El
País
Eduardo
Bolsonaro se oferece como cruzado pela “extinção da esquerda” na América Latina
Deputado
e filho do presidente eleito organiza Cúpula Conservadora das Américas em Foz
do Iguaçu. Olavo Carvalho, por vídeo, foi uma das estrelas e pregou batalha
anticomunista na educação.
Eduardo
Bolsonaro chega a um hotel de luxo de Foz do Iguaçu (PR) cercado por seguranças
que vestem roupas pretas e cochicham o tempo inteiro por rádios comunicadores.
A
fila eram 60 pessoas pacientemente organizadas ao lado de livros de autores
liberais, como Gilbert Chesterton ou Ludwig Von Misses, e araras com camisetas
com lemas que exaltam o armamento da população (um deles era “Você não vai
combater a violência soltando pombas”).
O
evento só começa depois que termina a fila dos fãs do “chanceler paralelo” do
futuro Governo Bolsonaro - o deputado foi aos EUA se apresentar aos
norte-americanos, não foi acompanhado do futuro ministro das Relações
Exteriores, Ernesto Araújo.
Durante
um dos debates no evento, o ideólogo do bolsonarismo, o escritor Olavo de
Carvalho, afirmou que o país precisava fazer com os esquerdistas "o mesmo
que os espanhóis fizeram com os astecas que viviam na América espanhola".
“A
esquerda deslegitimou a direita. Temos de fazer exatamente a mesma coisa com
eles”, afirmou Carvalho por videoconferência. Enquanto discursava da sua mesa
de trabalho em casa, nos Estados Unidos, o escritor ora dava um trago no seu
cachimbo ora tomava um gole de conhaque em um copinho de cachaça. Disse ainda:
“Temos de perseguir um por um. Sobretudo as empresas de mídia que apoiaram o
Foro de São Paulo”.
Nessa
linha, seguiu o deputado Eduardo: “Temos uma mania de entorpecer,
principalmente através de universidades e escolas, as mentes das pessoas. Para
combater isso, temos de estar nessa batalha cultural”.
A
ideia da cúpula conservadora era, justamente, fazer contraponto ao citado Foro
de São Paulo, a organização esquerdista que teve seu auge, na década de 1990,
reunindo partidos como o PCdoB e o PT.
Na
definição do deputado eleito Luiz Phillipe de Orleans e Bragança (PSL-SP), na
linha de sucessão da extinta monarquia brasileira, o encontro da direita
trata-se de uma manifestação da cidadania, mas que não tinha como objetivo
demonstrar qualquer tentativa de controle cultural, econômico ou midiático para
toda a América Latina. “Não queremos criar um fórum para controlar e dominar a
região. Não é isso. É para se ter um fórum de resgate da cidadania e da
libertação. E para que todos os países tenham orgulho de sua nação.”
O
discurso de que o continente americano precisa conter o comunismo também era
algo constante. O filósofo cubano Orlando Gutiérrez, um dos representantes dos
exilados em Miami, insistiu: “O comunismo é a morte”. Ao passo que o deputado
Eduardo disse que o futuro Governo fará de tudo para restabelecer a liberdade
em Cuba.
Mais
uma vez agindo como se comandasse o Ministério das Relações Exteriores – ainda
que negue com veemência qualquer influência na área – ele também sinalizou ao
representante da oposição venezuelana, Roderick Navarro, do grupo Rumbo
Libertad, que o Brasil trabalharia para romper as relações com o Governo
Nicolás Maduro. “Temos de agir de todas as maneiras para restabelecer a
liberdade no nosso país. Nós, hispânicos, valorizamos a família, as
instituições e a religião. A esquerda é contra tudo isso porque ela prega a
barbárie, não a civilização”, afirmou Navarro, um exilado venezuelano em São
Paulo.
Entre
os 606 espectadores da cúpula (900 a menos do que os que se inscreveram) havia
mais homens que mulheres. Quase não apareceram negros. E o português era o idioma
mais ouvido, apesar de entre os palestrantes haver representantes de diversos
países de língua espanhola. Uma das exceções no público era o advogado
paraguaio Francisco Clerch, um militante do conservador Partido Colorado, que
por décadas governa o Paraguai – com exceção dos anos de Fernando Lugo
(2008-2012). “Estou aqui porque sou contra o aborto, a favor da economia
liberal e preciso saber o que os outros países conservadores como o nosso
pensam”. Jovens com camisetas do Movimento Brasil Livre e outros com bandeira
do Brasil imperial também circulavam pelo hotel.
O
presidente eleito fez uma aparição surpresa por videoconferência e deu o tom
que já era esperado dele. “Ou mudamos o Brasil agora ou o PT volta, mais forte
ainda (...) O que está em jogo não é o sucesso ou o fracasso do Brasil. O que
está em jogo é a nossa liberdade.”
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