na Aeronáutica.
A Revolta de Aragarças, que eclodiu em 2 de dezembro de 1959, começou a ser articulada em 1957. A nova conspiração teve a participação do ex-líder de Jacareacanga, tenente-coronel aviador Haroldo Veloso, e de dezenas de outros militares e civis, entre os quais o tenente-coronel João Paulo Moreira Burnier, que foi o seu principal líder. O objetivo era iniciar um "movimento revolucionário" para afastar do poder o grupo que o controlava, cujos elementos seriam, segundo os líderes da conspiração, corruptos e comprometidos com o comunismo internacional.
Partindo do Rio de Janeiro, com três aviões Douglas C-47 e um avião comercial da Panair sequestrado, e de Belo Horizonte, com um Beechcraft particular, os rebeldes rumaram para Aragarças, em Goiás. Pretendiam bombardear os palácios Laranjeiras e do Catete, no Rio, e ocupar também as bases de Santarém e Jacareacanga, no Pará, entre outras. Na realidade, nem o bombardeio aos palácios, nem a ocupação das bases chegaram a ocorrer, e a rebelião ficou restrita a Aragarças. A revolta durou apenas 36 horas. Seus líderes fugiram nos aviões para o Paraguai, Bolívia e Argentina, e só retornaram ao Brasil no governo Jânio Quadros.
Rui Barbosa Moreira Lima (Biografia) (Nasceu em Colinas, Maranhão, 12 de junho de 1919 — Faleceu no Rio de Janeiro, 13 de agosto de 2013) foi um piloto militar de caça e Tenente-brigadeiro-do-ar brasileiro. Até o início de 2013, era um dos três únicos caçadores veteranos da participação brasileira na Segunda Guerra Mundial ainda vivos. Moreira Lima atuou ao lado dos militares legalistas que se opuseram ao Golpe de 1964, tendo sido perseguido e torturado pela ditadura militar que se seguiu. Carreira
É um dos Fundadores da Associação Democrática e Nacionalista dos Militares (Adnam)
Foi o piloto de combate da esquadrilha verde no 1° Grupo de Aviação de Caça (GAvCa) da Força Aérea Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial. Durante o combate, executou 94 missões. A primeira aconteceu em 6 de novembro de 1944 e a última em 1 de maio de 1945. Além disso, foi comandante da Base Aérea de Santa Cruz entre 14 de agosto de 1962 e 2 de abril de 1964, quando foi afastado após o golpe militar. Foi cassado e preso pela Ditadura Militar. Foi posteriormente anistiado. É o autor do livro Senta a Pua! no qual conta as memórias dos combates no teatro de operações na Itália.
Perguntado se a tese apresentada no livro "1964 – O DNA da Revolução" (dos ex-oficiais Jônathas de Barros Nunes e Gastão Rúbio de Sá Weyne), que afirma que todo o golpe foi engendrado por cerca de 300 oficiais, o brigadeiro não teve dúvidas: "não li o livro, mas os autores devem estar com a razão. Foram poucos".
Rui Moreira Lima, o militar que recusou a ditadura, faleceu terça-feira 13/08/2013, no Rio de Janeiro, o brigadeiro Rui Moreira Lima, aos 94 anos. Em decorrência de complicações de um AVC sofrido. Em outubro de 2012, ele prestou depoimento à Comissão Nacional da Verdade, que iniciou então um grupo de trabalho sobre militares perseguidos pela Ditadura Militar. Em seu depoimento, Moreira Lima também foi questionado a respeito dos antecedentes do golpe. Para ele, o grupo que tomou o poder à força era uma minoria dentro das Forças Armadas. A CNV (A Comissão Nacional da Verdade) identificou 6.591 militares presos, torturados ou processados pela Ditadura Militar.
Os documentos mostram que não houve apenas torturas, mas mortes de militares que foram contra a ditadura. Um dos casos aconteceu em Porto Alegre. Na capital gaúcha, o tenente-coronel da Aeronáutica Alfeu Monteiro foi morto em 4 de abril de 1964 com cinco tiros pelas costas. Os disparos foram feitos por militares, após Monteiro resistir à prisão.
A Comissão identificou a prática de torturas em unidades militares no Rio, em Natal, Salvador, Fortaleza, no Recife e Porto Alegre.


segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Ditadura Militar Brasileira - Nem Todo Militar é Golpista e Entreguista

por José Gilbert Arruda Martins

A CNV (A Comissão Nacional da Verdade) identificou 6.591 militares presos, torturados ou processados pela Ditadura Militar. De acordo com o relatório, a Aeronáutica é a força que mais teve militares perseguidos pelo regime: 3.340. Seguida pela Marinha com 2.214; Exército com 800 e as Polícias Estaduais com 237.


Revista Carta Capital – Especial 50 Anos do Golpe - Ano: 2014.
Título: Uma mentira que insiste em sobreviver.
por Pedro Luiz Moreira Lima (Filho)
Em 1961, com a renúncia de Jânio Quadros, começaram as prisões em massa.  Uma ação criminosa com oficiais do Exército, policiais e no apoio, oficias golpistas da Aeronáutica, tentou sequestrar, provocar e matar meu pai em uma madrugada. (...)
Ali passei a compreender a palavra “golpe” e a temer seu aterrorizante significado. Tinha na época 13 anos. (...)
O telefone toca. “Coronel Rui, se apresentar na Terceira Zona Aérea”. Era o arbítrio mostrando sua cara e, naquele momento, nossa única certeza era a incerteza do futuro. “Meu filho, você agora é o homem da casa, se comporte, estuda muito, não tenha medo e cuida de sua mãe e das suas irmãs”. (...)
Nossa casa era constantemente vigiada. O mês de abril teve um dos mais fortes invernos no Rio de Janeiro e convivemos com os “James Bonds” do regime disfarçando, com ridículos jornais e revistas as espionagens. (...)
O terror veio em 1970, quando fui levado pelo DOI-CODI como refém para prenderem meu pai. Fui solto ao som dos gritos do meu pai. “Soltem o garoto”. Ele ficou incomunicável por três dias. Neste período, foi torturado física e mentalmente no Regimento de Cavalaria Mecanizado em Deodoro. (...)
Hoje, quem rasgou a Constituição, compactuou com as prisões, perseguições, torturas, estupros, assassinatos e desaparecimentos, treme e se apavora. Isso fica claro na destruição de provas, nas recusas de se apresentar nas Comissões da Verdade e nos recursos à Justiça, coisa que negaram a suas vítimas.
Depois de longos anos abro as cortinas de minha alma, como estivesse ainda rua Raul Pompéia. Falo, escrevo e, livre, conto para as futuras gerações que as ditaduras só podem sobreviver e durar à custa do medo e do terror.
*Pedro Luiz Moreira Lima é filho do major-brigadeiro do ar Rui Moreira Lima. Veterano da Segunda Guerra Mundial, o brigadeiro Rui, como era conhecido, foi um dos vários militares perseguidos por ser contrário ao golpe de 1964. Ele morreu aos 94 anos, em 13 de agosto de 2013.

domingo, 30 de setembro de 2018

Nazismo, ideologia de Direita ou de Esquerda?

por José Gilbert Arruda Martins


O nazismo foi um dos fenômenos históricos mais complexos e obscuros surgido na Alemanha do século XX, sob o poder de um personagem racista e altamente exterminador chamado Adolf Hitler. O nazismo foi baseado em políticas de segregação racial dirigida especialmente contra os judeus.





O nazismo surgiu como consequência da complexa situação que vivia a Alemanha após a Primeira Guerra Mundial. O fracasso econômico e político da República Weimar, assim como os altos custos impostos à nação por gerar o primeiro conflito bélico, tornaram a região extremamente caótica.

1.     Nazismo é de Direita ou de esquerda?

"Tanto o nazismo alemão quanto o fascismo italiano surgem após a Primeira Guerra Mundial, contra o socialismo marxista - que tinha sido vitorioso na Rússia na revolução de outubro de 1917 -, mas também contra o capitalismo liberal que existia na época. É por isso que existe essa confusão", afirma Denise Rollemberg, professora de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF).

A ideia de uma "revolução social para a Alemanha" deu origem ao Partido Nacional-Socialista alemão, em 1919. O "socialista" no nome é um dos principais argumentos usados nos debates de internet que falam no nazismo como um movimento de esquerda, mas historiadores discordam.

"Me parece que isso é uma grande ignorância da História e de como as coisas aconteceram", disse à BBC Brasil Izidoro Blikstein, professor de Linguística e Semiótica da USP e especialista em análise do discurso nazista e totalitário.

"O que é fundamental aí é o termo 'nacional', não o termo 'socialista'. Essa é a linha de força fundamental do nazismo - a defesa daquilo que é nacional e 'próprio dos alemães'. Aí entra a chamada teoria do arianismo"

De acordo com Blikstein, os teóricos do nazismo procuraram uma fundamentação teórica e filosófica para defender a ideia de que eles eram descendentes diretos dos "árias", que seriam uma espécie de tribo europeia original.

"Estudiosos na Europa tinham o 'sonho da raça pura' nessa época. Quanto mais próximos da tribo ariana, mais pura seria a raça. E esses teóricos acreditavam que o grupo germânico era o mais próximo. Daí surgiu a tese de que, para serem felizes, tinham que defender a raça ariana, para ficar longe de subversões e decadência. (Alegavam que) a raça pura poderia salvar a humanidade."

Mesmo propagando a ideia de que o nazismo planejava uma revolução social na Alemanha - o que incluía, por exemplo, maior intervenção do Estado na economia -, o partido fazia questão de deixar clara sua oposição ao marxismo.

"Os comícios hitleristas eram profundamente antimarxistas", disse à BBC Brasil a antropóloga Adriana Dias, da Unicamp, que é estudiosa de movimentos neonazistas.

"O nazismo e o fascismo diziam que não existia a luta de classes - como defendia o socialismo - e, sim, uma luta a favor dos limites linguísticos e raciais. As escolas nacional-socialistas que se espalharam pela Alemanha ensinavam aos jovens que os judeus eram os criadores do marxismo e que, além de antimarxistas, deveriam ser antissemitas."


Eugenia, de Francis Galton às Eleições de 2018 no Brasil

por José Gilbert Arruda Martins

A eugenia é a seleção dos seres humanos com base em suas características hereditárias com objetivo de melhorar as gerações futuras. 



O termo foi criado pelo cientista inglês Francis Galton (1822 - 1911), em 1883. A palavra eugenia deriva do grego e significa "bom em sua origem ou bem nascido".

Contexto histórico do século XIX.

Em 1860 durante uma forte crise nervosa, Francis Galton (1822-1911),  encontrou consolo ao ler a obra “A origem das espécies”.
 No ano de 1865, Galton publicou um livro, o “Talento Hereditário e Gênio” onde dizia:

“[..] as forças cegas da seleção natural, como agente propulsor do progresso, devem ser substituídas por uma seleção consciente e os homens devem usar todos os conhecimentos adquiridos pelo estudo e o processo da evolução nos tempos passados, a fim de promover o progresso físico e moral no futuro”.

Com outras palavras ele estava dizendo que deveria ser aplicado o melhoramento genético na população humana.

Há uma grande preocupação de que as técnicas usadas no melhoramento genético de plantas e animais sejam usadas nos homens.

Muitos pesquisadores declaram que existe um severo problema ético na eugenia, como por exemplo, o abuso da discriminação, pois ela resulta em uma categorização de quem é apto e quem não é apto para a reprodução.

Em diversos países foram propostas políticas de “higiene e profilaxia social”, com o objetivo de impedir a reprodução de pessoas que possuíam doenças consideradas hereditárias e, também, exterminar portadores de problemas físicos e mentais.

Um exemplo extremo de eugenia foi na Alemanha Nazista, comandada por Adolf Hitler, onde os nazistas almejavam extinguir as “raças humanas” ditas inferiores, deixando apenas as “raças nórdicas” (arianos) que eram consideradas “raças superiores”, resultando no Holocausto.

No Brasil, a Sociedade Paulista de Eugenia foi a primeira a ser fundada no ano de 1918. No 1° Congresso de Eugenismo, realizado na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1929, foi abordado o tema “O Problema Eugênico da Migração”. No Boletim de Eugenismo, foi proposto a exclusão das imigrações de pessoas não brancas. No ano de 1931 foi criada a Comissão Central de Eugenismo com os seguintes objetivos:

Manter o interesse dos estudos relacionados à questões eugênicas;
Disseminar o ideal de regeneração física, psíquica e moral do homem;

Prestigiar e ajudar as iniciativas científicas ou humanitárias relacionadas à eugenia.

Fontes:
http://www.ufrgs.br/bioetica/eugenia.htm
http://oglobo.globo.com/rio/mat/2007/04/01/295175645.asp

* Francis Galton (Birmingham, 16 de fevereiro de 1822 — Haslemere, Surrey, 17 de janeiro de 1911) foi um antropólogo, meteorologista, matemático e estatístico inglês.

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40601996000100015


sexta-feira, 14 de setembro de 2018

CAIÇARAS, O TRADICIONAL POVO DO LITORAL BRASILEIRO

no Com Ciência



Por Allison Almeida, André Gobi e Guilherme Rodrigues
Apesar de toda a riqueza, a cultura caiçara pode ter o mesmo destino das tribos indígenas que habitavam o litoral. Se antes a questão era a colonização extrativista europeia, nas últimas décadas a especulação – na verdade, pirataria – imobiliária, o turismo de massa e as restrições à pesca e ao artesanato são as grandes ameaças.
Quando se pensa nos 7.363 quilômetros da costa brasileira é comum fazer uma associação direta com o turismo. O país tem um dos litorais mais paradisíacos e extensos do mundo. Além das belezas naturais, as praias, enseadas e ilhas abrigam inúmeras populações tradicionais. Antes dos europeus chegarem, o litoral brasileiro era repartido por diferentes tribos: Tupis, Tamoios, Tabajaras e Caetés são alguns dos grupos indígenas que viviam na costa e foram expulsos – alguns extintos.
Atualmente, mesmo com a maior parte da faixa litorânea utilizada para o turismo e outras atividades econômicas, principalmente a portuária e a pesqueira, o Brasil ainda abriga resquícios de comunidade tradicional no litoral. “Os caiçaras são uma mistura de povos indígenas já extintos, europeus de diversos países e negros, principalmente quilombolas que após processos de ocupação do interior devido aos diversos ciclos econômicos do Brasil colonial, ficaram relativamente isolados nessa estreita faixa de terra entre o mar e a serra, que se estende do sul do Paraná até o centro do Rio de Janeiro”, explica Antonio Carlos Diegues, fundador do Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas em Áreas Úmidas Brasileiras da Universidade Estadual de São Paulo (Nupaub/USP).
Há, segundo Diegues, os “manesinhos da ilha”, em Florianópolis, e outras comunidades descendentes principalmente de açorianos em todo o litoral sul.  Caiçaras são encontrados na maior parte do litoral sudeste e, mais ao norte, podemos encontrar comunidades mais ligadas às raízes africanas, como os jangadeiros e os balseiros, por exemplo, na Bahia e no Maranhão, respectivamente.
O isolamento, no caso, era resultante das dificuldades de locomoção para os centros urbanos. A musicista e cientista social Kilza Setti foi uma das pioneiras a estudar a cultura caiçara, nos anos 1950. Ela relata um de seus primeiros encontros com nativos: “Os caiçaras praticavam em sua oralidade o português arcaico, misturado com muitas palavras de origem indígena”, conta.
Congada de Bastões, tradicional dança caiçara (crédito das fotos desta reportagem: Guilherme Rodrigues)
Com seus “causos”, histórias, costumes, culinária e música, os caiçaras contribuíram profundamente para a ampliação da diversidade cultural brasileira. A música popular caiçara é muito rica e fonte de estudos por todo o país. Dentro do repertório musical, os nativos constroem seus próprios instrumentos de forma muito rudimentar: rabecas, machetes, violas de machete e diversos tipos de tambores e instrumentos de percussão são encontrados nas comunidades, e utilizados em seus fandangos. “O povo caiçara no litoral sudeste guarda preciosas tradições religiosas e profanas. A dança da fita, congada, festa do divino, chiba, dança de São Gonçalo, entre diversas outras, são expressões culturais ainda comumente praticadas. Essas danças e músicas compõem o repertório de músicas caiçaras, o fandango”, explica Setti.
O fandango embala as noites de festejos. Ao som de uma espécie de orquestra que canta as músicas tradicionais, as mulheres agitam suas longas saias. Os homens realizam coreografias que lembram bastante a catira, espécie de sapateado comum no interior do país. Aos poucos, as crianças também entram na brincadeira e o fandango torna-se uma grande confraternização de toda a comunidade. “O fandango está profundamente ligado aos rituais agrários caiçaras, aos mutirões realizados durante a colheita principalmente do arroz, mais ao litoral sul de São Paulo e todo Paraná, e à confecção da farinha de mandioca no resto de seu território. Assim como na construção de suas casas, principalmente de pau a pique, que eram realizadas em conjunto. Primeiro se realizavam as tarefas diárias e, ao final, aconteciam os bailes e comemorações”, diz Antonio Diegues.
Seu Agostinho, artesão construtor de rabecas caiçaras, Cananeia (SP) [crédito das fotos desta reportagem: Guilherme Rodrigues]
Apesar de toda a riqueza, a cultura caiçara está seriamente ameaçada de ter o mesmo fim das tribos indígenas que habitavam o litoral brasileiro. Se antes a questão era a colonização europeia, agora a especulação imobiliária, o turismo de massa, de alto impacto social e ambiental, as restrições ambientais para os nativos praticarem a pesca e o artesanato são os grandes problemas.
As dificuldades dos caiçaras começaram com a construção da BR-101 na década de 1970 pelo governo militar. Todo o acesso ao litoral foi facilitado, dando novas perspectivas turísticas a cidades como Ubatuba (SP) e Parati (RJ). Porém, não foram realizados estudos sobre os impactos da construção da via na cultura local. “A realização da estrada trouxe progressos. Antes levávamos horas para chegar até a cidade. Porém nos trouxe uma série de problemas”, relembra Julio Cesar Mendes, folclorista e militante caiçara.
São Sebastião (SP): exemplo de ocupação do litoral por casas de veraneio [crédito das fotos desta reportagem: Guilherme Rodrigues]
As valorizadas terras do litoral foram alvo da ação da especulação imobiliária e dos grileiros. Boa parte da população tradicional local foi ludibriada por promessas financeiras e venderam seus terrenos por valores abaixo do mercado, mudando-se para a periferia das cidades litorâneas, migrando para outros centros urbanos ou até mesmo caindo na marginalidade. “O que houve nos anos 1970 não foi especulação, mas sim pirataria imobiliária, e é claro que eles [caiçaras] sairiam perdendo”, diz Kilza Setti.
“Meu avô trocou um terreno a beira-mar por um par de botas”. Esse impressionante relato é da militante caiçara Fátima Souza Santos, que narra como era a ação dos grileiros na época. “Eles seduziam os pescadores distribuindo presentes e dinheiro para ganhar a confiança do povo. Os grileiros convenceram meu avô a colocar o polegar direito num documento para trocar o terreno da família por um par de botas”, conta. Ainda hoje a especulação imobiliária é uma dor de cabeça para os nativos. Pelos altos valores do metro quadrado no litoral paulista, constantemente surgem propostas das mais diversas para que vendam casas e terrenos. A maioria já sucumbiu ao poder econômico, mas há caiçaras que permanecem e não estão dispostos a deixar suas raízes. “Aqui eu tenho de tudo. Não deixo o litoral por nada. Eu tenho a vida que eu quero. Pesco meu peixe, faço meus roçados quando é preciso. Se sair daqui, vou fazer o quê da vida? A natureza me dá tudo o que eu preciso. É a vida que eu pedi a Deus”, diz Altamiro dos Santos, pescador e morador da Praia Grande de Cajaiba, em Parati, há mais de 60 anos.
Orla da comunidade caiçara da Ilha Diana e Porto de Santos ao fundo [todas as fotos desta reportagem são de Guilherme Rodrigues]
Estereótipos, preconceitos e etnocentrismoA cultura caiçara é basicamente de subsistência. Em sua maioria, vivem em pequenas vilas onde praticam a pesca, a agricultura e o artesanato de acordo com suas necessidades individuais. Por conta dessa perspectiva cultural, foi inserida na sociedade uma espécie de senso comum pelo qual os caiçaras são cidadãos preguiçosos. “Quem está de fora da comunidade não percebe que os caiçaras têm um ritmo próprio que nada tem a ver com a agitação da cidade. Seguem o ritmo da natureza, da lua, das marés”, explica o antropólogo Antonio Carlos Diegues.
Além de estereótipos e preconceitos, a cultura caiçara sofre outra grave violência simbólica: a ação do etnocentrismo. A antropologia define etnocentrismo como a visão de quem considera os hábitos culturais de seu grupo superiores aos demais. Frequentemente, os pescadores têm embates com alguns grupos evangélicos, que não respeitam as tradições do folclore caiçara.
A peregrinação da Bandeira do Divino, principal festejo religioso caiçara, de tradição centenária, ilustra bem o embate. Em seu percurso pelas ruas e bairros de Ubatuba é comum a manifestação religiosa não ser mais aceita nas casas de alguns moradores que até pouco tempo atrás recebiam a peregrinação. “É complicado e magoa bastante”, diz o professor Domingos Santos, que é filho de caiçara. “De repente, chega uma religião afirmando que nossas músicas, nossa dança e nossa fé são pecados e que nós estamos errados? Que nossos amigos e parentes precisam se afastar da gente? Isso é muito sério”, desabafa.
Equilíbrio ambiental x cultura de subsistência: a questão caiçaraRenato Bueno é um dos carpinteiros mais procurados por pescadores do litoral norte de São Paulo. Pelas suas habilidosas e calejadas mãos é construída a canoa de madeira ou “canoa de um pau só” – um dos principais símbolos caiçaras. Apesar da fama local de sua profissão e de gostar do trabalho artesanal, Renato pensa em largar a profissão por conta das dificuldades para extração da madeira. “Está muito difícil. Para a construção de canoas, só trabalho com madeira morta. Mesmo assim a polícia ambiental me impede de trabalhar e exige um monte de licenças para a minha madeira. É muito difícil trabalhar assim.”.
Calafetação de barco de pesca artesanal caiçara (Praia do Pereque-Açu, Ubatuba, SP) [todas as fotos desta reportagem são de Guilherme Rodrigues]
A madeira que o artesão precisa para construir canoas vem de unidades de preservação ambiental, locais onde sua extração é proibida. O Parque Estadual da Serra do Mar, criado em 1977, com uma área de 332 mil hectares que se estende por 25 municípios paulistas – desde a divisa do estado com o Rio de Janeiro até o litoral sul de São Paulo – era um território caiçara. “Nos expulsaram, até hoje os pescadores esperam a indenização e agora não podemos nem retirar uma madeira para trabalhar”, relata o canoeiro.
O mesmo incômodo é apontado por pescadores e pequenos agricultores caiçaras. Segundo pescadores que conversaram com a reportagem, a fiscalização da polícia ambiental é ostensiva e sem espaço para qualquer espécie de diálogo. “Pescador está sendo tratado como um marginal”, exclama Wagner Klinke, presidente da colônia de pescadores da Cananéia (SP).
“O peixe é nosso sustento. Diferente da indústria, fazemos de tudo para preservá-lo. Mas a polícia ambiental não nos deixar retirar o suficiente para o sustento adequado de nossas famílias. Quem insiste acaba com os peixes e materiais de pesca apreendidos, inclusive barcos e canoas. Já teve colegas que já foram presos”, complementa Klinke.
Para o antropólogo Antonio Carlos Diegues, a mediação entre governo e a cultura caiçara precisa acontecer com bom senso, diálogo e conscientização e não com repressão e proibições. “Importamos um modelo de preservação norte-americano que não se aplica à realidade dos povos tradicionais brasileiros. De repente, famílias que conviviam harmonicamente com a Mata Atlântica e com o mar há várias gerações tiveram que procurar outras ocupações e muitos acabaram na marginalidade. Precisa existir bom senso, pois a pesca artesanal, por exemplo, é uma atividade de baixo impacto ambiental. Não há nos nativos a cultura de depredação, pois eles precisam sobretudo da natureza. Agora estão substituindo as canoas de madeira por material de fibra de vidro em nome da preservação, o que é um contrassenso. A canoa de fibra de vidro quando afunda fica no mar por até 500 anos”, opina o cientista social.
Procurada pela reportagem, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente do estado de São Paulo não quis se manifestar sobre o tema.
Allison Almeida é graduado em jornalismo (Unicap), pós-graduado em gestão e produção em jornalismo (Puccamp) e pós-graduando em jornalismo científico do Labjor/Unicamp.
André Gobi é graduado em História (Unesp) e pós-graduando em jornalismo científico do Labjor/Unicamp.
Guilherme Rodrigues é graduado em medicina veterinária (FAJ) e pós-graduando em jornalismo científico do Labjor/Unicamp.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Por uma esquerda pós-apocalíptica

no Outras Palavras

Manifestação pró-direito ao aborto, na Argentina. Para Monedero, “A presença das mulheres nas ruas fez envelhecer todos os partidos políticos, inclusive os de esquerda


Juan Carlos Monedero, cofundador do Podemos, provoca: disputa civilizatória continua aberta; seria patético entregar os pontos antes da hora. O que falta é enxergar as novas insubmissões
Entrevista a Martín Granovsky  | Tradução: Ricardo Cavalcanti-Schiel
Político e cientista político, professor da Universidade Complutense de Madri e cofundador de Podemos, esse espanhol de 55 anos é um dos pesquisadores europeus mais ligados aos temas latino-americanos. Esteve de passagem pela Argentina, a convite da Universidade Nacional de Quilmes (na região metropolitana de Buenos Aires), realizando também atividades em centros culturais e acadêmicos ligados aos movimentos sociais, como o Centro Cultural da Cooperação e a nova Universidade Metropolitana para a Educação e o Trabalho (UMET) (ambos na região central da capital argentina).
Há um ano, a principal agrupação da esquerda espanhola apresentou a primeira moção de censura contra o chefe de governo, Mariano Rajoy, do Partido Popular, de direita, modelo internacional para o presidente Mauricio Macri, da Argentina. Em primeiro de junho último, outra moção de censura acabou removendo Rajoy do cargo de primeiro ministro, colocando em seu lugar o social-democrata Pedro Sánchez. Monedero o comentou para o Página 12, de Buenos Aires:“Nós tínhamos grandes intuições e, sobretudo, a vontade firme de afastar Rajoy”.
A seguir, a entrevista.
Monedero: “Nem o poder é uno, nem o capital é uno, nem tudo está tão organizado assim; como também eles podem se equivocar, e não controlam tudo… Às vezes lhes brindamos um poder que eles não têm”
E ele, Rajoy, imaginava que seu fim político era possível?
TEXTO-MEIO
Rajoy contava com a estratégia da impunidade, em que já se escorava havia 15 anos. Eles controlavam os postos mais importantes do Judiciário, o Tribunal Constitucional [equivalente ao STF brasileiro], o Conselho Geral do Poder Judiciário [sem equivalente no Brasil] e o Tribunal Supremo [equivalente ao STJ]. Acreditavam que isso tudo lhes servia de garantia. E eu quero insistir em algo que serve também para a Argentina: eles nunca têm todo o poder. Não têm todos os juízes, não têm todos os procuradores.
Não conseguem realizar a velha ilusão do controle total…
Dentro do marxismo há uma velha discussão. As explicações demasiado estruturalistas tomam ao pé da letra a ideia de que o poder nada mais é que o conselho de administração dos interesses da burguesia, que é uma entidade fechada e que sempre obra em favor da glória maior da minoria dominante. Mas essas não são explicações verdadeiras. Nem o poder é uno, nem o capital é uno, nem tudo está tão organizado assim; como também eles podem se equivocar, e não controlam tudo… Às vezes lhes brindamos um poder que eles não têm. Uma boa parte de nossas sociedades democráticas existe por conta das nossas vitórias. Quando alguém faz um discurso excessivamente negativo ou muito sombrio está renunciando à sua parte de vitória.
A que parte de vitória se renunciaria, por exemplo?
Aos direitos trabalhistas, ao direito ao voto, à universalidade da lei, ao direito à livre manifestação e à greve, ao direito de se associar, ao direito à comunicação… Há uma série de coisas que ainda não perdemos. Eu compreendo que neste momento a Argentina está em risco. É claro que a Junta Militar [que governou o país durante a última ditadura], com a desculpa de lutar contra a insurgência [N. do T.: sobre esse termo e sobre a reação que inspira por parte do establishment, em termos geopolíticos, veja-se aqui], dinamitou o Estado de Direito. E é verdade que o atual governo quer dinamitar tudo o que diga respeito ao kirchnerismo. Mas isso não significa que simplesmente vá rolar na boa. Não é correto dizer que estamos como na ditadura. É verdade que a mídia mente e que não passa de empresas de comunicação a serviço do poder. Mas não é verdade que detenham toda a comunicação, que controlem toda a Internet, ou que não exista o Página 12. Com os discursos apocalípticos às vezes não fazemos mais que convidar à resignação. Certa esquerda até acredita que está sendo mais profunda e esperta quando faz análises muito pessimistas. No fundo ela acaba não mais que como refém do inimigo.
E qual seria a chave de análise realista?
Recusar o pensamento desejante [wishful thinkink].
Mas, por outro lado, não há política sem desejo…
Lembro-me de um cartaz aqui em Buenos Aires que dizia: “Menos realidades e mais promessas!” É a necessidade da esperança. Mas é preciso acertar nas esperanças! Marx ficou muito chateado com os communards de Paris, que em 1871 pretendiam assaltar os céus. “Vocês fizeram um mal diagnóstico”, lhes dizia. “Vocês estão lutando contra [o presidente Adolphe] Thiers em Versalhes e contra Bismarck na Prússia; são poucos, não têm o Exército, não têm os bancos; vão lhes massacrar”. Ao final, depois de dizer isso, foi comprar-lhes armas. Sempre temos que buscar o equilíbrio entre bons diagnósticos e uma boa leitura da correlação de forças. Com os meus alunos, eu uso o exemplo de Game of Thrones, uma série onde alguns companheiros postulam que Ned Stark é revolucionário porque é derrotado. Uns dizem que alguém derrotado não serve. Minha postulação é a contrária. Não existiria Game of Thrones se, ao final da primeira temporada, não pendurassem sua cabeça na ponta de uma lança. O martírio é o que permite alargar a base da emancipação. Mas isso também tem um problema. Significaria que temos que dar combate tão apenas para ter mártires? Teriam razão esses grupos que defendem que é preciso se imolar e que, se há baixas nos protestos, melhor então, porque assim se produzirão protestos ainda maiores?
Sua resposta?
Ela vem do que Walter Benjamin dizia: às vezes, quanto pior, pior. As contradições têm sempre uma saída: alargar a base da deliberação. Em cada decisão, aqueles que estão implicados devem opinar. Me lembro de quando era jovem e duvidava entre tão apenas optar pela objeção de consciência ao serviço militar ou, além disso, ser insubmisso, quer dizer, me negar inclusive a prestar o serviço social substitutivo. [N. do T.: Essas remissões dizem respeito ao “Movimento Insubmisso”, que tem suas raízes nos últimos anos do regime franquista, contra o seu serviço militar obrigatório. O movimento prosseguiu depois de aprovada a Lei de Objeção de Consciência, de 1984, que instituía o serviço social alternativo. Apenas em 2002 essas obrigações e as penalidades à sua contrariedade foram definitivamente abolidas na Espanha]. Se você incidisse na insubmissão, você ia a juízo, e havia muita probabilidade de que lhe condenassem a dois anos de cadeia e lhe inabilitassem [para emprego ou cargo público]. Era isso o que mais me preocupava, porque eu estava terminando a faculdade, sabia que ia estar entre os primeiros ― se não o primeiro ― da minha turma de formatura, que poderia ser professor, e que a inabilitação me impediria de ser docente. Um professor trotskista me disse que se eu não fosse insubmisso, eu era um covarde. Esse professor era um irresponsável!
O que você fez?
Fui insubmisso. Por sorte o juiz não me condenou. Outros colegas foram condenados. Do que me lembro bem é que, quando tomei a decisão, fiquei cinco dias de cama, doente, porque acreditei que estava arruinando a minha vida. Por outro lado, acabei depois dando todos os combates que me couberam na vida, e essa é uma maneira de ser decente.
O Podemos é um partido objetor ou insubmisso?
Procuramos ser responsáveis com o mandato de cinco milhões de votos [cerca de 24% do eleitorado espanhol]. As pessoas votaram em nós não só buscando sair do governo de Rajoy, mas também de suas políticas. Por isso, não tínhamos votado antes a favor de uma composição de governo entre Pedro Sánchez [social-democrata] e Albert Rivera, de Ciudadanos [neodireita liberal]. Sair do governo de Rajoy era uma urgência. Era desesperador ― como agora é na Argentina ― que, de novo, governasse uma camarilha de corruptos, que cortava todos os gastos sociais e manipulava a vontade pública e os meios de comunicação. A esperança às vezes se estreita consideravelmente. Se depois das barbaridades que Macri está fazendo, ele volta a ganhar as eleições, você vai dizer que esse é um momento obscuro na historia, compreensivelmente, sem qualquer espaço para o otimismo.
Não há perigo de se ficar com raiva da realidade?
Ficar com raiva da realidade é coisa de idiotas. A realidade é apenas um dado que você precisa entender. Nada é fácil. Na Espanha, a grande mídia deseja que o Podemos desapareça, porque desafia o poder. Nós, por outro lado, temos a obrigação de dialogar com a nossa base social. São cinco milhões de pessoas jovens, bem formadas, que partiram do 15-M, aquele 15 de maio de 2011, quando, na Porta do Sol, em Madrid, se ouvia: “não somos marionetes nas mãos de políticos e banqueiros”. Essas pessoas jovens se perguntam por que a Espanha não está onde deveria estar ao ser a quarta potência econômica da zona do euro. Eles se perguntam onde estão nossos prêmios Nobel, nossos cineastas, nossos literatos, nossas universidades de ponta… São gente do século 21. Não entendem essa Espanha centralista nem esses partidos políticos corruptos. Preste atenção na Argentina!
Em que, exatamente?
A presença das mulheres nas ruas fez envelhecer todos os partidos políticos, inclusive o peronismo [dos ex-presidentes Kirchner]. Essas mulheres produziram protestos e demandas que excederam a capacidade de previsão dos partidos. De todos. Não conseguiam acompanhar o que acontecia. Os partidos sempre calculam se determinadas decisões vão lhes custar votos. Por isso, o movimento social sempre os sobrepassa. Aconteceu na Espanha com o 15-M, o movimento dos indignados, que não apenas produziu o nascimento do Podemos, como também acabou transformando todos os partidos. As grandes lideranças políticas têm agora em torno de 40 anos, ou menos. Todas. Todos os partidos realizaram primárias, exceto Ciudadanos, que é um partido montado como as Spice Girls, um partido baseado em um desenho de laboratório. Quando, há quatro anos, falávamos de primárias obrigatórias, eles diziam que a gente não entendia de política. Eu lhe pergunto: alguém por aqui está tomando nota do movimento das mulheres? Não apenas da demanda pelo direito de interrupção voluntária da gravidez, mas do seu modo de se articular, da sua maneira de se expressar, da sua forma de mobilizar as redes… Do contrário, a sociedade argentina pode ir em uma direção, e os partidos vão ficar como estátuas.
Mais uma vez o desafio de interpretar a realidade e o de transformá-la…
Você precisa ter cuidado com uma coisa: na política, como dirigente, você tem mais informação que o resto das pessoas. Isso leva você a tomar decisões que a rua não entende. Se uma família faz um ajuste na sua economia e os pais tiram os filhos do colégio sem explicação, os filhos vão se aborrecer. Vão dizer que os pais são uns canalhas que não os amam. Se na hora da janta os pais lhes explicam, os filhos vão entender. Às vezes os políticos não têm tempo de explicar, ou então desprezam a cidadania porque acreditam que não vão ser compreendidos. O símbolo é aquela foto do Obama envelhecido quatro anos… em parte também porque todos os dias tinha que fazer uma lista de quem os fuzileiros tinham que executar, e isso é algo que te deixa de cabelo branco. Às vezes eu acho que Obama é um negro com a alma dos brancos. Mas a verdade é que, continuamente, você toma decisões com muito pouca liberdade. E se você não transmite os problemas à cidadania, ela vai se distanciar de você. Esse é o risco constante da política institucional. Só me ocorre uma vacina, que aprendi do Partido Social-Democrata Alemão, o SPD, quando Willy Brandt governava: diferenciar o partido, do grupo parlamentar e do governo. Eles não têm que se contaminar entre si. O partido não pode ser a correia de transmissão nem do governo nem do grupo parlamentar. Deve se dedicar a manter sua relação com o movimento social, a visitar os bairros, as universidades… Se você leva todos os quadros do partido para o governo, ou é sinal de que ele cresceu rápido demais ou de que não tem uma base suficiente, ou então porque o partido se encheu de arrivistas, que é um dos problemas do Morena do México [Movimento de Regeneração Nacional, frente de esquerda que conquistou a vitória eleitoral nas últimas eleições mexicanas, celebradas em 1º de julho último].
Mas, ao mesmo tempo, Andrés Manuel López Obrador tem uma vantagem: a partir de 1° de dezembro poderá governar com maioria em ambas as câmaras.
Lênin fez bem ou fez mal quando subiu ao trem em que os alemães o puseram em Zurique, para retornar à Rússia? Os alemães pensavam que Lênin desestabilizaria o governo dos czares, e isso os beneficiaria na guerra. Do ponto de vista de Lênin, a perspectiva era outra: “Sei por que esses canalhas estão fazendo isso, mas são os únicos que podem garantir a minha chegada, e depois eu poderei trabalhar para transformar a Revolução de Fevereiro de 1917 na de Outubro”. Quanto você se arrisca? Não apenas em subir no trem. Quanto você se arrisca ao ir aos estúdios de televisão do inimigo? Quanto você se arrisca entrando em um governo onde você não tem a maioria? Quanto você se arrisca ao apoiar, em sua moção de censura, um partido político que você contesta? Na Espanha, o Ciudadanos não nasceu porque o Partido Popular deixou de ser de direita, mas por conta da corrupção [do PP] e da necessidade de ganhar os votos deles. Mas o Podemos, sim, nasceu porque o PSOE havia deixado de ser de esquerda. Tem gente hoje que diz que só de se aproximar da social-democracia “traidora” você já está perdendo.
Sua aposta é arriscar…
Maquiavel dizia que mais vale agir e se equivocar do que não agir. A única vacina é a deliberação. Antes de decidir se apoiaríamos um governo de Sánchez com Rivera, do PSOE com Ciudadanos, perguntamos às bases. O mesmo aconteceu com a moção de censura. É arriscado, porque às vezes as bases se cansam de opinar. Mas não tem outro modo. E nós estamos indo muito bem com isso. Um momento de debilidade, como você sabe, foi quando Pablo Iglesias e Irene Montera compraram uma casa de campo a 30 quilômetros de Madri, a pagar em 30 anos. Não roubaram nada nem isso foi fruto de alguma propina. Simplesmente são duas pessoas jovens, com planos. Diante do ataque da mídia, perguntamos às bases se, por causa dessa casa de campo, Pablo e Irene deveriam continuar sendo dirigentes do Podemos. A parte mais extremada fez campanha para que fossem embora. Era uma irresponsabilidade suprema. Eu votei para que ficassem. Do contrário, com 30% dos votos a direita continuará governando eternamente. Mas sou consciente do que é trabalhar assim. Só que, nas bases, 200 mil pessoas votaram. É muito. É preciso confiar nas pessoas. É a única maneira que você tem de resistir à mídia, aos partidos, às rádios… O poder não contava com a nossa consulta. Derrubamos eles. A base se tornou corresponsável.
Você concorda com a visão que absolutiza o poder da grande mídia?
Nós a derrotamos várias vezes. Temos marcas entalhadas no revólver de quantas vezes derrotamos o grupo Prisa [N. do T.: proprietário do jornal El País, que faz de conta que é progressista], que é muito arrogante. Esse grupo está acostumado a pôr e tirar ministros e presidentes de governo, e não se deu conta de que nós não nos deixamos ser mandados por ninguém. Nem pelos donos do dinheiro nem pelos seus prepostos, como o grupo Prisa. Construíram uma briga interna onde pretenderam investir o número dois do partido como dirigente natural.
Íñigo Errejón.
Derrotamos essa contenda interna. Os derrotamos com as candidaturas em Madri. E os derrotamos no caso da casa de campo. Somos conscientes do poder. Até nos assustamos, porque nossas bases se nutrem da mídia privada. Uma parte importante dos militantes escuta a cadeia SER e lê o jornal El País. Assim, o risco de que nossos militantes dessem ouvido aos editoriais era alto. Mas nem! Por isso é que insisto que eles não têm todo o poder. A priori tudo indicaria que o que o grupo Prisa dissesse seria aquilo no que os nossos militantes iriam votar. E não foi isso que aconteceu. Poderíamos lembrar da campanha contra Bill Clinton no caso de Monica Lewinsky. Ele tornou a ganhar as eleições. A mídia tem um enorme poder de influência, mas não lhe daremos de presente, de forma prévia e determinista, a capacidade absoluta de determinar para onde vamos. Faço a mesma crítica para a Argentina. As pessoas estão num choro interminável, se queixando de que não podem fazer nada. Esse não é um discurso inteligente, mesmo que se pretenda adorná-lo com sutilezas intelectuais. É um discurso derrotista.
Colunista do jornal Página 12, de Buenos Aires, integrante do Conselho do Instituto Novos Paradigmas