terça-feira, 25 de agosto de 2015

O legado de Cunha

na Carta Maior

A resposta de Cunha à denúncia do Procurador Janot foi um ataque à democracia e à República, não uma peça de defesa

Tarso Genro
Alex Ferreira / Câmara dos Deputados
A naturalidade com que foi recebida a resposta de Eduardo Cunha pelos “formadores de opinião” da grande mídia e a passividade de boa parte da bancada governista federal -inclusive do meu Partido - a respeito das denúncias contra ele, mostra que crise não vai recuar e que o poder do Presidente da Câmara, por razões até agora desconhecidas, é muito maior do que se pensa.
 
Leio que dois dignos deputados federias do Partido dos Trabalhadores, Alexandre Molon e Henrique Fontana (certamente temos outros), em conjunto com deputados de outras extrações, lideram um movimento para a retirada de Cunha da presidência da Câmara Federal, fundados na denúncia do Procurador Janot. Como Cunha respondeu a esta denúncia? Respondeu que não vai “retalhar”.
 
Vejam: a resposta é que não vai “retalhar!”. Esta reação, por si só, mostra que Eduardo Cunha vai jogar o jogo até o final e que, por desespero ou segurança, está convicto que pode continuar sendo -muito além da plêiade tucana- o principal líder da oposição ao Governo da Presidenta Dilma que, atado numa base parlamentar que defende a “austeridade” (para os outros), não tem vontade política nem projeto para sair da crise, diferente daquele que o neoliberalismo defende em escala mundial: um “ajuste”  meramente orçamentário, sem tocar na política monetária, na orgia dos juros, e sem encaminhar um combate -a curto e médio prazo- às desigualdades de renda, num país que ainda é fundamentalmente injusto.
 
Quando Cunha diz que não vai “retalhar” ele está dando, na verdade, três recados, a distintas fontes de poder político e jurídico: ao Governo Federal, está dizendo que pode ”retalhar”, se quiser; à oposição demo-tucana, que continua às ordens, para sabotar qualquer iniciativa do Governo; ao Procurador Janot -que ele acusa absurdamente de estar agindo a pedido do Governo- avisa que não reconhece a sua denúncia como o cumprimento de um dever republicano, mas como mero produto de uma barganha política.
 
A resposta do Presidente da Câmara escancara, não a falência da Carta de 88 ou do regime de democracia política que está inscrito naquele diploma, mas sim a decadência completa de um sistema político específico, que permite que um líder da oposição seja do Partido mais forte que está Governo e que este mesmo quadro, acusado de corrupção (desta mesma oposição), seja o fiador, ao mesmo tempo, da estabilidade do Governo, e da possibilidade do seu impedimento.
 
Trata-se de uma situação de aparente “normalidade”, que, na verdade abre espaço para a “exceção”, já que esta sempre se apoia num certo desencanto do povo -formalmente criador e destinatário das normas de convívio político democrático-  que passa a sentir a democracia como um regime falido. E o sentimento de que a democracia está falida e que os líderes das diversas facções de opinião não se entendem para preservá-la, abre espaço para tentação fascista: a autoridade substitui a política e a burocracia substitui os partidos.
 
Produz-se, então, uma época triste e violenta em que, como disse recentemente Boaventura Souza Santos, o “insulto tornou-se meio mais eficaz de um ignorante ser intelectualmente superior a um sábio” e a “desigualdade tornou-se mérito”. A resposta de Cunha à denúncia do Procurador Janot foi um ataque à democracia e à República, não uma peça de defesa. Este é o seu principal legado. Devem estar celebrando aqueles que, em manifestações recentes, se apresentaram como “todos somos Cunha.”
 
Penso que a grande maioria de todos os partidos democráticos não é representada por Cunha e não aceitam ser confundidos com ele, pelo menos até que sua inocência seja acatada pela Justiça, se o for. Por isso deveríamos aproveitar este momento, em que a crise política é levada ao seu ponto mais alto de maturação, para desbloquear a Câmara Federal, promovendo um movimento amplo e suprapartidário, para  que ele, Eduardo Cunha, responda o processo fora da Presidência da daquela casa parlamentar. Este  seria o único aspecto positivo do seu legado.

Tarso Genro foi governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, Ministro da Justiça, Ministro da Educação e Ministro das Relações Institucionais do Brasil.


Créditos da foto: Alex Ferreira / Câmara dos Deputados

Flávio Dino e a Herança Maldita de Sarney no Maranhão

por José Gilbert Arruda Martins
A velha política coronelística que embala os sonhos golpistas do PSDB, do DEM entre outros, pode estar com os dias contados no Estado do Maranhão.

É que lá, o povo elegeu um 'cabra arretado' do PCdoB, Sr. Fávio Dino.

O atual governador nasceu em 1968 em São Luis, formou-se em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), fez militância política como estudante, advogou para sindicatos e fez também a campanha de Luis Inácio Lula da Silva em 1989.

"No ano de 1994, ele foi aprovado em primeiro lugar quando estava concorrendo ao cargo de juiz federal em um concurso público ele exerceu o cargo de juiz federal no Maranhão por 15 anos, tendo abandonado a carreira profissional em 2006 aos seus 38 anos para ingressar na vida política, se filiando ao Partido Comunista do Brasil (PC do B)."

É notório que a dificuldade que Flávio Dino terá é hercúlea, o Maranhão foi assaltado pela família Sarney por mais de meio século, é tempo suficiente, inclusive, para que os dilapidadores do estado, tenham adquirido até uma ilha.

O Maranhão, apesar das ilhas de desenvolvimento - porto de Itaqui, Base de Alcântara, 16° PIB do país -, é uma região do Brasil onde seu povo convive com uma estrutura que beira a Idade Média.

Falta tudo.

Quando viajamos de carro, fica mais evidente o abandono e a miséria de grande parte do nosso povo. Fruto dos 50 anos de domínio absoluto dos sarneys.

O Estado, em pleno século XXI ainda tem cerca de mil escolas que "funcionam" em casas feitas de barro e coberta de palha, as denominadas casas de taipa.

O Maranhão, talvez seja a unidade do país que tenha, em termos percentuais, a maior quantidade de pessoas vivendo em casas desse tipo.

O desafio é enorme.

Os trabalhadores e trabalhadoras do Estado, o povo do Maranhão precisam procurar entender essa que, talvez seja a maior e mais importante chance que a região terá de começar a sair de um atraso secular.

O apoio consciente ao governo de Dino é fundamental para que o Maranhão tome o rumo do século XXI.

Com informações do Wikpédia

Sergio Moro intima blog por crime contra honra

no GGN
Publicação de Limpinho & Cheiroso, que repercute informações de outras páginas, é alvo de procedimento penal do juiz federal do Paraná



ornal GGN - O juiz Sergio Moro, que comanda as investigações da Operação Lava Jato no Paraná, entrou com ação contra o blog Limpinho & Cheiroso, de Miguel Baia Bargas, pela publicação "Paraná: Quando Moro trabalhou para o PSDB, ajudou a desviar R$ 500 milhões da Prefeitura de Maringá", de fevereiro deste ano.
A postagem, contudo, é um compartilhamento de outra publicada pelo Plantão Brasil. O blogueiro notifica esse dado na própria publicação, indicando que houve acréscimo de outras informações de O Globo.
"Nascido em Maringá, no norte do Paraná, o juiz Sérgio Moro é um dos maiores 'especialistas' do país na área de lavagem de dinheiro. Formado em direito pela Universidade Estadual de Maringá, seu primeiro serviço foi no escritório do doutor Irivaldo Joaquim de Souza, o maior tributarista de Maringá. Doutor Irivaldo foi advogado de Jairo Gianoto entre 1997 a 2000, ex-prefeito de Maringá pelo PSDB, condenado por gestão fraudulenta. Via Plantão Brasil, com informações de O Globo", introduz a matéria.
No processo contra o blogueiro, Moro contestou as informações, avaliando que as pessoas mencionadas têm reputação ilibada e o "advogado Irivaldo Joaquim de Souza é um dos homens mais honrados que ele já conheceu".
A intimação motivada pelo juiz federal do Paraná contra o blogueiro, que foi entregue na própria casa de Miguel Baia, onde é a sede do Limpinho & Cheiroso, repercutiu em apoio e solidariedade de leitores e outros blogs.
Miguel deverá prestar "esclarecimentos em procedimento penal instaurado pela suposta prática de crime contra a honra de servidor público em exercício da função, de acordo com os fatos narrados nos documentos em anexo".
Em resposta em sua página, o blogueiro disse que o Limpinho "é um clipping de notícias de outros blogs" e que nunca quer "caluniar, difamar e injuriar qualquer pessoa ou instituição". "Nosso intuito é trazer o maior número possível de informações que não constam (ou estão escondidas) na “grande mídia” e em blogs", disse.
Na ação de crime contra a honra, o juiz criticou o modo como a notícia foi publicada e que, segundo ele, é falsa. "Minha consciência está tranquila quanto ao “crime” (que não cometi) contra a honra do doutor Sérgio Moro", respondeu Miguel Baia Bargas.

Nesta segunda-feira (24), Miguel solicitará instruções para defesa do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.

Depois de deixar herança maldita no Maranhão, família Sarney abre artilharia midiática contra Flávio Dino

no VIOMUNDO
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A unidade escolar Centro do Milton, em Brejo de Areia, Maranhão; a família Sarney deixou mil escolas assim no estado
Por Luiz Carlos Azenha
O bombardeio é diário, sem trégua. Com “denúncias” como esta:
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Isso mesmo. O governador Flávio Dino é “acusado” de sentar-se ao lado do motorista pelo jornal O Estado do Maranhão, que integra o império midiático da família Sarney.
Nem a Veja faria melhor. Ou faria?
As críticas, especialmente na coluna Estado Maior, por onde fala o dono, são absolutamente gratuitas.
Por exemplo, na edição de 19.05.2015: “Flávio Dino não tem conseguido reagir às numerosas crises que se instalaram no Governo do Estado”.
Na mesma coluna: “Gozações — Os escândalos e constrangimentos em todas as áreas do governo Flávio Dino (PCdoB) têm feito a alegria de piadistas e gaiatos da internet. Todo dia surgem memes e banners fazendo troça do governo, que mete os pés pelas mãos quase diariamente. O que ajuda os provocadores é a postura do próprio governo de não reconhecer os erros e querer impor seu ponto de vista“.
Na mesma página, ao acusar Dino de desperdiçar dinheiro com o aluguel de um prédio, o jornal promove os dois herdeiros políticos da família: os deputados Adriano Sarney (PV) e Andrea Murad (PMDB). Eles são chamados a opinar sempre que há “denúncias” contra Dino. Propaganda política disfarçada de jornalismo.
A ênfase da cobertura é na violência, que realmente é grave em São Luís. Segundo Dino, a taxa de homicídios caiu, mas o colunismo sarneyzista cria um clima de pânico a ponto de invocar o holocausto — como se o problema não fosse parte integral da herança maldita deixada pelos Sarney. De Pergentino Holanda, colunista:
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Como a família Sarney controla a TV Mirante, afiliada da Globo no Estado, acaba definindo a agenda do que aparece sobre o Maranhão nos jornais em rede nacional da emissora. “Toda semana tem pelo menos uma reportagem negativa”, diz um assessor de Dino.
O curioso é que os ataques partem da família que controlou o estado politicamente por mais de meio século.
Que, mais recentemente, “privatizou” a segurança do complexo penitenciário de Pedrinhas, o que ajudou a provocar um escândalo de dimensões nacionais com a matança entre facções.
De um grupo político que, segundo Dino, chegou a pagar R$ 11,00 por um copo de leite servido numa refeição hospitalar.
Isso sem falar nas mil escolas como a da foto que encabeça este texto.
Viomundo: Governador, quem olha para essa foto é difícil acreditar…
Flávio Dino: Nós encontramos mil escolas dessas, na qual existem professores de enorme capacidade de se dedicar a uma causa, que eu respeito muito, mas na qual obviamente os alunos pouco conseguem apreender. Por isso nós estamos com um programa voltado para superar isso. Realmente é inacreditável que em um país como o nosso, sexta ou sétima maior economia do planeta, essa condição social seja tão difícil. O Estado que tem o décimo sexto PIB do Brasil, que tem um porto promissor e importante, tem a base de Alcântara… agora nós precisamos fazer com que essas ilhas de modernização, de século 21, consigam chegar ao Maranhão profundo, que ainda vive em muitos casos no século 19.
Viomundo: Qual a importância do porto de Itaqui, considerando que 10% da soja exportada pelo Brasil saem de Matopiba, a região fronteiriça entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia? 
Flávio Dino: Para quem chega, é o porto melhor situado do Arco Norte, do ponto-de-vista do mercado brasileiro, porque ele se situa exatamente na zona de transição entre a Amazônia e o Nordeste, com amplo acesso ao Centro-Oeste do país. E ao mesmo tempo no sentido de saída. Uma empresa que vai exportar soja para a costa Leste dos Estados Unidos vai economizar três ou quatro dias de frete usando Itaqui em relação a Paranaguá (Paraná).
Viomundo: O senhor diz que pretende casar esta vantagem logística com energia para desenvolver um parque industrial e processar os produtos agrícolas do Maranhão no entorno de Itaqui. Qual energia?
Flávio Dino: Na verdade, nós já temos uma grande produção de gás, de cerca de 5 milhões de metros cúbicos. Já foi feita a prospecção e foi formalmente declarado pela Agência Nacional de Petróleo que esses campos estão aptos a serem comercialmente explorados. Na décima terceira rodada do leilão da ANP teremos mais 22 blocos na chamada bacia do Parnaíba, que fica quase toda no Maranhão, de modo que nós esperamos que no futuro essa abundância de fonte de energia de nosso Estado se consolide. Nós temos uma economia baseada na agricultura, na pecuária, na pesca, no extrativismo, na avicultura, tudo isso é fundamental. Mas ao mesmo tempo é importante industrializar o estado, substituir importações.
Viomundo: O senhor já lidou com a herança maldita do governo de Roseana Sarney?
Flávio Dino: Nós encontramos aqui muitos absurdos, infelizmente. Havia, por exemplo, uma Universidade Virtual do Maranhão. A universidade era virtual mas o roubo era real, porque lá houve desvio de mais de R$ 30 milhões. No que se refere à Saúde encontramos situações absolutamente injustificáveis do ponto-de-vista do custo, como o copo de leite que custava 11 reais.
Viomundo: O senhor disse que conseguiu R$ 100 milhões em função de mudanças administrativas?
Flávio Dino: Essas mudanças em cinco meses geraram 100 milhões, porque nós combatemos problemas que havia no Detran, no sistema penitenciário, no sistema de saúde, na educação. A escola que aparece na foto, para substituir pode custar em média 500 mil reais. Dez milhões dá para fazer 20 escolas. Dá para fazer uma escola técnica estadual, que o Maranhão não tem nenhuma. Com a Universidade Virtual do Maranhão dá para dizer que essas pessoas desviaram 70 escolas.
Viomundo: Por que os ataques diários na mídia?
Flávio Dino: Na verdade, uma fração da elite brasileira, acostumada a um modelo coronelista e oligárquico, tem o hábito de gerar acúmulo de fortunas pessoais a partir do desvio daquilo que pertence a todos. É o velho patrimonialismo, que aqui no Maranhão está em cada esquina. Nós estamos desmontando isso e desmontando em um processo conflituoso. Todas as vezes que a gente tira um privilégio pendurado na árvore do patrimonialismo maranhense, o dono do privilégio reclama, reclama e luta. Luta, entra na Justiça, coloca seu sistema de mídia contra, porque ele quer manter o privilégio. Passou anos indo lá colher essa fruta madura e alimentando os seus às custas de milhares de maranhenses.
Viomundo: O que é o programa emergencial do IDH, o Índice de Desenvolvimento Humano?
Flávio Dino: É uma política focalizada nos 30 municípios de pior IDH do Maranhão, que estão entre os 100 piores do Brasil. Ação de substituição de escolas, restaurantes populares, força estadual de saúde, construir casas, apoio à agricultura familiar, fornecer documento, um enxoval de direitos. Eu, quando estudei, quando dava aula de Direito, falavamos em direitos de primeira, segunda e terceira gerações. Século 18, direitos civis. Século 19, direitos políticos. Século 20, direitos sociais. Nós temos de fazer três séculos em quatro anos. Pretendemos mostrar que apesar das dificuldades nacionais é possível mobilizar investimentos públicos e privados capazes de elevar a qualidade de vida de populações antes submetidas a patamares de negação de direitos realmente inacreditáveis.
Viomundo: Mostrar que governo faz diferença?
Flávio Dino: Que é imprescindível para superar os problemas da população mais pobre. Durante décadas no Brasil se estabeleceu uma espécie de dualidade: o Brasil moderno era privado, o Brasil arcaico público. Isso na verdade é uma falácia ideológica. Todos nós sabemos que sem serviços públicos é impossível nós termos um Brasil verdadeiramente moderno.

A reação de um pai ao saber que o filho quer uma boneca de presente

no Pragmatismo Político

Como você reagiria se o seu filho pedisse uma boneca como presente de aniversário? Em vídeo publicado na Internet, homem diz que 'sempre respeitará as escolhas dos filhos e nunca deixará de amá-los'

reação pai filho boneca

O que você faria se seu filho pedisse uma boneca de presente? O americano Mikki Willis não teve dúvidas e comprou a Barbie que o filho pediu na hora. O vídeo (assista abaixo) em que o pai de Ojai, na Califórnia, conta qual foi sua reação ao saber da escolha do filho já se tornou viral na internet, alcançando mais de 15 milhões de visualizações no facebook e 200 mil compartilhamentos.
No registro vídeo, o pai conta que seu filho mais velho, Azai, de 4 anos, tinha ganhado dois presentes iguais de aniversário, por isso, levou o menino para trocar um deles por algo diferente. Ao chegar à loja, o garotinho escolheu uma Barbie da princesa Ariel, do filme da Disney “A pequena sereia”.
“Agora, como você acha que um pai se sente quando seu filho escolhe isso?”, questiona o pai, exibindo a boneca. “Yeah!”, grita ele em seguida! “Eu deixo meus filhos escolherem a vida que quiserem. É assim que a mãe deles e eu pensamos. Eles podem ser o que quiserem”.
Na sequência, Willis, que também é pai de Zuri, de 1 ano e meio, promete aos dois meninos que eles não terão as sexualidades ou suas personalidades reprimidas.
“Escolham sua forma de se expressar, escolham o que gostam de fazer, escolham sua sexualidade. Vocês têm a minha palavra, nesse momento, em que estamos sentados nesse carro quente, nesse estacionamento, de que vou amá-los e aceitá-los independentemente da vida que escolherem”, declara o pai aos meninos, que gritam de felicidade.
Em uma mensagem de agradecimento pela enorme projeção do vídeo, Willis ainda comenta que a escolha do menino não o surpreendeu.
“Azai fica igualmente fascinado com princesas e com robôs. Em alguns momentos, ele é um garotão, e, no próximo, ele expressa um lado mais sensível e angelical. Para mim, esse comportamento é mais autêntico do que tocar uma nota só o tempo todo”, explica o pai.
Willis diz que a única coisa que o surpreendeu em sua tarde de compras com os filhos foi notar que não havia bonecas negras, asiáticas ou de etnias e tipos de corpos variados nas prateleiras. Apesar de ter sugerido que Azai procurasse uma boneca “mais realista”, o pai lembra que aceitou a escolha do garotinho no momento em que Azai foi enfático: “Eu quero a sereia”.
“Meu trabalho como pai é oferecer aos meus meninos um campo seguro para os meus meninos brincarem com o que escolherem, ou, melhor ainda, criarem seu próprio jogo!”, afirmou Willis.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Maria Fernanda Arruda: A micareta dos analfabetos disfuncionais

no VIOMUNDO
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Um diferença considerável entre 16/08 e 20/08
Politicamente, analfabetos disfuncionais
Um brasileiro, em fins do século XIX, competente para ler e escrever, seria um nobre ou até um coronel da Guarda Nacional. Na virada do século, éramos 35% de alfabetizados e, em 1950, apenas 49%.
O Brasil somente não foi mais paupérrimo na manipulação das letras e dos números quando a população deixou os campos e chegou às cidades: em 1960, os brasileiros alfabetizados já somavam 60%.
Agora, nos nossos tempos, teremos apenas 8% de analfabetos nacionais? Motivo de orgulho? Não. Esse número, apontado e avalizado pelo IBGE, é uma lastimável balela.
A iniciativa de criar um Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional no Brasil, medindo diretamente as habilidades da população por meio de testes, foi tomada por duas organizações não-governamentais: a Ação Educativa e o Instituto Paulo Montenegro. As pesquisas que passaram a ser feitas, utilizado o conceito de alfabetismo funcional mostram qual é o quadro real: atinge cerca de 68% da população; somados aos 8% da totalmente analfabeta, resultando em 76% da população que não possui o domínio pleno da leitura, da escrita e das operações matemáticas, ou seja, apenas um em cada quatro brasileiros (25% da população) é plenamente alfabetizado.
Agora sim, fica viável entender as manifestações lastimáveis promovidas nos protestos, aqueles que querem a deposição do governo democrático, a volta da ditadura militar e mais:a morte dos que consideram como seus grandes inimigos. O survey (sondagem de opinião, sem rigorismos estatísticos) realizado por um professor da USP permite o desenho do perfil desse povo, o que é razoavelmente evidente.
Trata-se de uma maioria absoluta de indivíduos brancos, com a exclusão de negros e de pobres, gente de faixa etária mais alta, vários tendo chegado à senilidade, muitas mulheres, voyeurs sedentos de corpos nus, vendedores ambulantes em trabalho, diversos interessados na carteira e no celular alheios.
Os depoimentos colhidos dessa gente são inacreditáveis, decretando a obsolescência definitiva do Festival da Besteira que Assola o País (Febeapa), obra muito interessante e que retrata as cabeças de generais, coroneis, almirantes e brigadeiros, mentores da ditadura (golpe de 64), mas que se reveste de candura infantil diante da produção que se faz e mostra, na avenida Paulista dos dias atuais.
As faixas transportadas pelos “mulas” contratados trazem dizeres sem sentido, escritos em língua que identifica o analfabetismo funcional predominante. Mas não estamos tratando de um segmento social e economicamente privilegiado? Sim, estamos. E as pesquisas também mostram que 38% dos nossos universitários gozam dessa condição: são analfabetos funcionais.
O projeto de massificação do ensino foi parido pela ditadura, sob orientação do Coronel Jarbas Passarinho, com o malfadado MOBRAL, enquanto o ensino de História e outras ciências sociais era substituído por aulas de “educação moral e cívica”. Tempos de “Brasil – ame-o ou deixe-o”, recitado nas aulas obrigatórias de educação física.
A ditadura formou milhares e milhares de jovens alienados, coerentes, e que hoje são fascistas. Uma geração de intelectuais que estudava o Brasil foi levada ao ostracismo: Caio Prado Junior, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Celso Furtado, Antônio Cândido, Florestan Fernandes.
O cinema nacional ficou reduzido à produção de pornochanchadas, o teatro foi transformado em forma de lazer que antecede a pizza do sábado à noite, em que pesem os esforços magníficos de Gianfracesco Guarnieri, Zé Celso, Vianinha, Ruth Escobar e outros.
A música foi proposta na forma alienadora da “jovem guarda”, perdida nas curvas das estradas de Santos, embora, e exatamente aí, tenha havido a contestação mais séria à violência: Chico Buarque foi o maior exemplo de como a sensibilidade artística e a inteligência cultivada podem ridicularizar a violência dos torturadores assassinos.
O segundo momento de aviltamento do ensino no Brasil veio com os oito anos FHC.
Da mesma forma que privatizaram as empresas do Estado, privatizou-se o ensino. A universidade federal foi empobrecida em quantidade e qualidade; o MEC orientou para que as escolas públicas falissem, sendo substituídas pelas empresas do comércio do ensino. Mais do que nunca, elitizaram-se o ensino e a cultura: os filhos das elites que estudassem nos ótimos colégios particulares, habilitando-se ao doutoramento das universidades públicas ou nas universidades norte-americanas.
Há uma reversão de tendência a partir do primeiro governo Lula, quando o MEC começou a atuar para o fortalecimento da Universidade Federal, incentivando a pesquisa, remunerando de forma digna os professores, criando universidades. O ensino obrigatório de Ciências Sociais, Filosofia e Sociologia volta a ser obrigatório no Ensino Médio. Contemplam-se a Música e as Artes.
E cometem equívocos e omissões muito sérios. Os chamados “sistemas de ensino”, produzidos por empresas comerciais que negociam suas ações em Bolsa de Valores, bestificam jovens brasileiros com material didático de péssima qualidade e onde o professor fica reduzido à condição humilhante de “repetidor de aula”. A tentativa política de deputados hoje, na era Eduardo Cunha, no sentido de esvaziar o conteúdo do ensino nas escolas, já é uma realidade rotineira.
Em meados da década passada, o Sistema de Ensino da Abril Cultural utilizava a revista Veja para caluniar escolas que se preocupavam em transmitir a realidade brasileira aos seus alunos, identificando e acusando professores “comunistas”. A mesma Abril inaugurou o mecanismo de corrupção, junto a prefeituras e prefeitos, facilitando a venda do seu material para consumo nas escolas municipais. Corruptores e corrompidos.
Eis aqui um desafio aos que não entenderam ainda a necessidade de uma Constituição de olhos voltados para o século XXI. O pacto federativo precisa ser revisto radicalmente!
Sobre Educação, a maioria dos Estados e a quase totalidade das prefeituras carecem de condições mínimas para cumprimento das atribuições que lhes são delegadas. A Carta de 1988 adotou uma descentralização irreal e que vai provocando disfunções seriíssimas. Entre as diretrizes elaboradas pelo MEC e a ação política de governadores e prefeitos há um abismo intransponível.
Tanto a incompetência interesseira de políticos regionais como o utilitarismo dos comerciantes do ensino, ambos tornaram absolutamente impossível a modernização do ensino básico. Como resultado dessa paralisia no tempo, as paredes das salas de aula formatam hoje um espaço que sufoca os jovens, expostos às dimensões quase infinitas da Internet que se abrem através do computador.
Os adolescentes, aprisionados na escola convencional, ainda encontram liberdade nos espaços dos shopping centers. O que está sendo afirmado aqui fica evidente quando se lembra que as últimas experiências inovadoras significativas no Brasil foram a Universidade de Brasília, com Darcy Ribeiro, e os CIEPS, com Brizola e o mesmo Darcy Ribeiro.
O Direito à Educação é assegurado pela Constituição Federal como um direito fundamental, tendo sido contemplado pela Constituição no artigo 6 º, localizado no capitulo intitulado “Direitos Sociais”. O Ensino Básico (Fundamental + Médio) impõe-se como direito assegurado a todo cidadão brasileiro.
Tanto quanto a reforma agrária, ou a limitação do direito de propriedade pelo interesse social … Letras, letras mortas. É bem verdade que os governos de Lula e Dilma se fixaram no ideal do “ensino para todos”. A partir disso, desenvolveu-se e desenvolve-se um esforço orientado por critérios de quantidade, mas não de qualidade.
No afã de formar gente de nível universitário, os governos do PT quase que atingiram o exagero de uma antiga piada: “brasileiro, ao nascer, ganha o título de doutor, aos 18 anos devendo fazer uma opção”. A universalização universitária não será uma utopia desastrada? De novo a mesma preocupação: quantidade; e o que fazem com a qualidade: É baixa, pouca e insuficiente?
Um dos equívocos mais grosseiros foi cometido com a criação do FIES. O Ministro da Educação acaba de corrigir as distorções gritantes de um programa demagógico. Até recentemente, alguns vários bilhões de reais foram destinados ao financiamento de estudantes, em universidades reconhecidas pelo próprio MEC como sendo de qualidade inferior, concentrados nos Estados mais ricos, com financiamento concedido a filhos de famílias de classe-média, para matrícula em cursos de Direito, Administração e similares.
O Ministro Renato Janine Ribeiro limitou o uso do benefício a famílias pobres, nas regiões mais pobres do país, para cursos de Engenharia, Medicina e similares, ministrados em escolas que venham merecendo boa conceituação.
Alvíssaras. As coisas vão tomando forma digna, pois tivemos alguns anos de descalabro descompromissado.
Reconhecidamente, o sistema de ensino brasileiro não é menos do que péssimo. Em diversos momentos forma bons profissionais. Mas, praticamente, nunca forma bons cidadãos. Os brasileiros não sabem o que é o Brasil, não conhecem a sua História, recebem informações rudimentares sobre a sua geografia e são ignorantes completos quanto à sua economia, problemas atuais e potencial. Não estão sendo ensinados a pensar, não sabem ler, não leem, carregam uma lastimável preguiça mental.
A pobreza é tal que, mesmo à esquerda, frequentemente se vê o dogmatismo tolo, simplificador de tudo: ‘os que não pensam exatamente como eu penso são fascistas’. Perderam alguns a capacidade de pensar e, de pensar indagativamente. Não há espírito crítico, o que o ensino puramente técnico e de má qualidade não contempla.
O que tudo isso tem a ver com o 16 de agosto? Serve para que se entenda toda aquela gente como o lixo social que as nossas escolas estão deformando. Para pedir a ditadura militar e a morte de políticos desagradáveis, as pessoas precisam passar por um apurado processo de animalização, aquele que o nosso sistema de ensino tem oferecido. O marketing transformando tudo em produto de consumo não durável, consumidores consumíveis, produz o restolho obsoleto do que teria sido um ser, e humano; hoje na avenida são zumbis alucinados.
Enfim, o esforço dos governos Lula e Dilma tem revertido tendências perversas, mas incorpora equívocos. Quem, não apenas os dois, mas pensados todos os que habitam hoje o nosso mundo político, possui competência para distinguir o que é humano daquilo que é simples charlatanismo?
*Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasil, sempre às sextas-feiras.
Leia também:

A Educação não é mercadoria que compramos na prateleira.

por José Gilbert Arruda Martins

A Educação é instrumento de libertação e construção cidadã.

A LDB é clara, os sistemas escolares e as escolas do país não podem trabalhar com calendário nunca inferior a 200 dias letivos.

Nenhuma greve de trabalhadores e trabalhadoras da educação pública brasileira, organizados em Sindicatos e Confederações, ficou sem repor um único dia de aula parado.

Portanto, é absurda a atitude dos governadores tucanos.

É absurda a reação dos Tribunais de Justiça dos respectivos estados.

É claro, que os desembargadores têm seus filhos e filhas em escolas particulares, com professores e professoras recebendo salários de escravo entre R$ 5,60 e 12,90 a hora/aula, e são proibidos de usar uma das mais eficazes ou talvez, a única arma que existe que é a greve.

Os educadores e educadoras das Escolas Públicas, não lutam apenas por salário, lutam também por qualidade na educação, por mais verbas, por dignidade dos trabalhadores (as) mas também dos estudantes e, claro, às suas comunidades, por que, se a unidade escolar é boa, limpa, bem cuidada, com professores (as) bem remunerados e felizes, toda a comunidade sai ganhando.

Quem opina diferente disso, são aqueles encastelados em seus gabinetes no ar condicionado, desconhecedores da realidade da educação pública brasileira.

Quem desconhece a realidade da própria escola do filha ou da filha, que não participa em nada da vida escolar da família, são os primeiros a apoiar um absurdo desse tamanho e patrocinado pelos governadores tucanos.

Repito, educação não é mercadoria, como muitos acreditam que seja.


'A América Latina começou uma nova história, que eu considero irreversível'

na Carta Maior

A América Latina começou a tomar consciência de que pode deixar de ser colônia. Esta primavera política, a dos governos populares, é a segunda emancipação.

IHU - Unisinos
reproducão
“Minha terra natal é a Argentina, a outra é o Brasil, mas a pátria grande é a América Latina. Sou um latino-americanista”, disse Enrique Dussel (foto), pausadamente, em seu tom híbrido, no qual ainda restam traços do mendocino (Mendoza, Argentina) que alguma já teve.
 
Filósofo argentino radicado, há quarenta anos, no México, Dussel deixou seu país natal duas vezes. A primeira foi após passar pela Universidade de Cuyo. Ficou 10 anos na Europa e seu pensamento crítico do eurocentrismo, afirmou, fez com que se sentisse um estrangeiro em todas as partes: “A maioria dos professores ainda são absolutamente eurocêntricos e em filosofia são helenocêntricos. Acreditam que a filosofia nasceu em Atenas e os próprios Heródoto, Platão e Aristóteles dizem que nossa filosofia surgiu no Egito”.
 
Voltou à Argentina em 1968 e viajou por toda a América Latina. Nos anos 1970, junto com outros intelectuais argentinos, fundou a Filosofia da Libertação. Esse movimento comprometido com a emancipação dos oprimidos e relacionado com a Teologia da Libertação, que começou uma reforma universitária em Mendoza, com programas de estudo de filosofia mundial não eurocêntrica, fez com que ele se tornasse alvo de ameaças e perseguições. “No dia 3 de outubro de 1973, colocaram uma bomba em minha casa e começou a perseguição contra nós. Depois, quando veio a intervenção de Oscar Ivanissevich, em março de 1975, retiraram-me da universidade e fiquei desprotegido”.
 
Este intelectual, que desde aquele momento adotou o México como destino do exílio e lugar de residência, é reconhecido por suas contribuições nos campos da filosofia, teologia e história. “No caso de um filósofo da periferia, do Sul, a biografia é parte do conteúdo. Os europeus e os norte-americanos já tem estabelecido o lugar a partir de onde falam, ao contrário, (em nosso caso) necessita-se explicar muitas coisas para dizer a partir de onde se fala”, afirma.
 
Reitor interino (2013-2014) da Universidade Nacional Autónoma da Cidade do México, atualmente é professor no Departamento de Filosofia na Universidade Autónoma Metropolitana (Cidade do México) e no Colégio de Filosofia da Faculdade de Filosofia e Letras da UNAM (Cidade Universitária). Veio à Argentina para receber o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Nacional de San Martín (UNSAM).
 
A entrevista é de Astrid Pikielny, publicada por La Nación, 16-08-2015. A tradução é do Cepat.
 
Eis a entrevista.
 
Que traços definem a cultura latino-americana?
 
Explicar a América Latina é explicar a história universal, porque os que chegaram aqui vinham do extremo do Ocidente: Finisterra, Portugal e Espanha. E os que estavam aqui eram o extremo oriente do Oriente. Os nossos indígenas são todos asiáticos, por raça e por mitos. E o choque foi o mais importante da história universal: o extremo ocidente com o extremo oriente. Isso me levou a repensar muitas coisas e ainda continuo ensinando isto, porque ainda continuamos sendo eurocêntricos, estudando estupidezes como a Idade Antiga, Medieval e Moderna, que foi uma invenção dos românticos. Repetimos estas coisas como se fosse a ciência e é pura ideologia.
 
Após 200 anos das revoluções no continente, você acredita que a América Latina deixou de ser colônia?
 
Começou a tomar consciência de que pode deixar de ser colônia. E esta primavera política, a dos governos populares, é a segunda emancipação. As revoluções de 1800 foram o primeiro movimento: uma quase independência política, militar, mas não mental, histórica e nem cultural. E entramos em um neocolonialismo do qual não saímos. Pela primeira vez na América Latina, de (Hugo) Chávez em diante, começa a ser levado a sério o tema de que seremos iguais aos Estados Unidos e Europa em um ou dois séculos de história. Não será em cinco dias, será um processo. Agora, também estamos caminhando com força porque já temos uma consciência nova, que não se cria por gênios teóricos, mas, ao contrário, é fruto de um processo e de uma história. Que eu possa dizer isto é resultado de que a América Latina está em outro nível de consciência. É a primeira vez que a “esquerda”, com muitas aspas, ou os progressistas começam a tentar fazer algo diferente.
 
É possível falar de primavera política, quando a região ainda exibe índices alarmantes de pobreza, desigualdade, exclusão e corrupção?
 
Os processos podem entrar em crise, burocratização, contradição, mas já começou uma nova história da América Latina, que eu considero irreversível. Há primaveras que depois se transformam em invernos e, em seguida, voltam a surgir primaveras. Eu falo de várias revoluções na América Latina. A cubana de 1959, que infelizmente teve que ser soviética e teoricamente há pouca originalidade. A chilena de Allende, uma alternativa socialista democrática que, se a houvessem deixado funcionar, teria dado muitos resultados, mas Pinochet a liquidou. A sandinista de 1979, uma revolução cultural que rompia os esquemas do marxismo-leninismo. Tudo isso vai lentamente abrindo um diagnóstico mais complexo da realidade. A revolução já não é instantânea, nem é tão clara, mas, ao contrário, é muito mais complexa, contraditória, leva mais tempo no tempo. E depois quase é preciso esperar a revolução de Chávez.
 
Acredita que na Venezuela houve uma revolução e que foi exitosa?
 
Não há êxitos: começa um processo que contará com altos e baixos. Agora, pode ocorrer um processo de corrupção democrática, é quase normal que ocorra e é quase milagroso que não aconteça. A burocratização das instituições é um processo inevitável.
 
O que Chávez contribuiu nesse processo?
 
Por exemplo, a recuperação do capital petróleo é fundamental. Estava completamente vilipendiado nas mãos de uma burocracia estrangeira. O país não se beneficiava com isso.
 
Também não parece se beneficiar muito agora, não é?
 
Eu não faço apologia a nenhum regime. É preciso ver a história de cada lugar. O que era a Venezuela, desde a época colonial? Uma capitania geral. Um lugar para onde iam os piratas; um lugar que, mesmo em comparação com a Colômbia ou o México, era um pouco terra de ninguém. Os venezuelanos não tiveram uma história, nem cultural e nem industrial, porque era um país muito diferente dos outros. É preciso conhecer essa história que, a partir de 1912, está vegetando, dependente do petróleo. Não havia sido propiciada uma produção industrial, não havia tido uma mentalidade em algumas coisas positivamente modernas e, então, não podemos dar murro em ponta de faca. A Venezuela não é o mesmo que o Brasil e a Argentina, mas houve mudanças fundamentais. E deu ao povo uma consciência. Toda essa gente marginalizada começou a ser mais autora. Isso não se faz em uma geração ou duas, leva mais tempo. Já não estamos na revolução instantânea, nem nos milagres, é um processo. Começou a primavera, mas virão invernos, outonos e outras primaveras. No fim do século XXI, teremos avançado.
 
Que a Venezuela tenha a inflação mais alta do mundo, que haja saques, que haja fraturas sociais...
 
O próprio fato de Chávez ter morrido tão jovem e com tanta capacidade de condução é uma lástima, mas é uma realidade. Morreu Chávez, que poderia ter continuado conduzindo um processo que eu chamaria de magistério. Que tenha existido um Chávez já foi algo excepcional: um homem que era um militar, que fez ciências políticas, e que estudou na universidade central.
 
E um homem que, há anos, pegou em armas contra o governo e liderou um golpe.
 
Há golpes e golpes. Contudo, não era um militar qualquer, era um homem culto, que pelo menos captava a política. Que presidente está nesse nível? García Linera. No mundo todo, não há um vice-presidente desse nível teórico.
 
Certa vez, você disse a Chávez que “a liderança perfeita é sua dissolução, é quando o líder já não é necessário porque o povo já sabe governar e participar”. Chávez gostou de sua ideia, mas fez totalmente o contrário. E quando se olha para o mapa da América Latina, em muitos casos, estão distantes disso porque continuam sendo terras de fortíssimas lideranças.
 
Nunca tratamos teoricamente a fundo o tema da liderança, tampouco os socialistas. Quem fez a revolução? Lenin, Mao, Fidel, todos grandes líderes. A liderança é essencial na política, mas é preciso haver muitos e em todos os níveis, gente que acredita no que diz e que esteja empenhada, como San Martín. Fidel Castro disse, certa vez: “Quando um povo acredita em alguém, é gente que se empenha pelo que pensa, mas a questão é que o povo acredite em si mesmo”. No entanto, está difícil que um povo acredite em si mesmo. Todos os meios de comunicação levam o povo a ter uma apreciação mínima de si mesmo e se entregar ao primeiro que lhe faz a propaganda da Coca-Cola.
 
Não está dando muito poder aos meios de comunicação, que, em definitivo, não esboçam políticas de Estado, nem implementam medidas de governo?
 
São os que criam as condições para. Você diz “eu tomo a decisão A” e pode ter sido a correta, mas os meios de comunicação dizem que é ruim, e fazem outra contrária. Se eu quero destruir alguém, posso fazer isso sempre porque sempre haverá uma razão contrária. A opinião pública é o ponto de partida da política.
 
Não está subestimando o cidadão?
 
Isso me dizem, às vezes. Uma vez explicava isto e os zapatistas me disseram: “Você desconfia do povo”. Contudo, como pode ser que alguém ainda vote em um governo que vende todos os recursos comuns de um país, como o governo mexicano? Está vendendo o petróleo e está recebendo propina, então liquida a jornalista que mostra como recebeu propina. E assim temos uma ditadura perfeita, como dizia Vargas Llosa, porque aparece como democracia e é pior que a ditadura militar...
 
Foi publicada uma pesquisa jornalística que sustenta que a filha de Chávez teria 4 bilhões de dólares. Não vejo em você nenhuma crítica aos excessos ou aos defeitos de Chávez. E se os teve, gostaria que me dissesse quais são.
 
A condição humana é falível. Eu pensava que Pinochet era um homem fanático, que se contentava com o exercício do poder. Quando se soube que havia roubado sete milhões de dólares para a família, Pinochet caiu para mim. Que a filha de Chávez tenha feito isso, bom, a filha cai para mim. Agora, não acredito que Chávez tenha feito isso. Não me resulta factível. No entanto, se fosse verdade, diria: “Pobre, caiu como outros seres humanos”. Não justificarei ninguém. Abriu um caminho que continuou com Correa, Evo Morales e muita gente.
 
Qual a opinião de alguém como você, com um compromisso político de esquerda, quando um governo como o kirchnerista intervém no Indec e deixa de medir a pobreza?
 
E por que deixou de fazer isso? Para que não se veja a pobreza?
 
É provável. É uma das leituras.
 
Retirar os indicadores da realidade é um erro porque não permite tomar as decisões. Dir-se-ia que está ruim e, se aumentou a pobreza, é necessário verificar a razão do aumento. Ora, é um fato o que aconteceu na Argentina, em fins do século XX, com as medidas de Menem e os neoliberais, assim pode haver resultados de processos anteriores. De qualquer forma, não se pode justificar e tampouco se pode em bloco apoiar algo. Por exemplo, na Venezuela as grandes universidades do Estado e até grandes professores marxistas são contra o processo de Chávez e não aceitam em nada o que se fez. Eu estive em Maracaibo, em uma reunião de intelectuais. Fomos visitar operários do petróleo e centenas nos receberam. Pediam para que eu, pessoalmente, autografasse um livro sobre política. Que um operário me peça que autografe um livro que está lendo é interessante, porque nesse livro eu digo: “Você é a sede do poder, não o Estado, nem o líder, nem ninguém, todos estão a seu serviço”.
Créditos da foto: reproducão

Cristina Kirchner defende Lula e Dilma e fala em 'conspiração' no continente

na Carta Maior

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, defendeu a presidente Dilma Rousseff durante pronunciamento em rede nacional de rádio e TV em seu país.

Marcia Carmo - BBC Brasil
Roberto Stuckert Filho
“O que está acontecendo em outros países da região, como o Brasil, é o que ocorreu na Argentina”, disse, referindo-se aos protestos contra seu governo em 2011. “Olhem o que estão fazendo com a Dilma”, afirmou.
 
Ela sugeriu que os “panelaços”, alguns “setores da imprensa” e da “Justiça” fariam parte de uma conspiração contra a colega brasileira.
 
Cristina lembrou manifestações ocorridas na Copa das Confederações, em 2013, e na Copa, no ano passado – quando Dilma foi vaiada em estádios – para afirmar que os atos contra a colega brasileira não eram claros. “Não se sabe bem por que”, disse.
 
 
Ela sugeriu ainda que a morte do então presidenciável Eduardo Campos (PSB-PE), ocorrida num acidente de avião em Santos (SP), em agosto de 2014, possa ter sido fruto dessa mesma conspiração contra a presidente brasileira.
 
“Ele não tinha se manifestado sobre (quem apoiaria) no segundo turno das eleições. E Marina Silva ocupou seu lugar e depois apoiou o outro candidato (Aécio Neves)”, afirmou.
 
Cristina disse ainda ter achado “tudo muito estranho, porque de repente os brasileiros, que gostavam de futebol, passaram a criticar (o futebol)”. "E, depois de Dilma, agora estão contra Lula.”
 
'Do norte'
 
A presidente argentina afirmou que essa "conspiração" pode ter partido “do Norte”. “As panelas têm marca registrada” de uma agência de investigações “do país do norte que tem interesse na América Latina”, disse, sobre os panelaços contra a colega brasileira.
 
Após o pronunciamento, voltou a citar o Brasil em discursos para militantes concentrados no pátio interno da Casa Rosada, sede do governo.
 
Com microfone em punho, e interrompida por aplausos, disse que “grande parte do que construímos devemos a eles, (Néstor) Kirchner, Hugo (Chávez) e Lula”. E reiterou o que já tinha declarado em cadeia nacional: “E por isso agora estão avançando contra Lula. Estejamos todos atentos”.
 
Cristina afirmou que a região registrou avanços nos últimos anos e que opositores querem “frustrar os processos de desenvolvimento social que alguns chamam de populista”.
 
E relatou um diálogo que teve com Dilma sobre a juventude de ambas.
 
"Na conversa, eu disse que tínhamos razão para estar irritadas, indignadas porque não havia eleições, havia ditadura, pessoas desaparecidas, torturadas, o que fizeram com a Dilma. Sempre andávamos com caras irritadas e uma palavra que disse à Dilma, mas não vou dizer aqui".
 
A presidente argentina, que passará a faixa presidencial em 10 de dezembro, disse ainda que “o resultado das urnas deve ser respeitado”, e ouviu seus apoiadores cantarem “Cristina no sé vá” (“Cristina não vai embora”) e “somos os soldados de Cristina”.


Créditos da foto: Roberto Stuckert Filho