Quando as elites conservadoras de Honduras derrubaram em 2009 o presidente eleito do país Manuel Zelaya, e no Paraguai em 2012 as elites paraguaias apearam Fernando Lugo, pouca gente da esquerda no Brasil acreditava que o fenômeno chegaria aqui por estas bandas, mas chegou e derrubou a presidenta Dilma Roussef. Como é do conhecimento de todas e todos, a esquerda brasileira e os progressistas daqui "dormiram no ponto".

De 2016 para cá, o golpe foi se consolidando através de aprovação de Emendas Constitucionais e Projetos de Lei que destroem aos poucos a rede de proteção social do país construída desde a década de 1920. Rede social que foi ampliada pelos governos de Lula e Dilma nos últimos 13 anos.
A emenda constitucional 241 que congela por 20 anos os investimentos sociais e o projeto de lei da terceirização, são apenas dois momentos do golpe que continua em andamento, as próximas destruições serão a previdência e a CLT.
Nesse sentido, gostaria de chamar a atenção dos nossos leitores e leitoras para o fim do programa Ciência Sem Fronteiras.
Criado em 2011 no governo Dilma Roussef, o programa o entrará para a história da educação superior brasileira não apenas pelos pecados de seu gigantismo de origem mas, sobretudo, pelo importante debate que suscitou em torno do tema da internacionalização
De 2012 a 2016, o Programa CsF financiou cerca de 93 mil bolsas de estudo integrais para estudantes brasileiros no exterior, 73% dos quais na modalidade graduação. Ao custo de quase 11 bilhões de reais, a iniciativa governamental não tem precedente no Brasil e encontra poucos paralelos ao redor do mundo.
Do ponto de vista institucional, merece ser reconhecido o calibre de agências federais sexagenárias, como a CAPES e o CNPq. Incumbidas da tarefa hercúlea de selecionar, monitorar e administrar um contingente inédito de bolsistas no exterior, essas agências tiveram de se adaptar rapidamente. E deram conta do recado. Se é verdade que houve uma sobrecarga de trabalho a partir de 2011, também é verdade que ocorreram aprendizados relevantes, os quais merecem ser estudados e replicados.
A criação do Ciência sem Fronteiras impulsionou ainda o estabelecimento de setores educacionais em postos chave do Itamaraty na América do Norte, Europa e Ásia. Incitados a trabalhar de maneira mais integrada e cooperativa de modo a viabilizar o CsF no exterior, os ministérios das Relações Exteriores (MRE), da Educação (MEC) e de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTi) acabaram, de modo quase acidental, redescobrindo juntos um universo geopolítico que o Brasil frequentava de maneira apenas irrisória até então.
Compreendido pelo arcabouço conceitual do “Capitalismo Acadêmico”, este universo movimenta trilhões de dólares anualmente, e é disputado por poderosas universidades globais, instituições privadas de fomento à mobilidade estudantil e agências governamentais que atuam de maneira assertiva a serviço de nações tão distintas quanto a Alemanha, a Austrália, a China e os Emirados Árabes Unidos.
Visto por este viés, é possível afirmar que a criação do Ciência sem Fronteiras em 2011 talvez não tenha decorrido de um raciocínio de todo ruim. Num momento em que o núcleo do capitalismo global enfrentava uma crise financeira avassaladora, o Brasil tinha diante de si — a menos hipoteticamente — uma oportunidade histórica de se aventurar nas águas ainda pouco navegadas da diplomacia educacional.
Nesse contexto, importante destacar que o golpe, com a decretação do fim do Ciência Sem Fronteiras, continua.
E, como foi dito, o golpe não foi apenas contra uma pessoa, um grupo político ou partido, o golpe foi contra, nesse caso específico, os estudantes.
Por fim, o projeto das elites brasileiras, fundamentalmente das elites paulistas, de consolidar seu poder no governo federal e no Estado de São Paulo, continua a todo vapor.
O presidente de plantão, o usurpador Michel Temer, dirige o governo não por razões pessoais ou por interesses do grupo do PMDB mas, para dirigir um projeto das elites rentistas internas e externas, de destruição do micro esta do bem-estar brasileiro que existia até então. montando em seu lugar um projeto de estado mínimo onde o grande capital será o foco e, os interesses dos trabalhadores e trabalhadoras, serão ou esquecidos ou destruídos completamente.
Fonte: Carta Capital
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