terça-feira, 10 de março de 2015

PÁTRIA EDUCADORA? - Educafro vai se reunir com ministros tentando evitar cortes na educação

por Rodrigo Gomes, da RBA 
Ativistas querem também inclusão de negros no Conselho Nacional de Educação, efetivação da comissão criada de acompanhamento da política de cotas e revisão das novas normas do Fies.
educafro
Vinte ativistas ocuparam a sede do Ministério da Fazenda e se acorrentaram, exigindo reunião com o ministro

São Paulo – Militantes da Rede Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro) vão se reunir no próximo dia 17 com os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e da Educação, Cid Gomes, para reivindicar que os cortes de gastos anunciados pelo governo federal não sejam aplicados aos programas de inclusão de alunos carentes e negros. A reunião foi obtida após manifestação na sede dos dois ministérios, na manhã de hoje (9), inclusive com o acorrentamento de um grupo de ativistas na Fazenda.
Anunciado pela presidenta Dilma Rousseff no fim do ano passado, o corte de gastos no governo em todos os ministérios deve chegar a R$ 22,7 bilhões neste ano, sendo cerca de R$ 7 bilhões nas verbas de educação.
“Não podemos aceitar que os cortes atinjam a educação e provoquem a exclusão dos alunos pobres e de cotistas”, explicou o coordenador-geral da Educafro, Frei David Santos. Segundo ele, o acorrentamento foi necessário, pois a segurança tentou impedir a entrada dos ativistas no Ministério da Fazenda. Após forçar a entrada no prédio, e manter o acorrentamento por cerca de duas horas, os manifestantes foram recebidos por assessores da pasta, que agendaram a reunião.
Segundo Frei David, alunos de diversas regiões do país têm desistido de cursos em universidades federais, por não conseguir acesso à Bolsa Permanência e auxílio de alimentação. “Isso é inaceitável. Depois de todo o esforço para efetivar as cotas, para mantê-las, não podemos perder tudo por falta de dinheiro para o estudante permanecer na instituição”, afirmou.

Dinamarca

De acordo com o coordenador, alunos carentes, ou que estão fora de sua cidade natal, não conseguem se manter, e as famílias não têm condições de financiá-los. O Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) oferece assistência à moradia estudantil, alimentação, transporte, à saúde, inclusão digital, cultura, esporte, creche e apoio pedagógico. O valor é adequado às necessidades de cada aluno. Porém, é a própria instituição que administra o recurso.
“Isso também deve mudar. Se a universidade tem problemas financeiros, deixa de aplicar o recurso corretamente. O certo é ser repassado ao aluno, por meio de um cartão de benefícios”, avaliou Frei David.
Já o Programa de Bolsa Permanência (PBP) das universidades federais compreende uma bolsa de R$ 400, direcionada a estudantes de ensino superior em situação de vulnerabilidade socioeconômica, indígenas e quilombolas. A bolsa é repassada diretamente ao estudante e pode ser adequada às necessidades, no caso de indígenas e quilombolas.
No Ministério da Educação, os militantes têm mais reivindicações. Querem a inclusão de negros no Conselho Nacional de Educação, a aplicação da comissão implementada em setembro do ano passado para acompanhar a aplicação da política de cotas nas universidades federais e a revisão das novas normas do Programa de Financiamento Estudantil (Fies). “O conselho parece ser um colegiado da Dinamarca”, ironizou Frei David.
Sobre o acesso ao Fies, ele considera que a exigência de obter 450 pontos, no mínimo, no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), é um retrocesso à inclusão de pobres e negros. “O Fies é o último recurso do estudante pobre que não obteve acesso via Prouni – programa de bolsas para ingresso em universidades privadas – ou Sisu (Sistema de Seleção Unificada, para ingresso em instituições públicas). Essa pontuação desconsidera ainda o quanto é ruim o ensino médio estadual no país”, defendeu o coordenador.
Outra demanda da Educafro diz respeito ao coordenador da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi), do Ministério da Educação. A pasta está sem coordenador desde janeiro, e os militantes temem que a contenção de gastos levem à extinção da secretaria, “único espaço de negros, indígenas e quilombolas no ministério”, segundo Frei David. A Secadi é responsável pela articulação de políticas educacionais especial, do campo, escolar indígena, quilombola e educação para as relações étnico-raciais, entre outras atividades.
Os ativistas esperam que a mobilização sensibilize o governo federal para uma atuação política e não meramente “tecnocrata” das questões econômicas e sociais. “Estamos tristes porque na eleição o povo negro tomou posição em defesa da reeleição da presidenta Dilma, mas agora estamos esquecidos, excluídos das instâncias de decisão”, desabafou Frei David.
Procurado, o Ministério da Educação não retornou até as 17h. A RBA não conseguiu contatar o Ministério da Fazenda.

Governador Flávio Dino recupera R$ 6,5 milhões para educação no MA


no Portal Vermelho

O governador Flávio Dino conseguiu desbloquear, junto ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), aproximadamente R$ 6,5 milhões que deveriam ser empregados pela ex-governadora Roseana Sarney, em obras e ações pedagógicas para a melhoria da educação do Maranhão, mas por falta de cumprimento dos compromissos o recurso foi bloqueado, fazendo com que ações para a educação do Maranhão deixassem de ser realizadas.


A liberação do recurso é um desdobramento da agenda do governador com o ministro da Educação, Cid Gomes, no mês passado, que contou com a presença da secretária de Educação, Áurea Prazeres.

Segundo levantamento feito pela Secretaria de Estado da Educação (Seduc), por falta de comprometimento da gestão passada, na observação dos prazos de vigência e outros problemas de ordem administrativa, o estado do Maranhão perdeu o equivalente a R$ 22 milhões do FNDE/PAR (Plano de Ações Articuladas). O Estado ficou impedido de licitar, contratar e iniciar as obras custeadas pelo Ministério da Educação (MEC) através do FNDE.

O desbloqueio dos recursos por parte da atual gestão possibilitará o financiamento de 93 obras de construção de prédios escolares, quadras poliesportivas e cobertura de quadras, além de 24 ações de melhoria da gestão escolar e formação continuada de profissionais da educação.

Segundo a secretária Áurea Prazeres, a medida do Estado visa assegurar que os recursos, já aprovados, sejam efetivamente empregados na educação. “Montamos uma ‘força tarefa’, seguindo orientação do governador Flávio Dino para resgatar os recursos que deveriam ser empregados na melhoria do ensino das escolas de todo o Maranhão. Não podemos permitir que problemas de gestão, deixados pela administração passada, prejudicassem o futuro de muitos jovens”, enfatizou.

Morre filho de casal gay agredido em escola de SP

Os adolescentes envolvidos na confusão prestaram depoimento na semana passada.
no Portal R7
                                                                                Imagem: Sylvia Albuquerque, do R7
Peterson Ricardo de Oliveira, 14 anos.

por Mateus Falcão de A. A. Martins*

O que podemos dizer depois de ler uma notícia dessas?

Posso dizer o que eu senti depois de ler isso, uma tristeza enorme e uma indignação maior ainda.


Mais um jovem morre por consequência do formato da nossa sociedade. 

Por consequência da forma que somos educados, e de todos os âmbitos de nossa vida. Está entremeado o preconceito desde quando nascemos, desde da escolha da cor da roupa do bebê aos filmes/desenhos que assistimos. 

Heróis que apenas mostram a visão "perfeita" que a sociedade tem do que devemos ser: Brancos, héteros, fortes, altos, guerreiros violentos mas com motivações "nobres", etc. 

E somos bombardeados pelo preconceito (ou podemos também chamar de: formas de mulheres/homens perfeitos perante a sociedade) a todo momento, propagandas de perfumes, de roupas e na "propaganda" mais forte desde da origem do ser humano: A Religião.
A Religião com R maiúsculo que engloba todas as religiões, mas que se diz a única e verdadeira. 


A Religião que diz que somos todos iguais e amados perante a Deus, mas manda jogar pedra em quem foge as suas normas e decreta o fechamento dos portões do Paraíso quando o humano demonstra características próprias, que não o fazem nem menos nem mais humano por isso.

Onde termina essa hipocrisia social em que vivemos?


Livres para viver sob determinadas regras.


Poderosos para viver sob um estado de impotência.


Igualitário a todos, se for mantido sob os padrões.


E você leitor que se manteve pacientemente até aqui? O que você fez hoje? Pregou que apoia a igualdade de direitos a todos, mas "olhou torto" quando um casal lésbico passou ao seu lado de mãos dadas. Ergueu o punho e o bateu contra o peito de indignação ao ler uma notícia triste como essa, mas não pode deixar de "torcer o nariz" quando um transexual cruzou o seu caminho pela rua e o censurou da ponta do cabelo até o dedão do pé por estar simplesmente existindo.


PENSE. E digo mais. REPENSE.


Por que no momento que falamos que não temos preconceitos, mas com palavras bem elaboradas e gestos bem articulados, erguemos uma vírgula e acrescentamos um "mas" a nossa frase estamos desvalidando tudo que falamos anteriormente, e estamos incitando a sociedade a "jogar mais uma pedra" em mais um inocente.


Morre filho de casal gay agredido em escola de SP 


Os adolescentes envolvidos na confusão prestaram depoimento na semana passada 

Morreu, na tarde desta segunda-feira (9), o adolescente Peterson Ricardo de Oliveira, de 14 anos, que estava em coma desde a semana passada após se envolver em uma confusão em uma escola pública na Vila Jamil, em Ferraz de Vasconcelos, Grande São Paulo.
Peterson foi agredido no dia 5 deste mês por ser filho de um casal de homossexuais, segundo um dos pais que conversou com o R7, Márcio Nogueira.
— Eu não sabia que meu filho sofria preconceito por ser filho de um casal homossexual. O delegado que nos informou. Estamos tristes e decidimos divulgar o que aconteceu para que isso não se repita com outras crianças.
O adolescente estudava na unidade de ensino desde os seis anos. Um irmão de 15 anos, que frequenta o mesmo colégio, presenciou a agressão.
O delegado Eduardo Boiguez Queiroz, da delegacia de Itaquaquecetuba, confirmou que o menino se envolveu em uma briga horas antes de passar mal e precisar ser levado da escola para o hospital.
— Ele brigou com alguns garotos na entrada da escola e passou mal quatro horas depois. Ele brincou, assistiu aula e depois passou mal. Ele já tinha um aneurisma. Não podemos afirmar que ele passou mal por conta da briga.
A Secretaria Estadual de Educação e a Secretaria Estadual de Saúde negam a versão da família. Em nota, a Secretaria Estadual de Educação informou que não há nenhum registro de agressão no interior da unidade onde o adolescente estudava.
Já a Secretaria Estadual de Saúde confirma que o adolescente deu entrada nesta quinta-feira (5) no Hospital Regional de Ferraz de Vasconcelos com parada cardiorrespiratória e passou por um processo de reanimação. Exames feitos no garoto também constataram que ele teve hemorragia, mas não apresentava sinais externos de violência física.
O pai informou que pretende processar o governo de São Paulo. 

— Queremos que a justiça seja feita. 


Estado e políticas públicas em educação: as ameaças neoliberais

https://www.google.com.br/search?q=imagens+de+professores+em+luta

por José Gilbert Arruda Martins


O presente texto tem como objetivo maior pensar o tema: “Estado e políticas públicas em educação”. Parte do esforço em entender com mais profundidade a importância das Políticas Públicas na construção ou, na reconstrução da cidadania brasileira.

O professor José Murilo de Carvalho, no livro Cidadania no Brasil, destaca um ponto importante da relação entre educação popular e construção da cidadania:

“Nos países em que a cidadania se desenvolveu, por uma razão ou outra a educação popular foi introduzida. Foi ela que permitiu às pessoas tomarem conhecimento de seus direitos e se organizarem para lutar por eles. A ausência de uma população educada tem sido sempre um dos principais obstáculos à construção da cidadania civil e política.” (Carvalho, 2012, pág. 11)

Se, concretamente, a educação pública é importante para a construção da cidadania, por que os filhos e filhas de trabalhadores (as), foram, na maior parte do tempo, excluídos e, até impedidos de alguma forma da educação formal?

As Políticas Públicas em educação, criadas nas últimas décadas serão capazes de incluir e manter, grandes populações de jovens pobres, na sua maioria negros, nas escolas e universidades?

Essas Políticas Públicas serão transformadas em Políticas de Estado? Ou serão desmanteladas e extintas com as mudanças de governos?

O avanço das políticas neoliberais nos estados do Paraná, São Paulo e, tudo indica, aqui em Brasília, poderão inviabilizar os poucos avanços conquistados?

Dentro desse breve contexto relatado, o que a escola pública e seus professores e professoras pode fazer para que os estudantes tenham a chance de conhecer o tema e debater?

As Políticas Públicas na área de educação, construídas até agora, são suficientes como instrumentos de construção cidadã?

Quais os pontos fortes e fracos dessas políticas?

No artigo “Estado e políticas públicas educacionais: Reflexões sobre as práticas neoliberais”, A Profa. Doutoranda Luciene Maria de Sousa e o Prof. Dr. Carlos Alberto Lucena da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), refletindo sobre a questão das influências das políticas neoliberais, problematiza:

(...) o neoliberalismo é concomitantemente original e repetitivo, uma vez que cria uma nova forma de dominação e reproduz formas anteriores. Desse modo, o neoliberalismo reinventa o liberalismo clássico, introduzindo novos conceitos, porém, mais conservador. Assim podemos compreender o neoliberalismo como um ambicioso projeto de reformas no plano econômico, político, cultural e ideológico de nossas sociedades em que uma série de políticas orienta para uma drástica reforma do sistema escolar nacional na contemporaneidade.” (Sousa e Lucena)

Segundo os mesmos autores, “uma das grandes operações estratégicas das práticas neoliberais consiste em transferir a educação da esfera pública para a esfera do mercado” (Sousa e Lucena). 

A despeito das Políticas Públicas conquistadas, existe cenário para avanços?

Brasília, também foi impactada positivamente nos últimos anos com a implantação das Políticas Públicas em educação. No entanto, com a chegada do novo governo, em meio à crise financeira herdada, a desconfiança da classe de professores é grande, devido às diversas medidas adotadas e impostas: suspensão do coordenador (a) pedagógico (a); calendário escolar com término para 27 de dezembro, tentativa de retirar os abonos; ação na justiça contra os aumentos concedidos no Plano de Carreira...

Essas não seriam, ainda que medidas pequenas, uma forma de dar começo à implantação de políticas neoliberais? As Políticas Públicas, que impactaram o Distrito Federal nos últimos anos têm força para manter-se e avançar?

No livro “Devaneios sobre a atualidade do Capital”, os professores da USP, Clóvis de Barros Filho e Gustavo Fernandes Dainezi, trazem uma frase que considero importante e demonstra a importância do conhecimento para a construção da cidadania, eles escrevem:

 “(...) não sabemos qual o mundo ideal, nem como chegar a ele, mas acreditamos que, com um pouco mais de conhecimento, você poderá viver um pouco melhor.” (Filho e Dainezi, 2014, pág. 6)

Portanto, são muitas e angustiantes questões. Sei que o tema é extenso, as questões expostas, por serem muitas,  poderão fugir do conteúdo central, mas acredito que a manutenção e avanço das Políticas Públicas no Brasil, só acontecerá se a Classe de Trabalhadores na educação pública entender os riscos e alertar para a luta no cotidiano das escolas. 

Referências:

Carvalho, José Murilo de, Cidadania no Brasil: o longo caminho. 15ª. ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2012.

Artigo: Estado e políticas públicas educacionais: reflexões sobre as práticas neoliberais. Souza, Maria Luciene de & Lucena, Carlos Alberto. Acessado dia 26/02/2015.

Barros Filho, Clóvis de & Dainezi, Gustavo Fernandes, Devaneios sobre a atualidade do capital. Porto Alegre, CDG, 2014.

segunda-feira, 9 de março de 2015

O Globo correu atrás do Tijolaço no caso da “laranja” de Eduardo Cunha?

Fernando Brito no Tijolaço
oglobocunha
Não é vaidade, porque – além de vaidade ser uma tolice –  a informação está na internet e não exigiu nenhum esforço senão procurar da maneira correta no Google, mas não deixa de ser curioso que a manchete de O Globo, hoje, seja aquilo que este modesto blog publicou, ontem à tarde, sobre o deputado Eduardo Cunha ter usado uma “laranja”, a suplente de deputado em exercício Solange Almeida, para apresentar o requerimento com que, segundo relato de Alberto Youssef, o empresário Julio Camargo e a empresa Mitsui, japonesa, foram forçados a retomar pagamentos de propinas ao hoje Presidente da Câmara.
Pode ser mera coincidência, mas é sintomático que a matéria – ao menos na internet – não esteja assinada, como é praxe.
Se é coincidência, desde já minhas homenagens à boa, embora fácil, apuração. Paro por aí, porque – como já disse – a informação é de fácil acesso e, além do mais, Cervantes já ensinou pela boca de D.Quixote que “louvor em boca própria é vitupério”.
Pode ter sido mera coincidência, repito por necessário  respeito aos bons profissionais da empresa, que são muitos.
Mas, se não é, leva a uma reflexão curiosa sobre aqueles que o jornal chama de “blogs sujos”.
Quando a informação que publicamos interessa ao jornal – os que nos acompanham há mais tempo lembram do vazamento de óleo da Chevron – os blogs sujos são seguidos.
Fora daí, somos considerados apenas “propaganda governista” e os tostões que alguns deles recebem – este não recebe – de publicidade são um favor escuso, enquanto os seus milhões em anúncios são “limpinhos”.
Lembra a historinha de Ary Barroso, quando apresentava seu programa de rádios e o calouro, à pergunta de “vai cantar o quê?” respondia: “um sambinha”.
E Ary:
- Acho engraçado: se fosse um mambo, não era um mambinho; se fosse uma rumba, não era uma rumbinha, mas como é um samba…
Pois é, aqui somos um “sujinho”…
Mas está ótimo e meus aplausos a O Globo por ter publicado a história.
Notícia não tem dono, apesar de eles pensarem o contrário.
PS. Se O Globo quiser “suitar” a matéria, vai ver que O Dia publicou, no final do ano passado, matéria com a tal Solange Almeida, agora prefeita de Rio Bonito, no interior do Rio, terra de laranjais. E, lendo até o final, verá que ela está cassada por uma sentença judicial, ainda não executada, por desvio de recursos na contratação de transporte escolar. É relevante saber – porque a condenação se refere ao seu primeiro mandato de prefeita (2001 a 2004) e Solange excerceu, ao que parece, o cargo de deputada com uma espada pendurada sobre a cabeça. Gentileza de coleguinha velho, que começou aí no velho prédio da Rua Irineu Marinho, há 37 anos, no tempo das grandes máquinas Olivetti,  a “batucar nas pretinhas”.

TV Afiada - Panelaço Dilma

no Conversa Afiada


por José Gilbert Arruda Martins

Se o "seu" Amadeu estivesse vivo diria: "Que lástima, esses pencudos de bucho cheio reclamam de quê?".

Aqui em Brasília as panelas de R$ 1.500 foram ouvidas em dois pontos: Asa Norte e Sudoeste, exatamente os lugares de metro quadrado mais caros do Brasil, é um lástima a democracia ???

Como disse o Juca Kfouri, " a elite branca não bate panela contra a corrupção, sim pelo ódio a um governo que fez e faz pelos pobres".

Se viver apartado em bairros de casarões é bom, viajar de avião hoje em dia, ficou menos glamouroso, é pobre por todo lado espalhados pelo aeroporto para embarcar. Que miséria sô!!!

Uma coisa positiva com tudo isso pode estar acontecendo, a luta de classes, por muito escondida, mostra suas cores. Esse é, concretamente, um fato para comemoração. O Brasil tem luta de classes, pode ficar mais fácil agora, patrões e trabalhadores, cada um defendo o seu lado, sentarem à mesa para negociar. 

O desvelamento da luta de classe por meio do acirramento do pleito eleitoral e, agora, com esse panelaço, vai trazer à Classe Trabalhadora, muito mais visão do todo e da luta por um modelo de sociedade que inclua, que proteja, que seja solidário.



O panelaço da barriga cheia e do ódio

no blog do Juca Kfouri
Nós, brasileiros, somos capazes de sonegar meio trilhão de reais de Imposto de Renda só no ano passado. 
Como somos capazes de vender e comprar DVDs piratas, cuspir no chão, desrespeitar o sinal vermelho, andar pelo acostamento e, ainda por cima, votar no Collor, no Maluf, no Newtão Cardoso, na Roseana, no Marconi Perillo ou no Palocci. 
 O panelaço nas varandas gourmet de ontem não foi contra a corrupção. 
 Foi contra o incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta gente diferenciada que anda frequentando aeroportos, congestionando o trânsito e disputando vaga na universidade. 
 Elite branca que não se assume como tal, embora seja elite e branca. 
 Como eu sou. 
 Elite branca, termo criado pelo conservador Cláudio Lembo, que dela faz parte, não nega, mas enxerga. 
 Como Luís Carlos Bresser Pereira, fundador do PSDB e ex-ministro de FHC, que disse:
“Um fenômeno novo na realidade brasileira é o ódio político, o espírito golpista dos ricos contra os pobres. 
O pacto nacional popular articulado pelo PT desmoronou no governo Dilma e a burguesia voltou a se unificar. 
Surgiu um fenômeno nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, a um partido e a um presidente. 
Não é preocupação ou medo. É ódio. 
Decorre do fato de se ter, pela primeira vez, um governo de centro-esquerda que se conservou de esquerda, que fez compromissos, mas não se entregou. 
Continuou defendendo os pobres contra os ricos. 
O governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres. 
Nos dois últimos anos da Dilma, a luta de classes voltou com força. 
Não por parte dos trabalhadores, mas por parte da burguesia insatisfeita. 
Quando os liberais e os ricos perderam a eleição não aceitaram isso e, antidemocraticamente, continuaram de armas em punho. 
E de repente, voltávamos ao udenismo e ao golpismo.”
Nada diferente do que pensa o empresário também tucano Ricardo Semler, que ri quando lhe dizem que os escândalos do mensalão e da Petrobras demonstram que jamais se roubou tanto no país. 
“Santa hipocrisia”, disse ele. “Já se roubou muito mais, apenas não era publicado, não ia parar nas redes sociais”.
Sejamos francos: tão legítimo como protestar contra o governo é a falta de senso do ridículo de quem bate panelas de barriga cheia, mesmo sob o risco de riscar as de teflon, como bem observou o jornalista Leonardo Sakamoto.
Ou a falta de educação, ao chamar uma mulher de “vaca” em quaisquer dias do ano ou no Dia Internacional da Mulher, repetindo a cafajestagem do jogo de abertura da Copa do Mundo.
Aliás, como bem lembrou o artista plástico Fábio Tremonte: “Nem todo mundo que mora em bairro rico participou do panelaço. Muitos não sabiam onde ficava a cozinha”.
Já na zona leste, em São Paulo, não houve panelaço, nem se ouviu o pronunciamento da presidenta, porque faltava luz na região, como tem faltado água, graças aos bom serviços da Eletropaulo e da Sabesp.
Dilma Rousseff, gostemos ou não, foi democraticamente eleita em outubro passado.
Que as vozes de Bresser Pereira e Semler prevaleçam sobre as dos Bolsonaros é o mínimo que se pode esperar de quem queira, verdadeiramente, um país mais justo e fraterno.
E sem corrupção, é claro!

Venezuela, entre Crise e Revolução

por Redação do Outras Palavras
Graffiti celebra revolução popular e lutas da América Latina, em Caracas
Graffiti celebra revolução popular e lutas da América Latina, em Caracas

Problemas são graves, descontentamento cresceu, é preciso mudar logo. Porém, os “barrios” resistem e enfrentam hipocrisia das elites. Vencerão?
Por Greg Granin, no The Nation | Tradução: Rosana Pinheiro, na Agência Plano
Golpes e contragolpes. Repressão. Crise econômica. Sete centavos por um tubo de pasta de dente e 755 dólares por uma caixa de preservativos. Como resultado deste último fato, diz a Agência Bloomberg: “A Venezuela tem uma das maiores taxas de infecção pelo HIV na América do Sul” (é perturbador, mas a Bloomberg não menciona: trata-se exatamente da mesma taxa de infecção dos Estados Unidos…). Queda dos preços do petróleo. Prisão de um líder da oposição. Complô em Washington. Twittes da ONG Human Rights Watch. Manifestações na América do Sul.
O que está acontecendo na Venezuela? Eu não faço ideia. Estive muito ocupado tentando rastrear o cinegrafista que acompanhou o jornalista Bill O’Reilly em El Salvador, onde ele não apurou informações sobre o massacre de El Mozote. Então perguntei a um grupo de estudiosos de confiança. Eis o que eles disseram.
Acima de todos, Miguel Tinker Salas, professor de História em Pomona e autor de The Enduring Legacy, que conta a história da indústria petrolífera venezuelana, insiste em que temos de manter a perspectiva. O México, país onde pilhas de corpos se acumulam, e que está em meio a uma crise humanitária de proporções surpreendentes, recebe “passe livre” dos Estados Unidos. Com a Venezuela é diferente (lá as coisas podem estar ruins, mas não ruins a ponto de serem contabilizados 83 mil cadáveres em seis anos, devido à violência do crime organizado). Tinker Salas, cujo oportuno livro Venezuela: What Everyone Needs to Know será publicado em abril, escreve:
“Reportar sobre a Venezuela nos EUA, considerando as descrições feitas pelo establishment político de Washington, levaria alguém a acreditar que o país está mais uma vez à beira de um precipício. A morte recente de um estudante na Venezuela é trágica. Mas, ao contrário do México, onde reina a impunidade, o policial responsável pela morte do estudante foi imediatamente detido, o que não impediu que o Departamento de Estado Norte-Americano e o escritório de John Kerry emitissem uma nota de repúdio. [Nota do editor: compare a resposta da ministra venezuelana do Interior, Carmen Meléndez, à morte de Kliver Roa, com os eventos recentes nos EUA — em Ferguson, Staten Island, Cleveland…]. No contexto atual, o governo de Nicolás Maduro na Venezuela é descrito como uma administração que perde apoio popular e supostamente conta com a repressão para permanecer no poder (mais uma vez, compare com o México).
Manchetes sensacionalistas geralmente concentram-se na falta de papel higiênico e preservativos como forma de ridicularizar o país e a liderança política eleita após a morte de Chávez. No México, onde mais de 50% da população vive na pobreza, e milhões de pessoas pobres e indígenas não têm acesso a alimentos ou serviços básicos, condições deploráveis passam desapercebidas. Milhões emigram ou tornam-se refugiados, e dezenas de milhares de mortes são atribuídas aos cartéis de drogas, isentando o aliado e financiador — Estados Unidos da América — de responsabilidade. A maioria dos relatos não reconhece a mudança política e social que ocorreu na Venezuela nos últimos quinze anos ou a capacitação de milhões de pessoas. O futuro da Venezuela não é claro, a crise é profunda, e a insatisfação cresceu, mas o governo ainda tem apoio.”

Então, qual é a base de apoio do governo? Sujatha Fernandes, que leciona no departamento de sociologia e no Centro de Pós-Graduação do Queens College da City University of New York (CUNY) e é autora de Who Can Stop the Drums? Urban Social Movements in Chávez’s Venezuela, aponta para os bairros pobres, onde, apesar da carência econômica e longas filas para comprar bens básicos, os moradores estão cientes do papel desestabilizador da oposição:
“Muitos desses moradores dos bairros pobres, que compõem o reduto do processo bolivariano, estão cientes do papel desestabilizador que está sendo desempenhado pela oposição em várias frentes, e não estão entre aqueles que expressam descontentamento. E falando com venezuelanos comuns, não se tem a sensação de grande calamidade econômica, apesar das dificuldades. Os laços de solidariedade que se desenvolveram nos últimos tempos têm dado origem a respostas inovadoras, como a economia de escambo.”
A antropóloga Naomi Schiller, que fez uma extensa pesquisa de campo nos bairros, focando no ativismo comunitário online, coloca a crise atual em contexto: “Houve poucos períodos em que o bolivarianismo esteve em apuros profundos.” E a crise tem seu preço:
“A pressão constante reduziu os espaços para reflexão, crítica construtiva e reparação. No meio da crise econômica, o financiamento estatal para as iniciativas de mídia comunitária tem sido muito reduzido. Catia TVe, uma proeminente emissora de televisão comunitária em Caracas, cortou a sua equipe pela metade. A constante redução do poder de compra do salário mínimo significa que todos devem manter vários empregos. Em toda a Venezuela, novas disparidades surgiram entre os que têm acesso a dólares por meio de familiares no exterior, viagens internacionais ou outros canais. Mas, em vez de abandonar o projeto de construção do socialismo bolivariano, muitos produtores de mídia comunitária continuam a fazer televisão e rádio voltados ao objetivo de construir uma ordem social mais justa e igualitária, procurando fazer o que podem com recursos muito limitados.”
E, apesar da crise em curso, os cidadãos organizados em movimentos sociais e “politicamente mobilizados, tais como aqueles que trabalham nos meios de comunicação comunitários, continuam, em sua maior parte, a acusar a oposição e a contínua intromissão do governo dos Estados Unidos:”
“Mesmo quando frustrados com a corrupção e a má gestão, e céticos quanto a algumas alegações expressas pelo governo Maduro, eles continuam convencidos de que, se a oposição ganhasse poder, suas condições sociais e econômicas seriam muito piores. O chavismo sempre foi dividido internamente, com várias correntes conflitantes – algumas mais comprometidas com a democracia participativa e a construção de um Estado comunitário do que outras.
Apesar de mais de uma década de agitações, Schiller acredita que o momento atual “parece ser a crise mais grave por que o chavismo passou até agora”.
Ao longo dos anos, venezuelanos chavistas e pobres, diz Schiller, ecoando Fernandes, provaram-se notavelmente resistentes e ativos em assumir o controle de suas vidas, com o melhor de sua capacidade. Partidários de Chávez e agora de Maduro são frequentemente descritos como “‘clientes’ improdutivos que esperam doações na forma de alimentos subsidiados e preços da gasolina irracionalmente baratos” (versões tropicais da famosa declaração dos “47%” de Mitt Romney). Mas, ela diz: o “movimento bolivariano foi construído por pessoas que usaram recursos do Estado para educar-se, construir alianças, participar da governança local, alimentar os seus vizinhos, fazer a sua própria mídia e cuidar dos doentes. Eles procuraram transformar dólares do petróleo em comunidades prósperas.” Esse modelo pode não ser mais sustentável.
Mas nem todos na Venezuela são “organizados”. Daniel Hellinger, professor de Relações Internacionais na Universidade de Webster, autor de uma série de livros e de um boletim mensal, Caracas Connects, aponta que ambos, desestabilização planejada e descontentamento popular real, podem existir simultaneamente: “má gestão econômica e sabotagem econômica não são hipóteses mutuamente excludentes para explicar as longas filas”. Ainda assim, “a desaprovação de Maduro não eleva automaticamente a força da oposição:
“Enquanto as pessoas nos bairros pobres não aderirem aos protestos, o governo Maduro provavelmente não cairá. Mas, se a base chavista das cidades vai sair e votar a favor do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) em dezembro [eleições para a Assembleia Nacional], apesar da organização superior do partido, é muito mais problemático… Ainda que o governo venha a apresentar provas concretas contra Ledezma [o prefeito de Caracas, Antônio Ledezma], a preocupação com a sua detenção [acusado de tramar um golpe de estado] não se limita à oposição. ‘A criminalização da dissidência’, como denominam alguns comentaristas, é motivo crescente de preocupação também para a ala esquerda do chavismo.”
Hellinger observa ainda que “a detenção de integrantes da segurança e as declarações sobre golpes por parte do governo” – mesmo que sejam reais – podem sair pela culatra, “simplesmente por tornar um golpe mais plausível.”
E o que dizer sobre a tentativa de golpe relatada? O que anda fazendo a oposição?Steve Ellner, co-editor do recém publicado Latin America’s Radical Left: Challenges and Complexities of Political Power in the Twenty-First Century e professor da Universidad de Oriente, em Puerto La Cruz , Venezuela, escreveu que:
“O discurso dos principais membros da oposição venezuelana é deliberadamente vago, mas suas intenções são evidentes. Eles se envolvem no que o presidente Maduro chama de “banda dupla”: juram apoio a soluções pacíficas, mas, ao mesmo tempo, encorajam um caminho não-democrático ao poder, juntamente com táticas revolucionárias e até mesmo violentas. De fevereiro a maio do ano passado, a dupla abordagem serviu para justificar as manifestações antigovernistas generalizadas, que incluíram a destruição em massa de bens do Estado e numerosas mortes, inclusive de seis guardas nacionais. O slogan “saia agora” (lançado pela primeira vez por Leopoldo López, atualmente na prisão) era um eufemismo para a mudança de regime por qualquer meio, mesmo enquanto os líderes da oposição afirmavam que estavam simplesmente pressionando o presidente Maduro a demitir-se. (Os mesmos líderes tinham convidado Chávez a demitir-se nas semanas que antecederam o golpe de abril de 2002.) Em outro exemplo de ambiguidade intencional, a oposição insistiu na libertação dos “presos políticos” dos protestos do ano passado, sem fazer distinção entre manifestantes pacíficos e violentos.
“Agora, os líderes da oposição estão pedindo uma “transição” distanciada do atual governo, a fim de realizar novas eleições, reformar a administração pública, negociar com os organismos financeiros multilaterais, rever as expropriações de empresas feitas pelo governo chavista, libertar “presos políticos” e, de forma significativa, aumentar a produção de petróleo (em aparente violação das quotas da OPEP). O governo Maduro afirmou que a proposta de formar um governo de transição estava ligada a uma tentativa de golpe envolvendo oficiais da Força Aérea, bem como o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, que foi preso por isso. Se o objetivo real desses líderes da oposição é pressionar Maduro a demitir-se, por que não limitam seus slogans a referências em favor desse objetivo? Todos os venezuelanos sabem que Maduro, que conta com considerável capacidade de mobilização do maior e mais organizado partido político do país, não está prestes a renunciar. A estrada não-eleitoral para o poder envolve, necessariamente, a violência e, eventualmente, um golpe militar.”
Grande parte da discussão da Venezuela tem a ver com a sua economia. Aqui está a opinião de Mark Weisbrot, codiretor do Center for Economic and Policy Research, de Washington D.C., nos Estados Unidos.
“Por 15 anos, a maioria dos meios de comunicação ocidentais tem dito que a economia venezuelana estava à beira de um colapso. Esta foi a análise, em grande parte da imprensa financeira, mesmo quando a economia estava crescendo e a inflação estava sob controle. Eles finalmente estão certos? A inflação foi de 68,5% em 2014, e o PIB da Venezuela encolheu 2,8%. A economia também tem sido afetada pela falta de bens de consumo e outros produtos, incluindo alguns medicamentos. Títulos do governo da Venezuela têm as maiores taxas de juros do mundo. É claro que há problemas graves a serem resolvidos.
“A inflação e a escassez são os principais resultados de um sistema de taxa de câmbio disfuncional. Um corte no fornecimento de dólares, no segundo semestre de 2012, desencadeou um movimento de aumento de participação do mercado negro, empurrando para cima a inflação, que por sua vez aumentou ainda mais a taxa de participação do mercado negro. Atualmente existem duas taxas fixas (6,3 bolívares fuertes, ou BFS , por dólar para alimentos e medicamentos, e 12 BFS para outras mercadorias) e uma nova taxa flutuante, que começaram a ser negociadas em 15 de fevereiro, além do mercado negro. Um ajuste precisa acontecer para empurrar o preço do dólar a um nível que irá eliminar o excesso de demanda. A nova taxa flutuante anunciada na semana passada é de cerca de 172, não muito longe da taxa do mercado negro de 191 para transações em dinheiro. Ainda precisamos ver se este novo mercado de câmbio vai deter o processo de depreciação da inflação – e da fuga de capitais que vem junto com esse fenômeno – e se poderia ser um passo em direção à unificação da taxa de câmbio.
“Os problemas são solucionáveis. Nos últimos dois anos, a Venezuela cortou as importações em 33%, quase tanto quanto a Grécia fez em seis anos de depressão. Assim, a parte mais difícil do ajuste — mesmo levando em consideração a queda do preço do petróleo — está feita. De acordo com a estimativa do Bank of America, a Venezuela tem reservas e ativos que poderiam se transformar em dinheiro, totalizando US$ 70 bilhões, uma vez e meia superiores ao nível de importações anuais. Com apenas as reservas do governo em ouro, seria possível comprar todos os títulos do governo e da PDVSA (a companhia nacional de petróleo) que vencem nos próximos três anos; uma omissão da dívida é, portanto, extremamente improvável. Em suma, os problemas econômicos da Venezuela são solucionáveis, mas para isso é necessária uma reforma séria — principalmente no sistema de taxa de câmbio.”
Ainda assim, existem sérias contradições sociais no modelo político e econômico deixado por Chávez. Andrés Antillano, professor de criminologia na Universidade Central da Venezuela, diz que:
“Sob o chavismo, fomos de uma economia desregulamentada, nas mãos do setor privado, ao capitalismo de Estado sustentado pela apropriação e redistribuição das receitas do petróleo aos mais desfavorecidos. Não obstante o caráter social e a natureza igualitária das políticas implementadas durante este período… o que vemos hoje na Venezuela são sinais do esgotamento do modelo econômico rentista e estatista. Ao mesmo tempo, temos assistido a escassez e o desmantelamento do aparelho produtivo. Nesse contexto, as classes dominantes e seus órgãos políticos, os partidos de direita, procuraram restaurar seu poder. Na esfera econômica, eles exigem a privatização e o monopólio das receitas do petróleo. Politicamente, a classe dominante procura derrubar o projeto bolivariano e impor um governo neoliberal para servir os seus interesses.”
Neste contexto, diz Antillano, especulação, acúmulo de capital privado e manipulação de moeda estrangeira têm provado ser táticas de “sucesso” para “desacreditar o governo e criar instabilidade social”. Por sua vez, o governo bolivariano de Maduro provou-se “fraco e aguerrido”.
“Sem a forte liderança de Chávez, que conseguiu unir um campo político heterogêneo a uma orientação estratégica clara, o gabinete atual não tem sido capaz de definir um caminho claro de ação e e tem adiado a tomada de decisões. Esta indecisão, em parte, indica o seu desejo de evitar medidas que prejudicariam os mais pobres – ações que setores conservadores defendem – como desvalorizando o bolívar, acabando  com o controle de preços e reduzindo a despesa social.
O que vai acontecer, o que deve ser feito? Na opinião de Antillano:
“O projeto bolivariano está numa encruzilhada. O esgotamento tanto do modelo rentista e do modelo de desenvolvimento do capitalismo de Estado exige tomar um rumo neoliberal através da desregulamentação da economia, onde a riqueza da nação voltaria para os ricos; ou de tirar proveito da desilusão com o modelo rentista de avanço em direção a um modelo pós-capitalista, em que as capacidades produtivas são socializados nas mãos do povo.”
George Ciccariello-Maher, que leciona na Drexel e é o autor do We Created Chávez, diz que este novo modelo do qual Antillano fala já está sendo construído – ao politizar e capacitar (ainda mais do que já ocorreu) o socialismo de autoajuda descrito por Fernandes e Schiller. A Revolução Bolivariana está numa “situação apertada”:
Mas, com toda essa ênfase nas questões da economia e no conflito nacional entre chavistas e antichavistas, corremos o risco de perder de vista o que é sempre esquecido: os historicamente pobres, as bases revolucionárias, aqueles que conheceram a escassez e a insegurança muito antes das elites ricas levantarem essas bandeiras; aqueles que conhecem os perigos e as corrupções do poder do Estado, mas que, no entanto, optaram estrategicamente por disputar espaço. Apesar de apoiar Nicolás Maduro e a continuidade da Revolução, muitos têm ajudado na construção de um “Estado comunal”, paralelo, contribuindo com seus esforços para uma rede em expansão de comunidades autogovernadas. Essas comunidades, embora tenham apenas começado a emergir, estão produzindo bens à medida em que formam novas pessoas e novas relações políticas. Como me disse recentemente uma liderança comunitária: “Este é o momento mais difícil da Revolução Bolivariana, mas as comunidades estão onde a vitalidade está.” Contudo, a vitalidade só nos levará até certo ponto, e não está claro se existe vontade política para que o projeto das comunidades avance: a elite política chavista têm muito a perder se as comunidades tiverem sucesso. Mas talvez a crise econômica prevaleça: o setor de importação privada provou ser o calcanhar de Aquiles do governo, e a produção comunitária é muito mais eficiente do que as fazendas e fábricas gerenciadas pelo Estado. A Venezuela encontra-se em um ponto de inflexão: socialista demais para prosperar no sistema global, ainda muito dependente de capitalismo para romper com ele. A única saída é para a frente, e a única forma de avançar nessa direção é através das organizações comunitárias.”

Entidades sindicais protocolam petição contra ADI do MPDFT

Por Maria Carla no Portal do Sinpro Distrito Federal
Lideranças sindicais no TJDFT protocolaram petição às 15h
Vários sindicatos e a CUT Brasília deram entrada, na tarde desta sexta-feira (6/3), em pedidos de ingresso como amicus curiae na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), com a qual o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) tenta declarar inconstitucional os reajustes concedidos aos professores do Distrito Federal nos últimos três anos. (Foto)
Amicus Curiae é termo jurídico para se referir às entidades que tenham interesse em participar no julgamento das ADIs, passando a ter representatividade para se manifestar nos autos sobre questão de direito pertinente à controvérsia constitucional. As entidades admitidas como amicus curiae (amigos da Corte) não são partes dos processos, atuando como interessados na causa e auxiliares do juízo.
Os pedidos de ingresso feitos no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT)  têm o objetivo de contrapor o cenário apresentado pelo MPDFT na ADI impetrada contra 33 leis aprovadas em 2013, as quais implantaram planos de carreira em quase todas as categorias de servidores(as) públicos(as) do Governo do Distrito Federal (GDF).
As petições foram protocoladas às 15h pelo presidente da CUT Brasília, Rodrigo Brito; pela diretora do Sinpro-DF, Rosilene Correa,  e representantes do Sindicato dos Servidores Públicos Federais (Sindsep), Sindicato dos Servidores e Empregados da Administração Direta, Fundacional, das Autarquias, Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista do Distrito Federal (Sindser) e Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social (Sindprev-DF). Cada entidade protocolou uma petição individual.
O desembargador Humberto Adjuto Ulhôa, relator da ADI, recebeu as lideranças sindicais (foto da capa) e declarou que pretende admitir o ingresso das entidades sindicais na ADI. Afirmou ainda, durante o encontro com os sindicalistas, que deferirá os pedidos porque considera a situação grave e acha de suma importância a participação das entidades que representam as categorias que, eventualmente, poderão ser afetadas para que seja possível fazer um contraponto à situação apresentada pelo GDF.