por José Gilbert Arruda Martins
A CNV (A Comissão Nacional
da Verdade) identificou 6.591 militares presos, torturados ou processados pela
Ditadura Militar. De acordo com o relatório, a Aeronáutica é a força que mais
teve militares perseguidos pelo regime: 3.340. Seguida pela Marinha com 2.214;
Exército com 800 e as Polícias Estaduais com 237.
Revista Carta Capital –
Especial 50 Anos do Golpe - Ano: 2014.
Título:
Uma mentira que insiste em sobreviver.
por Pedro Luiz Moreira Lima
(Filho)
Em 1961, com a renúncia de
Jânio Quadros, começaram as prisões em massa.
Uma ação criminosa com oficiais do Exército, policiais e no apoio,
oficias golpistas da Aeronáutica, tentou sequestrar, provocar e matar meu pai
em uma madrugada. (...)
Ali passei a compreender a
palavra “golpe” e a temer seu aterrorizante significado. Tinha na época 13
anos. (...)
O telefone toca. “Coronel
Rui, se apresentar na Terceira Zona Aérea”. Era o arbítrio mostrando sua cara
e, naquele momento, nossa única certeza era a incerteza do futuro. “Meu filho,
você agora é o homem da casa, se comporte, estuda muito, não tenha medo e cuida
de sua mãe e das suas irmãs”. (...)
Nossa casa era
constantemente vigiada. O mês de abril teve um dos mais fortes invernos no Rio
de Janeiro e convivemos com os “James Bonds” do regime disfarçando, com
ridículos jornais e revistas as espionagens. (...)
O terror veio em 1970,
quando fui levado pelo DOI-CODI como refém para prenderem meu pai. Fui solto ao
som dos gritos do meu pai. “Soltem o garoto”. Ele ficou incomunicável por três
dias. Neste período, foi torturado física e mentalmente no Regimento de Cavalaria
Mecanizado em Deodoro. (...)
Hoje, quem rasgou a
Constituição, compactuou com as prisões, perseguições, torturas, estupros,
assassinatos e desaparecimentos, treme e se apavora. Isso fica claro na
destruição de provas, nas recusas de se apresentar nas Comissões da Verdade e
nos recursos à Justiça, coisa que negaram a suas vítimas.
Depois de longos anos abro
as cortinas de minha alma, como estivesse ainda rua Raul Pompéia. Falo, escrevo
e, livre, conto para as futuras gerações que as ditaduras só podem sobreviver e
durar à custa do medo e do terror.
*Pedro Luiz Moreira Lima é
filho do major-brigadeiro do ar Rui Moreira Lima. Veterano da Segunda Guerra
Mundial, o brigadeiro Rui, como era conhecido, foi um dos vários militares
perseguidos por ser contrário ao golpe de 1964. Ele morreu aos 94 anos, em 13
de agosto de 2013.
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