domingo, 29 de março de 2015

Chomsky: o mundo que nossos netos herdarão?

POR NOAM CHOMSKY no Outras palavras
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Como EUA fortalecem, numa época já turbulenta, surgimento de grupos como ISIS. A estranha relação Washington-Telaviv. Nas mudanças climáticas, sinal de decadência do sistema
Entrevista a David Barsamian, na Jacobin | Tradução Pedro Lucas Dulci
Entrevistado pelo jornalista David Barsamian, o professor Noam Chomsky, explica as raízes do Estado Islâmico (ISIS) e porque os EUA e seus aliados são responsáveis pelo grupo. Particularmente, argumenta, a invasão do Iraque em 2003 provocou um divisão sectária que desestabilizou a sociedade iraquiana. Solo fértil para os sauditas estimularem grupos radicais.
A entrevista também toca no massacre israelense na faixa de Gaza, destacando o papel vital de Israel no tabuleiro político norte-americano. Chosmky conta, por exemplo, como Telaviv foi usada por Washington para fornecer, ao exército a Guatemala, as armas que permitiram o massacre contra comunidades maias. Era a época do governo Ronald Reagan; o Congresso havia proibido tal assistência militar — Israel prontificou-se a ser solução. 
Por fim, Chomsky compartilha seus pensamentos sobre o crescente movimento pela justiça climática e porque acha que essa é a questão mais urgente hoje. 
O Oriente Médio está em chamas, da Líbia até o Iraque. Existem novos grupos jihadistas. O foco atual é o ISIS. O que dizer sobre ISIS e as suas origens?
Há uma interessante entrevista que só apareceu há alguns dias atrás, com Graham Fuller, um ex-agente da CIA, um dos principais fontes da inteligência e dos analistas mainstream sobre o Oriente Médio. O título é “Os Estados Unidos criaram o ISIS”. Aparentemente, seria mais uma das milhares de teorias da conspiração que rondam o Oriente Médio.

Mas trata-se de algo diferente — que vai direto ao coração do establishment norte-americano. Fuller apressa-se em frisar que sua hipótese não significa dizer que os EUA decidiram dar existência ao ISIS e, em seguida, o financiaram. Seu — e eu acho que é algo acurado — é que os EUA criaram o pano de fundo em que o ISIS cresceu e se desenvolveu. Em parte, apenas devido à abordagem devastadora padrão: esmagar aquilo de que você não gosta.
Em 2003, os EUA e a Grã-Bretanha invadiram o Iraque, um crime grave. A invasão foi devastadora. O Iraque já havia sido virtualmente destruído, em primeiro lugar pela década de guerra com o Irã — no qual, aliás, Bagdá foi apoiado por os Washington — e depois pela década de sanções econômicas e políticas.
Tais sanções foram descritas como “genocidas” pelos dois respeitados diplomatas internacionais que os administravam e, que, por esse motivo, renunciaram em protesto. Elas devastaram a sociedade civil, fortaleceram o ditador, obrigaram a população a confiar nele para a sobrevivência. Essa é provavelmente a razão pela qual ele não seguiu o caminho natural de todos os outros ditadores que foram derrubados.
Por fim, os EUA simplesmente decidiram atacar o país em 2003. O ataque é comparado por muitos iraquianos à invasão mongol de mil anos atrás. Muito destrutiva. Centenas de milhares de pessoas mortas, milhões de refugiados, milhões de outras pessoas desalojadas, destruição da riqueza arqueológica e da riqueza do país da época suméria.
Um dos efeitos da invasão foi instituir imediatamente divisões sectárias. Parte do “brilhantismo” da força de invasão e de seu diretor civil, Paul Bremer, foi separar os grupos — sunitas, xiitas e curdos — uns dos outros, e instigá-los uns conta os outros. Após alguns anos, houve um conflito sectário brutal, deflagrado pela invasão.
Você pode enxergar isso se olhar para Bagdá. Um mapa de Bagdá de, digamos, 2002, revela uma cidade mista: sunitas e xiitas vivem nos mesmos bairros e casam entre si. Na verdade, às vezes nem sabiam quem era sunita, e quem era xiita. É como saber se seus amigos estão em um ou outro grupo protestante. Existiam diferenças, mas não eram hostis.
Na verdade, durante alguns anos ambos os lados diziam: nunca haverá conflitos sunitas-xiitas; Estamos muito misturados na natureza de nossas vidas, nos locais onde vivemos, e assim por diante. Em 2006, houve uma guerra feroz. Esse conflito se espalhou para todo o Oriente Médio — hoje, cada vez mais dilacerado por conflitos entre sunitas e xiitas.
A dinâmica natural de um conflito como esse é que os elementos mais extremos comecem a assumir o controle. Eles tinham raízes. Estão no mais importante aliado dos EUA, a Arábia Saudita, com a qual Washington está seriamente envolvidos desde a fundação do Estado nacional. É uma espécie de ditadura da família. O motivo é sua uma enorme quantidade de petróleo.
Mesmo do domínio dos EUA, a Grã-Bretanha sempre preferiu o islamismo radical ao nacionalismo secular, no mundo árabe. E quando os EUA passaram a ser hegemônicos no Oriente Médio, adotaram a mesma posição. O islamismo radical tem seu centro na Arábia Saudita. É o estado islâmico mais extremista, mais radical no mundo. Faz o Irã parecer um país tolerante e moderno, em comparação — e os países seculares do Oriente Médio árabe ainda mais, é claro.
A Arábia Saudita não é apenas dirigida por uma versão extremista do Islã, os salafistas wahhabistas. É também um Estado missionário. Usa seus enormes recursos petrolíferos para promulgar suas doutrinas em toda a região. Estabelece escolas, mesquitas, clérigos, em todo o lugar, do Paquistão até o Norte de África.
Uma versão extremista do extremismo saudita foi assumida pelo ISIS. Este grupo cresceu ideologicamente, portanto, a partir da forma mais extremista do Islã — a versão da Arábia Saudita — e dos conflitos engendrados pela invasão norte-americana, que quebraram o Iraque e já se espalharam por toda a região. Isso é o que Fuller argumenta, em sua hipótese.
A Arábia Saudita não só fornece o núcleo ideológico que levou ao extremismo radical do ISIS (e de grupos semelhantes que estão surgindo em diversos países), mas também o financia e lhe oferece apoio ideológico. Não é o governo de Riad que o faz — mas sauditas e kwaitianos ricos. O ataque lançado à região pelos Estados Unidos e pela Grã-Bretanha é a fonte, onde tudo se origina. Isso é o que significa dizer os EUA criaram ISIS.
Pode ter bastante certeza de que, à medida que esses conflitos se desenvolvem, eles se tornarão mais extremistas. Os grupos mais brutais tenderão a assumir o controle. É o que acontece quando a violência se torna o meio de interação. É quase automático: em favelas ou nos assuntos internacionais. As dinâmicas são perfeitamente evidentes. É este o papel do ISIS vem. E se for destruído, surgirá talvez algo ainda mais extremo.
Os meios de comunicação são obedientes. No discurso de 10 de setembro de Obama, ele citou dois países como supostas histórias de sucesso na estratégia de contra-insurgência dos EUA: Somália e Iêmen
O caso da Somália é particularmente horrendo. O Iêmen já é suficiente ruim, mas a Somália é um país extremamente pobre. Não há tempo para contar toda a história. Mas uma das grandes conquistas, um dos grandes orgulhos da política de “contraterrorismo” da administração Bush foi que eles tinham conseguido fechar uma instituição de caridade, a Barakat, que estaria alimentando o terrorismo na Somália. Enorme comoção na imprensa. Foi para eles uma conquista real.
Alguns meses mais tarde, os fatos começaram a vazar. A caridade não tinha absolutamente nada a ver com o terrorismo na Somália. O episódio tinha a ver era com bancos, comércio, assistência, hospitais. Atingir a Barakat era uma espécie de tentativa de manter a Somália profundamente empobrecida e economicamente golpeada. Existem algumas linhas sobre isso. Você pode ler em livros sobre finanças internacionais.
Houve um momento em que os chamados tribunais islâmicos, que eram chamados de uma organização islâmica, tinham conseguido uma espécie de paz na Somália. Não era um belo regime, mas pelo menos era pacífico e as pessoas o aceitavam mais ou menos. Os EUA não iriam tolerar isso, então apoiaram uma invasão etíope para destruí-la e transformar o lugar em um tumulto horrível. Essa é a grande conquista.
O Iêmen é uma história de horror própria.
Vamos à disputa de Israel contra os palestinos. Há algum tempo, um jornalista norte-americano, David Greene, conversou com um repórter em Gaza e fez o seguinte comentário: “Ambos os lados sofreram enormes danos”. Pensei para mim mesmo, isso significaria que Haifa e Tel Aviv foram reduzidas a escombros, como Gaza foi? Você se lembra do comentário Jimmy Carter sobre o Vietnã?
Não só me lembro, como acho que fui a primeira pessoa a comentar sobre isso, e provavelmente sou até hoje praticamente a única pessoa a comentar sobre ele. Fizeram a Carter, o defensor dos direitos humanos, uma pergunta leve, numa entrevista coletiva em 1977: você acha que temos alguma responsabilidade de ajudar os vietnamitas depois da guerra? Ele respondeu que não tínhamos nenhuma dívida com eles – “a destruição foi mútua”.
Isso passou sem comentários. E foi melhor do que o seu sucessor. Alguns anos mais tarde, George Bush I, o “estadista”, estava comentando sobre as responsabilidades norte-americanas após a Guerra do Vietnã, e disse: há um problema moral que permanece. Os vietnamitas do norte não empregaram recursos suficientes para entregar a nós os ossos dos pilotos americanos. Estes pilotos inocentes, derrubados sobre Iowa pelo assassino vietnamita quando estavam pulverizando colheitas, ou algo assim… Mas Bush disse: somos um povo misericordioso, por isso vamos perdoá-los por isso e vamos permitir-lhes entrar em um mundo civilizado…
O que significava: vamos permitir que eles entrem nas relações comerciais e assim por diante, o que, naturalmente, nós barramos, se eles pararem o que estão fazendo e dedicarem recursos suficientes para superar este crime pós Guerra do Vietnã. Sem comentários.
Uma das coisas que as autoridades israelenses continuam trazendo à tona, e é repetido aqui na mídia corporativa, ad nauseam, é o estatuto do Hamas. Eles não aceitam a existência do Estado de Israel, querem tirá-lo do mapa. Você tem alguma informação sobre a carta e seus antecedentes.
A carta foi produzida por, aparentemente, um grupo de pessoas, talvez dois ou três, em 1988, numa altura em que Gaza estava sob forte ataque israelense. Você se lembra de ordens de Yitzhak Rabin. Foi um levante fundamentalmente não-violento, ao qual Israel reagiu de modo muito violentamo, matando líderes, torturando, quebrando ossos, de acordo com as ordens de Rabin, e assim por diante. E bem no meio de tudo isso, um número muito pequeno de pessoas saiu com o que chamaram de um estatuto do Hamas.
Ninguém prestou atenção a ele desde então. Era um documento terrível. Mas desde então, as únicas pessoas que chamaram a atenção para ele foram a inteligência israelense e a mídia norte-americana. Ninguém mais se preocupa com isso. Khaled Mashal, o líder político de Gaza anos atrás, disse: olha, é passado, “já era”. Não tem nenhum significado. Mas isso não importa. Porque é propaganda valiosa para Telaviv.
Há também o fato de que, mesmo não sendo chamados de “estatuto”, há princípios fundadores da coalizão de governo em Israel. Nesse caso, não se trata de um pequeno grupo de pessoas, que estão sob ataque, mas da coalizão governista, o Likud. O núcleo ideológico do Likud é o Herut, de Menachem Begin. Eles sim têm documentos fundadores. Seus documentos fundadores dizem que Jordânia de hoje faz parte da terra de Israel; Israel nunca renunciará ao seu direito à terra da Jordânia. O que está agora chamado Jordânia eles chamam as terras históricas de Israel. Eles nunca renunciaram a isso.
O Likud,  partido do governo, tem um programa eleitoral – foi enunciado em 1999 e nunca revogado, é o mesmo hoje. Diz explicitamente que nunca haverá um Estado palestino a oeste do Rio Jordão. Em outras palavras, “estamos empenhados, por princípio, na destruição da Palestina”. E não são apenas palavras. Os governantes de Israel agem dia a dia para implementá-las.
Há uma história interessante sobre a chamada Carta da Organização pela Libertação da Palestina, a OLP. Por volta de 1970, o ex-chefe da inteligência militar israelense, Yehoshafat Harkabi, publicou um artigo em uma das principais revistas de Israel em que trouxe à luz algo chamado de “Carta da OLP” ou algo semelhante. Ninguém nunca tinha ouvido falar dela, ninguém estava prestando atenção nela.
E a carta diz: nosso objetivo é a nossa terra, vamos assumi-la. Na verdade, não era diferentemente das alegações do Herut, exceto o lugar de origem. Isto se tornou instantaneamente uma questão enorme em toda a mídia. Foi chamada de “A aliança OLP”. “A aliança OLP” planeja destruir Israel. Ninguém sabia nada sobre isso, mas repentinamente tornou-se uma questão importante.
Eu conheci um ex-chefe da inteligência militar israelense, Harkabi, alguns anos mais tarde. Era um moderado, aliás, um cara interessante. Tornou-se bastante crítico da política israelense. Tivemos uma entrevista aqui no MIT. Eu lhe perguntei: “Por que você trouxe à tona o documento, no instante em que pensavam em revogá-lo?” Ele olhou para mim com o olhar vazio, que você aprende a reconhecer quando você está falando com fantasmas. Eles são treinados para fingir que não entendem o que você está falando, embora entendam perfeitamente.
Ele disse: “Oh, eu nunca ouvi isso”. É algo além do concebível. É impossível que o chefe da inteligência militar israelense não saiba o que sei por ter lido trechos de imprensa árabe em Beirute. É claro que ele sabia.
Existe todo tipo de motivos para acreditar que decidiu trazer à tona precisamente porque reconheceu — ou seja, a inteligência israelense reconheceu — que seria uma peça útil de propaganda e é melhor tentar garantir que os palestinos a mantenham. É lógico que se nós os atacamos, eles dirãop: nós não vamos revogar nosso estatuto sob pressão. É o que está acontecendo com o estatuto do Hamas.
Hoje é impossível documentar isso, por uma razão simples. Os documentos estavam todos nos escritórios da OLP em Beirute. E quando Israel invadiu Beirute, roubaram todos os arquivos. Presumo que devem tê-los em algum lugar, mas ninguém vai ter acesso a eles.
O que explica a unanimidade quase absoluta do Congresso dos EUA em apoio Israel? Mesmo Elizabeth Warren, o senadora democrata altamente elogiada de Massachusetts, votou a favor desta resolução sobre a auto-defesa.
Ela provavelmente não sabe nada sobre o Oriente Médio. Acho que isso é bastante óbvio. Tome as armas dos EUA pré-posicionadas em Israel para serem usadas em possíveis ações militares na região. Isso é um pequeno pedaço de uma aliança militar e de inteligência muito próxima, que remonta a décadas. Ela realmente decolou depois de 1967, embora já existisse embrionariamente.
Os militares e a inteligência dos EUA incluem Israel entre suas bases principais. Na verdade, uma das revelações mais interessantes do WikiLeaks foi a relação dos centros considerados estratégicos pelo Pentágono, ao redor do mundo — aqueles que serão defendidos a todo custo. Um deles é uma grande instalação militar, algumas quilômetros distante Haifa: as indústrias militares Rafael.
Muita tecnologia drone foi desenvolvida ali. Depois, a sede e a gestão da Rafael foram mudadas para Washington, onde está o dinheiro. Isso é indicativo do tipo de relacionamento que existe. E vai muito além. Os investidores norte-americanos estão num relação de amor com Israel. Warren Buffet acaba de comprar uma empresa israelense por alguns bilhão de dólares e anunciou que, fora os EUA, Israel é o melhor lugar para investir. As grandes empresas, como a Intel e outras, estão investindo pesadamente em Israel. É um cliente valioso: é estrategicamente localizado, complacente, faz o que os EUA querem, está disponível para a repressão e violência. Os EUA têm usado cada vez mais, como uma forma de contornar as restrições do Congresso e de alguns setores da população sobre violência.
Tome, por exemplo, o caso da Guatemala. O presidente Ronald Reagan, que foi extremamente brutal e violento, bem como um terrível racista, quis fornecer suporte direto para o ataque do Exército da Guatemala contra os índios maias — algo literalmente genocida. Houve uma resolução do Congresso que bloqueou a resolução. Então ele fez a ponte com seus clientes terroristas.
O principal deles foi Israel — também participaram Taiwan e alguns outros. Israel forneceu as armas para o Exército da Guatemala – até hoje eles usam armas israelenses – providenciando treinamento para executarem o ataque genocida. Esse é um dos seus serviços. Fizeram o mesmo na África do Sul.
Agora, crianças e muitos outros refugiados estão fugindo de três países: El Salvador, Honduras e Guatemala. Não da Nicarágua, tão pobre como Honduras. Existe uma diferença? Sim. A Nicarágua é o único país da região que tinha, na década de 1980, uma maneira de se defender contra as forças dos EUA – um exército. Nos outros países o exército eram as forças terroristas, apoiadas e armadas pelos EUA, ou por seu cliente israelense no pior dos casos. Então é isso que você tem.
Existe uma grande quantidade de relatórios otimista dizendo que o fluxo de crianças da América Central para os EUA diminuiu. Por quê? Porque nós pressionamos o governo mexicano e lhe dissemos para usar a força e impedir que as vítimas de nossa violência fujam para os EUA, tentando sobreviver. Agora, os mexicanos fazem isso por nós, por isso há menos pessoas vindo para a fronteira. É uma grande conquista humanitária de Obama…
Incidentalmente, Honduras está na liderança. Por que Honduras? Porque em 2009, houve um golpe militar no país. O presidente Zelaya, que estava começando a fazer alguns movimentos em relação a reformas extremamente necessárias, foi derrubado e expulso do país. Eu não vou passar os detalhes, mas os EUA, sob Obama, foram um dos poucos países que reconheceu o regime golpista e a eleição que ocorreu sob a sua égide. Honduras transformou-se em uma história de horror pior do que era antes, batendo recordes no número de homicídios e violência.
Parece ter surgido uma oportunidade para que a população curda do Iraque alcance algum tipo de soberania. Isso se cruza, na verdade, com os interesses israelenses no Iraque. Eles têm apoiado os curdos, ainda que de forma clandestina, mas é bem sabido que Israel tem pressionado para a fragmentação do Iraque.
Eles estão fazendo isso. E isso é um dos pontos em que há conflito entre a política israelense e a norte-americana. As áreas curdas têm litoral. O governo do Iraque bloqueou sua exportação de petróleo, seu único recurso, e, claro, opõe-se a construção do Estado curdo. Os EUA até agora tem apoiado esta atitude.
Clandestinamente, há um fluxo de petróleo em algum nível da área curda na Turquia. Essa também é uma relação muito complexa. Massoud Barzani, líder curdo iraquiano, visitou a Turquia cerca de um ano atrás e fez alguns comentários bastante impressionantes. Ele era bastante crítico da liderança dos curdos turcos e estava claramente tentando estabelecer melhores relações com a Turquia, que tem reprimido violentamente os curdos turcos.
A maioria dos curdos no mundo está na Turquia. Você pode entender o porquê, do ponto de vista deles. Essa é a única saída para o mundo exterior. Mas a Turquia tem uma atitude dúbia a respeito. Um Curdistão independente, ao norte do Iraque, bem próximo às áreas curdas da Turquia, ou nas áreas curdas da Síria, poderia encorajar os esforços para autonomia no sudeste da Turquia, que é fortemente curda. Os turcos têm lutado muito brutalmente contra isso desde que a Turquia moderna surgiu, na década de 1920.
O Curdistão conseguiu, de alguma forma, atrair petroleiros transportar petróleo a partir de seu território. Esses navios estão vagando em torno do Mediterrâneo. Nenhum país irá aceitá-los, a não ser, provavelmente, Israel. Nós não podemos ter certeza, mas parece que estão ficando com um pouco. Os petroleiros curdos estão buscando alguma forma de descarregar seu petróleo no Mediterrâneo oriental. Isso não está acontecendo em um volume que permita ao Curdistão funcionar, mesmo para pagar seus funcionários.
Na chamada capital curda, Erbil, há arranha-céus sendo erguidos, abunda alguma riqueza. Mas é um tipo de sistema muito frágil, que não pode sobreviver. O país está completamente cercado por regiões hostis.
Em nosso último livro, Power Systems, eu lhe pergunto, “Você tem netos. Que tipo de mundo eles herdarão?”
O mundo que estamos criando para nossos netos é ameaçador. Uma das maiores preocupações é a relacionada ao aquecimento global.
Isso não é brincadeira. Esta é a primeira vez na história da espécie humana que temos de tomar decisões que irão determinar se haverá uma sobrevivência decente para nossos netos. Isso nunca aconteceu antes. Já tomamos decisões que estão acabando com espécies de todo o mundo em um nível fenomenal.
O nível de destruição de espécies no mundo de hoje está acima do nível de 65 milhões de anos atrás, quando um enorme asteróide atingiu a Terra e teve efeitos ecológicos horripilantes. Ele encerrou a era dos dinossauros, que foram aniquilados. Ele deixou uma pequena abertura para os pequenos mamíferos, que começaram a se desenvolver, e, finalmente, nós. A mesma coisa está acontecendo agora — a diferença é que somos o asteroide. O que estamos fazendo com o meio ambiente já está criando condições como as de 65 milhões anos atrás. A imagem não é bonita.
Em setembro do ano passado, uma das principais agências de monitoramentos científico internacional apresentou os dados sobre as emissões de gases de efeito estufa para o ano mais recente em registro, 2013. Eles atingiram níveis recordes: subiram mais de 2% para além do ano anterior. Nos EUA subiram ainda mais alto, quase 3%. No mesmo mês, o Journal of the American Medical Association saiu com um estudo sobre o número de dias super quentes previstos para Nova York, durante as próximas décadas. Estes dias vão triplicar — e os efeitos serão muito piores no Sul do planeta. Coincide com o aumento previto previsto do nível do mar, que vai colocar uma grande parte de Boston debaixo da água. Sem falar no  litoral plano Bangladesh, onde centenas de milhões de pessoas vivem, mas que serão desalojas.
Tudo isso é iminente. E neste exato momento a lógica das nossas instituições é conduzir o processo para frente. A Exxon Mobil, que é o maior produtor de energia, anunciou – e você realmente não pode criticá-los por isso, pois esta é a natureza do sistema capitalista, a sua lógica – que eles está direcionando todos os seus esforços para prospectar combustíveis fósseis, porque é rentável. Na verdade, isso é exatamente o que eles deveriam estar fazendo, no quadro institucional em que vivemos. Eles deveriam buscar lucros. E se isso elimina a possibilidade de uma vida digna para os netos, não é seu problema.
A Chevron, outra grande empresa de energia, tem um pequeno programa sustentável, principalmente por razões de relações públicas, mas estava indo razoavelmente bem, chegou a ser realmente rentável. Eles simplesmente encerraram os programas sustentáveis, porque os combustíveis fósseis são muito mais rentáveis.
Nos EUA, agora há perfuração em todo o lugar. Mas há um lugar onde foi um pouco limitado, terras federais. Lobbies de energia estão queixando-se amargamente de que Obama cortou o acesso a terras federais. O Departamento de Interior apresentou as estatísticas. É o oposto. A perfuração de petróleo em terras federais tem aumentado constantemente sob Obama. O que tem diminuído é de perfuração no mar.
Mas isso é uma reação ao desastre da British Petroleum no Golfo do México. Logo depois do desastre, a reação imediata foi a recuar. Mesmo as empresas de energia recuaram da perfuração em águas profundas. Os lobbies estão apresentando estes dados em conjundo — mas se você olhar para a perfuração em terra, ela só aumenta. Há muito poucas restrições. Essas tendências são muito perigosas, e você pode prever que tipo de mundo haverá para os seus netos.

sábado, 28 de março de 2015

Brasil é sócio de banco chinês que peita os EUA

no Conversa Afiada
A nova Rota da Seda sai do Leste da China e chega às barbas dos americanos, na Holanda !



por José Gilbert Arruda Martins

Cansei de ler, resolvi assistir ao Documentário Fahrenheit 9-11 Legendado - YouTube do grande cineasta estadunidense  Michael Moore.

Durante o filme, exposto de forma contundente e, usando, na maioria do tempo, fontes oficiais para imagens e documentos, Moore, consegue desmontar a suposta democracia tão falada, estudada e defendida até por tucanos aqui no Brasil.

A verdade é que a democracia dos EUA é para incautos, para ignorantes do que seja um sistema de participação popular.

Nas eleições que levaram ao poder o Bush filho, o pleito foi decidido pela Suprema Corte, jogando no lixo a participação dos eleitores de lá.

De Lula da Silva a Dilma Roussef, a política externa brasileira tomou um rumo completamente diverso do que vinha sendo implementado no país até então.

As medidas adotadas foram de autonomia. Nos aproximamos da áfrica - Mãe, da Rússia da Ásia e, principalmente da China.

Chegamos, inclusive, a permitir, pela primeira vez na história, a participação de uma empresa chinesa no leilão do pré-Sal. Contrariando completamente as orientações do Tio Sam.

É, na verdade, um momento importante da história da nossas relações internacionais.

Nossos novos representantes, formados lá na Rio Branco, precisam estudar e conhecer a importância desse momento, não podemos permitir que um "zé mané" embaixador coxinha, vá lá - na Rio Branco - e exponha de forma conservadora e entreguista como, por sinal, marcou a maior parte das nossas relações com mundo até Amorim.

Parabéns ao Brasil, aos Brics e à China.

É uma porrada no estômago do imperialismo disfarçado de democracia dos EUA.





Brasil é sócio de banco
chinês que peita os EUA


A nova Rota da Seda sai do Leste da China e chega às barbas dos americanos, na Holanda !
Bye, bye FHC ! Bye !



Conversa Afiada reproduz nota oficial da Presidenta Dilma:

BRASIL SERÁ MEMBRO-FUNDADOR DO BANCO ASIÁTICO DE INVESTIMENTO EM INFRAESTRUTURA


O governo brasileiro aceitou o convite da República Popular da China para participar como membro-fundador do Asian Infrastructure Investiment Bank (AIIB).

A presidenta Dilma Rousseff anunciou, nesta sexta-feira, 27, que o Brasil tem todo o interesse de participar desta iniciativa, que tem como objetivo garantir financiamento para projetos de infraestrutura na região da Ásia.


Sobre o AIIB:

http://en.wikipedia.org/wiki/Asian_Infrastructure_Investment_Bank

Sobre o principal projeto do AIIB: construir uma nova Rota da Seda, por terra, para sair do Leste da China e chegar ao coração da Europa, via Rússia, Turquia, até Rotterdam, na Holanda, nas barbas dos americanos:

http://www.xinhuanet.com/english/special/silkroad/

Sobre a reação americana – a ficha caiu quando a Alemanha (protetorado americano) e a Inglaterra (agencia bancaria dos Estados Unidos) aderiram ao AIIB:

http://www.nytimes.com/2015/03/20/world/asia/hostility-from-us-as-china-lures-allies-to-new-bank.html

Navalha
Usuais vira-latas, o Clóvis Rossi e o dos chapéus (ver no ABC do C Af) vão cortar os pulsos.
Eles terão a companhia da Urubóloga e do Ataulfo Merval (também no ABC do C Af) na macabra cerimônia.
Ataulfo, como se sabe, estará na companhia de William Traaack (no ABC do C Af) e do Fernando Oculto, que deram valiosos “briefs” (não mexa, revisor !) ao embaixador americano na eleição em que o Cerra tomou a primeira surra.
O embaixador americano não sabia em que fria ia se meter …
Essa é a turma que tira o sapato na entrada.
E se ajoelha para sair.
É o pessoal que vai detestar o imperdível livro do Celso Amorim.



Em tempo: como se sabe, o FHC, o Cerra e o Aecioporto preferiam que o Brasil aderisse à “Rota do Pacifico”, a nova ALCA dos americanos. Seria composta dos países asiáticos adversários da China – como o Japão (protetorado americano) – e uns latino-americanos com vocação para México (outro protetorado americano). FHC fala em integrar o Brasil às “correntes internacionais de comércio” – ou seja, tirar o sapato… E a primeira forma de integração seria integrar o pré-sal à Chevron – PHA


Paulo Henrique Amorim

Na Tunísia, Via Campesina defende fortalecimento da soberania alimentar

no Portal do MST
Debate realizado no Fórum Social Mundial, em Túnis, expôs a necessidade de combater o modelo de produção das multinacionais e fortalecer a produção familiar agroecológica.

por José Gilbert Arruda Martins
O FSM é uma importante "arma" que os movimentos sociais do mundo têm para combater a crescente destruição da vida no planeta.
A destruição da vida, não apenas do meio ambiente, mas a vida humana em todos os sentidos.
Vejamos, o grande capital é o responsável pelo controle das grandes empresas e empreendimentos que hoje poluem e aumentam a camada de ozônio além de fragilizar praticamente todos os ecossistemas, um exemplo absurdo, são os efeitos no fundo dos ocanos com extinção ou diminuição de corias que são importantes fontes de oxigênio para a vida na terra.
O FSM é um instrumento fundamental para alertar e educar as novas gerações criando a possibilidade, através da educação e de uma nova cultura preservacionista e alternativa, de um futuro onde se construíra relações com o planeta terra muito mais respeito.
As alternativas, que o grande capital rentista passa a todos e todas, é que só temos uma, exatamente aquela predatória, que, para produzir em larga escola, tem que ter depredação, em outras palavras é exatamente o que defendem.
Agora, esse debate e as resoluções e decisões do Fórum Social Mundial, precisam ser debatidos nas escolas e universidades de todo o mundo, do contrário pode virar letra morta e apenas retórica.

Na Tunísia, Via Campesina defende fortalecimento da soberania alimentar

Debate realizado no Fórum Social Mundial, em Túnis, expôs a necessidade de combater o modelo de produção das multinacionais e fortalecer a produção familiar agroecológica.
Por Simone Freire
Especial à Página do MST, de Túnis (Tunísia)

A necessidade de reverter a atual crise do sistema alimentar se torna cada vez mais urgente, e a possibilidade de solucionar essa questão estaria na criação de alternativas que visem o fortalecimento da produção familiar agroecológica. Esta foi a conclusão de uma das primeiras atividades da Via Campesina no Fórum Social Mundial 2015 (FSM), em Túnis (Tunísia), nesta quarta-feira (25).

Sob o tema “Recuperar os sistemas alimentares locais”, a atividade propôs um intercâmbio das experiências ao redor do mundo. Para os presentes, o primeiro passo para ampliar este tipo de produção é romper com a lógica capitalista, que entende o alimento como mercadoria e trata a alimentação como uma ação mecanizada.

“Precisamos pensar como podemos nos apropriar do sistema alimentar. Quando compramos comida esquecemos que isso é um ato político”, destacou Judith Hirchman, da rede internacional de apoio à agricultura comunitária, URGENCI.

Para ela, entender a diferença entre segurança alimentar e soberania alimentar também é um ponto chave no debate, pois, embora eles estejam relacionados, há diferenças quando se vai à luta prática e real. 

“Nós queremos comida local produzida por produtores pequenos, sem produtos químicos, sem veneno. Mas, soberania também é decidir o que e como comer. Na cidade, por exemplo, precisamos saber de onde vem nosso alimento. A agroecologia é uma forma de entender a alimentação das pessoas e se passa a ideia de solidariedade coletiva. Não está relacionada às transnacionais”, disse.

Para Adriana Oliveira, do MST, também se deve romper com a ideia de padronização alimentar e qualquer forma de produção transgênica, uma vez que ela não respeita a terra, a biodiversidade e as particularidades de cada região.

Com um papel de “guardiãs das sementes”, a integrante do MST também destacou a participação fundamental da mulher na produção desses alimentos. 

“Temos que ter um olhar sobre a agricultura de semear, proteger e respeitar o tempo da natureza. A agricultura precisa dialogar com a biodiversidade de cada local, ao contrário do monocultivo”, explica.

A experiência brasileira

No Brasil, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) do ano passado, há mais de quatro milhões de estabelecimentos familiares rurais. A participação desses agricultores no Produto Interno Bruto (PIB) Agropecuário é de 33% e, no que se refere à geração de empregos, o setor emprega 74% da mão de obra no campo.

Sob esta perspectiva, os Sem Terra buscam criar uma grande rede de produção alimentar. Não à toa, o MST possui 100 cooperativas e 96 agroindústrias, que buscam fortalecer a economia e renda das milhares de famílias assentadas e acampadas por todo o Brasil. 

Sua produção inclui arroz, feijão, milho, batata, mandioca, leite, entre outros alimentos que são destinados para consumo das próprias famílias, mas também comercializados em feiras e enviados para a merenda escolar de alguns municípios.

Partilhando estas experiências concretas, Adriana expôs alguns exemplos no sul do Brasil. O primeiro deles foi o de Santa Tereza do Oeste, a cerca de 520 quilômetros de Curitiba, no oeste do Paraná, onde o Movimento ocupou um terreno da multinacional suíça Syngenta AG (SYT)* usado para plantio de milho transgênico. “A Via Campesina ocupou esta aérea e hoje tem dezenas de famílias produzindo alimentos agroecológicos com uma produção cooperada”, disse.

Outro exemplo foi o da ocupação na área da Fazenda Tabapuã, em Centenário Sul, pertencente ao grupo Atalla, dona da Usina Central do Paraná. Lá, cerca de 1.500 famílias vivem e também produzem alimentos. 

“O que se via antes era apenas queima do solo e agrotóxicos para a produção de etanol. Era uma cidade sem população porque a população da cidade só existia no momento do corte de cana-de-açúcar”, explicou. Atualmente, a ocupação tem se fortalecido e já possui, inclusive, uma escola itinerante para mais de trezentas crianças. 

O papel do Estado

Além de lutar contra o poder das multinacionais, os movimentos do campo também travam uma resistência com o Estado. Políticas públicas nacionais e acordos internacionais estão cada vez mais atrelados ao mercado internacional e tendem a dificultar e atrasar os avanços da agroecologia.

Para Judith, neste sentido, o problema estaria no fato dos Estados (e as pessoas, de modo geral) não reconhecerem o alimento como um direito. 
“As autoridades não reconhecem a inclusão social. O que queremos é que as autoridades reconheçam as alternativas. Os acordos internacionais tendem a roupar a soberania e a sobrevivência local”, disse, ao alertar a necessidade de resistir a este processo.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Cortada em rede nacional.





por Mateus Falcão.

"Isso é futebol". Bem, é também assim que os escravagistas justificavam a escravidão, " É a ordem natural das coisas".
"Isso é futebol", as mulheres eram (são ainda em boa parte) mantidas sobre preceitos e controles justificados na frase, "Esse é o seu papel."
"Isso é futebol", é assim também que é falado para as jovens moças que depois de uma violência ouvem, "Estava procurando/querendo".
Não. Não, isso não é futebol. Isso é um conceito enraizado na sociedade que para depreciar os outros é dito, "Mulherzinha, Viado, Bicha, Menininha...", para que seja jogado a pessoa em uma "minoria" onde está voltado todo o ódio e rancor do povo para que esse se sinta inferiorizado quando se depara nesse meio. Qual é a fraqueza ou qual xingamento pode uma pessoa receber ao ser chamado de "Mulherzinha", quando as mulheres carregam por noves meses bebês que só sairão delas depois de tremendo esforço e imensurável dor?
Não. Não há fraquezas nas "minorias", não há fraquezas nos que vivem de acordo com seus próprios preceitos.
Há fraquezas nos que julgam, que apontam e que se enojam ao simples ato de olhar um ser humano que lhe foge da REGRA GERAL DA SOCIEDADE.
Vamos repensar as mais simples palavras e tentar mostrar um mundo melhor para as gerações que virão.

Homo ignorans

no Portal Carta Maior

Pessoas inteligentes e informadas conseguem ignorar o gigantesco desvio de recursos através dos bancos, e culpam o eterno bode expiatório que é o governo.

401(K) 2012 / Flickr
Ladislau Dowbor

O homo sapiens todos conhecemos. Inclusive a maior parte da teoria econômica e das teorias das transformações sociais se baseia numa compreensão otimista de que o homem absorve conhecimentos, confronta-os com os seus objetivos racionalmente entendidos, e procede de acordo. Quando erra, analisa os erros e corrige a sua visão para não repeti-los.
 
Naturalmente, é agradável pensarmos que somos, conforme aprendi na escola, animais racionais, racionalidade que nos separaria confortavelmente dos animais. As minhas dúvidas aumentam proporcionalmente à minha idade, o que significa que são elevadas. Pensar que somos mais do que somos é uma atitude muito difundida. A bíblia já abre com o tom adequado: Deus nos criou à sua imagem e semelhança, o que implica por virtude dos espelhos que somos semelhantes nada mais nada menos que a Ele. O tamanho desta pretensão, e o fato de passar tão desapercebida e natural, já mostra a que ponto a nossa racionalidade pode ser adaptada ao que é agradável, mas não necessariamente ao que é verdadeiro.
 
Pensar na dimensão irracional da nossa inteligência, ou nas raízes interessadas e ideologicamente deformadas do que nos parece racionalmente verdadeiro, é muito interessante. Fazemos uma construção racional em cima de fundamentos profundamente enterrados na confusão de paixões, medos, ódios e sentimentos contraditórios. Quanto maior o preconceito – no sentido literal, raiz emocional que assume a postura antes do entendimento - maior parece ser a busca do sentimento de superioridade moral.
 
Devemos lembrar como foram denunciados e massacrados ou ridicularizados os que lutaram pelo fim da escravidão, pelo fim da discriminação racial, pelos direitos de organização dos trabalhadores, pelo voto universal, pelos direitos das mulheres? A imensa batalha que foi chegar ao intelecto dos dominantes que um povo colonizar outro não dá certo? Hoje é a mesma luta pela redução das desigualdades, pelo fim da destruição do planeta, pela democratização de uma sociedade asfixiada por interesses econômicos. Aqui precisamos de muito bom senso e generosidade. Ou seja, emoções e indignações sim, mas apoiadas na inteligência do que acontece no mundo e visando o interesse maior de todos, e não no interesse particular de defesa dos privilégios.
 
Aqui realmente é preciso de muita ignorância, ou seja, desconhecimento (voluntário ou não), para não se dar conta dos desafios reais. O aquecimento global é uma ameaça real, mas a direita tende a negar, como se o termômetro e os gazes de efeito de estufa fossem de esquerda. O desmatamento generalizado do planeta está levando a perdas de solo fértil em grande escala, quando iremos precisar de mais área de plantio. A vida nos mares está sendo esgotada pela sobrepesca e em 40 anos, segundo o WWF, perdemos 52% da vida vertebrada no planeta. É um desastre planetário espantoso, mas não aparece na mídia comercial. Os dados sobre a inviabilização ambiental do planeta são hoje amplamente comprovados. Há controvérsias, nos dizem. Mas é questão de opinião ou de conhecimento dos dados?
 
No plano social é mais impressionante ainda: até o Fórum Econômico em Davos escuta e divulga as pesquisas da Oxfam, do Banco Mundial e das Nações Unidas, dos inúmeros institutos de pesquisa estatística em todos os países sobre a desigualdade crescente da renda. Pior, temos agora os dados da desigualdade do patrimônio acumulado das famílias – 85 famílias são donas de mais riqueza acumulada do que 3,5 bilhões de pessoas na base da pirâmide social – gerando tensões insustentáveis. Mas em Wall Street enchem a boca e declaram “greed is good”. Sobre esta desigualdade de patrimônio uma das principais fontes é o Crédit Suisse, que tem boas razões para entender tudo de fortunas familiares. Nem os dados da própria direita parecem convencer a direita, se não confirmam os seus preconceitos.
 
Vamos tampar os olhos e fazer de conta que acreditamos que é possível manter a paz política e social num planeta onde 1,3 bilhões não têm acesso à luz elétrica, 2 bilhões não têm acesso a fontes decentes de água, e 850 milhões passam fome? Tem sentido acreditar no bom pobre¸ que se resigna e aceita, quando hoje até no último degrau da pobreza há uma consciência do direito a ter uma escola decente para o filho, saúde básica para a família? Aqui já não são apenas os olhos e os ouvidos que estão tapados, e sim a própria inteligência. O homo ignorans raciocina com o fígado.
 
E porque toda esta riqueza acumulada no topo não serve para as reconversões tecnológicas que nos permitam salvar o planeta, e para financiar as políticas sociais e inclusão produtiva capaz de reduzir as desigualdades? Basicamente porque está situada em paraísos fiscais, aplicada em sistemas de especulação financeira, sequer orientada para investimentos produtivos tradicionais. Os 737 grupos que controlam 80% das atividades corporativas do planeta são essencialmente grupos financeiros. Fonte? O Instituto Federal Suíço de Pesquisa Tecnológica. São recursos que não só se aplicam em especulação financeira em vez de financiar investimentos produtivos, como migram para paraísos fiscais onde não pagam impostos. O Economist estima que sejam 20 trilhões de dólares, um pouco menos de um terço do PIB mundial.
 
O Brasil tem cerca de 520 bilhões de dólares em paraísos fiscais, da ordem de 25% do PIB. O HSBC que o diga. Mas no Brasil a grande vitória é a eliminação da CPMF que cobrava ridículos 0,38% sobre movimentações financeiras. No Brasil pessoas inteligentes e informadas conseguem ignorar o gigantesco desvio de recursos através dos grandes intermediários financeiros, e culpam o eterno bode expiatório que é o governo. Em particular quando comete o pecado de melhorar a condição dos pobres. Ainda bem que temos a corrupção para canalizar a atenção e os ódios. O uso produtivo dos recursos não seria mais inteligente?
 
Não há nenhuma confusão sobre as dimensões propositivas: se estamos destruindo o planeta em proveito de uma minoria que pouco produz e muito especula, trata-se de tributar a riqueza improdutiva para financiar as políticas tecnológicas, ambientais e sociais indispensáveis aos equilíbrios do planeta. Com Ignacy Sachs e Carlos Lopes apontamos rumos básicos no documento Crises e Oportunidades em Tempos de Mudança, não são ideias que faltam: falta muita gente que tampa o sol com a peneira dos seus interesses se dar conta dos desafios reais que enfrentamos. Aliás, o norte é bem simples: toda política que reduz as desigualdades, protege o meio ambiente, e tributa capitais improdutivos contribui não para salvar um governo, mas para nos salvar a todos. E um país do tamanho do Brasil tem como trunfo fundamental, nesta época de turbulências planetárias, a possibilidade de ampliar a base econômica interna através da inclusão produtiva.
 
Confesso que ando preocupado. Parece que quanto maior a bobagem declarada, maior o sentimento de superioridade moral. E o ódio, esta eterna ferramenta dos preconceituosos, é um sentimento agradável quando se consegue encobrir o interesse com um véu de ética. Nesta nossa guerra permanente entre o frágil homo sapiens e o poderoso e arrogante homo ignorans, a olhar pelo mundo afora, e pelos gritos histéricos de extremistas por toda parte – sempre em nome de elevados sentimentos morais e com  amplas justificações racionais – o direito ao ódio parece superar todos os outros. Pobre Deus, nosso semelhante.

Um Belo Livro "As relações perigosas"

no blog Razão e Resenhas de Viviane Blood


Uma troca de cartas repleta de segredos de alcova, engenhosas estratégias de manipulação e cruéis jogos de poder vem a público em As relações perigosas, clássico romance francês escrito por Chordelos de Laclos no século 18. Considerada uma das obras mais controversas, discutidas e representativas da França pré-revolução, o título ganha nova edição pela Biblioteca Azul, selo editorial da Globo Livros, 20 anos após sua última publicação no Brasil. A obra mantém a tradução de Carlos Drummond de Andrade, que apresentou a história de Laclos ao público brasileiro em 1947, e o posfácio também assinado pelo poeta, com textos revisados. O clássico romance francês de 1782 conta, por meio de cartas trocadas pelos personagens, as artimanhas de dois libertinos, o visconde de Valmont e a marquesa de Merteuil, em sua disputa por seduzir e descartar amantes – como Cécile, jovem confidente da marquesa que está prestes a se casar, e a virtuosa, porém já casada, madame de Tourvel. Na época de sua publicação, a imoralidade da obra e a crueldade dos protagonistas chocaram a alta nobreza e renderam um processo a Laclos. Em 1823, o tribunal correcional do Sena mandou destruir “esse escrito perigoso que ultraja os bons costumes”. Para sorte da literatura, porém, o livro sobreviveu e ultrapassou os séculos mantendo o mesmo vigor de antes: encantou escritores como Baudelaire, Stendhal, Gide e Deleuze, e ganhou diversas adaptações no cinema com diretores como Roger Vadim, Stephen Frears e Milos Forman, e atores como Jeanne Moreau, Jean-Louis Trintignant, Glenn Close, John Malkovich, Michelle Pfeiffer e Annette Benning. 
Autor: Choderlos de Laclos| Editora: Globo Livros| Número de páginas: 517 

GESTÃO ALCKMIN - Trabalhadores da USP aprovam moção de apoio à greve dos professores da rede estadual

no Rede Brasil Atual
Categoria faz assembleia nesta sexta-feira, às 14h, no vão livre do Masp, na avenida Paulista
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Em greve desde o dia 13 por valorização da profissão e da escola pública, os professores ganham a apoio do Sintusp


São Paulo – O Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) divulgou hoje (26) moção de apoio aos professores da rede estadual paulista, em greve desde o último dia 13 por valorização profissional e por melhorias na rede pública. Em nota oficial, a entidade declara que os professores das escolas estaduais de São Paulo estão lutando pela educação e por suas condições de vida e de trabalho.

De acordo com a carta, as escolas estão sendo cada vez mais precarizadas pelos cortes promovidos pelo governo paulista, que fechou 3 mil salas de aula, superlotando as remanescentes, algumas delas chegando a ter mais de 100 alunos, e que as más condições de trabalho, em situações como essa, são agravadas com os baixos salários – o menor piso dos trabalhadores de nível superior de São Paulo.
Destacando a intransigência do governador Geraldo Alckmin, os trabalhadores da universidade lembram que no ano passado estiveram em greve por 118 dias. Além de se recusar a negociar, o reitor da USP cortou os salários dos grevistas.
Amanhã (27), os professores farão nova assembleia, às 14h, no vão livre do Masp, na avenida Paulista. Esta semana, a presidenta do sindicato dos professores da rede estadual paulista (Apeoesp), Maria Izabel Azevedo Noronha, encaminhou ofício ao diretor de Jornalismo da Rede Globo, Ali Kamel, reivindicando ética, profissionalismo e imparcialidade na cobertura da greve pelos noticiários da emissora. De acordo com Maria Izabel, os jornais ouvem apenas a versão do governo estadual.
No último dia 14, o governador Alckmin desdenhou do movimento dos trabalhadores. Ao mesmo tempo que negou a paralisação dos professores, disse que a greve é uma novela que se repete todos os anos.
De acordo com a Apeoesp, o governo estadual diz que não há greve mas toma medidas autoritárias contra o movimento. Desde o último dia 18, circula nas redes sociais a denúncia de que o diretor de ensino substituto de Franca, Hugo César Tasso, teria mandado orientação aos diretores para proibir a entrada dos comandos de greve nas escolas para conversar com os professores.
Além disso, orientou a colocação de cartazes dizendo que a escola não está em greve, a enviar e-mails e outras mensagens aos pais para que mandem os filhos às escolas, a convocar professores eventuais para ministrar aulas no lugar dos professores grevistas.
O sindicato pede o apoio dos pais para que não mandem seus filhos à escola. E garante que as aulas serão repostas.

AUDIÊNCIA DA CPI - Repórter do UOL se recusa a entregar dados do caso HSBC a parlamentares

por Hylda Cavalcanti, da RBA - extraído do Rede Brasil Atual 
Fernando Rodrigues diz entender o pedido dos senadores, mas afirma que conhece o Congresso e o funcionamento das CPIs, e considera a entrega das informações ‘uma temeridade’
cpi hsbc
Fernando Rodrigues criticou a recente divulgação de alguns nomes pela Receita Federal para determinados veículos
Brasília – O repórter Fernando Rodrigues, do portal UOL, primeiro jornalista do país a divulgar o escândalo das contas secretas de brasileiros existentes no HSBC da Suíça, afirmou hoje (26), durante depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado criada para investigar o caso, que tentou um contato com representantes do governo, por meio de órgãos como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e a Receita Federal, em 2014. Mas, segundo contou, encontrou atitudes que considerou como "desídia, preguiça e má vontade" por parte dos integrantes destes órgãos para entrar nas apurações.
Rodrigues classificou as conversas mantidas com representantes destes e de outros órgãos de "epidérmicas". Sem entrar em muitos detalhes, o jornalista afirmou que para divulgar as informações precisa atender aos critérios estabelecidos pela associação internacional de jornalistas investigativos – que primeiramente teve acesso à lista – e que os nomes dos correntistas só serão divulgados se forem de pessoas sobre as quais exista um “interesse público” de divulgá-los. Acrescentou que, mesmo assim, essa divulgação só ocorrerá após todos serem ouvidos e prestarem seus esclarecimentos.
Ele criticou a divulgação de alguns nomes pela Receita Federal para determinados veículos, feita recentemente. Destacou que as informações foram "seletivas" e ainda por cima "apresentaram imprecisões quanto aos valores existentes nas contas dos correntistas que tiveram seus nomes expostos".

'Conheço as CPIs'

Diante da solicitação de vários dos senadores para que entregasse a lista e os dados que já dispõe à CPI com o compromisso de que as informações seriam mantidas em caráter sigiloso, como forma de ajudar nas apurações destes parlamentares, o jornalista se recusou. Disse que ficava até mesmo “sensibilizado” com o pedido dos parlamentares e que acredita na intenção deles de manter a tutela dos dados com responsabilidade.
Mas em função da sua profissão, já acompanhou muitas CPIs, nos últimos anos, e considera "uma temeridade" da sua parte atender ao pedido, "sabendo como funciona o Congresso Nacional e as CPIs". Fernando Rodrigues argumentou, ainda, que os dados estarão disponíveis para os parlamentares por meio do governo francês que não se opõe a oferecer todos os nomes.

'Responsabilidade e obrigação'

O presidente da CPI, senador Paulo Rocha (PT-BA), rebateu Fernando Rodrigues diante da sua recusa. Rocha afirmou que não tem problema ele negar a lista, porque a presidência da comissão tem "a responsabilidade e a obrigação" de requerer a relação, independente da vontade dele e do critério da associação internacional de jornalistas investigativos para dar publicidade a tais nomes.
Rodrigues disse que entende a posição do senador Paulo Rocha e que ele está certo. Ressaltou que os senadores “têm obrigação de solicitar estas informações” e repetiu que a forma "mais correta, célere e produtiva para a CPI” é a busca pelo governo francês.
Rocha reiterou que o Senado tem o compromisso de guardar toda informação sigilosa com responsabilidade e que, no encaminhamento dos trabalhos da comissão, vai atuar no sentido de fazer com que qualquer informação não seja divulgada com o intuito de ser utilizada "por interesses de disputa política ou de qualquer outro tipo".
Durante a instalação da comissão, na última terça-feira, Paulo Rocha já tinha dito que irá fazer de tudo para evitar que a CPI seja “palco de espetáculos”. “É preciso que as investigações aconteçam com equilíbrio, segurança, serenidade e responsabilidade e é por isso que vou lutar”, acentuou.
A reunião teve início às 8h30 e durou mais de três horas. Foi dividida em duas etapas, de forma a possibilitar que, além do depoimento dos convidados, os senadores também pudessem apreciar requerimentos. Eles aprovaram, antes de ouvir Rodrigues e o jornalista Chico Otávio, de O Globo, um plano de trabalho para a CPI para os próximos 180 dias.


quinta-feira, 26 de março de 2015

Uma experiência de choque: o encontro com José Mujica

no Portal MST
'Precisamos de uma cultura alternativa à cultura do capital. Ela não pode nos dar felicidade, pois, na ânsia de acumular, não nos sobra tempo para viver.'
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Por Leonardo Boff
Da Carta Capital

Participando de um congreso iberoamericano sobre Medicina Familiar e Comunitária, realizado em Montevideo dos dias 18-22 de março, tive a oportunidade sempre desejada de um encontro com o ex-presidente do Uruguai José Mujica. Finalmente foi possível no dia 17 de março por volta das 16.00 horas. Tal encontro deu-se em sua Chácara, nos arredores da capital Montevideo.

Encontramos uma pessoa que vendo-a e ouvindo-a somos imediatamente remetidos a figuras clássicas do passado, como Leon Tolstoi, Maathma Gandhi e até com Francisco de Assis. Aí estava ele com sua camisa suada e rasgada pelo trabalho no campo, com uma calça de esporte muito usada e sandálias rudes, deixando ver uns pés empoeirados como quem vem da faina da terra.

Vive numa casa humilde e ao lado, o velho fusca que não anda mais que 70 km a hora. Já lhe ofereceram um milhão de dólares por ele; rejeitou a ofera por respeito ao velho carro que diariamente o levava ao palácio presidencial e por consideração do amigo que lho havia dado de presente.

Rejeita que o considerem pobre. Diz: "não sou pobre, porque tenho  tudo o que preciso para viver; pobre não é não ter; é estar fora da comunidade; e eu não estou".

Pertenceu à resistência à ditadura militar. Viveu na prisão por treze anos e por um bom tempo dentro de um poço, coisa que lhe deixou sequelas até osdias de hoje. Mas nunca fala disso, nem mostra o mínimo ressentimento.Comenta que a vida lhe fez passar por muitas situações difíceis; mas todas eram boas para lhe dar sábias lições e por e fazê-lo crescer.

Conversamos por mais de uma hora e meia. Começamos com a situação do Brasil e, em geral da América Latina. Mostrou-se muito solidário com Dilma especialmente em sua determinação de cobrar investigação rigorosa e punição adequada aos corruptos e corruptores do caso penoso da Petrobrás. Não deixou de assinalar que há uma política orquestrada a partir dos Estados Unidos de desestabilizar governos que tentam realizar um projeto autônomo de país.

Isso está ocorrendo no Norte da Africa e pode estar em curso também na América Latina e no Brasil. Sempre em articulação com os setores mais abastados e poderosos de dentro do país que temem mudanças sociais que lhes podem ameaçar os privilégios históricos.

Mas a grande conversa foi sobre a situação do sistema - vida e do sistema - Terra. Ai me dei conta do horizonte vasto de sua visão de mundo.

Enfatizava que a questão axial hoje não reside na preocupação pelo Uruguai, seu pais, nem por nosso continente latinoamericano, mas pelo destino de nosso planeta e do futuro de nossa civilização. Dizia, entre meditativo e preocupado, que talvez tenhamos que assistir a grandes catástrofes até que os chefes de Estado se deem conta da gravidade de nossa situação como
espécie e tomar medidas salvadoras. Caso contrário, vamos ao encontro de uma
tragédia ecológico-social inimaginável.

O triste, comentava Mujica, é perceber que entre os chefes de Estado, especialmente, das grandes potências econômicas,  não se verifica nenhuma preocupação em criar uma gestão plural e global do planeta Terra, já que os problemas são planetários. Cada país prefere defender seus direitos particulares, sem dar-se conta das ameaças gerais que pesam sobre a totalidade de nosso destino.

Mas o ponto alto da conversa, sobre o qual pretendo voltar, foi sobre a urgência de criarmos uma cultura alternativa à dominante, a cultura do capital.  De pouco vale, sublinhava, trocarmos de modo de produção, de distribuição e de consumo se ainda mantemos os hábitos e 'valores' vividos e proclamados pela cultura do capital. Esta aprisionou toda a humanidade com a idéia de que precisamos crescer de forma ilimitada e de buscar um bem estar material sem fim. Esta cultura opõe ricos e pobres. E induz os pobres a buscarem ser como os ricos. Agiliza todos os meios para que se façam consumidores. Quanto mais são inseridos no consumo mais demandas fazem, porque o desejo induzido é ilimitado e nunca sacia o ser humano. A pretensa felicidade prometida se esvai numa grande insatisfação e vazio existencial.

A cultura do capital, acentuava Mujica, não pode nos dar felicidade, porque nos ocupa totalmente, na ânsia de acumular e de crescer, não nos deixando tempo de vida para simplesmente viver, celebrar a convivência com outros e nos sentir inseridos na natureza. Essa cultura é anti-vida e anti-natureza, devastada pela voracidade produtivista e consumista.

Importa viver o que pensamos, caso contrário, pensamos como vivemos: a espiral infernal do consumo incessante. Impõe-se a simplicidade voluntária, a sobriedade compartida e a comunhão com as pessoas e com toda a realidade. É difícil, constatava Mugica, construir as bases para esta cultura humanitária e amiga da vida. Mas temos que começar por nós mesmos.

Eu comentei: 'o Sr. nos oferece um vivo exemplo de que isso é possível e está no âmbito das virtualidades humanas'.

No final, abraçando-nos fortemente, lhe comentei: 'digo com sinceridade e com humildade: vejo que há duas pessoas no mundo que me inspiram e me dão esperança: o Papa Francisco e Pepe Mujica'. Nada disse. Olhou-me profundamente e vi que seus olhos se emudeceram de emoção.

Sai do encontro como quem viveu um choque existencial benfazejo: me confirmou naquilo que com tantos outros pensamos e procuramos viver. E agradeci a Deus por nos ter dado um pessoa com tanto carisma, tanta simplicidade, tanta inteireza e tanta irradiação de vida e de amor.


quarta-feira, 25 de março de 2015

CONGRESSO NACIONAL - Lançada frente parlamentar para combater projetos que pretendem 'quebrar Petrobras'

no Portal da Rede Brasil Atual
'Nascemos para atrapalhar propostas que querem confundir combate à corrupção com a tentativa de desmembrar a companhia e reduzir seu papel estratégico na economia brasileira', diz o presidente do colegiado, Davidson Magalhães
frente parlamentar
Auditório lotado recebeu 70 parlamentares, movimentos sociais e sindicalistas da Federação Única dos Petroleiros
São Paulo – A frente parlamentar mista em defesa da Petrobras foi lançada ontem (24), na Câmara Federal, com a presença de 70 deputados e senadores, representantes de movimentos sociais de diferentes estados e lideranças sindicais, principalmente petroleiros. A cerimônia de lançamento destacou a luta contra a privatização da estatal. A frente foi criada com a adesão de 210 deputados e 42 senadores. “Nós nascemos para atrapalhar projetos que querem quebrar a Petrobras, reduzir o papel da Petrobras e confundir a crise e o combate à corrupção, que deve ser permanente, com a própria tentativa de desmembramento da companhia, de redução de seu papel estratégico na economia brasileira", disse o presidente do colegiado, deputado Davidson Magalhães (PCdoB-BA).
O coordenador da Frente Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel, chamou a atenção para a destinação dos recursos do pré-sal para saúde e educação. Segundo ele, iniciativas para alterar o processo de exploração e refino do petróleo no Brasil vão repercutir diretamente nessa destinação.
O presidente da frente cita uma série de propostas no Legislativo contrárias aos interesses do país. Uma delas é a revogação do sistema de partilha, que determina que a empresa deve ser a operadora única na exploração do petróleo do pré-sal.
Na Câmara, já foram apresentados três projetos de lei com o objetivo de alterar o sistema de partilha: PL 4.973/13, do deputado Raul Henry (PMDB-PE), o PL 6.726/13, de Mendonça Filho (DEM-PE), e o PL 600/15, de Jutahy Junior (PSDB-BA).
Na quinta-feira passada (19), o senador José Serra (PSDB-SP) apresentou o Projeto de Lei do Senado (PLS) 131, alterando a lei de partilha (12.351/2010), que derruba a participação mínima de 30% da empresa estatal nos consórcios de exploração. O objetivo da proposta, segundo o analista político da Rádio Brasil Atual Paulo Vannuchi, é a revogação da participação obrigatória da Petrobras na exploração e acabar com o condicionante de participação mínima.
Outra ideia que circula no Congresso é deixar a Petrobras apenas com a exploração e a produção, transferindo outras atividades para a iniciativa privada. Isso, segundo Davidson Magalhães, significa vender partes da companhia, comprometendo seriamente seu caráter vertical. “A Petrobras hoje é uma empresa verticalizada, do poço ao posto”, disse o deputado à RBA na segunda-feira (23). “A empresa que defendemos na frente parlamentar é a Petrobras que agora, em fevereiro, bateu recorde de produção, que está entre as dez maiores petroleiras do mundo.”
No lançamento da frente, o presidente lembrou pesquisa Datafolha divulgada domingo (22), segundo a qual 61% dos entrevistados se posicionam contra a privatização da Petrobras.
Além do presidente, a frente é integrada pelos senadores Roberto Requião (PMDB-PA), Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), Fátima Bezerra (PT-RN) e os deputados Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho  (PT-SP), Aliel Machado (PCdoB-PR), Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e  Zeca do PT (Mato Grosso do Sul).

Ministro da Educação diz que governo pode ampliar prazo para Fies

por Hylda Cavalcanti, da RBA no Portal Rede Brasil Atual
Luiz Costa garantiu que 1,9 milhão de estudantes integrados ao programa continuará tendo acesso ao fundo e justificou as mudanças feitas como forma de garantir a 'qualidade no ensino'
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Costa: "Governo está disposto a prorrogar prazo para renovação de contratos, previsto para acabar em 30 de abril
Brasília – Diante de críticas e reclamações sobre as mudanças feitas no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) por parlamentares e entidades diversas, hoje (25), durante audiência na Câmara dos Deputados, o ministro interino da Educação, Luiz Cláudio Costa, garantiu que todos os contratos serão mantidos. Costa minimizou a questão e disse que o programa precisava, realmente, de ajustes, pelo fato de funcionar com as mesmas regras desde 1999. Mas o governo, segundo ele, está disposto a prorrogar o prazo para renovação dos contratos, previsto para se encerrar em 30 de abril – como forma de fazer com que o 1,9 milhão de estudantes que participam do programa possa aditar seus contratos.
A audiência, que durou quase quatro horas, foi agendada inicialmente como convite ao ex-ministro Cid Gomes, que coordenou as mudanças relativas ao fundo (e deixou a pasta na última semana após polêmico embate com os deputados). Terminou sendo utilizada pela oposição e determinadas entidades como pretexto para discussão sobre o descumprimento de promessas feitas pela presidenta Dilma Rousseff durante a campanha eleitoral e críticas ao governo.
O que provocou apelos por parte de representantes da base aliada para que os parlamentares focassem a discussão no Fies propriamente e evitassem o que chamaram de “proselitismo político”. “Dessa forma, não conseguiremos ter um debate claro sobre a educação, que é o que importa aqui”, reclamou o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP).

‘Todos na aula’

De acordo com o ministro interino, os alunos podem ter a garantia de que todos estarão em sala de aula. Ele disse que o ministério instalou ontem uma comissão técnica com a missão de analisar os aumentos de mensalidades e que os abusos não serão aceitos. “Acataremos os aumentos maiores se forem para benefício do estudante, agora, aumentos abusivos não acataremos. Nossa intenção não é inibir, e sim, manter os alunos no programa”, destacou.
As medidas que são objeto de toda essa confusão dizem respeito ao estabelecimento de um limite de até 6,4% para o reajuste das mensalidades de cursos financiados pelo Fies. A nova determinação estabelece que todos os aumentos maiores que este percentual precisam ser revistos, o que levou a uma insatisfação dos alunos e incertezas quanto à renovação dos seus contratos.
Em tom crítico, o presidente do Movimento em Defesa do Fies, Ricardo Holz, sugeriu que o governo federal reduzisse o número de ministérios para manter as os recursos necessários para o Fies. “Seria mais importante se fosse feito isso (redução dos ministérios) em vez de promover alterações no programa estudantil”, ironizou.
Já a vice-presidente da Associação Nacional das Universidades Particulares, Elizabeth Guedes, enfatizou que a entidade integrada por ela não considera o limite de reajuste como problema para a questão, e sim, o consequente limite no crédito que o aluno receberá. “Nós discutimos é quebra de contrato”, destacou, ao acrescentar que a medida vai prejudicar alunos que não têm renda. “Em outras palavras, estamos excluindo quem já foi excluído.”
Na mesma linha de Elizabeth Guedes, o vice-presidente dos Sindicatos das Entidades Mantenedoras dos Estabelecimentos Particulares de Ensino Superior do Distrito Federal, Francisco Moreira Cruz Filho, reclamou do processo, que considerou injusto.

Educação com qualidade

Nem todas as posições foram críticas quanto aos novos critérios adotados pelo governo. A coordenadora da Secretaria de Políticas Institucionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimento de Ensino, Nara Teixeira De Souza, afirmou que a educação brasileira precisa ser de qualidade e que existem muitas universidades que não repassam o aumento aplicado nas mensalidades para os seus trabalhadores, motivo pelo qual defende as alterações feitas recentemente.
O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho, observou que pelo Orçamento da União, aprovado recentemente para este ano, não há garantia de renovação de 1,9 milhão vagas do programa, conforme foi anunciado pelo governo, nem das 200 novas mil vagas. “Pelas nossas contas, ficarão faltando R$ 5,5 bilhões para cumprir a meta do governo em relação ao Fies.”
Duas sugestões foram feitas, caso esse déficit venha a ser registrado: o primeiro, por parte do deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), foi de redução da estrutura de cargos comissionados no Executivo federal. A segunda, apresentada pelo deputado Hugo Motta (PMDB-PB), foi o corte orçamentário de gastos em áreas que chamou de “supérfluas”, mas sem explicar quais seriam.

‘Ajuste não atrapalha’

O ministro da Educação assegurou que foram abertas 200 mil vagas para o Fies este ano, além das já existentes e ressaltou que em períodos de ajustes, como o atual, “programas importantes como este não podem ser parados”.
As novas regras para o Fies, além do limite de 6,4% para o reajuste das mensalidades de cursos financiados pelo programa, consistem também na determinação de que aumentos maiores que este ficariam de fora do fundo sem possibilidade de negociação.
O ministério também passou a exigir dos estudantes um mínimo de 450 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como condição para obtenção de financiamento. Ao ser questionado sobre as medidas, Luiz Cláudio Costa justificou-se dizendo que “qualquer investimento que não seja condizente com a qualidade não será admitido pelo Ministério da Educação”.