quarta-feira, 2 de setembro de 2015

O "Especialista" e seu miúdo campo de visão humanitária

por José Gilbert Arruda Martins

O sistema econômico capitalista global apresentou ao longo da história da produção de bens de consumo três grandes fases, onde quase sempre, a especialização operou contra o progresso social e humano.

Foi assim na fase pré-capitalista, por volta dos séculos XVI a XVIII; repetiu-se na fase industrial e imperialista dos séculos XIX e XX e, continuou com a globalização financeira, neoliberal e altamente tecnológica dos últimos 50 anos.

Na primeira fase, quando a estrutura de funcionamento da economia era essencialmente rural, a sociedade ocidental europeia possuía seus "especialistas", monges, mercadores, construtores de igrejas etc. que, no geral, não enxergavam nada além do seus próprios interesses.

Os pensadores renascentistas e mais tarde os iluministas, também "especialistas", com seu campo de visão voltado para, com raras exceções, ao imediato da vida e interesses das elites da sociedade pré-capitalista europeia.

Quando o ocidente entra no século XIX, o foco passa a ser a industrialização, sem perder de vista a preocupação com o acúmulo de riqueza, com a conquista, a qualquer preço, da matéria-prima, dos mercados e, principalmente, da exploração da mão de obra escrava, que em várias regiões do mundo, ainda era uma realidade, entre essas regiões, o Brasil.

Essa visão "especializada" em explorar, fazer sofrer, fazia parte do projeto de acumulação de capitais que construiu nos ´seculos anteriores e, construiria, por muito tempo a riqueza das elites da América e da Europa, a um preço social e humano impagável.

Toda a história da "especialização" de pessoas, grupos e empresas, do sistema capitalista, teve como único intento, acumular e, para isso, o sistema produziu milhões de excluídos.

É óbvio que o sistema, até para facilitar mais acúmulo e mais exploração do trabalho, produziu avanços técnicos que permitiram melhorar a vida de muita gente em várias partes do planeta mas, nem a Revolução Industrial do século XIX, nem a Revolução da Internet hoje, conseguiram acabar com a fome e a miséria do mundo.

O surgimento do especialista, tão defendido pelas corporações capitalistas, veio para melhorar e aumentar ainda mais a riqueza de quem já possuía muito.

Portanto, o surgimento da especialização, do trabalho do especialista e seu campo de visão, infelizmente, não operou grandes avanços sociais e humanitários, até mesmo, se levarmos em conta as ideias liberais das revoluções burguesas, a revolução estadunidense, a revolução francesa e, mesmo a revolução socialista russa de 1917, foram capazes de, concretamente, acabar com o sofrimento da Classe Trabalhadora e da sociedade mais pobre como um todo, o foco não era esse, nunca foi.


O Incra vai ficar algemado, também, pela bancada do boi?

no Portal do MST
Bancada ruralista tenta impedir regras para desapropriação de terras em que forem encontrados trabalhadores em condições análogas às de escravos.
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Por Jacques Távora Alfonsin

Se ainda pudesse sobreviver alguma dúvida sobre o poder da bancada congressual do boi frente ao Poder Executivo da União, ela se dissipa totalmente, com uma notícia recente da Agência Globo, publicada no dia 28 deste agosto:

“O Palácio do Planalto determinou a derrubada de um ato editado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) que, entre outras medidas, estabelece regras para a desapropriação de terras nas quais autoridades flagrarem trabalhadores em condições análogas às de escravos, para que sejam transformadas em assentamentos rurais. Depois de ser pressionado pela bancada ruralista, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, determinou à Advocacia-Geral da União (AGU) que conteste a Instrução Normativa 83/2015, publicada no início deste mês no Diário Oficial da União. A AGU deve se manifestar nos próximos dias. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) promete reagir caso o ato seja anulado.”
Quem acompanhou os trabalhos do Congresso Nacional para discutir e votar o projeto de emenda da nossa Constituição, prevendo punir a exploração do trabalho escravo, teve oportunidade de avaliar o poder da bancada do boi para tergiversar, explorar firulas de ordem regimental, atrapalhar e obstruir a sua votação. Mesmo incluída na Constituição, na forma atual do artigo 243, toda a discussão em torno de tema tão importante resultou em vitória dessa bancada, pois ela foi aprovada sem qualquer efeito prático. A redação da emenda deixou o trabalho escravo dependente de definição a ser feita por lei posterior.

A escravidão e a multidão de escravos que fiquem sofrendo das crueldades inerentes a um estado desumano e perverso, até que o Congresso defina isso, se um dia alcançar fazê-lo. É o que “normalmente” (?) acontece com toda a tentativa de se oferecer garantias de respeito à dignidade humana e a direitos humanos fundamentais sociais, quando se pretende sustenta-las em lei: é indispensável prorrogar qualquer proposta que, mesmo remotamente, coloque em risco quem tira proveito econômico dessa iniquidade. 

Abolida a escravidão em 1888, ainda no tempo do império (!), dia 13 de maio de 2015 vão se completar 127 anos da chamada “lei áurea”. Pelo  pelo menos no entendimento das/os parlamentares da bancada do boi, bem mais de um século ainda não foi tempo suficiente para se saber exatamente o que seja ausência de liberdade, subordinação de alguém à condição de escravo.

O Incra, uma autarquia praticamente abandonada pelo governo da União há anos, ousou dar sentido ao apelido dado à lei de libertação dos escravos. “Aurea”, é a cor do ouro, identificando a liberdade conquistada pelo povo negro como excelente, brilhante. A instrução normativa 83/2015, cumprindo o disposto na Constituição Federal e no Estatuto da Terra,  tratou de sustentar a legalidade da fiscalização  de onde, como e quando o trabalho escravo ainda existe aqui no Brasil, para poder, quem sabe, dar alguma sustentação jurídica ao referido artigo 243 da Constituição.

Quem seria capaz de imaginar como inconstitucional, ilegal, injusta, uma atividade administrativa como essa, projetada na dita Instrução?  Alguém pode-se dizer a favor do trabalho escravo? - A bancada do boi parece achar que sim e, de acordo com a notícia, o próprio Ministro Mercadante também. Que o ouro da lei libertária fique apenas figurado como de liberdade. A bancada do boi acha mais conveniente ficar com o da pecúnia, o  dinheiro do seu lucro, por sinal uma palavra que vem do latim: pecus, cuja tradução literal é gado.    

Se algum latifundiário for flagrado explorando trabalho escravo,  recomende-se às/aos escravas/os terem paciência com a manutenção desse regime, ele deve assim prosseguir pois a lei não definiu ainda o que até os bois sabem o que seja, pois são tratados por ele em muitas fazendas do país.  

Para algumas conclusões a pressão da bancada do boi serviu: assim como já fez com quase todo o capítulo da Constituição Federal, relacionado com a reforma agrária, com quase todo o Estatuto da Terra, vai manter quem ela representa e estiver explorando trabalho escravo, continuar auferindo o nefando lucro extraído do trabalho servil, em prefeita tranquilidade e segurança; depois vai provar a cumplicidade -  outra palavra não cabe -  do governo da União com essa barbárie, se esse continuar tão submisso às suas reivindicações  e,  finalmente, vai matar as esperanças de quem ainda acreditava haver no Poder Executivo da União algum interesse, mesmo remoto, de implementar a política pública de reforma agrária no país, apoiando o Incra em tudo o que a dita autarquia sempre necessita e nunca recebe.

Isso não acontece com as reivindicações da bancada do boi. Mesmo assim, se pela lei de proteção aos animais o boi tem o direito de ser defendido contra maus tratos, não seria demais esperar-se da bancada representativa da economia nele sustentada no Congresso Nacional - já que o seu poder se mostra tão superior ao do Estado - dedicasse às/aos trabalhadoras/es mantidas/os em regime de escravidão, senão superior, o mesmo cuidado com que se dedica aos seus animais.  

*Jacques Távora Alfonsin é procurador aposentado do estado do Rio Grande do Sul e membro da ONG Acesso, Cidadania e Direitos Humanos.


terça-feira, 1 de setembro de 2015

Eu Sou Radical, Eu Estou Diretamente Ligado às Raízes Que Me Sustentam

por José Gilbert Arruda Martins

"quando sou radical estou diretamente ligado à raiz, isto é, estou na coerência, estou buscando a coerência de uma realidade".

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Na nossa breve passagem por São Luis, capital do Estado do Maranhão, onde encontramos parte da nossa família e também dezenas de amigas e amigos. Tivemos a grata oportunidade de fazer parte de uma homenagem digna do maravilhoso artista que foi o Bebé,  "Tributo ao Bebé", que recentemente nos deixou, organizado pelo Arialdo, Marta e equipe.

Mas não vou escrever, por enquanto, sobre o Tributo ao Bebé, vou falar, para variar um pouco, sobre Política.

Isso mesmo, Política com "P" grande.

Normalmente quando encontro meus amigos e amigas de mocidade, um ou outro, uma ou outra, costuma dizer: "Betinho, acompanho seu blog, você é radical hem cara?"

Faço militância política há muitos anos, desde a época da Universidade, quando íamos às ruas em Fortaleza para defender o país, os estudantes e o preço baixo do bandejão do restaurante universitário e, levávamos muita porrada e gás lacrimogênio da PM cearense por isso.

E também, quando em nossa cidade natal Grajaú, de férias da faculdade, íamos às ruas para defender os interesses do nosso povo.

Eu, sem muito tempo e local adequado para explicar, perco a oportunidade de tentar abrir um pouco, os olhos e mente de meus estimados e estimadas amigas de infância.

Por isso, pensei muito durante toda a viagem de carro de São Luis até aqui em Palmas, onde estou agora, sobre o assunto e, resolvi tentar escrever alguma coisa.

É claro e evidente, que não tenciono ser arrogante ao ponto de ter a pretensão de ensinar aos amigos e amigas absolutamente nada, são apenas tentativas de aprimorarmos nossos debates e conversas informais que, com certeza, teremos a partir de agora. Apenas isso.

Então vamos lá, o que significa ser radical?

Poderia usar na oportunidade um conceito nu e cru de um dicionário qualquer, mas não.

Vamos usar aqui, em vez do verbete do dicionário e dos ensinamentos do velho, bom e atualíssimo Karl Marx, palavras de um maravilhoso padre da Igreja Católica chamado Fábio de Melo, que, na nossa modesta opinião, conseguiu sintetizar em poucas palavras a beleza e a profundidade que requer a explicação sobre o significado filosófico e político da frase "ser radical", então vamos lá:

"(...) ser radical é tudo aquilo que estar diretamente ligado à raiz, que está direto na fidelidade, na coerência.

A raiz resguarda toda a memória da planta, é ela que dá o sustento para que toda a planta permaneça de pé.

Então, você ser radical, é você estar nesta posição de firmeza.

É como eu pudesse dizer: "quando sou radical estou diretamente ligado à raiz, isto é, estou na coerência, estou buscando a coerência de uma realidade".

O grande problema, é que nós associamos a palavra radicalidade com exagero e não é por aí.

Uma pessoa radical não é exagerada, uma pessoa radical é coerente."

Viram aí?

Não é maravilhosa a explicação do padre?

Nosso blog, muito recente, diga-se de passagem, completou apenas um ano, em março passado. Se propõe a ser uma ferramenta democrática de debate de ideias e projetos para o Grajaú, Maranhão, Brasília e todo nosso país, nunca tivemos a pretensão de esgotar nenhum assunto, mesmo por que é impossível, haja vista a profundidade e complexidade de determinados temas.

Não sou especialista da política, apesar de ser professor graduado em História pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) há mais de 27 anos.

Sou mais um trabalhador inconformado com a má distribuição de renda, com a violência contra as mulheres, gays, negros, índios... que, nas horas que posso, sento para escrever um pouco e, replicar aqui nesse espaço democrático, matérias de Educação, Economia, Política, Cultura, LGBTs, Cidadania...de outros blogs.

Portanto, não pretendo esgotar nenhum tema, mesmo por que, como afirmei, não sou especialista, o máximo que consigo é, talvez, provocar um pouco meus amigos e amigas e, meus leitores e seguidores em geral.

Na minha passagem por São Luis, como disse acima, Estado dilapidado pelo Clã Sarney por mais de meio século, e, agora, administrado pelo grande, capaz e perspicaz Flávio Dino (PCdoB), além de curtir parte da minha família, tive a honra e alegria de encontrar dezenas de amigas e amigos contemporâneos que fomos nas lutas, farras, festas e nos bares da vida em Grajaú.

Que meus amigos e amigas, que nossos leitores e leitoras, todas as pessoas que nos seguem nas redes sociais, sejam também radicais, que nunca abram mão de ir à raiz dos problemas e das soluções dessa imensa e importante Nação que é de Todas e de Todos nós.

Não pode ser apenas de uma minoria.

Todos nós, com nosso trabalho, com nossa luta, ajudamos a construí-la.

Um beijo grande.

 Com Informações: https://www.youtube.com/watch?v=DJhmE0LNEqc

FICHA SUJA - Quase 40% dos senadores têm pendências criminais

na Rede Brasil Atual
Pelo menos 30 dos 81 integrantes do Senado respondem a inquérito ou ação penal no Supremo Tribunal Federal
por Gabriela Salcedo e Edson Sardinha, do Congresso em Foco
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Supremo tem denúncia contra Renan há mais de dois anos. Collor está a um passo de virar réu na Lava Jato


 Congresso em Foco  - Quase 40% dos senadores estão sob investigação no Supremo Tribunal Federal (STF). Dos 81 integrantes do Senado, pelo menos 30 respondem a inquéritos ou ações penais na mais alta corte do país. As suspeitas vão de crimes de corrupção, contra a Lei de Licitações e eleitorais até delitos de menor gravidade, como os chamados crimes de opinião. Entre os investigados, 12 são alvos da Operação Lava Jato, como o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ex-presidente da República Fernando Collor (PTB-AL), único senador denunciado até agora pela Procuradoria-Geral da República.
Os dados são de levantamento exclusivo da nova edição da Revista Congresso em Foco. Desde agosto de 2013, o senador Ivo Cassol (PP-RO) vive com um pé no Senado e outro no Supremo. Primeiro e único senador condenado à prisão pela mais alta corte do país, Cassol se agarra a recursos para não ter o mesmo destino que seu colega de estado, o ex-deputado Natan Donadon (RO), que saiu da Câmara diretamente para o Complexo Penitenciário da Papuda. O ex-governador foi condenado a quatro anos e oito meses de prisão, em regime semiaberto, e ao pagamento de multa de R$ 201 mil, acusado de ter direcionado licitações a empresas de conhecidos entre 1998 e 2002, quando era prefeito de Rolim de Moura (RO). Em setembro de 2014, o Supremo rejeitou as contestações de Cassol.
No fim do ano, a Procuradoria-Geral da República voltou a se manifestar contra o recurso apresentado pela defesa. A eventual confirmação da sentença implica o início do cumprimento da pena e a abertura do processo de cassação do mandato. Essa, porém, não é a única dor de cabeça dele na Justiça. Cassol é o senador com mais pendências no Supremo. Seu nome figura em dez investigações. Além da condenação, enfrenta duas ações penais, por calúnia e crime eleitoral, e outros oito inquéritos por peculato, improbidade administrativa, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, corrupção passiva, crimes contra o meio ambiente, contra o sistema financeiro e contra a Lei de Licitações. “Responderei apenas na Justiça o que devo a ela”, disse o ex-governador ao ser procurado pela reportagem.
Em princípio, ser investigado não indica qualquer problema. Afinal, em um regime democrático, todo cidadão é considerado inocente até que se prove o contrário. No STF, para realizar o julgamento de culpado ou inocente, aquele que é considerado suspeito passa por dois procedimentos. Primeiramente, o inquérito, etapa pré-processual para averiguar reais indícios da prática criminosa. Caso encontre elementos consistentes de que o investigado praticou o crime, a Procuradoria-Geral da República apresenta uma denúncia. Se o Supremo a aceitar, o parlamentar passa à condição de réu em ação penal. É nesta fase que ocorrem os julgamentos.
Desde janeiro de 2013, há um parecer da Procuradoria-Geral da República oferecendo denúncia contra o presidente do Senado, Renan Calheiros. Dois anos e meio depois, o pedido não foi analisado. Renan é acusado de peculato, falsidade ideológica e uso de documento falso no Inquérito 2593, que apura crimes atribuídos a ele em 2007, quando teve de renunciar à presidência do Senado em meio a uma série de acusações. Atualmente, ele é investigado em outros três inquéritos da Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro.
A PGR sustenta que o senador enriqueceu ilicitamente, forjou documentos para comprovar que tinha recursos para bancar despesas pessoais e teve evolução patrimonial incompatível com o cargo. Os fatos se referem à denúncia feita por Mônica Veloso, com quem tem uma filha, de usar dinheiro repassado por lobista da empreiteira Mendes Júnior para pagar pensão e aluguel da ex-amante. Pela mesma denúncia, Renan virou réu por improbidade administrativa na 14ª Vara da Justiça Federal de Brasília, em junho.

Como mostrou a Revista Congresso em Foco, dos mais de 500 parlamentares investigados pelo Supremo desde 1988, só 16 foram condenados pelos ministros. Desses, metade escapou da punição ou tenta revertê-la. Quase 25% dos casos envolvendo parlamentares arquivados pelo tribunal nos últimos anos foi para o arquivo por prescrição.

TERROR - Acampamentos do MST são alvos de atentados no Paraná e Maranhão

na Rede Brasil Atual
“Trabalhadores foram feitos reféns e alguns espancados”, afirma direção do movimento
Acampamento Herdeiros da Terra de 1º Maio
Famílias sem-terra do acampamento Herdeiros da Terra de 1º de Maio reivindicam fazenda explorada pela Araupel

São Paulo – Acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) no Paraná e no Maranhão foram alvos de ataques na madrugada de hoje (26). Segundo o movimento, homens armados dispararam contra trabalhadores. Até o momento não existem informações sobre feridos.
De acordo com a direção estadual do MST no Maranhão, “os trabalhadores foram feitos reféns e alguns espancados. Os barracos foram incendiados”. A informação é de que a milícia, que atacou o acampamento Egidio Brunetto, na cidade de Amarante, possivelmente seja comandada por fazendeiros da região.
No Paraná, os relatos apontam para mais de 30 tiros disparados contra o acampamento Herdeiros da Terra de 1º de Maio, em Rio Bonito do Iguaçu. O MST afirma que a madeireira Arapuel, proprietária das terras contratou seguranças, que frequentemente estavam ameaçando os acampados.
O movimento fez boletim de ocorrência e entrou em contato com as secretarias de Segurança Pública dos estados e com as Comissões de Direitos Humanos.

PGR - Janot critica a redução da maioridade penal em sabatina no Senado

na Rede Brasil Atual
“Eu não acho que a redução leva a alguma solução. A questão merece outro enfrentamento”, diz o procurador-geral da República, que tem recebido apoio da maioria dos parlamentares
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São Paulo – O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que passa por sabatina no Senado desde as 10h30 de hoje (26) para ser reconduzido ao cargo, disse há pouco que é contra a redução da maioridade penal, já aprovada em segunda votação pela Câmara. “Eu não acho que a redução leva a alguma solução. A questão merece outro enfrentamento”, afirmou, lembrando que a ampliação do prazo de internação do menor pelo Estatuto da Criança e do Adolescente pode ser medida mais eficaz.
Ao longo da sabatina, parlamentares governistas e de oposição têm manifestado apoio ao seu nome. Muitas questões dos senadores e críticas têm recaído sobre o recurso da delação premiada, principal instrumento de condução da operação Lava Jato. O senador Humberto Costa (PT-PE) falou sobre os efeitos dos vazamentos seletivos nas eleições do ano passado. “Houve pessoas que perderam a eleição e não foram nem sequer investigadas”, disse, referindo-se à continuidade dos trabalhos, que não consolidou as suspeitas iniciais, caracterizando possíveis injustiças na condução da operação. Ele também se referiu a parlamentares eleitos que apareceram na operação somente depois da eleição, como é notório o caso do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), embora não tenha sido citado por Costa.
Em defesa do recurso da delação, Janot disse que ele “encurta o caminho (da investigação), se houve um desvio de percurso”. O procurador também defendeu que a delação permite menor custo, menor tempo e maior taxa de sucesso nas investigações. Além disso, lembrou que foi graças à delação premiada que a Itália conseguiu combater a Cosa Nostra, a máfia siciliana, nos anos 1980.
Questionado sobre o impacto da Lava Jato na economia, o procurador defendeu a atuação dos investigadores. “Essa questão do combate à corrupção, muita gente diz assim: 'Vi num jornal, não lembro qual foi, que está havendo um impacto no PIB, da atuação da Lava Jato'. Não. A atuação da Lava Jato não impacta o PIB, o que impactou o PIB foi a atuação criminosa, em detrimento da Petrobras, não a atuação da Lava Jato. O que a gente faz, simplesmente, é investigar”, afirmou Janot.
O procurador também foi perguntado sobre a questão da criminalização do porte de drogas. O Supremo Tribunal Federal está analisando ação sobre o tema e vai decidir se pessoas flagradas com drogas em quantidades suficientes para consumo próprio devem ser presas. Janot lembrou que já se pronunciou nesse processo contra a descriminalização do porte de drogas, mesmo em pequenas quantidades. Para ele, isso abriria brecha para o crime organizado contratar usuários para a venda de todos os tipos de drogas.
“Uma organização dessas, organizada e com esses valores, teria condição, rapidamente de montar um exército de formiguinhas. Então, assim, se o porte de droga, de pouca droga, é descriminalizado, uma pedra de cracktem um efeito devastador enorme” , afirmou Janot.
Para o procurador, no entanto, a questão é complexa e deve ser definida pelo Legislativo. “Eu acho que o Ministério Público tem que enfrentar isso, sim, tem que auxiliar o Judiciário no enfrentamento dessas questões difíceis. São questões em que, no fundo, o melhor local para serem tratadas é aqui no Parlamento, aqui é o locus ideal para que se possa discutir essa questão. Agora, como a Constituição diz que, havendo lesão de direito ou ameaça de lesão a direito, não se pode excluir a apreciação do Judiciário, essa questão foi ter ao Supremo, e eu assim me pronunciei.”
Rodrigo Janot passa por sabatina para ser reconduzido ao cargo de procurador-geral. Ele foi indicado pela presidenta Dilma Rousseff, após ser o mais votado entre os colegas do Ministério Público em uma lista tríplice. Logo após a sabatina, a CCJ votará a indicação e, se for aprovada, a expectativa é que o plenário do Senado também vote ainda hoje a recondução do procurador.
Com informações da Agência Brasil

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Democracia Contra a Corrupção

por José Gilbert Arruda Martins

Historicamente, o Brasil sempre conviveu com os males da corrupção. Quando os invasores portugueses aportaram aqui, trouxeram na bagagem um dos maiores cânceres já conhecidos por uma sociedade que é a tal da corrupção.

Ao longo do tempo, no Império e na República, o país foi obrigado a suportar uma arquitetura política e uma Administração Pública, onde o público e o privado se confundiam para deleite das elites.

Nenhum governo, em qualquer dos níveis - Municipal, Estadual ou Federal -, conseguiu desbancar a corrupção.

E um fato constatado mesmo pelos mais incautos é, que, corrupção não rima com Democracia.

Por isso, de 2003 para cá, o Brasil vem experimentando uma nova onda de perseguição a corruptos e corruptores.

Os governos Lula e Dilma e seus aliados, criaram, fortaleceram e/ou reestruturaram, uma grande e importante base legal e órgãos de combate à corrupção no Brasil.

Um exemplo importante foi a autonomia e independência dada ao Procurador Geral da República (PGR) que, antes era escolhido diretamente pelo presidente e não tinha independência nenhuma.

De 2003 aos dias atuais, o Procurador é escolhido numa lista tríplice e , como é do conhecimento até da direita brasileira e mundial, tem total independência para agir.

Um segundo exemplo também importante, foi a reestruturação da antiga Controladoria Geral da União, que antes era apenas uma Corregedoria, não fiscalizava, não apurava nada, não punia ninguém.

Quando Lula da Silva assume o governo, cria a CGU, dá poderes, recursos e pessoal, e, hoje a CGU já puniu com demissão mais de 5 mil servidores públicos federais.

Terceiro exemplo importante, a Polícia Federal, quando Lula assumiu, estava completamente desestruturada, não aconteciam mais concursos, os policiais ganhavam salários defasados, a organização não tinha equipamentos modernos, tudo mudou para melhor, os concursos voltaram, foi reestruturada a carreira dos servidores, a organização recebeu viaturas, equipamentos e armas de última geração.

Poderíamos ficar aqui o dia todo mostrando como as leis e os órgãos que fiscalizam e levam às barras da justiça os corruptores e corrompidos mudaram e melhoraram, mas não podemos fazer isso, as informações mais detalhadas estão aí, tanto na pequena como na "grande" mídia, é só pesquisar.

Se as pessoas e instituições estão sendo punidas agora, se a sociedade brasileira está vendo figurões indo para a cadeia, não é por causa do Moro, é, principalmente, por causa da estruturação dada pela União aos órgãos de fiscalização e controle.

Por que a corrupção, além de ser um fenômeno antigo no Brasil e no mundo, não pode ser responsabilidade de apenas um partido político, ou de, uns poucos gatunos que dilapidam a "coisa pública".

Nosso país possui, como já mostramos em outro texto aqui mesmo, 32 partidos, desses, apenas o PCO e o PSTU, não receberam recursos de empresas privadas, muitas citadas na operação lava jato.

Outro ponto para pensar: A corrupção existe em larga escala também na iniciativa privada/particular, no Brasil, para ilustrar apenas, não querendo esgotar o tema, as elites sempre, de alguma forma, enriqueceram "mamando nas tetas do Estado", isso não é novidade para quem conhece um pouco nossa história e nossa estrutura e organização política.

Isso você não ver na Globo e na "grande" imprensa.

VOTO SECRETO - Senado aprova novo mandato de Janot na Procuradoria-Geral

na Rede Brasil Atual
Casa aprovou recondução ao cargo por 59 votos favoráveis, 12 contrários e uma abstenção. Ele passou por mais de dez horas de sabatina na Comissão de Constituição e Justiça
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Como esperado, a sabatina de Janot no Senado teve vários momentos tensos

São Paulo – Com 59  votos favoráveis, 12 contrários e uma abstenção, o Senado aprovou na noite desta quarta-feira (26) a recondução de Rodrigo Janot ao cargo de procurador-geral da República. Pouco antes, ele havia sido sabatinado por mais de dez horas de sabatina pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), quando teve 26 votos favoráveis e um contrário. A votação foi secreta. O atual mandato do procurador-geral termina em 17 de setembro.
Atual procurador-geral, no início do mês Janot foi o mais votado em lista tríplice do Ministério Público Federal, encaminhada para escolha da presidenta Dilma Rousseff, que confirmou o seu nome. Como esperado, a sabatina teve vários momentos tensos, principalmente durante a intervenção do senador Fernando Collor (PTB-AL).
Janot negou qualquer acordo com autoridades a respeito das investigações da Operação Lava Jato. "Eu não deixaria os trilhos da atuação técnica de Ministério Público para me embrenhar no caminho da política", afirmou. Sobre denúncias de vazamentos seletivos, ele disse que existe especulação por parte da imprensa. Para o procurador-geral, há mal-entendido em relação à delação premiada. "O colaborador não é um dedo-duro. Ele reconhece a prática do crime e fala quem são os demais envolvidos na práticas dos delitos."

CORRUPÇÃO - Cunha é notificado pelo STF sobre denúncia da Lava Jato

na Rede Brasil Atual
De acordo com Procuradoria-Geral da República, Cunha recebeu US$5 milhões em negócio intermediado por Fernando Baiano e Nestor Cerveró
por André Richter, da Agência Brasil 
Cunha lava jato
A partir de agora, Eduardo Cunha terá 15 dias para apresentar defesa

Brasília – O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi notificado hoje (26) sobre a denúncia apresentada contra ele pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Com a notificação, a defesa de Cunha terá 15 dias para apresentar defesa ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Na semana passada, Cunha foi denunciado pelo crime de corrupção. Segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o presidente da Câmara recebeu US$ 5 milhões para viabilizar a contratação de dois navios-sonda pela Petrobras, junto ao estaleiro Samsung Heavy Industries em 2006 e 2007. O negócio foi formalizado sem licitação e ocorreu por intermediação do empresário Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, que está preso há nove meses em Curitiba, e o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró.
O caso foi descoberto  a partir do acordo de delação premiada firmado por Júlio Camargo, que também participou do negócio e recebeu US$ 40,3 milhões da Samsung Heavy para concretizar a contratação, segundo a denúncia.
Após a divulgação da denúncia, Cunha rebateu com “veemência” e chamou de “ilações” a denúncia apresentada por Janot. No texto, ele se diz inocente e aliviado “já que agora o assunto passa para o Poder Judiciário”.
Depois de receber a manifestação da defesa, o ministro Teori Zavascki vai elaborar seu voto e o levará a julgamento no plenário do STF. Se a maioria dos ministros entender que existem provas para abertura da ação penal, Cunha passará à condição de réu.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Oceanografia

por José Gilbert Arruda Martins

Ao longo das próximas semanas, vamos divulgar aqui neste espaço um rol de profissões, para iniciar vamos, com a ajuda de diversos blogs e sites, falar um pouco sobre um curso importante que é Oceanografia.

O Canadá tem o mais longo litoral do mundo, com aproximadamente 202 mil km de extensão. Já Mônaco tem o mais curto litoral, com apenas 4 km.

Na lista divulgada pela CIA, o Brasil aparece em décimo sexto lugar, com cerca de 10 mil km de extensão em sua costa e uma diferença mínima em relação à Itália, que ficou em décimo quinto.


E o que é a tal de Oceanografia?

É a ciência que investiga as características de oceanos, mares, rios, lagos e zonas costeiras sob todos os aspectos, de sua descrição física até a interpretação dos fenômenos que neles se verificam, além de sua interação com os continentes e com a atmosfera. O oceanógrafo pesquisa animais e vegetais, o ambiente e os processos marinhos. Coleta, analisa e interpreta informações sobre as condições físicas, químicas, biológicas e geológicas dos ambientes aquáticos. Analisa a composição da água de rios, lagunas e estuários e atua em projetos de saneamento de áreas costeiras. Desenvolve técnicas de exploração dos recursos naturais e minerais dos mares e avalia os efeitos das atividades humanas sobre o ecossistema, buscando preservar a fora e a fauna oceânica. Também supervisiona o cultivo de organismos aquáticos em cativeiro. Pode atuar tanto no setor público quanto no privado e em ONGs que trabalhem diretamente com a questão da preservação ambiental.

Depois de formada ou formado, preciso trabalhar, onde? Como é o mercado de trabalho para esse curso?

Se no passado a oceanografa era focada em pesquisa, hoje os profissionais se direcionam também para outras áreas. As melhores oportunidades estão na prestação de serviços às companhias do setor do petróleo, por causa dos grandes investimentos em prospecção na camada do pré-sal. "Nesse caso, há a necessidade de se fazer um levantamento sísmico dos oceanos, que é o trabalho do oceanógrafo", diz Katia Naomi Kuroshima, coordenadora do curso de Oceanografa da Univali. Além disso, qualquer atividade humana em ambientes marinhos - como a construção de empreendimentos ao longo do litoral - demanda estudos de impacto ambiental, com levantamentos oceanográficos. Outra atividade cada vez mais valorizada é a modelagem da circulação dos oceanos - a criação e a utilização de modelos que explicam o movimento das correntes, para monitorar, por exemplo, o lançamento de poluentes. Em Santa Catarina, o setor pesqueiro oferece oportunidades. Outras duas áreas merecem destaque como boas empregadoras: a biotecnologia, na extração de produtos de organismos marinhos para as indústrias cosmética, alimentícia e farmacêutica, e a maricultura (criação de animais marinhos), atividade predominante no Sul e no Nordeste. Os estados que mais requisitam este profissional são Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Espírito Santo e Rio Grande do Sul, embora todo o país, em sua faixa litorânea, ofereça oportunidades.

Olha aí galera!

Poucas, mas importantes informações sobre a Oceanografia. Aproveite.
Fontes:
http://opiniaoenoticia.com.br/internacional/os-paises-com-maior-extensao-de-costa-maritima/

http://guiadoestudante.abril.com.br/profissoes/meio-ambiente-ciencias-agrarias/oceanografia-687252.shtml

A tragédia do PSDB segundo um ótimo historiador tucano

na Carta Maior

Boris Fausto não citou Serra nem como liderança passada, nem como liderança presente. Tal omissão provavelmente refletida foi um ponto alto de sua análise

Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo)
reprodução
Boris Fausto é um historiador de verdade.

Digo isso em oposição a tipos como o professor Villa, que se fantasia de historiador.


Em meus anos de Exame, contratamos Boris Fausto para dar uma série de aulas para a redação sobre a história econômica brasileira.

Foi um sucesso.

Com seu semblante de Humpty Dumpty, o personagem folclórico britânico de cara de ovo, Boris Fausto é alguém que merece ser ouvido quando se quer entender o Brasil.

Ele é simpatizante do PSDB, mas sabe separar sua simpatia pessoal dos fatos ao fazer suas análises.

Ele mostrou isso no Roda Viva, nesta segunda-feira.

Nem Augusto Nunes, com sua monomania antipetista, conseguiu estragar o programa.

Nunes, o Brad Pitt de Taquaritinga, tentou naturalmente manipular Boris Fausto, mas aquela era uma tarefa muito acima das suas possibilidades.

A parte mais interessante do programa foi quando Boris Fausto analisou o seu PSDB do coração.

Ele disse que o partido não formou lideranças à altura de Montoro e Covas, já mortos, e FHC, que ainda respira com vigor mas já não parece raciocinar.

Aécio, segundo ele, não conseguiu ser líder nacional até aqui, e é difícil que consiga agora, quando já vai chegando aos 60.

Boris Fausto não citou Serra nem como liderança passada e nem como liderança presente, e esta omissão provavelmente refletida foi um ponto alto de sua análise.

Ele disse também uma coisa que certamente não foi do agrado de Augusto Nunes.

O PSDB, afirmou Boris Fausto, deve se afastar completamente das manifestações pró-golpe da “extrema direita” para ser fiel a seu espírito “democrático”.

Não é, lamentavelmente, o que tem se visto.

FHC e Aécio promovem delirantemente um golpe que faria o Brasil retroceder ao estágio de republiqueta.

Igualam-se, assim, a tipos como Kim Kataguiri, do assim chamado Movimento Brasil Livre, e Marcello Reis, do Revoltados Online.

E, já que estamos no terreno da história, igualam-se também a golpistas históricos como Carlos Lacerda, o Corvo da UDN.

A UDN, para os jovens pouco familiarizados, desesperada por não conseguir o poder pelos votos, tramou o golpe de 1964.

A UDN queria que os militares varressem os líderes políticos rivais e entregassem, depois, o poder para ela.

Era como se a UDN quisesse ganhar uma batalha eleitoral pela via do WO – ausência de adversários.

Só que os militares tinham outros planos, e preferiram ficar eles mesmos no poder, em vez de entregá-lo à UDN.

O PSDB, meio século depois, é a reprodução da UDN. É, mais uma vez, a direita tentando chegar ao poder pelo tapetão, e não pela democracia dos votos.

Não há mais tanques para colocar nas ruas, e nem marines americanos na retaguarda, mas hoje existem outras maneiras de derrubar alguém.

A UDN matou a democracia em 1964, e merecidamente depois pagou o preço disso. Lacerda acabou cassado, depois de dizer que Castello Branco era mais feio por dentro do que por fora, e morreu de desgosto.

O PSDB é, hoje, uma ameaça à democracia.

Não seria, se seus líderes ouvissem Boris Fausto.

Mas não ouvem, e é.


Créditos da foto: reprodução


terça-feira, 25 de agosto de 2015

75 anos depois, Trotsky vive no Brasil

na Carta Maior

A história agigantou a estatura e celebramos a sua memória com respeito e admiração. Sua vida e obra são uma inspiração insubstituível.

Léa Maria Aarão Reis
reprodução
“Não só Trotsky, mas também o trotskismo,  no Brasil, tem uma tradição e um legado na esquerda que remete ao final dos anos vinte. Foram cinco gerações. A primeira, de Mário Pedrosa, Lívio Xavier e Fúlvio Abramo. A segunda, a do jornalista Hermínio Sachetta, que ajudou na formação do jovem Florestan Fernandes. A terceira  resistiu nos anos cinquenta, nos anos da guerra fria, com os irmãos Fausto, Boris e Ruy, e Leôncio Martins Rodrigues; Michael Löwy foi para o exílio na França. A quarta, no final dos anos sessenta,  é a minha geração e gerou as maiores organizações - foram importantes na fundação da CUT e do PT, a Convergência Socialista, O Trabalho e a Democracia Socialista, e tiveram um papel na organização das lutas dos trabalhadores e da juventude. E a quinta, a que chegou à vida adulta nos anos oitenta e início dos anos noventa, compareceu na formação do PSTU, em 1994, e do PSOL em 2004.”


Quem fala a Carta Maior é o historiador marxista Valério Arcary(*),  escritor e professor do CEFET/SP – Centro Federal de Educação Tecnológica - e um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores. Conversamos com Arcary, hoje filiado ao PSTU, relembrando a data de 21 de agosto de 1940 quando Lev Davidovitch Bronstein morreu, num hospital, aos 60 anos, depois de sobreviver, durante um dia, aos golpes de picareta do agente de Stalin, o basco Ramón Mercader, desfechados na sua nuca, no escritório da casa em Coyoacán, no México - hoje um museu e em cujo jardim se encontra o seu modesto túmulo. Para o prof. Arcary, o idealizador e comandante do Exercito Vermelho, agora, com sua memória celebrada, representa um fio de continuidade com a tradição marxista.  “A primeira  geração de brasileiros trotskistas fez a melhor análise marxista sobre a revolução de 30,” ele lembra, “e esteve à frente da organização da Batalha da Praça da Sé, conhecida, também, como a Revoada dos Galinhas Verdes, um combate antifascista.”
 
Nesta entrevista para Carta Maior, 75 anos depois do fatídico 21 de agosto, ele fala sobre a herança que permanece entre nós do pensamento de Trotsky: “A história agigantou a estatura e celebramos a sua memória com respeito e admiração. Sua vida e obra são uma inspiração insubstituível. Mas não alimentamos cultos. As experiências bárbaras de culto à personalidade que se disseminaram a partir do processo pioneiro na ex-URSS, onde Stalin, ainda vivo, se fez glorificar por uma indústria de propaganda tão poderosa quanto a força do aparelho policial – militar, que instituiu o terror como política de Estado, alimentam grande prudência, senão pudor, em relação ao tema do lugar do indivíduo na história. O ainda hoje presente regime ditatorial na Coréia do Norte que, ao garantir a transição do poder de pai para filho, instituiu a primeira monarquia que se reivindica “socialista”, convida tanto ao desprezo, quanto inspira o sarcasmo.


CM- O que é a teoria da revolução permanente de Trotsky?
 
Trotsky elaborou a teoria do desenvolvimento desigual e combinado, e desenvolveu uma teoria-programa para as revoluções contemporâneas. Esta elaboração foi chave para a vitória da primeira revolução anticapitalista da história, a revolução de outubro de 1917. Aos 26 anos, inspirado pela experiência derrotada da revolução de 1905, formulou a teoria da revolução permanente. Antecipou que, em países historicamente retardatários, como era o Império Czarista, com uma burguesia economicamente poderosa, porém, social e politicamente frágil, a revolução democrática contra o czarismo teria como sujeito social decisivo a classe trabalhadora urbana aliada à maioria camponesa. Este bloco social operário e popular não se contentaria com a conquista da república democrática e, em mobilização ininterrupta, em permanência, poderia realizar a reforma agrária, libertaria as nações oprimidas por Moscou dentro do Império, e desafiaria a propriedade privada, abrindo o caminho para a revolução europeia e a luta pelo socialismo internacional.


CM- Em qual livro Trotsky trata dos desvios da época stalinista?
 
No livro A Revolução Traída, de 1936, ele analisa o processo de burocratização da URSS e do Partido Bolchevique, e prevê que, ou o proletariado faria uma revolução política democrática ou o capitalismo seria restaurado na Rússia. Infelizmente, foi o que acabou acontecendo.
 
CM- Cinco gerações depois, como os jovens, na universidade, veem o papel e as teorias de Trotsky? É uma figura datada ou se trata de um clássico?
 
Trotsky tem uma presença na universidade tanto na dimensão política quanto intelectual. Não se pode, contudo, perder o sentido das proporções. A maioria dos estudantes universitários brasileiros contemporâneos não lê, infelizmente, nem Marx. Lênin, então, nem pensar. São aproximadamente seis milhões, e somente um milhão em universidades públicas. A maioria dos estudantes só se integra no movimento estudantil, onde as ideias de esquerda são mais influentes, em algumas circunstâncias excepcionais.


CM- Qual é a militância dentro da universidade?
 
Em alguns cursos a presença marxista é, em diferentes proporções, mais expressiva: Serviço Social, Educação, História, Geografia, Ciências Sociais, Filosofia, Letras, Direito, Economia. O trotskismo teve uma intensa presença militante nas universidades  brasileiras nos últimos quarenta anos, tanto entre estudantes quanto entre professores e técnico-administrativos. Muitos milhares de jovens de diferentes gerações uniram-se ao trotskismo, em suas diferentes organizações, e contribuíram, ao longo de décadas, para que fosse possível a existência de um movimento estudantil no Brasil com inclinação por alianças sociais com os trabalhadores, o que não acontece em outros países. Centenas de trotskistas ajudaram, nos últimos trinta anos, a construir o ANDES, o SINASEFE e a FASUBRA como sindicatos dos mais combativos e representativos do movimento sindical.  O auge da influência marxista na academia se deu nos anos oitenta em função do deslocamento da relação social de forças para a esquerda na luta final contra a ditadura. O lugar de Trotsky ao lado das três correntes intelectuais marxistas mais influentes, inspiradas em Gramsci, Lukács, Althusser, permanece, também, significativo, tanto na graduação quanto na pós-graduação. Existem muitas dezenas de trabalhos acadêmicos sobre Trotsky e sobre os trotskistas brasileiros. Trotsky é percebido, portanto, entre aqueles que se interessam pelos temas da transformação social como um clássico.
 
CM- A revolução permanente e sua teoria devem ser evocadas pelas esquerdas do Brasil?
 
Sim. A obra de Léon Trotsky é um referencial para elaborar um programa para a revolução brasileira. Tem sido assim. O trotskismo contribuiu para uma compreensão marxista original e instigante da originalidade da formação social brasileira. Sem esta compreensão é impossível um programa. Não é possível lutar, seriamente, pela mudança da sociedade em que vivemos, sem compreender como ela é. Em perspectiva marxista esta análise deve identificar quais são os sujeitos sociais interessados na transformação. O Brasil permanece muito diferente dos seus vizinhos sul-americanos de colonização espanhola, por muitas determinações. Todavia, a escravidão é a principal. Houve escravidão em muitas outras colônias das Américas. No entanto, nenhuma nação contemporânea conheceu em sua história escravidão negra em tão larga proporção, e por tanto tempo como o Brasil. A colonização do Brasil foi motivada por interesses capitalistas. Muito antes da independência, já existia uma classe dominante luso-brasileira com características burguesas embora as relações sociais fossem pré-capitalistas. A acumulação capitalista precedeu, portanto, a abolição da escravidão. Existiam assalariados desde os tempos da América portuguesa, mas esta relação de trabalho era marginal. Por aqui a burguesia começou a se formar no século XVI. Mas o proletariado surge como classe, ainda assim muito embrionariamente, somente no final do século XIX, alguns séculos mais tarde - como alertou,  pioneiramente, nos anos quarenta, Caio Prado Júnior. Se avaliarmos a escala nacional, só podemos considerar uma presença da classe operária em alguns poucos centros urbanos depois dos anos trinta do século XX e, de forma mais expressiva, somente depois dos anos cinquenta, quando ainda quase metade da população vivia no mundo rural. Esta assimetria do processo histórico-social de formação das duas classes mais importantes da atual sociedade brasileira potencializou no marxismo duas posições opostas, que podemos classificar, simplificando, como os produtivistas e os circulacionistas. A primeira e mais influente foi a daqueles que não admitiam a possibilidade da existência de uma colonização capitalista desde a invasão portuguesa. Insistiram durante décadas na defesa esdrúxula de que teria existido feudalismo no Brasil. Defenderam que uma sociedade deve ser caracterizada, historicamente, pelas relações de produção dominantes. Afirmaram que o que caracteriza o capitalismo é o trabalho assalariado. Se o trabalho assalariado não é dominante, a sociedade não é capitalista. A outra posição era igualmente unilateral. Os circulacionistas afirmavam que a colonização tinha sido sumariamente, capitalista, desprezando o fato monumental de que o escravismo criou raízes profundas em quase quatro séculos de existência.


CM – Qual a interpretação da POLOP?
 
A Organização Revolucionária Marxista-Política Operária, POLOP, por exemplo, assumiu esta segunda interpretação para concluir a necessidade de um programa diretamente socialista ou anticapitalista diminuindo a importância das tarefas democráticas da revolução brasileira. Jacob Gorender tentou solucionar o debate com uma elaboração inspirada, ainda que sob uma forte influência estruturalista, sugerindo que o Brasil conheceu um modo de produção próprio, o escravista colonial.


CM – E o Brasil hoje, é produto deste quadro histórico?
 
O Brasil é ainda um país muito atrasado do ponto de vista econômico, social, político e cultural. É dramaticamente atrasado em termos educacionais quando comparado com nações em estágio semelhante de desenvolvimento econômico. Atrasado, portanto, em toda a linha. Mas é, ao mesmo tempo, o maior parque industrial do hemisfério sul do planeta, e uma das maiores economias capitalistas do mundo contemporâneo, com doze cidades com um milhão ou mais de habitantes, e 85% da população economicamente ativa em centros urbanos. Só utilizando os recursos marxistas da lei do desenvolvimento desigual e combinado é possível equacionar a principal das peculiaridades brasileiras: o capitalismo usou em escala insólita a mão de obra escrava.


CM- Qual é a força da classe trabalhadora brasileira?
 
Uma das peculiaridades que distingue o Brasil é que este proletariado tardio é um dos mais poderosos do mundo. A força da classe trabalhadora brasileira repousou e se explica, em grande medida, pelo seu gigantismo, pela concentração e pela sua juventude que, paradoxalmente, foi até hoje, também, a sua fraqueza. A atual classe trabalhadora brasileira se formou, majoritariamente, pelo deslocamento para as cidades, em processo muito intenso e acelerado de migrações internas, da população descendente, em sua maioria, dos afro-brasileiros cujos ancestrais foram escravos.


CM – E qual é o desafio de uma real revolução democrática?
 
É o desafio de ser uma revolução social anticapitalista, ou seja, a expropriação dos monopólios, porque a classe trabalhadora deverá ser o seu principal sujeito social. Mas só poderá triunfar se tomar como sua as bandeiras democráticas das tarefas inacabadas deixadas para trás pela impotência burguesa. Essa revolução democrática tem muitas e variadas tarefas. Tem tarefas civilizatórias, como a erradicação da corrupção, a demarcação das terras indígenas, o fim das desigualdades regionais. Tem tarefas de libertação nacional na luta contra a ordem imperialista. Tem tarefas agrárias contra o latifúndio. Só poderá triunfar, contudo, se for também uma revolução negra.
 
CM- Como ler Trotsky neste momento atual, à luz da nova onda de conservadorismo que procura varrer, mais uma vez, a ação progressista de governos da América Latina, e em momento em que o jogo geopolítico volta a apontar o continente como um espaço que, a qualquer custo, deve ser disputado pelos EUA à China?
 
Não vejo o mundo assim. Vejo que prevalece mais associação que conflito entre os EUA e a China no sistema mundial de Estados. A principal contradição no mundo, que está longe de ser a única, mas permanece a mais importante, e que explica a situação tanto na Grécia quanto no Brasil, é aquela entre Capital e Trabalho. O ano de 2015 tem colocado à prova o  sangue frio da esquerda marxista brasileira. Quando uma batalha está em curso não é claro quem irá vencer. Acontece que nenhum dos dois campos mais fortes em disputa é progressivo. Se Dilma permanecer, e superar a vertigem da crise com o auxílio do PMDB de Temer e os apelos da grande burguesia, os próximos três anos serão anos de longa recessão, sacrifícios e a Agenda Brasil. Se Dilma viesse a ser derrubada por um impeachment no Congresso Nacional, sob a direção Cunha e Aécio, teríamos um governo de transição liderado, provavelmente, por Michel Temer com participação do PSDB. E a Agenda Brasil. Por isso há tanto nervosismo nas fileiras da esquerda. Ficou mais difícil, muito mais difícil do que em 2014, defender qual é o mal menor. Mas, resistir às pressões dos dois campos, em simultâneo, e posicionar-se de forma independente significa, também, neste momento, ficar ainda mais em minoria do que há um ano. Não fosse isso o bastante, cercados por forças muito mais exaltadas. Compreender os limites intransponíveis do governo Dilma remete à compreensão da história do PT. Estudar a história do PT é tema imprescindível para a esquerda brasileira. Porque o perigo de repetir, uma, duas e mais vezes os mesmos erros não é pequeno. Não nos deve preocupar que haja polêmicas na interpretação. O que deve nos assombrar é que não haja uma discussão, até apaixonada, sobre as mutações do petismo em lulismo.


CM – Quais os eventuais riscos desta discussão que se faz tão necessária?
 
O perigo da mimetização, ou da imitação, muito tentador para a geração mais madura de ativistas que viveram a experiência do PT nos anos oitenta, e não se deixaram abater pela desmoralização. Este impulso consiste em imaginar que com a mesma estratégia, mas com homens e mulheres diferentes, seria possível replicar os êxitos do PT, evitando os seus erros, e obter um desenlace diferente. E existe o perigo oposto que pode ser também, muito atrativo, especialmente, para a geração mais jovem, que despertou para a luta de classes depois da eleição de Lula em 2002: desprezar as lições positivas da experiência do PT, como, por exemplo, a importância de um instrumento de organização dos trabalhadores para a luta política, inclusive quando a luta política se concentra em terreno desfavorável, como nas eleições. E apostar somente no espontaneísmo, ou na militância pela defesa de reivindicações imediatas. Houve algo de admirável, mas, também, perturbador, na verdade, desde o início, na história do PT. Para remeter ao vocabulário cunhado pela literatura, tivemos o momento epopeia, o momento tragédia e até o momento comédia na trajetória em que o petismo se transformou em lulismo.


CM – Como escolher entre o continuísmo e as rupturas?
 
Tudo o que existe se transforma. Existem continuidades e rupturas. Nem sempre, no entanto, predomina o que era mais progressivo. Muitas vezes, prevalece o que era mais regressivo. O que provocou mudanças sociais e políticas reacionárias nos partidos da classe trabalhadora, a se considerar os incontáveis exemplos históricos, foi o impacto das lutas políticas e sociais, das vitórias e das derrotas, ou seja, da pressão das outras classes. Quando as pressões socialmente hostis, oponentes, contrárias aos interesses dos trabalhadores foram extremamente poderosas, abriram-se crises nos partidos de origem proletária. Os partidos operários são muito mais vulneráveis à pressão das classes inimigas do que os partidos que representam as classes proprietárias. Porque o proletariado é uma classe ao mesmo tempo explorada, oprimida, e dominada. É completamente inusitado quando um filho da burguesia adere à causa do socialismo. Mas está longe de ser surpreendente que líderes da classe trabalhadora passem a defender os interesses dos patrões.
 
CM - Analise um pouco o livro do Leonardo Padura, O homem que amava os cachorros. Você crê que ele chega a distorcer a realidade dos últimos anos de Trotsky no exílio, ao preencher, com a imaginação riquíssima, alguns episódios biográficos? Ou, ao contrário, é uma obra que serve de estimulo às novas gerações para pesquisá-lo?
 
O livro de Padura é um romance histórico que já nasceu como um clássico. É um livro, intelectualmente, honesto e, literariamente, brilhante. Não se deve esperar, porém, que um escritor escreva história. O grande valor de Padura é o de nos apresentar um Léon Trotsky honrado, incorruptível, digno e arrebatado pela luta pelo socialismo. Ramón Mercader nos é descrito como uma personalidade maníaca que só pode ser compreendida no contexto de uma família patologicamente enlouquecida, e nas circunstâncias abomináveis do regime stalinista, e das aberrações que promoveu em escala internacional. O melancólico Ivan, finalmente, é um sobrevivente nos marcos do regime cubano burocrático decadente.


* Autor do livro As esquinas perigosas da História - Situações revolucionárias em perspectiva marxista (2004, prefácio de César Benjamin), adaptação do último capítulo de sua tese de doutorado. Autor, também, de O encontro da revolução com a História (2007) e Um reformismo quase sem reformas (2011).




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