"Não dá pra falar de
saúde mental quando pessoas não têm garantido acesso a direitos básicos como
saúde, cultura, educação, lazer, entretenimento", diz psicóloga.
“Toda morte que ocorre em uma
sociedade diz algo sobre essa sociedade.”
“E a gente precisa refletir
sobre o processo que a gente vive, a fragilidade dos nossos vínculos.”
A reflexão é da psicóloga
Ana Sandra Fernandes, vice-presidenta do Conselho Federal de Psicologia (CFP),
a respeito do Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, celebrado em 10 de setembro.
“O problema do suicídio é
sério, complexo, multideterminado e precisa de políticas públicas efetivas para
dar conta desse fenômeno.
É muito importante a
existência do Setembro Amarelo mas a gente compreende também que não é
suficiente para abordar os aspectos que envolvem o suicídio.
É preciso falar de saúde
mental e da prevenção ao suicídios todos os meses e todos os dias do ano”, diz
Ana.
O contexto atual, que impõe
praticamente uma inversão de prioridades na vida das pessoas, é um dos fatores
que pode agravar o problema.
“A sociedade capitalista
exige cada vez mais, que a gente trabalhe, consuma, e parece que as relações
vão ficando relegadas a um segundo plano.
Fatores políticos
Uma publicação do Centro de
Estudos Estratégicos da Fiocruz, intitulada Políticas de austeridade e seus
impactos na saúde, de 2018, chama a atenção para a relação entre o número de
suicídios e m um contexto de crise econômica e soluções ancoradas no chamado
“ajuste fiscal”.
“Um aspecto bastante
destacado na literatura revista é o papel das políticas de proteção social como
fator mitigador dos efeitos do desemprego e/ou redução da renda do trabalho.
Países ou províncias que mantiveram ou reforçaram o seu acervo de políticas de
assistência social, incluindo transferências monetárias para populações pobres
e extremamente pobres, apresentaram níveis menores de doenças mentais e
suicídio. Na Itália, no período de 2000 a 2010, observou que as políticas de proteção
social funcionaram como fatores de proteção ao aumento do suicídio associado ao
desemprego”, diz o texto.
“A relação entre crise
econômica e transtornos mentais está bem documentada na literatura. A perda de
emprego, dívidas, moradia e problemas financeiros são situações de estresse que
se agravam ainda mais quando associadas às medidas governamentais de redução
dos orçamentos e gastos com saúde”, aponta o texto.
“Os fatores políticos estão
totalmente relacionados com a questão do suicídio, não dá pra considerar o
suicídio como um fenômeno individual, é um equívoco quando fazemos isso”,
ressalta a psicóloga, citando como exemplo o aumento no número de suicídios em
Brumadinho. No primeiro semestre de 2019, 39 moradores tentaram o suicídio, um
aumento de 23% em relação ao mesmo período no ano passado, quando uma pessoa do
município tirou a própria vida, sendo que este ano foram três.
“Não dá pra falar de saúde
mental quando as pessoas não têm garantido o acesso a direitos básicos como
saúde, cultura, educação, lazer, entretenimento, e sempre que o acesso a esses
direitos é negado temos uma alteração significativa de condições de vida digna,
o que influencia no fenômeno do suicídio”, pontua.
FONTE:
IMAGEM:
PIXABAY