domingo, 29 de março de 2015

Confira alarmante ensaio fotográfico das Mulheres Guerreiras na Síria de al-Assad

no Literatortura
Syria: FSA Women Fighters
“Eu entrei na Síria pela Turquia, no dia 22 de Setembro, com o propósito de chegar a Alepo, cidade onde a luta estava sendo travada. O plano era cobrir as batalhas ao longo das linhas de frente em uma área controlada pelo Exército de Libertação da Síria, na cidade sitiada.
Dois desertores do exército da Síria, agora ativistas rebeldes, eram meus contatos. Eu viveria com e seria guiado por eles pelas próximas duas semanas.
Ao entrar na cidade, o barulho dos bombardeios e ataques aéreos chegaram rapidamente aos meus ouvidos, e a fumaça dos telhados engolfava toda a linha do horizonte. Fiquei surpreso ao constatar que o cotidiano daquelas pessoas continuava normalmente, em meio a fortes explosões de um bombardeio mortal.
Os sírios que decidiram permanecer na cidade escolheram uma vida de medo e pesar enquanto sua família, amigos e vizinhos, são mortos e feridos durante a campanha militar do Presidente Bashar al-Assad, na tentativa de recuperar o controle de Alepo.
“O que você quer que façamos? Que deixemos nossas casas e corramos para a Turquia? Eu prefiro viver em minha casa a viver em condições miseráveis como um refugiado”, diz Ahmed, dono de uma loja nas vizinhanças de Sai Al Dowle, enquanto eu andava em direção a posição de luta do FSA (Free Syria Army).
Eu entrei em Dar Al Chifa, um dos hospitais remanescentes em Alepo. Todo o chão estava coberto por enormes poças de sangue.
Havia um sentimento de desespero e medo. Os gemidos dos feridos e os choros das crianças nos cercavam.
Um dos médicos me disse que o governo sírio deliberadamente mira nos civis. Ele quer assustar a população de Alepo para que não apóiem o Exercito de Libertação da Síria.
Andei pelos escombros da cidade […] Do outro lado, o grupo dos soldados do FSA estavam preparando-se para a batalha.
Um jovem soldado me abordou: “Bem-vindo, bem-vindo, não tenha medo. Agora nós iremos lutar. Nós lutamos por nossas famílias e por nossos amigos. Nós lutamos porque não há nada que nos resta fazer além de lutar.”
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O trecho alarmante e comovente provém de um curto documentário do fotógrafo Sebastiano Piccolomini, que apresenta, também através de fotos, a realidade de um dos países envolvidos na chamada Primavera Árabe: a Síria.
A Síria, influenciada por protestos simultâneos no mundo árabe, passa por uma Guerra Civil que progrediu para uma violenta revolta armada. A luta visa a destituição do Presidente Bashar Al-Assad e a implantação de uma liderança política mais democrática.
A série fotográfica de Sebastiano Piccolomini mostra a força das mulheres sírias, que, em meio a anos incessantes de massacre, decidiram participar ativamente da luta para defender sua família e seus amigos; em um país com uma alta taxa de estupros e com uma tradição que impõe o uso dos véus. Algumas mulheres, ainda de Niqab (véu conservador que deixa à mostra apenas os olhos) mostram seu lado revolucionário e determinado no impactante ensaio que se segue.

“Que escolha nós temos?” – Rana, estudante de 20 anos, membro da única unidade de luta composta apenas por mulheres no Exército de Libertação da Síria.
“Minha casa em Dar’a foi destruída por duas bombas… Mudei-me para Alepo com minha família, e escolhi pegar uma arma e lutar contra o regime. – Om Ahmad, 72 anos de idade, dona de casa e mãe de 3 filhos.
“O Ocidente não vê problema algum na Síria, e, enquanto imploramos por ajuda, nossas crianças, amigos e famílias estão sendo punidos sem motivo algum.” – Ali, estudante de 16 anos.
“Ser abusada por um guarda de segurança do regime na frente do meu marido foi a coisa mais humilhante que já aconteceu com a minha família. Eu peguei uma arma e entrei para a luta.” – Om Faraj, 30 anos, dona-de-casa sem filhos.
“Meu marido morreu na linha de frente. Eu morrerei na linha de frente.” – Fadwa, 20 anos, viúva e mãe de 3 crianças.
“Me sinto otimista. Nós derrotaremos o regime e poremos um fim a pobreza e aos maus tratos.” – Khansa, 42 anos, dona de casa e mãe de 7 crianças.
“Eu luto pela vida e pela liberdade, eu luto para provar que homens e mulheres são iguais.” – Benifet Ikhala, viúva de 27 anos e mãe de 6 crianças.
Revisor: Pedro Dalboni
SOBRE O AUTOR

,16 anos, cursando o Ensino Médio. Sonha em brincar de passarinho e conhecer o mundo. Enquanto isso, conheceu a arte, a literatura, o cinema e as Ciências Humanas, e aprendeu a passarinhar por vários mundos diferentes.

Diferenças culturais e o TDAH: por que as crianças francesas “não têm” Deficit de Atenção?

 no Literatortura

Distracted Student in Classroom
Essa semana foi marcada por muitas discussões quanto a repercussões o lançamento do novo manual diagnóstico psiquiátrico, o DSM-V, durante o 166o Encontro Anual da Associação Psiquiátrica Americana. Mesmo sendo feito por uma organização nacional dos EUA, seu conteúdo influencia fortemente a clínica psiquiátrica em todo o mundo, seja em diagnóstico e tratamento, seja na elaboração de políticas de saúde racionais, seja em estratégias de prevenção e quebra de estigma. E sempre que mudanças são propostas, a polêmica, que já existe num nível basal, se intensifica e explode em vários ambientes, de veículos de comunicação em massa a mesas de buteco: todos tem uma opinião pra dar, geralmente de forma apaixonada. A variação vai desde os mais radicais da anti-psiquiatria que acreditam que não deveria haver nenhum diagnóstico psiquiátrico, que medicações não devem ser tomadas e que a especialidade médica como um todo só trouxe retrocessos para o mundo; até os próprios psiquiatras, que lidam com doentes mentais diariamente e reconhecem suas dificuldades e pensam constantemente em formas de ajudá-los cada vez mais (e  são acusados de criar um “mercado” ilusório).
E daí vêm os argumentos: os “anti” dizem que estão querendo patologizar o normal, e o drama começa dizendo que viver é patológico, que ser humano é patológico… É muito mimimi e pouco informação verdadeira. Os “pró”, as pessoas mais envolvidas com o assunto, tentam explicar o fundamento do diagnóstico psiquiátrico: é necessário que as alterações de comportamento causem sofrimento para a pessoa e/ou disfunção em alguma área da vida, seja no trabalho, seja na família, seja em sua interação com a sociedade. Se isso não existir, uma avaliação psiquiátrica nem se inicia. Assim, se você tem algum comportamento estranho mas está tudo bem pra você, você até gosta, e isso não atrapalha em absolutamente nada de sua vida, eu posso dizer que psiquiatra nenhum vai poder te diagnosticar de nada.
Mas agora um ponto sensível nessa condição são as crianças. Durante o desenvolvimento, as crianças aprendem como perceber o mundo, como lidar com a realidade, como interagir com outras pessoas que existem independentemente dela e que têm seus próprios interesses e opiniões. Aprendem, em suma, como estar no mundo de maneira saudável. A partir daí temos vários momentos, como a fase do “por que?”, em que a criança explora o mundo e tenta significar as coisas de alguma forma; a fase do ciúme com o irmão mais novo, em que não se vê mais como alvo da atenção exclusiva dos pais e têm de lidar com sua agora forçada independência, e por aí vai. Agora como essa percepção ocorre não apenas da realidade externa, mas também da realidade interna, algumas situações podem ser problemáticas. Como uma criança pode se dizer triste, se ela não tem repertório de vivências e sensações o suficiente para caracterizar esse sentimento? Como ela poderia dizer que sente medo, se algumas vezes ela foi criada em um ambiente hostil e essa realidade (externa e interna) é a única que ela conhece? E por conta disso, por as crianças não conseguirem expressar esse sofrimento, geralmente por não entendê-lo ou, em casos mais graves, por não percebê-lo, podemos negar esse sofrimento real? Crianças estão imunes ao adoecimento mental?
E pra isso a única ferramenta que temos é considerar se existe alguma disfunção na vida da criança (que seria secundário a esse sofrimento oculto) é a nossa percepção dessa realidade. Nós, adultos, que já aprendemos a identificar sensações, que já temos uma noção mais elaborada da realidade, a partir de nossas experiências pessoais, vamos usar a nossa visão para avaliar se existe sofrimento naquela criança. É claro que isso talvez não seja o ideal, mas a  noção de urgência é diferente: uma criança com este tipo de sofrimento interno vai perceber e apreender a realidade, construindo seus pensamentos acerca da realidade de uma forma claramente desviada. E as consequências são para todo o restante de sua vida.
Outro aspecto é que a criança não vai sozinha procurar ajuda. Ela é trazida. Alguém, geralmente os pais, percebem que aquela criança é “esquisita, não se comporta como as outras”, e às vezes fica só por aí mesmo. Se essa “esquisitisse” é algo que está no olho dos pais e eles que estão tendo dificuldade em lidar com o filho da forma que ele é, se é apenas o jeito da criança e isso não é um problema para ela, ou se isso é de fato uma patologia com necessidade de intervenção são lados a ser pensados.
E o grande conflito dessa relação pais-crianças-psiquiatra alcança o ápice da discussão no TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade). A prevalência (total de casos num dado momento) estimada global é de cerca de 3,5-4% nas crianças, mas com enormes variações regionais. E isso gerou grande discussão recentemente. Em relação às crianças em idade escolar, a prevalência é de 9% nos EUA e de 0,5% na França. É claro que existem alguns dados relevantes na hora de pensarmos sobre esses dados: a França tem uma classificação própria de diagnóstico em psiquiatria infantil, o CFTMEA, enquanto que os EUA usam o DSM, e sempre alterações nos critérios diagnósticos refletem em alterações no número de diagnósticos. Outra coisa é que países diferentes, com aspectos culturais diferentes, apresentam realidades diferentes para as crianças apreenderem. Mas apesar do mundo externo apresentar tais diferenças, o ser humano é o mesmo, e o processo de desenvolvimento mental irá ocorrer de forma independente da localização geográfica.
O TDAH é, como os outros diagnósticos psiquiátricos, uma construção social. Como a ciência ainda não avançou o suficiente para que possa ser falado em diagnóstico etiológico (avaliando a causa, seja cerebral ou até em nível genético), os diagnósticos são pensados através de como os sintomas se apresentam. Em relação a maioria dessas patologias da infância, como existe a dificuldade de ter acesso ao sintoma referido e só se consegue acessar o sintoma manifesto, a dificuldade de objetivização pode ser diferente. E uma outra questão é a particularidade dos sintomas do TDAH. Diminuição de atenção, percebida principalmente por dificuldades de interação interpessoal e problemas de aprendizado ou outros problemas escolares preocupam os pais. Se juntarmos a isso um comportamento impulsivo da criança e uma quase incapacidade de ficar parada e quieta por um momento, essa preocupação ganha uma proporção maior no ambiente familiar.
Uma coisa importante que deve ser ressaltada é que desatenção e aumento das atividades por uma simples empolgação ou “excesso de energia” são sensações normais para todas as pessoas. A patologia aqui aparece no momento em que esses comportamentos causam alguma repercussão negativa na vida da criança, vista de uma forma que, por sua intensidade, distoa do limite do aceitável naquele contexto. Várias crianças podem apresentar alguma desatenção (mas que a fundo pode ser apenas desinteresse), e alguma inquietação (que pode ser apenas a vontade de realizar alguma outra atividade), e que, mesmo isso não sendo excessivo, algumas famílias podem patologizar esse comportamento em busca da construção de um filho que se adeque melhor as expectativas dos pais. E com a proposta de um tratamento que melhoraria a atenção das crianças com TDAH, de forma a focarem melhor a atenção nas atividades e diminuir essa hiperatividade, fica evidente uma consequência (formalmente secundária) de um aumento da produtividade. É claro que essa criança vai conseguir aprender melhor os conteúdos ensinados na escola, suas notas vão subir, seu desempenho global vai melhorar, e tudo isso é muito positivo. Mas daí aparecem os pais das crianças que não tem um desempenho brilhante e têm traços leves de desatenção e querem que seus filhos sejam medicados. O problema  no estabelecimento de um diagnóstico nesses casos está na percepção dos pais sobre o problema que vem trazida junta com a criança, de forma a superestimar um problema que na realidade não é tão grave.
Essa percepção a partir do núcleo familiar a respeito do que é um aspecto normal da personalidade em desenvolvimento daquela criança e do que é algo de patológico que deve ser tratado varia de acordo com o próprio entendimento de determinado grupo social sobre a infância. E ao compararmos essa percepção entre a franceses e estadunidenses, podemos ver uma diferença grande. E eis aqui o porquê. Na França, o conceito de núcleo familiar é estruturalmente mais forte. É defendido lá que a disciplina e a imposição de limites é saudável e necessário para que ocorra uma apreensão da realidade da forma mais saudável e bem-estruturado possível. Em momentos em que a criança está encontrando seu lugar no mundo, se ver como uma pessoa igual às outras, de forma completa, sem ter uma visão egocêntrica de si são aspectos que são facilitados por esse ambiente criado pelos pais, no curso da educação. Existe uma preocupação maior em ajudar as crianças a lidar com seus problemas de uma forma a ajudar na conquista de certa autonomia. E lá paira uma visão geral de se evitar uso em excesso de medicações, sobretudo psiquiátricas, em crianças. Nos EUA as coisas tendem a ser diferentes. A estrutura familiar não costuma ser pensada de forma a ter  regras e limites, o que em suma significa um estabelecimento adqueado de papéis dos integrantes da família, a fim de se criar um ambiente propício para um desenvolvimento saudável. Outro aspecto é a cultura de resolutividade rápida dos problemas da forma mais cômoda possível. Assim, se uma criança apresenta baixo rendimento escolar, alguns pais pulam etapas na resolução do problema: eles não tentam entender, junto com a criança, se está acontecendo algum problema. Não tentam conversar com os professores para identificar no que eles podem ajudar, e caso seja um comportamento desviado (não digo aqui patológico), não é feita nenhuma tentativa de se alterar a educação que está sendo dada à criança. Eles algumas vezes levam a criança ao médico. E querem medicação.
O diagnóstico psiquiátrico tem, ao olhar da sociedade, um papel polêmico de querer ser controlador e rotulador. No fundo, isso se trata apenas de uma conclusão distorcida de premissas erradas, mas o clima hostil está presente. É claro que os critérios atuais não são uma versão final e imodificável do diagnóstico, e a busca por avanços para melhor identificação, de forma a se reconhecer quais são os doentes que precisam de ajuda e se evitar estabelecer um tratamento para quem não tem tal indicação, é uma grande prioridade dos psiquiatras. Enquanto essa evolução da ciência avança em seu próprio ritmo, as discussão acaloradas continuarão existindo. Barreiras ideológicas serão impostas e pessoas que precisam de ajuda terão dificuldade em ter acesso a um tratamento. Mas para isso talvez a evolução da ciência não seja por si só uma condição suficiente para se mudar essa situação. A evolução deve ser primariamente social. Quando não houver mais esse clima de preconceito e desconfiança, e a reflexão levar a um entendimento mais próximo do real, acredito que nesse ponto as coisas começarão a mudar.

Renato O. Rossi, 23 anos, médico "quase" psiquiatra, envolvido até o talo com a mais diversa gama de variação do sofrimento humano, sempre se apoiando na literatura não apenas como fuga em momentos de tensão, mas também como importante base teórica. Afinal, quem entende mais sobre a vida, o humano e suas ramificações do que aquele que a dedicou a entendê-los em sua forma mais completa e apaixonada que o escritor?

Chomsky: o mundo que nossos netos herdarão?

POR NOAM CHOMSKY no Outras palavras
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Como EUA fortalecem, numa época já turbulenta, surgimento de grupos como ISIS. A estranha relação Washington-Telaviv. Nas mudanças climáticas, sinal de decadência do sistema
Entrevista a David Barsamian, na Jacobin | Tradução Pedro Lucas Dulci
Entrevistado pelo jornalista David Barsamian, o professor Noam Chomsky, explica as raízes do Estado Islâmico (ISIS) e porque os EUA e seus aliados são responsáveis pelo grupo. Particularmente, argumenta, a invasão do Iraque em 2003 provocou um divisão sectária que desestabilizou a sociedade iraquiana. Solo fértil para os sauditas estimularem grupos radicais.
A entrevista também toca no massacre israelense na faixa de Gaza, destacando o papel vital de Israel no tabuleiro político norte-americano. Chosmky conta, por exemplo, como Telaviv foi usada por Washington para fornecer, ao exército a Guatemala, as armas que permitiram o massacre contra comunidades maias. Era a época do governo Ronald Reagan; o Congresso havia proibido tal assistência militar — Israel prontificou-se a ser solução. 
Por fim, Chomsky compartilha seus pensamentos sobre o crescente movimento pela justiça climática e porque acha que essa é a questão mais urgente hoje. 
O Oriente Médio está em chamas, da Líbia até o Iraque. Existem novos grupos jihadistas. O foco atual é o ISIS. O que dizer sobre ISIS e as suas origens?
Há uma interessante entrevista que só apareceu há alguns dias atrás, com Graham Fuller, um ex-agente da CIA, um dos principais fontes da inteligência e dos analistas mainstream sobre o Oriente Médio. O título é “Os Estados Unidos criaram o ISIS”. Aparentemente, seria mais uma das milhares de teorias da conspiração que rondam o Oriente Médio.

Mas trata-se de algo diferente — que vai direto ao coração do establishment norte-americano. Fuller apressa-se em frisar que sua hipótese não significa dizer que os EUA decidiram dar existência ao ISIS e, em seguida, o financiaram. Seu — e eu acho que é algo acurado — é que os EUA criaram o pano de fundo em que o ISIS cresceu e se desenvolveu. Em parte, apenas devido à abordagem devastadora padrão: esmagar aquilo de que você não gosta.
Em 2003, os EUA e a Grã-Bretanha invadiram o Iraque, um crime grave. A invasão foi devastadora. O Iraque já havia sido virtualmente destruído, em primeiro lugar pela década de guerra com o Irã — no qual, aliás, Bagdá foi apoiado por os Washington — e depois pela década de sanções econômicas e políticas.
Tais sanções foram descritas como “genocidas” pelos dois respeitados diplomatas internacionais que os administravam e, que, por esse motivo, renunciaram em protesto. Elas devastaram a sociedade civil, fortaleceram o ditador, obrigaram a população a confiar nele para a sobrevivência. Essa é provavelmente a razão pela qual ele não seguiu o caminho natural de todos os outros ditadores que foram derrubados.
Por fim, os EUA simplesmente decidiram atacar o país em 2003. O ataque é comparado por muitos iraquianos à invasão mongol de mil anos atrás. Muito destrutiva. Centenas de milhares de pessoas mortas, milhões de refugiados, milhões de outras pessoas desalojadas, destruição da riqueza arqueológica e da riqueza do país da época suméria.
Um dos efeitos da invasão foi instituir imediatamente divisões sectárias. Parte do “brilhantismo” da força de invasão e de seu diretor civil, Paul Bremer, foi separar os grupos — sunitas, xiitas e curdos — uns dos outros, e instigá-los uns conta os outros. Após alguns anos, houve um conflito sectário brutal, deflagrado pela invasão.
Você pode enxergar isso se olhar para Bagdá. Um mapa de Bagdá de, digamos, 2002, revela uma cidade mista: sunitas e xiitas vivem nos mesmos bairros e casam entre si. Na verdade, às vezes nem sabiam quem era sunita, e quem era xiita. É como saber se seus amigos estão em um ou outro grupo protestante. Existiam diferenças, mas não eram hostis.
Na verdade, durante alguns anos ambos os lados diziam: nunca haverá conflitos sunitas-xiitas; Estamos muito misturados na natureza de nossas vidas, nos locais onde vivemos, e assim por diante. Em 2006, houve uma guerra feroz. Esse conflito se espalhou para todo o Oriente Médio — hoje, cada vez mais dilacerado por conflitos entre sunitas e xiitas.
A dinâmica natural de um conflito como esse é que os elementos mais extremos comecem a assumir o controle. Eles tinham raízes. Estão no mais importante aliado dos EUA, a Arábia Saudita, com a qual Washington está seriamente envolvidos desde a fundação do Estado nacional. É uma espécie de ditadura da família. O motivo é sua uma enorme quantidade de petróleo.
Mesmo do domínio dos EUA, a Grã-Bretanha sempre preferiu o islamismo radical ao nacionalismo secular, no mundo árabe. E quando os EUA passaram a ser hegemônicos no Oriente Médio, adotaram a mesma posição. O islamismo radical tem seu centro na Arábia Saudita. É o estado islâmico mais extremista, mais radical no mundo. Faz o Irã parecer um país tolerante e moderno, em comparação — e os países seculares do Oriente Médio árabe ainda mais, é claro.
A Arábia Saudita não é apenas dirigida por uma versão extremista do Islã, os salafistas wahhabistas. É também um Estado missionário. Usa seus enormes recursos petrolíferos para promulgar suas doutrinas em toda a região. Estabelece escolas, mesquitas, clérigos, em todo o lugar, do Paquistão até o Norte de África.
Uma versão extremista do extremismo saudita foi assumida pelo ISIS. Este grupo cresceu ideologicamente, portanto, a partir da forma mais extremista do Islã — a versão da Arábia Saudita — e dos conflitos engendrados pela invasão norte-americana, que quebraram o Iraque e já se espalharam por toda a região. Isso é o que Fuller argumenta, em sua hipótese.
A Arábia Saudita não só fornece o núcleo ideológico que levou ao extremismo radical do ISIS (e de grupos semelhantes que estão surgindo em diversos países), mas também o financia e lhe oferece apoio ideológico. Não é o governo de Riad que o faz — mas sauditas e kwaitianos ricos. O ataque lançado à região pelos Estados Unidos e pela Grã-Bretanha é a fonte, onde tudo se origina. Isso é o que significa dizer os EUA criaram ISIS.
Pode ter bastante certeza de que, à medida que esses conflitos se desenvolvem, eles se tornarão mais extremistas. Os grupos mais brutais tenderão a assumir o controle. É o que acontece quando a violência se torna o meio de interação. É quase automático: em favelas ou nos assuntos internacionais. As dinâmicas são perfeitamente evidentes. É este o papel do ISIS vem. E se for destruído, surgirá talvez algo ainda mais extremo.
Os meios de comunicação são obedientes. No discurso de 10 de setembro de Obama, ele citou dois países como supostas histórias de sucesso na estratégia de contra-insurgência dos EUA: Somália e Iêmen
O caso da Somália é particularmente horrendo. O Iêmen já é suficiente ruim, mas a Somália é um país extremamente pobre. Não há tempo para contar toda a história. Mas uma das grandes conquistas, um dos grandes orgulhos da política de “contraterrorismo” da administração Bush foi que eles tinham conseguido fechar uma instituição de caridade, a Barakat, que estaria alimentando o terrorismo na Somália. Enorme comoção na imprensa. Foi para eles uma conquista real.
Alguns meses mais tarde, os fatos começaram a vazar. A caridade não tinha absolutamente nada a ver com o terrorismo na Somália. O episódio tinha a ver era com bancos, comércio, assistência, hospitais. Atingir a Barakat era uma espécie de tentativa de manter a Somália profundamente empobrecida e economicamente golpeada. Existem algumas linhas sobre isso. Você pode ler em livros sobre finanças internacionais.
Houve um momento em que os chamados tribunais islâmicos, que eram chamados de uma organização islâmica, tinham conseguido uma espécie de paz na Somália. Não era um belo regime, mas pelo menos era pacífico e as pessoas o aceitavam mais ou menos. Os EUA não iriam tolerar isso, então apoiaram uma invasão etíope para destruí-la e transformar o lugar em um tumulto horrível. Essa é a grande conquista.
O Iêmen é uma história de horror própria.
Vamos à disputa de Israel contra os palestinos. Há algum tempo, um jornalista norte-americano, David Greene, conversou com um repórter em Gaza e fez o seguinte comentário: “Ambos os lados sofreram enormes danos”. Pensei para mim mesmo, isso significaria que Haifa e Tel Aviv foram reduzidas a escombros, como Gaza foi? Você se lembra do comentário Jimmy Carter sobre o Vietnã?
Não só me lembro, como acho que fui a primeira pessoa a comentar sobre isso, e provavelmente sou até hoje praticamente a única pessoa a comentar sobre ele. Fizeram a Carter, o defensor dos direitos humanos, uma pergunta leve, numa entrevista coletiva em 1977: você acha que temos alguma responsabilidade de ajudar os vietnamitas depois da guerra? Ele respondeu que não tínhamos nenhuma dívida com eles – “a destruição foi mútua”.
Isso passou sem comentários. E foi melhor do que o seu sucessor. Alguns anos mais tarde, George Bush I, o “estadista”, estava comentando sobre as responsabilidades norte-americanas após a Guerra do Vietnã, e disse: há um problema moral que permanece. Os vietnamitas do norte não empregaram recursos suficientes para entregar a nós os ossos dos pilotos americanos. Estes pilotos inocentes, derrubados sobre Iowa pelo assassino vietnamita quando estavam pulverizando colheitas, ou algo assim… Mas Bush disse: somos um povo misericordioso, por isso vamos perdoá-los por isso e vamos permitir-lhes entrar em um mundo civilizado…
O que significava: vamos permitir que eles entrem nas relações comerciais e assim por diante, o que, naturalmente, nós barramos, se eles pararem o que estão fazendo e dedicarem recursos suficientes para superar este crime pós Guerra do Vietnã. Sem comentários.
Uma das coisas que as autoridades israelenses continuam trazendo à tona, e é repetido aqui na mídia corporativa, ad nauseam, é o estatuto do Hamas. Eles não aceitam a existência do Estado de Israel, querem tirá-lo do mapa. Você tem alguma informação sobre a carta e seus antecedentes.
A carta foi produzida por, aparentemente, um grupo de pessoas, talvez dois ou três, em 1988, numa altura em que Gaza estava sob forte ataque israelense. Você se lembra de ordens de Yitzhak Rabin. Foi um levante fundamentalmente não-violento, ao qual Israel reagiu de modo muito violentamo, matando líderes, torturando, quebrando ossos, de acordo com as ordens de Rabin, e assim por diante. E bem no meio de tudo isso, um número muito pequeno de pessoas saiu com o que chamaram de um estatuto do Hamas.
Ninguém prestou atenção a ele desde então. Era um documento terrível. Mas desde então, as únicas pessoas que chamaram a atenção para ele foram a inteligência israelense e a mídia norte-americana. Ninguém mais se preocupa com isso. Khaled Mashal, o líder político de Gaza anos atrás, disse: olha, é passado, “já era”. Não tem nenhum significado. Mas isso não importa. Porque é propaganda valiosa para Telaviv.
Há também o fato de que, mesmo não sendo chamados de “estatuto”, há princípios fundadores da coalizão de governo em Israel. Nesse caso, não se trata de um pequeno grupo de pessoas, que estão sob ataque, mas da coalizão governista, o Likud. O núcleo ideológico do Likud é o Herut, de Menachem Begin. Eles sim têm documentos fundadores. Seus documentos fundadores dizem que Jordânia de hoje faz parte da terra de Israel; Israel nunca renunciará ao seu direito à terra da Jordânia. O que está agora chamado Jordânia eles chamam as terras históricas de Israel. Eles nunca renunciaram a isso.
O Likud,  partido do governo, tem um programa eleitoral – foi enunciado em 1999 e nunca revogado, é o mesmo hoje. Diz explicitamente que nunca haverá um Estado palestino a oeste do Rio Jordão. Em outras palavras, “estamos empenhados, por princípio, na destruição da Palestina”. E não são apenas palavras. Os governantes de Israel agem dia a dia para implementá-las.
Há uma história interessante sobre a chamada Carta da Organização pela Libertação da Palestina, a OLP. Por volta de 1970, o ex-chefe da inteligência militar israelense, Yehoshafat Harkabi, publicou um artigo em uma das principais revistas de Israel em que trouxe à luz algo chamado de “Carta da OLP” ou algo semelhante. Ninguém nunca tinha ouvido falar dela, ninguém estava prestando atenção nela.
E a carta diz: nosso objetivo é a nossa terra, vamos assumi-la. Na verdade, não era diferentemente das alegações do Herut, exceto o lugar de origem. Isto se tornou instantaneamente uma questão enorme em toda a mídia. Foi chamada de “A aliança OLP”. “A aliança OLP” planeja destruir Israel. Ninguém sabia nada sobre isso, mas repentinamente tornou-se uma questão importante.
Eu conheci um ex-chefe da inteligência militar israelense, Harkabi, alguns anos mais tarde. Era um moderado, aliás, um cara interessante. Tornou-se bastante crítico da política israelense. Tivemos uma entrevista aqui no MIT. Eu lhe perguntei: “Por que você trouxe à tona o documento, no instante em que pensavam em revogá-lo?” Ele olhou para mim com o olhar vazio, que você aprende a reconhecer quando você está falando com fantasmas. Eles são treinados para fingir que não entendem o que você está falando, embora entendam perfeitamente.
Ele disse: “Oh, eu nunca ouvi isso”. É algo além do concebível. É impossível que o chefe da inteligência militar israelense não saiba o que sei por ter lido trechos de imprensa árabe em Beirute. É claro que ele sabia.
Existe todo tipo de motivos para acreditar que decidiu trazer à tona precisamente porque reconheceu — ou seja, a inteligência israelense reconheceu — que seria uma peça útil de propaganda e é melhor tentar garantir que os palestinos a mantenham. É lógico que se nós os atacamos, eles dirãop: nós não vamos revogar nosso estatuto sob pressão. É o que está acontecendo com o estatuto do Hamas.
Hoje é impossível documentar isso, por uma razão simples. Os documentos estavam todos nos escritórios da OLP em Beirute. E quando Israel invadiu Beirute, roubaram todos os arquivos. Presumo que devem tê-los em algum lugar, mas ninguém vai ter acesso a eles.
O que explica a unanimidade quase absoluta do Congresso dos EUA em apoio Israel? Mesmo Elizabeth Warren, o senadora democrata altamente elogiada de Massachusetts, votou a favor desta resolução sobre a auto-defesa.
Ela provavelmente não sabe nada sobre o Oriente Médio. Acho que isso é bastante óbvio. Tome as armas dos EUA pré-posicionadas em Israel para serem usadas em possíveis ações militares na região. Isso é um pequeno pedaço de uma aliança militar e de inteligência muito próxima, que remonta a décadas. Ela realmente decolou depois de 1967, embora já existisse embrionariamente.
Os militares e a inteligência dos EUA incluem Israel entre suas bases principais. Na verdade, uma das revelações mais interessantes do WikiLeaks foi a relação dos centros considerados estratégicos pelo Pentágono, ao redor do mundo — aqueles que serão defendidos a todo custo. Um deles é uma grande instalação militar, algumas quilômetros distante Haifa: as indústrias militares Rafael.
Muita tecnologia drone foi desenvolvida ali. Depois, a sede e a gestão da Rafael foram mudadas para Washington, onde está o dinheiro. Isso é indicativo do tipo de relacionamento que existe. E vai muito além. Os investidores norte-americanos estão num relação de amor com Israel. Warren Buffet acaba de comprar uma empresa israelense por alguns bilhão de dólares e anunciou que, fora os EUA, Israel é o melhor lugar para investir. As grandes empresas, como a Intel e outras, estão investindo pesadamente em Israel. É um cliente valioso: é estrategicamente localizado, complacente, faz o que os EUA querem, está disponível para a repressão e violência. Os EUA têm usado cada vez mais, como uma forma de contornar as restrições do Congresso e de alguns setores da população sobre violência.
Tome, por exemplo, o caso da Guatemala. O presidente Ronald Reagan, que foi extremamente brutal e violento, bem como um terrível racista, quis fornecer suporte direto para o ataque do Exército da Guatemala contra os índios maias — algo literalmente genocida. Houve uma resolução do Congresso que bloqueou a resolução. Então ele fez a ponte com seus clientes terroristas.
O principal deles foi Israel — também participaram Taiwan e alguns outros. Israel forneceu as armas para o Exército da Guatemala – até hoje eles usam armas israelenses – providenciando treinamento para executarem o ataque genocida. Esse é um dos seus serviços. Fizeram o mesmo na África do Sul.
Agora, crianças e muitos outros refugiados estão fugindo de três países: El Salvador, Honduras e Guatemala. Não da Nicarágua, tão pobre como Honduras. Existe uma diferença? Sim. A Nicarágua é o único país da região que tinha, na década de 1980, uma maneira de se defender contra as forças dos EUA – um exército. Nos outros países o exército eram as forças terroristas, apoiadas e armadas pelos EUA, ou por seu cliente israelense no pior dos casos. Então é isso que você tem.
Existe uma grande quantidade de relatórios otimista dizendo que o fluxo de crianças da América Central para os EUA diminuiu. Por quê? Porque nós pressionamos o governo mexicano e lhe dissemos para usar a força e impedir que as vítimas de nossa violência fujam para os EUA, tentando sobreviver. Agora, os mexicanos fazem isso por nós, por isso há menos pessoas vindo para a fronteira. É uma grande conquista humanitária de Obama…
Incidentalmente, Honduras está na liderança. Por que Honduras? Porque em 2009, houve um golpe militar no país. O presidente Zelaya, que estava começando a fazer alguns movimentos em relação a reformas extremamente necessárias, foi derrubado e expulso do país. Eu não vou passar os detalhes, mas os EUA, sob Obama, foram um dos poucos países que reconheceu o regime golpista e a eleição que ocorreu sob a sua égide. Honduras transformou-se em uma história de horror pior do que era antes, batendo recordes no número de homicídios e violência.
Parece ter surgido uma oportunidade para que a população curda do Iraque alcance algum tipo de soberania. Isso se cruza, na verdade, com os interesses israelenses no Iraque. Eles têm apoiado os curdos, ainda que de forma clandestina, mas é bem sabido que Israel tem pressionado para a fragmentação do Iraque.
Eles estão fazendo isso. E isso é um dos pontos em que há conflito entre a política israelense e a norte-americana. As áreas curdas têm litoral. O governo do Iraque bloqueou sua exportação de petróleo, seu único recurso, e, claro, opõe-se a construção do Estado curdo. Os EUA até agora tem apoiado esta atitude.
Clandestinamente, há um fluxo de petróleo em algum nível da área curda na Turquia. Essa também é uma relação muito complexa. Massoud Barzani, líder curdo iraquiano, visitou a Turquia cerca de um ano atrás e fez alguns comentários bastante impressionantes. Ele era bastante crítico da liderança dos curdos turcos e estava claramente tentando estabelecer melhores relações com a Turquia, que tem reprimido violentamente os curdos turcos.
A maioria dos curdos no mundo está na Turquia. Você pode entender o porquê, do ponto de vista deles. Essa é a única saída para o mundo exterior. Mas a Turquia tem uma atitude dúbia a respeito. Um Curdistão independente, ao norte do Iraque, bem próximo às áreas curdas da Turquia, ou nas áreas curdas da Síria, poderia encorajar os esforços para autonomia no sudeste da Turquia, que é fortemente curda. Os turcos têm lutado muito brutalmente contra isso desde que a Turquia moderna surgiu, na década de 1920.
O Curdistão conseguiu, de alguma forma, atrair petroleiros transportar petróleo a partir de seu território. Esses navios estão vagando em torno do Mediterrâneo. Nenhum país irá aceitá-los, a não ser, provavelmente, Israel. Nós não podemos ter certeza, mas parece que estão ficando com um pouco. Os petroleiros curdos estão buscando alguma forma de descarregar seu petróleo no Mediterrâneo oriental. Isso não está acontecendo em um volume que permita ao Curdistão funcionar, mesmo para pagar seus funcionários.
Na chamada capital curda, Erbil, há arranha-céus sendo erguidos, abunda alguma riqueza. Mas é um tipo de sistema muito frágil, que não pode sobreviver. O país está completamente cercado por regiões hostis.
Em nosso último livro, Power Systems, eu lhe pergunto, “Você tem netos. Que tipo de mundo eles herdarão?”
O mundo que estamos criando para nossos netos é ameaçador. Uma das maiores preocupações é a relacionada ao aquecimento global.
Isso não é brincadeira. Esta é a primeira vez na história da espécie humana que temos de tomar decisões que irão determinar se haverá uma sobrevivência decente para nossos netos. Isso nunca aconteceu antes. Já tomamos decisões que estão acabando com espécies de todo o mundo em um nível fenomenal.
O nível de destruição de espécies no mundo de hoje está acima do nível de 65 milhões de anos atrás, quando um enorme asteróide atingiu a Terra e teve efeitos ecológicos horripilantes. Ele encerrou a era dos dinossauros, que foram aniquilados. Ele deixou uma pequena abertura para os pequenos mamíferos, que começaram a se desenvolver, e, finalmente, nós. A mesma coisa está acontecendo agora — a diferença é que somos o asteroide. O que estamos fazendo com o meio ambiente já está criando condições como as de 65 milhões anos atrás. A imagem não é bonita.
Em setembro do ano passado, uma das principais agências de monitoramentos científico internacional apresentou os dados sobre as emissões de gases de efeito estufa para o ano mais recente em registro, 2013. Eles atingiram níveis recordes: subiram mais de 2% para além do ano anterior. Nos EUA subiram ainda mais alto, quase 3%. No mesmo mês, o Journal of the American Medical Association saiu com um estudo sobre o número de dias super quentes previstos para Nova York, durante as próximas décadas. Estes dias vão triplicar — e os efeitos serão muito piores no Sul do planeta. Coincide com o aumento previto previsto do nível do mar, que vai colocar uma grande parte de Boston debaixo da água. Sem falar no  litoral plano Bangladesh, onde centenas de milhões de pessoas vivem, mas que serão desalojas.
Tudo isso é iminente. E neste exato momento a lógica das nossas instituições é conduzir o processo para frente. A Exxon Mobil, que é o maior produtor de energia, anunciou – e você realmente não pode criticá-los por isso, pois esta é a natureza do sistema capitalista, a sua lógica – que eles está direcionando todos os seus esforços para prospectar combustíveis fósseis, porque é rentável. Na verdade, isso é exatamente o que eles deveriam estar fazendo, no quadro institucional em que vivemos. Eles deveriam buscar lucros. E se isso elimina a possibilidade de uma vida digna para os netos, não é seu problema.
A Chevron, outra grande empresa de energia, tem um pequeno programa sustentável, principalmente por razões de relações públicas, mas estava indo razoavelmente bem, chegou a ser realmente rentável. Eles simplesmente encerraram os programas sustentáveis, porque os combustíveis fósseis são muito mais rentáveis.
Nos EUA, agora há perfuração em todo o lugar. Mas há um lugar onde foi um pouco limitado, terras federais. Lobbies de energia estão queixando-se amargamente de que Obama cortou o acesso a terras federais. O Departamento de Interior apresentou as estatísticas. É o oposto. A perfuração de petróleo em terras federais tem aumentado constantemente sob Obama. O que tem diminuído é de perfuração no mar.
Mas isso é uma reação ao desastre da British Petroleum no Golfo do México. Logo depois do desastre, a reação imediata foi a recuar. Mesmo as empresas de energia recuaram da perfuração em águas profundas. Os lobbies estão apresentando estes dados em conjundo — mas se você olhar para a perfuração em terra, ela só aumenta. Há muito poucas restrições. Essas tendências são muito perigosas, e você pode prever que tipo de mundo haverá para os seus netos.

sábado, 28 de março de 2015

Brasil é sócio de banco chinês que peita os EUA

no Conversa Afiada
A nova Rota da Seda sai do Leste da China e chega às barbas dos americanos, na Holanda !



por José Gilbert Arruda Martins

Cansei de ler, resolvi assistir ao Documentário Fahrenheit 9-11 Legendado - YouTube do grande cineasta estadunidense  Michael Moore.

Durante o filme, exposto de forma contundente e, usando, na maioria do tempo, fontes oficiais para imagens e documentos, Moore, consegue desmontar a suposta democracia tão falada, estudada e defendida até por tucanos aqui no Brasil.

A verdade é que a democracia dos EUA é para incautos, para ignorantes do que seja um sistema de participação popular.

Nas eleições que levaram ao poder o Bush filho, o pleito foi decidido pela Suprema Corte, jogando no lixo a participação dos eleitores de lá.

De Lula da Silva a Dilma Roussef, a política externa brasileira tomou um rumo completamente diverso do que vinha sendo implementado no país até então.

As medidas adotadas foram de autonomia. Nos aproximamos da áfrica - Mãe, da Rússia da Ásia e, principalmente da China.

Chegamos, inclusive, a permitir, pela primeira vez na história, a participação de uma empresa chinesa no leilão do pré-Sal. Contrariando completamente as orientações do Tio Sam.

É, na verdade, um momento importante da história da nossas relações internacionais.

Nossos novos representantes, formados lá na Rio Branco, precisam estudar e conhecer a importância desse momento, não podemos permitir que um "zé mané" embaixador coxinha, vá lá - na Rio Branco - e exponha de forma conservadora e entreguista como, por sinal, marcou a maior parte das nossas relações com mundo até Amorim.

Parabéns ao Brasil, aos Brics e à China.

É uma porrada no estômago do imperialismo disfarçado de democracia dos EUA.





Brasil é sócio de banco
chinês que peita os EUA


A nova Rota da Seda sai do Leste da China e chega às barbas dos americanos, na Holanda !
Bye, bye FHC ! Bye !



Conversa Afiada reproduz nota oficial da Presidenta Dilma:

BRASIL SERÁ MEMBRO-FUNDADOR DO BANCO ASIÁTICO DE INVESTIMENTO EM INFRAESTRUTURA


O governo brasileiro aceitou o convite da República Popular da China para participar como membro-fundador do Asian Infrastructure Investiment Bank (AIIB).

A presidenta Dilma Rousseff anunciou, nesta sexta-feira, 27, que o Brasil tem todo o interesse de participar desta iniciativa, que tem como objetivo garantir financiamento para projetos de infraestrutura na região da Ásia.


Sobre o AIIB:

http://en.wikipedia.org/wiki/Asian_Infrastructure_Investment_Bank

Sobre o principal projeto do AIIB: construir uma nova Rota da Seda, por terra, para sair do Leste da China e chegar ao coração da Europa, via Rússia, Turquia, até Rotterdam, na Holanda, nas barbas dos americanos:

http://www.xinhuanet.com/english/special/silkroad/

Sobre a reação americana – a ficha caiu quando a Alemanha (protetorado americano) e a Inglaterra (agencia bancaria dos Estados Unidos) aderiram ao AIIB:

http://www.nytimes.com/2015/03/20/world/asia/hostility-from-us-as-china-lures-allies-to-new-bank.html

Navalha
Usuais vira-latas, o Clóvis Rossi e o dos chapéus (ver no ABC do C Af) vão cortar os pulsos.
Eles terão a companhia da Urubóloga e do Ataulfo Merval (também no ABC do C Af) na macabra cerimônia.
Ataulfo, como se sabe, estará na companhia de William Traaack (no ABC do C Af) e do Fernando Oculto, que deram valiosos “briefs” (não mexa, revisor !) ao embaixador americano na eleição em que o Cerra tomou a primeira surra.
O embaixador americano não sabia em que fria ia se meter …
Essa é a turma que tira o sapato na entrada.
E se ajoelha para sair.
É o pessoal que vai detestar o imperdível livro do Celso Amorim.



Em tempo: como se sabe, o FHC, o Cerra e o Aecioporto preferiam que o Brasil aderisse à “Rota do Pacifico”, a nova ALCA dos americanos. Seria composta dos países asiáticos adversários da China – como o Japão (protetorado americano) – e uns latino-americanos com vocação para México (outro protetorado americano). FHC fala em integrar o Brasil às “correntes internacionais de comércio” – ou seja, tirar o sapato… E a primeira forma de integração seria integrar o pré-sal à Chevron – PHA


Paulo Henrique Amorim

Na Tunísia, Via Campesina defende fortalecimento da soberania alimentar

no Portal do MST
Debate realizado no Fórum Social Mundial, em Túnis, expôs a necessidade de combater o modelo de produção das multinacionais e fortalecer a produção familiar agroecológica.

por José Gilbert Arruda Martins
O FSM é uma importante "arma" que os movimentos sociais do mundo têm para combater a crescente destruição da vida no planeta.
A destruição da vida, não apenas do meio ambiente, mas a vida humana em todos os sentidos.
Vejamos, o grande capital é o responsável pelo controle das grandes empresas e empreendimentos que hoje poluem e aumentam a camada de ozônio além de fragilizar praticamente todos os ecossistemas, um exemplo absurdo, são os efeitos no fundo dos ocanos com extinção ou diminuição de corias que são importantes fontes de oxigênio para a vida na terra.
O FSM é um instrumento fundamental para alertar e educar as novas gerações criando a possibilidade, através da educação e de uma nova cultura preservacionista e alternativa, de um futuro onde se construíra relações com o planeta terra muito mais respeito.
As alternativas, que o grande capital rentista passa a todos e todas, é que só temos uma, exatamente aquela predatória, que, para produzir em larga escola, tem que ter depredação, em outras palavras é exatamente o que defendem.
Agora, esse debate e as resoluções e decisões do Fórum Social Mundial, precisam ser debatidos nas escolas e universidades de todo o mundo, do contrário pode virar letra morta e apenas retórica.

Na Tunísia, Via Campesina defende fortalecimento da soberania alimentar

Debate realizado no Fórum Social Mundial, em Túnis, expôs a necessidade de combater o modelo de produção das multinacionais e fortalecer a produção familiar agroecológica.
Por Simone Freire
Especial à Página do MST, de Túnis (Tunísia)

A necessidade de reverter a atual crise do sistema alimentar se torna cada vez mais urgente, e a possibilidade de solucionar essa questão estaria na criação de alternativas que visem o fortalecimento da produção familiar agroecológica. Esta foi a conclusão de uma das primeiras atividades da Via Campesina no Fórum Social Mundial 2015 (FSM), em Túnis (Tunísia), nesta quarta-feira (25).

Sob o tema “Recuperar os sistemas alimentares locais”, a atividade propôs um intercâmbio das experiências ao redor do mundo. Para os presentes, o primeiro passo para ampliar este tipo de produção é romper com a lógica capitalista, que entende o alimento como mercadoria e trata a alimentação como uma ação mecanizada.

“Precisamos pensar como podemos nos apropriar do sistema alimentar. Quando compramos comida esquecemos que isso é um ato político”, destacou Judith Hirchman, da rede internacional de apoio à agricultura comunitária, URGENCI.

Para ela, entender a diferença entre segurança alimentar e soberania alimentar também é um ponto chave no debate, pois, embora eles estejam relacionados, há diferenças quando se vai à luta prática e real. 

“Nós queremos comida local produzida por produtores pequenos, sem produtos químicos, sem veneno. Mas, soberania também é decidir o que e como comer. Na cidade, por exemplo, precisamos saber de onde vem nosso alimento. A agroecologia é uma forma de entender a alimentação das pessoas e se passa a ideia de solidariedade coletiva. Não está relacionada às transnacionais”, disse.

Para Adriana Oliveira, do MST, também se deve romper com a ideia de padronização alimentar e qualquer forma de produção transgênica, uma vez que ela não respeita a terra, a biodiversidade e as particularidades de cada região.

Com um papel de “guardiãs das sementes”, a integrante do MST também destacou a participação fundamental da mulher na produção desses alimentos. 

“Temos que ter um olhar sobre a agricultura de semear, proteger e respeitar o tempo da natureza. A agricultura precisa dialogar com a biodiversidade de cada local, ao contrário do monocultivo”, explica.

A experiência brasileira

No Brasil, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) do ano passado, há mais de quatro milhões de estabelecimentos familiares rurais. A participação desses agricultores no Produto Interno Bruto (PIB) Agropecuário é de 33% e, no que se refere à geração de empregos, o setor emprega 74% da mão de obra no campo.

Sob esta perspectiva, os Sem Terra buscam criar uma grande rede de produção alimentar. Não à toa, o MST possui 100 cooperativas e 96 agroindústrias, que buscam fortalecer a economia e renda das milhares de famílias assentadas e acampadas por todo o Brasil. 

Sua produção inclui arroz, feijão, milho, batata, mandioca, leite, entre outros alimentos que são destinados para consumo das próprias famílias, mas também comercializados em feiras e enviados para a merenda escolar de alguns municípios.

Partilhando estas experiências concretas, Adriana expôs alguns exemplos no sul do Brasil. O primeiro deles foi o de Santa Tereza do Oeste, a cerca de 520 quilômetros de Curitiba, no oeste do Paraná, onde o Movimento ocupou um terreno da multinacional suíça Syngenta AG (SYT)* usado para plantio de milho transgênico. “A Via Campesina ocupou esta aérea e hoje tem dezenas de famílias produzindo alimentos agroecológicos com uma produção cooperada”, disse.

Outro exemplo foi o da ocupação na área da Fazenda Tabapuã, em Centenário Sul, pertencente ao grupo Atalla, dona da Usina Central do Paraná. Lá, cerca de 1.500 famílias vivem e também produzem alimentos. 

“O que se via antes era apenas queima do solo e agrotóxicos para a produção de etanol. Era uma cidade sem população porque a população da cidade só existia no momento do corte de cana-de-açúcar”, explicou. Atualmente, a ocupação tem se fortalecido e já possui, inclusive, uma escola itinerante para mais de trezentas crianças. 

O papel do Estado

Além de lutar contra o poder das multinacionais, os movimentos do campo também travam uma resistência com o Estado. Políticas públicas nacionais e acordos internacionais estão cada vez mais atrelados ao mercado internacional e tendem a dificultar e atrasar os avanços da agroecologia.

Para Judith, neste sentido, o problema estaria no fato dos Estados (e as pessoas, de modo geral) não reconhecerem o alimento como um direito. 
“As autoridades não reconhecem a inclusão social. O que queremos é que as autoridades reconheçam as alternativas. Os acordos internacionais tendem a roupar a soberania e a sobrevivência local”, disse, ao alertar a necessidade de resistir a este processo.