sábado, 26 de dezembro de 2015

Nem todos são como Aécio ou Cunha

por José Gilbert Arruda Martins

O grande blogueiro Paulo Nogueira, no seu Diário do Centro do Mundo, divulgou esta semana um texto com o título: "É de Aécio o título de pior político do ano". Apesar de ser pequeno, o texto é robusto em seu conteúdo, pois trás detalhes da falta de atuação republicana do senador, mas trás também as "brincadeiras" que surgiram na internet com a figura do "nobre" playboy.





A performance do senador, vou chamá-lo apenas de senador, que não fez outra coisa durante o ano inteiro, a não ser conspirar contra a democracia e o Brasil, joga no lixo não apenas a figura dele e de seu partido, o PSDB, enterra no entulho também, a figura do Congresso.

A classe política, que normalmente é desacreditada, com a atuação esquizofrênica do senador, sofreu uma "piorada boa", como diz meu querido irmão Givalber.

Fico imaginando, se nosso povo tivesse tempo e acesso a veículos de comunicação de massa sérios, e pudesse, com isso se informar especificamente sobre a atuação de cada senador e de cada deputado, fico imaginando qual seria a reação.

Daria para, concretamente, colocar abaixo a velha política do mandonismo, da roubalheira, do apadrinhamento, das benesses das elites e, talvez, construirmos um cenário totalmente novo onde a soberania popular fosse mais testada, ouvida e eficazmente, colocada em prática.

O senador de Minas venceu Cunha, como o pior político do ano.

Mas quem perdeu?

Além da classe política, que ficou mais desacreditada, perdeu a democracia, perdeu o país, que ficou debatendo um processo de impeachment sem sentido, sem lastro legal.

É bom lembrar, no entanto, que o Congresso Nacional tem 594 parlamentares, se juntarmos a Câmara e o Senado, e desses, nem todos são tipos como Aécio ou Cunha, tem gente "sangue bom" na política brasileira, em diversos partidos, poderia citar aqui dezenas, mas não vou fazê-lo.

Homens e Mulheres que representam o Povo que os elegeu.

Jean Willys, dias atrás em uma entrevista falou sobre esse tema, nem todos os parlamentares pensam com a cabeça de um golpista, nem todos são acharcadores e acharcadoras.

Significado de Achacador
s.m. Quem extorque dinheiro de outra pessoa para que ela não seja presa ou multada; indivíduo que intimida alguém, extorquindo-lhe dinheiro.
Quem acharca; aquele que rouba alguém com ameaças ou intimidação.
Pej. Vigarista; quem engana alguém prometendo a essa pessoa grandes vantagens.




Notas do Enem serão divulgadas no dia 8 de janeiro

na Rede Brasil Atual

por Karine Melo, da Agência Brasil

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Diante de centenas de apelos de estudantes feitos pelas redes sociais, o Ministério da Educação (MEC) comunicou que as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) vão sair no dia 8 de janeiro."Nós entendemos a ansiedade de vocês e não poderíamos passar o Natal sem divulgar a data do resultado do #‎Enem2015 !", diz um "post presente" do MEC publicado nas páginas do ministério no facebook e no twitter. "Aproveitem as festas, dia 8 de janeiro está logo ali".
Além da seleção para vagas em instituições públicas, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), com a nota do Enem, o estudante de baixa renda pode tentar uma vaga na educação superior por meio do programa Universidade para Todos (ProUni), que oferece bolsas de estudos em instituições particulares de educação superior.

O resultado do exame também é requisito para receber o benefício do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), participar do programa Ciência sem Fronteiras e ingressar em vagas gratuitas dos cursos técnicos oferecidos pelo Sistema de Seleção Unificada da Educação Profissional e Tecnológica (Sisutec). Para pessoas maiores de 18 anos, o Enem pode ser usado ainda como certificação do ensino médio.

Produção de jornal melhora desempenho de estudantes em escola pública de Roraima

no site do MEC

O projeto de edição do jornal escolar teve reflexo entre os estudantes, como a disposição para trabalhar em equipe, e ajudou a despertar os alunos para o exercício da cidadania (arte: ACS/MEC)


A reunião de pauta, momento em que se decidem as notícias para a edição semanal do jornal da escola, ocorre nas tardes de quarta-feira, no período oposto ao das aulas. As crianças do quarto ano do ensino fundamental chegam animadas, com sugestões de matérias. Após o processo de definição dos assuntos que sairão no próximo número, os estudantes-repórteres fazem pesquisas na internet e entrevistas, fotografam outros alunos, professores, pais, gestores e funcionários da escola. Depois, sentam-se diante do computador para escrever as notícias.
A ideia de criar um jornal escolar na Escola Municipal Aquilino da Mota Duarte, em Boa Vista, Roraima, foi da professora Anna Carolina de Oliveira Brito. Ela queria melhorar a qualidade de ensino por meio de práticas de leitura e produção textual. O projeto Jornalistas da Liberdade, iniciado em maio último, deu nova dinâmica aos 25 alunos da turma. “Até mesmo aqueles que geralmente não se envolviam com as atividades de sala de aula sentiram-se motivados a desenvolver o jornal”, diz a professora, que percebia a dificuldade das crianças com a escrita.
Na função de editora-chefe do jornal, Anna Carolina, que leciona há sete anos na escola, explica as regras ortográficas e gramaticais para a correção dos erros cometidos pelos alunos e os ajuda a criar os títulos, de forma coerente com as notícias. Uma vez pronto o jornal, os alunos cuidam da distribuição de 335 exemplares nas salas de aula e na portaria da escola. Nos murais e nas portas das salas é afixada uma cópia em tamanho maior, para que todos possam ler.
Os resultados, segundo a professora, foram percebidos em várias etapas do processo: no aprendizado de trabalhar em equipe; na criação de textos; no uso do dicionário para tirar as dúvidas com a língua portuguesa; na habilidade oral, com o exercício da argumentação na defesa de pautas, e no despertar dos alunos para o exercício da cidadania e de valores humanos. Dessa forma, as notícias também serviram para a discussão de problemáticas correlatas e recorrentes ao ambiente escolar, como o bullying e a violência.
Reconhecimento — A amplitude pedagógica do projeto teve o reconhecimento do Ministério da Educação, na nona edição do Prêmio Professores do Brasil. “Essa premiação foi muito importante; percebo que vale a pena pagar o preço para oferecer uma educação diferenciada e com qualidade a nossos alunos”, diz Anna Carolina. “Nós, educadores, temos de acreditar nos projetos desenvolvidos em sala de aula, pois, cooperam no processo de ensino e aprendizagem.”
A diretora Mônica Motta Felício, formada em pedagogia e gestora educacional, há dois anos na escola, diz que o sentimento é de motivação pela conquista do prêmio. A escola tem, no total, 368 alunos do ensino fundamental. “Saber que um projeto desenvolvido dentro do nosso espaço escolar obteve esse reconhecimento só nos traz a certeza de que, quando promovemos ações com objetivos direcionados, a melhoria com as práticas pedagógicas fica evidente nos resultados da aprendizagem”, afirma.
Edição — A nona edição do Prêmio Professores do Brasil selecionou, este ano, 30 experiências pedagógicas desenvolvidas por professores das cinco regiões brasileiras. Os trabalhos foram destacados entre 11.812 inscritos, nas categorias creche; pré-escola; ciclo de alfabetização: primeiro, segundo e terceiro anos – anos iniciais do ensino fundamental; quarto e quinto anos – anos iniciais do ensino fundamental; sexto ao nono ano – anos finais do ensino fundamental; ensino médio. Cada um dos 30 professores recebeu prêmio de R$ 7 mil. Cada categoria teve um professor destacado para receber prêmio extra, no valor de R$ 5 mil.
A partir de 2015, o Prêmio Professores do Brasil passou a integrar a iniciativa Educadores do Brasil, ao lado do Prêmio Gestão Escolar, do Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed). Assim, a entrega dos prêmios a professores e diretores de escolas foi realizada pela primeira vez, este ano, em conjunto.
O Prêmio Gestão Escolar selecionou 22 escolas como destaques estaduais, com premiação de R$ 6 mil para cada uma. As cinco escolas indicadas como destaque regional receberam R$ 10 mil. O Colégio Estadual Professora Maria das Graças Menezes Moura, de Itabi, Sergipe, foi escolhido como escola referência Brasil, com premiação de R$ 30 mil.
Rovênia Amorim
Saiba mais no Jornal do Professor
Leia também:

É de Aécio Neves o título de Pior Brasileiro do Ano

na Rede Brasil Atual

Competição com Eduardo Cunha foi dura, mas Aécio levou

por Paulo Nogueira

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Pode-se dizer que Cunha é filho de Aécio. São sócios no crime de lesa-democracia

Diário do Centro do Mundo – Não faltaram candidatos fortes, mas é de Aécio, com folga, o título de Pior Brasileiro do Ano. Aécio só não fez o que deveria fazer: trabalhar no Senado. Fazer jus ao salário e mordomias que os brasileiros lhe pagam.
Ele consumiu seu tempo em conspirações contra a democracia em 2015. Tentou, e continua a tentar, cassar 54 milhões de votos, sob os pretextos mais esdrúxulos, cínicos e desonestos.
Adicionou um novo e definitivo rótulo à sua imagem de playboy do Leblon, adepto de esforço mínimo e máximas vantagens: o de golpista.
Para tanto, andou sempre nas piores companhias da República. Esteve constantemente junto de Eduardo Cunha, que só não levou o título de Pior Brasileiro porque Aécio existe.
Aécio foi vital para que Cunha se sagrasse presidente da Câmara dos Deputados. Depois, quando já eram avassaladoras as provas de ladroagem de Cunha, Aécio armou um esquema de blindagem para que ele não respondesse por seus crimes. Tudo isso para que suas pretensões de golpista obtivessem sucesso.
Aécio protegeu, preservou Cunha. E assim contribuiu decisivamente para que ele chegasse ao fim do ano ainda na presidência da Câmara, o que representa uma tonitruante bofetada moral no rosto da nação.
Pode-se dizer que Cunha é filho de Aécio. São sócios no crime de lesa-democracia.
Tanto ele fez que acabou recebendo uma resposta espontânea da sociedade. Fazia muito tempo que um político não era motivo de tantas piadas.
2015 foi o ano do Aécio golpista, e também o ano do Aécio piada.
Sua incapacidade patológica de aceitar a derrota se transformou em gargalhadas nas redes sociais.
Qualquer pessoa que caísse no ano, a piada estava pronta. Se o Mourinho cair, assume o Aécio?
Houve humor de outra natureza, também. Memes brotaram em profusão, dias atrás, depois da coroação equivocada como Miss Universo da candidata da Colômbia. Nestes memes, Aécio aparecia como a Miss Colômbia.
O que todos lembravam, ali, eram os escassos momentos pelo qual Aécio se julgou vencedor das eleições presidenciais de 2014.
Ele recebera já informações segundo as quais ganhara de Dilma, e armara uma festa em Belo Horizonte. A comemoração foi brutalmente abortada quando foram anunciados os resultados oficiais.
A imagem da decepção ganhou as redes sociais numa das fotos mais compartilhadas das eleições.
Tivesse grandeza de espírito, Aécio faria o básico. Ligaria para Dilma para cumprimentá-la e tentaria entender onde errou para corrigir os equívocos, eventualmente, numa próxima vez.
Mas não.
Da derrota emergiu um monstro moral, um golpista sem limites e sem pudor, um demagogo que provoca instabilidade no país e depois fala, acusatório, da instabilidade como se não fosse ele o causador dela.

Por tudo isso, e por outras coisas, é de Aécio o título de Pior Brasileiro do Ano.


'Economia já estará claramente retomando o crescimento em 2016', diz Bresser-Pereira

na Rede Brasil Atual

Para ex-ministro da Fazenda, câmbio no atual patamar é um dos fatores que podem começar a tirar o país da crise, mas ressalva: política de juros "é ineficiente e tem um custo brutal ao país"

por Eduardo Maretti, da RBA

Bresser-Pereira
Ex-ministro participou de ato na Faculdade de Direito da USP contra impeachment, dia 16 de dezembro

São Paulo – O economista Luiz Carlos Bresser-Pereira não acredita que a crise econômica brasileira se prolongue indefinidamente, nem mesmo que persista em 2016, aposta dos setores que veem nos problemas da economia uma forte oportunidade para enfraquecer o governo Dilma Rousseff. Para ele, a crise deve começar a ser superada no próximo ano, embora o Produto Interno Bruto (PIB) ainda tenha a tendência de ser manter negativo. “Como eu acho que a economia vai começar a recuperar, então espero que no final do ano (de 2016), se o PIB ainda for negativo, e é bem possível que seja, será muito menos que este ano”, diz. “A economia já estará claramente retomando o crescimento, mas (a partir) de quase estagnação.”
Para o ex-ministro da Fazenda em 1987, no governo de José Sarney, porém, os problemas da economia do país não são apenas conjunturais, mas estruturais: “Meu entendimento é de que a economia brasileira é semiestagnada desde 1980. A renda per capita brasileira vem crescendo menos que 1% por ano, quando crescia 4,1% entre 1950 e 1980”.
Segundo a análise de Bresser-Pereira, o Brasil tem dois grandes problemas, que afetam sua capacidade de crescimento e o impedem de desenvolver uma política econômica forte e sustentável no longo prazo: a “alta preferência pelo consumo imediato”, fator do qual decorrem políticas que incentivam o déficit em conta corrente ou o câmbio apreciado “para poder consumir mais”, e a perda da “ideia de nação”.
Por que o sr. tem se manifestado a favor do ajuste fiscal?
Depois do grande erro que a presidente cometeu, que foram as desonerações, que ela pensou que fosse política industrial, e foi um desastre, quando ela viu tamanho da crise, está agora fazendo a política correta. Acho que o novo ministro (da Fazenda) vai fazer a política correta também. A política de ajuste fiscal é correta. Eu sou crítico, por um lado, de quem afirma que o ajuste é a condição sine qua non e a coisa mais importante que é preciso fazer para o país retomar o crescimento. Não é verdade. O mais importante para a retomada do crescimento já foi feito, e foi o ajuste feito pelo mercado da taxa de câmbio. Isso tornou as empresas industriais novamente competitivas, de forma que é questão de mais tempo, menos tempo, para que elas voltem a investir. Quando você tem uma depreciação forte como tivemos, o primeiro reflexo é sempre recessivo, porque as pessoas ficam mais pobres, todas as pessoas ficam um pouco mais pobres. Mas em seguida você torna a indústria mais competitiva, ela começa a investir e produzir, e você tem a retomada do crescimento. Entendo que é isso que vai acontecer na economia brasileira a partir de 2016.
Por outro lado, sou muito crítico daqueles que dizem: a crise da economia brasileira é devido ao ajuste feito pelo governo. Isso é uma bobagem. Primeiro, porque o ajuste foi muito pequeno. E segundo porque as causas da crise são outras. Foram essencialmente a elevação dos preços internacionais do petróleo, o “petrolão” e a perda de confiança no governo. Essas três coisas se somaram, e essa perda de confiança tem um elemento ideológico também.
Roberto Amaral (ex-presidente do PSB) tem defendido a ampliação das forças anti-impeachment, incluindo setores como os liberais e os democratas. O sr. parece discordar de incluir os liberais...
(Risos) Digo “liberais não” no seguinte sentido: é que eu divido os economistas entre os liberais e desenvolvimentistas, do ponto de vista econômico. Do ponto de vista político, divido as pessoas entre democratas, liberais e autoritários. Se houver alguma dúvida, os liberais vão para o autoritário. Democracia para mim é um sistema político que garante razoavelmente duas coisas: os direitos civis, as liberdades, o estado de direito, uma conquista da humanidade, da qual participaram os liberais no século 18, os iluministas; de outro lado, o sufrágio universal. Quando você tem as duas coisas num país, você tem a democracia. Ora, os liberais sempre foram contra o sufrágio universal, desde a Revolução Francesa (1789), todo o século 19 foi uma grande luta dos democratas contra os liberais. Os liberais argumentavam contra a democracia dizendo que democracia era ditadura da maioria.
No Brasil, pela experiência que temos com os liberais no século 20, eles foram firme e fortemente autoritários. É só pensar no Carlos Lacerda, por exemplo. E o PSDB e o PPS são herdeiros da UDN. Uma característica do liberalismo em todo o mundo é que é uma ideologia sem ideia de nação. As elites liberais no Brasil se identificam plenamente com as dos Estados Unidos, da França, da Inglaterra. Isso é um desastre, porque implica uma profunda subordinação do Brasil, se estiverem no governo, a interesses que não são nossos. Por isso não coloco os liberais dentro de uma coalizão política. Eles vão estar do outro lado.
Como o PSDB – partido de Franco Montoro e Mario Covas no passado, que era identificado com a socialdemocracia – chegou ao ponto de se aliar à direita, até à extrema-direita e ao golpismo?
Acho que foi principalmente o fato de que o PT ocupou o espaço da socialdemocracia. Fizeram a “Carta aos Brasileiros” (em 2002), e depois, quando Lula foi eleito, o governo do PT fez um grande esforço para fazer um acordo político com os empresários industriais. Chegou perto de conseguir. Nesse quadro, o que sobrava para o PSDB era virar à direita, que foi o que aconteceu. Quando eu estava assinando o ata de formação do PSDB (11’), lá em 1988, tínhamos ganho no dia anterior a batalha interna. Porque o Montoro não queria que o partido fosse “socialdemocracia” e nós queríamos. Ganhamos. Mas essa vitória pode ser uma vitória de Pirro, porque daqui a pouco o PT abandona a ideia de revolução, vira socialdemocrata e nos empurra para a direita. Isso aconteceu, mais depressa do que eu esperava.
Aqui em São Paulo, antigamente chamada de “locomotiva do país”, o PIB vem caindo muito. Por quê?
A causa disso é a o processo de desindustrialização do país. O Brasil está num processo, que eu chamaria deliberado, de desindustrialização desde 1990. Ao fazer a abertura comercial, deixamos de neutralizar a doença holandesa. Isso significou que passamos desde então a ter uma desvantagem competitiva, devido a uma taxa de câmbio apreciada no longo prazo, que eu calculo em 15% a 20%. Isso é o que está matando a indústria desde então, fazendo com que as taxas de crescimento sejam muito baixas e nós vivamos um período de semiestagnação. Agora virou recessão violenta, este ano, mas disso nós saímos.
Como o Brasil pode sair dessa recessão?
Vai sair, porque o ajuste fundamental, o do câmbio, já foi feito. Vai diminuir o déficit em conta corrente – tivemos neste ano de 2015 um déficit em conta corrente de 4,2% do PIB, um absurdo. Os liberais dizem que isso é poupança externa.  Poupança externa coisa nenhuma. Esses 4,2% financiaram exclusivamente consumo no Brasil, não investimento. Isso significa aumento do nosso endividamento. Os dois grandes problemas do Brasil são: 1) a alta preferência pelo consumo imediato. Os brasileiros não estão dispostos a poupar, e em termos práticos, portanto, querem ter déficit em conta corrente ou querem ter um câmbio apreciado para poder consumir mais, e aí os liberais ficam felicíssimos com isso, como também ficam os desenvolvimentistas populistas; 2) os brasileiros perderam a ideia de nação e quando isso acontece você passa a se pautar e aceitar como certas as políticas que Estados Unidos, França, Inglaterra e outros dizem que devemos adotar. Eles nos dizem que devemos ter o famoso déficit em conta corrente. E nesse ponto há uma perfeita conjunção do populismo cambial brasileiro com a perda de ideia de nação. O grande interesse do Ocidente é que os países em desenvolvimento tenham déficit em conta corrente. Isso vai não só permitir que exportem mais para cá, como legitima a presença de multinacionais no Brasil, e grande parte delas em nada contribui para a economia.
Que patamar é aceitável para a taxa de câmbio?
O que eu entendo competitiva é a taxa de câmbio de equilíbrio industrial. A taxa de câmbio que torna competitivas as empresas industriais ou mais amplamente de bens comercializados internacionalmente (20’). Essa taxa de equilíbrio no meu entendimento é de R$ 3,80 por dólar. A crise que tivemos, cuja causa principal foi a queda do preço das commodities, provocou uma depreciação cambial forte. Enquanto nossa taxa de câmbio ficar nesse nível, a indústria volta a ser competitiva, volta a suprir o mercado interno, que tinha perdido para empresas importadoras; em seguida, as mais competentes voltam a poder exportar. É isso que vai fazer a economia brasileira retomar.
A tese de que a causa da crise é o ajuste fiscal é uma tolice. A causa para a crise ortodoxa são os juros do Banco Central. A meu ver, a elevação que o BC fez dos juros é totalmente irresponsável. A inflação foi de 6% para 10%, e isso foi causado essencialmente por correção dos preços do petróleo e da energia elétrica, que foi necessário porque a Dilma atrasou o reajuste desses preços de forma irresponsável. Portanto, essa inflação é basicamente inercial. Você tentar resolver esse tipo de inflação com juros altos é ineficiente e tem um custo brutal para o país. Inviabiliza o investimento das empresas e aumenta o déficit público fortemente.
Qual a saída no momento?
No momento temos que sair dessa recessão, e para sairmos precisamos continuar a política de ajuste fiscal e esperar que o câmbio gere efeitos. Estou convencido que vai gerar esse ano, já.  Não acredito absolutamente que vamos ter no ano que vem outra vez uma queda de três por cento do PIB. No ano que vem já temos uma queda (prevista) de dois por cento do PIB, que é o “carry over” (a influência estatística “carregada” – no caso, negativa – de 2015 para 2016). Isso é inevitável. Como eu acho que a economia vai começar a recuperar, então espero que no final do ano (2016), se o PIB ainda for negativo, e é bem possível que seja, mas será muito menos que este ano. A economia já estará claramente retomando o crescimento, mas de quase estagnação. O meu entendimento é de que a economia brasileira é semiestagnada desde 1980. A renda per capita brasileira vem crescendo menos que 1% por ano, quando crescia 4,1% entre 1950 e 1980.
Uma das maiores críticas ao governo nos últimos anos é a política de incentivo ao consumo desenfreado. O sr. concorda?
O modelo brasileiro de crescimento desde 1990, e não desde o Lula, é o modelo consumista. Não se deu condições nem para o crescimento privado, nem para o público. No meu entendimento, é que, do total de investimento de um país como o Brasil, 20% deveria ser público, e não é. Esse investimento deveria ser financiado por poupança pública. Mas cadê a poupança pública?  Desde 1980 que o Brasil não tem poupança pública. É sempre “despoupança” pública, que vai a dois, três por cento do PIB, quando nós tínhamos dois, três, quatro por cento de poupança nos anos 1970. E aí são liberais e desenvolvimentistas irmanados. Os liberais dizendo: “não, o Estado não precisa e não deve investir, isso é estatização”. E os desenvolvimentistas: “precisamos aumentar os salários e o consumo porque isso cria demanda”, e por aí afora. Então não há santo que faça o Brasil crescer desse jeito.
O que o Brasil precisa para crescer?
Minha tese é de que o Brasil para crescer não precisa absolutamente de um tostão de capital estrangeiro. O Ocidente, que tem um exército, que é a OTAN, tem um banco, que é o Banco Mundial, e coisas desse tipo, este Ocidente diz para nós: “é natural que países ricos em capitais transfiram seus capitais para países pobres”. E parece uma coisa verdadeira, de bom senso, de senso comum. Mas isso é tão verdade quanto é verdade que a terra é plana. Meu entendimento é que o Brasil deveria ter um superávit em conta corrente de um por cento do PIB. Na pior das hipóteses deveria ter zero de déficit, o saldo deveria ser zero. Primeiro porque quando você resolve crescer com poupança externa, como quando Fernando Henrique Cardoso começou o governo dele em 1995, você está decidido entrar em déficit em conta corrente. Quando entra em déficit em conta corrente, a taxa de câmbio se aprecia. E quando você aprecia o câmbio, as empresas brasileiras perdem competitividade e param de investir. De forma que a poupança externa substitui a interna, ao invés de se somar a ela. Esse é um argumento.
O outro é o da doença holandesa: é uma sobreapreciação de longo prazo da taxa de câmbio de um país causada pela existência de recursos naturais abundantes e baratos, que podem ser exportados com lucro a uma taxa de câmbio mais apreciada do que a taxa necessária para que as empresas brasileiras sejam competitivas. Entre zero e um por cento de superávit em conta corrente é indicação de que um país tem uma taxa de câmbio competitiva e que as empresas que forem competentes serão capazes de sobreviver no mercado, e até exportar. (explicação do que é doença holandesa: 30’45)
O sr. esteve no ato político contra o golpe no Largo São Francisco (16 de dezembro). A decisão do STF dá um fôlego ao governo?

Dá um fôlego, mas, mais amplamente, apenas confirma o que venho dizendo desde que começou esse projeto de impeachment, que considero de uma irresponsabilidade total por parte de Eduardo Cunha e da oposição, do PSDB, PPS. A democracia brasileira é consolidada, no meu entender. A tentativa de impeachment é um golpe de Estado, e um golpe é um retrocesso no processo democrático muito sério, (um risco) que acho que os brasileiros não estão dispostos a correr. Não acredito no impeachment de forma nenhuma. Não digo que tenho 100 por cento de certeza, mas 90 por cento eu tenho, que não vai sair o impeachment. A decisão do Supremo vai nessa direção e tornou muito mais difícil a tarefa dos “impichadores”.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Que o Mais Simples, Seja Visto Como o Mais Importante

por José Gilbert Arruda Martins

Nessa época do ano, todos nós ficamos com o coração mais "mole", parece que somos mais amigos, mais fraternos, mais solidários e generosos.



Por que não somos assim o ano inteiro?

O que nos faz esquecer e menosprezar os outros.

Há 2015 anos, um cara nasceu e sua terra e seu povo, estavam sendo dominada e explorada por um poderoso e violento Império.

O rapaz, que teve inclusive dificuldades enormes ao nascer, pois sua mãe e pai tiveram que ficar numa estribaria, a cidade de Belém, na Judeia, estava lotada, nasceu e cresceu entendendo que aquela situação de miséria e fome, maus-tratos e violência extrema, não poderia continuar.

Ao longo da sua breve vida de 33 anos, andou pelos quatro cantos da sua terra em busca do apoio e da preparação da sua gente com o objetivo de preparar a reação ao domínio imperial romano.

Nos encontros subversivos que fazia, nas palestras e conversas defendia que o Amor destruiria os inimigos do seu povo.

Distribuiu pão, peixe, acalentou prostitutas, negros e pobres em geral, curou enfermos nas ruas com suas mãos revolucionárias e socialistas.

Pergunto: O Natal que temos hoje, tem alguma coisa de parecido com a vida de Jesus Cristo? Alguma coisa chega próximo do que ele defendeu?

Nosso Natal se transformou em festa de ricos e consumistas.

Hoje o mundo cristão está mais pobre e sujo, pois o que adquirimos nesta última semana, muito será descartado.

Precisamos nos voltar para o simples e belo da vida.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Somos todos e todas Mundurukus, Araueté, Ashaninka, Guarani Kaiowá, Bororo, Avá-Canoeiro...

por José Gilbert Arruda Martins

Força aos nossos irmãos índios. Os Mundurukus são a prova viva dos verdadeiros donos dessas terras. Só aquele que experimentou a invasão de suas terras, famílias e vida, com todo tipo de violência, pode ou tem moral para afirmar o que afirmam hoje.
Viva aos indígenas da América.


“Eles foram considerados a tribo mais bélica da Amazônia”, diz José Sávio Leopoldi, antropólogo da Universidade Federal Fluminense

Quase todas as vezes que leio alguma matéria em blogs sobre indígenas do Brasil ou da América, sempre encontro, para minha tristeza, comentários racistas e repletos de ódio.

Como é possível não ver que os grupos e nações indígenas, moradores dessas terras há mais 40 mil anos, não podem hoje, reivindicar suas terras e manutenção de sua cultura e, até suas vidas que são tiradas a cada dia?


Não consigo entender alguém que vai para o computador escrever absurdos contra os povos indígenas.


Só pode ser desconhecimento da história.


Nossa história foi e é muito mal contada nas salas de aula, o foco é a história pautada nas elites brancas, índios e negros são quase que completamente esquecidos.


talvez por isso as asneiras que lemos e ouvimos de algumas pessoas quando se referem à questão indígena.


É claro, que um país do tamanho do Brasil precisa de energia elétrica. Não necessariamente energia hidroelétrica, pois causa estragos ambientais enormes e sem volta. Nos últimos anos, o país avançou muito na produção de energia alternativa, principalmente a eólica.



"Em menos de uma década, o Brasil passou de um país nulo em energia eólica para se tornar o 10º maior produtor do mundo – e, no centro desta mudança, a região Nordeste é protagonista."


Marcos Santos


"Quatro parques eólicos entraram em operação no país em 2006, segundo a Operadora Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Três anos depois, passaram a ser realizados no país leilões voltados para a construção de parques e usinas eólicos.

Nesse modelo, a Aneel determina a quantidade de energia necessária a ser fornecida. As empresas interessadas apresentam projetos para atender a demanda, de acordo com critérios estabelecidos do governo, entre eles o valor máximo a ser cobrado pela energia. Vencem aqueles com a melhor relação entre eficiência e custo. O contrato dura 20 anos.

O número de usinas em operação no país passou, então, a crescer exponencialmente, especialmente no Nordeste, com destaque para o ano passado, com um recorde 47 complexos, parques e usinas inaugurados."

Se o avanço na produção e distribuição da energia dos ventos é tão pujante, por que continuar com uma política de construção de usinas hidroelétricas que trazem tantos prejuízos?

É claro que os índios precisam proteger suas terras milenares e seu povo. E não irão recuar. 

A questão indígena no Brasil e nas Américas não é tão simplória. Lideranças indígenas estão em constante mobilização na defesa de seus direitos.


A pesquisadora Manuela Carneiro da Cunha, em seu artigo: O futuro da questão indígena, trás ao debate esclarecimentos que poderão ajudar os desinformados sobre o tema, logo abaixo, coloquei um link, para aqueles que desejarem ler o artigo por completo.


O futuro dos índios no Brasil dependerá de várias opções estratégicas, tanto do Estado brasileiro e da comunidade internacional quanto das diferentes etnias. Trata-se de parceria. As populações indígenas têm direito a seus territórios por motivos históricos, que foram reconhecidos no Brasil ao longo dos séculos. Mas estes direitos não devem ser pensados como um óbice para o resto do Brasil: ao contrário, são um pré-requisito da preservação de uma riqueza ainda inestimada mas crucial, a biodiversidade e os conhecimentos das populações tradicionais sobre as espécies naturais. O que se deve procurar, no interesse de todos, é dar as condições para que esta riqueza não se perca: é por isso irracional querer abrir todas as áreas da Amazônia à exploração indiscriminada. Fazem-se assim convergir os direitos dos índios com os interesses da sociedade brasileira como um todo.

O Brasil tem uma dívida histórica impagável com esses povos.


Nosso país não consegue andar com as demarcações das terras indígenas, isso para falar pouco.



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Com informações:

http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/11/151110_energia_eolica_nordeste_rb

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141994000100016&script=sci_arttext

http://www.funai.gov.br/index.php/nossas-acoes/demarcacao-de-terras-indigenas?start=1#

http://pib.socioambiental.org/pt

A política munduruku

na Rede Brasil Atual

Com forte tradição guerreira, índios se organizam e fazem alianças para enfrentar o governo brasileiro. Eles querem barrar as hidrelétricas que podem alagar suas terras no rio Tapajós

por Guilherme Rosa, da Repórter Brasil


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Em Paris, para receber o Prêmio Equador, da ONU, as lideranças munduruku participam de evento que reuniu lideranças ambientais do Brasil e do mundo


Microfone na mão, tronco desenhado com traços pretos e um cocar de penas vermelhas na cabeça, o cacique Juarez Saw discursa: “O governo tá chegando aqui para acabar com tudo: o indígena, a floresta e o rio”. Às margens das bucólicas corredeiras do rio Tapajós, no Pará, 230 índios munduruku se reuniram para discutir a resistência ao projeto do governo federal, que planeja construir até sete hidrelétricas na região. A maior delas, a usina de São Luiz do Tapajós, teria potência máxima de 8.040 megawatts e deve alagar mais de 70.000 hectares de floresta. As águas devem deixar áreas munduruku submersas, entre elas a aldeia Dace Watpu, onde a assembleia foi realizada.
“Eles querem acabar com a história munduruku, mas nós não vamos deixar.” A cada frase entoada pelo cacique, os 230 índios ao seu redor gritam “Sawé!”, expressão que mistura saudação com grito de guerra.
O mesmo grito foi entoado no início de dezembro, em Paris, durante a COP-21, conferência sobre mudanças climáticas das Nações Unidas. Dessa vez, a voz ao microfone era da indígena Maria Leusa Kaba Munduruku, que foi à França receber o Prêmio Equador. Concedido pela ONU, o prêmio reconhece o protagonismo do seu povo contra as usinas como uma ação de “sucesso proeminente na promoção de soluções sustentáveis”. Não é a primeira vez que a organização munduruku chama a atenção da comunidade internacional, a resistência dos indígenas já foi retratada pelos jornais GuardianWashington Post, pela Aljazeera e BBC.
No Pará ou em Paris, o elemento que fortalece o grupo é sua habilidade para fazer política. Os indígenas sabem costurar parcerias, manter aliados e têm líderes dedicados a estudar os seus direitos no Brasil e os mecanismos internacionais que podem ser usados em sua defesa.
RBAmundurukurevista1_AndersonBarbosa.jpgNo Pará ou em Paris, o elemento que fortalece o grupo é sua habilidade para fazer política
A capacidade de organização e estratégia está alicerçada em sua própria tradição. Durante a assembleia, fica claro que a experiência em debates políticos é anterior à chegada das usinas. Os índios munduruku tem um rito próprio, que lembra um modelo de democracia participativa. Durante as reuniões, qualquer um pode falar – homem, mulher, jovem ou idoso –, pelo tempo que desejar. Todas as decisões têm que sair por consenso, não importando o tempo que isso tome. Nos quatro dias do evento, as reuniões se estenderam das primeiras horas da manhã até o sol se por. Para dar sustento, corria entre os participantes uma cuia com farinha e água, que era sorvida aos goles.
Os participantes podiam se pronunciar em munduruku ou em português, mas a maioria falava na língua nativa. Apesar da presença de jornalistas e aliados não-indígenas, nem sempre as falas eram traduzidas para o português. “Falar em munduruku é um modo de marcar a nossa diferença, de fazer a política”, diz Jairo Saw, historiador munduruku. Em meio aos discursos, era possível pescar algumas palavras em português, expressões que não existem na língua nativa, como: cientistas, demarcação, barragem, governo e preocupação.
Além da pintura no corpo e cocares, os guerreiros participantes carregavam arcos e flechas, evocando a imagem de guerreiros destemidos e violentos com a qual ficaram mundialmente conhecidos no passado.

ANDERSON BARBOSA/FRACTURES COLLECTIVEassembleiamunduruku.jpgNas reuniões munduruku, todos podem dar opinião, as decisões são tomadas em consenso
De caçadores de cabeças a estrategistas

“A cabeça humana simbolizava poder”, explica Jairo Saw. “Hoje estamos em outra época e lutamos nossas guerras de outros modos, mas esse espírito guerreiro ainda está na gente”. A área ocupada pelo povo munduruku era tão ampla que os colonizadores se referiam à região como Mundurukânia.
Para Tiago Vekho, antropólogo do Instituto Socioambiental que realiza sua pesquisa de doutorado sobre os Mundurukus, a história ajuda a explicar a resistência atual. “Eles possuíam uma lógica espartana: eram uma sociedade voltada para a guerra. Hoje, eles se consideram em guerra contra o governo e é possível perceber, no cotidiano das aldeias, que todos estão mobilizados para isso”, diz.
Na disputa do presente, os índios munduruku evocam a sua história. Desenhos de cabeças mumificadas aparecem, por exemplo, nas placas da autodemarcação da Terra Indígena Sawré Muybu, uma das áreas onde vivem os indígenas.
ANDERSON BARBOSA / FRACTURES COLLECTIVEmundurukucomputador1.jpgJairo Saw durante assembleia dos Munduruku no médio Tapajos
As ações atuais são bastante diferentes das do passado. A autodemarcação é considerada uma das mais estratégicas linhas de resistência às usinas. Enquanto a Fundação Nacional do Índio (Funai) segura o processo de reconhecimento da Terra Indígena Sawré Muybu, área que será alagada, eles se muniram de facões e foram, eles mesmos, abrir picadas onde seriam as fronteiras do território. “Vivemos em um lugar tradicional, deixado pelos nossos antepassados. Como a terra é nossa, decidimos parar de esperar o governo e fazer nós mesmos”, diz Jairo Saw.
No tempo em que dominavam a bacia do Tapajós, antes da chegada dos colonizadores, as expedições de guerra promovidas pelos índios munduruku duravam até seis meses e eram temidas pelas etnias vizinhas. “Eles foram considerados a tribo mais bélica da Amazônia”, diz José Sávio Leopoldi, antropólogo da Universidade Federal Fluminense que estuda a história munduruku.
O nome “munduruku” foi atribuído por rivais e significa formiga vermelha, em alusão à sua formação quando atacavam. Segundo os relatos históricos, eles atacavam de surpresa no raiar do dia, com grande contingente de guerreiros e dizimavam a população adulta, trazendo as cabeças das vítimas como troféus. Mumificadas, elas eram fincadas em lanças e colocadas na frente das casas. Algumas dessas cabeças foram preservadas e fazem parte de coleções de museus brasileiros, ingleses e portugueses, levando a fama guerreira dos Munduruku para o mundo.
Um dos mais populosos grupos étnicos do país, há mais de 13 mil homens, mulheres e crianças munduruku espalhados por 850 quilômetros do rio Tapajós e afluentes. Sempre que há uma ação local importante, os índios se deslocam pelo território para dar apoio. Durante a autodemarcação, por exemplo, guerreiros viajaram ao longo de três dias para ajudar a abrir as picadas.
A união e a habilidade de resistir quando sob pressão também são constantes na história munduruku. No começo do século 19, os portugueses traçaram um acordo para diminuir os confrontos com a etnia. Quando chegaram as missões católicas, com o objetivo de catequizar e “civilizar”, muitos deles foram proibidos de falar sua língua e praticar os ritos tradicionais. Mas os indígenas preservaram esses conhecimentos, reinventando sua cultura para sobreviver ao domínio.
Ao mesmo tempo que absorveram práticas católicas como o batismo, mantiveram sua
ANDERSON BARBOSA / FRACTURES COLLECTIVEmundurukucrianca.jpgNas reuniões munduruku, todos podem dar opinião, as decisões são tomadas em consenso
crença em Karosakaybu, no poder dos xamãs e nos rituais antigos. “Eles nunca tiveram uma religião instituída. Era uma cosmologia que acabou absorvendo a ideia do Deus cristão”, diz Tiago Vekho. Apesar da proibição dos missionários ao longo de décadas, a língua munduruku sobreviveu e hoje é a mais falada pela população. Grande parte das mulheres e crianças não falam o português.
A necessidade de pressionar o governo também não é novidade para eles. A demarcação da Terra Indígena Munduruku, que abrange a região norte da bacia do Tapajós, foi fruto da pressão do grupo. O processo começou em 1975 e só terminou em 2004, período durante o qual os indígenas acompanharam os estudos com mobilizações e cartas ao governo. Jairo Saw era uma criança, mas lembra de ver adultos de várias aldeias se reunindo e traçando estratégias comuns nos anos 70.
Hoje, ele é um dos muitos representantes da etnia que viaja para levar os argumentos contrários às usinas em reuniões com ministros e conferências da ONU. Os indígenas já ocuparam escritórios da Funai diversas vezes, assim como o canteiro de obras de Belo Monte. Eles também se articulam para abastecer o Ministério Público Federal com as informações para que a instituição mova ações contra a usina.
ANDERSON BARBOSA / FRACTURES COLLECTIVEcopy_of_mdk12.jpgA estratégia política munduruku convive com um modo de vida integrado à natureza

Alianças

Antecipando-se à chegada das usinas do Tapajós, os índios munduruku participaram das ocupações da usina de Belo Monte. A experiência serviu como lição de como não agir.
“Os indígenas do Xingu perderam a luta contra o governo. Eles eram vários povos diferentes, alguns foram cooptados, e acabaram se dividindo”, diz Jairo Saw. “Isso serviu para a gente ver que precisamos da união para fortalecer a nossa luta. Estamos buscando a confiança de outros povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e das pessoas que vivem nas cidades. Nossas lutas têm que acontecer juntas.”
Durante a Assembleia do Médio Tapajós, fica claro que esse esforço não é da boca para fora. Estiveram presentes pelo menos 23 lideranças Munduruku de outras regiões, outras etnias indígenas e ribeirinhos moradores de comunidades que também serão afetadas pelas usinas. A reunião também contou com representantes do Ministério Público Federal do Pará, que já ajuizou 19 ações judiciais tratando de violações contra índios e ribeirinhos da área.
Além de representantes de mais de dez organizações do terceiro setor, como o Conselho Indigenista Missionário, o Greenpeace e o Fórum da Amazônia Ocidental. “Os Munduruku são um povo muito politizado. Eles entenderam que não haveria condições de enfrentar a máquina governamental sem o apoio da sociedade brasileira, e as ONGs cumprem o papel de fazer essa conexão” diz Danicley de Aguiar, do Greenpeace.
O plano é estender ainda mais a rede de alianças. Eles já foram diversas vezes à Brasília para protestar contra medidas do governo que atingem os direitos indígenas como um todo. A viagem mais recente foi motivada pela PEC 215, que passa ao Legislativo o poder de demarcar novas terras indígenas. “A gente sabe que colocar essa decisão nas mãos da bancada ruralista vai deixar a situação ainda mais difícil para nós e nossos parentes”, diz Roseninho Saw Munduruku, presidente da associação Pariri, que representa sete aldeias de médio Tapajós.

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Jovens munduruku carregam um veado que vai alimentar os participantes da assembleia
A economia munduruku

Um munduruku acompanha as mudanças de nível e fluxo do rio com a mesma preocupação que um economista segue os índices de desemprego e inflação. O rio é a base do seu sustento e sobrevivência, já que o peixe é a primeira fonte de alimentação. Em segundo lugar vêm a caça, a coleta e a roça, que dependem da saúde da floresta – que por sua vez depende do rio.
Por isso, o grupo é uma valiosa fonte para ajudar a prever os impactos ambientais das usinas. “Nós sabemos que a construção vai mudar tudo. Com o fim do regime de cheias do rio, as árvores na beira vão secar e os peixes não vão mais encontrar seu alimento”, afirma Jairo Saw.
“Eu tive que estudar muito para chegar à mesma conclusão que vocês”, disse Jansen Zuanon, biólogo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Convidado à assembleia para trocar conhecimentos com os indígenas, ele foi um dos autores de estudo contratado pelo Greenpeace. A organização encomendou uma série de análises para questionar o estudo de impacto encomendado pelo governo.
O estudo de impacto oficial, que ainda está em análise pelo Ibama, concluiu que os impactos à biodiversidade local seriam aceitáveis. Já a análise contratada pelo Greenpeace, e realizada por pesquisadores de instituições como a Universidade Federal de Pernambuco e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, concluiu que a usina ameaça a sobrevivência de peixes, pássaros e plantas. A análise independente aponta ainda que o estudo oficial deveria ser rejeitado, pois tem problemas na metodologia, na análise dos dados e no inventário de animais e plantas.
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“Eles foram considerados a tribo mais bélica da Amazônia”, diz José Sávio Leopoldi, antropólogo da Universidade Federal Fluminense
O responsável pela execução do estudo de impacto oficial é o Grupo de Estudos do Tapajós, formado por nove empresas estatais e privadas interessadas em construir a usina, como a Eletrobras, a Camargo Corrêa e a Cemig. Procurado pela reportagem, o grupo afirma que realiza reuniões com o Ibama para aprofundar alguns itens do relatório. Apenas depois desta etapa, o órgão irá emitir seu parecer definitivo. “Cabe ressaltar que as usinas do rio Tapajós vão garantir o fornecimento seguro de energia limpa e renovável. Trarão ainda benefícios para a população local, com a geração de emprego e renda, permitindo o desenvolvimento econômico e social da região e do país”, diz a nota enviada à reportagem (leia na íntegra).
Até agora, os índios munduruku, MPF e entidades do terceiro setor parecem ter sucesso nos argumentos contra as obras. O leilão da usina de São Luiz do Tapajós estava previsto para acontecer em 2014, depois 2015 e agora foi adiado para 2016 por conta de problemas no licenciamento ambiental. Em junho, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética reconheceu que a questão indígena era um obstáculo para o licenciamento.

Os índios munduruku se ofendem sempre que empresas ou representantes do governo argumentam sobre o crescimento econômico que seria gerado pela obra. Já cansaram de explicar que certas riquezas não podem ser medidas em moeda. “Existem escrituras ao longo de todo o rio Tapajós, em seu corpo, nas pedras e árvores nos alertando. O branco não consegue ler, mas nossos pajés sim. Aquilo tudo é sagrado, faz parte de nós, e deve ser respeitado”, diz Jairo Saw. “Não há nenhum valor que compre isso’, Maria Leusa completa. “Não vendemos nenhuma gota, nenhuma pedra. Não tem negociação”.