domingo, 30 de novembro de 2014

O jovem que acertou 95% do ENEM

“Sempre ouvi falar da dificuldade que é o Enem e tinha medo. Mas quando vi, sinceramente, achei muito fácil. Quando corrigi pelo gabarito, não fiquei assustado, apenas lamentei pelas oito (questões erradas)”, diz com a simplicidade de quem dormia em média quatro horas por dia para garantir o bom desempenho.

Joao vitor ceara estudante enem
                                 João Vitor Claudiano dos Santos, aluno de escola pública do Ceará

no Pragmatismo Político

Ver João Vitor falar sobre a recente conquista é assistir à luta entre a timidez do garoto mais acostumado aos livros do que a grandes conversas e o orgulho de quem está vendo o esforço recompensado. O número da vitória é de impressionar: João Vitor acertou 172 questões das 180 que compõem o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O equivalente a 95,5% de acertos. Mas João Vitor Claudiano dos Santos, 16, aluno do 2º ano da Escola de Ensino Médio Governador Adauto Bezerra, ainda não consegue mensurar o significado do feito.
O menino agora espera o resultado oficial, que deve sair em janeiro de 2015, mas, em um comparativo, João Vitor ultrapassou os 164 acertos da estudante mineira Mariana Drummond, que conquistou o primeiro lugar no Enem 2013. A nota final ainda depende do desempenho na Redação, que João acredita ter sido a mais difícil das avaliações.
Sempre ouvi falar da dificuldade que é o Enem e tinha medo. Mas quando vi, sinceramente, achei muito fácil. Quando corrigi pelo gabarito, não fiquei assustado, apenas lamentei pelas oito (questões erradas)”, diz com a simplicidade de quem dormia em média quatro horas por dia para garantir o bom desempenho, que ele credita também ao apoio recebido dos professores.
A ficha da biblioteca, lugar preferido de João, já vai na segunda folha e ultrapassa os 40 livros. A leitura assídua é o segredo dele. “O que tem de cansativo no Enem são os textos grandes. Então, minha estratégia foi me adaptar à leitura, ler livros grandes, alguns com linguagem rebuscada”.
João, cujo maior orgulho é ter estudado a vida toda em escola pública, ainda não sabe se irá cursar o 3º ano, mas quer fazer Ciências Biológicas e sonha em viajar para o Reino Unido pelo Ciência Sem Fronteiras. Aos 16 anos, ele tem muito bem traçados os planos da vida. “Sempre me vejo fazendo especialização em bioquímica e biologia molecular. Quero ser pesquisador e estudar o resto da vida”.
Criado pela mãe, a aposentada Ana Maria Santos, morador do bairro Vila União, quarto de cinco irmãos, João será o primeiro da família a ingressar no ensino superior. Os estudos foram, para ele, a forma de transformar o próprio destino. “Sou um garoto que não conheceu o pai, que sempre sofreu bullying por ser nerd, por causa do cabelo, do sapato, da magreza. O estudo não combateu minha timidez, mas me ajudou a ser feliz”.
Domitila Andrade, O Povo


sábado, 29 de novembro de 2014

Violência sexual na USP: “Nos aterroriza saber que esses jovens atenderão mulheres em seus consultórios” - Denise Motta Dau, da Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres, comentou abusos e estupros na Faculdade de Medicina: “não é um relato, são vários, seguidos, das mais diversas formas em que essas mulheres são abusadas

mulherada

Por SpressoSP
Sexta-feira, 28 de novembro de 2014
Os casos de violência sexual contra alunas da Faculdade de Medicina da USP por parte dos próprios colegas de curso têm sido debatidos pela opinião pública e pelo poder público do estado de São Paulo desde o início deste mês, quando uma série de reportagens da Ponte denunciou a cultura de estupro e de silêncio da FMUSP em que proliferam os abusos. A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do estado, presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT), tem realizado audiências públicas sobre a questão, com o objetivo de ouvir estudantes e autoridades da universidade e apurar as denúncias sobre os abusos e estupros. Durante o programa Gabinete Aberto, realizado ontem (24/11) pela Prefeitura de São Paulo e em que Opera Mundi esteve presente, a secretária municipal de Políticas para Mulheres, Denise Motta Dau, se posicionou sobre o caso.

A secretária, que acompanhou a audiência pública realizada no dia 11 de novembro, disse ter ficado impressionada com os relatos das alunas sobre o sistema “pré-planejado” para abusar das garotas nas festas da FMUSP, com a venda de bebidas alteradas e as tendas com colchões e almofadas, os chamados “cafofos”, onde estudantes relataram terem sido abusadas e estupradas por colegas da universidade. “Não é um relato, são vários, seguidos, das mais diversas formas em que essas mulheres são abusadas nessas festas.” Motta Dau comentou também a tendência de culpar as vítimas, recorrente em casos de violência sexual contra mulheres, que segundo ela tem ocorrido nos debates entre alunos da universidade sobre os estupros e abusos.

Outra questão levantada pela secretária é o fato que a Faculdade onde prevalece tal cultura de violência contra mulheres é a mesma que formará profissionais de saúde. “Nos aterroriza saber que muitos desses jovens serão profissionais de saúde, que atenderão mulheres em seus consultórios particulares, no Sistema Único de Saúde, nos quais nós tanto queremos que respeitem os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres.” A secretária reiterou a necessidade da apuração das denúncias e da reflexão sobre as relações sociais de gênero em que se baseia a cultura de estupro que viceja na FMUSP e em diversos ambientes universitários. “Mudar a cultura, fazer a apuração do que ocorreu na USP e repensar essas festas, as relações entre alunos e alunas, as relações sociais de gênero na universidade é fundamental.”



Segundo a Agência Brasil, a Faculdade de Medicina da USP irá promover, no próximo dia 27, uma congregação extraordinária para tratar das ações propostas pela Comissão de Direitos Humanos da Alesp após a audiência pública do dia 11. A reunião, no entanto, será fechada. Em nota, a instituição declarou que “a Faculdade de Medicina da USP se coloca de forma antagônica à qualquer forma de violência e discriminação (com base em etnia, religião, orientação sexual, social) e tem se empenhado em aprimorar seus mecanismos de prevenção destes tipos de casos, apuração de denúncias e acolhimento das vítimas.” A USP informou também ter criado uma comissão formada por docentes, alunos e funcionários com o objetivo de “propor ações, de caráter resolutivo quanto aos problemas relacionados às questões de violência, preconceito e de consumo de álcool e de drogas”, e ter aberto sindicância para apurar os casos de violência ocorridos em suas dependências. “Em caso de comprovação, a faculdade adotará as punições disciplinares, de acordo com o Código de Ética da USP”, diz a nota.

Prefeitura de SP isenta 3,1 milhões de famílias de pagamento do IPTU - Liberado pela Justiça após embargo de ação do PSDB, reajuste será maior para imóveis de alto padrão e menor para os mais humildes

Visão aérea do bairro Belvedere, em Belo Horizonte

                                                                 São Paulo

por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

O projeto do reajuste do IPTU em São Paulo, ao contrário do que diz a mídia = PIG, principalmente a Bandeirantes de São Paulo, é, pela primeira vez em quase 500 anos, um projeto que pode favorecer os proprietários de imóveis mais humildes do município.

Impostos podem ser instrumentos eficazes de distribuição de justiça tributária e, consequentemente, de distribuição melhor da renda. A prefeitura viu isso e está fazendo, primeiro o que determina a lei, depois o que determina o bom senso, aqueles que podem mais, pagam mais.

O mais incrível é verificar no dia a dia, a "grande" mídia divulgar e se colocar contra o projeto de uma forma leviana e completamente raivosa e irresponsável.

Quem conhece o projeto sabe que ele faz justiça tributária. E, isenta milhões de pessoas pobres das periferias da maior e mais importante cidade do Brasil.

Se colocar contra já é absurdo, fazer do projeto do IPTU manchetes de jornais e chamadas levianas e política ante-petista na TV é beirar o crime.

Paulo Haddad está firme nosso propósito de implementar o novo IPTU na cidade, ele sabe que é democrático e justo.


Prefeitura de SP isenta 3,1 milhões de famílias de pagamento do IPTU

Liberado pela Justiça após embargo de ação do PSDB, reajuste será maior para imóveis de alto padrão e menor para os mais humildes
Por Agência PT de notícias
Quinta-feira, 27 de novembro de 2014


A cidade de São Paulo, administrada por Fernando Haddad (PT), conseguiu uma vitória há muito esperada: a liberação do reajuste do Imposto Predial Territorial Urbano, o IPTU. Com a medida, a taxa passa a ser cobrada de forma escalonada, com valores mais altos por imóveis em áreas nobres, e menores para a periferia.

A nova regra isenta ainda 3,1 milhões de imóveis de baixo padrão, avaliados em até R$ 160 mil, e de aposentados que ganham até três salários mínimos.

Nesta quarta-feira (26), o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) derrubou liminar que impedia, desde o ano passado, o reajuste do imposto. A alteração estava suspensa por duas ações propostas pelo PSDB e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que consideravam a cobrança abusiva.

O reajuste do IPTU da cidade é vinculado à Planta Genérica de Valores (PGV), lei municipal que é um dos fatores usados para calcular as taxas, que devem ser atualizadas a cada dois anos.

O imposto para imóveis comerciais será reajustado em 35% e os residenciais em até 20%. A cobrança será aumentada em até 10% para 133 mil pessoas e em 15% para 240 mil, o que representa 34% do total de contribuintes.

Por outro lado, cerca de 130 mil contribuintes serão isentos do pagamento e 973 mil manterão o direito à isenção. Segundo a prefeitura, ao todo serão mais de 1.1 milhão de cidadãos isentos de pagamento do IPTU em 2015, ou seja, um terço de todos os contribuintes da capital paulista. E mais, 320 mil terão redução da cobrança.

Para este ano, quem pagou a mais no período em que a lei ficou suspensa, deverá receber a diferença. A estimativa é que 454 mil contribuintes serão restituídos ou compensados pelo que foi pago a mais em 2014. O valor total das restituições chega a R$ 169 milhões, devolvido diretamente ou por abatimento no próximo carnê de IPTU.

A intenção da Prefeitura é que o novo valor cobrado passe a valer somente a partir de 2015. Entretanto, a medida depende da aprovação de um projeto de lei proposto por Haddad à Câmara Municipal. Segundo o texto, a cobrança da diferença deverá ser anulada e o reajuste aplicado somente no próximo ano.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Sem desemprego e sem arrocho. Levy, Barbosa e Tombini Quem se reelegeu foi a Dilma, lembrou o Barbosa


por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

Para quem esperava uma equipe econômica aos moldes Merkel ou Psdb se enganou. O Brasil não vai seguir a receita do arrocho, do desemprego defendido por Ângela Merkel na Europa e pelo Psdb aqui.

Esse tipo de austeridade já mostrou a quem interessa, apenas aos banqueiros e rentistas daqui e do exterior. Os trabalhadores e trabalhadoras sempre perdem, e muito.

A "grande" mídia = PIG, passa à sociedade que estamos no caos e, para sairmos temos arrochar salários, demitir trabalhadores, aumentar a inflação e, com esse tipo de notícia irresponsável, defendem os interesses dos ricos em detrimento dos pobres, e o Povo acaba, muitas vezes, acreditando e apoiando esse tipo de alternativa.

Para quem não sabe a diferença entre Piketty e Piquet, realmente é fácil acreditar que aqui é a Europa. Não vamos seguir receituário neoliberal. Não vamos maltratar nosso Povo. Não vamos demitir.

A política econômica e o desenvolvimento econômico precisam passar pelo desenvolvimento social, cultural, escolar, alimentar, moradia popular digna etc.

PHA eu também quero ver o novo ministro das Comunicações.

Sem desemprego
e sem arrocho.
Levy, Barbosa e Tombini

Quem se reelegeu foi a Dilma, lembrou o Barbosa
coletiva dos ministros da área econômica deixou claro como o sol da manhã em Brasília que Levy, Barbosa e Tombini estão unidos em torno do princípio que informou a fabulosa reeleição: sem desemprego e sem arrocho.

Eles deixaram claro que não haverá:

- medidas bruscas;

- sustos;

- quebra da regra do jogo;

- vao trabalhar num horizonte de TRÊS anos – quando a Globo já terá sido vendida ao filho do Murdoch;

- a Economia não está em crise e não precisa de um choque por sufocamento;

- as medidas serão tomadas de acordo com a proposta do Orçamento 2015;

- Barbosa cuidará do PAC, das PPPs e do MCMV, ou seja do emprego na veia;

- Levy não é de dar trela nem se assustar com repórteres de Brasília que se acham …;

- Dilma deu à reunião a sua rotineira e ritualistica dimensão – nem apareceu.

Quem se elegeu foi ela.

Um dia o Aecioporto se acostuma a isso.

Demora, mas passa.

Nem que a vaca tussa !

Paulo Henrique Amorim


Em tempo: fez bem o Ministro Trauman. Distribuir o texto lido, sortear entrevistadores e limitar em seis perguntas. Aquilo ali é para apresentar os ministros ao povo. E não as repórteres de Brasília ao Carlos Schroeder … Podia era limitar a uma pergunta por repórter. A da Reuters deu o golpe do João sem braço …

Em tempo2: A Fazenda é mole. Quero ver o Ministro das Comunicações ..

Levy: metas garantem políticas sociais Inflação de 4,5 e superávit de 2%, em três anos

Conversa Afiada reproduz do Blog do Planalto:


O próximo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, indicado nesta quinta-feira (27) pela presidenta Dilma Rousseff, afirmou em entrevista exclusiva ao Blog do Planalto que a prioridade de seu trabalho à frente da pasta será garantir a segurança fiscal do governo nos próximos anos. Isso porque, segundo ele, é a segurança fiscal, “o atingimento das metas [estabelecidas] que realmente garantem a capacidade do governo de cumprir suas obrigações e suas políticas públicas”.


É muito importante o cumprimento dessas metas, disse ele, “porque ter a nossa dívida se estabilizando, diminuindo, cria confiança para o crescimento, para a atividade econômica. Com isso, há geração de recursos que permitem ao governo continuar as suas políticas públicas, em particular as de inclusão social, as políticas sociais”.


O economista destacou a manutenção dessas políticas. “Todo esse processo que vem vindo nos últimos anos, vai continuar. Ele tem que ir, obviamente, no passo adequado com a capacidade da economia”, ressalvou.

E reafirmou que a meta necessária para a estabilização da dívida pública é de 1 a 2% do Produto Interno Bruto (PIB), “considerando que não haja transferências para bancos públicos e outras fontes de crescimento da dívida bruta”.


Levy lembrou por fim, que, devido ao baixo crescimento deste ano de 2014 e ao tempo que a economia exigirá para voltar a acelerar, no primeiro ano, em 2015, a meta de superávit primário do governo deve ser de 1,2% do PIB. “Nos anos seguintes ela subirá para 2%. Vamos alcançar isso com todas as medidas e a disciplina que forem necessárias”, enfatizou.


Leia mais:

SEM DESEMPREGO E SEM ARROCHO. LEVY, BARBOSA E TOMBINI


SUPERÁVIT DE 2% E INFLAÇÃO DE 4,5%. NÃO ESTAMOS EM CRISE, DISSE LEVY!

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

"O Brasil e os Direitos Humanos: em busca de uma agenda positiva"


Artigo do Ministro Celso Amorim, publicado na revista Política Externa, vol. 18, nº 2 - set-out-nov/2009


A adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1948, em uma conjuntura internacional caracterizada pelos constrangimentos do pós-guerra, é exemplo de como é possível transformar vontade política em significativos avanços normativos e humanitários. A inclusão dos direitos humanos entre os objetivos principais da ONU - juntamente com a manutenção da paz e da segurança internacionais e com a promoção do desenvolvimento - foi essencial para conscientizar Governos e sociedades da necessidade de definir e respeitar direitos fundamentais de todos os seres humanos.
A preocupação com os direitos humanos está hoje refletida nos mandatos de quase todas as Organizações Internacionais. O respeito a esses direitos é percebido como indispensável para a busca dos ideais da paz e para a promoção do desenvolvimento. Os Estados são, assim, responsáveis por manter progressos na realização dos direitos humanos mesmo em condições políticas e econômicas adversas, como a atual crise econômica, e não podem ser indiferentes a crises humanitárias que envolvam violações graves e sistemáticas às normas internacionais sobre o tema.
O Brasil tem renovado seu compromisso internacional com os direitos humanos. Ratificou os principais instrumentos internacionais sobre a matéria. Reconheceu a competência obrigatória da Corte Interamericana de Direitos Humanos e estendeu convite permanente aos relatores dos procedimentos especiais do Sistema ONU. Ao todo, o País já recebeu visita de onze relatores, que trouxeram contribuição positiva, com diagnósticos e recomendações úteis a respeito de alguns dos nossos principais desafios na área.
Nos fóruns multilaterais, o Brasil tem promovido iniciativas exitosas que visam à evolução do arcabouço conceitual e dos instrumentos à disposição da comunidade internacional. Defendemos uma abordagem para o tema que privilegie a cooperação e a força do exemplo como métodos mais eficazes do que a mera condenação. Buscamos abrir os canais de diálogo para que as decisões gerem resultados práticos, com repercussão na vida das pessoas que sofrem as consequências diárias de violações. Em suma, no plano internacional, o Brasil tem pautado sua atuação pela defesa do diálogo e do exemplo e por uma visão abrangente - não hierarquizante nem seletiva - de que todos os países têm deficiências e que podem beneficiar-se da cooperação.
Essa postura do Brasil no plano internacional só é possível em razão da realidade política vivida no plano interno, resultado de processo de avanços progressivos alcançados desde a promulgação da Constituição Federal de 1988. A consolidação do regime democrático assentou as bases para que o País avançasse na redução das desigualdades e na construção de formas inclusivas de participação social. A promoção dos direitos humanos e o combate à fome e à pobreza são hoje prioridades do Estado brasileiro, que o Governo do Presidente Lula tem respeitado e aprofundado.
Compromisso Renovado com o Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos
O regime internacional de proteção dos direitos humanos foi estabelecido pela Carta da ONU e pela Declaração Universal de 1948, mas os avanços do ponto de vista do arcabouço normativo não pararam por aí. Grupos específicos - tais como mulheres, crianças, idosos e pessoas com deficiência - tiveram seus direitos humanos protegidos por tratados internacionais vinculantes. A maioria dos instrumentos de proteção incluem mecanismos de denúncia para a efetiva garantia de realização dos direitos consagrados.
Os trabalhos da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, criada em 1946, foram fundamentais para a elaboração dos documentos internacionais e para a aceitação crescente do monitoramento internacional na área. As Conferências Mundiais de Direitos Humanos, em Teerã, em 1968, e em Viena, em 1993, consolidaram os princípios básicos do sistema de proteção: a universalidade, a indivisibilidade, a inter-relação e a interdependência dos direitos humanos; a legitimidade da preocupação internacional com a situação dos direitos humanos em qualquer parte do mundo; o reconhecimento do direito ao desenvolvimento; a inter-relação indissociável entre democracia, desenvolvimento e direitos humanos. Há, ainda, a inter-relação entre paz e direitos humanos. Se é verdade que os direitos humanos são elementos fundamentais na busca pela paz duradoura, também é verdade que o exercício desses direitos só é possível na vigência da paz.
A Comissão de Direitos Humanos teve, no entanto, sua legitimidade minada pelas críticas à abordagem seletiva e politizada que caracterizava sua atuação. As resoluções sobre países adotadas pelo órgão eram frequentemente inspiradas antes na singularização do país violador por motivações políticas do que na necessidade de monitoramento efetivo da situação dos direitos humanos. Como outras instâncias multilaterais, a Comissão não era infensa às disputas de poder.
Em contexto internacional pautado pela agenda de combate ao terrorismo, a AGNU convocou Cúpula de Alto Nível, em 2005, com o intuito de avançar a aguardada reforma das Nações Unidas. Da Cúpula, que reuniu mais de 170 chefes de Estado e de Governo, resultou, entre outras medidas, a substituição da Comissão pelo Conselho de Direitos Humanos (CDH), hoje o principal órgão de promoção dos direitos humanos do Sistema ONU.
Ao contrário da Comissão, o Conselho de Direitos Humanos é órgão subsidiário da Assembleia Geral da ONU, em patamar semelhante ao do Conselho de Segurança e do Conselho Econômico e Social (Ecosoc). O CDH conta com número inferior de membros em relação à Comissão: 47 contra 53. Seus membros se reúnem com maior regularidade: no mínimo 10 semanas por ano. Além disso, os países candidatos ao CDH devem assumir formalmente compromissos voluntários - medidas a serem adotadas ao longo de seu mandado para o progresso da realização dos direitos humanos em seus territórios. Essa nova configuração atendeu à demanda de dar ao tema um tratamento equivalente ao que é dispensado a questões relativas à paz e à segurança internacionais e à promoção do desenvolvimento no âmbito da ONU.
O Conselho de Direitos Humanos iniciou seus trabalhos em 19 de junho de 2006, com expectativas concentradas no processo de construção institucional. O Brasil, eleito para a primeira composição do CDH com a maior votação entre os países da América Latina e Caribe, manteve postura mediadora e construtiva. Esse papel foi, desde o início, reconhecido pelas demais delegações. Em 2008, o Brasil foi reconduzido ao órgão, novamente com votação expressiva.
Tivemos papel destacado na negociação do projeto de diretrizes sobre a atuação de relatores especiais do Conselho de Direitos Humanos, com o objetivo de conferir maior responsabilidade e transparência à missão desses relatores, sem comprometer sua independência. Mas, sobretudo, o Brasil teve participação ativa na criação da principal inovação institucional do Conselho de Direitos Humanos - o Mecanismo de Revisão Periódica Universal -, inspirado em proposta brasileira.
Ainda no âmbito da antiga Comissão, o Brasil defendia que relatório global sobre a situação dos direitos humanos no mundo proporcionaria revisão transparente e não-seletiva dos desafios enfrentados pelos Estados membros da ONU e abriria possibilidades de maior cooperação na matéria. Estava claro que era preciso modificar o sistema então vigente, em que somente alguns países eram selecionados para exame, segundo critérios sujeitos à conveniência e à oportunidade política de outros poucos.
A ideia permeou os trabalhos da Comissão de Direitos Humanos, até que, em 2005, o então Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, lançou, em discurso à Comissão, a proposta de realização de revisão por pares da proteção dos direitos humanos em todos os países membros da ONU. O Mecanismo de Revisão Periódica Universal, hoje institucionalizado, consiste em um instrumento por meio do qual todos os 192 Estados membros da Organização são objeto de análise pelos CDH.
O Brasil foi o nono país a apresentar relatório ao Mecanismo de Revisão Periódica Universal, em abril de 2008. A elaboração do Relatório brasileiro envolveu diversos órgãos do Executivo, o Congresso Nacional e ampla participação da sociedade civil. O documento foi considerado por diversos países como exemplar e deixou clara a solidez dos princípios e das políticas brasileiras ao apresentar compromisso voluntário de preparar informes anuais ao Conselho sobre a implementação das recomendações feitas ao Brasil. Em reconhecimento ao modo transparente e construtivo que orientou a participação brasileira no exercício, o Brasil tem sido chamado a participar de seminários organizados pelo Escritório do Alto Comissariado em países que ainda não se submeteram ao Mecanismo, de que são exemplos Angola e Haiti.
O Governo brasileiro tem encorajado a participação da sociedade civil no diálogo com os mecanismos internacionais de direitos humanos, o que se refletiu no processo de elaboração das regras do Mecanismo de Revisão Periódica Universal. Trabalhamos para garantir que as organizações não-governamentais possam pronunciar-se nas sessões do Grupo de Trabalho do Mecanismo a despeito de forte oposição de países e grupos regionais.
As preocupações da diplomacia brasileira com a proteção dos direitos humanos evidentemente não se esgotam no processo de construção institucional do CDH. O Brasil tem trabalhado para a evolução conceitual dos direitos humanos e para romper a clivagem temática que divide países em desenvolvimento - como defensores dos direitos econômicos, sociais e culturais - e países desenvolvidos - como promotores dos direitos civis e políticos. Um exemplo é o projeto de resolução que afirma a incompatibilidade entre a democracia e o racismo.
A iniciativa brasileira condena a existência de partidos políticos com plataformas racistas e alerta a comunidade internacional contra a possibilidade de que tais partidos venham a ser conduzidos para o poder em um contexto democrático. Com essa resolução, o Brasil contribuiu para a consolidação do conceito de democracia e de sua inter-relação com direitos humanos, preconizada pela Conferência Mundial de Viena de 1993. Foi, ainda, pioneiro, entre os países em desenvolvimento, em propor resolução sob a égide dos direitos civis e políticos, até então território exclusivo dos países ricos ocidentais.
O Brasil conferiu grande importância à Conferência de Revisão de Durban, realizada, em Genebra, de 20 a 24 de maio de 2009. A delegação brasileira procurou atuar de modo construtivo e flexível, buscando forjar consensos e construir pontes entre opiniões conflitantes. Os trabalhos preparatórios tinham enfrentado sérias dificuldades. Assuntos polêmicos, tais como a difamação de religiões, a concessão de reparações pelo tráfico transatlântico de escravos e a situação dos direitos humanos na Palestina bloquearam os debates.
O Brasil procurou zelar para que a linguagem e os conceitos consolidados em Durban fossem mantidos, a fim de evitar retrocessos ou mesmo o fracasso do processo de Revisão. Ao final, foi possível aprovar documento positivo, equilibrado e que não singulariza nenhum país. Evitaram-se resultados indesejados, como a polarização e a seletividade. Além disso, a Declaração aborda temas de grande interesse para o Brasil, como proteção de afrodescendentes, indígenas, migrantes, mulheres e crianças.
Durante a celebração dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 2008, o Brasil se engajou ativamente na Resolução sobre Metas Voluntárias em Direitos Humanos. Aprovada por consenso, esta iniciativa estabeleceu dez metas que a comunidade internacional se comprometeu a alcançar até o 70º Aniversário da Declaração. Os compromissos abarcam, entre outros, o combate à fome e à pobreza; a ratificação universal dos instrumentos internacionais; o fortalecimento dos marcos legais, institucionais e de políticas em direitos humanos; a criação de instituições nacionais e o direito ao desenvolvimento.
O histórico compromisso da diplomacia brasileira com o direito ao desenvolvimento, tanto em território nacional como em escala global, também vem sendo traduzido na promoção ou no apoio a ações inovadoras. Por ocasião da 58ª Assembleia Geral da ONU, Brasil, Índia e África do Sul criaram o Mecanismo IBAS de Alívio à Fome e à Pobreza. Em janeiro de 2004, os Presidentes Lula, Chirac e Lagos e o então Secretário Geral da ONU, Kofi Annan, lançaram a "Ação Global contra a Fome e a Pobreza", que teve como desdobramento a criação, em setembro de 2006, da Central Internacional para a Compra de Medicamentos contra o HIV/AIDS, a Malária e a Tuberculose - a Unitaid.
O acesso da população a medicamentos é um dos componentes essenciais no processo de inclusão social, de busca da equidade e de fortalecimento do sistema de saúde dos países. Melhorar o acesso aos medicamentos existentes poderia, segundo dados da OMS, salvar dez milhões de vidas a cada ano, quatro milhões delas na África e no sudeste asiático.
A Declaração de Doha sobre Trips e Saúde Pública, adotada em 2002, consagrou interpretação que coloca os objetivos das políticas públicas de saúde acima da proteção dos direitos privados de propriedade intelectual, ao reconhecer a possibilidade de recorrer à licença compulsória para produção de medicamentos. A Declaração representou avanço importante na garantia de acesso a medicamentos em países pobres. O Brasil tem atuado de forma articulada e assertiva em todos os foros envolvidos (OMS, OMC e OMPI), em questões vinculadas à saúde pública. No CDH, o Brasil é o principal patrocinador do mandato do Relator Especial sobre o Direito à saúde.
É fundamental que a comunidade internacional adote ações concretas para que a retração econômica não coloque em risco os valores dos direitos humanos, da democracia e da paz. Estudos demonstram que muitos dos ganhos conquistados nos últimos anos em termos de crescimento econômico, redução da pobreza, geração de emprego e desenvolvimento social foram comprometidos pela mais grave crise econômica de nossa geração. Em vários países, o cumprimento das Metas do Milênio está seriamente ameaçado. O endurecimento de legislações sobre migrações por vários países traz retrocesso perigoso para a legislação internacional de proteção dos direitos humanos.
O Brasil promoveu, juntamente com China, Índia, Rússia e o Grupo Africano, a realização da X Sessão Especial do Conselho de Direitos Humanos sobre o impacto da crise econômica e financeira global sobre a efetiva realização dos direitos humanos. O fato de serem convocadas sessões especiais do CDH para avaliar o agravamento da realização de direitos econômicos e sociais - convencionalmente considerados como de realização progressiva - constitui avanço conceitual importante e um exemplo de mobilização que o Conselho de Direitos Humanos é capaz de suscitar quando amparado pela vontade comum de seus membros.
Na última reunião do G-20, em Londres, o Brasil demonstrou forte oposição às tentativas dos países desenvolvidos de flexibilizar as normas de direito do trabalho diante da nova conjuntura trazida pela crise. Temos defendido que a OIT seja chamada a participar das próximas reuniões do Grupo. Durante a 98ª Conferência Internacional do Trabalho, em junho, o Presidente Lula discursou a favor do "Pacto Global pelo Emprego", pacote de opções de políticas para enfrentar a crise, que coloca o emprego no centro das preocupações e garante proteção social aos grupos mais vulneráveis da população.
Situação dos Direitos Humanos em Países Específicos
A possibilidade de criar relatorias especiais sobre a situação dos direitos humanos em países específicos permanece no âmbito do CDH, mas há uma tendência crescente de oposição a essa forma de monitoramento. Durante o processo de construção institucional do órgão, países ocidentais apoiavam a possibilidade de o Conselho criar esse procedimento, sem mudanças em relação à sistemática adotada pela antiga Comissão. Já países que costumavam ser objeto desses mecanismos, e seus respectivos grupos regionais, desejavam eliminar essa possibilidade, salvo em hipóteses nas quais houvesse o consentimento do país implicado. Isso, no entanto, criaria virtual lacuna para a proteção de vítimas de violações graves e sistemáticas de direitos humanos em países que se recusassem a aceitar a presença de relatores em seu território.
O Brasil defendeu a validade do mecanismo, desde que fundamentado em informações objetivas sobre a situação dos direitos humanos no país avaliado. A posição brasileira certamente contribuiu para induzir atitude mais cooperativa das demais delegações, tanto no sentido de reconhecer a validade do instrumento das resoluções sobre países, quanto no sentido de evitar ou pelo menos limitar sua politização.
No caso de situações que demandem resposta urgente da comunidade internacional, há ainda a possibilidade de convocar Sessões Especiais do CDH. As onze sessões especiais convocadas para discutir o agravamento da situação dos direitos humanos decorrente da escalada de conflitos no Sudão, em Myanmar, na República Democrática do Congo, no sul do Líbano, no Sri Lanka e, em quatro ocasiões, nos Territórios Palestinos Ocupados, ilustram o impacto negativo de ameaças à paz e à segurança sobre a os direitos humanos e o direito internacional humanitário. Ressaltam também a necessidade de que a proteção desses direitos se integre plenamente aos esforços de pacificação e de solução duradoura daqueles conflitos.
A posição do Brasil nas discussões sobre a situação dos direitos humanos no Sudão é exemplo da atuação construtiva e isenta de alinhamentos automáticos do País no Conselho de Direitos Humanos. Durante a 2ª Sessão do órgão, em 2006, um impasse entre a União Europeia e o Grupo Africano poderia ter levado à suspensão do monitoramento da situação dos direitos humanos em Darfur. Enquanto os europeus consideravam o projeto de resolução africano pouco condenatório, os africanos consideravam as propostas europeias excessivas. A proposta européia previa, além do informe de Relator sobre a situação no Sudão, relatório especial da Alta Comissária sobre o assunto.
O Brasil votou a favor do projeto de resolução apresentado pelo Grupo Africano, que, ao fim, garantiu o mandato de relator especial para monitorar a crise humanitária na região. Alguns meses mais tarde, com o agravamento da situação em Darfur, o Brasil apoiou os esforços da União Europeia para a realização da Sessão Especial sobre a situação no Sudão e contribuiu para a aproximação das posições defendidas pelos dois Grupos. Essa atitude garantiu a aprovação, por consenso, de resolução que determinou o envio de missão de Grupo de Peritos a Darfur.
Em junho passado, o Brasil foi favorável à proposta de criação de mandato de um ano de especialista independente sobre a situação de direitos humanos no Sudão. A posição brasileira contrastou com a de vários países africanos e asiáticos e garantiu a continuidade do monitoramento da situação na região sob uma perspectiva mais construtiva, baseada na cooperação. Ao Brasil, antes que uma mera penalização ao Governo do Sudão, interessa a melhoria da situação de direitos humanos dos sudaneses.
O Brasil teve atitude análoga na Sessão Especial do CDH sobre a situação dos direitos humanos no Sri Lanka, convocada, em maio de 2009, em decorrência do agravamento do conflito entre o governo cingalês e os Tigres Tâmeis. Em busca de aprovação de resolução equilibrada, que garantisse resultados tangíveis para as vítimas do conflito, o Brasil procurou dialogar com o governo do Sri Lanka, principal responsável pela implementação das medidas que viessem a ser adotadas pelo Conselho. Em negociação marcada por dificuldades, particularmente devido à ausência de consultas abertas de alguns países com a delegação do Sri Lanka, a persuasão era mais eficaz do que a adoção de uma resolução excessivamente condenatória. Tal linha de atuação permitiu ao Brasil, na condição de co-patrocinador do projeto de resolução, proceder a modificações no texto originalmente proposto com vistas a incluir pontos substantivos de particular interesse da comunidade internacional, como a proteção dos deslocados internos e refugiados do conflito.
Para promover uma agenda mais positiva nas discussões sobre a situação dos direitos humanos em países específicos, o Brasil propôs ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos a formalização de Memorando de Entendimento para o desenvolvimento de projetos de cooperação Sul-Sul em países que se revelem interessados em receber cooperação. A conclusão desse Memorando - que se encontra em processo de tramitação - poderá, ao mesmo tempo, reforçar a capacidade da diplomacia brasileira de prestar cooperação e reforçar a atuação do Conselho de Direitos Humanos.
O mandato de promover atividades de cooperação internacional, conferido pela Assembleia Geral da ONU ao Conselho e ao Alto Comissariado, repousa, por um lado, na premissa de que cada Estado é soberano para decidir sobre a forma de cooperação a ser recebida e, por outro, no objetivo primário da criação do CDH de oferecer foro de diálogo e de cooperação para o fortalecimento das capacidades dos Estados de cumprir com as obrigações.
O tratamento da situação de direitos humanos em países determinados tem ocorrido, no entanto, sem grandes contrapartidas em matéria de cooperação. Tal fato induz à percepção de que o CDH tem repetido os erros da antiga Comissão ao restringir-se à mera condenação dos países, sem realizar ações concomitantes voltadas à melhoria da situação de direitos humanos por meio da capacitação estatal e da troca de experiências.
Há, todavia, significativa demanda reprimida por cooperação técnica em matéria de direitos humanos. Desde o início das atividades do CDH, vários países - entre eles Burundi, Haiti, Libéria e República Democrática do Congo - apresentaram pedidos de auxílio ao CDH com base no reconhecimento das dificuldades encontradas por seus órgãos nacionais em implementar a normativa internacional de direitos humanos.
A experiência prática que o Brasil tem adquirido em países como Guiné Bissau, Moçambique e Timor Leste, entre outros, habilita-nos a suprir tal demanda, tanto em direitos econômicos, sociais e culturais quanto em direitos civis e políticos.
Em visita a Bissau, em 2005, o Presidente Lula prometeu ajudar o país no seu processo de consolidação da democracia e expressou sua expectativa de que a reconciliação interna promovesse a convivência democrática na diversidade. Temos buscado contribuir para a democracia na Guiné-Bissau em momentos de instabilidade política e institucional por meio de auxílio financeiro e envio de missões técnicas para a realização do processo eleitoral. Assinei, em 2007, juntamente com Condoleezza Rice, pelos Estados Unidos, e António Isaac Monteiro, pela Guiné-Bissau, Memorando de Entendimento destinado a apoiar o Parlamento guineense na coordenação da assistência legislativa. Como coordenador da Configuração Específica da Comissão de Construção da Paz para a Guiné-Bissau, defendemos a adoção de medidas que conjuguem desenvolvimento econômico e inclusão social, essenciais para o equacionamento de outros problemas de longo prazo, por exemplo, na área de segurança.
No Haiti, o Brasil comanda, desde 2004, o componente militar da Missão das Nações Unidas de Estabilização do Haiti (Minustah). Nestes cinco anos de presença em solo haitiano, o Brasil buscou transcender o aspecto meramente militar da liderança da missão e inovou ao integrar as dimensões da promoção do desenvolvimento e do fortalecimento do Estado de direito no país. A Minustah contribui para a proteção dos direitos humanos no Haiti em duas vertentes: primeiro, ao apoiar o restabelecimento da segurança, o que cria condições mínimas para a proteção dos direitos humanos no País; segundo, ao apoiar a consolidação das instituições judiciárias e a capacitação da Polícia Nacional Haitiana. O fortalecimento do Estado de Direito, no Haiti, é um grande desafio, que depende, em última análise, dos próprios haitianos. A comunidade internacional pode e deve ajudar os haitianos nesse processo.
Muitas outras situações mostram que o diálogo e a cooperação são mais eficazes do que a mera condenação ou o recurso a sanções. Estive no Zimbábue no final do ano passado, quando muitos países criticavam a possibilidade de uma aproximação entre o Governo de Robert Mugabe e a oposição liderada por Morgan Tsvangirai. Independemente das razões que moviam os Governos críticos ao diálogo - interesses econômicos ameaçados, a culpa pelo passado de coerção colonial - o fato é que não estimularam uma reconciliação interna e defenderam abertamente a imposição de sanções contra o Zimbábue.
De minha parte, conversei com Mugabe, com os líderes da oposição e com o principal mediador estrangeiro, o então Presidente sul-africano Thabo Mbeki. A todos expressei a posição do Governo brasileiro de que o diálogo e a aproximação entre as forças políticas era o melhor caminho para a estabilidade e o desenvolvimento do Zimbábue. Melhorar efetivamente as condições de vida da população, no terreno, era mais importante do que passar atestados de culpa de eficácia duvidosa por violações de direitos humanos, que pouco contribuiriam para a pacificação do país. Meses mais tarde, a formação de um Governo de coalizão revelou-se crucial para a normalização da vida política, econômica e social, com efetivos ganhos para a população do Zimbábue, como quase todos reconhecem hoje.
O Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos
Destaco ainda a participação do Brasil no Sistema Interamericano de Direitos Humanos, cujos principais órgãos são a Comissão e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. São reais os impactos que esses mecanismos de garantia podem provocar no cotidiano das pessoas dos países que reconhecem sua competência. Os principais temas levados ao sistema interamericano têm relevância direta na vida de grande número de pessoas, como segurança pública, condições carcerárias, racismo, direitos indígenas e proteção de defensores de direitos humanos.
Ao sistema interamericano podem ser atribuídas mudanças concretas em vários países da região, inclusive no Brasil. A política nacional de erradicação do trabalho escravo, a legislação de prevenção e sanção da violência contra as mulheres, conhecida por Lei Maria da Penha, e a mudança do modelo assistencial em saúde mental são exemplos emblemáticos de políticas públicas que têm inspiração em acordos e decisões geradas no âmbito do sistema interamericano.
Conclusão
Os avanços na proteção dos direitos humanos no Brasil permitiram ao País consolidar posição de interlocutor coerente e equilibrado no sistema multilateral, com capacidade de influenciar o debate sobre direitos humanos e colaborar para melhorias efetivas no respeito a esses direitos em outros países. Temos priorizado o desenvolvimento de agenda positiva de proteção dos direitos humanos, que rompa com a tradição de debates estéreis sobre o assunto baseados mais na conveniência política dos países do que nas reais necessidades das pessoas que sofrem os efeitos de violações.
Uma militância construtiva em favor dos direitos humanos leva em conta as peculiaridades de cada situação e as verdadeiras necessidades das vítimas das violações. Em reação a crises humanitárias, a comunidade internacional deve buscar o difícil equilíbrio entre o fortalecimento dos esforços pela paz e a necessidade de resposta condenatória às violações dos direitos humanos. A mera condenação leva ao isolamento. O diálogo e a persuasão são muitas vezes mais eficazes para a melhoria da situação no terreno ao trazer à cooperação as partes responsáveis pelo cumprimento das decisões dos fóruns multilaterais.
Defendemos uma atitude de não-indiferença, sem descuidar dos princípios basilares da soberania estatal e da não-intervenção nas relações internacionais. Essa posição se reflete nas iniciativas do Brasil no Conselho de Direitos Humanos, no comando do componente militar da Minustah, na coordenação da Configuração para a Guiné-Bissau da Comissão de Construção da Paz, nos projetos de cooperação Sul-Sul e na ampliação da ajuda humanitária que enviamos ao exterior. Além disso, temos envidado esforços para a construção de uma ordem internacional mais justa e igualitária, que favoreça a defesa desses direitos, o que inclui a democratização das instâncias decisórias internacionais.
Esse engajamento internacional só é possível por nosso diálogo privilegiado com países de todas as regiões - posição desfrutada por poucos países no mundo. A criação do Fórum IBAS entre três grandes democracias multirraciais de países em desenvolvimento; a criação e coordenação do G-20 para defender os interesses comerciais dos países em desenvolvimento na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) e as Cúpulas América do Sul - Países Árabes (ASPA) e América do Sul - África (ASA) são exemplos de iniciativas que contribuem para essa nossa posição.
Como afirmei na Sessão Inaugural do Conselho de Direitos Humanos, em junho de 2006, é preciso que o nosso objetivo não seja só de condenação, mas também de promoção; de não correr atrás de vitórias políticas de um tipo ou de outro, mas de assegurar que cada indivíduo possa desfrutar a vida livre do medo, da fome e do desrespeito. A cooperação precisa prevalecer sobre a vitimização. E os ideais - precisamente aqueles que foram consagrados na Declaração Universal - precisam prevalecer sobre a conveniência política.
Palácio Itamaraty, Brasília – Telefones: (61) 2030-6160 / 8006 / 8007
Fax: (61) 2030-8002 / 8017     –     imprensa@itamaraty.gov.br


Sobre ser de "direita" ou de "esquerda, no Brasil e no mundo...

Se quisermos realmente qualificar posturas de direita e de esquerda, temos que verificar como as pessoas se posicionam, por exemplo, frente ao capital e ao trabalho; mas não só isso…
Rodolpho Motta Lima, Direto da Redação - no Pragmatismo Político

O tema em questão é mesmo instigante. É interessante verificar como incomoda a alguns a simples menção às categorias “esquerda” e
“direita” no campo da política. Mais interessante ainda é perceber que a
reação quase sempre parte daqueles que, pelo que pensam e praticam,
seriam de direita…
É uma discussão estéril, concordo, mas por motivos diferentes
dos normalmente levantados. Em países considerados modelares por
esses mesmos críticos , a terminologia esquerda x direita, com suas
variações, é empregada sem os traumas que provoca aqui. Então,
é mesmo uma discussão estéril, porque não há como negar o óbvio.
Há – e desde sempre – no Brasil e no mundo, pensamentos e atitudes
de esquerda e de direita, em maior ou menor profundidade, gerando
maiores ou menores consequências. Os termos remontam à Revolução Francesa: os Girondinos, à direita no plenário da Assembleia nacional, representavam os nobres e os burgueses ricos; os Jacobinos, sentados à esquerda, eram representantes da pequena burguesia e do povo. Mas as
duas posturas ideológicas vêm de muito antes.
Não sei se ajuda como argumento mencionar as recentes declarações do ministro Joaquim Barbosa, o herói da vez na mídia, afirmando, na Costa
Rica, que, em nosso país, os três maiores jornais impressos são, todos
eles, “mais ou menos inclinados para a direita no campo das ideias”. De
onde será que ele tirou essa palavra? E como chegou a essa conclusão?
Mencionei o adjetivo “ideológicas”, porque é mesmo disso que se trata: ideologia, ou seja, um conjunto de ideias (ou ideais?) que as pessoas
acabam assumindo em função da visão do mundo que absorveram, dos valores que aprenderam, das vivências que experimentaram. Todos
precisam de uma ideologia pra viver (e não apenas o Cazuza), e mesmo
os que a recusam já assumem uma, no ato mesmo de recusá-la…
Em cada momento, em cada lugar, as posições de esquerda e de direita podem até apresentar variações, nuances, matizes. Mas há sempre
como enxergar os dois campos. E não é, seguramente, desqualificando
um dos dois com a análise de processos de corrupção (um certo “corruptômetro” que anda por aí), que iremos separar os dois lados.
Se esse ou aquele político de esquerda é corrompido, esse ou aquele
político de direita também o é. Se funcionários de órgãos públicos
cedem às propinas, empresários da iniciativa particular é que os
compram…

O destaque que se dá a um ou outro desses lados corre por conta dos interesses de quem destaca. No Brasil, por exemplo, a tal mídia de direita apontada pelo presidente do STF destaca os erros da esquerda e omite
os da direita a que pertence. Por esse caminho, então, não chegamos a
lugar algum, a não ser à convicção de que a corrupção é nefasta, onde
existir, e deve ser combatida. E que valeria a pena discutir que tipo de sociedade é essa que, calcada no lucro e nos valores materiais, gera,
a todo momento, fraudes, negociatas e corrupção…
Se quisermos realmente qualificar posturas de direita e de
esquerda, temos que verificar como as pessoas se posicionam,
por exemplo, frente ao capital e ao trabalho. Não é interessante
verificar que ruralistas e latifundiários se autointitulam e são rotulados
pela mídia como membros das “classes produtoras”? Onde ficam os
que realmente produzem, os trabalhadores do campo, explorados e
às vezes escravizados? Dependendo de para onde façamos pender
a nossa “balança ideológica”, seremos, sim, de direita ou de esquerda.
Quem aceita, por exemplo, passivamente, o rótulo de “consumidor” e
não percebe a gradativa ascendência dessa palavra sobre o nome
“cidadão”, seguramente está absorvendo valores da direita, do mercado,
do consumo individualista a qualquer preço, em detrimento de valores
sociais que se perdem a cada dia… Um problema de esquerda ou
direita, podem crer…
As cotas , e o posicionamento que se assume sobre elas,
são um outro tema que permite a identificação ideológica. Elas
colocam de um lado os que as rejeitam como algo contrário à
“meritocracia”, que não premiaria os “melhores”. Uma espécie de
“seleção natural” que de natural não tem nada, porque esquece, convenientemente, que o “mérito” , em um país perversamente
desigual como o nosso, já começa no berço, e acaba sendo, com
exceções que confirmam a regra, um mecanismo de perpetuação de
elites. Do outro lado, há os que lutam pelas cotas como instrumento
de correção social, um pagamento de dívidas históricas contraídas
pelos poderosos. Direita x esquerda, sem dúvida…
Nessa esteira haveria muitos outros exemplos. Um, bem emblemático:
bolsa-família. A posição de direita considera que a bolsa estimula
a inércia, uma espécie de “dolce far niente” dos premiados com as
“polpudas” importâncias, um bando de desocupados que o Governo
subsidia… Nada mais perverso do que os bem alimentados ousando
discorrer sobre o problema dos que têm fome, aquela mesma fome
que o saudoso Betinho dizia que “não podia esperar”. O que interessa,
para a esquerda, é que dezenas de milhões de brasileiros saíram da
miséria e vão mais longe do que isso, muito mais, a julgar pelas
recentes notícias que dão conta que 1,3 milhão de “bolsistas” devolveram
a sua bolsa ao Governo porque já conseguem caminhar com os próprios pés…
Segmentos de direita podem, aqui e ali, ter posicionamentos mais à esquerda, até por demagogia. Da mesma forma, por fraqueza ideológica, a esquerda pode ter momentos de direita. Não devia ser assim, mas acontece. Mais cedo ou mais tarde , essa confusão de quem entra em contradição com a própria visão do mundo pode provocar irreversíveis problemas de consciência. Nesse quesito, felizmente, e desde garoto, a minha consciência vai seguindo em paz…


quarta-feira, 26 de novembro de 2014

No Brasil e EUA os encarcerados e assassinados são jovens negros

EXTERMINIO-juventude-negra
De acordo com 8º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, das 53.646 vítimas de homicídio, 36.479 são negras; dos 574.207 presos, 307.715 são negros
11/11/2014
Da Redação do Brasil de Fato - no Maria Frô
De 2009 a 2013, cresceu o número de homicídios no Brasil, de 44.518 mil para 53.646 mil. Das vítimas fatais do ano passado, 36.479 eram negras. O valor corresponde a exatamente 68% do total. A maioria das vítimas (53,3%) tinha entre 15 e 29 anos e eram homens (93,8%). Os dados apresentados são do 8º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) divulgado nesta terça-feira (11) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Outro dado apontado pelo relatório é o número de presos no Brasil. Segundo o FBSP, o país já possui 574.207 pessoas encarceradas – cerca de 23 mil a mais que em 2012. Deste total, 307.715 são negros, 61,7% a mais que brancos. A maioria das pessoas – 75% – se encontra privada de sua liberdade por tráfico de drogas e crime contra o patrimônio.
Outro dado alarmante levantado pelo relatório é o número de presos provisórios, que estão aguardando julgamento, que chega a 215.639 pessoas, ou seja, 40,1% do total de presos no sistema penitenciário, que não inclui os que estão sob custódia das polícias.
Diante desses números, Fábio de Sá e Silva, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea e pós-doutorando no centro de profissões jurídicas da Harvardu University  Schooloflaw, avalia que o crescente encarceramento, com ênfase em jovens, negros e por crimes associados a entorpecentes e o aumento do número de presos em situação provisória explicam por que o Brasil caminha resoluto para alcançar posições de destaque entre os países que mais encarceram.
De acordo com ele, a publicação dos dados do relatório coincide com o início de um novo ciclo governamental, no qual a política prisional terá de ser profundamente repensada.
“Um primeiro investimento deverá ser feito na retomada do vínculo entre a política prisional e a política criminal, com a avaliação dos efeitos do atual arcabouço jurídico-penal sobre os níveis de encarceramento e uma apreciação crítica dos próximos movimentos a serem adotados”, explica no relatório.
Fábio ainda ressalta que é fundamental o governo investir na ampliação do repertório punitivo, de modo que a prisão deixe de ser a única ou a principal resposta de que o Poder Público dispõe para dar conta da violência e da criminalidade.
“Neste sentido, aliás, talvez o maior desafio, mas também a melhor aposta no setor para o próximo ciclo governamental seja abrir o tema a discussões públicas e envolver a sociedade civil, os especialistas e trabalhadores”, conclui.
Sem tempo para sonhar: EUA têm mais negros na prisão hoje do que escravos no século XIX