domingo, 5 de março de 2017

Como se combate o ódio?

por José Gilbert Arruda Martins

Buda um vez teria escrito: "O conflito não é entre o bem e o mal, mas entre conhecimento e ignorância". 

Praticamente todos os dias, infelizmente, chegam até nós histórias absurdas de violência. Por que tanto ódio? 

FOTO: FABIO RODRIGUES POZZEBOM/ AGÊNCIA BRASIL

Primeiramente, é importante analisar que a violência é instrumento de poder das elites brasileiras desde a época da invasão no século XVI.

Outro ponto fundamental, seguindo a mesma linha de pensamento, é que, se estudarmos a história e a vida dos indígenas, negros, pobres e população LGBT, veremos claramente que esses grupos sofreram e sofrem estatisticamente, maior violência que todos os demais grupos da sociedade.

Nesse sentido, é prudente tentar enxergar que, se hoje sentimos que o ódio aumentou, pode não passar de percepção, porque a violência nunca ou quase nunca parou contra os grupos sociais historicamente fragilizados e violentados em seus direitos de cidadania.

É preciso refletir que a violência tem diversas caras, uma delas é a violência pura e terrivel que é o ódio homofóbico que chamou a atenção do Brasil esta semana, no entanto, outras formas de ódio podem ser notadas, que é o ódio de classes, fruto da luta de classes como defendeu Karl Marx, que, apesar de ser uma teoria nascida, como teoria de estudo, no século XIX, é de uma forte e importante atualidade.

Como dizia Buda, sobre ignorância e conhecimento, o Brasil precisa, para lutar contra o ódio hoje, de um bom projeto de educação pública, diferente desse defendido pelo governo usurpador, que tirou a obrigatoriedade de disciplinas importantes, mas um projeto popular de educação que fortaleça a democracia, a liberdade e as diferenças.

Um jovem, cheio de ódio, que esbraveja nas ruas pedindo a volta da ditadura, é um exemplo claro da ignorância destacada por Buda.

Esse tipo de jovem desconhece que a Ditadura Militar perseguiu, prendeu e assassinou pessoas em grande escala na América Latina e no Brasil, desrespeitou todo os direitos sociais e humanos, só uma pessoa completamente ignorante da história poderia pedir a volta de tal regime.

Essa ignorância no entanto, é filha também da uma mídia irresponsável, que, de forma subliminar defende uma sociedade elitista e violenta.

Precisamos, enfim de mais educação, de mais livros de mais escolas.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

PREVIDÊNCIA SOCIAL - Centrais e Dieese vão divulgar pelo país efeitos da 'reforma'

por José Gilbert Arruda Martins

De tudo que li nessa matéria, a parte que mais me chamou a atenção foi quando um dos líderes sindicais diz: "o povo brasileiro tem que se preocupar mais com o Congresso".

Para quem conhece um pouco da história brasileira, deve estar acompanhando que, historicamente nossa representação no Congresso sempre foi muito pequena, nosso povo sempre ou quase sempre, votou no patrão, com exceção de Luis Inácio Lula da Silva e uns poucos outros dirigentes Brasil a fora, nunca tivemos representantes concretamente voltados ou ligados às classes populares.

Na verdade, nosso Congresso sempre foi muito conservador ou ultraconservador, desde a época do voto censitário. Por isso, entre outras, precisamos ser mais cautelosos no momento de votar.

Mas, esse atual, com a exceção de cerca de 130 a 160 parlamentares, talvez seja um dos mais reacionários da história parlamentar brasileira, com um agravante, o uso incessante da mídia e dos meios de comunicação de massa de forma industrial e manipulatória, o que não existia antes da década de 1980, com exceção dos jornalões e de alguns canais de TV, entre eles a golpista rede globo que existe desde 1965.

As pessoas um pouco mais ligadas em política sabiam que chegaríamos a essa situação. Um assalto ao poder, um usurpador sem votos, assume o governo exatamente para fazer o que o grande capital daqui e de fora desejam: destruir todos os direitos trabalhistas e nosso minguado Estado de Bem-Estar Social.

Não se iludam, a destruição da CLT e da Previdência tem um grande objetivo, destruir a organização da Classe Trabalhadora, atacando as federações e sindicatos e, logo após (ou antes), privatizar tudo. Vejam o que está acontecendo em São Paulo, o povo de lá escolheu Dória (em primeiro turno) o cara vai entregar tudo aos rentistas, inclusive o SAMU. Aí meu companheiro, seremos servos e escravos do século XXI.

Por fim, a afirmação inicial de que a sociedade precisa olhar melhor e se preocupar em escolher bem deputados e senadores, é fundamental, pense em quem você vai escolher para te representar no parlamento.

Leia a matéria abaixo, compartilhe, discuta, entenda.

PREVIDÊNCIA SOCIAL

Centrais e Dieese vão divulgar pelo país efeitos da 'reforma'

por Vitor Nuzzi, da RBA

Proposta do governo vai ampliar a exclusão, diz diretor técnico do Dieese. Entidades farão atividades em todas as capitais, além de pressionar parlamentares e promover dia de paralisação em 15 de março

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Vagner Freitas, presidente da CUT: "É o maior assalto aos direitos dos trabalhadores na história do Brasil"




São Paulo – As centrais sindicais e o Dieese abriram hoje (23), em São Paulo, uma jornada de debates que vai percorrer todas as capitais brasileiras e algumas cidades do interior para detalhar a proposta do governo de mudanças na Previdência e suas consequências para os trabalhadores. "O projeto limita, retarda (a entrada no sistema), arrocha, exclui. Essa proposta amplia o número de excluídos", afirmou o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, que detalhou o funcionamento do "aposentômetro" criado pela entidade. Oitenta entidades participaram da abertura, que também foi transmitida pela TVT, na sede do Sindicato dos Químicos.
A estratégia das centrais é ampliar o número de atividades pelos municípios, envolvendo o Legislativo, entidades de classe, associações comerciais, para levar informações que contradigam o discurso oficial. O presidente da CUT, Vagner Freitas, destacou as consequências da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287 para as economias locais, na medida em que grande parte dos municípios é dependente de recursos vindos da Previdência e do salário mínimo, cuja política de valorização também está ameaçada. A 13ª Jornada de Debates do Dieese já tem atividades marcadas em quatro estados: Amazonas (11 de março), Bahia (dia 9), Mato Grosso do Sul (10) e Roraima (também 9).
"Não é reforma, é demolição", disse o presidente da CUT. "É o fim da Previdência Social como instrumento público. É o maior assalto feito aos direitos dos trabalhadores na história do Brasil", afirmou, acrescentando que não é possível fazer emendas na PEC – parte dos dirigentes defende essa estratégia. "Não tem remendo." Segundo o dirigente, a maneira de barrar a "reforma" é com mobilização na rua e influenciando os parlamentares em suas bases eleitorais. As centrais acertaram para 15 de março um dia nacional de paralisações e protestos.
"Só avançamos quando nos unimos", disse o vice-presidente da UGT Antonio Carlos dos Reis, o Salim. "Este é o momento de impedirmos essa reforma. Querem acabar com o direito dos trabalhadores. É preciso fazer o debate não só nos sindicatos. "Se o dirigente da CUT usou o termo "destruição" para se referir à PEC, Salim falou em "implosão"."

Pouco tempo

"É fundamental que os trabalhadores conheçam o que está em debate, o que pode ser votado no Congresso e o os prejuízos que eles podem ter", comentou o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna. "Eu acho que deve ter reforma, para que o agronegócio pague. Há muita gente que não paga previdência. Os grandes clubes, as grandes universidades não pagam." 
O tempo para esse debate é curto, conforme lembrou o presidente da Comissão de Direito Previdenciário da seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Carlos Alberto Vieira de Gouveia. De dez sessões da comissão especial da Câmara em que será possível apresentar emendas, cinco já foram realizadas. E há propostas ainda piores em andamento. "O jovem não vai conseguir entrar e o velho não vai conseguir pagar", afirmou Gouveia. Segundo ele, os principais devedores da Previdência têm débitos de aproximadamente R$ 3 bilhões e há outras fontes de recursos, que deveriam ser destinados ao sistema, usados para outros fins. 
A OAB também está apresentando emendas à PEC. Durante a mesa de abertura, o presidente da CGTB, Ubiraci Dantas de Oliveira, o Bira, faria um apelo para que o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SD-SP), presidente da Força, apresentasse uma emenda unitária com a entidade. Segundo o dirigente, este é um "momento chave" para os trabalhadores.
"Nossa estratégia é ganhar tempo para conscientizar melhor", disse a senadora Gleisi Hoffmann (PR), líder da bancada do PT, que participou da abertura da jornada. "Hoje, a correlação de forças é totalmente contrária a nós, mas a gente começa a ver mudanças nisso, principalmente em relação à reforma de Previdência. Na Câmara dos Deputados, a gente já sente que a base não está indo com a proposta como ela veio. Acho que a sociedade está vendo que a mexida é para tirar mesmo seus benefícios."
Ela disse otimista quanto às possibilidades de barrar a PEC, mas afirmou que isso só será possível com muita mobilização nas ruas. "Se for uma discussão entre as paredes do Congresso Nacional, nós perdemos", alertou Gleisi. 

Conquista da sociedade

"O descontentamento (na população) já é visível", avaliou o secretário de Formação Sindical da CSB, Cosme Nogueira, dirigente dos servidores públicos de Minas Gerais. "É um retrocesso que será marcado na nossa história, que está no caminho inverso ao de uma sociedade mais justa." Ele também fez referência à proposta de reforma trabalhista (Projeto de Lei 6.787): "É mentira dizer que vai criar emprego. Tudo baseado no achismo. Crescimento é que vai gerar emprego, com justiça social."
Para Paulo Barela, integrante da CSP-Conlutas, o que acontece no Brasil se insere em um contexto internacional em que, para garantir a manutenção do sistema financeiro, são propostas reformas que atingem os direitos sociais. Entre estes, a Previdência, sistema baseado na solidariedade entre as gerações, "uma conquista lindíssima da sociedade". Ele afirmou que a seguridade social é uma obrigação do Estado e não é voltada para dar lucro. "O grande problema da Previdência não é de déficit, mas de sonegação. Por que não se ataca essa via?", questionou.
Depois de "destruição" e "implosão", o presidente da Nova Central em São Paulo, Luiz Gonçalves, o Luizinho, referiu-se à proposta do governo Temer como o programa "minha cova, minha vida". "Uma PEC não pode ser discutida em 10 sessões, tem de ser amplamente discutida com o povo brasileiro", afirmou. Para Luizinho, os trabalhadores, nas próximas eleições, têm de se preocupar mais com o Parlamento. Segundo ele, em alguns dias de panfletagem em locais no centro de São Paulo foram colhidas 1 milhão de assinaturas contra as reformas da Previdência e trabalhista. O dirigente afirmou que é preciso se "rebelar" para não se tornar "escravos" da concentração de renda.
O secretário-geral da Intersindical, Edson Carneiro, o Índio, disse que o objetivo do governo é transformar a Previdência "em instrumento bancário", referência ao estímulo à privatização do sistema. "O governo está pagando a conta para quem o pôs no poder. Temer e esses deputados odeiam o povo pobre", afirmou, pedindo "sangue nos olhos" e também se manifestando contra a apresentação de emendas. "Não tem o que emendar. Achamos que o momento não é de negociação, de reduzir danos."
O diretor-executivo da CTB Eduardo Navarro referiu-se à "reforma" como "desforma", um caminho para a destruição do Estado de bem-estar social e transformação do Brasil em colônia. "Está em risco todo o sistema de seguridade social, inclusive o SUS. Outras reformas estão vindo. Temos de transformar 2017 em ano de jornada popular", afirmou. Segundo ele, os atos de 8 (Dia Internacional da Mulher) e 15 de março (dia de paralisações) serão os primeiros momentos de resistência.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

RETROCESSO - Fim da parceria entre Brasil e escola de cinema de Cuba revela 'preconceito ideológico'

na Rede Brasil Atual

Para ex-secretários do Ministério da Cultura, fim da parceria entre o país e a Escola Internacional de Cinema e TV de San Antonio de Los Baños (EICTV) representa grande perda ao cinema nacional

por Gabriel Valery, da RBA

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Ex-secretários lamentam o fim da parceria, da qual surgiram nomes como o premiado em Cannes Erik Rocha



ão Paulo – “A decisão do Ministério da Cultura (MinC) é tacanha, baseada em uma visão ideológica tacanha de preconceito contra Cuba. Vamos ter uma perda, sem dúvida”, afirmou o ex-secretário executivo do MinC João Brant, que trabalhou na pasta até o fim do governo Dilma Rousseff (PT), sobre a descontinuidade do convênio de 30 anos entre o governo e a Escola Internacional de Cinema e TV de San Antonio de Los Baños (EICTV), em Cuba. “É lamentável que o ministério acabe com essa política de trabalho conjunto”, acrescentou, sobre ato governo de Michel Temer (PMDB).
A EICTV é referência no ensino de audiovisual do mundo, vista como a melhor escola da área na América Latina. Fundada em 1986, teve como pioneiro e principal investidor o escritor ganhador do prêmio Nobel de literatura Gabriel García Márquez. “García Márquez e seus amigos cineastas contaram com a decisiva contribuição do Estado cubano (…) Não foi o bastante e o colombiano doou seu Nobel para a nova escola”, afirma o ex-diretor geral da EICTV Orlando Senna, em seu prefácio para a terceira edição da obra Como Contar um Conto (1997), de García Márquez. Da instituição saíram importantes nomes do cinema nacional, como Erik Rocha, vencedor do prêmio Olho de Ouro em Cannes pelo documentário Cinema Novo (2016).
O MinC oferecia bolsas de até 75% do valor do curso para os brasileiros que passavam pelo processo seletivo da escola. O curso completo tem o valor de 15 mil euros (cerca de R$ 70 mil), incluindo despesas como hospedagem, alimentação e transporte. O coordenador-geral de seleção da EICTV Brasil, Guigo Pádua, explicou que o fim do convênio não foi formalizado, e sim descontinuado. “Não houve uma comunicação. O processo do convênio vinha sendo revisto e com as mudanças na Secretaria do Audiovisual (SAV), a discussão simplesmente não foi retomada”.

Brant, que atuou na pasta durante a gestão do ministro Juca Ferreira até sua exoneração, em maio do ano passado, afirmou que “estava acertada a continuidade da parceria. Existiam diálogos durante o governo Dilma para garantir a continuidade e aprimorar o sistema do convênio. Este era o objetivo”. Pádua disse que estão tentando retomar o diálogo, mas “ainda não houve uma posição formal”. De acordo com matéria do jornal O Globo, a decisão não é definitiva e o ministro Roberto Freire teria dito que "sabe da importância da escola".
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EICTV, fundada em 1986 por nomes como o Nobel de literatura Gabriel García Márquez

Entretanto, os interessados em ingressar na renomada instituição, que contou com docentes como Francis Ford Coppola (O Poderoso Chefão, 1972) e o próprio García Márquez, devem arcar com os custos até o momento, de acordo com a própria instituição. “Para o próximo triênio as pessoas devem prestar a prova e, se passarem, conseguir ou um patrocínio ou bancarem. Começamos nesta semana as inscrições para as turmas de 2017 a 2020, e vão até o dia 3 de março”, disse Pádua.

'Boçalidade não tem limite'

Ivana Bentes, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do MinC, engrossou o discurso de Brant de que o preconceito ideológico deve prejudicar o audiovisual nacional. “A boçalidade não tem limite. Diferentes gerações de brasileiros passaram pela escola, e com cursos de formação que vão dos clássicos do cinema brasileiro, cubano, cinemas de toda a América Latina e do mundo até as técnicas e linguagens do cinema hollywoodiano”, afirmou, em seu Facebook.
“O golpismo tupiniquim e provinciano tem medo de Cuba. Cortaram as bolsas para os estudantes brasileiros financiadas pelos dois governos e no Brasil sob encargo do MinC”, disparou. Para Brant, o ato não significa necessariamente um corte nos investimentos, nem possui razões econômicas de austeridade. “O Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) continua, assim como os editais. Não tem relação com recursos, é apenas um preconceito específico contra a EICTV”, concluiu.

PREVIDÊNCIA SOCIAL - Centrais confirmam dia de protestos contra PEC 287 em 15 de março

na Rede Brasil Atual

Entidades aderem a paralisação nacional já anunciada de trabalhadores na educação. Proposta do governo "representa, na prática, o fim da aposentadoria para milhões de brasileiros", afirmam


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Protesto buscará impedir a aprovação da PEC, que inviabiliza a concessão de aposentadoria



São Paulo – As centrais sindicais confirmaram a realização, em 15 de março, de um dia nacional de protestos e paralisações contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287, de reforma da Previdência. Os trabalhadores na educação já haviam aprovado, em congresso da CNTE (confederação nacional do setor), uma paralisação nessa data. 
Segundo as entidades, "várias ações serão realizadas em conjunto" para impedir a aprovação da PEC, "que inviabiliza tanto a concessão de benefícios que representa, na prática, o fim da aposentadoria para milhões de brasileiros". Estão previstas para os próximos dias manifestações em aeroporto e bases eleitorais dos deputados. Na semana passada, a Câmara instalou uma comissão especial para avaliar a proposta.
"A unidade de luta é fundamental contra este que é o maior ataque aos direitos dos trabalhadores", afirma o presidente da CUT, Vagner Freitas. "É preciso organizar a sociedade brasileira, alertar as pessoas sobre o real objetivo das mudanças que afetam toda a classe trabalhadora."
Na terça-feira da semana que vem (21), representantes das centrais irão a Brasília para reuniões com os presidentes da Câmara e do Senado e líderes partidários. Já nesta semana, eles deverão procurar representantes das comissões especiais da PEC da Previdência e da reforma trabalhista.

DESAJUSTE - Sem aulas, Uerj e outras universidades públicas do Rio correm risco de fechar

José Gilbert Arruda Martins

Nessa matéria da RBD você verá como a educação pública vem sendo tratada pelo governo do Estado do Rio de Janeiro e pelo Governo Federal.

É muito triste a situação de parte das instituições de ensino público do país em todos os níveis e em todas as regiões do Brasil.

Outrora, - não faz tanto tempo assim -, mesmo com dificuldades, a educação pública caminhava, claro, não conseguia acompanhar a evolução social e das novas tecnologias, mas andava, agora, estamos entrando num momento de paralisia quase que total.

Leia abaixo.

na Rede Brasil Atual

Professores e funcionários com salários atrasados e falta de pagamento de serviços terceirizados impedem retorno dos estudantes.

Uerj
Sem recursos, Uerj teve o quinto adiamento do retorno às aulas


São Paulo – O início das aulas para alunos da graduação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), que deveria ocorrer ontem (13), foi adiado pela quinta vez, agora sem data determinada para acontecer. As outras duas instituições do estado, a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e Universidade Estadual da Zona Oeste (Uezo) também estão com as aulas suspensas. 
Mais de 30 mil alunos estão sem aulas e os campi universitários correm o risco de fechar as portas devido a falta do repasse de verbas por parte do governo de Luiz Fernando Pezão (PMDB). Segundo Tânia Maria de Castro Netto, sub-reitora da graduação da Uerj, funcionários e professores estão com salários atrasados e serviços terceirizados, como coleta de lixo, manutenção, e o restaurante universitário também não estão funcionando por falta de pagamento. As aulas só serão retomadas após o governo restabelecer condições básicas para o funcionamento do campus, o mesmo valendo para as outras duas estaduais. 
"A primeira condição é que o governo nos envie um calendário de pagamento das nossas bolsas estudantis e das outras modalidades de bolsas. Segundo, que nos sinalize com um calendário de pagamento dos nossos salários e do décimo terceiro. Terceiro, que também nos envie uma sinalização concreta, real, do pagamento das empresas terceirizadas", diz a sub-reitora. 
Com porta do risco de fechamento, trabalhadores da Uenf protestaram ontem para demonstrar o impacto do descaso do governo do Rio de Janeiro com a educação superior.
"Os nossos alunos são filhos de camponeses, de trabalhadores, eles têm um outro perfil. É ver frustrado o sonho de milhares de famílias no norte fluminense que tem talvez o seu primeiro filho a entrando numa universidade pública", afirma a professora de Sociologia Luciane Soares. 
Amanhã (15), a partir das 17h, diversos artistas estarão reunidos na Concha Acústica da Uerj para um show em defesa das universidades públicas. 

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Hoje, 10/02/2017, começaram as aulas das escolas públicas do Distrito Federal. Foi o primeiro dia letivo do nosso filho de 8 anos, o pequeno Davi, a mãe foi levá-lo. O garoto não dormiu direito ansioso para retornar às aulas e às brincadeiras com os colegas. Davi, entre outras coisas, falava como seria bom voltar a participar das aulas de arte, de arte cênicas e do espaço para correr da escola Parque da 308 Sul.

Mas, para nossa indignação, a diretora da escola tirou parte da manhã para "enxugar gelo" tentando explicar o inexplicável, que é a retirada absurda do direito de parte dos estudantes - cerca de 6 mil crianças -, por conta de um projeto esdruxulo do governo local, projeto que por sinal, não foi sequer debatido com a comunidade, de frequentar as Escolas Parques.

Escola Parque é um projeto do início da construção da capital, são escolas com quadras, piscinas, salas de dança, de teatro, de lutas, capoeira, de esportes etc. Elas recebem os estudantes das Escolas Classes que são ambientes pequenos que comportam apenas aulas de sala em si, não têm espaço e nem profissionais competentes para outras atividades como artes cênicas, por exemplo, como tem nas Escolas Parque.

Para tristeza e decepção das mães e pais, hoje pela manhã, como um presente do governador e da secretaria de educação, que só se importam em formar "manadas" e não cidadãos, nossas crianças, e não são poucas, estão sendo impedidas de frequentar as Escolas Parques.

Imagina, a Educação Pública com mais esse absurdo, parece está sendo preparada para sofrer, nos próximos meses e anos, um poderoso e cruel processo de privatização, ou pelo menos, poderão sofrer a entrada forte das Organizações Sociais, as famigeradas OSs.

Primeiro você sucateia, a população e usuários começam a reclamar e o discurso que "justifica" a privatização, a entrega do patrimônio público, é potencializado no meio social e a coisa acontece quase que "naturalmente", o empresário assume a educação, como já vem acontecendo há bastante tempo.

Parece ser esse o objetivo do atual governo do DF.

O governador, sr. Rollemberg do PSB, veio com esse intento, entregar o patrimônio público nas mãos dos rentistas.

Nesse contexto, muita gente boa, trabalhadoras até, mergulham sem pensar, sem refletir no discurso de que a privatização é o melhor caminho, apoiam e passam a partir daí a sofrer nas mãos do lucro capitalista.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

MISTURANDO NÚMEROS - 'Pedalada' na Constituição e 'contabilidade criativa' forjam déficit da Previdência

José Gilbert Arruda Martins

A partir de hoje e nos próximos dias e postagens, vamos expor aqui, talvez para ajudar no debate, matérias de diversos blogs e sítios da internet, o objetivo e descortinar a maior e mais cruel faceta do golpe até o presente momento, que é a reforma da previdência.

Nesse sentido, o que deixa a nós todos e todas apreensivos e agoniados, é o silêncio das pessoas, grupos e organizações que ajudaram a dar o golpe no ano passado.

Simplesmente desapareceram, sumiram como por encanto.

E os trouxas que se deixaram enganar, que caíram como patos na conversa do combate à corrupção, estão acompanhando o desmonte do Estado e de toda a proteção social brasileira que, apesar de pequena ainda, tem uma importância enorme para toda a sociedade, principalmente aos mais pobres.



MISTURANDO NÚMEROS

'Pedalada' na Constituição e 'contabilidade criativa' forjam déficit da Previdência

Presidente da associação de fiscais contesta tese do "rombo", afirmando que governo tira contribuições destinadas à seguridade. Consultor diz que sistema não pode ser "um direito dos ricos"
por Vitor Nuzzi, da RBA
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O auditor fiscal Vilson Romero, da Anfip: governo tira dinheiro da seguridade para pagamento de juros

São Paulo – "O governo dá uma pedalada na Constituição e faz uma contabilidade criativa", diz o presidente da Anfip (associação nacional dos fiscais previdenciários), Vilson Antonio Romero, a respeito do falado "rombo" da Previdência, tese central do governo para justificar sua proposta de reforma. Segundo ele, consideradas todas as fontes de financiamento, o sistema não tem déficit. Mas desde 1994 o governo conta com um "instrumento de tunga", como ele define a chamada Desvinculação de Receitas da União (DRU), criada originalmente como Fundo Social de Emergência (FSE).
Assim, sustenta Romero, o governo tira dinheiro que deveria ser destinado à seguridade para pagamento de juros e amortização da dívida pública. "Só tem teto para os programas sociais", critica o presidente da Anfip, que participou na manhã de hoje (7) da primeira parte de seminário organizado pelo Dieese e por nove centrais sindicais, em São Paulo – o encontro vai até amanhã. Da arrecadação tributária federal em 2016, a Contribuição sobre Seguridade Social (Cofins) somou R$ 208,3 bilhões e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), R$ 69,5 bilhões.
Além de relativizar o argumento relativo ao envelhecimento – usou o termo "ditadura demográfica" – ele também citou itens como renúncias previdenciárias, que em 2016 chegaram a quase R$ 70 bilhões, sendo aproximadamente R$ 26 bilhões de desonerações da folha de pagamento e R$ 11,5 bilhões de entidades filantrópicas. Romero concorda que o setor rural é fator de preocupação, mas sem que isso signifique onerar o trabalhador do campo. "Temos de chamar o agronegócio a contribuir."
Estaria em curso, avalia, um movimento em prol da expansão da fundos de previdência fechados, caminhando para um sistema como o chileno, baseado na poupança individual. "Passada uma geração, o que aconteceu no Chile?", questionou. Para uma expectativa de se aposentar com 70% da renda, aproximadamente, o trabalhador não conseguiu 30%.

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Carta de 1988 trata seguridade como fundo social, com base na necessidade coletiva, e não poupança individual

Ainda segundo Romero, outra fonte de recursos estaria na venda de imóveis, que representam anualmente bilhões em manutenção e outras despesas. "A Previdência Social é a maior imobiliária do Brasil. E não aliena isso", afirmou. Além disso, é preciso aperfeiçoar o combate à sonegação. Segundo o presidente da Anfip, em 2008 o país tinha 4.200 fiscais destinados a essa atividade, e hoje são apenas 900.
O consultor Luciano Fazio lembrou que o sistema de seguridade social prevê, constitucionalmente, saúde, previdência e assistência social, sustentado de forma coletiva por diversas fontes. "A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 287 traz uma lógica perversa: a cada um segundo a sua contribuição. Então, é um direito dos ricos (que têm maior capacidade de poupança)", criticou. Mas ele observou que a Carta de 1988 trata a seguridade como um fundo social, com base na necessidade coletiva, e não como uma poupança individual.
Os direitos sociais previstos na Constituição, acrescenta, são concretizados a partir de políticas públicas. E isso acontece por ações do Estado, no sentido de mitigar desigualdades. "Se a democracia não garante os direitos sociais, falhou."


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

O mito do capitalismo como “sociedade de consumo"

Blog Convergência
Gustavo Henrique Lopes Machado



Popularizou-se no século XX a ideia do capitalismo como uma “sociedade de consumo”. Esta concepção, completamente ausente em Marx, apesar de comumente atribuída à ele, mostrou ter longo alcance, estando presente nas elaborações de uma grande gama de autores que vai deste os pais fundadores da Escola de Frankfurt, Adorno e Horkheimer, passando por Hanna Arendt até autores mais recentes como Fredric Jameson e Zygmunt Bauman. De fato, nada parece mais coerente do que o capitalismo considerado como e enquanto uma sociedade de consumo, afinal, a irrefreável marcha do capital rumo a uma maior valorização faz multiplicar, dia a pós dia, a quantidade e diversidade de mercadorias com as quais nos defrontamos e, no mais das vezes, estas se inserem em nosso cotidiano como uma necessidade que não mais é possível evitar.
Apesar deste fatos óbvios, sustentamos que tal concepção é apenas superficial e, enquanto tal, falsa e enganosa. Tal ilusão, de que vivemos na sociedade de consumo, é produzida, antes de mais nada, em função das relações sociais efetivas entre os indivíduos na forma social capitalista estarem veladas sob a forma rude e natural das mercadorias e do dinheiro e, por este motivo, o que vemos diretamente é apenas a ampliação quantitativa e qualitativa das mercadorias consideradas em si mesmas, abstraindo o processo social que as fizeram emergir. Vejamos a questão mais de perto.
Em O capital, Marx coloca o consumo como a realização do valor de uso das mercadorias. Apesar da mercadoria possuir um valor de uso pelo simples fato de satisfazer uma necessidade humana de qualquer tipo, possibilidade de satisfação que está dada em sua própria corporalidade, em sua forma natural; a realização deste valor de uso está dada em seu consumo, ato este que é posterior a sua troca, ou seja, a realização do valor de troca. Isto significa que se o valor de troca não se realizar fica também sem realizar o seu valor de uso. Enquanto mercadoria, para atingir a esfera do consumo é necessário, antes, superar a esfera das trocas.
Já neste momento abstrato da exposição de O capital, o consumo aparece como subordinado a esfera das trocas, ainda que o valor de uso seja o suporte material do valor de troca sob a forma capital e o conteúdo material da riqueza em toda e qualquer forma de sociedade. Mais adiante, Marx analisa a fórmula da circulação simples de mercadorias: M-D-M (mercadoria-dinheiro-mercadoria). Nesta fórmula, o dinheiro aparece como mero mediador do processo, meio circulante, e sua finalidade é o valor de uso, isto é, a forma M-D-M tem por objetivo final o consumo e seu limite é a satisfação das necessidades dos consumidores e o valor de uso. Por este motivo, esta forma será sintetizada por Marx como: verder para comprar. Mas a forma M-D-M é apenas um momento abstrato e superficial das relações sociais capitalistas, visivel na esfera da troca de mercadorias. Por este motivo, Marx passa a analisar a forma D-M-D’ que traz consigo a especificidade do processo de troca de mercadorias sob a forma capital, por este motivo, esta fórmula é designada de forma geral do capital.
Na fórmula geral do capital podem ser observadas transformações fundamentais. A mercadoria é comprada para ser revendida e não mais para satisfazer uma necessidade individual. O dinheiro não funciona mais exclusivamente como moeda, mas como forma universal da riqueza, ou seja, é colocado na circulação pelo seu proprietário para dele se apoderar novamente. O que impele a realização deste circuito não é mais o valor de uso, mas o valor de troca. Neste caminho, valorizar o valor infinitamente se torna a finalidade absoluta. Em suma, a satisfação das necessidades de consumo e o valor de uso transmutam-se em meros meios deste movimento insaciável de auto-valorização.
É evidente que o valor de uso e a realização de necessidades humanas, historicamente constituídas, através do consumo não são literalmente jogadas para fora no modo de produção capitalista. O que diferencia esta forma social de todas as anteriores é que agora a produção de valores de uso não é mais subordinada pelas necessidades humanas, mas a valorização do valor. Em todas relações sociais anteriores ao capital predomina a produção voltada para o uso imediato dos produtos do trabalho, ou seja, o que rege a produção é o valor de uso e a prestação de serviços em espécie. Não sem razão, Marx constata que “nunca encontramos entre os antigos uma investigação sobre qual forma de propriedade da terra, etc., é a mais produtiva, qual cria a maior riqueza”, pois a “riqueza não aparece como o objetivo da produção” (MARX, 2011, p. 399). Todo esforço de investigação dos indivíduos imersos nestas formas sociais pretéritas se centram em atributos qualitativos, quer seja dos produtos criados pelo trabalho, enquanto valores de uso, quer seja dos indivíduos mesmos, como, por exemplo, a reflexão recorrente no mundo greco-romano sobre qual modo de sociedade cria os melhores cidadãos. Isto é assim, ainda que a riqueza possa aparecer, excepcionalmente, com o fim em si mesma, como nos povos exclusivamente mercantis “que vivem nos poros do mundo antigo”(MARX, 2011, p. 399). Neste cenário a riqueza é sempre “algo realizado em coisas, em produtos materiais, com os quais o homem se defronta como sujeito” (MARX, 2011, p. 399). Ou seja, a riqueza se apresenta sempre em seu aspecto material, em sua configuração objetiva, em suas determinações concretas, diversamente da sociedade burguesa em que esta é representada na abstrata figura do dinheiro. Mesmo a exploração e comando sobre o trabalho alheio tem por finalidade o gozo privado, a satisfação das necessidades dos respectivos proprietários. Mas não somente. Nas formas sociais que precederam o capital, frente a riqueza considerada em sua determinação material, “o homem se defronta como sujeito”. Já diante do capital, o homem que trabalha e o próprio capitalista figuram tão somente como um dos seus momentos. O transcurso rotineiro do processo de acumulação de capital ocorre as costas dos produtores e o capital se manifesta com a força de um sujeito automático. Em suma, as coisas de valor não mais se relacionam entre si como um meio para atender as necessidades humanas, ao contrário, os homens se relacionam entre si para atender as necessidades de valorização do capital e, por este motivo, não mais se defronta com os produtos materiais como sujeito, antes, como algo externo, estranho, alheio a sua vontade.
Como se vê, para além das falsas aparências que emergem da esfera da circulação simples de mercadorias quando esta é autonomizada, todas as formas sociais que precederam ao capital é que podem ser chamadas de sociedade de consumo. Por outro lado, nada mais falso que designar o próprio capital de sociedade de consumo. Estamos diante da sociedade da troca, do dinheiro enquanto forma universal e autonomizada da riqueza, regida pela sua acumulação de capital através da extração de mais-valia. De fato, em nenhum outro momento da historia humana o consumo foi tão pouco valorizado como nos dias de hoje. A enorme maioria dos indivíduos se satisfaz ao comprar esta ou aquela mercadoria e o fetiche se esvai assim que esta é adquirida. Nos Estados Unidos, por exemplo, a pátria do “consumo”, é comum relatos de casas cujas garagens são abarrotadas de mercadorias compradas e jamais consumidas. O sonho que povoa o imaginário da quase totalidade das pessoas sob esta forma social, capitalistas ou trabalhadores, não é a posse e usufruto de nenhum bem em particular, mas a quantidade de digitos de seu extrato bancário.
Riqueza e gozo na Idade Média
Ilustramos esta diferença entre as sociedades do passado, sociedades de consumo, e a sociedade presente, sociedade da acumulação, com o clássico livro O Declínio da Idade Média de Johan Huizinga. Nesta obra, o leitor desavisado é tomado pelo espanto ao se deparar com o profundo contraste do mundo medieval frente ao moderno. Paradoxalmente, na idade dita obscura, as coisas e pessoas são consideradas em conformidade com suas propriedades imanentes, ainda que parcialmente obscurecidas pelo cristianismo. Neste cenário, o “contraste entre o sofrimento e a alegria, entre a adversidade e a felicidade, aparecia mais forte. Todas as experiências tinham ainda para os homens o caráter direto e absoluto do prazer e da dor na vida infantil” (HUIZINGA, 1996, p. 9). Distante da indiferença generalizada para com tudo e todos, qualquer “conhecimento, qualquer ação, estavam ainda integrados em formas expressivas e solenes, que os elevavam à dignidade de um ritual” (HUIZINGA, 1996, p. 9). “Nós, hoje em dia, dificilmente compreendemos a que ponto eram então apreciados um casaco de peles, uma boa lareira aberta, um leito macio ou um copo de vinho” (HUIZINGA, 1996, p. 9) e, tão logo nos defrontemos com esta situação, logo se esvai o mito de que vivemos em uma sociedade do consumo. Diversamente, o desfrute da riqueza produzida pelo trabalho humano nunca teve tão pouco valor frente a posse do valor de troca universal: o dinheiro.
Em contraposição à indiferença generalizada que verificamos em nossa sociedade contemporânea, no mundo medieval narrado por Huizinga, os indivíduos estão sujeitos a uma efusão de emoções, pulsões, lágrimas a partir das relações sociais que estabelecem uns com os outros. Nas prédicas dos padres e curas, nas execuções públicas, nas procissões, nos duelos judiciais, na eleição do papa, nas solenidades de caráter político “as lágrimas eram então consideradas elegantes e honrosas” (HUIZINGA, 1996, p. 14-15). “Numa época cheia de reverência religiosa em face de toda a pompa ou solenidade, esta propensão aceita-se como perfeitamente natural” (HUIZINGA, 1996, p. 15). Por mesquinhos e fantasiosos que sejam o conteúdo deste estado de constante exacerbação emocional, o certo é, que no ocaso da idade das trevas, os indivíduos ainda não se tornaram autômatos de um sistema social que se desenvolve a suas costas.
“O poder da riqueza é direto e primitivo; não é enfraquecido pelo mecanismo duma automática e invisível acumulação através dos investimentos; a satisfação de ser rico tem fundamento no luxo e na dissipação ou na bruta avareza” (HUIZINGA, 1996, p. 27-28). Isto significa que a satisfação de ser rico na Idade Média se manifesta no desfrute e gozo dos valores de uso produzidos e não no culto da abstrata acumulação de capital. Como se nota, à luz do fenômeno mistificador, fetichista e obscuro do “deus” dinheiro-capital no interior das relações sociais capitalistas, o Deus cristão medieval se mostra quase como profano.
Neste sentido, nada pode ser mais falso que conceber a noção de consumo como motor e motivo de sustentação da sociedade capitalista tal como a conhecemos. Este equívoco tem outras consequências. A noção de consumo tem seus limites no individuo e, por este motivo, ofusca as relações sociais que se encontram para além de indivíduos isolados. Não é casual que o autor pós-moderno Zygmunt Bauman tenha alterado a fórmula da sociedade de consumo pela Sociedade de Consumidores. A análise das relações sociais objetivas entre pessoas se deslocou para o âmbito da subjetividade dos indivíduos, em que a diferença entre necessidade e desejo ganha a tônica da analise. Em caminho contrário à Marx, para Bauman o consumo tem se convertido em propósito de existência (BAUMAN, 2008, p.38).
Quem quiser empregar o termo “sociedade de consumo” para designar a especificidade da sociedade capitalista, que o faça. Mas que se deixe claro que tal ideia é a exata antípoda do que pensava Marx à este respeito.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

VIDA E OBRA - Marisa Letícia: eterna companheira

na Rede Brasil Atual

Lições de amor da primeira-dama que, em 43 anos de casamento, lutou e venceu ao lado de Lula

por Flávia Martinelli, do Jornalistas Livres



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Marisa esteve ao lado de Lula nas greves, nas lutas, na criação do PT, nas viagens das caravanas da cidadania, nas campanhas eleitorais


Jornalistas Livres – Foi num palácio. O Palácio da Alvorada. E era domingo festivo: Dia das Mães, 11 de maio de 2003, ano do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nos jardins, acontecia um churrasco. Diante da corte de fotógrafos, jornalistas  e curiosos, Lula ajoelha-se aos pés de sua mulher. A primeira-dama, então, pousa os pés sobre a perna do marido. E ele amarra o cadarço solto do tênis dela.
No dia seguinte, UAU, a foto sai estampada na capa dos principais jornais e revistas do país. Mais uma vez, o Brasil inteiro se derretia com a demonstração explícita de afeto do presidente por sua companheira, Marisa Letícia Lula da Silva. A vida de dona Marisa, no entanto, nunca foi de Cinderela. Nem Marisa sonhou ser princesa. Lula sempre a tratou como rainha, fato. Mas isso nada tem a ver com os jardins palacianos do flagra em Brasília. A majestade de dona Marisa Letícia já vinha de muito, muito antes do cargo de primeira-dama.
Casada há 43 anos, Marisa já foi descrita pelo marido como uma "grande mãe italiana". Ela esteve ao lado de Lula nas greves, nas lutas, na criação do PT, nas viagens das caravanas da cidadania, nas campanhas eleitorais. Mas preferiu ficar longe dos holofotes. "Fora de casa Lula é o centro das atenções. No campo doméstico, Marisa é soberana. Ela é a âncora da família", contou amiga dos tempos de sindicalismo Miriam Belchior, que foi ex-assessora especial da Presidência. Mulher de opiniões declaradas, sempre foi discreta, tímida e, segundo a amiga, optou por esse papel.
O temperamento forte sempre foi da porta para dentro, onde botava "os pingos nos is". Em público foi reservada. Gentil, simpática e afetuosa com os amigos, tratava com indiferença gente que julgava interesseira. Também nunca foi de lamentar, mas de resolver os problemas. Em sua primeira entrevista como primeira-dama, à revista Criativa em 2003, respondeu sobre o segredo de seu casamento: "quando somos jovens imaginamos que o mundo tem que ser cor-de-rosa, só que ele não é. Isso muitas vezes é um choque. O amadurecimento proporciona isso, compreensão das coisas, mais paciência. Nós (Lula e ela) aproveitamos o nosso tempo juntos para ficar bem, felizes."

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Casada há 43 anos, Marisa já foi descrita pelo marido como uma 'grande mãe italiana'
Pés no chão de terra batida

Neta de italianos, dona Marisa nasceu num sitio em São Bernardo do Campo, SP, onde havia plantações de batata e milho e criações de galinhas e porcos. A casa de dois quartos onde viveu até o sete anos era de pau-a-pique e chão de terra batida. Não tinha luz elétrica. Nem água encanada, só poço. O colchão onde dormia era de palha. Marisa foi a penúltima filha dentre 12 irmãos. Sua mãe, Regina Rocco Casa, era famosa benzedeira: sabia tirar quebranto, curava menino com bucho virado. O pai hortelão, Antônio João Casa, adorava plantas. Marisa puxou isso dele.
A primeira-dama tinha "mão boa" para lidar com mudas. Quando levou uma jabuticabeira no vaso para dentro do apartamento em São Bernardo, Lula achou que a planta jamais ia vingar. "Eu fiquei, como muitos, todo santo dia resmungando e dizendo que era impossível", disse o marido num discurso em que fez parábola da planta de Marisa. Lula disse que o Brasil poderia crescer em pleno aperto econômico como a jabuticabeira que, contrariando todas as previsões, sua mulher fez vicejar. "Como ela acreditou mais, irrigou mais, cuidou mais do que eu, o pezinho de jabuticaba dá frutos quatro, cinco vezes por ano, coisa que esse conselho [Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social] pode imitar se quiser", disse Lula, quando criou órgão do governo em fevereiro de 2003.
Marisa sempre cultivou legumes e verduras. A ponto de não precisar comprá-los no mercado por anos. Quando virou primeira-dama incrementava a horta atrás do Alvorada. Orgulhava-se de dizer que os canteiros estavam com mais variedade. Também povoou o lago do Palácio com peixes e patos quando se mudou para Brasília. A ex-primeira-dama gostava de bichos. Em plena correria da campanha do primeiro mandato de Lula, levou para o apartamento um cabritinho que a mãe rejeitou e o alimentou a mamadeira. Instinto maternal exercido desde criança. Quando ainda era menina de nove anos, em vez de bonecas, Maria foi embalar três sobrinhas do pintor Cândido Portinari. De babá, virou operária aos 13 anos. Embalou, então, bombons Alpino na fábrica de chocolates Dulcora. Teve de parar de estudar na sétima série.
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Lula, Fidel e Dona Marisa, em 1989, durante encontro em São Paulo

Encontro de fortes

Moça bonita, loura de cachos até a cintura, aos 19 anos, Marisa saiu da casa dos pais para se casar com seu primeiro namorado, Marcos, um motorista de caminhão. Ele carregava areia para construções durante o dia e  de noite, saía com o táxi do pai, um Fusca, para ganhar um extra. Queria comprar a casa própria. Seis meses depois do casamento, Marcos foi morto por bandidos num assalto ao táxi. Viúva, a única herança de Marisa foi o filho de quatro meses na barriga. Ela morou no primeiro ano de viuvez com o sogro, depois foi para a casa de sua mãe e trabalhou como inspetora de alunos num colégio público. Dona Marília, a primeira sogra que sempre foi amiga do peito de Marisa, ajudou a nora criar o neto de sangue, Marcos Claudio, e os outros três que a primeira-dama teve com Lula.
Curiosidade dos destino: o sogro do primeiro casamento de Marisa, seu Cândido, foi quem primeiro falou de Marisa para Lula. Em 1973, Luiz Inácio tinha o apelido de "Baiano". Novato no sindicato dos metalúrgicos, sofria o luto por sua primeira mulher, Maria de Lourdes, que perdeu, com o filho, na sala de parto havia dois anos. Vez ou outra, Lula fazia uma corrida no taxi Fusquinha de seu Cândido porque a bandeirada era mais barata do que a dos carros de quatro portas. Lula contou, em entrevista à escritora Denise Paraná no livro "O filho do Brasil", que seu Cândido, sempre que falava da morte do filho, dizia que a nora Marisa era muito bonita. "Foi muita coincidência. O tempo passou. Quando um belo dia estou no sindicato chega essa tal de dona Marisa", disse Lula.
No encontro entre os dois viúvos não houve suspiros de contos de fada. Marisa foi ao sindicato buscar um carimbo para retirar sua pensão. Lula deixou cair sua carteirinha de identidade de sindicalista para mostrar que também era viúvo. Ele inventou uma firula qualquer na documentação dela para ter desculpa para pedir o telefone de Marisa. Ela nem atendia as ligações. Mas o ex-operário, que venceu a primeira eleição para presidente na quarta tentativa, é insistente. Um dia estacionou o carrinho TL na porta da casa da viúva loura e botou o então namorado de Marisa para correr, dizendo que precisava falar um assunto sério com ela. Lula acabou conquistando a simpatia da mãe de Marisa, Dona Regina, a benzedeira, e depois o coração da ex-primeira-dama. Em sete meses se casaram.
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Marisa e Lula, durante a posse da presidência em 2003

Companheira

Um ano depois do casamento, Lula já era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Naquele tempo, Marisa não entendia nada sobre sindicalismo, greves, ditadura, passeatas, piquetes… Carregava no colo o recém-nascido Fábio Luiz e tinha na barra da saia o primogênito Marcos Cláudio, que Lula adotou como seu. Um dia, cansada do sumiços de Lula – que saía de casa de madrugada para fazer piquete em porta de fábrica–, Marisa decidiu entrar no curso de política do religioso militante de esquerda Frei Betto. Aos poucos, ela passou a entender a luta dos sindicalistas e acabou por influenciar outras mulheres de metalúrgicos.
Certamente não foi fácil. Lula nunca pôde acompanhar a mulher na maternidade no nascimento dos filhos, por exemplo. Marisa foi mãe e pai dos meninos. Reunião de escola, festinha, finanças da casa, crediário… Tudo era ela quem cuidava. E sem empregada. Joana, considerada uma "irmã de criação" de Marisa, e a ex-sogra, dona Marília, a acudiam em situações especiais.
Em 1980, os militares tomaram o sindicato e a sala da casa de dona Marisa virou a nova sede dos metalúrgicos. E ela também assumiu posto de secretária. Nesse mesmo ano, Lula foi preso. Acusado de incitar uma greve ilegal, foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional, principal instrumento de repressão do regime militar. "Marisa organizou toda a passeata com as mulheres de metalúrgicos encarcerados. E levou as crianças no meio daquela multidão ", recorda amiga Miriam Belchior, que também participou da manifestação. "Tinha polícia para tudo quanto é lado", Marisa disse em entrevistas. Ela levava os filhos Marcos, Fábio e Sandro para visitar o pai na cadeia. O caçula, Luiz Cláudio, ainda não tinha nascido.

Sempre junto de Lula, dona Marisa fundou o partido dos trabalhadores também em sua sala. "Marisa entendia a missão do Lula. Ela só pegava no pé do marido aos domingos", disse Luiz Marinho, amigo do casal, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e ministro da Previdência no governo Lula. Para ela, domingo era sagrado, era o dia da família. E pouco importava se o almoço familiar acontecesse no apartamento de São Bernardo ou nos salões projetados pelo arquiteto Oscar Niemeyer. A cena dominical do dia das Mães em que Lula se ajoelhou aos seus pés não teve nada de excepcional como alardeou a imprensa na época. Os pequeninos gestos de carinho de Lula à sua mulher eram rotineiros. Em uma entrevista, Marisa disse: "Em um casamento o amor é muito importante. Mas sonhar juntos é fundamental". Nos sonhos de dona Marisa, estávamos todos incluídos.

REPRESENTATIVIDADE - Goleira do MST é convocada para Seleção Brasileira de futebol

na Rede Brasil Atual

Maike Weber passou boa parte de sua infância no Assentamento Conquista na Fronteira, no oeste de Santa Catarina

por José Eduardo Bernardes, do Brasil de Fato 


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Maike revela que não conteve a emoção ao receber a notícia da convocação. 'Chorei antes de começar o treino'


Brasil de Fato – A assentada do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) Maike Weber, de 24 anos, será a nova goleira da Seleção Brasileira feminina de futebol. A catarinense, natural da cidade de Maravilha, mas que passou boa parte de sua infância com os pais, no assentamento do Movimento em Dionísio Cerqueira, também em Santa Catarina, foi convocada pela técnica Emily Lima para um período de testes na Granja Comary, centro de treinamentos do time nacional, entre os dias 6 e 11 de fevereiro.
A goleira, que hoje atua pelo Flamengo – clube que mantém parceria com a Marinha brasileira – revela que não conteve a emoção ao receber a notícia da convocação. "Chorei ali mesmo antes de começar o treino", diz Maike, em entrevista exclusiva para o Brasil de Fato.
Essa é a primeira convocação de Maike, que é sobrinha de Marlisa Wahlbrink, a "Goleira Maravilha", que defendeu a Seleção Brasileira por mais de 10 anos. Foi a tia quem encorajou a goleira a realizar o sonho de ser jogadora profissional. "Foi por meio dela que consegui o meu primeiro time. Ela sempre deu o suporte necessário para que eu enfrentasse tudo com a cabeça erguida, e seguir em frente diante das dificuldades que eu iria encontrar", disse.
Maike Weber conta que sempre jogou, "desde pequena com meus irmãos, meus amigos". Mas revela que só em 2008 teve coragem de contar aos pais seu desejo de se tornar atleta. "Fui em busca dos meus sonhos. Saí de Dionísio Cerqueira, uma cidade pequena, com pouco mais de 14 mil habitantes, para encarar a cidade grande lá fora", lembra.
Ainda assimilando a conquista, a goleira disse que pretende "treinar cada vez mais forte para me firmar na Seleção Brasileira". Outro sonho é jogar por uma equipe fora do Brasil, "onde o futebol feminino é muito mais valorizado", disse.

Conquista na Fronteira

O Assentamento Conquista na Fronteira, situado na divisa entre Brasil e Argentina, local onde a goleira cresceu, é uma referência internacional. Em 1990, dois anos após a conquista do assentamento, os agricultores sem-terra organizaram no local a Cooperunião, uma Cooperativa de Produção Agropecuária (CPA), onde todas as questões são resolvidas em Assembleia Geral.
A iniciativa dos agricultores privilegia e garante a alimentação das 43 famílias e mais de 120 pessoas que vivem no local e também se tornou uma fonte de geração de renda, a partir da bovinocultura para a produção de leite e corte, da avicultura e da produção de grãos como o feijão, além da criação de abelhas para a extração de mel.
As famílias que ocuparam o assentamento Conquista na Fronteira e construíram a Cooperunião estavam entre as primeiras que ocuparam latifúndios em Santa Catarina, em 1985, nos municípios do oeste do estado, logo nos primeiros passos do MST, enquanto organização.
Por seu pioneirismo, o assentamento é constantemente visitado por estudantes, pesquisadores, integrantes de governos, militantes sociais e demais interessados em conhecer a experiência da reforma agrária em Santa Catarina.