quarta-feira, 26 de agosto de 2015

A tragédia do PSDB segundo um ótimo historiador tucano

na Carta Maior

Boris Fausto não citou Serra nem como liderança passada, nem como liderança presente. Tal omissão provavelmente refletida foi um ponto alto de sua análise

Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo)
reprodução
Boris Fausto é um historiador de verdade.

Digo isso em oposição a tipos como o professor Villa, que se fantasia de historiador.


Em meus anos de Exame, contratamos Boris Fausto para dar uma série de aulas para a redação sobre a história econômica brasileira.

Foi um sucesso.

Com seu semblante de Humpty Dumpty, o personagem folclórico britânico de cara de ovo, Boris Fausto é alguém que merece ser ouvido quando se quer entender o Brasil.

Ele é simpatizante do PSDB, mas sabe separar sua simpatia pessoal dos fatos ao fazer suas análises.

Ele mostrou isso no Roda Viva, nesta segunda-feira.

Nem Augusto Nunes, com sua monomania antipetista, conseguiu estragar o programa.

Nunes, o Brad Pitt de Taquaritinga, tentou naturalmente manipular Boris Fausto, mas aquela era uma tarefa muito acima das suas possibilidades.

A parte mais interessante do programa foi quando Boris Fausto analisou o seu PSDB do coração.

Ele disse que o partido não formou lideranças à altura de Montoro e Covas, já mortos, e FHC, que ainda respira com vigor mas já não parece raciocinar.

Aécio, segundo ele, não conseguiu ser líder nacional até aqui, e é difícil que consiga agora, quando já vai chegando aos 60.

Boris Fausto não citou Serra nem como liderança passada e nem como liderança presente, e esta omissão provavelmente refletida foi um ponto alto de sua análise.

Ele disse também uma coisa que certamente não foi do agrado de Augusto Nunes.

O PSDB, afirmou Boris Fausto, deve se afastar completamente das manifestações pró-golpe da “extrema direita” para ser fiel a seu espírito “democrático”.

Não é, lamentavelmente, o que tem se visto.

FHC e Aécio promovem delirantemente um golpe que faria o Brasil retroceder ao estágio de republiqueta.

Igualam-se, assim, a tipos como Kim Kataguiri, do assim chamado Movimento Brasil Livre, e Marcello Reis, do Revoltados Online.

E, já que estamos no terreno da história, igualam-se também a golpistas históricos como Carlos Lacerda, o Corvo da UDN.

A UDN, para os jovens pouco familiarizados, desesperada por não conseguir o poder pelos votos, tramou o golpe de 1964.

A UDN queria que os militares varressem os líderes políticos rivais e entregassem, depois, o poder para ela.

Era como se a UDN quisesse ganhar uma batalha eleitoral pela via do WO – ausência de adversários.

Só que os militares tinham outros planos, e preferiram ficar eles mesmos no poder, em vez de entregá-lo à UDN.

O PSDB, meio século depois, é a reprodução da UDN. É, mais uma vez, a direita tentando chegar ao poder pelo tapetão, e não pela democracia dos votos.

Não há mais tanques para colocar nas ruas, e nem marines americanos na retaguarda, mas hoje existem outras maneiras de derrubar alguém.

A UDN matou a democracia em 1964, e merecidamente depois pagou o preço disso. Lacerda acabou cassado, depois de dizer que Castello Branco era mais feio por dentro do que por fora, e morreu de desgosto.

O PSDB é, hoje, uma ameaça à democracia.

Não seria, se seus líderes ouvissem Boris Fausto.

Mas não ouvem, e é.


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terça-feira, 25 de agosto de 2015

75 anos depois, Trotsky vive no Brasil

na Carta Maior

A história agigantou a estatura e celebramos a sua memória com respeito e admiração. Sua vida e obra são uma inspiração insubstituível.

Léa Maria Aarão Reis
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“Não só Trotsky, mas também o trotskismo,  no Brasil, tem uma tradição e um legado na esquerda que remete ao final dos anos vinte. Foram cinco gerações. A primeira, de Mário Pedrosa, Lívio Xavier e Fúlvio Abramo. A segunda, a do jornalista Hermínio Sachetta, que ajudou na formação do jovem Florestan Fernandes. A terceira  resistiu nos anos cinquenta, nos anos da guerra fria, com os irmãos Fausto, Boris e Ruy, e Leôncio Martins Rodrigues; Michael Löwy foi para o exílio na França. A quarta, no final dos anos sessenta,  é a minha geração e gerou as maiores organizações - foram importantes na fundação da CUT e do PT, a Convergência Socialista, O Trabalho e a Democracia Socialista, e tiveram um papel na organização das lutas dos trabalhadores e da juventude. E a quinta, a que chegou à vida adulta nos anos oitenta e início dos anos noventa, compareceu na formação do PSTU, em 1994, e do PSOL em 2004.”


Quem fala a Carta Maior é o historiador marxista Valério Arcary(*),  escritor e professor do CEFET/SP – Centro Federal de Educação Tecnológica - e um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores. Conversamos com Arcary, hoje filiado ao PSTU, relembrando a data de 21 de agosto de 1940 quando Lev Davidovitch Bronstein morreu, num hospital, aos 60 anos, depois de sobreviver, durante um dia, aos golpes de picareta do agente de Stalin, o basco Ramón Mercader, desfechados na sua nuca, no escritório da casa em Coyoacán, no México - hoje um museu e em cujo jardim se encontra o seu modesto túmulo. Para o prof. Arcary, o idealizador e comandante do Exercito Vermelho, agora, com sua memória celebrada, representa um fio de continuidade com a tradição marxista.  “A primeira  geração de brasileiros trotskistas fez a melhor análise marxista sobre a revolução de 30,” ele lembra, “e esteve à frente da organização da Batalha da Praça da Sé, conhecida, também, como a Revoada dos Galinhas Verdes, um combate antifascista.”
 
Nesta entrevista para Carta Maior, 75 anos depois do fatídico 21 de agosto, ele fala sobre a herança que permanece entre nós do pensamento de Trotsky: “A história agigantou a estatura e celebramos a sua memória com respeito e admiração. Sua vida e obra são uma inspiração insubstituível. Mas não alimentamos cultos. As experiências bárbaras de culto à personalidade que se disseminaram a partir do processo pioneiro na ex-URSS, onde Stalin, ainda vivo, se fez glorificar por uma indústria de propaganda tão poderosa quanto a força do aparelho policial – militar, que instituiu o terror como política de Estado, alimentam grande prudência, senão pudor, em relação ao tema do lugar do indivíduo na história. O ainda hoje presente regime ditatorial na Coréia do Norte que, ao garantir a transição do poder de pai para filho, instituiu a primeira monarquia que se reivindica “socialista”, convida tanto ao desprezo, quanto inspira o sarcasmo.


CM- O que é a teoria da revolução permanente de Trotsky?
 
Trotsky elaborou a teoria do desenvolvimento desigual e combinado, e desenvolveu uma teoria-programa para as revoluções contemporâneas. Esta elaboração foi chave para a vitória da primeira revolução anticapitalista da história, a revolução de outubro de 1917. Aos 26 anos, inspirado pela experiência derrotada da revolução de 1905, formulou a teoria da revolução permanente. Antecipou que, em países historicamente retardatários, como era o Império Czarista, com uma burguesia economicamente poderosa, porém, social e politicamente frágil, a revolução democrática contra o czarismo teria como sujeito social decisivo a classe trabalhadora urbana aliada à maioria camponesa. Este bloco social operário e popular não se contentaria com a conquista da república democrática e, em mobilização ininterrupta, em permanência, poderia realizar a reforma agrária, libertaria as nações oprimidas por Moscou dentro do Império, e desafiaria a propriedade privada, abrindo o caminho para a revolução europeia e a luta pelo socialismo internacional.


CM- Em qual livro Trotsky trata dos desvios da época stalinista?
 
No livro A Revolução Traída, de 1936, ele analisa o processo de burocratização da URSS e do Partido Bolchevique, e prevê que, ou o proletariado faria uma revolução política democrática ou o capitalismo seria restaurado na Rússia. Infelizmente, foi o que acabou acontecendo.
 
CM- Cinco gerações depois, como os jovens, na universidade, veem o papel e as teorias de Trotsky? É uma figura datada ou se trata de um clássico?
 
Trotsky tem uma presença na universidade tanto na dimensão política quanto intelectual. Não se pode, contudo, perder o sentido das proporções. A maioria dos estudantes universitários brasileiros contemporâneos não lê, infelizmente, nem Marx. Lênin, então, nem pensar. São aproximadamente seis milhões, e somente um milhão em universidades públicas. A maioria dos estudantes só se integra no movimento estudantil, onde as ideias de esquerda são mais influentes, em algumas circunstâncias excepcionais.


CM- Qual é a militância dentro da universidade?
 
Em alguns cursos a presença marxista é, em diferentes proporções, mais expressiva: Serviço Social, Educação, História, Geografia, Ciências Sociais, Filosofia, Letras, Direito, Economia. O trotskismo teve uma intensa presença militante nas universidades  brasileiras nos últimos quarenta anos, tanto entre estudantes quanto entre professores e técnico-administrativos. Muitos milhares de jovens de diferentes gerações uniram-se ao trotskismo, em suas diferentes organizações, e contribuíram, ao longo de décadas, para que fosse possível a existência de um movimento estudantil no Brasil com inclinação por alianças sociais com os trabalhadores, o que não acontece em outros países. Centenas de trotskistas ajudaram, nos últimos trinta anos, a construir o ANDES, o SINASEFE e a FASUBRA como sindicatos dos mais combativos e representativos do movimento sindical.  O auge da influência marxista na academia se deu nos anos oitenta em função do deslocamento da relação social de forças para a esquerda na luta final contra a ditadura. O lugar de Trotsky ao lado das três correntes intelectuais marxistas mais influentes, inspiradas em Gramsci, Lukács, Althusser, permanece, também, significativo, tanto na graduação quanto na pós-graduação. Existem muitas dezenas de trabalhos acadêmicos sobre Trotsky e sobre os trotskistas brasileiros. Trotsky é percebido, portanto, entre aqueles que se interessam pelos temas da transformação social como um clássico.
 
CM- A revolução permanente e sua teoria devem ser evocadas pelas esquerdas do Brasil?
 
Sim. A obra de Léon Trotsky é um referencial para elaborar um programa para a revolução brasileira. Tem sido assim. O trotskismo contribuiu para uma compreensão marxista original e instigante da originalidade da formação social brasileira. Sem esta compreensão é impossível um programa. Não é possível lutar, seriamente, pela mudança da sociedade em que vivemos, sem compreender como ela é. Em perspectiva marxista esta análise deve identificar quais são os sujeitos sociais interessados na transformação. O Brasil permanece muito diferente dos seus vizinhos sul-americanos de colonização espanhola, por muitas determinações. Todavia, a escravidão é a principal. Houve escravidão em muitas outras colônias das Américas. No entanto, nenhuma nação contemporânea conheceu em sua história escravidão negra em tão larga proporção, e por tanto tempo como o Brasil. A colonização do Brasil foi motivada por interesses capitalistas. Muito antes da independência, já existia uma classe dominante luso-brasileira com características burguesas embora as relações sociais fossem pré-capitalistas. A acumulação capitalista precedeu, portanto, a abolição da escravidão. Existiam assalariados desde os tempos da América portuguesa, mas esta relação de trabalho era marginal. Por aqui a burguesia começou a se formar no século XVI. Mas o proletariado surge como classe, ainda assim muito embrionariamente, somente no final do século XIX, alguns séculos mais tarde - como alertou,  pioneiramente, nos anos quarenta, Caio Prado Júnior. Se avaliarmos a escala nacional, só podemos considerar uma presença da classe operária em alguns poucos centros urbanos depois dos anos trinta do século XX e, de forma mais expressiva, somente depois dos anos cinquenta, quando ainda quase metade da população vivia no mundo rural. Esta assimetria do processo histórico-social de formação das duas classes mais importantes da atual sociedade brasileira potencializou no marxismo duas posições opostas, que podemos classificar, simplificando, como os produtivistas e os circulacionistas. A primeira e mais influente foi a daqueles que não admitiam a possibilidade da existência de uma colonização capitalista desde a invasão portuguesa. Insistiram durante décadas na defesa esdrúxula de que teria existido feudalismo no Brasil. Defenderam que uma sociedade deve ser caracterizada, historicamente, pelas relações de produção dominantes. Afirmaram que o que caracteriza o capitalismo é o trabalho assalariado. Se o trabalho assalariado não é dominante, a sociedade não é capitalista. A outra posição era igualmente unilateral. Os circulacionistas afirmavam que a colonização tinha sido sumariamente, capitalista, desprezando o fato monumental de que o escravismo criou raízes profundas em quase quatro séculos de existência.


CM – Qual a interpretação da POLOP?
 
A Organização Revolucionária Marxista-Política Operária, POLOP, por exemplo, assumiu esta segunda interpretação para concluir a necessidade de um programa diretamente socialista ou anticapitalista diminuindo a importância das tarefas democráticas da revolução brasileira. Jacob Gorender tentou solucionar o debate com uma elaboração inspirada, ainda que sob uma forte influência estruturalista, sugerindo que o Brasil conheceu um modo de produção próprio, o escravista colonial.


CM – E o Brasil hoje, é produto deste quadro histórico?
 
O Brasil é ainda um país muito atrasado do ponto de vista econômico, social, político e cultural. É dramaticamente atrasado em termos educacionais quando comparado com nações em estágio semelhante de desenvolvimento econômico. Atrasado, portanto, em toda a linha. Mas é, ao mesmo tempo, o maior parque industrial do hemisfério sul do planeta, e uma das maiores economias capitalistas do mundo contemporâneo, com doze cidades com um milhão ou mais de habitantes, e 85% da população economicamente ativa em centros urbanos. Só utilizando os recursos marxistas da lei do desenvolvimento desigual e combinado é possível equacionar a principal das peculiaridades brasileiras: o capitalismo usou em escala insólita a mão de obra escrava.


CM- Qual é a força da classe trabalhadora brasileira?
 
Uma das peculiaridades que distingue o Brasil é que este proletariado tardio é um dos mais poderosos do mundo. A força da classe trabalhadora brasileira repousou e se explica, em grande medida, pelo seu gigantismo, pela concentração e pela sua juventude que, paradoxalmente, foi até hoje, também, a sua fraqueza. A atual classe trabalhadora brasileira se formou, majoritariamente, pelo deslocamento para as cidades, em processo muito intenso e acelerado de migrações internas, da população descendente, em sua maioria, dos afro-brasileiros cujos ancestrais foram escravos.


CM – E qual é o desafio de uma real revolução democrática?
 
É o desafio de ser uma revolução social anticapitalista, ou seja, a expropriação dos monopólios, porque a classe trabalhadora deverá ser o seu principal sujeito social. Mas só poderá triunfar se tomar como sua as bandeiras democráticas das tarefas inacabadas deixadas para trás pela impotência burguesa. Essa revolução democrática tem muitas e variadas tarefas. Tem tarefas civilizatórias, como a erradicação da corrupção, a demarcação das terras indígenas, o fim das desigualdades regionais. Tem tarefas de libertação nacional na luta contra a ordem imperialista. Tem tarefas agrárias contra o latifúndio. Só poderá triunfar, contudo, se for também uma revolução negra.
 
CM- Como ler Trotsky neste momento atual, à luz da nova onda de conservadorismo que procura varrer, mais uma vez, a ação progressista de governos da América Latina, e em momento em que o jogo geopolítico volta a apontar o continente como um espaço que, a qualquer custo, deve ser disputado pelos EUA à China?
 
Não vejo o mundo assim. Vejo que prevalece mais associação que conflito entre os EUA e a China no sistema mundial de Estados. A principal contradição no mundo, que está longe de ser a única, mas permanece a mais importante, e que explica a situação tanto na Grécia quanto no Brasil, é aquela entre Capital e Trabalho. O ano de 2015 tem colocado à prova o  sangue frio da esquerda marxista brasileira. Quando uma batalha está em curso não é claro quem irá vencer. Acontece que nenhum dos dois campos mais fortes em disputa é progressivo. Se Dilma permanecer, e superar a vertigem da crise com o auxílio do PMDB de Temer e os apelos da grande burguesia, os próximos três anos serão anos de longa recessão, sacrifícios e a Agenda Brasil. Se Dilma viesse a ser derrubada por um impeachment no Congresso Nacional, sob a direção Cunha e Aécio, teríamos um governo de transição liderado, provavelmente, por Michel Temer com participação do PSDB. E a Agenda Brasil. Por isso há tanto nervosismo nas fileiras da esquerda. Ficou mais difícil, muito mais difícil do que em 2014, defender qual é o mal menor. Mas, resistir às pressões dos dois campos, em simultâneo, e posicionar-se de forma independente significa, também, neste momento, ficar ainda mais em minoria do que há um ano. Não fosse isso o bastante, cercados por forças muito mais exaltadas. Compreender os limites intransponíveis do governo Dilma remete à compreensão da história do PT. Estudar a história do PT é tema imprescindível para a esquerda brasileira. Porque o perigo de repetir, uma, duas e mais vezes os mesmos erros não é pequeno. Não nos deve preocupar que haja polêmicas na interpretação. O que deve nos assombrar é que não haja uma discussão, até apaixonada, sobre as mutações do petismo em lulismo.


CM – Quais os eventuais riscos desta discussão que se faz tão necessária?
 
O perigo da mimetização, ou da imitação, muito tentador para a geração mais madura de ativistas que viveram a experiência do PT nos anos oitenta, e não se deixaram abater pela desmoralização. Este impulso consiste em imaginar que com a mesma estratégia, mas com homens e mulheres diferentes, seria possível replicar os êxitos do PT, evitando os seus erros, e obter um desenlace diferente. E existe o perigo oposto que pode ser também, muito atrativo, especialmente, para a geração mais jovem, que despertou para a luta de classes depois da eleição de Lula em 2002: desprezar as lições positivas da experiência do PT, como, por exemplo, a importância de um instrumento de organização dos trabalhadores para a luta política, inclusive quando a luta política se concentra em terreno desfavorável, como nas eleições. E apostar somente no espontaneísmo, ou na militância pela defesa de reivindicações imediatas. Houve algo de admirável, mas, também, perturbador, na verdade, desde o início, na história do PT. Para remeter ao vocabulário cunhado pela literatura, tivemos o momento epopeia, o momento tragédia e até o momento comédia na trajetória em que o petismo se transformou em lulismo.


CM – Como escolher entre o continuísmo e as rupturas?
 
Tudo o que existe se transforma. Existem continuidades e rupturas. Nem sempre, no entanto, predomina o que era mais progressivo. Muitas vezes, prevalece o que era mais regressivo. O que provocou mudanças sociais e políticas reacionárias nos partidos da classe trabalhadora, a se considerar os incontáveis exemplos históricos, foi o impacto das lutas políticas e sociais, das vitórias e das derrotas, ou seja, da pressão das outras classes. Quando as pressões socialmente hostis, oponentes, contrárias aos interesses dos trabalhadores foram extremamente poderosas, abriram-se crises nos partidos de origem proletária. Os partidos operários são muito mais vulneráveis à pressão das classes inimigas do que os partidos que representam as classes proprietárias. Porque o proletariado é uma classe ao mesmo tempo explorada, oprimida, e dominada. É completamente inusitado quando um filho da burguesia adere à causa do socialismo. Mas está longe de ser surpreendente que líderes da classe trabalhadora passem a defender os interesses dos patrões.
 
CM - Analise um pouco o livro do Leonardo Padura, O homem que amava os cachorros. Você crê que ele chega a distorcer a realidade dos últimos anos de Trotsky no exílio, ao preencher, com a imaginação riquíssima, alguns episódios biográficos? Ou, ao contrário, é uma obra que serve de estimulo às novas gerações para pesquisá-lo?
 
O livro de Padura é um romance histórico que já nasceu como um clássico. É um livro, intelectualmente, honesto e, literariamente, brilhante. Não se deve esperar, porém, que um escritor escreva história. O grande valor de Padura é o de nos apresentar um Léon Trotsky honrado, incorruptível, digno e arrebatado pela luta pelo socialismo. Ramón Mercader nos é descrito como uma personalidade maníaca que só pode ser compreendida no contexto de uma família patologicamente enlouquecida, e nas circunstâncias abomináveis do regime stalinista, e das aberrações que promoveu em escala internacional. O melancólico Ivan, finalmente, é um sobrevivente nos marcos do regime cubano burocrático decadente.


* Autor do livro As esquinas perigosas da História - Situações revolucionárias em perspectiva marxista (2004, prefácio de César Benjamin), adaptação do último capítulo de sua tese de doutorado. Autor, também, de O encontro da revolução com a História (2007) e Um reformismo quase sem reformas (2011).




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O legado de Cunha

na Carta Maior

A resposta de Cunha à denúncia do Procurador Janot foi um ataque à democracia e à República, não uma peça de defesa

Tarso Genro
Alex Ferreira / Câmara dos Deputados
A naturalidade com que foi recebida a resposta de Eduardo Cunha pelos “formadores de opinião” da grande mídia e a passividade de boa parte da bancada governista federal -inclusive do meu Partido - a respeito das denúncias contra ele, mostra que crise não vai recuar e que o poder do Presidente da Câmara, por razões até agora desconhecidas, é muito maior do que se pensa.
 
Leio que dois dignos deputados federias do Partido dos Trabalhadores, Alexandre Molon e Henrique Fontana (certamente temos outros), em conjunto com deputados de outras extrações, lideram um movimento para a retirada de Cunha da presidência da Câmara Federal, fundados na denúncia do Procurador Janot. Como Cunha respondeu a esta denúncia? Respondeu que não vai “retalhar”.
 
Vejam: a resposta é que não vai “retalhar!”. Esta reação, por si só, mostra que Eduardo Cunha vai jogar o jogo até o final e que, por desespero ou segurança, está convicto que pode continuar sendo -muito além da plêiade tucana- o principal líder da oposição ao Governo da Presidenta Dilma que, atado numa base parlamentar que defende a “austeridade” (para os outros), não tem vontade política nem projeto para sair da crise, diferente daquele que o neoliberalismo defende em escala mundial: um “ajuste”  meramente orçamentário, sem tocar na política monetária, na orgia dos juros, e sem encaminhar um combate -a curto e médio prazo- às desigualdades de renda, num país que ainda é fundamentalmente injusto.
 
Quando Cunha diz que não vai “retalhar” ele está dando, na verdade, três recados, a distintas fontes de poder político e jurídico: ao Governo Federal, está dizendo que pode ”retalhar”, se quiser; à oposição demo-tucana, que continua às ordens, para sabotar qualquer iniciativa do Governo; ao Procurador Janot -que ele acusa absurdamente de estar agindo a pedido do Governo- avisa que não reconhece a sua denúncia como o cumprimento de um dever republicano, mas como mero produto de uma barganha política.
 
A resposta do Presidente da Câmara escancara, não a falência da Carta de 88 ou do regime de democracia política que está inscrito naquele diploma, mas sim a decadência completa de um sistema político específico, que permite que um líder da oposição seja do Partido mais forte que está Governo e que este mesmo quadro, acusado de corrupção (desta mesma oposição), seja o fiador, ao mesmo tempo, da estabilidade do Governo, e da possibilidade do seu impedimento.
 
Trata-se de uma situação de aparente “normalidade”, que, na verdade abre espaço para a “exceção”, já que esta sempre se apoia num certo desencanto do povo -formalmente criador e destinatário das normas de convívio político democrático-  que passa a sentir a democracia como um regime falido. E o sentimento de que a democracia está falida e que os líderes das diversas facções de opinião não se entendem para preservá-la, abre espaço para tentação fascista: a autoridade substitui a política e a burocracia substitui os partidos.
 
Produz-se, então, uma época triste e violenta em que, como disse recentemente Boaventura Souza Santos, o “insulto tornou-se meio mais eficaz de um ignorante ser intelectualmente superior a um sábio” e a “desigualdade tornou-se mérito”. A resposta de Cunha à denúncia do Procurador Janot foi um ataque à democracia e à República, não uma peça de defesa. Este é o seu principal legado. Devem estar celebrando aqueles que, em manifestações recentes, se apresentaram como “todos somos Cunha.”
 
Penso que a grande maioria de todos os partidos democráticos não é representada por Cunha e não aceitam ser confundidos com ele, pelo menos até que sua inocência seja acatada pela Justiça, se o for. Por isso deveríamos aproveitar este momento, em que a crise política é levada ao seu ponto mais alto de maturação, para desbloquear a Câmara Federal, promovendo um movimento amplo e suprapartidário, para  que ele, Eduardo Cunha, responda o processo fora da Presidência da daquela casa parlamentar. Este  seria o único aspecto positivo do seu legado.

Tarso Genro foi governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, Ministro da Justiça, Ministro da Educação e Ministro das Relações Institucionais do Brasil.


Créditos da foto: Alex Ferreira / Câmara dos Deputados

Flávio Dino e a Herança Maldita de Sarney no Maranhão

por José Gilbert Arruda Martins
A velha política coronelística que embala os sonhos golpistas do PSDB, do DEM entre outros, pode estar com os dias contados no Estado do Maranhão.

É que lá, o povo elegeu um 'cabra arretado' do PCdoB, Sr. Fávio Dino.

O atual governador nasceu em 1968 em São Luis, formou-se em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), fez militância política como estudante, advogou para sindicatos e fez também a campanha de Luis Inácio Lula da Silva em 1989.

"No ano de 1994, ele foi aprovado em primeiro lugar quando estava concorrendo ao cargo de juiz federal em um concurso público ele exerceu o cargo de juiz federal no Maranhão por 15 anos, tendo abandonado a carreira profissional em 2006 aos seus 38 anos para ingressar na vida política, se filiando ao Partido Comunista do Brasil (PC do B)."

É notório que a dificuldade que Flávio Dino terá é hercúlea, o Maranhão foi assaltado pela família Sarney por mais de meio século, é tempo suficiente, inclusive, para que os dilapidadores do estado, tenham adquirido até uma ilha.

O Maranhão, apesar das ilhas de desenvolvimento - porto de Itaqui, Base de Alcântara, 16° PIB do país -, é uma região do Brasil onde seu povo convive com uma estrutura que beira a Idade Média.

Falta tudo.

Quando viajamos de carro, fica mais evidente o abandono e a miséria de grande parte do nosso povo. Fruto dos 50 anos de domínio absoluto dos sarneys.

O Estado, em pleno século XXI ainda tem cerca de mil escolas que "funcionam" em casas feitas de barro e coberta de palha, as denominadas casas de taipa.

O Maranhão, talvez seja a unidade do país que tenha, em termos percentuais, a maior quantidade de pessoas vivendo em casas desse tipo.

O desafio é enorme.

Os trabalhadores e trabalhadoras do Estado, o povo do Maranhão precisam procurar entender essa que, talvez seja a maior e mais importante chance que a região terá de começar a sair de um atraso secular.

O apoio consciente ao governo de Dino é fundamental para que o Maranhão tome o rumo do século XXI.

Com informações do Wikpédia

Sergio Moro intima blog por crime contra honra

no GGN
Publicação de Limpinho & Cheiroso, que repercute informações de outras páginas, é alvo de procedimento penal do juiz federal do Paraná



ornal GGN - O juiz Sergio Moro, que comanda as investigações da Operação Lava Jato no Paraná, entrou com ação contra o blog Limpinho & Cheiroso, de Miguel Baia Bargas, pela publicação "Paraná: Quando Moro trabalhou para o PSDB, ajudou a desviar R$ 500 milhões da Prefeitura de Maringá", de fevereiro deste ano.
A postagem, contudo, é um compartilhamento de outra publicada pelo Plantão Brasil. O blogueiro notifica esse dado na própria publicação, indicando que houve acréscimo de outras informações de O Globo.
"Nascido em Maringá, no norte do Paraná, o juiz Sérgio Moro é um dos maiores 'especialistas' do país na área de lavagem de dinheiro. Formado em direito pela Universidade Estadual de Maringá, seu primeiro serviço foi no escritório do doutor Irivaldo Joaquim de Souza, o maior tributarista de Maringá. Doutor Irivaldo foi advogado de Jairo Gianoto entre 1997 a 2000, ex-prefeito de Maringá pelo PSDB, condenado por gestão fraudulenta. Via Plantão Brasil, com informações de O Globo", introduz a matéria.
No processo contra o blogueiro, Moro contestou as informações, avaliando que as pessoas mencionadas têm reputação ilibada e o "advogado Irivaldo Joaquim de Souza é um dos homens mais honrados que ele já conheceu".
A intimação motivada pelo juiz federal do Paraná contra o blogueiro, que foi entregue na própria casa de Miguel Baia, onde é a sede do Limpinho & Cheiroso, repercutiu em apoio e solidariedade de leitores e outros blogs.
Miguel deverá prestar "esclarecimentos em procedimento penal instaurado pela suposta prática de crime contra a honra de servidor público em exercício da função, de acordo com os fatos narrados nos documentos em anexo".
Em resposta em sua página, o blogueiro disse que o Limpinho "é um clipping de notícias de outros blogs" e que nunca quer "caluniar, difamar e injuriar qualquer pessoa ou instituição". "Nosso intuito é trazer o maior número possível de informações que não constam (ou estão escondidas) na “grande mídia” e em blogs", disse.
Na ação de crime contra a honra, o juiz criticou o modo como a notícia foi publicada e que, segundo ele, é falsa. "Minha consciência está tranquila quanto ao “crime” (que não cometi) contra a honra do doutor Sérgio Moro", respondeu Miguel Baia Bargas.

Nesta segunda-feira (24), Miguel solicitará instruções para defesa do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.

Depois de deixar herança maldita no Maranhão, família Sarney abre artilharia midiática contra Flávio Dino

no VIOMUNDO
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A unidade escolar Centro do Milton, em Brejo de Areia, Maranhão; a família Sarney deixou mil escolas assim no estado
Por Luiz Carlos Azenha
O bombardeio é diário, sem trégua. Com “denúncias” como esta:
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Isso mesmo. O governador Flávio Dino é “acusado” de sentar-se ao lado do motorista pelo jornal O Estado do Maranhão, que integra o império midiático da família Sarney.
Nem a Veja faria melhor. Ou faria?
As críticas, especialmente na coluna Estado Maior, por onde fala o dono, são absolutamente gratuitas.
Por exemplo, na edição de 19.05.2015: “Flávio Dino não tem conseguido reagir às numerosas crises que se instalaram no Governo do Estado”.
Na mesma coluna: “Gozações — Os escândalos e constrangimentos em todas as áreas do governo Flávio Dino (PCdoB) têm feito a alegria de piadistas e gaiatos da internet. Todo dia surgem memes e banners fazendo troça do governo, que mete os pés pelas mãos quase diariamente. O que ajuda os provocadores é a postura do próprio governo de não reconhecer os erros e querer impor seu ponto de vista“.
Na mesma página, ao acusar Dino de desperdiçar dinheiro com o aluguel de um prédio, o jornal promove os dois herdeiros políticos da família: os deputados Adriano Sarney (PV) e Andrea Murad (PMDB). Eles são chamados a opinar sempre que há “denúncias” contra Dino. Propaganda política disfarçada de jornalismo.
A ênfase da cobertura é na violência, que realmente é grave em São Luís. Segundo Dino, a taxa de homicídios caiu, mas o colunismo sarneyzista cria um clima de pânico a ponto de invocar o holocausto — como se o problema não fosse parte integral da herança maldita deixada pelos Sarney. De Pergentino Holanda, colunista:
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Como a família Sarney controla a TV Mirante, afiliada da Globo no Estado, acaba definindo a agenda do que aparece sobre o Maranhão nos jornais em rede nacional da emissora. “Toda semana tem pelo menos uma reportagem negativa”, diz um assessor de Dino.
O curioso é que os ataques partem da família que controlou o estado politicamente por mais de meio século.
Que, mais recentemente, “privatizou” a segurança do complexo penitenciário de Pedrinhas, o que ajudou a provocar um escândalo de dimensões nacionais com a matança entre facções.
De um grupo político que, segundo Dino, chegou a pagar R$ 11,00 por um copo de leite servido numa refeição hospitalar.
Isso sem falar nas mil escolas como a da foto que encabeça este texto.
Viomundo: Governador, quem olha para essa foto é difícil acreditar…
Flávio Dino: Nós encontramos mil escolas dessas, na qual existem professores de enorme capacidade de se dedicar a uma causa, que eu respeito muito, mas na qual obviamente os alunos pouco conseguem apreender. Por isso nós estamos com um programa voltado para superar isso. Realmente é inacreditável que em um país como o nosso, sexta ou sétima maior economia do planeta, essa condição social seja tão difícil. O Estado que tem o décimo sexto PIB do Brasil, que tem um porto promissor e importante, tem a base de Alcântara… agora nós precisamos fazer com que essas ilhas de modernização, de século 21, consigam chegar ao Maranhão profundo, que ainda vive em muitos casos no século 19.
Viomundo: Qual a importância do porto de Itaqui, considerando que 10% da soja exportada pelo Brasil saem de Matopiba, a região fronteiriça entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia? 
Flávio Dino: Para quem chega, é o porto melhor situado do Arco Norte, do ponto-de-vista do mercado brasileiro, porque ele se situa exatamente na zona de transição entre a Amazônia e o Nordeste, com amplo acesso ao Centro-Oeste do país. E ao mesmo tempo no sentido de saída. Uma empresa que vai exportar soja para a costa Leste dos Estados Unidos vai economizar três ou quatro dias de frete usando Itaqui em relação a Paranaguá (Paraná).
Viomundo: O senhor diz que pretende casar esta vantagem logística com energia para desenvolver um parque industrial e processar os produtos agrícolas do Maranhão no entorno de Itaqui. Qual energia?
Flávio Dino: Na verdade, nós já temos uma grande produção de gás, de cerca de 5 milhões de metros cúbicos. Já foi feita a prospecção e foi formalmente declarado pela Agência Nacional de Petróleo que esses campos estão aptos a serem comercialmente explorados. Na décima terceira rodada do leilão da ANP teremos mais 22 blocos na chamada bacia do Parnaíba, que fica quase toda no Maranhão, de modo que nós esperamos que no futuro essa abundância de fonte de energia de nosso Estado se consolide. Nós temos uma economia baseada na agricultura, na pecuária, na pesca, no extrativismo, na avicultura, tudo isso é fundamental. Mas ao mesmo tempo é importante industrializar o estado, substituir importações.
Viomundo: O senhor já lidou com a herança maldita do governo de Roseana Sarney?
Flávio Dino: Nós encontramos aqui muitos absurdos, infelizmente. Havia, por exemplo, uma Universidade Virtual do Maranhão. A universidade era virtual mas o roubo era real, porque lá houve desvio de mais de R$ 30 milhões. No que se refere à Saúde encontramos situações absolutamente injustificáveis do ponto-de-vista do custo, como o copo de leite que custava 11 reais.
Viomundo: O senhor disse que conseguiu R$ 100 milhões em função de mudanças administrativas?
Flávio Dino: Essas mudanças em cinco meses geraram 100 milhões, porque nós combatemos problemas que havia no Detran, no sistema penitenciário, no sistema de saúde, na educação. A escola que aparece na foto, para substituir pode custar em média 500 mil reais. Dez milhões dá para fazer 20 escolas. Dá para fazer uma escola técnica estadual, que o Maranhão não tem nenhuma. Com a Universidade Virtual do Maranhão dá para dizer que essas pessoas desviaram 70 escolas.
Viomundo: Por que os ataques diários na mídia?
Flávio Dino: Na verdade, uma fração da elite brasileira, acostumada a um modelo coronelista e oligárquico, tem o hábito de gerar acúmulo de fortunas pessoais a partir do desvio daquilo que pertence a todos. É o velho patrimonialismo, que aqui no Maranhão está em cada esquina. Nós estamos desmontando isso e desmontando em um processo conflituoso. Todas as vezes que a gente tira um privilégio pendurado na árvore do patrimonialismo maranhense, o dono do privilégio reclama, reclama e luta. Luta, entra na Justiça, coloca seu sistema de mídia contra, porque ele quer manter o privilégio. Passou anos indo lá colher essa fruta madura e alimentando os seus às custas de milhares de maranhenses.
Viomundo: O que é o programa emergencial do IDH, o Índice de Desenvolvimento Humano?
Flávio Dino: É uma política focalizada nos 30 municípios de pior IDH do Maranhão, que estão entre os 100 piores do Brasil. Ação de substituição de escolas, restaurantes populares, força estadual de saúde, construir casas, apoio à agricultura familiar, fornecer documento, um enxoval de direitos. Eu, quando estudei, quando dava aula de Direito, falavamos em direitos de primeira, segunda e terceira gerações. Século 18, direitos civis. Século 19, direitos políticos. Século 20, direitos sociais. Nós temos de fazer três séculos em quatro anos. Pretendemos mostrar que apesar das dificuldades nacionais é possível mobilizar investimentos públicos e privados capazes de elevar a qualidade de vida de populações antes submetidas a patamares de negação de direitos realmente inacreditáveis.
Viomundo: Mostrar que governo faz diferença?
Flávio Dino: Que é imprescindível para superar os problemas da população mais pobre. Durante décadas no Brasil se estabeleceu uma espécie de dualidade: o Brasil moderno era privado, o Brasil arcaico público. Isso na verdade é uma falácia ideológica. Todos nós sabemos que sem serviços públicos é impossível nós termos um Brasil verdadeiramente moderno.

A reação de um pai ao saber que o filho quer uma boneca de presente

no Pragmatismo Político

Como você reagiria se o seu filho pedisse uma boneca como presente de aniversário? Em vídeo publicado na Internet, homem diz que 'sempre respeitará as escolhas dos filhos e nunca deixará de amá-los'

reação pai filho boneca

O que você faria se seu filho pedisse uma boneca de presente? O americano Mikki Willis não teve dúvidas e comprou a Barbie que o filho pediu na hora. O vídeo (assista abaixo) em que o pai de Ojai, na Califórnia, conta qual foi sua reação ao saber da escolha do filho já se tornou viral na internet, alcançando mais de 15 milhões de visualizações no facebook e 200 mil compartilhamentos.
No registro vídeo, o pai conta que seu filho mais velho, Azai, de 4 anos, tinha ganhado dois presentes iguais de aniversário, por isso, levou o menino para trocar um deles por algo diferente. Ao chegar à loja, o garotinho escolheu uma Barbie da princesa Ariel, do filme da Disney “A pequena sereia”.
“Agora, como você acha que um pai se sente quando seu filho escolhe isso?”, questiona o pai, exibindo a boneca. “Yeah!”, grita ele em seguida! “Eu deixo meus filhos escolherem a vida que quiserem. É assim que a mãe deles e eu pensamos. Eles podem ser o que quiserem”.
Na sequência, Willis, que também é pai de Zuri, de 1 ano e meio, promete aos dois meninos que eles não terão as sexualidades ou suas personalidades reprimidas.
“Escolham sua forma de se expressar, escolham o que gostam de fazer, escolham sua sexualidade. Vocês têm a minha palavra, nesse momento, em que estamos sentados nesse carro quente, nesse estacionamento, de que vou amá-los e aceitá-los independentemente da vida que escolherem”, declara o pai aos meninos, que gritam de felicidade.
Em uma mensagem de agradecimento pela enorme projeção do vídeo, Willis ainda comenta que a escolha do menino não o surpreendeu.
“Azai fica igualmente fascinado com princesas e com robôs. Em alguns momentos, ele é um garotão, e, no próximo, ele expressa um lado mais sensível e angelical. Para mim, esse comportamento é mais autêntico do que tocar uma nota só o tempo todo”, explica o pai.
Willis diz que a única coisa que o surpreendeu em sua tarde de compras com os filhos foi notar que não havia bonecas negras, asiáticas ou de etnias e tipos de corpos variados nas prateleiras. Apesar de ter sugerido que Azai procurasse uma boneca “mais realista”, o pai lembra que aceitou a escolha do garotinho no momento em que Azai foi enfático: “Eu quero a sereia”.
“Meu trabalho como pai é oferecer aos meus meninos um campo seguro para os meus meninos brincarem com o que escolherem, ou, melhor ainda, criarem seu próprio jogo!”, afirmou Willis.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Maria Fernanda Arruda: A micareta dos analfabetos disfuncionais

no VIOMUNDO
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Um diferença considerável entre 16/08 e 20/08
Politicamente, analfabetos disfuncionais
Um brasileiro, em fins do século XIX, competente para ler e escrever, seria um nobre ou até um coronel da Guarda Nacional. Na virada do século, éramos 35% de alfabetizados e, em 1950, apenas 49%.
O Brasil somente não foi mais paupérrimo na manipulação das letras e dos números quando a população deixou os campos e chegou às cidades: em 1960, os brasileiros alfabetizados já somavam 60%.
Agora, nos nossos tempos, teremos apenas 8% de analfabetos nacionais? Motivo de orgulho? Não. Esse número, apontado e avalizado pelo IBGE, é uma lastimável balela.
A iniciativa de criar um Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional no Brasil, medindo diretamente as habilidades da população por meio de testes, foi tomada por duas organizações não-governamentais: a Ação Educativa e o Instituto Paulo Montenegro. As pesquisas que passaram a ser feitas, utilizado o conceito de alfabetismo funcional mostram qual é o quadro real: atinge cerca de 68% da população; somados aos 8% da totalmente analfabeta, resultando em 76% da população que não possui o domínio pleno da leitura, da escrita e das operações matemáticas, ou seja, apenas um em cada quatro brasileiros (25% da população) é plenamente alfabetizado.
Agora sim, fica viável entender as manifestações lastimáveis promovidas nos protestos, aqueles que querem a deposição do governo democrático, a volta da ditadura militar e mais:a morte dos que consideram como seus grandes inimigos. O survey (sondagem de opinião, sem rigorismos estatísticos) realizado por um professor da USP permite o desenho do perfil desse povo, o que é razoavelmente evidente.
Trata-se de uma maioria absoluta de indivíduos brancos, com a exclusão de negros e de pobres, gente de faixa etária mais alta, vários tendo chegado à senilidade, muitas mulheres, voyeurs sedentos de corpos nus, vendedores ambulantes em trabalho, diversos interessados na carteira e no celular alheios.
Os depoimentos colhidos dessa gente são inacreditáveis, decretando a obsolescência definitiva do Festival da Besteira que Assola o País (Febeapa), obra muito interessante e que retrata as cabeças de generais, coroneis, almirantes e brigadeiros, mentores da ditadura (golpe de 64), mas que se reveste de candura infantil diante da produção que se faz e mostra, na avenida Paulista dos dias atuais.
As faixas transportadas pelos “mulas” contratados trazem dizeres sem sentido, escritos em língua que identifica o analfabetismo funcional predominante. Mas não estamos tratando de um segmento social e economicamente privilegiado? Sim, estamos. E as pesquisas também mostram que 38% dos nossos universitários gozam dessa condição: são analfabetos funcionais.
O projeto de massificação do ensino foi parido pela ditadura, sob orientação do Coronel Jarbas Passarinho, com o malfadado MOBRAL, enquanto o ensino de História e outras ciências sociais era substituído por aulas de “educação moral e cívica”. Tempos de “Brasil – ame-o ou deixe-o”, recitado nas aulas obrigatórias de educação física.
A ditadura formou milhares e milhares de jovens alienados, coerentes, e que hoje são fascistas. Uma geração de intelectuais que estudava o Brasil foi levada ao ostracismo: Caio Prado Junior, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Celso Furtado, Antônio Cândido, Florestan Fernandes.
O cinema nacional ficou reduzido à produção de pornochanchadas, o teatro foi transformado em forma de lazer que antecede a pizza do sábado à noite, em que pesem os esforços magníficos de Gianfracesco Guarnieri, Zé Celso, Vianinha, Ruth Escobar e outros.
A música foi proposta na forma alienadora da “jovem guarda”, perdida nas curvas das estradas de Santos, embora, e exatamente aí, tenha havido a contestação mais séria à violência: Chico Buarque foi o maior exemplo de como a sensibilidade artística e a inteligência cultivada podem ridicularizar a violência dos torturadores assassinos.
O segundo momento de aviltamento do ensino no Brasil veio com os oito anos FHC.
Da mesma forma que privatizaram as empresas do Estado, privatizou-se o ensino. A universidade federal foi empobrecida em quantidade e qualidade; o MEC orientou para que as escolas públicas falissem, sendo substituídas pelas empresas do comércio do ensino. Mais do que nunca, elitizaram-se o ensino e a cultura: os filhos das elites que estudassem nos ótimos colégios particulares, habilitando-se ao doutoramento das universidades públicas ou nas universidades norte-americanas.
Há uma reversão de tendência a partir do primeiro governo Lula, quando o MEC começou a atuar para o fortalecimento da Universidade Federal, incentivando a pesquisa, remunerando de forma digna os professores, criando universidades. O ensino obrigatório de Ciências Sociais, Filosofia e Sociologia volta a ser obrigatório no Ensino Médio. Contemplam-se a Música e as Artes.
E cometem equívocos e omissões muito sérios. Os chamados “sistemas de ensino”, produzidos por empresas comerciais que negociam suas ações em Bolsa de Valores, bestificam jovens brasileiros com material didático de péssima qualidade e onde o professor fica reduzido à condição humilhante de “repetidor de aula”. A tentativa política de deputados hoje, na era Eduardo Cunha, no sentido de esvaziar o conteúdo do ensino nas escolas, já é uma realidade rotineira.
Em meados da década passada, o Sistema de Ensino da Abril Cultural utilizava a revista Veja para caluniar escolas que se preocupavam em transmitir a realidade brasileira aos seus alunos, identificando e acusando professores “comunistas”. A mesma Abril inaugurou o mecanismo de corrupção, junto a prefeituras e prefeitos, facilitando a venda do seu material para consumo nas escolas municipais. Corruptores e corrompidos.
Eis aqui um desafio aos que não entenderam ainda a necessidade de uma Constituição de olhos voltados para o século XXI. O pacto federativo precisa ser revisto radicalmente!
Sobre Educação, a maioria dos Estados e a quase totalidade das prefeituras carecem de condições mínimas para cumprimento das atribuições que lhes são delegadas. A Carta de 1988 adotou uma descentralização irreal e que vai provocando disfunções seriíssimas. Entre as diretrizes elaboradas pelo MEC e a ação política de governadores e prefeitos há um abismo intransponível.
Tanto a incompetência interesseira de políticos regionais como o utilitarismo dos comerciantes do ensino, ambos tornaram absolutamente impossível a modernização do ensino básico. Como resultado dessa paralisia no tempo, as paredes das salas de aula formatam hoje um espaço que sufoca os jovens, expostos às dimensões quase infinitas da Internet que se abrem através do computador.
Os adolescentes, aprisionados na escola convencional, ainda encontram liberdade nos espaços dos shopping centers. O que está sendo afirmado aqui fica evidente quando se lembra que as últimas experiências inovadoras significativas no Brasil foram a Universidade de Brasília, com Darcy Ribeiro, e os CIEPS, com Brizola e o mesmo Darcy Ribeiro.
O Direito à Educação é assegurado pela Constituição Federal como um direito fundamental, tendo sido contemplado pela Constituição no artigo 6 º, localizado no capitulo intitulado “Direitos Sociais”. O Ensino Básico (Fundamental + Médio) impõe-se como direito assegurado a todo cidadão brasileiro.
Tanto quanto a reforma agrária, ou a limitação do direito de propriedade pelo interesse social … Letras, letras mortas. É bem verdade que os governos de Lula e Dilma se fixaram no ideal do “ensino para todos”. A partir disso, desenvolveu-se e desenvolve-se um esforço orientado por critérios de quantidade, mas não de qualidade.
No afã de formar gente de nível universitário, os governos do PT quase que atingiram o exagero de uma antiga piada: “brasileiro, ao nascer, ganha o título de doutor, aos 18 anos devendo fazer uma opção”. A universalização universitária não será uma utopia desastrada? De novo a mesma preocupação: quantidade; e o que fazem com a qualidade: É baixa, pouca e insuficiente?
Um dos equívocos mais grosseiros foi cometido com a criação do FIES. O Ministro da Educação acaba de corrigir as distorções gritantes de um programa demagógico. Até recentemente, alguns vários bilhões de reais foram destinados ao financiamento de estudantes, em universidades reconhecidas pelo próprio MEC como sendo de qualidade inferior, concentrados nos Estados mais ricos, com financiamento concedido a filhos de famílias de classe-média, para matrícula em cursos de Direito, Administração e similares.
O Ministro Renato Janine Ribeiro limitou o uso do benefício a famílias pobres, nas regiões mais pobres do país, para cursos de Engenharia, Medicina e similares, ministrados em escolas que venham merecendo boa conceituação.
Alvíssaras. As coisas vão tomando forma digna, pois tivemos alguns anos de descalabro descompromissado.
Reconhecidamente, o sistema de ensino brasileiro não é menos do que péssimo. Em diversos momentos forma bons profissionais. Mas, praticamente, nunca forma bons cidadãos. Os brasileiros não sabem o que é o Brasil, não conhecem a sua História, recebem informações rudimentares sobre a sua geografia e são ignorantes completos quanto à sua economia, problemas atuais e potencial. Não estão sendo ensinados a pensar, não sabem ler, não leem, carregam uma lastimável preguiça mental.
A pobreza é tal que, mesmo à esquerda, frequentemente se vê o dogmatismo tolo, simplificador de tudo: ‘os que não pensam exatamente como eu penso são fascistas’. Perderam alguns a capacidade de pensar e, de pensar indagativamente. Não há espírito crítico, o que o ensino puramente técnico e de má qualidade não contempla.
O que tudo isso tem a ver com o 16 de agosto? Serve para que se entenda toda aquela gente como o lixo social que as nossas escolas estão deformando. Para pedir a ditadura militar e a morte de políticos desagradáveis, as pessoas precisam passar por um apurado processo de animalização, aquele que o nosso sistema de ensino tem oferecido. O marketing transformando tudo em produto de consumo não durável, consumidores consumíveis, produz o restolho obsoleto do que teria sido um ser, e humano; hoje na avenida são zumbis alucinados.
Enfim, o esforço dos governos Lula e Dilma tem revertido tendências perversas, mas incorpora equívocos. Quem, não apenas os dois, mas pensados todos os que habitam hoje o nosso mundo político, possui competência para distinguir o que é humano daquilo que é simples charlatanismo?
*Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasil, sempre às sextas-feiras.
Leia também:

A Educação não é mercadoria que compramos na prateleira.

por José Gilbert Arruda Martins

A Educação é instrumento de libertação e construção cidadã.

A LDB é clara, os sistemas escolares e as escolas do país não podem trabalhar com calendário nunca inferior a 200 dias letivos.

Nenhuma greve de trabalhadores e trabalhadoras da educação pública brasileira, organizados em Sindicatos e Confederações, ficou sem repor um único dia de aula parado.

Portanto, é absurda a atitude dos governadores tucanos.

É absurda a reação dos Tribunais de Justiça dos respectivos estados.

É claro, que os desembargadores têm seus filhos e filhas em escolas particulares, com professores e professoras recebendo salários de escravo entre R$ 5,60 e 12,90 a hora/aula, e são proibidos de usar uma das mais eficazes ou talvez, a única arma que existe que é a greve.

Os educadores e educadoras das Escolas Públicas, não lutam apenas por salário, lutam também por qualidade na educação, por mais verbas, por dignidade dos trabalhadores (as) mas também dos estudantes e, claro, às suas comunidades, por que, se a unidade escolar é boa, limpa, bem cuidada, com professores (as) bem remunerados e felizes, toda a comunidade sai ganhando.

Quem opina diferente disso, são aqueles encastelados em seus gabinetes no ar condicionado, desconhecedores da realidade da educação pública brasileira.

Quem desconhece a realidade da própria escola do filha ou da filha, que não participa em nada da vida escolar da família, são os primeiros a apoiar um absurdo desse tamanho e patrocinado pelos governadores tucanos.

Repito, educação não é mercadoria, como muitos acreditam que seja.