domingo, 30 de março de 2014

Karl Marx e o Capitalismo

Karl Marx e o Capitalismo



18/11/2008 - Karen Egas


Filósofo e economista, o judeu-alemão, Karl Marx foi um dos maiores pensadores do século XIX. Marx tinha uma visão otimista dos destinos da humanidade, acreditando ser possível que na batalha final, os operários venceriam os capitalistas por serem maioria na sociedade.

Em 1867 publicou Marx o primeiro volume de sua obra mais importante: O Capital. Marx reuniu documentação imensa para continuar esse volume, mas não chegou a publicá-lo. Os volumes II e III de O Capital foram editados por Engels, em 1885 e em 1894. Outros textos foram publicados por Karl Kautsky como volume IV (1904-10).

O Capital foi a suprema conquista de Marx, o centro da obra de sua vida. Seu objeto era, como Marx colocou no Prefácio ao Volume I, "revelar a lei econômica do movimento da sociedade moderna". Pensadores econômicos anteriores haviam captado um ou outro aspecto do funcionamento do capitalismo. Marx procurou entendê-lo como um todo. Coerente com o método de análise e concepção de história, Marx analisou o capitalismo não como o fim da história, como a forma de sociedade correspondente à natureza humana, mas como um modo de produção historicamente transitório cujas contradições internas o levariam à queda.

O Marxismo é o conjunto de idéias filosóficas, econômicas, políticas e sociais elaboradas primariamente por Karl Marx e Friedrich Engels e desenvolvidas mais tarde por outros seguidores. Interpreta a vida social conforme a dinâmica da luta de classes e prevê a transformação das sociedades de acordo com as leis do desenvolvimento histórico de seu sistema produtivo.

Fruto de décadas de colaboração entre Karl Marx e Friedrich Engels, o marxismo influenciou os mais diversos setores da atividade humana ao longo do século XX, desde a política e a prática sindical até a análise e interpretação de fatos sociais, morais, artísticos, históricos e econômicos. Tornou-se base para as doutrinas oficiais utilizadas nos países socialistas, segundo os autores dessas doutrinas.

No entanto, o marxismo ultrapassou as idéias dos seus precursores, tornando-se uma corrente político-teórica que abrange uma ampla gama de pensadores e militantes, nem sempre coincidentes e assumindo posições teóricas e políticas às vezes antagônicas, tornando-se necessário observar as diversas definições de marxismo e suas diversas tendências, especialmente a social-democracia, o bolchevismo e o comunismo de conselhos

Para Marx, a base de cada sociedade humana é o processo de trabalho, seres humanos cooperando entre si para fazer uso das forças da natureza e, portanto, para satisfazer suas necessidades. O produto do trabalho deve, antes de tudo, responder a algumas necessidades humanas. Deve, em outras palavras, ser útil. Marx chama-o valor de uso. Seu valor se assenta primeiro e principalmente em ser útil para alguém.

A necessidade satisfeita por um valor de uso não precisa ser uma necessidade física. Um livro é um valor de uso, porque pessoas necessitam ler. Igualmente, as necessidades que os valores de uso satisfazem podem ser para alcançar propósitos vis. O fuzil de um assassino ou o cassetete de um policial é um valor de uso tanto quanto uma lata de ervilhas ou o bisturi de um cirurgião.

Sob o capitalismo, todavia, os produtos do trabalho tomam a forma de mercadorias. Uma mercadoria, como assinala Adam Smith, não tem simplesmente um valor de uso. Mercadorias são feitas, não para serem consumidas diretamente, mas para serem vendidas no mercado. São produzidas para serem trocadas. Desse modo cada mercadoria tem um valor de troca, "a relação quantitativa, a proporção na qual valores de uso de um tipo são trocados por valores de uso de um outro tipo". Assim, o valor de troca de uma camisa poderá ser uma centena de lata de ervilhas.

Valores de uso e valores de troca são muito diferentes uns dos outros. Para tomar um exemplo de Adam Smith, o ar é algo de um valor de uso quase infinito aos seres humanos, já que sem ele nós morreríamos, mas que não possui um valor de troca. Os diamantes, por outro lado, são de muito pouca utilidade, mas tem um valor de troca muito elevado.

Mais ainda, um valor de uso tem que satisfazer algumas necessidades humanas específicas. Se você tem fome, um livro não poderá satisfazê-lo. Em contraste, o valor de troca de uma mercadoria é simplesmente o montante pelo qual será trocado por outras mercadorias. Os valores de troca refletem mais o que as mercadorias têm em comum entre si, do que suas qualidades específicas. Um pão pode ser trocado por um abridor de latas, seja diretamente ou por meio de dinheiro, mesmo que suas utilidades sejam muito diferentes. O que é isso que eles têm em comum, que permite a ocorrência dessa troca?

A resposta de Marx é que todas as mercadorias tem um valor, do qual o valor de troca é simplesmente o seu reflexo. Esse valor representa o custo de produção de uma mercadoria à sociedade. Pelo fato de que a força de trabalho é a força motriz da produção, esse custo só pode ser medido pela quantidade de trabalho que foi devotada à mercadoria.

Mas por trabalho Marx não se refere ao tipo particular de trabalho envolvido em, digamos, assar um pão ou manufaturar um abridor de latas. Esse trabalho real, concreto, como disse Marx, é variado e complexo demais para nos fornecer a medida de valor que necessitamos. Para encontrar essa medida nós devemos abstrair o trabalho de sua forma concreta. Marx escreve: "Portanto, um valor de uso ou um bem possui valor, apenas, porque nele está objetivado ou materializado trabalho humano abstrato".

Marx não estava interessado especificamente em preços de mercado. Sua meta era entender o capitalismo como uma forma de sociedade historicamente específica, descobrir o que faz o capitalismo diferente das formas anteriores de sociedade, e que contradições levariam à sua futura transformação. Marx não queria saber em que medida o trabalho formava o valor de troca das mercadorias, mas em que forma o trabalho realizava essa função e porque sob o capitalismo a produção era de mercadorias para o mercado e não de produtos para uso direto como nas sociedades anteriores.

O que faz o valor de uma mercadoria? Eis uma pergunta que instigou os economistas da Escola Clássica e que levou Marx a desenvolver o conceito da “mais-valia”, que é descrita por Paul Singer no excerto abaixo:

“Marx repensa o problema nos seguintes termos: cada capitalista divide seu capital em duas partes, uma para adquirir insumos (máquinas, matérias-primas) e outra para comprar força de trabalho; a primeira, chamada capital constante, somente transfere o seu valor ao produto final; a segunda, chamada capital variável, ao utilizar o trabalho dos assalariados, adiciona um valor novo ao produto final. É este valor adicionado, que é maior que o capital variável (daí o nome "variável": ele se expande no processo de produção), que é repartido entre capitalista e trabalhador. O capitalista entrega ao trabalhador uma parte do valor que este último produziu, sob forma de salário, e se apropria do restante sob a forma de mais-valia”.

Na verdade, o trabalhador produz mais do que foi calculado, ou seja, a força de trabalho cria um valor superior ao estipulado inicialmente. Esse trabalho excedente não é pago ao trabalhador e serve para aumentar cada vez mais o capital. Insere-se neste ponto a questão da alienação - o produtor não se reconhece no que produz; o produto surge como um poder separado do produtor. O produto surge então como algo separado, como uma realidade soberana – o fetichismo da mercadoria. Mas o que faz com que o homem não perceba? A resposta, de acordo com Marx, está na ideologia dominante, que procura sempre retardar e disfarçar as contradições politicamente. Portanto, a luta de classes só pode ter como objetivo a supressão dessa extorsão e a instituição de uma sociedade na qual os produtores seriam senhores de sua produção.



Bibliografia
GUZZO, Maria Auxiliadora. Enciclopédia do estudante: história geral. São Paulo: Moderna, 2008

Enciclopédia Barsa, volume 5. Encyclopedia Britannica Editares Ltda. Rio de Janeiro : Melhoramentos,1964, p.257-259

Enciclopédia Barsa, volume 9. Encyclopedia Britannica Editares Ltda. Rio de Janeiro : Melhoramentos,1964, p.64

O Ciclo do Capitalismo. Por Janisson Nascimento. Publicado em: julho 07, 2007. Disponível em: Acessado em 15.09.2008

O que é Capitalismo? Fonte: Colégio Santo Agostinho – RJ. Publicado em 25/12/2007. Disponível em Acessado em 15.09.2008

O Capital, por Mansoe, Publicado em: janeiro 05, 2007. Disponível em . Acessado em 24.09.2008.

Capitalismo. Wikipédia, a enciclopédia livre. Publicado em setembro 23, 2008. Disponivel em Acessado em 24.09.2008

Mundo Vestibular. Capitalismo, Segunda Parte. Disponível em: Acessado em 25.09.2008


sábado, 29 de março de 2014

FHC e PSDB cada vez mais à direita


FHC e PSDB cada vez mais à direita



Autor: José Gilbert Arruda Martins
Professor de História

A morte da ex-primeira ministra Tchacher da Inglaterra em abril de 2013, fez lembrarmos que a "dama de ferro" era de ferro porque entre outras coisas, perseguiu violentamente os Sindicatos de Trabalhadores, além de engrossar as fileiras de empobrecidos da Grã-Bretanha com sua política fortemente neoliberal, uma coisa, no entanto chamava a atenção de todos, a ex-primeira ministra deixava claro de que lado ela estava, era conhecida por todos como uma política de direita que sempre defendeu os interesses dos mais ricos.

Aqui no Brasil, FHC e o PSDB deveriam assumir suas posições e abandonar essa perversa visão de se dizer de esquerda. Essa atitude engana os incautos e ingênuos de esquerda e de direita também, e claro, os eleitores desavisados.

FHC, aproveitando o momento de alta da inflação no país, lança críticas fortíssimas contra o governo, se o leitor pegar a Veja e acompanhar os noticiários da Globo, verá uma grande "coincidência" entre as notícias veiculadas por esses órgãos da imprensa e o texto do ex-presidente.

FHC perdeu ao longo dos últimos anos seu jeito e orientação dito progressista e passou, agora na oposição, a tecer criticas, muitas vezes contraditórias aos adversários e não consegue esconder seu perfil direitista.

O PSDB no governo, não só desmontou o Estado brasileiro com as privatizações, mas tentou também criar uma rede de proteção social aos mais desfavorecidos que, devido à desorganização e à falta de direcionamento, não funcionou, foi, por isso substituído pelo programa Bolsa Família, portanto, FHC fez coisas altamente negativas e algumas ações positivas também, tomou medidas boas na área da macro-economia, só que, seu perfil e o perfil do seu governo era neoliberal e de direita, isso precisa ser esclarecido.

Assumir que é de direita, não é o fim do mundo, FHC e o PSDB ajudariam muito mais a política brasileira se fizessem isso. Dariam à direita brasileira, talvez, um pouco de ideologia, talvez, até mais consistência ideológica.

FHC e o PSDB deveriam dizer e mostrar a quem e o quê defendem, deveriam ter a decência política de assumir o palanque dos Partido Político Democratas, antiga UDN, ARENA, PFL e firmar posição mais clara na direita brasileira, com certeza essa atitude seria saudável, nossa estrutura político-partidária daria um salto de qualidade, não teríamos mais PT contra PSDB apenas, teríamos sim, esquerda e direita, debatendo e discutindo projetos e programas para o Brasil.



Autor: José Gilbert Arruda Martins (Betinho do “seu” Amadeu)
Professor de História de escola Pública em Brasília-DF
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50 anos do Golpe

O inaceitável risco da igualdade

Quando se delineia, mesmo ao longe, a chance da demolição da casa-grande e da senzala, a vocação golpista dos privilegiados se estabelece
por Mino Carta — publicado 28/03/2014 06:26, última modificação 28/03/2014 16:37
EXTRAÍDO DO SITE DA REVISTA CARTA CAPITAL DIA 29/03/2014


Faz pouco tempo, a chamavam Revolução, com r grande, e ainda há quem assim a chame. O Brasil inovou ao batizar desta forma um golpe de Estado. O ex-ministro do STF e presidente da Câmara durante o “mandato” do ditador Ernesto Geisel, Célio Borja, em entrevista à Folha de S.Paulo, sustenta hoje, aos 85 anos, que a partir de 1º de abril de 1964 o Brasil teve “um regime de plenos poderes”. Não sei como o ilustre jurista definiria ditadura. Primeiro de abril, disse eu, mas se o golpe se deu nesse dia, ou em 31 de março, tanto faz. De todo modo não ocorreu de mentirinha. Mentiras monumentais houve para justificá-lo, e algumas continuam a ser proferidas.
Como Moniz Bandeira logo adiante escreve, o governo dos Estados Unidos teceu, de caso pensado ou de crença própria (de americanos tudo cabe esperar), um magistral enredo de pura ficção para mobilizar, debaixo de sua bandeira, diplomatas, espiões, mestres em tortura, tropa e até um porta-aviões. Segundo os ficcionistas de Washington, o Brasil preparava-se para enfrentar uma guerra civil, provocada pela insurgência de comunistas de inspiração cubana, como se sabe canibais de criancinhas. Os reacionários nativos, instalados solidamente na casa-grande, engoliram mais um best seller ianque, e lhe acrescentaram capítulos decisivos, com a colaboração dos editorialistas dos jornalões.
Soprava o entrecho que a subversão ensaiava sua marcha e a intervenção militar era recomendada, ou melhor, indispensável. A invocação prolongou-se in crescendo desde o instante em que o vice-presidente João Goulart assumiu o posto abandonado por Jânio Quadros, o tragicômico homem da renúncia, antes contida enquanto durou o imbróglio parlamentarista, enfim em tons de desespero quando Jango mandou às favas o sistema de governo inventado para cerceá-lo e retornou ao presidencialismo. A história prova que Goulart era um democrata sincero, nenhuma das suas atitudes, do começo ao fim do mandato constitucional, demonstra o contrário. Quanto à marcha da subversão, nunca a vi passar.
Outra marcha desfilou diante dos meus olhos estupefactos, a “da família, com deus e pela liberdade”. Dirigia então a redação de Quatro Rodas, instalada na capital paulista em um prédio da Rua João Adolfo, esquina da Avenida 9 de Julho. Na tarde do 19 de março de 1964, dia de São José, o resignado padroeiro da família, deixei a redação e andei não mais que 500 metros para alcançar a esquina da Rua Marconi com Barão de Itapetininga, onde estacionei para assistir ao desfile.
Vinham na frente os sócios do Harmonia, clube mais elegante de São Paulo, acompanhados por seus fâmulos, mucamas, aias, capatazes, colonos, jardineiros, motoristas, cocheiros, massagistas, pedicuros, manicures etc. etc. Em seguida trafegaram os sócios do Clube Paulistano (sinto por eles, menos faustosos que o Harmonia), também seguidos por seus serviçais, em número menor e mesmo assim expressivo. Depois passaram os demais, em ordem decrescente, ditada ou pelo clube frequentado, ou pelo bairro da residência. Na rabeira, os remediados, irrefreáveis aspirantes a inquilinos da casa-grande. Sobrevoava o cortejo o governador Adhemar de Barros, de helicóptero em voo quase rasante, desfiava o rosário guardado na algibeira do colete.
A “marcha da família”, capaz de incomodar o Altíssimo e negar a liberdade que diziam defender, revela a verdadeira natureza do golpe de Estado que precipitou a ditadura. A qual é, ou não é. Como a de Hitler, de Mussolini, de Stalin. E não excluamos Franco, ou Salazar, e os fardados de quepe descomunal em toda a América Latina. No caso de Fidel Castro, é natural que tenha merecido uma avaliação especial por parte de quem viveu a condição de relegado ao quintal dos Estados Unidos. De minha parte, confesso, não me agradam personagens que atravessam a vida de uniforme.
Irrita, de todo modo, que seja comum ler ou ouvir a referência à ditadura militar brasileira. Quiséssemos ser precisos, afirmaríamos ditadura civil e militar. A bem da verdade factual, há de se reconhecer que nos começos de 1964 não seria missão impossível atiçar os nossos fardados, e na tarefa o governo americano, e os privilegiados do Brasil, por meio dos seus porta-vozes midiáticos, saíram-se à perfeição. A tal ponto que eles próprios, jornalistas inclusive, acabaram por acreditar no enredo criado em Washington, pelo qual a guerra civil batia às portas. Houve até civis graúdos que estocaram armas nos porões e nas adegas.
Calibrados para a intervenção, os militares cumpriram o seu papel de gendarmes da casa-grande, de exército de ocupação, e com notável aparato partiram para a refrega de fato impossível. A renúncia de Jânio Quadros deveria ter sido lição profícua. Este sim, ao contrário de Jango, pretendia provocar a reação popular e errou dramaticamente. No mesmo dia, o Santos jogava em terra estrangeira e o povo comprimia-se nos bares para ouvir a irradiação. Reação houve, delirante, aos gols de Pelé.
A 1º de abril, ou 31 de março, que seja, vieram os blindados e os canhões, Carlos Lacerda armou-se de fuzil e fez do Catete uma trincheira. O golpe se deu, porém, com a imponência de um corriqueiro desfile de 7 de setembro. Houve um ou outro episódio de violência aqui e acolá, enfrentamento nunca. As calçadas não ficaram manchadas de sangue. Os militares executaram o serviço sujo com a eficácia e o risco de quem vai à guerra sem inimigo. Do outro lado, havia idealistas, sonhadores, nacionalistas, esperançosos de um futuro melhor para um país que amadurecia lentamente demais para a contemporaneidade do mundo.
Brasil padeceu de várias desgraças ao longo de cinco séculos. A colonização predatória, a matança dos aborígenes, três séculos e meio de escravidão, uma independência sem sangue, uma proclamação da República perpetrada por obra de um golpe de Estado militar, a indicar o caminho convidativo daí para a frente. O entrecho de desgraças, entre elas a carga mais deletéria representada pela escravidão, cujos efeitos permanecem até hoje, influenciou profundamente a história do século passado. Dominada em boa parte por Getúlio Vargas, um estadista, decerto, ao pensar um Brasil moderno, e também ditador no primeiro período da sua atuação, o que não depõe a favor.
golpe de 1964, reforçado na sua essência daninha pelo golpe dentro do golpe de 1968, uma vez imposto o Ato Institucional nº 5, é a última das desgraças. A mais recente, e de repercussões duradouras. Leiam, por exemplo, o texto de Vladimir Safatle, mais adiante. A derrubada de Goulart assinala o enterro de um processo que levaria o Brasil bem mais longe do que se encontra hoje. Não imagino, está claro, a chegada da marcha da subversão para impor uma ditadura também, embora de esquerda, mesmo porque as lideranças disponíveis, os cassados daquele momento, estavam longe de mirar neste alvo. Digo lideranças como o próprio Jango, Brizola, nem se fale de Juscelino.
Mudanças sensíveis se dariam aos poucos, caso não ocorresse uma reviravolta armada, no espaço de uma ou mesmo duas décadas, a partir das chamadas reformas de base, encabeçadas pela reforma agrária, indispensável em um país em que 1% da população é dona de cerca de 50% das terras férteis. As circunstâncias favoreceriam o surgimento de partidos autênticos em lugar de clubes recreativos de uns poucos sócios, a representarem, quase todos, os interesses do privilégio. Baseado no parque industrial paulista, o mais desenvolvido de todo o Hemisfério Sul, brotaria um proletariado consciente da importância e da força do seu papel, e portanto sindicatos dignos deste nome.
O golpe de 1964 aconteceu exatamente por causa da perspectiva renovadora que apavorava os senhores. Chega a ser ridículo invocar a ameaça da guerra civil, como alega Célio Borja na entrevista à Folha de S.Paulo, e como alegam muitos outros como ele, convictos de que é da conveniência do Brasil ser satélite de Tio Sam, bem como manter de pé a casa-grande e a senzala, da qual vale convocar eventuais marchadores. Os senhores escravocratas do século XXI ainda se movem ao sabor das crenças de 50 anos atrás (ou de 500?), certos do velho axioma, melhor prevenir do que remediar. Daí a oposição sistemática aos governos Lula e Dilma. Aquele já fez alguns estragos, esta é sua criatura, donde para ela a berlinda é automática.
Sempre que ouço pronunciar a palavra redemocratização padeço de um sobressalto entre o fígado e a alma. É justa e confiável a democracia em um país que ocupa o quarto lugar na classificação dos mais desiguais do mundo? Os senhores do privilégio querem é uma democracia sem povo e um capitalismo sem risco. De qualquer forma, à democracia não basta promover eleições periódicas, mas algo é mais grave, nesta instância do pós-ditadura: o espírito golpista ainda lateja nas entranhas da sociedade, como vocação inapagada e impulso natural.
De um lado há a fé em um recurso extremo, porém disponível ad aeternitatem, como aspiração latente em caso de necessidade. Do outro lado, o medo, enraizado nos demais, mal acostumados. Raros os brasileiros que, ao se arriscarem a vislumbrar a possibilidade de uma situação de agitação social, não temam a solução golpista. Há quem suponha que, a esta altura, exageram em temores. Há também quem sustente que basta pensar para tornar o pior admissível.
Agrada-me relembrar Raymundo Faoro, que sustentava a competência da direita, tranquila vencedora em 1964. A respeito discutíamos. Na minha opinião, o nível da competência é determinado pela qualidade do adversário. O que me impressiona, isto sim, é a ausência de adversários à altura desta direita tão, como direi, medieval, responsável pelo brutal oximoro: um país grande por natureza e forte por vocação se vê tolhido por uma elite prepotente, arrogante e ignorante. Deste ponto de vista, a ditadura brasileira tem, aquém ou além da tragédia, ou a despeito da tragédia, um aspecto patético. Quantos perseguiu e até matou e agora são, ou seriam, tucanos convictos, inequivocamente bandeados para a reação?
Com a premissa de que o acaso é entidade insondável, faltou uma esquerda capaz de acuar os donos do poder, como se deu em muitos outros países habilitados à democracia e à civilidade. Para ser de esquerda atualmente é suficiente empenhar-se a favor da igualdade, conforme recomenda Norberto Bobbio, cujo ensaio a respeito Fernando Henrique leu sem proveito algum. Nesta quadra, pretensamente de redemocratização ou, pelo menos, de democratização, o Brasil não conta, na quantidade necessária, com batalhadores da igualdade. Salvo melhor juízo.

A falácia das Elites sobre a importância da Educação


A falácia das elites sobre a importância da Educação

Por: José Gilbert Arruda Martins (Betinho do “seu” Amadeu)*

LUTA...MUITA LUTA. O governo Agnelo, do Partido dos Trabalhadores aqui em Brasília-DF, relutou em sentar e negociar, os professores e professoras tiveram que fazer no ano passado, uma greve de 52 dias, mas conseguiram agora no início de abril/2013, um acordo provisório; provisório por que a conquista não foi satisfatória, não foi alcançado a tão sonhada isonomia, mas o governo sinaliza com uma minúscula preocupação com a Educação. E em São Paulo? Geraldo Alckmin do PSDB precisa sentar para negociar, não é de bom alvitre tratar os professores e a educação dessa forma.
O país está cansado dessa “lenga...lenga” que defende a educação como ferramenta importante para o desenvolvimento da nação. Os professores, professoras, pais, mães, alunos e alunas aguardam há mais de um século para que os governos adotem um projeto de desenvolvimento que leve em conta de forma verdadeira a Educação, por enquanto não passou de discurso vazio para ganhar eleição.
Importantes lutas foram travadas ao longo do século passado, intelectuais, professores e professoras foram às ruas numa batalha incansável pela transformação da educação brasileira, mas, nada concretamente, foi feito.
Perdemos tempo, muito tempo. Com o desenvolvimento industrial dos anos 1940 aos dias atuais a preocupação parece ter sido apenas no sentido de preparar mão de obra e, nem isso o país conseguiu conquistar e só ver a dificuldade que temos em alocar especialistas em várias áreas da economia e nas empresas.
Estamos perdendo tempo, muito tempo. O Estado brasileiro, nos últimos decênios privilegiou uma educação escolar elitista e excludente, o sistema de organização da educação escolar, até os anos 2000 era desconectada, não havia uma relação estreita entre o Ensino Infantil, Fundamental, Médio e Superior, só nos últimos anos o governo iniciou uma reestruturação dessa importante máquina e deu sentido de continuidade e integração mas, ainda é muito pouco.
Estamos perdendo tempo, muito tempo. Em Brasília, Distrito Federal, o governo paga aos professores e professoras remuneração aquém da remuneração dos funcionários do mesmo governo que possuem graduação em nível superior, esse fato, que acontece praticamente em todo o território nacional, afasta os jovens das Licenciaturas, para eles, jovens, além de ser uma profissão difícil, é mal remunerada e, parecesse que perdeu sua luz, sua importância.
Estamos perdendo tempo, muito tempo. Em Brasília, Distrito Federal, cidade sede, cidade administrativa, um professor de contrato temporário 40 horas recebe uma remuneração de cerca de R$ 4 mil, um médico, recém-formado com contrato temporário de 40 horas – sem querer retirar a importância do médico, que também precisa e deve receber remuneração à altura – recebe um salário, segundo as últimas notícias, de R$ 10 mil. Para que estudar tantos anos para ser professor? Fica a pergunta.
Por todo o exposto, e as perguntas sem respostas, fica uma certeza, a distância entre o discurso e a prática governamental é de anos-luz.



*Professor de História de Escola Pública em Brasília-DF.

terça-feira, 25 de março de 2014

Para Conhecer e Não Esquecer o Golpe civil-Militar


Ivan Seixas no antigo prédio do DOI-Codi. Ele acompanhou o assassinato do pai


Especial - 50 anos do golpe
Um golpe contra o Brasil
O objetivo da ditadura era implantar um projeto econômico e social cujo alvo eram os trabalhadores, escreve Ivan Seixas
por Ivan Seixas — publicado 25/03/2014
 Extraído do site da revista Carta Capital dia 25/03/2014
Engana-se quem acha que a ditadura foi implantada , em abril de 1964, com uma quartelada ou alguma ação improvisada de militares furiosos. Foi um golpe de Estado anticomunista, antioperário e antinacional, dentro da histeria da Guerra Fria, em uma agressão escancarada para impor um minucioso projeto econômico e social desenvolvido segundo os interesses do capitalismo estrangeiro e seus aliados nacionais.
Para impor esse projeto econômico e social era necessário impor o arrocho salarial e medidas impopulares sem precedentes. E para que isso se efetivasse era necessário o terrorismo de Estado e a cumplicidade e cooperação do empresariado nacional. A grande maioria dos sindicatos de trabalhadores sofreu intervenção, que passaram a ser dirigidos por gente de confiança da ditadura e dos patrões. Para garantir a repressão, uma extensa rede de repressão se instala desde os primeiros momentos da ditadura sob o comando do temido SNI - Serviço Nacional de Informações, complementada por agentes de repressão particular dentro das fábricas, contratados pelos empresários. Essa cooperação é prevista no organograma do SISNI – Sistema Nacional de Informações, que destaca as “Comunidades Complementares” com os convênios com “Entidades privadas conveniadas”.
Toda essa rede de arapongas a serviço do empresariado foi detectada pela Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, de São Paulo, com base em documentos oficiais do SNI, guardados no Arquivo Nacional. Do mesmo modo, o Arquivo do Estado de São Paulo guarda documentos que mostram que as empresas entregavam as fichas funcionais de seus empregados ao DOPS – Departamento de Ordem Política e Social para que fossem perseguidos pela temida repressão política e essa perseguição servir de desculpas para demitir e colocar o nome do perseguido nas “listas negras” daqueles que não poderiam conseguir emprego mais. Suas famílias passavam fome e os empresários impunham assim o medo da demissão e a submissão dos trabalhadores dentro do projeto implantado em abril de 1964.
A Comissão Estadual descobriu também os livros de entrada e saída no DOPS. Não o livro de entrada de presos, mas o de visitantes do departamento. Sem nenhuma dúvida, o visitante mais constante era um funcionário da FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Geraldo Resende de Mattos, homem de confiança do chefe da entidade patronal. Suas visitas nem sempre têm registrado o horário de saída. Numa dessas vezes, a entrada foi pouco antes das seis da tarde e sua saída se dá no dia seguinte quase sete horas da manhã. Óbvio que o funcionário da FIESP ia lá organizar a repressão ao movimento sindical já amordaçado, reprimido e duramente perseguido. Mais uma vez o projeto econômico e social implantado em 1964 era garantido pela repressão política da ditadura sem nenhum disfarce, bem longe da civilidade ou legalidade.
Outro que visitava muito aquele órgão de repressão, tortura e extermínio e opositores à ditadura militar era Claris Halliwell, graduado membro do consulado geral dos EUA, que entrava e saía com muita frequência e também não tinha horário de saída registrado ou só saía no dia seguinte. Em geral, sua presença lá coincidia com os dias em que aconteciam terríveis sessões de tortura a membros da resistência ao estado de terror imperante. Sua entrada acontecia junto com conhecidos torturadores do DOI-CODI de São Paulo como o tenebroso Capitão Ênio Pimentel Silveira, notório torturador e assassino de presos políticos. A entrada dos dois indica que participavam das sessões de torturas, como é o caso do dirigente do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), Devanir José de Carvalho, Comandante Henrique, barbarizado por quase três dias seguidos e assassinado ao fim dessa jornada.
Torturas, assassinatos e desaparecimentos de opositores militantes de organizações revolucionárias de luta armada aconteciam no mesmo lugar e com a mesma atenção que a repressão ao movimento sindical e de trabalhadores em geral. A ligação que há entre Mister Halliwell e Geraldo Resende de Mattos é o projeto econômico e social implantado em 1964, com orientação, apoio e acompanhamento do governo americano ao Estado usurpado pelos golpistas civis e militares, que se perpetuaram por longos 21 anos seguidos no poder. Causaram danos em, pelo menos, três gerações de brasileiros e estão impunes até hoje.
Nesse momento em que se marcam os cinquenta anos do assalto ao poder por gente que não tinha compromisso com a democracia e menos ainda com o País, devemos refletir o que se pode fazer para o Brasil continuar e aperfeiçoar suas instituições. Cometeram crimes de lesa-humanidade e também crimes de lesa-pátria, pois causaram danos ao povo trabalhador, aos jovens, à cultura nacional, à economia nacional e às instituições nacionais. E continuam impunes. As mortes são imperdoáveis, mas o que se pode dizer da fome causada aos trabalhadores colocados nas chamadas “listas negras”? Não eram “apenas” os trabalhadores, mas todos os componentes de suas famílias. Danos morais, políticos e econômicos em mulheres, crianças e idosos. Não há como perdoar. Tudo cometido em nome de um maldito projeto econômico e social de uma potência estrangeira.
*Ivan Seixas, ex-militante do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), foi torturado ao lado do pai, assassinado pelo regime. Hoje Seixas preside o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana. Seu relato faz parte da série de 50 depoimentos coletados para o especial Ecos da Ditadura, sobre os 50 anos do golpe civil-militar de 1964

sexta-feira, 21 de março de 2014

PIG Partido da Imprensa Golpista


Você sabe o que é o PIG - Partido da Imprensa Golpista?

Você sabia que a "grande" mídia no Brasil é dominada por cerca de 5 famílias?
Você sabia que é manipulado diariamente por essa mídia golpista?
Leia abaixo o texto extraído da Wikipédia e entenda mais, muito mais.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

http://bits.wikimedia.org/static-1.23wmf17/skins/common/images/magnify-clip.png
Partido da Imprensa Golpista, charge de Carlos Latuff.
Partido da Imprensa Golpista (comumente abreviado para PIG ou PiG) é uma expressão usada por órgãos de imprensa e blogspolíticos de orientação de esquerda para se referir a órgãos de imprensa e jornalistas por eles considerados tendenciosos, que se utilizariam do que chamam grande mídia como meio de propagar suas ideias e tentar desestabilizar governos de orientação políticacontrária.1
Uso do termo
A expressão foi popularizada pelo jornalista Paulo Henrique Amorim em seu blog Conversa Afiada, mas, segundo ele, foi inspirada em um discurso do deputado petista Fernando Ferro.2 Amorim, quando utiliza o termo, escreve com um i minúsculo, em alusão ao portal iG, do qual foi demitido em 18 de março de 2008, no que descreve como um processo de "limpeza ideológica". De acordo com ele, até políticos teriam passado a fazer parte do PIG: "O partido deixou de ser um instrumento de golpe para se tornar o próprio golpe. Com o discurso de jornalismo objetivo, fazem o trabalho não de imprensa que omite; mas que mente, deforma e frauda.3
O termo também é utilizado pelos jornalistas Luiz Carlos Azenha e Rodrigo Vianna em seus blogs, em referência a eventos ocorridos no Brasil e no exterior.4 5 De maneira geral, hoje a expressão é bastante usada em parte dos sites e blogs de esquerda no Brasil.6
O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva dá respaldo à ideia contida no termo quando reclama: "Quem faz oposição nesse país é determinado tipo de imprensa. Ahhh, como inventam coisa contra o Lula. Se eu dependesse deles para ter 80% de aprovação, teria zero."7
Definição e contextualização
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Protesto contra o jornal Folha de S. Paulo, realizado em 2009.
O termo é utilizado para se referir à qualidade do jornalismo praticado pelos grandes veículos de comunicação do Brasil, que seria, segundo seus criadores e utilizadores, demasiadamente conservador e que teria o intuito de prejudicar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e membros de seu governo de forma constante.
De acordo com Amorim, o termo PIG pode ser definido da seguinte forma:
Em nenhuma democracia séria do mundo jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político — o PiG, Partido da Imprensa Golpista8
—Paulo Henrique Amorim
Amorim afirma ainda que a imprensa brasileira seria golpista sempre que o presidente da república é de origem trabalhista, ao mesmo tempo a imprensa nunca publicaria absolutamente nada contra presidentes de origem não trabalhista. O PIG, segundo ele, teria sua origem com Carlos Lacerda, que ajudou a "matar Getúlio Vargas"; teria continuado travando sua luta contraJuscelino Kubitschek e João Goulart, até se aliar à ditadura militar; teria perseguido o governo Brizola; e agora conspiraria contra o governo Lula.3
O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos declarou, em entrevista à revista Carta Capital em 2005: "A grande imprensa levou Getúlio ao suicídio com base em nada; quase impediu Juscelino de tomar posse, com base em nada; levou Jânio à renúncia, aproveitando-se da maluquice dele, com base em nada; a tentativa de impedir a posse de Goulart com base em nada."9 . Na opinião de Santos o papel da imprensa livre é o de "tomar conta, sim. Desestabilizar, não. A estabilidade não pode depender de militar, nem da Igreja, nem da imprensa".9 .
A expressão também fez parte de um discurso do deputado federal pernambucano Fernando Ferro, do Partido dos Trabalhadores (PT), em que sugeriu que Arnaldo Jaborassumisse o cargo de presidente do PIG.10
Na opinião de Marcus Figueiredo, cientista político ligado ao Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) os grandes jornais de circulação nacional do Brasil "adotam um híbrido entre dois modelos de pluralismo: formalmente, no discurso ético de autoqualificação diante dos leitores, procuram associar-se aos conceitos e rituais de objetividade do jornalismo americano, como é possível constatar nos slogans, diretrizes oficiais, manuais de redação, cursos de jornalismo. No entanto, na produção do impresso diário, o que vimos são diferenças no tratamento conferido aos candidatos, de amplificação de certos temas negativamente associados a Lula, contraposto à benevolência no tratamento de temas espinhosos relacionados aos seus adversários".11
O jornalista Maurício Dias, colunista de Carta Capital, expressa opinião semelhante ao dizer, traçando um paralelo entre a grande imprensa brasileira e a FOX News (acusada pela diretora de Comunicações da Casa Branca de operar "como um setor de comunicações do Partido Republicano") que a mídia brasileira é dirigida por uma única orientação: "o candidato do PT não pode vencer".11
Críticas semelhantes foram feitas pelo jornalista Mário Prata em entrevista ao Diário de Natal:
"A imprensa brasileira está podre. Os grandes jornais, as coisas que são consideradas grande imprensa no Brasil, como Folha de S. Paulo, Globo, Estadão, Jornal Nacional, Veja, para mim são piadas. Todos esses que eu citei têm ódio do Lula, é um ódio doentio, é uma coisa que me dá medo. Outro dia peguei o Estadão e tinha oito chamadas na capa falando mal do governo, algumas coisas que ocorreram há sete anos. Meu filho casou-se agora com uma repórter da editoria de política do Estadão, e o Serra ligou para ela antes do casamento. "Julia, eu soube que você vai se casar, mas você não vai ter lua de mel, né? Você não pode ter lua de mel agora." Por aí você vê como Serra está dentro do jornal."12
Em entrevista concedida ao portal TerraCláudio Lembo, vice-governador de São Paulo eleito pela coligação PSDB-DEM e governador desse estado entre março e dezembro de 2006 (após a renúncia de Geraldo Alckmin para concorrer à presidência), também criticou o engajamento político da imprensa no contexto da eleição presidencial brasileira de 2010:
"A mídia está engajada, tem um candidato que é o Serra e com isso se perdeu o equilíbrio, vem o desequilíbrio, é desse embate que nasce a intranquilidade... mas ela é transitória. Havendo só um grande vencedor no pleito, que é o movimento social, e estando a mídia engajada como que está... disso nasce essa intranquilidade."13
Em 30 de setembro de 2010 o periódico francês Courrier International publicou uma matéria sob o título "Une presse très remontée contre Lula", em que opina que o presidente Lula enfrentaria uma oposição por parte da imprensa liderada por quatro grupos: Folha de S. Paulo, Grupo Abril, O Globo e O Estado de S. Paulo.14 No artigo, o autor Paul Jürgens chega a acusar o tom da oposição de caricatural.
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Levantamento nos três jornais mais vendidos do Brasil, de 28/8 a 27/9.15 Realizado por um portal de esquerda, estudo concluiu que: das 90 capas publicadas, 61 eram negativas para candidatura presidencial do PT, enquanto apenas 3 eram positivas.
O portal de orientação de esquerda Brasil de Fato realizou um levantamento sobre o comportamento dos três jornais de maior circulação no Brasil ante a campanha de Dilma Rousseff, candidata do PT para a Presidência da República em 2010.15 O estudo foi feito a partir das manchetes de primeira página publicadas em 30 dias que antecederam a votação de primeiro turno, (entre os dias 28 de agosto e 27 de setembro). Constatou-se que a maior parte dos temas abordados foram ligados às eleições, com a grande maioria das manchetes adotando um enfoque desfavorável para a candidata do PT.
No período analisado, O Globo não teria publicado nenhuma manchete positiva à candidata do PT, contra 21 manchetes negativas. Foram ainda três neutras e seis tratando de outros assuntos, como Economia ou Internacional. Já a Folha de S. Paulo teria veiculado duas manchetes positivas à campanha petista ("Lula vai à TV e afirma que Serra partiu para baixaria", no dia 8, e "Desemprego é o menor, e renda é a maior em 8 anos", no dia 24). No entanto, foram dezoito manchetes negativas, além de uma neutra e nove sobre temas diversos. O Estado de S. Paulo, (único dos três a declarar, em editorial, apoio ao candidato José Serra), teria sido o campeão em negativas com relação a Dilma: foram 22 capas negativas em apenas um mês. O Estado trouxe uma manchete positiva à petista ("Inquérito da PF esvazia tese de crime político na receita", no dia 16), três neutras e quatro abordando outros assuntos.
Após relutar em aceitar a ideia de termos como o "PIG",16 o jornalista Luís Nassif hoje defende que parte da mídia brasileira vem atuando, sim, de forma a alcançar o protagonismo político-partidário. Nassif enxerga essa atuação política mais incisiva como parte de uma tendência mundial, iniciada por Rupert Murdoch, fundador da emissora americana FOX News. O jornalista afirma que, no Brasil, esse movimento se manifestou num pacto entre quatro grandes grupos de mídia para fazer oposição ao governo trabalhista do PT. Para Nassif, são esses quatro conglomerados - Globo, Abril, Estadão e Folha – que vêm comandando a oposição política brasileira de 2005 até hoje.17 18
Ato "Em defesa da democracia e contra o golpismo midiático"
Em 23 de setembro de 2010 representantes de partidos políticos e entidades de esquerda fizeram, em São Paulo, um ato intitulado "Em defesa da democracia e contra o golpismo midiático". Nessa ocasião, o presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Altamiro Borges, leu o documento "Pela ampla liberdade de expressão", em que defende a mídia alternativa e propõe solicitar a abertura dos contratos e contas de publicidade de grandes empresas de comunicação.
O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo e secretário-geral da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), José Augusto Camargo, também leu uma nota, intitulada "Em defesa dos jornalistas, da ética e do direito à informação".
Distorcer, selecionar, divulgar opiniões como se fossem fatos não é exercer o jornalismo, mas, sim, manipular o noticiário cotidiano segundo interesses outros que não os de informar com veracidade. Se esses recursos são usados para influenciar ou determinar o resultado de uma eleição configura-se golpe com o objetivo de interferir na vontade popular. Não se trata aqui do uso da força, mas sim de técnicas de manipulação da opinião pública. Neste contexto, o uso do conceito “golpe midiático” é perfeitamente compreensível.
—José Augusto Camargo.19
Composição
Conforme a opinião daqueles que se utilizam do termo, seriam três as famílias que manipulariam a opinião pública, dominariam e condicionariam o noticiário de todo o país, através dos seus órgãos de imprensa: os Marinho (Organizações Globo), os Frias (Grupo Folha) e os Mesquita (Grupo Estado).3 . Estas três famílias controlam alguns dos principais orgãos da impressa no Brasil, tais como os jornais O GloboFolha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo, e o portal UOL. Também são incluídos os Civita (Grupo Abril), que publicam a revista Veja. Paulo Henrique Amorim também limitou a esses quatro grupos a composição do "PIG" em entrevista à revista Imprensa em junho de 2011.2
Em artigo de março de 2010, o jornalista Gilberto Maringoni, colaborador da agência de esquerda Carta Maior, sugeriu que o Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, promovido pelo Instituto Millenium, entidade brasileira que afirma defender o "Estado de Direito, liberdades individuais, responsabilidade individual, meritocracia, propriedade privada" como valores,20 reuniria a imprensa golpista.21
A internet e o PIG
Para o jornalista e escritor Fernando Soares Campos,22 "sem a internet, dificilmente Lula teria sido eleito; se fosse, não assumiria; se assumisse, teria sido golpeado com muita facilidade. O PIG é forte, é Golias, mas a internet [está] assim de Davi!".1 Para Campos, a existência da Internet interferiria com o monopólio da informação por parte dos grandes grupos midiáticos, e essa interferência dificultaria os golpes.1
Segundo o Observatório da Imprensa, a Internet teria criado dificuldades para a grande mídia brasileira dar o suposto golpe no Governo Lula[carece de fontes], como ocorreu com Jango (presidente da República entre 1961 e 1964, quando começou a ditadura militar). Na atualidade, com múltiplos meios de comunicação — muitos baseados em livre troca de informações entre as pessoas — controle da informação teria se tornado mais complexo, devido à grande facilidade de se buscar informações de fontes diversas sobre o assunto.
O jornalista Luís Nassif afirma que existe um pacto entre quatro grandes grupos de mídia – Globo, Abril, Estadão e Folha – que tem comandado a oposição política brasileira desde 2005. Ele defende que o reverso desse movimento é o desabrochar da sociedade civil na Internet. Para Nassif, estruturas como blogs, ONGs, OSCIPs, sindicatos e movimentos sociais, estão entrando na rede e passando a disputar, com os grandes grupos midiáticos, pela audiência e pelas opiniões políticas.17
Episódios
Os que apóiam o termo "mídia golpista" costumam relatar certos eventos que, segundo eles, confirmariam a forma tendenciosa com que os meios de comunicação brasileiros tratam os governos mais à esquerda. Seguem alguns desses exemplos.
Eleições de 1989
A Rede Globo é acusada de ter ajudado a eleger o candidato Fernando Collor de Mello nas eleições de 1989, especialmente através da manipulação de trechos do último debate de Collor contra Lula. A edição polêmica foi apresentada no Jornal Nacional, na véspera da votação e num momento em que não poderia haver mais propaganda partidária na TV.2324 Em 2009, Fernando Collor admitiu que foi favorecido, pela Globo, na disputa.25 .
Eleições de 2006
Houve várias críticas à forma como veículos da imprensa fizeram a cobertura das eleições.26 27
Luiz Carlos Azenha, que então trabalhava na Globo e era o repórter destacado para cobrir a campanha presidencial do candidato tucano Geraldo Alckmin, confirma que havia intenção de prejudicar o PT na cobertura. Nesse contexto, Azenha relata:
Ouvi, na redação de São Paulo, diretamente do então editor de economia do Jornal Nacional, Marco Aurélio Mello, que tinha sido determinado desde o Rio que as reportagens de economia deveriam ser "esquecidas" – tirar o pé, foi a frase — porque supostamente poderiam beneficiar a reeleição de Lula.27
Entre outros acontecimentos, Azenha ainda conta que teve uma reportagem potencialmente danosa para o então candidato a governador de São Paulo, José Serra, censurada pela Globo. "A reportagem dava conta de que Serra, enquanto ministro, tinha autorizado a maior parte das doações irregulares de ambulâncias a prefeituras", afirma.27
O evento mais comentado pelos críticos foi quando, na véspera da votação do primeiro turno, a Rede Globo e certos jornais impressos, como a Folha, o Estado, e O Globo deram enorme destaque à imagem do dinheiro que havia sido apreendido no contexto do Escândalo do Dossiê.28 29
Hoje, é sabido que o delegado da PF que havia comandado a operação convidou quatro jornalistas para uma conversa reservada e repassou os CDs com as fotos. A conversa foi inteiramente gravada e nela se pode ouvir os apelos do delegado para que as imagens fossem parar na edição do Jornal Nacional do mesmo dia, 29 de setembro.28 29
Argumenta-se que o uso político das fotos ficou ainda mais evidente pelo fato de todas as matérias omitirem a conversa com o delegado, (em que ele condiciona a divulgação das fotos para atingir a candidatura petista). Os jornais também difundiram a informação falsa de que as fotos teriam sido roubadas, quando, na verdade, tinham sido repassadas a eles pelo delegado.28 29
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Destroços do Voo Gol 1907 - o Jornal Nacional não informou sobre a tragédia, mas focou toda a sua edição no "Escândalo do Dossiê".28 29
No caso da Rede Globo, ressalta-se que, na mesma noite em que exibiu as fotos (sem a contextualização de como foram obtidas), o Jornal Nacional se absteve de informar sobre a tragédia do Voo Gol 1907, em que morreram 154 passageiros no choque aéreo com o jato executivo Legacy, comandado por dois pilotos norte-americanos. Assim, ao mesmo tempo em que a notícia do desastre já repercutia no mundo inteiro, a edição ao vivo do jornal se dedicava somente a dar destaque à divulgação do escândalo político.28 29
Eleições de 2010
Também houve várias críricas à cobertura da campanha presidencial de 2010. O próprio, então presidente, Lula afirmou que parte da imprensa estaria sendo parcial e se comportando como um partido político de oposição.30 Seguem alguns exemplos.
Apesar de declarar-se "neutro",31 o jornal Folha de S. Paulo teve sua cobertura criticada duramente, inclusive, por sua própriaombudsman, Suzana Singer. Segundo ela, o jornal estaria "se dedicando a revirar vida e obra" da candidata à presidência Dilma Roussef, do PT, e noticiando estas informações de forma parcial.32 Comentou ainda a reação de leitores no Twitter, onde a hashtag#DilmaFactsByFolha - uma série de piadas e críticas à Folha de usuários da rede social - chegou ao primeiro lugar dentre os temas mais comentados.32 33
Em agosto de 2010, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concedeu, ao Partido dos Trabalhadores, direito de resposta contra o semanário Veja. A decisão do TSE se deve à publicação da reportagem "Indio acertou no Alvo", sobre declarações do deputado Índio da Costa acerca de supostas ligações entre o PT e as FARC e o narcotráfico.34 Para a maioria dos ministros do TSE, a revista não se limitou a reportar os fatos, mas reforçou o argumento do deputado, julgado como ofensivo ao partido pelo próprio tribunal.35
Por sua vez, o jornal Estado de S. Paulo foi o único veículo, entre os considerados "integrantes do PIG", que declarou abertamente apoio à candidatura oposicionista de José Serra. Em editorial, o jornal afirmou que Serra seria "o que tem melhor possibilidade de evitar um grande mal para o País". Também criticou Lula por ter afirmado que a imprensa brasileira estaria se comportando "como um partido político" e pelo que o jornal chamou de "escandalosa deterioração moral" de seu governo.36
Críticas ao termo
Como um dos maiores divulgadores do termo "PIG", Paulo Henrique Amorim é acusado por um colunista da revista Veja, Reinaldo Azevedo, de promover duas campanhas eternas: uma seria eleitoral, a outra seria contra a Folha de S. Paulo e seu diretor de redação. Azevedo afirma que tudo isso seria feito com o patrocínio do Governo, através da Caixa Econômica Federal.37
Segundo os oponentes do termo, a imprensa apenas denunciaria irregularidades nas administrações públicas. J.R. Guzzo, colunista de Veja, questionou o termo "PIG", afirmando que quando a imprensa publica denúncias é acusada por governistas de "desestabilizar" o Brasil.38 A revista, em editorial de agosto de 2004 criticando a tentativa de criação do Conselho Federal de Jornalismo (classificado pela publicação como um "ataque à liberdade de imprensa" por parte do Governo Lula39 ), escreveu que "a qualidade da imprensa deve ser sempre medida por seu grau de independência nas relações com os governos", que seriam "tanto melhores quanto mais [preservassem] a liberdade de seus críticos".40
Para o jornalista Pedro Doria, editor-chefe do jornal O Estado de S. Paulo, a manifestação de uma polaridade ideológica intolerante é incapaz de explicar a realidade social complexa.41 42
Por sua vez, Sergio Leo julga que a grande imprensa é excessivamente complexa para poder ser rotulada desta maneira, pois abarcaria opiniões e pautas muito variadas.43
Para Roberto Romano, filósofo da Unicamp, "toda vez que é cobrado e criticado, [o presidente Luiz Inácio Lula da Silva] volta à cantilena das elites golpistas, da imprensa golpista e apela para a sustentação entre as massas e os movimentos sociais".44
Jânio de Freitas, em coluna na Folha de S. Paulo, afirma que "os meios de comunicação brasileiros nunca deixaram de ser parte ativa nos esforços de conduzir o eleitorado. Sua origem e sua tradição são de ligações políticas, como agentes de facções ou partidos, tanto de direita quanto de esquerda. Só em meado do século passado dá-se a primeira e derrotada tentativa, no Jornal do Brasil, de prática desconectada de segmentos políticos."45
Declaração de Maria Judith Brito
Em entrevista ao jornal O Globo a presidente da Associação Nacional de Jornais e executiva da Folha de S. PauloMaria Judith Brito, afirmou que o governo se incomoda com a imprensa, criticou fortemente o terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos e fez a seguinte declaração:
A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a questão da responsabilidade dos meios de comunicação. E, obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo.
—Maria Judith Brito, presidente da Associação Nacional de Jornais.46
A declaração de Maria Judith Brito foi bastante criticada por repórteres e intelectuais, bem como por autoridades ligadas ao governo. As críticas focaram no aparente reconhecimento de que a imprensa estaria, de fato, assumindo um papel de oposição. Em artigo publicado na Carta MaiorJorge Furtado afirmou que a presidente da associação teria assumido que a grande imprensa do país "virou um partido político" e a criticou por não questionar a "moralidade de seus filiados [ao] assumirem a 'posição oposicionista deste país' enquanto, aos seus leitores, alegam praticar jornalismo"47 . Luciano Martins Costa, do Observatório da Imprensa, fez crítica semelhante, afirmando que "o risco maior para a imprensa vem da própria imprensa, quando os jornais se associam para agir como um partido político".48 O ministro Paulo Vannuchi, titular da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, também criticou a declaração, afirmando que a imprensa "vem confundindo um papel que é dela — informar, cobrar e denunciar — com o papel do protagonismo partidário".49 Washington Araújo, no Observatório da Imprensa, questiona: "será papel dos meios de comunicação substituir a ação dos partidos políticos no Brasil, seja de situação ou de oposição? (...) Em isso acontecendo... não estaremos às voltas com clássica usurpação de função típica de partido político? E não seria esta uma gigantesca deformação do rito democrático?".50
Opinião do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
No contexto da campanha eleitoral de 2010, o então presidente da república Luiz Inácio Lula da Silva havia tecido várias críticas à atuação de parte da imprensa brasileira que, segundo ele, estaria agindo como um partido político de oposição.
No dia 18 de setembro, logo após as primeiras declarações de Lula, a Associação Nacional de Jornais havia lançado nota que afirmava:51 "É lamentável e preocupante que o Presidente da República se aproxime do final de seu segundo mandato manifestando desconhecimento em relação ao papel da imprensa nas sociedades democráticas."
Manifesto "Pela democracia e liberdade de imprensa”
Poucos dias depois, em 22 de setembro de 2010, num ato em frente à faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo de São Francisco, juristas, artistas e intelectuais lançaram um documento que proclamava ser "um manifesto em defesa da democracia e da liberdade de imprensa e de expressão". A manifestação, iniciativa de intelectuais ligados à oposição, contou com a presença do ex-ministro do Supremo Tribunal FederalCarlos Veloso, e de juristas como Miguel Reale Júnior, ex-ministro de FHC, eHélio Bicudo.52
Hélio Bicudo fora vice-prefeito da cidade de São Paulo na gestão de Marta Suplicy, tendo se afastado do Partido dos Trabalhadores em 2005.53 Foi ele quem leu, ao microfone, o texto do manifesto, que fala em riscos de autoritarismo:
É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais em valorizar a honestidade54
Há também crítica à ação de grupos acusados de atuar contra a imprensa:
"É aviltante que o governo estimule e financie a ação de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo mecanismos autoritários de submissão de jornalistas e de empresas de comunicação às determinações de um partido político e de seus interesses."
O ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior disse que jornalistas estão sendo ameaçados:
Basta entrar nos sites do PT para ver as ameaças que estão sendo feitas a jornalistas, para saber qual o órgão de imprensa que tem que ser empastelado primeiro. Ou seja, há um clima de radicalização.52
Não existe mais liberdade de se denunciar aquilo que envergonha o país, que é a maracutaia dentro do Palácio do Planalto55
Na opinião dele, o ato que iria acontecer em 23 de setembro de 2010, promovido por centrais sindicais e pelo PT, de crítica à imprensa, é "um processo imensamente perigoso de radicalização". Reale Júnior afirmou:
Na medida em que ele passou a denunciar a imprensa, a dizer que não precisa de formador de opinião, a dizer que a opinião somos nós, esta é uma ideia substancialmente fascista. Ele com sua posição de presidente da República, sai de sua cadeira da presidência para ser insuflador contra a imprensa. Isto é perigoso55
Hélio Bicudo também disse que Lula é presidente em horário integral e criticou o presidente por supostamente usar seguranças da Presidência em comícios:
Ele tenta desmoralizar a imprensa, tenta desmoralizar todos que se opõe ao seu poder pessoal. Ele (Lula) tem opinião, mas não pode usar a máquina governamental para exercer essa opinião — disse Bicudo, para quem o Brasil está à beira do risco de um governo autoritário56
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, afirmou em 22 de setembro de 2010, em entrevista, que há no país hoje "uma chantagem sobre a imprensa brasileira". Segundo ele, a liberdade de imprensa "é a condição para a existência da democracia".57
Em matéria na revista IstoÉ, os repórteres Octávio Costa e Sérgio Pardellas criticaram as acusações do ato e afirmaram que seria o manifesto, e não o presidente, que teria inclinação antidemocrática:
O que parece ter sido esquecido no manifesto oposicionista de tendências golpistas é que a democracia é exercida pelo voto. O temor de uma vaga autoritária por parte do governo é deslocado da realidade. Não reflete o momento que o Brasil vive. Não há sinais concretos de que o presidente Lula tenha atentado contra a liberdade de imprensa. Ele vem fazendo apenas críticas pontuais, direito que não pode ser negado a qualquer cidadão, muito menos ao presidente. De resto, desde a luta contra a ditadura, Lula mostrou-se defensor intransigente das liberdades democráticas.58
Considerando esse acirramento dos ânimos com a proximidade da votação em primeiro turno, Bresser Pereira (PSDB), ex-ministro nos governos de Fernando Henrique Cardoso e de José Sarney, afirmou que argumentos como o desse manifesto não tinham base na realidade.59 Após o resultado das urnas, Bresser voltou ao tema. O cientista político afirmou que falar em riscos à democracia durante as eleições de 2010 foi atitude "profundamente antipolítica e antidemocrática":
Quando setores da sociedade e militantes partidários afirmaram que a candidata eleita representava uma ameaça para a democracia, para a Constituição e para a moralidade pública, estavam retomando uma prática política que caracterizou a UDN (União Democrática Nacional), o partido político moralista e golpista que derrubou Getulio Vargas em 1954.60
Em resposta ao manifesto supramencionado, foi também elaborado outro manifesto, intitulado "Carta ao Povo Brasileiro", assinado por juristas de renome como Celso Antônio Bandeira de Mello e Dalmo de Abreu Dallari, bem como por vários presidentes regionais da OAB. A carta afirma que o governo Lula vem preservando a democracia e também promovendo a consolidação dos valores democráticos. Quanto ao tema específico da liberdade de pensamento, o manifesto afirma:
Nos últimos anos, com vigor, a liberdade de manifestação de ideias fluiu no País. Não houve um ato sequer do governo que limitasse a expressão do pensamento em sua plenitude. Não se pode cunhar de autoritário um governo por fazer críticas a setores da imprensa ou a seus adversários, já que a própria crítica é direito de qualquer cidadão, inclusive do Presidente da República.61
Referências
↑ Ir para:a b c [1]
↑ Ir para:a b Igor Ribeiro e Flávio Costa. (junho de 2011). "O amolador". Imprensa (número 268): 26-31. São Paulo: Imprensa Editorial Ltda..
Ir para cima Rodrigo Vianna. Imprensa golpista ontem e hoje: como enfrentar o PIG?. Página visitada em 30-01-2010.
Ir para cima Azenha, Luiz Carlos (26 de abril de 2009). O PIG apanha nas urnas. Desta vez no Equador. Vi o Mundo. Página visitada em 29 de abril de 2009.
1.        Ir para cima [2]
Ir para cima Josias de Sousa (17 de setembro de 2010). Lula sobre mínimo de Serra: ‘Pensa que povo é tonto’. Folha Online. Página visitada em 18 de setembro de 2010.
Ir para cima Amorim, Paulo Henrique (28 de abril de 2009). O PiG a caminho do túmulo. Conversa Afiada. Página visitada em 29 de abril de 2009.
Ir para cima Deputado sugere Partido da Imprensa com Jabor na presidência. Vermelho (20 de setembro de 2007). Página visitada em 29 de abril de 2009.
↑ Ir para:a b Dias, Maurício. "A guerra de sempre", Carta Capital, ano XV, n.º 596, 19 de maio de 2010, p. 14
Ir para cima Fernanda Zauli. Entrevista - Mário Prata. Diário de Natal. Página visitada em 7 de setembro de 2010.
Ir para cima Bob Fernandes. Lembo: não temos partidos, só um movimento coordenado por Lula. Portal Terra. Página visitada em 15 de setembro de 2010.
Ir para cima Paul Jürgens (30 de setembro de 2010). Une presse très remontée contre Lula(em francês). Courrier International. Página visitada em 27 de outubro de 2010.
Ir para cima Referência direta à relutância em aceitar a ideia do PIG pode ser vista aos 3 minutos do segundo vídeo disponível em http://www.advivo.com.br/node/265849
2.        Ir para cima [3]
Ir para cima Linha editorial. Instituto Millenium (29 de maio de 2011). Página visitada em 29 de maio de 2011.
Ir para cima Gilberto Maringoni (6 de março de 2010). O rosnar golpista do Instituto Millenium. Carta Maior. Página visitada em 26 de maio de 2011.
Ir para cima Filme Beyond Citizen Kane, da BBC
Ir para cima Debates: Collor x Lula. Memória Globo. Página visitada em 28 de março de 2011.
↑ Ir para:a b c d e Revista CartaCapital. Os fatos ocultos
Ir para cima Josias de Sousa (17 de setembro de 2010). Lula sobre mínimo de Serra: ‘Pensa que povo é tonto’. Folha Online. Página visitada em 18 de setembro de 2010.
↑ Ir para:a b Ombudsman da Folha de S.Paulo acusa jornal de ser parcial na cobertura eleitoral (em português)R7.com (12/09/2010). Página visitada em 12 de setembro de 2010.
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Ir para cima Editorial: O mal a evitar (em português)Estadão (25 de setembro de 2010). Página visitada em 25 de setembro de 2010.
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Ir para cima Imprensa versus governos, Costa, Luciano Martins. Carta Maior, 25 de março de 2010.
Ir para cima Associação Nacional de Jornais lamenta crítica de Lula à imprensaG1 (20 de setembro de 2010). Página visitada em 23 de setembro de 2010.
↑ Ir para:a b Lançado em SP manifesto pela democraciaG1 (22 de setembro de 2010). Página visitada em 23 de setembro de 2010.
Ir para cima de Sousa, Josias (primeiro de setembro de 2010). Título não preenchido, favor adicionar. Folha de São Paulo.
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Ir para cima Serra, José (22 de setembro de 2010). Serra critica chantagem sobre a imprensa. O Globo. Página visitada em 22 de setembro de 2010

Ir para cima "Nestas eleições, não posso deixar de ver com perplexidade, de um lado, a tese de que tudo começou no governo Lula, que jamais em tempo algum houve um governo como esse, e, do outro lado, o renascimento do udenismo liberal-autoritário segundo o qual o governo atual desrespeita a Constituição e a candidatura Dilma Rousseff é uma ameaça para a democracia brasileira. Manifestações partidárias e apaixonadas desse tipo, sem base na realidade, não honram quem as faz. Não contribuem para a democracia brasileira." [5]