sexta-feira, 3 de maio de 2019

POVOS INDÍGENAS - Jeitos de aprender

No Mirim Povos Indígenas do Brasil - Acesso aqui

Camila mulher e criança
Ao longo de toda vida as pessoas passam por muitos aprendizados. Aprende-se dos mais diferentes jeitos e em vários momentos. O que se aprende e com quem se aprende também é muito diverso em cada lugar.
As crianças indígenas, por exemplo, aprendem muita coisa com seus pais e parentes mais próximos, como os irmãos e os avós. Os conhecimentos podem ser transmitidos durante as atividades do dia a dia ou em momentos especiais, durante os rituais e as festas.
Camila trancando
É principalmente na relação com seus parentes que as crianças aprendem. Caminham junto com eles, observam atentamente aquilo que os mais velhos estão fazendo ou dizendo; acompanham seus pais até a roça; vão pescar com os adultos e brincam muito! Cada brincadeira é um jeito de aprender uma habilidade que será importante no futuro, como saber caçar, pescar, fazer pinturas no corpo, fabricar arcos e flechas, potes, cestos... É por meio destes processos de aprendizagem que as crianças aprimoram as técnicas necessárias para realizar tais atividades.
Mulher e crianças xavante descascando abóbora. Aldeia Etenhiritipá, MT. Foto: Camila Gauditano.
Na convivência com os mais velhos, aprende-se o jeito certo de se comportar e de se relacionar com todos da família e do grupo. Dessa forma as crianças aprendem, por exemplo, quem são as pessoas que devem ser tratadas como irmãos e irmãs, como tios e tias, com quem poderão se casar no futuro... Dessa maneira vão entendendo qual a sua importância na comunidade.
Pouco a pouco, as crianças aprendem os modos de agir, os princípios e tudo aquilo que é importante para que se tornem pessoas produtivas e participativas. Para isso é muito importante estarem sempre atentas aos trabalhos diários e ao aprendizado e transmissão de conhecimentos.
Tem escola na aldeia?
Sim, muitas aldeias têm escola! Como se sabe, a maioria das aldeias fica dentro de Terras Indígenas, assim cada Terra pode ter uma ou mais escolas. Isso vai depender de seu tamanho e da situação de cada comunidade.
irantxe_fev_mar_2007 aldeia cravari128
As escolas indígenas, assim como aquelas dos não índios, também são um espaço de aprendizado das crianças. Muitas vezes o conteúdo que é ensinado ali pelos professores é bem diferente daquele que é transmitido pelos parentes na aldeia. É claro que estes conteúdos podem se misturar em alguns momentos, mas a escola tem como foco ensinar a escrever, ler, fazer conta, entre outros conhecimentos importantes para o diálogo com o mundo dos não índios, já os parentes ensinam as formas de se organizar da comunidade, como produzir artefatos e tudo aquilo que é importante para se viver bem naquele grupo.
DSC04654
Além disso, o conteúdo que se aprende nas escolas indígenas é diferente daquele das escolas dos não índios. Isso porque os povos indígenas têm direito a ter uma escola diferenciada, isto é, uma escola que ensine conteúdos que se relacionem com a cultura e a língua de cada povo. Mas nem sempre esses direitos são respeitados. Muitas vezes, os professores e os livros usados nas escolas indígenas falam de assuntos que não estão ligados ao cotidiano das comunidades indígenas e ensinam o ponto de vista dos não índios como o único ponto de vista correto.
A história da educação nas escolas indígenas no Brasil mostra que, de um modo geral, a escola buscou integrar as populações indígenas à sociedade à sua volta, ou seja, fazer com que eles fizessem parte dela. Mas a “integração” era, na verdade, uma tentativa de faz com que os índios vivessem como os não índios, ensinando-os a falar, ler e escrever em Português, a língua oficial do país. Somente há pouco tempo línguas indígenas passaram a ser usadas na escola.
A escola pode ajudar a valorizar as línguas indígenas?
Nos anos 90 surgiram novos modelos de escola indígena preocupados em respeitar as diferentes culturas, especialmente as línguas. Assim, a escola passou a ser um espaço que estimula e fortalece o uso das línguas indígenas.
00304_2004_6
Foi a partir desse momento que os próprios índios se tornaram professores nas escolas das aldeias e a língua indígena passou a ser utilizada em sala de aula. Os conteúdos tratados nos cursos foram adaptados pelos próprios índios para dialogar melhor com a realidade vivida por cada comunidade.
00305_20020600_4
A escola indígena além de abordar muitos conteúdos que os não índios aprendem, ensinar a fazer conta, a ler e a escrever na língua indígena, também passou a incluir os conhecimentos locais na sala de aula. Os alunos aprendem, por exemplo, como usar os recursos naturais e cuidar do ambiente e do território onde vivem, aprendem sobre a história de seus antepassados, seus mitos etc. Além disso, seu calendário escolar é diferente, pois respeita as festas e rituais locais.
Esse novo modelo de educação ajuda a valorizar a língua indígena, e também todo o modo de ser do grupo que a criança pertence, isso porque ela aprende conteúdos que se referem à sua vida e a vida de sua comunidade.
Por que aprender Português é importante?
Mesmo tendo aulas na língua indígena é muito importante aprender o português na escola. Saber falar a língua portuguesa é uma das maneiras que os povos indígenas têm para se comunicar com diferentes pessoas, interpretar e compreender as leis que orientam a vida no país, principalmente aquelas que dizem respeito aos direitos dos índios. Afinal todos os documentos necessários para se viver na sociedade brasileira são escritos em Português.
O aprendizado da escrita em Português tem, para os povos indígenas, funções muito claras: dá chance de defenderem seus diretos e acesso ao conhecimento de outras sociedades.
Como aprendem os Xavante
Mulher xavante retorna do rio. Aldeia Etenhiritipá, MT. Foto: Camila Gauditano
Camila Gauditano, educadora e antropóloga
Os Xavante, que vivem no estado do Mato Grosso, no cerrado brasileiro, se autodenominam A’uwé que na língua Akwén quer dizer “gente”.
O aprendizado entre os Xavante é um processo que acontece ao longo de toda a vida, desde quando se é criança até a velhice. Em cada etapa deste longo caminho, novos conhecimentos são adquiridos nas mais diferentes situações: algumas são entendidas como momentos de aprendizagem (como é o caso dos rituais), outras estão relacionadas com as pequenas atividades realizadas no dia a dia.
camila familia
As situações mais cotidianas são momentos de aprendizagem valorizados pelos A’uwé. As crianças costumam caminhar livres pela aldeia acompanhando outras pessoas (sejam crianças, velhos ou adultos) em suas atividades e são nestas ocasiões que elas aprendem a identificar as regras que orientam sua sociedade.
Menina xavante volta do rio com sua irmã. Aldeia Etenhiritipá, MT. Foto: Camila Gauditano
As tarefas domésticas são aprendidas no cotidiano. Ao mesmo tempo em que ajudam seus parentes a tomar conta do irmão, lavar roupa, levar e trazer recados, preparar comidas, as crianças brincam e se divertem. Assim o aprendizado vai acontecendo aos poucos.
A brincadeira é um jeito de aprender. Os meninos, por exemplo, aprendem a fazer arcos e flechas desde pequenos e brincam ao redor da casa imitando caçadores e bichos. Vão aperfeiçoando a maneira de fazer os objetos e assim, quando forem adultos, conseguirão fazer arcos e flechas bonitos e bons para caçar, além de desenvolverem as habilidades físicas para se tornarem bons caçadores.
Menina xavante pilando arroz. Aldeia Etenhiritipá, MT.Foto: Camila Gauditano.
As crianças xavante costumam repetir muitas vezes a mesma brincadeira, buscando novas possibilidades e desafios a cada repetição. Dessa forma melhoram suas habilidades e aprendem suas possibilidades e do mundo à sua volta. Brincar de casinha é um bom exemplo disso. Ao construir com o barro uma casa em miniatura, imitam as divisões internas de sua própria casa e assim a criança xavante reflete sobre a organização doméstica e os espaços da aldeia, e aprofunda o conhecimento que tem sobre sua comunidade.
Menino xavante quebrando coquinho do cerrado para comer. Aldeia Etenhiritipá, MT. Foto: Camila Gauditano.
Os rituais são importantes situações de aprendizagem. Nestes momentos todo mundo aprende: os jovens aprendem mais sobre os valores, princípios e modos de agir do seu grupo e os adultos aprendem com os mais velhos todos os detalhes da realização de um ritual.
Estes momentos buscam enfatizar as divisões e as regras sociais xavantes e fixar os conhecimentos sobre as mesmas. Têm por objetivo marcar períodos de amadurecimento, de passagem de uma fase da vida para outra, da fase de criança para a idade adulta, por exemplo. Nos rituais de passagem aprende-se como agir socialmente: o que a comunidade espera, quais atitudes se deve ter dali para frente. Os rituais têm objetivos concretos como demonstrar que aqueles meninos já conseguem enfrentar desafios físicos, que conhecem importantes cantos, que já fazem parte dos sistemas de troca a’uwé etc.
Além dessas situações de aprendizado, os Xavante também valorizam a educação escolar, pois percebem que é um importante instrumento para a compreensão do mundo fora da aldeia, além de permitir o domínio de conhecimentos e tecnologias específicas dos não indígenas.
Como ensinam os Yudja
Os Yudja, até pouco tempo conhecidos como Juruna, falam uma língua do tronco Tupi. Yudja em seu idioma quer dizer "donos do rio".
enfeitando (3)peq
Habitam na beira do rio Xingu, no Mato Grosso, e também perto da foz do rio próximo à cidade de Altamira, no Pará. Eles chamam a atenção por terem uma pintura corporal muito bonita, muitas músicas e festas, por gostarem de tomar caxiri (bebida feita de mandioca) e fazerem canoas e panelas de cerâmica.
Os Yudja, aproximadamente 348 pessoas, vivem hoje divididos em 6 aldeias: Paksamba, Pequizal, Tuba Tuba, Mupadá, Paruredá e Pakaya.
O texto abaixo foi produzido pelos alunos e professores da escola Yudja.

Nosso jeito de ensinar

Tintas3 411
A educação yudja é desenvolvida pra formar para o trabalho e para o bom comportamento. A pessoa aprende através da prática, acompanhando alguma atividade, olhando e ouvindo com atenção, imitando o jeito de fazer ou mesmo brincando de fazer como os adultos. A pessoa tem que ser curiosa também e perguntar com interesse de aprender.
Os pais aconselham seus filhos à noite, durante conversas antes de dormir, contanto histórias antigas que educam.
primeiros_passospeq
Durante o desenvolvimento da pessoa, quando a criança começa a andar e falar, nós a chamamos ali. Nessa fase os pais pedem as coisas à criança para pegar alguma coisa, passar um recado ou chamar uma pessoa na outra casa, só para os pais verificarem se aquela criança já entende o que foi pedido.
of_flecha (36)peq
Também nessa fase, ela deve aprender alguma coisa com sua família, vendo o trabalho dela, imitando e praticando. A criança com 5 a 8 anos já pode começar a ajudar em alguns tipos de trabalho como fiar algodão, fazer tecelagem, fazer arquinho e flecha, acompanhar os pais na pesca e em festas.
Mas para alguns trabalhos existem regras e só é permitido fazer a partir de mais ou menos 10 anos de idade. Quando essa pessoa se torna iparaha (jovem), ela passa por uma preparação durante o período de reclusão, onde ela fortalece e aprofunda seu conhecimento sobre as histórias, comportamento, remédios especiais que ela toma para crescer saudável e as atividades para o trabalho como: fazer cerâmica, tecelagem, pinturas, receitas de comida, plantio de alimentos, roçadas, fazer casa, caçar, pescar e outras atividades.
Assim ela se prepara para quando se casar, passar esse conhecimento para seus filhos.
Tintas3 054
A educação na escola deve caminhar junto com a educação tradicional do povo Yudja. A escola deve ensinar a escrita e a fala do não índio para se comunicar com falantes de outras línguas, também deve ensinar a escrita de nossa língua e fortalecer nossa cultura.
Todos devem participar da escola: alunos, pais de alunos, professores, idosos, crianças, adultos, jovens, toda a comunidade.
O que os Kisêdjê aprendem com os mais velhos
Os Kisêdjê, também chamados de Suyá, vivem no Parque Indígena do Xingu. A palavra Kisêdjê significa ouvir, compreender e saber e estas são as qualidades mais valorizadas por este grupo.
No texto abaixo, retirado do livro Ecologia, Economia e Cultura(2005), eles contam o que aprendem com os mais velhos.

Valores da sociedade Kisêdjê

Os valores são ensinados pelos velhos, pelos avós e pelos pais desde criança. Ensinar a respeitar as pessoas, ter bom comportamento, caçar, pescar, saber dar valor à natureza e à vida humana. Saber tratar os convidados e as famílias mais próximas e distantes. Ensinar a fazer artesanato, respeitar cada animal e outros seres que existem na natureza. Ser generoso, honesto com os seres humanos. Seguir as regras dos mais velhos, das coisas que eles nos ensinam. Respeitar lugares e objetos que têm suas histórias contadas pelos mais velhos.
Existem lugares e objetos sagrados, principalmente o lugar e os objetos de reza do pajé, como o apito feito com o osso de ave, o cigarro e as ervas. Muitas pessoas respeitam e consideram os próprios pajés como pessoas sagradas. As montanhas e as lagoas que têm sua história contada pelos mais velhos, também são sagradas.
Aprendendo com os Yanomami
Os Yanomami são um povo que vive na floresta amazônica, no Brasil - nos estados de Amazonas e Roraima, – e também na Venezuela. No Brasil os Yanomami somam mais de 19 mil pessoas.
Apesar de falarmos “povo Yanomami”, eles se dividem em vários grupos que são diferentes entre si. Para se ter uma ideia, existem cinco línguas yanomami diferentes e cerca de 211 aldeias! Eles vivem na maior terra indígena do Brasil.
Nesse texto, você entende como as crianças yanomami aprendem com seus parentes durante as atividades do cotidiano. Se você é curioso, não deixe dar uma olhada no texto escrito em yanomami, logo abaixo!

Como as crianças yanomami aprendem

Nós Yanomami ensinamos nossas crianças nas tarefas cotidianas. Assim, quando a mãe trança um cesto a filha observa e tenta fazer um cesto pequeno, ao mesmo tempo que brinca imitando a mãe ela aprende a trançar o cesto.
Da mesma forma, quando o pai vai caçar perto da casa, leva seu filho junto para que ele conheça a floresta, as plantas, os animais. É comum que o pai faça um arco e flecha pequenos para que o filho aprenda a flechar pequenos animais, assim ele vai treinando para quando crescer virar um bom caçador.
As crianças também aprendem ouvindo os mais velhos falarem durante o hereamu, que são momentos em que assuntos importantes são discutidos na comunidade. Essas falas acontecem quase todos os dias à noite ou quando está amanhecendo. Durante as festas, as crianças aprendem a dançar e cantar. Nas sessões de xamanismo as crianças sempre ouvem, olham e depois brincam imitando os cantos dos xamãs.
Normalmente os irmãos mais velhos ajudam os irmãos mais novos, ensinando coisas e cuidando deles.
As crianças quando são pequenas não ouvem direito, na medida em que vão crescendo, vão entendendo melhor e aprendendo novas coisas.
Esse é o jeito como nós Yanomami ensinamos e aprendemos as coisas da nossa cultura fora da escola.
Texto extraído do Projeto Político Pedagógico da região do Toototopi.

Oxë thëpë pihi moyãm+pruu kua pënaha

Hapë naha thë kua, kami yamakɨ hwɨɨ pënɨ yamakɨ ã hiramaɨ he. Waro a kuo tëhë, xaraka pë hiramaɨ he, xaraka a niaɨwi thëpë hiramɨhe. Hwɨɨ exë, nɨɨ exë, kupë kuu tëhë, ihiru pë epë pree huu, kuë yaro ihiru pë epë pree kiaɨ pairimuu.
Kami Yanomae yamakɨ oxe mahio tëhë, yama thëpë ã hapa hirii parɨo huruu. Pata thëpë hereamou tëhë, yama thëpë ã pree hirii. Thëpë pree xapirimou tëhë, yama thëpë ã pree hirii, reahu a kuo tëhë yamakɨ praɨaɨ pree wapamu.
Kami yamakɨ oxe mahio tëhë kami yamakɨ hwɨɨ pënɨ kami yama kɨ nɨɨ pëxë, kami yamakɨ yau pëxë, yama kɨã hapa hiramaɨ parɨohe.
Hapa yamakɨ oxe mahio tëhë, yama thëpë ã hiripraimi, makii waiha yamakɨ patarayu tëhë yama thë pë ã hiri praɨxoao, ɨnaha kami Yanomae yamakɨ oxe thëpë hiramaɨ kua pëhenaha.

Coisas que só as crianças yanomami sabem

Ana Maria Machado, pedagoga
Nas aldeias do povo Yanomami, os velhos são grandes conhecedores das histórias dos antigos, das plantas e alimentos da floresta, mas se você quiser saber o nome de algum passarinho, é melhor perguntar para as crianças: os meninos yanomami conhecem muitos dos 500 tipos de passarinhos que existem por ali.
Desde pequenos, antes mesmo de aprenderem a falar, os meninos yanomami ganham de seus parentes um pequeno arco acompanhado de uma flechinha sem ponta, para que comecem a aprender a flechar desde novinhos. Quando os meninos têm aproximadamente 4 anos de idade, já sabem usar o arco e a flecha e passam horas do dia procurando passarinhos, calangos ou frutas para flechar. Os passarinhos são o tipo de caça preferido pela criançada!
Falar sobre passarinho é um papo comum dos meninos yanomami, sempre que um deles captura um passarinho, vai logo mostrá-lo aos outros. Os meninos conversam sobre as características dos bichinhos e sobre seus nomes, assim vão trocando conhecimentos sobre os pássaros uns com os outros e aprendendo cada vez mais sobre eles.
Conforme vão crescendo, os meninos passam a acompanhar os pais em caçadas longas, em regiões mais distantes, e aos poucos perdem o interesse por caçar passarinhos. Eles começam a flechar animais maiores – como mutuns, pacas, cutias, queixadas, veados e até antas. Por isso, alguns Yanomami crescidos contam ter esquecido os nomes dos pequenos pássaros. Mas é só olhar para a criançada na aldeia e você vai perceber que eles estão caçando passarinhos e trocando conhecimento sobre as pequenas aves.
Assim, os maiores conhecedores dos passarinhos são e sempre serão os pequenos yanomami!

quinta-feira, 2 de maio de 2019

A necessidade de compreender as facções e seu papel

Nas últimas cinco semanas, o ‘Nexo’ realizou uma série de entrevistas com pesquisadores que lançaram obras sobre o PCC - 09/09/2018 - Por André Cabette Fábio - Publicado originalmente no Nexo

Em junho de 2018, Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública lançaram o seu Atlas da Violência. Elaborado com base em laudos médicos sobre cadáveres, registrados pelo Ministério da Saúde, ele contabilizou 62.517 homicídios em 2016, um recorde até então.
Em entrevista concedida ao Nexo, a diretora-executiva do Fórum, Samira Bueno, afirmou que um dos fatores que haviam levado àquele patamar fora o acirramento da violência entre facções criminosas.
Dois meses depois, outro documento que contabiliza os homicídios no país, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, indicou um novo recorde, este relativo a 2017. Elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Anuário usa como base os registros das polícias, que contabilizaram 63.880 assassinatos naquele ano.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o diretor-presidente do Fórum, Renato Sérgio de Lima, voltou a ressaltar o papel da violência entre facções para explicar o recorde de assassinatos. “Vivemos uma guerra aberta entre as organizações criminosas em busca de territórios e dinheiro.”

Mulheres dizem não às armas e sabem o porquê

Decreto que facilita posse de armas pode elevar número de feminicídios no Brasil



Há uma estreita relação entre a presença de armas em residências e mortes de mulheres no Brasil. E a preocupação sobre o aumento dos casos de feminicídios cresce com o decreto que facilita a posse de armas, assinado pelo presidente Jair Bolsonaro. Em 2017, a cada duas horas 44 mulheres foram agredidas fisicamente, 14 foram estupradas e uma foi morta, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Diante desse nível de violência, promotores do armamento civil têm usado a defesa da mulher como um de seus principais argumentos, algo profundamente problemático por vários motivos.
Em primeiro lugar, porque usurpa e distorce a voz feminina. Usurpa, pois, no Brasil este debate tem sido quase exclusivamente masculino. Quando o palanque é compartilhado, é para que mulheres referendem o discurso iniciado e concluído por homens. Distorce, porque nos utiliza como argumento para uma mudança que a maioria de nós não quer. Segundo pesquisa do Datafolha de dezembro de 2018, 61% da população em geral e 70% das mulheres são contra a flexibilização da posse de armas.
Em segundo lugar, porque se vale de duas narrativas deturpadas. De um lado, a narrativa de que homens precisam se armar para defender “suas” mulheres, colocando-as ao lado de suas propriedades e sob os desígnios de uma decisão alheia; de outro, a de que as mulheres precisariam se armar para se defenderem.
O discurso de que é necessário armar os “homens da família” para que se tornem defensores das mulheres ignora que o ambiente doméstico é um dos mais perigosos para esse grupo. Nele ocorreram duas a cada três das agressões contra mulheres e três a cada 10 das mortes violentas (40% delas, com armas de fogo) em 2016, segundo o Datasus. O mesmo levantamento mostra que metade das agressões em casa foram praticadas por pais, padrastos ou parceiros, e que a presença da arma escala as agressões, tornando-as rapidamente letais - 60% das violências contra mulheres praticadas com armas de fogo terminaram em morte, contra 7% dos demais tipos de agressão.
Já a ideia de que mulheres precisam se armar para se defenderem ignora o peso do fator surpresa, que faz com que apenas estar armada não implique em proteção. O uso da arma para autodefesa requer que ela esteja em local de alcance imediato e municiada. Uma arma nessas condições poderia ser tomada e usada contra a vítima ou causar acidentes, especialmente em casas com crianças. Além disso, o uso da arma para defesa pessoal pressupõe treinamento constante, algo muito distante da realidade de quase toda a população.
Por fim, o argumento sugere que cabe às mulheres tentar garantir sua integridade, desviando-se da responsabilidade estatal de garantir sua segurança. Mais eficiente, lógico e seguro seria reforçar a conscientização da igualdade de direitos, o atendimento integral às vítimas, o investimento no monitoramento das medidas protetivas e na investigação e punição de agressores. A maioria de nós não quer ter que tentar se defender com uma arma em punho, muito menos nos tiroteios que se proliferarão com as duas partes armadas - lembrando que a compra de armas é sempre maior entre homens.
aumento do número de armas em circulação, em casa ou na rua, expõe as mulheres a mais riscos.Bradar que mais armas evitarão sua vitimização é falacioso e não serve ao propósito de protegê-las, mas sim de abandoná-las à própria sorte. As mulheres dizem não a esse contrassenso. Ouçam-nos.
Ana Carolina Pekny, 33, é pesquisadora do Instituto Sou da Paz. Natália Pollachi, 29, é coordenadora de projetos do Instituto Sou da Paz

CONTROLE DE ARMAS

no Site do SOU DA PAZ

Sou da Paz apoia PL que prevê apreender armas de agressores de mulheres

Aprovado na Câmara, Projeto de Lei 17/2019 altera a Lei Maria da Penha para incluir a cautela de retirada de arma de fogo de acusado de violência doméstica; proposta segue para o Senado
A Câmara dos Deputados aprovou, em 12 de março, Projeto de Lei 17/19, de autoria do deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), que permite que, em casos de violência contra a mulher, o juiz possa determinar apreensão de arma de fogo registrada em nome do agressor logo após o registro da ocorrência. Desde a sua apresentação, o PL foi apoiado pelo Instituto Sou da Paz.
O projeto, que também é assinado por outros nove deputados, visa prevenir casos de feminicídio, circunstância em que uma mulher é assassinada por sua condição de gênero, geralmente no contexto doméstico e familiar.
Dados oficiais revelam que o ambiente doméstico é um dos mais perigosos para as mulheres. Como indicam as especialistas do Instituto Sou da Paz Ana Carolina Pekny e Natália Pollachi em artigo para o El País, nele ocorreram duas a cada três das agressões contra mulheres e três a cada 10 das mortes violentas (40% delas, com armas de fogo) em 2016, segundo o Datasus. O mesmo levantamento mostra que metade das agressões em casa foram praticadas por pais, padrastos ou parceiros, e que a presença da arma escala as agressões, tornando-as rapidamente letais – 60% das violências contra mulheres praticadas com armas de fogo terminaram em morte, contra 7% dos demais tipos de agressão.
O PL 17/2019 foi aprovado na forma de um substitutivo segundo o qual caberá à autoridade policial verificar se o agressor possui registro de porte (poder andar armado) ou posse de arma de fogo (ter o instrumento em casa ou estabelecimento comercial). Em caso positivo, deverá juntar esta informação aos autos e notificar a instituição responsável pela concessão do registro ou da emissão do porte, nos termos do Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/03), sobre a ocorrência registrada de violência contra a mulher.
Ao juiz caberá, dentro de 48 horas do recebimento de pedido de medida protetiva, determinar a apreensão de arma de fogo eventualmente em posse do agressor ou registrada em seu nome.
A proposta agora segue para votação no Senado Federal.
O Instituto Sou da Paz avalia que a prevenção do feminicídio é ameaçada com as propostas de aumento de acesso a armas de fogo, como o proposto pelo decreto de 15 de janeiro, que flexibiliza os requisitos para posse, o que permite que mais armas estejam presentes nas casas dos brasileiros em todo território nacional. Leia a nota pública sobre o decreto.

DIA DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA





Com 200 mil em SP, centrais defendem greve geral em 14 de junho e retirada de projeto da Reforma da Previdência.
A proposta não é uma proposta de reforma, na realidade é uma tentativa de acabar com a previdência pública e substituí-la pela capitalização.
A Reforma da Previdência, se passar, será o fim do sistema de previdência pública e solidária.
"A briga é muito dura", disse o presidente da CUT, destacando a importância da organização unificada da greve geral, para pressionar o Congresso.
Ontem em SP, concluída a parte política do 1º de Maio – após as 14h, começaram as apresentações musicais –, representantes das centrais sindicais estimaram em 200 mil o número de pessoas no Vale do Anhangabaú, na região central da cidade, em ato que teve a "reforma" da Previdência como tema principal.
Dirigentes pediram a retirada do projeto como ponto de partida para um eventual princípio de diálogo. Mas apostam na greve geral, marcada para 14 de junho, como fator fundamental para derrotar o governo.
A briga é muito dura. Temos condições de barrá-la (a proposta governista). Mas eles também têm condições de aprovar.
“Precisamos convencer a opinião pública a pressionar os deputados", disse o presidente da CUT, Vagner Freitas, depois dos pronunciamentos de representantes das 10 centrais que se uniram pela primeira vez nesta data. "É um sinal de amadurecimento das centrais", comentou o presidente da Força, Miguel Torres.
Segundo Vagner, as entidades estão de acordo quanto à necessidade de "ajustes" no sistema previdenciário. "Tem de pegar sonegadores, pegar as empresas que sonegam. Mas o que o governo quer fazer é acabar com a Previdência", afirmou.

Registrando:
Dia 15 de maio próximo Greve na Educação Nacional. Um ensaio para a Greve Geral do dia 14 de junho.
Rede Brasil Atual

quarta-feira, 1 de maio de 2019

GLOBO TENTA DERRUBAR MADURO (1.5.19)






GLOBO TENTA DERRUBAR MADURO

A Venezuela já sofreu nas últimas duas décadas várias tentativas de golpe.
Por que as elites ricas da Venezuela e o governo dos EUA tentam derrubar Maduro?
Um governo legítimo, eleito pelo povo daquele país nas urnas, de forma democrática?
Além de seu povo maravilhoso, a Venezuela tem o quê para chamar tanto a atenção de golpistas e imperialistas como os EUA?
A resposta é uma só: a Venezuela tem petróleo.
Além da cocaína colombiana os EUA são os maiores consumidores de petróleo do planeta.
Por isso destruíram o Iraque, a Líbia, o Egito e patrocinaram o golpe de 2016 aqui no Brasil.
Aqui foi fácil, sem dar um único tiro tomaram nosso pré sal.
Na Venezuela, que inveja, as Forças Armadas Bolivarianas que não são golpistas e anti povo como as daqui, não permitiram.
Forças Armadas e o Povo venezuelano mantiveram-se firmes e o país aguentou, suportou e debelou mais um tentativa de golpe.
Para finalizar, algumas poucas reflexões:
Por que o chanceler do atual governo brasileiro o sr. Ernesto Araújo mudou sua rota de viagem da Califórnia para Washington antes de ontem?
Por que o filho do presidente do Brasil o “príncipe” Eduardo Bolsonaro foi para a fronteira do Brasil com a Venezuela?
Por que o presidente do Brasil foi para as redes sociais e tvs prestar apoio á tentativa de golpe num país irmão?
Por que a rede Globo fez diversas transmissões mentindo à população brasileira afirmando que Maduro estava indo para Cuba enquanto o presidente venezuelano não saiu do Palácio Miraflores?
Um golpe ou, pior uma guerra na América do Sul só interessa aos EUA.
O povo sofre, o povo morre a economia é destruída e a elite dos EUA ganham.


por José Gilbert Arruda Martins

15° ACAMPAMENTO TERRA LIVRE V (1.5.19)



Acampamento Terra Livre que aconteceu em Brasília, DF entre os dias 24 e 26 de abril 2019.

Imagens exclusivas para o canal resistência Contemporânea feitas pela professora Marilene Lara.

SER NEGRO NO BRASIL (i.5.19)



terça-feira, 30 de abril de 2019

BOLSONARO AUTORIZA MAIS ASSASSINATOS NO CAMPO (30.4.19)





BOLSONARO AUTORIZA MAIS ASSASSINATOS NO CAMPO
Brasil é recordista mundial em assassinatos no Campo.
Mas, em evento nesta segunda feira do setor rural em Ribeirão Preto Bolsonaro disse que vai inocentar fazendeiros que atirarem em sem-terras.
Para esse verme a propriedade privada vale mais que a vida.
“A propriedade privada é um roubo.” (Proudhon)
A propriedade privada da maneira que a burguesia daqui e de fora acumulou e escreveu nas leis, é um verdadeiro assalto ao povo trabalhador e a sociedade.
Quantos prédios de apartamento um único sujeito possui no Brasil?
Quantos imóveis um único sujeito tem por exemplo, em regiões da grande São Paulo?
Como o super rico virou super rico?
Qual a função social da propriedade desses caras?
Pensa um pouco caro trabalhador e trabalhadora.
Qual a origem da propriedade privada?
Por que o pensador francês Proudhon em pleno século XIX afirmou que “a propriedade privada é um roubo?”
Não vamos aqui nesse espaço falar sobre a história mundial da propriedade, é um tema muito largo e profundo, o tempo e, talvez minha capacidade, não dariam conta.
Vamos falar um pouco sobre a origem da propriedade privada no Brasil.
Como também é um tema grande demais, falaremos um pouco sobre a propriedade de um Meio de Produção dos mais importantes na vida econômica e social brasileira que é exatamente a propriedade sobre a terra.
As terras que hoje no Brasil estão nas mãos de um punhado de latifundiários, tem uma origem certa e inequívoca.
Uma origem histórica.
Não foi uma dádiva divina.
 Não foi uma conquista do trabalho e suor das elites.
Quando o Brasil foi invadido pelos europeus no início do século XVI iniciou ali o controle sobre as terras por uma minoria de pessoas o que Proudhon chamou de roubo.
As Sesmarias, uma imensa porção de terras entregues a uns poucos nobres portugueses é um exemplo concreto do roubo que é a propriedade privada.
Os caras chegaram, invadiram, enganaram, assassinaram e tomaram as terras.
As terras tinham donos, o Brasil era povoado por mais de 10 milhões de pessoas, que viviam um sistema comunitário, solidários, de respeito às pessoas e à natureza há mais de 12 mil anos.
Esse sistema de invasão das terras indígenas iniciou o processo de controle e enriquecimento das elites dando surgimento ao sistema latifundiário brasileiro um sistema que explorou a mão de obra de milhares de pessoas e concentrou bens e riqueza nas mãos de poucos.
A mão de obra escrava indígena e negra africana incrementou e enriqueceu ainda mais essas poucas pessoas em prejuízo da grande maioria.
Essa minoria, é bom que se diga, não trabalhava quem produzia tudo eram os indígenas e os escravos e escravas.
Falamos um pouquinho sobre a origem da propriedade privada no Brasil.
É sobre esse tipo de propriedade privada que estamos debatendo.
Não estamos discutindo sua casa, sua moto, seu carro 1.0 pago com 68 parcelas.
Trabalhador e trabalhadora.
No dia em que você entender que a propriedade privada, nessa dimensão que falamos, é um roubo, você se transformará num cidadão e lutará não apenas por você, mas, lutará uma luta pelo coletivo, por todos e todas.
Bolsonaro ao autorizar mais assassinatos no campo e dizer que a propriedade privada tem que ser protegida, ele fala de que tipo de propriedade caro trabalhador?
Quando um latifundiário assassina um líder camponês ele mata um pouco de cada um de nós.
Lutar por justiça social, por democracia e liberdade passa obrigatoriamente pela luta em defesa de todos os trabalhadores e trabalhadoras em qualquer ofício no campo e na cidade.


por José Gilbert Arruda Martins

MITOS E REALIDADES SOBRE A VIOLÊNCIA E A EXPLORAÇÃO SEXUAL INFANTOJUVENIL

MPSC-Ministério Público de Santa Catarina



FALSO
Se quiserem, as crianças e os adolescentes podem evitar a exploração.

VERDADEIRO

Só em alguns casos. Na maioria das vezes encontramos pessoas vitimadas pela persuasão, ameaçadas com baixa auto estima e que sofrem todo o tipo de intimidação por parte dos agressores.

FALSO

Os exploradores-clientes são doentes e de idade avançada.

VERDADEIRO

O explorador pode ter qualquer idade, sem necessariamente apresentar quadro clínico psiquiátrico anormal. Em geral,  são homens de diferentes níveis educacionais, sociais e econômicos.

FALSO

Apenas os pais devem ser responsabilizados pelo que acontece com o filho.

VERDADEIRO

As DSTs e AIDS podem acontecer em qualquer faixa etária e estão mais presentes entre aqueles que praticam sexo sem o uso de preservativo.

FALSO

As condições climáticas do país ou da região na qual a pessoa mora ajudam a promover a exploração sexual comercial.

VERDADEIRO

O clima e a forma de se vestir não podem ser usados como argumento para promover ou aceitar a exploração infantojuvenil.

FALSO

A exploração sexual comercial só acontece em lugares fechados.

VERDADEIRO

Acontece também nos centros urbanos, onde há grande movimento de pessoas.

FALSO

Já que são muitos os casos conhecidos de exploração sexual comercial, as crianças e os adolescentes ganham muito dinheiro. 

VERDADEIRO

Também não é correto. Crianças e adolescentes são explorados. Os exploradores e os intermediários são os que lucram com esse tipo de violência.

FALSO

Não há como controlar a Exploração Sexual Comercial. 

VERDADEIRO

O problema pode ser prevenido e tem como ser erradicado se forem aplicadas e cumpridas as leis que penalizam essa atividade ilícita.

FALSO

Crianças e adolescentes procuram a prostituição como forma de ganhar dinheiro.

VERDADEIRO

Meninos e meninas nunca se prostituem por vontade própria. A palavra prostituição não se aplica a esses casos, já que as crianças e adolescentes - enredados pela temática criminosa de adultos - são vítimas da Exploração Sexual Comercial.