terça-feira, 25 de novembro de 2014

Carregando o peso de ter sido estuprada

reprodução youtube ponte.org
Leandra (nome fictício) foi a aluna que resolveu bater de frente contra o silêncio que cerca os abusos sexuais na Faculdade de Medicina. Em depoimento para a Ponte.org, ela conta como enfrentou o corporativismo que existe na instituição. “Quando fui denunciar, achei que o meu era um caso isolado, mas descobri que havia mais.”

no Catraca Livre

Quebrar o silêncio, seja pela mídia, seja pela arte, pode ser um ótimo caminho para combater o assedio sexual em universidades – e ainda inspirar outras vítimas a fazerem o mesmo

Desde quando existem casos de assédio sexual dentro das universidades brasileiras? A pergunta é difícil de ser respondida, mas depois que foram reveladas denúncias de estupros em festas da Faculdade de Medicina da USP, outros casos também saíram do escuro. Na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da mesma universidade, dois casos de abuso sexual vieram à tona recentemente.
reprodução youtube ponte.org
reprodução youtube ponte.org
Leandra (nome fictício) foi a aluna que resolveu bater de frente contra o silêncio que cerca os abusos sexuais na Faculdade de Medicina. Em depoimento para a Ponte.org, ela conta como enfrentou o corporativismo que existe na instituição. “Quando fui denunciar, achei que o meu era um caso isolado, mas descobri que havia mais.”
Ao contrário das ocorrências da capital, essas não aconteceram em festas. Um dos casos teria acontecido entre alunos de uma república ainda no início de 2013. Outro, do segundo semestre deste ano, teria ocorrido à tarde dentro do campus Ribeirão Preto.
Reportagens recentes trazem relatos e dados sobre a frequência dos casos e o silêncio que sempre se fez sobre eles. No início deste ano, as denúncias de algumas alunas vítimas de abusos resultaram na criação de uma comissão interna dentro da faculdade, formada por professores. Eles coletaram relatos de violações sexuais, físicas, morais, machistas e homofóbicas e elaboraram um relatório sobre a investigação.
Carregando o peso
Meses atrás ficou famosa uma norte-americana de 22 anos que pensou em um jeito diferente de protestar contra o abuso sexual dentro e fora da universidade.
Emma Sulkowicz, estudante do curso de artes visuais da Universidade de Columbia, em Nova York, procurou as autoridades da instituição para denunciar um colega que a teria estuprado. Após ter a denúncia questionada por “falta de evidências”, Emma encontrou o apoio de outras 22 alunas que também prestaram queixa contra o mesmo agressor, alegando que ele seria um estuprador em série.
amanda hess
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Outras alunas, influenciadas por Emma Sulkowicz, também usaram seus colchões para denunciar seus agressores.
Mas, de acordo com a universidade, só há prova de casos de crimes sexuais se houver “preponderância de evidência”, ou seja, se um painel composto por profissionais da Columbia for “convencido de que a agressão aconteceu”.
A solução de Emma para protestar contra essa política foi começar a andar para todos os lugares carregando o colchão onde a agressão teria acontecido. A ação se tornou até parte de seu projeto de conclusão de curso, chamado de “Carry That Weight” (ou “Carregue Aquele Peso”, em tradução livre).
amanda hess
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Os protestos ganharam coro em todo o país.
O protesto da aluna, que promete mantê-lo até que seu agressor seja expulso da universidade, inspirou outras garotas pelo país, que também começaram a carregar os colchões em que foram estupradas por aí.
Quebrando o silêncio
Uma das afirmações mais recorrentes entre as vítimas dos abusos sexuais é que esses tipos de violência não acontecem apenas dentro da universidade – pelo contrário, apenas concentram ensejos que vem de fora dela. Seja onde for que o crime ocorrer, saiba como denunciar.

DENUNCIE

No Brasil há um número específico para receber esse tipo de denúncia, 180, a Central de Atendimento à Mulher. O serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias do ano e a ligação é gratuita. Há atendentes capacitados em questões de gênero, políticas públicas para as mulheres, nas orientações sobre o enfrentamento à violência e, principalmente, na forma de receber a denúncia e acolher as mulheres.
O Conselho Nacional de Justiça do Brasil recomenda ainda que as mulheres que sofram algum tipo de violência procurem uma delegacia, de preferência as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAM), também chamadas de Delegacias da Mulher. Há também os serviços que funcionam em hospitais e universidades e que oferecem atendimento médico, assistência psicossocial e orientação jurídica.
A mulher que sofreu violência pode ainda procurar ajuda nas Defensorias Públicas eJuizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, nos Conselhos Estaduais dos Direitos das Mulheres e nos centros de referência de atendimento a mulheres.
Se for registrar a ocorrência na delegacia, é importante contar tudo em detalhes e levar testemunhas, se houver, ou indicar o nome e endereço delas. Se a mulher achar que a sua vida ou a de seus familiares (filhos, pais etc.) está em risco, ela pode também procurar ajuda em serviços que mantêm casas-abrigo, que são moradias em local secreto onde a mulher e os filhos podem ficar afastados do agressor.

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