
O Método Paulo Freire consiste numa proposta para a
alfabetização de adultos desenvolvida pelo educador Paulo Freire, que criticava
o sistema tradicional, o qual utilizava a cartilha como ferramenta central da
didática para o ensino da leitura e da escrita. As cartilhas ensinavam pelo
método da repetição de palavras soltas ou de frases criadas de forma forçosa,
que comumente se denomina como linguagem de cartilha, por exemplo Eva viu a
uva, o boi baba, a ave voa, dentre outros. O Método vai além da alfabetização,
propõe e estimula a inserção do adulto iletrado no seu contexto social e
político, na sua realidade, promovendo o despertar para a cidadania plena e
transformação social. É a leitura da palavra, proporcionando a leitura do
mundo. Suas idéias nasceram no contexto do Nordeste brasileiro a partir da
década de 1950, onde metade dos seus 30 milhões de habitantes eram analfabetos,
com predomínio do colonialismo e todas as vivências impostas por uma realidade
de opressão, imposição, limitações e muitas necessidades.
Freire aplicou, pela primeira vez, publicamente, o
seu método no “Centro de Cultura Dona Olegarinha”, um Círculo de Cultura do
Movimento de Cultura Popular do Recife (MCP) para discussão dos problemas
cotidianos na comunidade de “Poço da Panela”.
Dos 5 alunos, três aprenderam a ler e escrever em 30 horas, outros 2
abandonaram o “curso”.
O método de alfabetização de Paulo Freire é resultado de muitos anos de
trabalho e reflexões de Freire no campo da educação, sobretudo na de adultos em
regiões proletárias e subproletárias, urbanas e rurais, de Pernambuco.
No processo de aprendizado, o alfabetizando ou a
alfabetizanda é estimulado(a) a articular sílabas, formando palavras, extraídas da sua
realidade, do seu cotidiano e das suas vivências. Nesse sentido, vai além das
normas metodológicas e lingüísticas, na medida em que propõe aos homens e
mulheres alfabetizandos que se apropriem da escrita e da palavra para se
politizarem, tendo uma visão de totalidade da linguagem e do mundo. O método
Paulo Freire estimula a alfabetização/educação dos adultos mediante a discussão
de suas experiências de vida entre si, os participantes da mesma experiência,
através de tema/palavras gerador(as) da realidade dos alunos, que é
decodificada para a aquisição da palavra escrita e da compreensão do mundo. As
experiências acontecem nos Círculos de Cultura.
O método Paulo Freire não visa apenas tornar mais
rápido e acessível o aprendizado, mas pretende habilitar o aluno a "ler o
mundo", na expressão famosa do educador. "Trata-se de aprender a ler
a realidade (conhecê-la) para em seguida poder reescrever essa realidade
(transformá-la)", dizia Freire. A alfabetização é, para o educador, um
modo de os desfavorecidos romperem o que chamou de "cultura do
silêncio" e transformar a realidade, "como sujeitos da própria
história".
Etapas do
método:
1.
Etapa de Investigação: busca
conjunta entre professor e aluno das palavras e temas mais significativos da
vida do aluno, dentro de seu universo vocabular e da comunidade onde ele vive.
2.
Etapa de Tematização: momento
da tomada de consciência do mundo, através da análise dos significados sociais
dos temas e palavras.
3.
Etapa de Problematização: etapa
em que o professor desafia e inspira o aluno a superar a visão mágica e
acrítica do mundo, para uma postura conscientizada.
O método
·
As palavras geradoras: o
processo proposto por Paulo Freire inicia-se pelo levantamento do universo
vocabular dos alunos. Através de conversas informais, o educador observa os
vocábulos mais usados pelos alunos e a comunidade, e assim seleciona
as palavras que servirão de base para as lições. A
quantidade de palavras geradoras pode variar entre 18 a 23 palavras,
aproximadamente. Depois de composto o universo das palavras geradoras, apresenta-se
elas em cartazes com imagens. Então, nos círculos de cultura inicia-se uma
discussão para significá-las na realidade daquela turma.
·
A silabação: uma vez identificadas, cada palavra geradora
passa a ser estudada através da divisão silábica, semelhantemente ao método
tradicional. Cada sílaba se desdobra em sua respectiva família silábica, com a
mudança da vogal. (i.e., BA-BE-BI-BO-BU)
·
As palavras novas: o passo seguinte é a formação
de palavras novas. Usando as famílias silábicas agora conhecidas, o grupo forma
palavras novas.
·
A conscientização: um ponto fundamental do método
é a discussão sobre os diversos temas surgidos a partir das palavras geradoras.
Para Paulo Freire, alfabetizar não pode se restringir aos processos de
codificação e decodificação. Dessa forma, o objetivo da alfabetização de
adultos é promover a conscientização acerca dos problemas cotidianos, a
compreensão do mundo e o conhecimento da realidade social.
“Estudar não é um ato de consumir idéias, mas de
criá-las e recriá-las.”
FREIRE P.. (1982) Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de
Janeiro: Paz e Terra (6ª edição), pp. 09-12.
As fases
de aplicação do método
Freire propõe a aplicação de seu método nas cinco
fases seguintes:
·
1ª fase: Levantamento do universo vocabular do grupo.
Nessa fase ocorrem as interações de aproximação e conhecimento mútuo, bem como
a anotação das palavras da linguagem dos membros do grupo, respeitando seu
linguajar típico.
·
2ª fase: Escolha das palavras selecionadas, seguindo
os critérios de riqueza fonética, dificuldades fonéticas -
numa seqüência gradativa das mais simples para as mais complexas, do
comprometimento pragmático da palavra na realidade social, cultural, política
do grupo e/ou sua comunidade.
·
3ª fase: Criação de situações existenciais
características do grupo. Trata-se de situações inseridas na realidade local,
que devem ser discutidas com o intuito de abrir perspectivas para a análise
crítica consciente de problemas locais, regionais e nacionais.
·
4ª fase: Criação das fichas-roteiro que funcionam como
roteiro para os debates, as quais deverão servir como subsídios, sem no entanto
seguir uma prescrição rígida.
·
5ª fase: Criação de fichas de palavras para a
decomposição das famílias fonéticas correspondentes às palavras geradoras.
Baseado na experiência de Angicos, onde em 45 dias
alfabetizaram-se 300 trabalhadores, João Goulart, presidente na época, chamou
Paulo Freire para organizar uma Campanha Nacional de Alfabetização. Essa
campanha tinha como objetivo alfabetizar 2 milhões de pessoas, em 20.000
círculos de cultura, e já contava com a participação da comunidade - só no
estado da Guanabara (Rio de Janeiro) se inscreveram 6.000 pessoas. Mas com o
Golpe de 64 toda essa mobilização social foi reprimida, Paulo Freire foi
considerado subversivo, foi preso e depois exilado. Assim, esse projeto foi
abortado. Em seu lugar surgiu o MOBRAL, uma iniciativa para a
alfabetização, porém, distinta dos ideais freirianos.
“É mais
do que um método que alfabetiza, é uma ampla e profunda compreensão da educação
que tem como cerne de suas preocupações a natureza política.”
(in:A Voz da Esposa - A Trajetória de Paulo Freire)
Freire
morreu de um ataque cardíaco em 2 de maio de 1997, às 6h53, no Hospital Albert
Einstein, em São Paulo, devido a complicações em uma operação de desobstrução
de artérias.
Fontes de
Pesquisa: