segunda-feira, 3 de junho de 2019

O TRABALHO



Emerson Elias Merhy
Túlio Batista Franco

Toda atividade humana é um ato produtivo, modifica alguma coisa e produz algo Novo. Os homens e mulheres, durante toda a sua história, através dos tempos, estiveram ligados, de um modo ou outro, a atos produtivos, mudando a natureza.



Quando eles tiram um fruto de uma árvore, ou caçam um animal, estão fazendo um ato produtivo e transformando a natureza.

O fruto fora da árvore ou o animal caçado só existem, agora, pelo ato produtivo desses homens e mulheres. Isso é uma transformação da natureza pelo trabalho humano.

Homens e mulheres vivem em sociedade, sempre em coletivos, juntos. Os seus trabalhos também se realizam em conjunto; são atividades organizadas uma com as outras.

O trabalho de um se organiza junto ao do outro. E, o modo como o trabalho se Organiza e para que ele serve é importante para entendermos a sociedade que vivemos.

Ao trabalharmos, todos nós, modificamos a natureza e nos modificamos. O ato do trabalho funciona como uma escola: mexe com a nossa forma de pensar e de agir no mundo. Formamo-nos, basicamente, no trabalho.

Há autores, como Karl Marx, que dizem que o trabalho é a essência da humanidade dos homens, ou como Paulo Freire, que afirmam que a cultura é dada pela forma como trabalhamos o mundo, para que possa fazer sentido para nós.

Quando caçávamos animais, estávamos dizendo que os animais estavam aí para serem nossos alimentos, dávamos este sentido de existência para eles.

Hoje, é assim também. Quando tiramos árvores para fazer madeira, estamos dizendo que as árvores são importantes por serem fontes de matéria-prima: o carvão para fazer fogo, a madeira para fazer casa ou móveis, entre outros.

Mas, ainda bem, que estes sentidos não são fixos. Variam conforme a sociedade, as necessidades e os interesses que nós construímos em cada época. Interesses que são muito variados e que, muitas vezes, brigam entre si.

Por exemplo, muitos de nós defendem que árvores, hoje, não são fonte de madeira, mas seres vivos importantes que contribuem de modo fundamental para manter a vida em geral, na Terra.

As sociedades e as formas de organização do trabalho, portanto, têm história. Variam no tempo, modificam-se assim como nós.

A sociedade em que vivemos, hoje, a capitalista, existe de alguns séculos para cá. Antes dela, outras formas de organização social e de trabalho existiram, como, por exemplo, as sociedades de senhores e escravos, as dos reis e dos servos, entre outras.
O modo como o trabalho é realizado e o que se faz com seus produtos variam conforme a sociedade que estamos analisando.

Nas sociedades de caça e coleta, o trabalho é propriedade de cada um, e o produto do trabalho pertence a quem o faz. Nas sociedades de senhores e escravos, o trabalho do escravo pertence ao senhor.

Dizemos que o trabalho é produtor de ‘valores de uso’ e de ‘valores de troca’.

Conforme a necessidade que procura satisfazer, o trabalho produz um produto que carrega um certo ‘valor de uso’, por exemplo, a caça serve para alimentar satisfazendo esta necessidade; por outro lado, se caço para trocar por uma fruta, a utilidade dele agora é de ser trocado por outro produto que outro trabalhador produziu. Agora, o que aparece é o seu ‘valor de troca’.

Nas sociedades, o modo como estes dois componentes se comportam varia.

Nas sociedades capitalistas, o produto do trabalho do trabalhador e da trabalhadora é do patrão ou da empresa que o emprega. Ele só recebe um salário por trabalhar e não pelos produtos que produz.

A riqueza da sociedade, se medida pela quantidade de trabalho e de produtos que o trabalho produz, é desigualmente distribuída.

Quem trabalha, como regra, é quem menos recebe da riqueza produzida.

Assim, o trabalho do trabalhador serve para produzir produtos que tenham ‘valores de troca’ para o patrão.

Há sociedades modernas, como as socialistas, que defendem que a riqueza é de toda a sociedade e que a sua distribuição deve ser feita de acordo com o trabalho e a necessidade de cada um.

O trabalho e alguns de seus detalhes nos microprocessos.

O objeto do trabalho – o animal a ser caçado, a planta a ser colhida, o aço a ser trabalhado – vai adquirir sentido – ser alimento, virar automóvel – pela ação intencional do trabalhador, através de seu trabalho com as suas ferramentas, seus meios de trabalhar e o modo como organiza os seus usos.

Entretanto, um trabalho não é igual ao outro. De acordo com o que produz, um trabalho difere do outro.

Por exemplo, para produzir carro tem de se fazer de um certo modo; para produzir saúde, tem de se produzir de outro.

Cada produção de um produto específico exige técnicas distintas, matéria-prima diferente, modos específicos de organizar o trabalho e trabalhadores próprios para aquela produção. Cada trabalho tem como seu objeto coisas distintas.

Todo processo de trabalho combina trabalho em ato e consumo de produtos feitos em trabalhos anteriores.
Na produção de um carro, exigem-se placas de aço. Para o trabalhador fazer em ato o carro necessita que o aço esteja já feito. Este aço é produto de trabalho de uma outra produção feita antes pelo trabalhador de uma siderúrgica.

Assim, o trabalho de fazer carro combina um trabalho em ato do trabalhador, que está fabricando o carro, e um trabalho feito antes por outro trabalhador, em outro tipo de fábrica.

Chamamos o trabalho feito em ato de ‘trabalho vivo em ato’, e o trabalho feito antes, que só chega através do seu produto – o aço – chamamos de ‘trabalho morto’.

O trabalho vivo em ato nos convida a olhar para duas dimensões:

Uma, é a da atividade como construtora de produtos, de sua realização através da produção de bens, de diferentes tipos, e que está ligada à realização de uma finalidade para o produto (para que ele serve, que necessidade satisfaz, que ‘valor de uso’ ele tem?);

A outra dimensão é a que se vincula ao produtor do ato, o trabalhador, e à sua relação com seu ato produtivo e os produtos que realiza, bem como com suas relações com os outros trabalhadores e com os possíveis usuários de seus produtos.

Detalhar estas duas dimensões é fundamental para entendermos o que é o trabalho como prática social e prática técnica.

Como ato produtivo de coisas e de pessoas.

Como produtor de bens, o trabalhador está amarrado a uma cadeia material dura e simbólica, pois o ‘valor de uso’ do produto é dado pelo ‘valor referente simbólico’ que carrega, construído pelos vários atores sociais em suas relações.

Já o ‘valor de troca’ de um produto está amarrado à forma como funciona uma sociedade, que é historicamente fabricada pelos homens, como a capitalista em que vivemos, hoje.

Se para a produção de carro o ‘valor referente simbólico’ é servir para transportar ou até para se exibir com uma máquina especial (para quem deseja não um carro mas uma Ferrari), para a produção da saúde o ‘referente simbólico’ é ser cuidado ou vender procedimentos para ganhar dinheiro. Depende de quem está em cena, seu lugar social, seu lugar no processo produtivo, seus valores culturais, entre várias outras coisas.

Por isso, advogamos que nas sociedades de direito à saúde, como é a brasileira, de acordo com sua constituição de 1988, o ‘trabalho em saúde’ deve pautar-se pelo ‘referente simbólico’: ato de cuidar da vida, em geral, e do outro, como se isso fosse de fato a alma da produção da saúde.

E, assim, tomar como seu objeto central o mundo das necessidades de saúde dos usuários individuais e coletivos, expressos como demandas pelas ações de cuidado. Em última instância, a finalidade que advogamos para as práticas de saúde é a de visar à produção social da vida e defendê-la.

















E se nos livrássemos dos donos do dinheiro?

Avança no mundo a MMT, teoria libertadora sobre finanças e poder. Ela sugere: Estados e sociedades podem emitir moeda quase sem restrições — e promover o Comum e a redistribuição de riquezas. Quais suas bases históricas e conceituais?

no Outras Palavras

por 



Por Ellen Brown| Tradução: Felipe Calabrez |Imagem: 
William Gropper
Os cânones da chamada ciência econômica parecem viver uma crise terminal. As divergências internas à disciplina não são, é claro, novidade. O que tem ocorrido, no entanto, é que os preceitos da ala dita “mainstream” — vale dizer, a abordagem mais aceita nos departamentos norte-americanos e de língua inglesa, e que goza de maior prestígio acadêmico e no mundo financeiro – têm sofrido uma crítica devastadora. Alguns chegam a vaticinar a morte da macroeconomia.
Uma das frentes críticas que mais tem se destacado é a que ficou conhecida como MMT (Modern Monetary Theory, ou Teoria Monetária Moderna). A MMT solapa as bases da teoria monetária ao afirmar, resumidamente, que os Estados soberanos na cunhagem de sua própria moeda (o Brasil, entre tantos outros) não enfrentam restrições financeiras. Essa afirmação, longe de se restringir a controvérsias meramente teóricas, pode produzir efeitos revolucionários nas políticas públicas dos Estados nacionais. Ela subverte o raciocínio fiscalista hoje predominante em grande parte do mundo ocidental cujos fracassos se acumulam há anos. No Brasil, aliás, eles aparecem agora com clareza ainda maior…
“Outras Palavras” tem dado espaço a esse debate, por compreender sua importância e seu potencial transformador. Por isso publicamos a tradução de outro texto instigante — agora de Ellen Brown, pensadora estadunidense que dirige o Public Banking Institute.
Brown resgata o processo pelo qual o governo dos EUA construiu um sistema de endividamento público que drena o dinheiro da sociedade e o transfere para um grupo seleto de negociadores e compradores de títulos públicos. Seu ponto central é: como tem soberania monetária o governo poderia simplesmente financiar-se utilizando o Banco Central (no caso norte-americano, denominado Federal Reserve, ou FED). No limite, o Estado não precisa do dinheiro do contribuinte para se financiar. A cobrança de impostos entra aqui como reguladora do nível de atividade econômica, e, portanto, controladora do nível de preços.
No entanto, a emissão de moeda pelo Estado, que poderia transformar as políticas públicas, está bloqueada há décadas. Um forte lobby financeiro instituiu regras que impedem tal medida, deixando o governo refém do crédito privado. Trata-se da Revolução do poder dos banqueiros de Wall Street, nos diz a autora.
Esse debate se faz urgente no Brasil. De acordo com a secretaria do Tesouro Nacional, doze instituições (nove bancos e três corretoras) atuam no mercado primário e secundário de títulos públicos. Um mercado que movimenta centenas de bilhões ao ano e consome fatia expressiva do orçamento público, apenas com o pagamento dos juros.
O Brasil, repetem governo e grande imprensa com uma insistência fatigante, está à beira de um colapso fiscal e precisa cortar gastos de toda ordem, incluindo aposentadorias, investimentos em infraestrutura, saúde e educação, preservando tão somente suas despesas financeiras. Ora, e se o governo utilizasse seu Banco Central para financiar todas essas demandas urgentes? Descambaríamos para uma hiperinflação, mesmo com toda essa capacidade ociosa na economia? A MMT é taxativa em sua reposta: Não!
Então porque o governo não o faz? — poderia indagar o leitor. A resposta a essa questão fica sugerida com a seguinte pergunta: O que seria dos ganhos financeiros das grandes instituições que aplicam em títulos públicos para “financiar” o governo se ele passasse a se financiar cunhando a própria moeda?
É verdade que as regras que regem a relação entre Banco Central e Tesouro Nacional no Brasil vedam o financiamento do Tesouro via Banco Central. Mas quem são os interessados na criação e manutenção dessas regras?
Brown nos conta sobre o caso norte-americano. Qualquer semelhança com o caso brasileiro não há de ser mera coincidência. (Felipe Calabrez)
A dívida federal dos EUA mais do que dobrou desde a crise financeira de 2008, passando de US$ 9,4 trilhões (R$ 37 trilhões) em meados de 2008 para mais de US$ 21 trilhões (R$ 82,9 trilhões) em meados de 2018 e mais de US$ 22 trilhões (R$ 86,9 trilhões) em abril de 2019. Essa dívida nunca é paga. O governo apenas mantém o pagamento dos juros, cujas taxas estão subindo.
O Fed (sigla de Federal Reserve, o Banco Central norte-americano) anunciou planos de elevar as taxas até 2020 para níveis “normais” – uma meta de 3,5% para títulos federais – e de vender cerca de US$ 1,5 trilhão (R$ 5,9 trilhões) em títulos federais. Isso aumentará ainda mais a montanha de dívida federal nas mãos do mercado. E, ao contrário do Fed, os novos compradores desses títulos estarão embolsando os juros, aumentando a conta a ser paga pelos contribuintes.
Se o Fed seguir com seus planos, as projeções são de que, até 2027, os contribuintes dos EUA gastarão US$ 1 trilhão (R$ 3,9 trilhões) por ano apenas em juros sobre a dívida federal. Isso seria suficiente para financiar o plano de infraestrutura de trilhões de dólares do presidente Donald Trump a cada ano, e é uma transferência direta de riqueza da classe média para os ricos investidores detentores da maioria dos títulos.
De onde virá esse dinheiro? Impostos escorchantes, privatização generalizada de bens públicos e eliminação de serviços sociais não serão suficientes para cobrir a conta.

Não é preciso endividar-se com os rentistas

A ironia é que os Estados não precisam ter uma dívida com os detentores de títulos. Os EUA, por exemplo, têm sido financeiramente soberanos desde que o presidente Franklin Roosevelt desvinculou as emissões domésticas de dólar do padrão-ouro, em 1933. Isso foi reconhecido por Beardsley Ruml, presidente do Federal Reserve Bank de Nova York, em uma apresentação em 1945 perante a American Bar Association. , “Impostos para obter receita são obsoletos”.
“A necessidade de o governo tributar para manter tanto sua independência quanto sua solvência é verdadeira para os governos estaduais e locais”, disse ele, “mas não é verdade para um governo nacional”. O governo agora estava livre para gastar o quanto fosse necessário para cumprir seu orçamento, com base em crédito emitido por seu próprio banco central. Isso poderia acontecer até que a inflação de preços indicasse um enfraquecimento do poder de compra da moeda.
Então, e somente então, o governo precisaria cobrar impostos — não para financiar o orçamento, mas para contrabalançar a inflação, contraindo a oferta monetária. O principal objetivo dos impostos, disse Ruml, era “a manutenção de um dólar que tivesse poder de compra estável ao longo dos anos. Às vezes, esse propósito é declarado como “evitar a inflação”.
O governo poderia ser financiado sem impostos, recebendo crédito de seu próprio banco central; e como não havia mais necessidade de ouro para cobrir o empréstimo, o banco central não precisaria pedir emprestado. Poderia apenas criar o dinheiro em seus livros contábeis. Essa percepção é um princípio básico da Teoria Monetária Moderna: o governo não precisa pedir emprestado ou tributar, pelo menos até surgirem sinais de alta de inflação. Pode apenas criar o dinheiro necessário, gerando um débito em sua conta no Fed.

A “Revolução de Poder” dos banqueiros

Poderia fazer isso em teoria, mas algumas leis precisariam ser mudadas. Atualmente, o governo federal é obrigado [tanto nos EUA quanto no Brasil e na maior parte dos países ocidentais] a ter o dinheiro em sua conta antes de gastá-lo. Depois que o dólar saiu do padrão-ouro em 1933, o Congresso poderia ter mandado o Fed simplesmente imprimir dinheiro e emprestá-lo ao governo, tirando os bancos da jogada. Mas o baronato financeiro de
Wall Street pressionou por uma emenda ao Federal Reserve Act, proibindo o Fed de comprar títulos diretamente do Tesouro, como havia feito no passado.
Segundo Marriner Eccles, presidente do Federal Reserve de 1934 a 1948, a proibição de permitir que o governo contratasse empréstimos de seu próprio banco central foi escrita na Lei Bancária [Banking Act] de 1935, a pedido dos negociantes de valores mobiliários. Uma revisão histórica no site do New York Federal Reserve cita Eccles afirmando: “Eu acho que as verdadeiras razões para escrever a proibição do [Banking Act] … podem ser atribuídas a certos negociantes de títulos do governo que naturalmente tinham seus olhos nos negócios que poderiam ser perdidos se a compra direta fosse permitida ”.
O governo era obrigado a vender títulos através dos intermediários de Wall Street, e o Fed só podia comprar através de “operações de mercado aberto” conduzidas pelo Comitê de Mercado Aberto. O deputado Wright Patman, presidente do Comitê de Bancos e Moedas da Câmara de 1963 a 1975, qualificou a sanção oficial do Federal Open Market Committee (FOMC), nas leis bancárias de 1933 e 1935, como a transferência do “poder do dinheiro” aos bancos. O FOMC estabeleceu um mecanismo pelo qual o dinheiro era criado através de vendas de títulos, no que era essencialmente um mercado manipulado. Patman disse: “O ‘mercado aberto’ é, na realidade, um mercado fortemente fechado”. Somente alguns poucos negociadores de títulos (dealers) tinham direito a fazer lances nos títulos que o Tesouro disponibilizava para leilão a cada semana. O efeito prático, disse ele, era pegar dinheiro do contribuinte e entregá-lo a esses negociadores.

Alimentando-se da economia real

Esse subsídio maciço a Wall Street foi objeto de depoimento de Eccles ao Comitê da Câmara sobre Operações Bancárias e Moeda, de 3 a 5 de março de 1947. O deputado Patman perguntou a Eccles, presidente do Banco Central: “Agora, desde 1935, para os bancos públicos comprarem títulos do governo, eles têm que passar por um intermediário, está correto? ”Eccles respondeu afirmativamente. Patman então se lançou em uma advertência profética, afirmando: “Eu me oponho a que o governo dos Estados Unidos, que possui o privilégio soberano e exclusivo de criar dinheiro, pague banqueiros privados pelo uso de seu próprio dinheiro. (…) Insisto que é absolutamente errado que esta comissão permita que esta condição continue e onere os contribuintes desta nação com uma carga de dívidas que não poderão liquidar em cem ou duzentos anos. ”
A verdade dessa afirmação é dolorosamente evidente hoje, quando os EUA têm uma dívida de US$ 21 trilhões que não pode ser reembolsada. O governo apenas continua rolando e pagando juros aos bancos e detentores de bônus, alimentando a economia “financeirizada”, na qual o dinheiro ganha dinheiro sem produzir novos bens e serviços. A economia financeira tornou-se um parasita que se alimenta da economia real, levando os produtores e trabalhadores a se endividar cada vez mais.
Nos anos 1960, Patman tentou nacionalizar o Fed. O esforço fracassou, mas seu comitê conseguiu forçar o banco central a repassar seus lucros para o Tesouro após deduzir seus custos. A proibição contra empréstimos diretos pelo banco central ao governo, no entanto, permanece em vigor. O poder do dinheiro ainda está com o FOMC e os bancos.

Um modelo pelo qual não se pode mais pagar

Hoje, o modelo de crescimento da dívida atingiu seus limites, como até o Bank for International Settlements, o “banco central dos bancos centrais” da Suíça, reconhece. Em seu relatório anual de junho de 2016, o BIS disse que os níveis de endividamento estavam muito altos, o crescimento da produtividade era muito baixo e o espaço para a manobra política era muito estreito. “A economia global não pode se dar ao luxo de confiar mais no modelo de crescimento impulsionado pela dívida que a trouxe para a atual conjuntura”, alertou o BIS.
Mas as soluções propostas pelo BIS representam a continuidade das políticas de austeridade impostas há muito tempo aos países que não podem pagar suas dívidas. Ele prescreveu “políticas prudenciais, fiscais e, acima de tudo, estruturais” — “reajustes estruturais”. Isso significa privatizar ativos públicos, cortar serviços e elevar impostos, sufocando a própria produtividade necessária para pagar as dívidas das nações. Essa abordagem tem sido tentada repetidamente e levada ao fracasso, como pudemos notar mais recentemente na devastada economia da Grécia.
Enquanto isso, de acordo com o presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, a regulação financeira reduziu, desde 2008, as chances de outro resgate do governo apenas modestamente, de 84% para 67%. Isso significa que ainda há uma chance de 67% de outra grande crise sistêmica, e esta pode ser pior que a anterior. Os grandes bancos estão ainda maiores; os bancos locais, menores; e os níveis globais de dívida estão mais altos. A economia tem mais espaço para cair. Os modelos dos reguladores são obsoletos, voltados para uma forma bancária ultrapassada, que há muito tempo foi abandonada.
Nós precisamos de um novo modelo, desenhado para servir às necessidades do público e da economia real, em vez de maximizar os lucros dos especuladores às suas custas.

ASSESSORES DE FLÁVIO BOLSONARO GANHAVAM E NÃO TRABALHAVAM



O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) empregou nove parentes de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro, no período em que foi deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio.



A maioria deles vive em Resende, no Sul do estado e todos tiveram o sigilo fiscal e bancário quebrado por decisão do Tribunal de Justiça do RJ.
Em Resende, o vendedor aposentado José Procópio Valle e Maria José de Siqueira e Silva, pai e tia de Ana Cristina, jamais tiveram crachá funcional da Alerj. Ele ficou lotado cinco anos e ela, nove.
Já a irmã Andrea Siqueira Valle e o primo Francisco Diniz constaram como funcionários por mais de uma década e só há registro de crachá para o ano de 2017.
Diniz é o que ficou mais tempo lotado, um total de 14 anos. Durante esse tempo, ele cursou a faculdade de veterinária, em período integral, em Barra Mansa, também no Sul do estado.
O grupo de familiares é alvo da investigação que apura a prática de “rachadinha” no gabinete, devido às movimentações atípicas, em um total de R$ 1,2 milhão, de Fabrício Queiroz, outro ex-assessor.
Em Guarapari, no litoral do Espírito Sаnto, a fisiculturista Andrea Siqueira Valle, de 47 anos.
Quem conhece Andrea agora não imagina que, até agosto de 2018, ela tinha um salário bruto de R$ 7.326,64, além de receber um auxílio educação de R$ 1.193,36.
Ela esteve lotada no gabinete de Flávio Bolsonaro desde 2008, sendo que, por nove anos, jamais teve identificação funcional.
Lotado no gabinete de Flávio Bolsonaro por 14 anos, o veterinário Francisco Siqueira Guimarães Diniz, de 36 anos, é primo de Ana Cristina e filho de Marina Siqueira Diniz, tia da ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro e também ex-assessora de Flávio. Tanto mãe como filho tiveram os sigilos fiscal e bancário quebrados pela decisão judicial.
Diniz chegou a ganhar um salário bruto de R$ 7.326,64, com direito ainda a auxílio-educação de R$ 1.052,34. Ele só foi exonerado em fevereiro de 2017. Apesar de estar lotado por 14 anos, somente em 2017, quando ele só constou como funcionário por dois meses, é que foi pedido um crachá funcional da Alerj para ele.
A professora aposentada Maria José Siqueira e Silva, de 77 anos. Tia de Ana Cristina, em 2003, o deputado estadual Flávio Bolsonaro, em seu primeiro mandato, a requisitou para seu gabinete na Alerj.
chegou a receber um salário bruto de R$ 4.400,06. Nunca teve crachá funcional da Alerj.
Maria José se aposentou em 2012, logo depois da exoneração no gabinete de Flávio. Procurada, Maria José disse que não iria se pronunciar.
O vendedor aposentado José Cândido Procópio da Silva Valle, de 76 anos, é pai de Ana Cristina Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro. Ele foi nomeado no gabinete de Flávio em 2003. Lá, teve um salário bruto que chegou a R$ 6.322,28 em 2007.
(...)


FONTE: Folha de S Paulo

domingo, 2 de junho de 2019

O MEDO DA ELITE BRASILEIRA



A construção da elite brasileira passa, que me perdoe Jesse Souza, pela chagada dos invasores portugueses, ali se apresentava o embrião de uma classe social perversa e mesquinha.



Os indígenas da nova terra sofreram na pele e na alma o roubo de suas riquezas a exploração do seu corpo...
As mulheres indígenas, muitas delas, crianças, sofreram estupros e todo tipo de violência para saciar a sede de sexo dos recém-chegados conquistadores...
Com o açúcar aparece o senhor de engenho, continuaram os estupros e, abre-se uma nova onda na relação social, além da escravidão indígena, monta-se uma mega estrutura para exploração da escravidão negra...
Essa estrutura econômica convivia facilmente com outras, a organização social baseado no patriarcado, no mandonismo, na vigilância do capitão-do-mato...
A história brasileira foi marcada profundamente pela violência bruta das elites contra o povo...
A escravidão indígena, a escravidão negra e a acumulação de riqueza nas mãos das elites mostram historicamente isso...
Para esconder essa infâmia escritores e pesquisadores elitistas criarão a grande mentira do “brasileiro cordial”...
Essa mentira pegou, se alastrou e conseguiu esconder por bastante tempo a violência que é marca das elites contra os de baixo...
Agora, das manifestações de 2013, passando pelo golpe de 2016 às micaretas fascistas, o ódio das elites é desvelado...
As manifestações contra as esquerdas...
As manifestações orquestradas pela Globo e a grande mídia conservadora, destampou a panela do ódio outrora oculto...
O brasileiro fascista, normalmente de classe média branca, teleguiado pelas elites, não tem nenhuma vergonha de dizer que odeia pobre, orgulha-se de ser racista, que é homofóbico ou que bate em mulher...
As elites, elas mesmas não falam, ficam do seu bunker, teleguiando através dos bolsominions seu ódio histórico contra o povo negro, as populações periféricas, os gays, os quilombolas, indígenas e pobres em geral...
As elites usam parte da classe média branca como capitão-do-mato numa tentativa desesperada de controlar e impedir a ascensão social do povo explorado às universidades e locais de convívio que antes só entravam os privilegiados do sistema...
Uma coisa positiva podemos constatar...
A classe trabalhadora, o povo em geral conhece agora quem são seus algozes, só apoia se quiser...

Por José Gilbert Arruda Martins






sábado, 1 de junho de 2019

GLOBO MENTE SOBRE A PREVIDÊNCIA



A Globo entrou definitivamente no esquema para aprovar a Reforma da Previdência.



Até há duas semanas ela vinha batendo no governo.
O lobista Paulo Tonet foi chamado ao Planalto...
Depois disso, a Globo resolveu se jogar na campanha para ferrar o povo brasileiro.
E, como ela sabe editar, construir textos e enganar o povo...
Infelizmente mas uma vez, onde a Globo entra e a sociedade sai no prejuízo...
A capilaridade, quer dizer, a entrada da Globo na tua casa, no teu local de trabalho, em bares, hospitais faz dela um quarto poder...
A família Marinho, que engordou com a Ditadura Militar, nunca, jamais preocupou-se como povo...
Vende entretenimento de baixa qualidade ao povão...
Manipula o povo e em troca recebe milhões em verbas de anúncios...
Como a Globo pode afirmar que a maioria da população brasileira concorda com a reforma da previdência se, apenas 6% sabe alguma coisa sobre a própria reforma?
E Conversa Afiada do PH trás um pequena matéria que fala...
Jandira prova: Guedes mente sobre a Previdênssia!
Quando o Primata do Guedes e o Rogério Marinho, relator da reforma da Previdênssia foram, finalmente, ao Congresso explicar o plano para engordar os gordos bancos, a destemida deputada Jandira Feghali (PCdoB- RJ) desmascarou os dois.
Ela tem 30 anos de experiência com a análise da Previdência brasileira.
Sua contestação é impecável!
E não mereceu uma mísera linha no PiG.
Muito menos no jornal nacional, que, numa edição, usou 26 vezes - 26 vezes! - a expressão  "reforma da previdência"...
Ao "reportar" essa sessão do Congresso, o jornal nacional cometeu um crime contra o princípio universal de ouvir o contraditório - o outro lado...
Mais detalhes, veja no link que disponibilizamos na descrição desse vídeo.
FONTE:
https://www.conversaafiada.com.br/pig/jandira-prova-guedes-mente-sobre-a-previdenssia1

Por José Gilbert Arruda Martins

sexta-feira, 31 de maio de 2019

#30M ABALA SISTEMA BURGUÊS



Um dia ouvi um velho e simples tio dizer: “O povo é como um boi gigante, se deixa levar pelo cabresto mas, se tivesse consciência da sua força, não se deixava levar”.




Ontem no #30M, a juventude, o povo, a Classe Trabalhadora do Brasil arrancou das mãos sujas da elite burguesa as corda que aprisionava...
Pelo menos por um breve momento...
A onda gigante de jovens e o povo foi se formando...
Brasília, João Pessoa,  Porto Alegre, Salvador...
A onda crescia com o passar das horas...
Ao final do tão sonhado dia Rio, São Paulo, Belo Horizonte, fecharam o caixão burguês com pregos grossos, duros, firmes...
Pena que durou horas...
Poderia ser por um tempo que desse tempo de construir o poder das massas, do povo, da Classe Trabalhadora...
Destruir a exploração, a opressão...
Mas, a vida real continua...
Somos trabalhadores e trabalhadoras em construção...
Construção de nossa consciência popular...
Construção de nossa consciência social...
De nossa origem social...
No que dia que chegarmos a esse estágio de plena consciência arrancaremos as cordas que nos prendem por tempo suficiente e seremos Classe Social...
Trabalhadores e trabalhadoras que com o trabalho produzem bens, riquezas, poder...
O #30M serviu para novamente mostrar a força que temos se estivermos juntos e juntas na Luta Coletiva...
Dia 14 de junho essa Classe Trabalhadora mais amadurecida, essa classe em movimento irá parar o país..
Pois sabemos que “Quem tem apenas aspirações individuais jamais entenderá uma luta coletiva”..
Que venha 14 de junho!

Por José Gilbert Arruda Martins


quinta-feira, 30 de maio de 2019

Movimento em defesa da dignidade e do reconhecimento do policial como trabalhador avança no Brasil

I Congresso do Movimento dos Policiais Antifascismo aconteceu dias 27 e 28 de maio em Recife. Evento debateu vários tabus na Segurança Pública, como opressão, desmilitarização e relação com movimentos sociais


no Jornalistas Livres - por 
30 maio, 2019




Para o pesquisador Luiz Eduardo Soares, o Brasil só muda se a Segurança Pública mudar (foto:@ninjafotografia)

Eles não querem ser reconhecidos como heróis pela sociedade nem acreditam na violência como método de segurança pública. Antes de serem policiais, são trabalhadores. A condição de ser humano precede qualquer função ou patente.
Um grupo de policiais já espalhados em todas as instituições de segurança no país, o que inclui Polícia Miliar, Civil, Federal, Corpo de Bombeiros, Polícia Rodoviária e Guarda Municipal, vem se organizando desde 2016 para defender um modelo de segurança pública cidadã voltada para a defesa da democracia e dos direitos humanos. Uma polícia mais próxima do povo. Para o grupo, antes de qualquer coisa, o policial é um garantidor de direitos.
Embora recente, o autointitulado Movimento de Policiais Antifascismo é um dos mais importantes movimentos sociais surgidos no Brasil desde o processo de redemocratização do país. Formado por operadores de segurança com uma visão progressista e identificados ideologicamente com o campo de centro-esquerda, lutam para transformar as instituições policiais por dentro.
São antifascismo porque combatem uma manifestação de ódio que prega a eliminação do adversário. O grupo não faz distinção hierárquica e abraça desde os praças e agentes à delegados e coronéis.
Após três encontros, o movimento realizou dias 27 e 28 de maio, em Recife, o I Congresso Nacional dos Policiais Antifascismo. A agência Saiba Mais cobriu todo o evento. Só pela programação e o tema das mesas de debate é possível enxergar a mudança de mentalidade que o grupo propõe. Temas tabus na Segurança como opressão nas corporações, desmilitarização e relação da polícia com os movimentos sociais deitaram no divã das discussões.
Na mesa de abertura “Sistema criminal e segurança pública frente às opressões e ataques aos direitos”, policiais falaram sobre LGBTfobia, racismo e machismo nas corporações:
– Temos que oferecer segurança pública inclusiva para LGBTs, mulheres, pessoas com deficiência, imigrantes… os editais da Polícia Militar institui uma cláusula de barreira inconstitucional quando abre 90% das vagas para homens e apenas 10% ou até 5% apenas para mulheres. Nós, policiais antifascismo, temos o compromisso ético com a dor do outro. Há um compromisso ético de lutar contra essas opressões”, disse o agente da PRF de Goiás Fabrício Rosa, que também coordena uma rede nacional de operadores de segurança pública LGBT.
Prestigiada, a mesa sobre reestruturação das polícias trouxe a discussão sobre desmilitarização e municipalização das polícias, carreira única, ciclo completo, além de pautas como o fim dos inquéritos policiais e da função de delegado.
Uma amostra da força do evento foi a presença nesta mesa dos dois maiores estudiosos da segurança pública no país: o historiador e ex-secretário nacional de Segurança Pública Ricardo Barestreri, e o antropólogo, escritor e especialista na área Luiz Eduardo Soares:
– O Brasil não vai mudar se a Segurança Pública não mudar. E para a segurança publicar mudar é fundamental que os policiais e profissionais da segurança assumam o protagonismo político, da proposição, da liderança e da condução das mudanças”, disse Luiz Eduardo Soares, que lançou durante o Congresso o livro “Desmilitarizar: Segurança Pública e Direitos Humanos”.
Os policiais também demonstraram preocupação com a saúde mental dos operadores de segurança pública. Na mesa “A condição do Trabalhador Policial”, o soldado do Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Norte Dalchem Viana falou sobre o mito do policial super herói.
Ele apresentou dados sobre as condições dos profissionais para mostrar uma realidade cruel, dolorida e invisibilizada dos operadores de segurança pública. De 2006 a 2016, por exemplo, 15.787 policiais militares foram afastados de suas funções para tratar de problemas psiquiátricos do país.
– Os próprios policiais acreditam no mito do super herói, alguns acham que têm peito de aço. Mas quem aqui não conhece pelo menos um colega que já tentou suicídio ou sofre problemas psiquiátricos ? E isso porque há muitos casos que não são notificados e muitos não buscam o tratamento psiquiátrico porque vão sofrer chacota no ambiente de trabalho. Serão chamados de covardes e fracos; os comandantes podem crer que eles estão enrolando para matar serviço, por exemplo. O sistema desumaniza os policiais”, disse.
A relação dos policiais com os movimentos sociais também apontou a necessidade de uma aproximação maior entre os agentes da lei e os ativistas.
O debate de maior repercussão contou com a presença do ex-candidato à presidência da República Ciro Gomes (PDT) e dos deputados federais Maria do Rosário (PT) e Marcelo Freixo (PSOL). O trio esteve ao lado do delegado e membro fundador do Movimento dos Policiais Antifascismo Orlando Zaccone e do presidente do Sinpol de Pernambuco Áureo Cisneiro.
A mesa discutiu “Os desafios políticos para a construção de uma política de segurança pública democrática sobre o Segurança Pública”. Freixo foi quem mais contribuiu para o tema focando nas críticas ao projeto penal enviado ao Congresso pelo ministro Sérgio Moro que é, na verdade, um ataque aos direitos humanos e uma violência contra o povo preto das periferias e também contra os operadores de segurança pública.
Aliás, na plenária final dos Policiais Antifascismo, o movimento decidiu registrar a insatisfação com a postura descontrolada do ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT), que ofendeu e ainda chamou para a briga um membro do movimento, o coronel e ex-comandante da Polícia Militar de Alagoas Luciano Alves.
O debate com os representantes dos partidos de centro-esquerda só reforçou a distância entre o campo progressista e a segurança pública. O “barraco” marcado pelas divergências eleitorais entre PDT e PT que quase chega às vias de fato mostrou imaturidade e reforçou que a democracia é um exercício diário.
As queixas dos representantes do movimento dos policiais antifascismo durante o debate foram focadas na invisibilidade do grupo para os partidos do campo progressista:
– Não precisamos bater à porta dos partidos, somos um movimento autônomo e independente. Mas precisamos da esquerda como a esquerda também precisa da gente. Hoje somos invisibilizados, mas existimos. Somos os policiais antifascismo”, disse o inspetor de polícia civil da Bahia Kléber Rosa, bastante aplaudido e apontando a direção do movimento.