sábado, 17 de setembro de 2016

YVYRUPA - Assembleia Guarani pede demarcação, educação e saúde para indígenas

 Rede Brasil Atual

Além da reivindicação por direitos sociais básicos, índios também manifestaram preocupação com retrocessos do governo Temer

por Bruno Bocchini, da Agência Brasil

Yvyrupa
'Temos preocupação com a mudança de governo, que passemos a ter dificuldades com questões já garantidas'

São Paulo – A 7ª Assembleia da Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), que reúne lideranças políticas e espirituais da etnia Guarani das regiões Sul e Sudeste do país, aprovou ontem (15) manifesto em que reivindica demarcação de terras e elenca propostas para melhoria da educação e saúde dos indígenas. O documento será divulgado hoje (16). A assembleia está ocorrendo desde segunda-feira (12), na aldeia Tenondé Porã, em Parelheiros, zona sul de São Paulo.
“Estamos preocupados com projetos de lei e de emenda à Constituição que estão no Congresso Nacional, como a PEC 215 (que transfere do Executivo para o Legislativo a decisão final sobre a demarcação de terras indígenas). Estamos discutindo também sobre território, educação, e demarcação de terras indígenas Guarani na faixa litorânea no Sul e no Sudeste”, disse o coordenador geral da Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), Marcos Tupã.
Entre outras demandas, a comissão reivindica saneamento básico e água tratada para as aldeias e uma política oficial, formalizada, para a criação de escolas indígenas e formação de professores no estado do Rio de Janeiro. Também pede a demarcação, reconhecimento territorial e homologação de terras indígenas como as do Rio Silveiras, em São Sebastião (SP), e do Morro dos Cavalos, em Santa Catarina.

“Temos preocupação com a mudança de governo, que passemos a ter dificuldades com todas as questões que já são garantidas. Com esse cenário nacional, com o agronegócio, cada vez mais poderemos ter dificuldades, principalmente com esse projeto em pauta, que é a PEC 215”, disse o coordenador.

sábado, 10 de setembro de 2016

SC - Falta de laudo antropológico atrasa regularização fundiária de quilombo no Rio Vermelho

no Observatório Quilombola

Reconhecida pela Fundação Cultural Palmares desde 2013, a comunidade quilombola Vidal Martins terá que esperar mais algum tempo pela regularização fundiária do território ocupado entre os séculos 18 e 19, por descendentes de escravos trazidos da África, como mão de obra para a colonização do distrito de São João do Rio Vermelho, Leste de Florianópolis. O Incra (Instituto Nacional de Reforma Agrária) não aceitou o laudo elaborado pelo departamento de antropologia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), concluído em maio deste ano. O relatório recusado é resultado de acordo de cooperação técnica  assinado um ano antes entre as duas instituições, que já perdeu a validade.

Odílio Vidal, Helen e Jucelia Vida, no quilombo Vidal Martins, no Rio Vermelho - Bruno Ropelato
Maicon, o pai Odílio Vidal, Helen e Jucelia Vidal representam a comunidade quilombola Vidal Martins, no Rio Vermelho - Bruno Ropelato

No Incra, o relatório antropológico é a primeira etapa necessária para abertura do processo de regularização de territórios quilombolas com certidão de autorreconhecimento expedida pela Fundação Cultural Palmares. É este documento que caracteriza a comunidade sob as perspectivas históricas, econômicas, socioculturais e ambientais, e fornecer dados técnicos para o  RTDI (Relatório Técnico de Delimitação e Identificação).

O relatório elaborado pela equipe interdisciplinar da UFSC, entregue oficialmente ao Incra no dia 11 de maio deste ano, foi considerado incompleto. O documento foi avaliado por antropólogo do Incra, que, um mês depois do recebimento, solicitou à equipe responsável a realização de pesquisas  complementares para elaboração de outro laudo.

O parecer técnico do Incra, segundo a superintendência do órgão em Santa Catarina, é confidencial. Enquanto na comunidade predomina o sentimento de insegurança e dúvidas, o Ministério Público Federal em Santa Catarina passou a intermediar as negociações entre UFSC e Incra, para retomada do processo e complementação do relatório. A expectativa é de renovação do acordo de cooperação técnica entre os órgãos pelo menos até 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra e de Zumbi dos Palmares.

Sem laudo, sem plano diretor

A falta do laudo antropológico inviabiliza a demarcação e o mapeamento do território quilombola do Rio Vermelho no Plano Diretor da cidade, como “patrimônio público e cultural da cidade”. O processo está paralisado no Ipuf (instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis), suspenso enquanto não for elaborado novo relatório oficial para regularização fundiária.

Sem o laudo antropológico, a comunidade também fica excluída do plano de manejo do Parque Florestal do Rio Vermelho, administrado pela Fatma (Fundação Estadual do Meio Ambiente). Enquanto esperam resignados, cerca de 50 descendentes de Vidal Martins ocupam área de 300 metros quadrados, às margens da rodovia João Gualberto da Silveira, na localidade do Porto.

É lá de Odílio Martins, 66, montou pequena quitanda para vender frutas e verduras à vizinhança. “Sempre vem alguém comprar alguma coisa. É pouco, mas ajuda a aposentadoria”, diz o velho quilombola, ainda com disposição para pescar tainhotas, siris e camarões.

“Cresci na beira da lagoa. Atravessar a nado ou com lama pela barrida até o outro lado era a nossa melhor brincadeira”, diz. Odílio começou a trabalhar cedo, ao lado do pai, Izidro, e participou do plantio das primeiras mudas de pinus que dominam a restinga da Praia Grande [Moçambique], na década de 1970. Sob as ordens do engenheiro Florestal, Henrique Berenhauser, descendentes de Vidal Martins também abriram a picada para a estrada entre Rio Vermelho e Barra da Lagoa.

Avó de Vidal Martins veio da África

Filho de Joana e pai desconhecido, neto de Jacinta, negra trazida da África em meados do século 18, Vidal Martins morreu em 1910, aos 65 anos. Conforme pesquisaram as bisnetas Shirlen e Helena Oliveira, Vidal era bebê quando Joana passou a servir ao padre Antônio Mendes Pulcheria Mendes de Oliveira, primeiro residente da Paróquia de São João Batista do Rio Vermelho.

O mesmo padre, em 1850, a casou com Manoel Fonseca do Espírito Santo, escravo do tenente coronel Antonio José Diniz.  Libertos, tiveram 13 filhos. Todos batizados e registrados na paróquia do Rio Vermelho, conforme certidão emitida pelo Museu da Cúria Metropolitana de Florianópolis.

sábado, 27 de agosto de 2016

Mentes privatizadas' estão por trás do assédio moral contra servidores públicos

na Rede Brasil Atual

 "privatização" pela transferência da gestão para entidades privadas leva para dentro de órgãos públicos os malefícios da flexibilização e de outros defeitos do modelo empresarial
por Cida de Oliveira, da RBA

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São Paulo – Depois de fazer milhões de vítimas entre trabalhadores de todo o mundo, o assédio moral é cada vez mais comum em órgãos e entidades ligadas ao poder público. É o caso de universidades públicas, por exemplo. Com recursos praticamente em extinção, tem se tornado comum a competição acirrada entre professores e pesquisadores em busca de mais verba para suas pesquisas. O resultado é um sistema de opressão que destrói a solidariedade, a ética e traz sofrimento psíquico e doença para servidores, colegas e familiares.
O alerta foi feito na tarde de hoje (24) pelo professor e pesquisador Roberto Heloani, da Faculdade de Educação e do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, em palestra no 4° Congresso Internacional de Ciências do Trabalho, Meio Ambiente, Direito e Saúde: Acidentes, Adoecimentos e Sofrimentos do Mundo do Trabalho. Realizado desde segunda-feira pelaFundacentro, na Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, na capital paulista, o evento segue até sexta-feira (26).
"O assédio moral no setor público é praticado pelas mentes privatizadas, que seguem à risca o mesmo modelo adotado no setor privado. Isso acontece quando a gente trata, avalia e remunera pessoas como se fossem máquinas e elas passam a se comportar como tal", comparou Heloani.
De acordo com o professor, a lógica da flexibilização que já destruiu o coletivo de trabalho por onde passou, faz agora vítimas no setor público. "Para se ter uma ideia, 90% dos hospitais públicos são geridos por organizações sociais no estado de São Paulo.
Numa perspectiva de obtenção de lucros cada vez mais maiores, vale tudo menos a saúde e a vida do trabalhador. "Falar em ética no trabalho, hoje, é coisa de ficção científica", disse ele, destacando uma suposta modernidade que faz consumidores trabalharem de graça para as empresas. É o caso do auto serviço de check in nos aeroportos, que segundo Heloani ceifou 1 milhão de postos de trabalho. "Chegará o dia em que os passageiros vão abastecer a aeronave."
O professor disse que até os anos 1960 havia "ética no capitalismo" e os trabalhadores contavam com seguridade e previdência, com perspectiva de futuro. "Porém, a partir dos anos 1980, a mente das pessoas começou a ser 'flexibilizada' e desde o início dos anos 1990, com o Consenso de Washington, as regras começaram a mudar no Brasil", disse, destacando o discurso do governo norte-americano, Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial, que defendiam "a modernização" dos países da América Latina com a abertura de suas economias para o mercado estrangeiro, especialmente para o Norte americano.
"E o que se tem hoje é dizer para o trabalhador, depois de 30 anos de trabalho, que ele não vai ter a casa grande com piscina prometida quando começou a trabalhar. E sim um terreninho num bairro da periferia para construir sua casinha, se quiser. Isso é fraude, artigo 171 do código penal. E com os acidentados então, que estão perdendo seus benefícios?"

Mau uso da tecnologia pode causar danos ao cérebro e à capacidade produtiva

na Rede Brasil Atual

Para Miguel Nicolelis, por ser extremamente adaptável, condicionado ao uso extremo da tecnologia, o cérebro pode se comportar como sistema digital, o que expõe os indivíduos ao risco de alienação social
por Sarah Fernandes, da RBA 

cerebro humano

São Paulo – O cientista brasileiro Miguel Nicolelis defendeu que o chamado “sonho dourado” do capitalismo, de substituir totalmente a mão de obra pela tecnologia para baratear os custos de produção, é “completamente impossível”, já que algumas características do intelecto humano são impossíveis de serem reproduzidas por máquinas. O que ocorre, no entanto, é que muitos trabalhadores acabam como coadjuvantes da tecnologia no processo produtivo, o que pode causar danos sérios ao cérebro humano, à capacidade de produção e a organização do mercado de trabalho.
Nicolelis foi o primeiro cientista a receber, num mesmo ano (2009), dois prêmios dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos e o primeiro brasileiro a ter um artigo publicado na capa da revista Science. Ele participou nesta sexta-feira (26), do o 4º Congresso Internacional de Ciências do Trabalho, Meio Ambiente, Direito e Saúde, realizado em São Paulo pela Fundacentro – autarquia vinculada ao Ministério do Trabalho.
“Nós estamos condicionando nosso cérebro ao uso de tecnologia ao longo da vida, e como ele é extremamente adaptável, passa a imaginar que o que vale a pena, como os prazeres sociais e financeiros, se comporta também como um sistema digital. O continuo contato digital, por exemplo, leva a alienação social dos indivíduos”, disse. “Um grande risco é que a condição humana está sendo moldada pelas nossas interações digitais modernas. A tecnologia deve ser usada para melhorar a vida no planeta e para a felicidade plena, mas esse modelo de hoje coíbe a criatividade, as expressões artísticas e a comunicação.”


A situação se tornará mais grave quando essa lógica se massificar no mercado de trabalho, segundo Nicolelis, que pediu aos representantes de sindicatos presentes no evento que comecem a debater a questão. “O grande embate trabalhista do futuro passa por uma automação da vida cotidiana. Os futuros acidentes de trabalho não vão ser só físicos. Talvez o fato de o sujeito passar 8h como coadjuvante de um sistema automatizado que controla a produção cause danos para a mente muito mais relevantes que todos os danos físicos registrados na história do trabalho”, disse.
exoesqueleto

O milagre da ciência

Pouco mais de dois anos após a abertura da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, em que a Fifa tentou esconder a cena de um jovem com paralisia se levantando para chutar uma bola com ajuda de um exoesqueleto movimentado com suas próprias ondas cerebrais, Miguel Nicolelis voltou a surpreender. Ou melhor, aumentar a esperança que tem dado a pessoas que perderam o movimento das pernas devido a lesão medular.
No começo de agosto, as principais revistas científicas do mundo publicaram artigo do neurocientista brasileiro em que ele descreve os primeiros meses de treinamento de oito pacientes realizados na AACD, em São Paulo. Os especialistas da equipe de Nicolelis foram surpreendidos com a recuperação motora parcial: depois de 12 meses do projeto, 50% dos pacientes foram reclassificados de paralisia completa para parcial e hoje, após 28 meses de trabalho, todos os pacientes já foram reclassificados.
Nicolelis é coordenador do projeto Andar de Novo, que reúne cientistas de várias partes do mundo no desenvolvimento de um aparato capaz de estimular os movimentos perdidos por meio de uma tecnologia estudada pelo cientista, chamada interface cérebro-máquina. “Pacientes nos relataram que foram à praia e pediram protetor solar, porque sentiam o sol queimando as pernas. O Juliano, que deu o chute inicial na Copa do Mundo e que era paralisado do tórax para baixo, nos pediu para refazer seu uniforme de treinamento porque ele machucava sua virilha”, contou
Segundo Nicolelis, a explicação da evolução dos pacientes está na reorganização plástica do córtex cerebral. Conforme explicou, ao reinserir a representação dos membros inferiores e locomoção nessa região do cérebro, os pacientes podem ter transmitido algumas informações do córtex por meio dos pouquíssimos nervos que devem ter sobrevivido ao trauma que causou a paralisia.
“É como se os tivéssemos ligado novamente, e por causa disso, a medula foi reativada pelo córtex e, ao mesmo tempo, recebido o feedback da periferia, porque esses pacientes andavam durante o treino”, explicou




segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Universidade vai criar time de League of Legends e pagará salário

no Catraca Livre
por Redação
Apesar de estarmos em plena Olimpíada, os eSports também vêm ganhando espaço, principalmente dentro de universidades. Um exemplo é a Fundação Mineira de Educação e Cultura (Fumec), de Belo Horizonte (MG), que vai criar uma equipe de League of Legends.
Os alunos da instituição que participarem do time do MOBA (Multiplayer Online Battle Arena) ainda receberão uma remuneração mensal. Além de estudar, eles irão treinar nas instalações da própria universidade.

Londres cria 1ª equipe policial focada em bullying online

Catraca Livre

por Redação
A polícia de Londres está criando uma força-tarefa dedicada a encontrar e punir pessoas que fazem bullying online.
O anonimato torna muito difícil a punição de pessoas que cometem bullying online.
O programa teve um custo de £ 1,7 milhões, praticamente R$ 7 milhões, segundo contou o prefeito da capital inglesa. Ele vai funcionar durante dois anos em forma de piloto e vai contar com cinco policiais com a função de dar apoio a vítimas de abuso online e identificar os criminosos.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

ALÉM DO FIO - A ESTÉTICA NEGRA E O RACISMO

“Para além dos fios”, artigo da Marcelle Felix, do Observatório de Favelas, discute o uso do cabelo crespo e black power e o combate ao racismo, além de compartilhar experiências de coletivos e pesquisas que usam as representações do cabelo nas suas atuações e discussões


Divulgação - http://meninasblackpower.blogspot.com.br/:


PARA ALÉM DOS FIOS

Por: Marcelle Felix (marcelle@observatoriodefavelas.org.br)

No Brasil, onde é possível perceber uma grande variedade de fenótipos, o conjunto cor da pele e cabelo se torna um dos principais divisores de água no que diz respeito à classificação do que antes chamávamos de raça. De acordo com a pesquisa de Nilma Gomes no livro Corpo e Cabelo Como Símbolos da Identidade Negra, o fenótipo de uma pessoa não pode ser considerado como um simples conjunto de elementos biológicos, porque são eles que expressam racismo e desigualdade racial.
Apesar de os brasileiros serem em sua maioria pretos e pardos, o padrão de beleza corporal é branco. Portanto, no Brasil – para além da origem – a cor da pele, a textura do cabelo e os traços físicos são características fundamentais para determinar se um indivíduo pode sofrer mais ou menos racismo.  Nesse contexto, segundo os estudos de Nilma Gomes, a cor da pele e o cabelo afro ganham um significado que ultrapassa o indivíduo para atingir o grupo étnico ao qual pertence, tomando ainda maior importância para mulheres negras.
Apesar do preconceito, há um grupo de mulheres que segue na valorização da estética negra e na reafirmação do cabelo afro. A blogueira Yasmin Thayná, de 21 anos, que passava química nos cabelos desde os cinco anos de idade, explica de forma poética no seu conto Mc K-bela a sucessão de ofensas direcionadas aos seus cabelos desde a infância e sua trajetória para abandonar a química e deixar seus fios naturais.

A blogueira afirma que não gostava de passar produtos químicos no cabelo, “Nunca me senti bonita usando aquilo porque era uma sessão de horror mesmo, é muito ruim não deixar alguém escolher ser quem gostaria de ser”, disse. Para ela, o processo de alisamento dos fios se apresenta como uma imposição para as mulheres negras, enquanto deveria ser uma questão de escolha.
Hoje em dia, Yasmin usa o seu conto, sites da internet, além de fazer um filme sobre essa temática da estética negra para ressignificar e revalorizar o cabelo crespo, que costuma ser visto de forma estigmatizada.  “Para mim, o cabelo afro é símbolo da minha resistência como mulher negra. Mc K-bela é um personagem que inventei e que conta a história de todas as meninas negras de periferia (várias me escreveram dizendo que passaram pelo mesmo do que eu)”, contou.
Também usando a internet como espaço para valorizar a estética negra, surgem coletivos, como as Meninas Black Power, que estimulam mulheres a valorizarem os fios crespos naturais, mostrando diferentes formas de usar o cabelo e como cuidar dele. O coletivo ainda visita escolas, principalmente em zonas periféricas, em diferentes estados do país ensinando o respeito sobre as diferenças e estimulando o uso do cabelo afro.
Segundo as Meninas Black Power, há um padrão branco de beleza que desvaloriza e oprime mulheres negras.  “O coletivo surgiu por notar a forte opressão que há em torno de indivíduos negros, sempre forçando um padrão branqueado e a não aceitação de características que são naturalmente negras”, explicou. Para elas, o cabelo afro conta uma história, além de ser um símbolo de luta e resistência.
De acordo com a pesquisa “Para Ficar bonita tem que sofrer!” – A construção de identidade capilar para mulheres negras no nível superior realizada pela socióloga Luane Bento dos Santos, o cabelo ultrapassa o campo do individual para atingir o coletivo. Segundo seus estudos, o cabelo é signo de representação cultural consciente ou inconsciente em diversas sociedades. Por meio de penteados, raspagem, ou do ato de não pentear os cabelos para que embolem, as culturas exercem distinções de sexo, classe, religião e etnia.
Ainda segundo a pesquisa, o cabelo faz parte não só de um componente estético, mas também cultural, podendo atingir os campos religioso, étnico, social, político e das preferências pessoais – que estão relacionadas direta ou indiretamente à classe social. Além disso, a pesquisa mostra que os fios podem se relacionar às demarcações e às delimitações internas hierárquicas das sociedades. Sendo um dos símbolos mais notáveis de identidade individual e social o cabelo consolida o significado do seu poder por ser físico e pessoal; e também por, apesar de pessoal, ser mais público do que privado.

Dessa forma, os coletivos e militantes que se utilizam de meios de comunicação para valorizar a estética negra e sua história fazem uso de elementos pessoais que extrapolam o pessoal para chegar ao coletivo. “Essa coroa é quem me faz acreditar que precisamos estar fortes. Essa coroa foi quem me deu a chance de me olhar no espelho após mais de dois anos sem conseguir olhar para mim e dizer: como estou bonita! Como somos lindas! Porque o mais importante de ser bonita é se sentir bonita.”, concluiu Yasmin Thayná.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

10 dicas para escrever e publicar um artigo científico

por Marina Lopes

Confira algumas sugestões para desenvolver uma boa pesquisa e divulgar o seu trabalho no meio acadêmico


Escrever e publicar um artigo científico pode não ser uma tarefa fácil. A elaboração de qualquer pesquisa exige precisão e domínio sobre o assunto. No entanto, muitas vezes os estudantes ficam em dúvida sobre a maneira correta de elaborar o seu trabalho. Por onde começar? Como definir o tema da pesquisa? Qual linguagem utilizar no texto? Esses são apenas alguns dos questionamentos que surgem.
As pessoas costumam ter dúvidas e errar porque não sabem ciências, ou não aprenderam de maneira correta, avalia Gilson Volpato, professor de redação científica, da Unesp (Universidade Estadual Paulista). “Muitos professores transformam essa disciplina em um conjunto de regras”, aponta, ao afirmar que os alunos precisam entender o que estão fazendo. Inclusive, para ajudar alunos, professores e pesquisadores a escreverem uma pesquisa acadêmica, Volpato criou o Clube SOS Ciência, que tira dúvidas on-line sobre redação científica (leia matéria no Porvir).
Leia mais:
Com base na conversa com o professor, o Porvir reuniu algumas sugestões para auxiliar na redação e publicação de um artigo científico. No entanto, conforme destacou Volpato, é preciso lembrar que não existe receita para a elaboração de uma boa pesquisa. Cada projeto possui as suas particularidades.
Confira algumas dicas:
1. Leia sobre o que já feito
Antes de começar um projeto de pesquisa, é importante checar diversas conteúdos da área para conhecer tudo o que já foi falado sobre o tema. Uma das sugestões apresentadas pelo professor Volpato é ler artigos de boas revistas internacionais.  Além disso, é preciso fazer um levantamento de publicações que podem ser utilizadas para dar base ao seu projeto.
2. Pense no nível que a sua pesquisa irá atingir
Antes de fazer um projeto é preciso identificar o nível de ciência que se pretende atingir. Identifique algumas publicações científicas que estariam no patamar da sua pesquisa. Você pretende atingir uma Science, com abrangência em diversas áreas de conhecimento, ou deseja focar em uma publicação especializada? Se a sua resposta for publicar em um veículo científico de grande abrangência, será necessário pensar e elaborar a sua pesquisa de forma que ela seja compreensível para o maior número de pessoas possível, incluindo outras áreas de conhecimento.
3. Apresente uma novidade
Não existe uma boa pesquisa sem algo novo ou relevante. “Os pesquisadores têm dificuldade de aceitar que o tema da sua pesquisa não apresenta uma novidade”, conta Volpato. Segundo ele, após ler sobre o que já foi desenvolvido dentro do tema, é necessário encontrar uma nova abordagem. Uma pesquisa muito repetitiva não pode apresentar grandes contribuições científicas.
4. Saiba a hora certa para começar a escrever
Muitas pessoas começam a escrever o seu artigo na hora errada. Segundo Volpato, para manter a unidade do texto é importante ter uma ideia completa do trabalho. Não comece a adiantar algumas partes do seu artigo sem ter concluído a pesquisa, analisado e interpretado dados.  Antes de começar a escrever, o professor afirma que é necessário já ter em mente a resposta para algumas perguntas: 1) Como surgiu a pesquisa? 2) Onde você chegou? 3) Como chegou nesse caminho e o que me faz aceitar a sua história? 4) O que isso muda na ciência? 5) Por que as pessoas se interessariam por isso?
5. Tenha em mente o tipo de revista que você gostaria de publicar
Após ter uma visão geral do trabalho, respondendo as perguntas anteriores, comece a pensar na revista que você deseja ter o seu trabalho divulgado. Leia diversos artigos e tente observar o formato que eles seguem. “É bom conhecer o jeitão da revista”, apontou Volpato. Pense nessa estrutura quando estiver escrevendo.
6. Mantenha a lógica no texto
Na hora de escrever é preciso observar se as ideias da pesquisa não estão se contradizendo. De acordo com o pesquisador, muitas pessoas acabam cometendo erros nesse item. Introdução, desenvolvimento e conclusão devem estar muito bem alinhados e relacionados. Todas as partes devem apresentar coerência e lógica. Releia o texto e veja se ele consegue manter uma unidade. Não use freses sem sentido.
7. Encontre a medida certa
O tamanho do texto não quer dizer qualidade. “Nenhuma palavra a mais, nenhuma palavra a menos. A gente tem que saber sintetizar”, apontou Volpato. Segundo ele, as pessoas tendem a achar que os trabalhos mais longos são os melhores. No entanto, o número de páginas não é sinônimo de qualidade. É  importante apresentar todos os argumentos de maneira clara e objetiva. Para o professor e pesquisador, a elaboração de um artigo deve ser semelhante a de um prédio. “Ele precisa ser vistoso, importante, sólido e econômico”, defendeu.
8. Seja claro e evite palavras que dificultam o entendimento  
Nada de prosopopéia para acalentar bovinos (ou seja, a famosa expressão “conversa para boi dormir”). Tente tornar a sua pesquisa mais acessível e troque as palavras de difícil entendimento. Segundo Volpato, a ciência tem um caráter transdisciplinar, porém, quando você escreve um artigo cheio de termos técnicos e palavras desconhecidas, a sua pesquisa tende a ficar restrita apenas para pessoas da área. “É importante pensar que você está escrevendo um texto para ser lido por diferentes públicos.”
9. Compartilhe o seu conhecimento
Após concluir um artigo é importante tentar a sua publicação em revistas de divulgação científica. Segundo o professor Volpato, a divulgação da pesquisa é tão importante quando a redação. É a partir da publicação que você poderá compartilhar o seu conhecimento com outros pesquisadores. Além disso, também terá a oportunidade de submeter o seu trabalho para avaliação de outros especialistas. Antes de enviar um artigo para análise, observe atentamente o formato exigido em cada publicação. Algumas revistas têm normas específicas que devem ser seguidas, incluindo padronização de estilo, quantidade de caracteres e outras referências.
10. Acompanhe os resultados
Não pense que a publicação do artigo é o último passo. Após divulgar a sua pesquisa, tente observar a repercussão do seu trabalho no mundo científico. Observe as contribuições acadêmicas da sua pesquisa. Ao visualizar quem está citando o seu artigo, procure entender quais reflexões estão sendo geradas a partir dele.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Golpe: por 59 a 21, veja como votou seu golpista "preferido"

por José Gilbert Arruda Martins

O golpe na democracia brasileira está em pleno andamento. Você trabalhador e trabalhadora que acompanha os acontecimentos precisa entender, os senadores e deputados golpistas mais seus partidos golpistas, não estão rasgando apenas a Constituição cidadã de 1988, estão destruindo a democracia brasileira e, junto com ela grande parte de seus direitos. Acorda antes que seja tarde demais.

Senador golpista do Distrito Federal Cristovam Buarque

Alguns senadores, como o traidor sr. Cristovam Buarque do DF, esconde-se atrás de um discurso fácil, falastrão, para tentar explicar o inexplicável.

Não tem como explicar que não é um golpe.

O que esse tipo de golpista quer dizer é que o impeachment está previsto na Constituição e na lei. Mentira, o instituto do impeachment está sim na CF e na Lei, mas tanto em uma como na outra precisa se um crime de responsabilidade que a presidenta Dilma Rouissef não cometeu então é GOLPE, não resta dúvida nenhuma.

Veja como votou seu golpista "favorito":

Por 59 votos a 21 o plenário do Senado aprovou nesta quarta-feira (10) o relatório do senador Antonio Anastasia que julga procedente a denúncia contra a presidenta afastada Dilma Rousseff por crime de responsabilidade. Dilma agora vai a julgamento final pelo plenário do Senado.
O resultado da votação foi bastante próximo do esperado pelo governo do presidente interino Michel Temer. Integrantes do governo avaliavam que o governo teria cerca de 60 votos favoráveis pela admissão.
Contra o impeachment: 21 senadores
Angela Portela (PT-RR)
Armando Monteiro (PTB-PE)
Elmano Férrer (PTB-PI)
Fátima Bezerra (PT-RN)
Gleisi Hoffmann (PT-PR)
Humberto Costa (PT-PE)
João Capiberibe (PSB-AP)
Jorge Viana (PT-AC)
José Pimentel (PT-CE)
Kátia Abreu (PMDB-TO)
Lídice da Mata (PSB-BA)
Lindbergh Farias (PT-RJ)
Otto Alencar (PSD-BA)
Paulo Paim (PT-RS)
Paulo Rocha (PT-PA)
Randolfe Rodrigues (REDE-AP)
Regina Sousa (PT-PI)
Roberto Requião (PMDB-PR)
Roberto Muniz (PP-BA)
Telmário Mota (PDT-RR)
Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM)
Não votou
Renan Calheiros (PMDB-AL) - presidente do Senado
A favor do impeachment: 59 senadores
Acir Gurgacz (PDT-RO)
Aécio Neves (PSDB-MG)
Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP)
Alvaro Dias (PV-PR)
Ana Amélia (PP-RS)
Antonio Anastasia (PSDB-MG)
Antonio Carlos Valadares (PSB-SE)
Ataídes Oliveira (PSDB-TO)
Benedito de Lira (PP-AL)
Cássio Cunha Lima (PSDB-PB)
Cidinho Santos (PR-MT)
Ciro Nogueira (PP-PI)
Cristovam Buarque (PPS-DF)
Dalirio Beber (PSDB-SC)
Dário Berger (PMDB-SC)
Davi Alcolumbre (DEM-AP)
Edison Lobão (PMDB-MA)
Eduardo Amorim (PSC-SE)
Eduardo Braga (PMDB-AM)
Eduardo Lopes (PRB-RJ)
Eunício Oliveira (PMDB-CE)
Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE)
Fernando Collor (PTC-AL)
Flexa Ribeiro (PSDB-PA)
Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN)
Gladson Cameli (PP-AC)
Hélio José (PMDB-DF)
Ivo Cassol (PP-RO)
Jader Barbalho (PMDB-PA)
João Alberto Souza (PMDB-MA)
José Agripino (DEM-RN)
José Aníbal (PSDB-SP)
José Maranhão (PMDB-PB)
José Medeiros (PSD-MT)
Lasier Martins (PDT-RS)
Lúcia Vânia (PSB-GO)
Magno Malta (PR-ES)
Marta Suplicy (PMDB-SP)
Omar Aziz (PSD-AM)
Paulo Bauer (PSDB-SC)
Pedro Chaves (PSC-MS)
Raimundo Lira (PMDB-PB)
Reguffe (sem partido-DF)
Ricardo Ferraço (PSDB-ES)
Ricardo Franco (DEM-SE)
Roberto Rocha (PSB-MA)
Romário (PSB-RJ)
Romero Jucá (PMDB-RR)
Ronaldo Caiado (DEM-GO)
Rose de Freitas (PMDB-ES)
Sérgio Petecão (PSD-AC)
Simone Tebet (PMDB-MS)
Tasso Jereissati (PSDB-CE)
Valdir Raupp (PMDB-RO)
Vicentinho Alves (PR-TO)
Waldemir Moka (PMDB-MS)
Wellington Fagundes (PR-MT)
Wilder Morais (PP-GO)
Zeze Perrella (PTB-MG)
FONTE:
http://www.msn.com/pt-br/noticias/crise-politica/impeachment-por-59-votos-a-21-veja-como-votou-cada-senador/ar-BBvst8r?li=AAggXC1&ocid=mailsignout
 

sábado, 6 de agosto de 2016

O menino José e o Rio Grajaú

por José Gilbert Arruda Martins

“Quando eu era cristão e queria lutar contra a miséria,
meu dia começava com um Pai-Nosso.
Tinha fome de divindade.
Hoje, ainda luto contra a miséria, mas meu dia começa com um Pão Nosso.
Tenho fome de humanidade.”

Betinho




José era um menino grajauense. Nasceu na cidade de Grajaú, estado do Maranhão na Rua São Paulo do Norte.

O pai, seu Amadeu era comerciante. A mãe, dona Neusa era professora.

Grajaú é uma cidade do Centro-Sul do Estado do Maranhão, fundada em terras indígenas em abril de 1811 à margem leste do Rio Grajaú. “O local também era conhecido como Porto da Chapada. A margem oeste, à época, era habitada pelos índios Timbiras e Piocobjés.”

Segundo o IBGE a cidade foi “uma das maiores conquistas dos colonizadores sobre os indígenas nos sertões do Maranhão.”

José não sabia, iria conhecer mais tarde, autores de livros sobre a história do município, em uma campanha cega e tendenciosamente assassina, têm frequentemente divulgado o suposto massacre de “brancos conquistadores”, esquecendo as milhares de vidas brutalmente retiradas dos indígenas em nossa região.

José e seus amigos, não tinham ideia, é claro, que um clã maranhense tomaria de assalto o poder político e fincaria suas sujas garras no povo e nas riquezas do Estado.

Só, durante a graduação do, agora rapaz José, é que começaria a entender a política sórdida do clã Sarney.

O hoje adulto José triste e pensativo, ainda tem que ver os antigos amigos do tempo de criança apoiarem o que há de mais atrasado na política brasileira que é o retorno do clã Sarney ao governo.

“(...) mas o rebanho de ingênuos navegantes
Acorrentados ao canto da sereia
Marcha em direção ao nada”

O Maranhão é um Estado que pode muito bem ser chamado de “Sarneykistão”, pois durante cerca de meio século teve o Clã Sarney à frente do governo.

Agora com Flávio Dino, alguns incautos desejam mesmo é “50 anos em 1”, e isso, principalmente nos dias atuais, não é possível.

Muito bem, essa história é para falar do José e seus amigos e não da política maranhense.

José e seus amigos, lá nos idos anos 60/70, tinham frequentado a escola na parte da manhã e agora, de barriga cheia, corriam desembestados pelas ruas estreitas da cidade, partindo da Praça Raimundo Simas (antes da destruição), passando pelas ruas São Paulo do Norte e rua “da Madeira”... rumo às águas maravilhosas do rio que dá nome à cidade de Grajaú.

Na época, o Rio Grajaú ainda tinha águas limpas e cristalinas, a população da cidade era pequena, portanto a quantidade de lixo, entulho e esgotos jogados no rio já comprometia, mas o Grajaú conseguia ainda reagir.

Esse dado, apesar de sugerir que em pouco tempo o Grajaú estaria sujo, feio e poluído, para os garotos esse era um fato que não passava por suas mentes, apenas conseguiam enxergar, por causa da pouca idade, a beleza de suas águas, de seus peixes, de suas margens, do jacaré que morava ali próximo e atravessava de um lado para o outro, todos os dias...

A alegria dos meninos estava estampada na cara, chegava o momento diário do encontro com o Grajaú. Nem dormiam direito à noite se não banhassem no rio. Era uma espécie de ritual, as brincadeiras e o banho de rio faziam parte da vida quase que diária dos garotos.

O grupo de meninos... José,  Givalber do Amadeu, Clesiomar do Cartucho, Sérgio do Dezim, Césinha do Eurico, Niltinho do Milton Gomes, Limeirinha e Sérgio da Coralha, Joel Falcão do Zé Baiano, Benedito Jefferson, Valney Sarmento da Rita Sarmento, Argemiro, Batista do Carlos Neto, Jessé Allan, Allan Ulisses, Cacau...

No caminho para o rio, os garotos passavam pela rua São Paulo do Norte onde José morava, davam boa tarde ao senhor Urbano, dono da mercearia, e corriam fazendo muita zoada rumo ao Grajaú.

No Colégio Estadual Urbano Santo, uma escola ao lado da casa do José, tinha um campinho de futebol onde todos os dias, essa mesma garotada jogava bola, para, logo depois irem ao Rio tomar banho.

A bola teimava em cair na casa do José onde seu Amadeu, pai do José, gritava “isso é uma lástima, por que vocês não vão brincar em outro lugar?”, era uma bagunça, seu Amadeu, muitas vezes devolvia a bola, outras, para a tristeza da garotada, furava e jogava a bola de volta, como dissesse, “Saiam daqui seus pestinhas”.

Além do campinho de futebol, a escola tinha professoras, isso mesmo, professoras.  A de História contava aos meninos que a região de Grajaú, antes da invasão branca, era povoada por índios guajajaras e a de Geografia nos ensina que:

“O rio Grajaú foi responsável pela integração de dois espaços distintos: o Centro Sul e o Norte maranhense. Foi cenário de histórias de duas sociedades diferenciadas: a sertaneja, distanciada do controle político dos líderes da Capital, marcada pela criação do gado vacum e muar, pela presença de vaqueiros e por homens de “espírito patriótico e livre”, e a litorânea, identificada pelo predomínio da agricultura, agro exportação, escravidão e influência dos costumes europeus.”

José e os amigos adoravam essa parte da aula, todos ficavam quietos e atentos, bebendo as palavras da professora. Era uma forma que encontravam de conhecer melhor a história da cidade e o Rio que amavam. Assim poderiam cuidar para tê-lo por muito e muito tempo.

Os garotos sabiam que o Rio Grajaú era um presente dos deuses para toda a população da cidade.

Os amigos sabiam também que Rio Grajaú era democrático, todas e todos, independentemente de cor, raça, poder econômico etc. poderiam se deliciar banhando, pescando e bebendo da sua água.

Os meninos, amigos de José, aprenderam com a professora que o rio Grajaú nasce na Serra da Cinta, viaja por mais de 600 km e é um dos principais afluentes do rio Mearim.

Sabiam que precisavam, além de banhar e se divertir, lutar pela defesa e preservação do Rio.

Depois do banho diário se despediam do rio com a certeza que no dia seguinte estariam de volta para usufruir das belezas de suas águas.

Grajaú, todo orgulhoso, ouvia o até logo da garotada e balançava em movimentos das águas bem devagar, como se tivesse dançando de satisfação por ter alegrado a vida do José e seus amigos.

O Grajaú gostava muito daquela alegria. Queria que não acabasse nunca. De dia, lavadeiras e crianças e à noite, pescadores pegando buscando em suas águas o alimento da família.

Grajaú devia, de vez em quando, lembrar-se dos velhos e bons tempos quando, em suas águas barcos cargueiros e vareiros com suas canoas, flutuavam passeando em suas águas. O Rio era o “ganha-pão” de milhares de pessoas e famílias.

Certa madrugada choveu muito, choveu tanto que o Grajaú encheu e derramou suas águas, agora barrentas, pelas partes mais baixas da cidade. Muitos moradores saíam para observar.

José e seus amigos acompanharam a multidão.

Chegando em frente às margens do Grajaú, perceberam que ele estava diferente, intranquilo, correndo rapidamente, como se tivesse querendo dizer alguma coisa aos meninos.

Talvez, o Grajaú tivesse aflito em dizer que sua sina era morrer.

Talvez, o Grajaú quisesse conversar com José e amigos para pedir socorro.

O Grajaú parecia adivinhar seu futuro sombrio.

José e seus amigos só davam ouvidos quando o Grajaú chamava para brincar em suas águas. Os meninos acreditavam na imortalidade do Rio. Não imaginavam que num futuro bem próximo, aquele velho e bom amigo, Rio Grajaú estaria fadado a ser um esgoto a céu aberto, sem beleza, sem peixes, sem vida.

REFERÊNCIAS:

VAREIROS DO RIO GRAJAÚ - Alan Kardec G. Pachêco Filho -  alankardecpacheco@uol.com.b

Fragmento do poema “O eterno mar dos incautos” de Carlos Araújo, poeta brasiliense no livro “Voz, poesia falada” 2016.