quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

GESTÃO TUCANA - Um mês após suspender reorganização, Alckmin oficializa superlotação nas escolas

na Rede Brasil Atual

Sem consultar professores, alunos e pais, governo paulista edita resolução que permite elevar em 10% o número de alunos nas salas de aula já lotadas atualmente; maior prejuízo será no ensino médio

por Cida de Oliveira, da RBA

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Entre novembro de dezembro, estudantes ocuparam 213 escolas em defesa da educação de qualidade, que inclui turmas menos numerosas



São Paulo – A superlotação das salas de aula, que hoje chega a ter mais de 50 alunos na maioria das  mais de 5 mil escolas estaduais, está sendo regulamentada pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB). Resolução da Secretaria da Educação de São Paulo (2/2016), assinada na última sexta-feira (8) e publicada no Diário Oficial do Estado no sábado, estabelece diretrizes e critérios para a formação de turmas e permite acréscimo de 10% no número de estudantes "excepcionalmente, quando a demanda, devidamente justificada, assim o exigir".
Pela resolução, já em vigor, as turmas do 1º ao 5º ano do ensino fundamental (EF I) deverão ter 30 alunos, as do 6º ao 9º ano (EF II), deverão ter 35. No ensino médio, 40, e no ensino de jovens e adultos (EJA), 45. Com isso, classes de EF I poderão ter mais de 33 alunos; de EF II, 38; no ensino médio, 44; e no EJA, quase 50.
"Com a medida o estado normatiza a superlotação das salas, que já existe com o fechamento de classes que há anos denunciamos e que foi um dos principais pontos de nossa greve em 2015, quando o estado fechou pelo menos 3.390 classes no início do ano letivo", diz a presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel de Azevedo Noronha, a Bebel. "Trata-se de outra medida do governo Alckmin de 'reorganizar' a rede estadual de ensino e cortar gastos prejudicando a educação."
O fim da superlotação das salas foi uma das principais reivindicações dos professores da rede estadual na greve de 2015, a maior da história, entre 13 de março e 12 de junho do ano passado. O movimento contou com o apoio de estudantes e pais por defender turmas menos numerosas, o que melhora a qualidade da educação ao permitir que os alunos recebam mais atenção dos professores durante as aulas.
E o temor da superlotação foi uma das principais reivindicações dos alunos que chegaram a ocupar 213 escolas estaduais contra a proposta governamental que previa o fechamento de 94 escolas sem ter sido discutida com a comunidade.
Com o apoio de pais, professores, artistas e intelectuais do Brasil e do exterior, a resistência dos estudanteslevou o governo a demitir o então secretário da Educação, Herman Voorwald, a suspender a reorganização e se comprometer a debater o tema com a sociedade ao longo deste ano.
Exonerado em 4 de dezembro, Herman Voorwald ainda não tem sucessor. A Secretaria Estadual de Educação continua sem titular. A secretária-adjunta, Cleide Bauab Eid Bochixio, que foi coordenadora de Recursos Humanos da pasta, é quem responde atualmente pelos atos. Para Bebel, trata-se de uma estratégia política. "Alckmin vai justificar que a resolução que oficializa a superlotação, sem ter sido debatida, foi tomada por um técnico do governo".
"Sabemos muito bem que os chamados 'módulos' que determinam o número de estudantes por classe não é respeitado", diz Bebel. De acordo com ela, em 2015 houve classes com até 61 estudantes no ensino regular e com até 90 estudantes na educação de jovens e adultos. Na pauta da greve estava a reivindicação, que se mantém, de que o limite máximo seja de 25 estudantes por classe em toda a educação básica.
Ainda segundo ela, o governo Alckmin não cumpriu seu compromisso de chamar os professores para discutir a reabertura das salas fechadas. "E agora torna oficial que avançará na superlotação das classes, fazendo exatamente o contrário do que desejam professores, estudantes e pais. Se estivesse preocupado com a qualidade do ensino, iria reduzir em 10% o número de alunos. Passaria de 30 para 27 nas classes dos anos iniciais do ensino fundamental, de 35 para 32 nos anos finais, de 40 para 36 no ensino médio e assim por diante."
Em nota, a Secretaria da Educação informou que o objetivo da reorganização – que deverá ser debatida neste ano com a comunidade – era entregar escolas melhores, com ambientes mais preparados, além de utilizar classes ociosas disponíveis nas unidades. Desta forma, salas com baixa demanda receberiam alunos de classes com mais estudantes, proporcionando equilíbrio dentro de cada módulo.
A resolução "normatiza a inclusão de alunos, em casos excepcionais – como em áreas de mananciais, de regularização fundiária, por exemplo, onde não se consegue construir novas escolas –, em salas que já trabalham dentro do módulo, e estabelece um teto de até 10% para esse recebimento, criando uma espécie de trava, que antes não existia".
A secretaria informou ainda que, atualmente, a média de estudantes por classe na rede estadual de ensino é de 26,9 no EF I, 29,8 no EF II e 32,3 no Ensino Médio. No Ensino de Jovens e Adultos (EJA), que teve o módulo alterado de 40 para 45 alunos por classe, a média em 2015 foi de 35,2 alunos para os EF II e de 37,5 para o ensino médio.

BRUTALIDADE - Por falta de 'contato antecipado', PM reprime novamente ato contra aumento das tarifas

na Rede Brasil Atual

“Foi um massacre. Uma guerra contra jovens desarmados”, disse o padre Júlio Lancellotti. Secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, apoiou comando da PM e disse que não houve abuso

por Rodrigo Gomes, da RBA

bloqueio
Ninguém entra, ninguém sai. Polícia fecha acesso da Praça do Ciclista para Av. Paulista e bloqueia Av. Rebouças

São Paulo – “Não houve nenhum tipo de contato antecipado com a gente”, explicou o tenente-coronel André Luiz, da Polícia Militar (PM) paulista, argumentando que os manifestantes não respeitaram os “preceitos legais” para justificar por que o segundo ato contra o aumento das tarifas do transporte coletivo em São Paulo, organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL), não poderia realizar o trajeto da Avenida Paulista até o Largo da Batata, em Pinheiros. Sob essa premissa, a PM reprimiu brutalmente os ativistas que tentaram seguir este caminho, utilizando cassetetes, balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta.
Dezenas de manifestantes e mesmo pessoas que apenas passavam pela região ficaram feridos com estilhaços de bombas, balas de borracha e pancadas de cassetete. Uma jovem que pediu para não ser identificada quebrou o pé e foi levada ao hospital pelo Corpo de Bombeiros. “Nós não fizemos nada. Entramos em um prédio e fomos cercados. Levantamos as mãos e pedimos para deixar a gente sair. Mas quando deixamos o prédios fomos atacados com bombas e cassetetes, sem ter pra onde correr”, relatou o técnico em eletrônica Pedro Alexandre de Brito.
Durante pelo menos 30 minutos o bombardeio foi constante na Avenida Paulista. A PM perseguiu os manifestantes pelas ruas do entorno, que também estavam cercadas. Os ativistas alcançados eram agredidos. “A polícia promove o ódio, reprimindo os jovens com tanta violência”, afirmou o ativista Gabriel Feitosa.
Na Rua Sergipe, próximo ao Cemitério da Consolação, um grupo de aproximadamente 200 manifestantes foi emboscado pela PM e atacado com bombas de gás lacrimogêneo. Entre eles havia alguns mascarados, que depredaram lixeiras e atearam fogo. Pelo menos dez pessoas foram detidas e encaminhadas a delegacias da região, mas segundo informações que circulam nas redes sociais, o número deve ser bem maior. O ato reuniu cerca de 5 mil pessoas, menos do que o primeiro, na última sexta-feira (8). Porém, muitos manifestantes nem sequer conseguiram chegar à Avenida Paulista.
Jornalistas também não foram poupados. Um grupo de profissionais que tentou se aproximar do local onde a repressão teve início, na Praça do Ciclista, foi repelido pela PM com bombas de gás lacrimogêneo, arremessadas a uma distância de cerca de dois metros. Fotógrafos foram agredidos e um repórter da Central de Mídia Independente (CMI) foi detido.

MP ausente

O palco para a violenta repressão foi montado horas antes. Desde o meio da tarde a Polícia Militar iniciou uma operação de guerra na Avenida Paulista. Centenas de policiais da Tropa de Choque, da Força Tática, das Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas (Rocam) e das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota) – portando metralhadoras – faziam parte do cerco à Praça do Ciclista, no encontro da Avenida Paulista com a Rua da Consolação. Motos da Rocam foram enfileiradas para impedir a passagem para a Avenida Rebouças.
“Suspeitos” de serem manifestantes que chegavam ao local pelas estações de Metrô Consolação (Linha 2-Verde) e Paulista (Linha 4-Amarela) eram parados e revistados. Um jovem não identificado foi detido por estar de posse de uma corrente de ferro. O acesso só era possível pela Rua da Consolação. As avenidas Paulista e Rebouças foram fechadas. Outras ruas da região também tinham grupos de policiais de prontidão.
O militante do MPL Matheus Preis e o tenente-coronel André Luiz não chegaram a um entendimento sobre o trajeto. “A PM não aceita o trajeto que nós definimos, de descer a Avenida Rebouças, pegar a Avenida Faria Lima, até o Largo da Batata. Eles querem decidir o trajeto do ato e só aceitam que desçamos a Rua da Consolação até a Praça da República”, afirmou. Nesse caminho havia vários grupos de policiais e um bloqueio pouco abaixo do Cemitério da Consolação. A proposta foi recusada pelo movimento, que informou isso durante um jogral.
A partir do informe, os policiais da Tropa de Choque formaram duas fileiras para impedir a passagem dos manifestantes. Estes tentaram romper o cerco empurrando os agentes e após algum tempo de tensão, palavras de ordem e bate-boca, os policiais jogaram spray de pimenta contra os ativistas. Logo explodiu a primeira bomba e os manifestantes correram sentido Paraíso, onde estava outro grupo da Tropa de Choque e policiais da Rota. Bombardeados e perseguidos, alguns ativistas tentaram se esconder em prédios da região, mas acabaram expulsos e agredidos.
Depois da primeira onda de repressão, cada pequeno grupo que tentava se recompor era atacado com mais bombas e balas de borracha. Viaturas e motos da PM desceram a Rua da Consolação caçando manifestantes. Houve relatos de repressão na Barra Funda, na Avenida Angélica e no Teatro Municipal. “Foi um verdadeiro massacre. O que vimos aqui foi uma guerra contra jovens desarmados”, afirmou o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua.
Logo após o fim da ação policial, o secretário Estadual da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, convocou uma coletiva de imprensa em que reafirmou a posição do tenente-coronel André Luiz, de que sem informar o trajeto do ato antecipadamente não vai ocorrer manifestação, e que não houve abuso por parte da PM. “Se for comprovado, vamos investigar”, afirmou.
Embora solicitado pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), o Ministério Público Estadual de São Paulo não enviou nenhum representante para acompanhar o ato, segundo informações da assessoria de imprensa do órgão. Fernando Haddad pediu a mediação do MP para garantir que a manifestação transcorresse sem violência. O prefeito teria conversado com o secretário Moraes, e este aprovado a participação da Promotoria.
O representante do MPL Vitor Quintilliano disse no início da manifestação que esperava que a PM permitisse que o ato tivesse começo, meio e fim e que não fizesse como na sexta-feira (8), reprimindo a mobilização. “É evidente que a PM veio para sufocar e intimidar as pessoas que participam do ato”, afirmou. Apesar da repressão, um grupo de manifestantes conseguiu bloquear o sentido centro da Avenida Brigadeiro Luís Antônio, na altura da Avenida Paulista.
O Passe Livre reafirmou que vai se manter mobilizado até que haja revogação do aumento e já marcou um novo ato para a próxima quinta-feira (14), em duas frentes: no Teatro Municipal, no centro da cidade, e no Largo da Batata, em Pinheiros.
Na última sexta-feira, a PM reprimiu o ato após um grupo de manifestantes tentar ocupar o sentido centro da Avenida 23 de Maio. Como hoje, os policiais abusaram do uso de bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e cassetetes. E também perseguiram manifestantes pelas ruas do centro. O coletivo Jornalistas Livres flagrou policiais plantando um suposto explosivo na mochila de um manifestante detido.
Desde o último sábado (9), as tarifas de ônibus, Metrô e trem foram reajustadas de R$ 3,50 para R$ 3,80, um aumento de 8,57%. Segundo as secretarias Municipal de Transportes e Estadual dos Transportes Metropolitanos o reajuste ficou abaixo da inflação acumulada desde o último reajuste, ocorrido em 6 de janeiro de 2015. A inflação acumulada neste período foi de 10,49%. A integração entre ônibus e trilhos (metrô e trens) passa de R$ 5,45 para R$ 5,92. Já os bilhetes temporais 24 horas, madrugador, da hora, semanal e mensal não terão seus preços aumentados.
Saiba mais:

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Em cena, a covardia (Título de editorial da revista Carta Capital, replicado logo abaixo)

por José Gilbert Arruda Martins

Moro
Moro. Coveiros também vestem preto

Sai para comprar pão, na fila do caixa do supermercado me deparei com a revista Veja, estrategicamente exposta para que todos na fila, possam ter a oportunidade (ou infelicidade) de ler a manchete e fotos da capa. Desta feita, para "variar" um pouco, a capa trazia a fotografia de três pessoas, Marcelo Odebrecht, João Vacari Neto e José Dirceu.

O formato da capa da revista, maquiavelicamente pensada, com as fotos, o texto, as letras garrafais "Pavilhão 6", foi elaborada para destruir ainda mais a vida dessas pessoas. É a maneira que a revista e seus seguidores,  e ai se incluem a direita conservadora e a classe média desinformada, encontraram para execrar, demolir, atingir - não importa os meios -, a imagem do País, de Lula da Silva, do atual governo, e, principalmente de José Dirceu.

Essa atitude covarde da revista e de grande parte da velha mídia, de apoio total à execração aos réus dos processos conduzidos com mão de ferro pelo juiz Sérgio Moro, cabe no Estado de Direito, na Democracia?

Acredito que não.

O Brasil vai continuar a aturar uma situação dessas?

Quando, esses órgãos que deveriam defender a Constituição e as leis, como a OAB, o Ministério da Justiça, o Congresso Nacional, os Partidos políticos e, fundamentalmente, o Supremo Tribunal Federal (STF), irão agir?

Essas instituições não estão, com a sua inércia, ajudando o juiz de Curitiba e a velha e irresponsável mídia, rasgar a Constituição, jogando o Estado de Direito no lixo?

Uma das mais conceituadas revistas do Brasil - Carta Capital -, trouxe em sua última edição, um editorial que joga luz no tema, chama, de certa forma, a todos nós a agir, antes que seja tarde demais.

Por isso, depois de fazer a leitura cuidadosa do texto, resolvi replicar aqui no blog. Leiam!



Em cena, a covardia

na Carta Capital


Moro
Moro. Coveiros também vestem preto

Faz duas semanas, em carta publicada na seção competente, um leitor elogiou CartaCapital ao defini-la como revista de esquerda. Que significa ser de esquerda? Bom ou mau? As opiniões, como se sabe, divergem, e em um país maniqueísta como o Brasil divergem absolutamente, embora o significado exato da palavra tenha perdido a clareza de antanho.
Há mesmo quem diga que o tempo das ideologias acabou de vez como se fosse possível admitir a inexistência de ideias capazes de mover as ações humanas. De todo modo, em terra nativa, basta pouco para ser classificado de esquerda, ou mesmo comunista. Vários requisitos exigem-se para chegar a tanto, mas dois são determinantes.
Primeiro, denunciar com todas as letras a insuportável desigualdade reinante no País, recordista em má distribuição de renda. Segundo requisito. Não se acovardar diante da prepotência oligárquica, tão desbragadamente exercida por meio da mídia nativa, paladina de uma liberdade de imprensa que não passa de liberdade de propalar impunemente o que interessa aos patrões, moradores cativos da casa-grande e, portanto, de inventar, omitir e mentir. Esta é também uma forma de corrupção.
No enredo político em pleno desenvolvimento no cenário nacional, o papel da covardia é capital, é a partícula primeva que explode no big-bang. Espero ser entendido ao acentuar que a encenação é digna de um colossal hollywoodiano, e talvez fosse oportuno entregar a direção a Cecil B. DeMille. Cinéfilos vetustos como o acima assinado sabem o que estou a dizer. Vamos, porém, ao ponto, sem exagerar em esperanças quanto a essa compreensão.
A par da credulidade de muitos leitores, ouvintes e telespectadores e da benfazeja indiferença da senzala, preocupada com temas práticos e cotidianos, sobra, com extraordinário vigor, a covardia de quem haveria de resistir. A começar pelo Supremo Tribunal Federal. Lembrei-me do meu professor de Direito Penal na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em uma das cúspides do chamado Triângulo de uma São Paulo adoravelmente provinciana. Noé Azevedo, cavalheiro de cabelos brancos, supunha-o parecido com Caronte, o barqueiro do Styx na versão dantesca, “branco por antigo pelo”. Ensinava a supremacia do Direito Natural: os fatos merecedores de julgamento, hão de sê-lo no mesmo local em que se dão.
Aí está o pecado original, imperdoável, da Lava Jato. Escudado pela polícia curitibana, Sergio Moro manda às favas o Direito Natural. Os ministros do STF não foram alunos do professor Noé, está claro, e talvez nem saibam dele. Poderiam, contudo, ter consciência das suas responsabilidades. No entanto, diante do desmando e de muito outros cometidos na república jurídico-policial de Curitiba, se acovardam.
Divididos nos sentimentos e nos humores, os senhores ministros de uma justiça desvendada, curvam-se aos pés da arrogância midiática. Apavoram-se com a reação, impressa, radiofônica e televisada, a qualquer tentativa de recolocar a situação nos trilhos da lei, sem deixar de apreciar referências gaudiosas às suas pessoas, uma foto aqui, uma nota favorável , ou mesmo uma entrevista, acolá. A citação empolga e compensa o medo.
O mesmo gênero de temor atinge o próprio governo, acuado e até hoje incapaz de inaugurar o segundo mandato de Dilma Rousseff, tão bem representado na sua inércia aturdida por um ministro da Justiça inexoravelmente inepto. Aceita-se a afirmação da prioridade do combate à corrupção, enquanto demole-se o Estado de Direito.
E as bancadas petistas do Congresso e os parlamentares da dita base aliada? Acovardados, alguns à sombra da espada de Dâmocles, outros por que simplesmente tementes à mídia em lugar de Deus, possivelmente alheado como de hábito das misérias humanas. Se algum dia o Brasil foi um Estado de Direito a despeito da presença inesgotável da casa-grande e da senzala, deixa de sê-lo agora debaixo dos golpes das manchetes.
Observa um velho amigo ao me visitar no meio da tarde melancólica: tínhamos um salvador da pátria, chamava-se Joaquim Barbosa, de um tempo para cá tomou-lhe o lugar Sergio Moro. Nada mais simbólico do que a homenagem que lhe fez a Aner, contada nesta edição por Nirlando Beirão na página 30. O herói de camisa preta, adequada a mostrar antes a vaidade do que a identificação ideológica, conforme o editor de CartaCapital. Permito-me observar que o preto também é próprio do coveiro.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

"Descobrir Bowie era quase um rito de passagem"

por José Gilbert Arruda Martins

Era uma sexta-feira à noite, rua São Paulo do Norte, praça Raimundo Simas (que o prefeito José Jorge destruiu). Estar ali, nas férias de julho, era mais que curtir as noites de frio da chapada grajauense, mais que flertar com as lindas garotas da cidade, mais que uma boa conversa sobre política, nas noites de sexta-feira, sábado, domingo... na praça, era também para ouvir David Robert Jones ou apenas David Bowie.



https://www.google.com.br/search?q=imagem+de+David+Bowie&rlz


Grajaú, julho de 1985, qual o jovem natural daquela cidade, e que teve a oportunidade de estudar na capital, não desejava, ardentemente a chegada das férias para aproveitar o "Canecão", as festas no Clube Recreativo Cultural Grajauense?

1980, "a década perdida", para alguns economistas, para nós não, além de fazer um pouco de política durante o dia, tínhamos um encontro com David Robert Jones, à noite.

Até agora, havíamos perdido no tempo, somente as sextas feiras na discoteca Arabutã do "seu" Amadeu. Hoje, perdemos também um dos mais espetaculares artistas do século XX, perdemos o cara que embalava parte de nossos sonhos de juventude.

David Bowie, estava distante fisicamente de cada um de nós, sua música, no entanto,  fazia parte dos nossos dias, mas apesar da distância física, éramos como amigos de David.

Nós, nascidos em Grajaú, cidade situada na região Centro-Sul do Estado do Maranhão; ele em Brixton, Londres em 8 de janeiro de 1947, a 8.855 km de distância.

O artista genial se foi (10 de janeiro de 2016, em Manhattan) sem nos conhecer pessoalmente, sem conhecer seus grandes amigos de Grajaú, mas suas canções ficarão em nossas almas por um longo tempo. 

David, conheceu o proprietário da discoteca, o cara que nos apresentou Bowie, "seu" Amadeu, que viajava cerca de 1,2 mil km para buscar o Bowie em Fortaleza. O LP não era muito vendido na cidade, alguns poucos nativos gostavam, o disco servia, principalmente, para que nós, amigos de David, pudéssemos ouvi-lo noite após noite.

Namorar? Só após ouvir uma das mais brilhantes vozes do rock, a boate estava ali todos os dias, David não, ele poderia, como um belo camaleão, transformar-se e, sorrateiramente fugir da visão e ouvidos de seus grandes amigos das sextas-feiras.

Ouvir  "Blue Jean", "Loving The Alien", "Tonight" ou "Dancing With The Big Boy", belas e maravilhosas canções do "Camaleão do rock", era quase um rito de passagem. Para nos sentir liberados e fortalecidos em nossos espíritos e aproveitar o restante da noite, tínhamos que ouvir antes David Bowie.

Deixamos, perdidas no tempo, as noites deslumbrantes da cidade bicentenária, ficaram para trás, quase perdendo-se em nossas memórias já desgastadas pelo tempo, as grandes noites de sexta feira. A cidade já não é mesma, cresceu, encheu-se de gente, de comércio, de motos - irritantemente barulhentas -, mas nossos corações não mudaram, nossas lembranças do amigo David estão vívidas.

Obrigado "seu" Amadeu, por ter nos proporcionado conhecer o David, sem ele e suas belas canções, talvez não fôssemos os homens e mulheres que somos hoje, mais abertos para o novo, mais confiantes de que as mudanças camaleônicas são boas e saudáveis para, possivelmente, entendermos melhor os grandes desafios que a vida nos trás.

Obrigado amigo David!


Imagem

Para marcar o 60º aniversário de David Bowie em janeiro de 2007, a BBC publicou uma matéria com 60 fatos a respeito do cantor, ator e artista britânico.


Infância

1. David Bowie nasceu no bairro de Brixton, em Londres, no dia 8 de janeiro de 1947 com o nome de David Robert Jones. Ele faz aniversário no mesmo dia que outro ícone da música, Elvis.

2. A família de Bowie se mudou para Bromley quando ele completou seis anos.

3. O cantor foi à Escola Secundária Técnica de Bromley, atualmente chamada de Escola Ravenswood.

4. O guitarrista Peter Frampton foi amigo de escola de Bowie. O pai do guitarrista era diretor do departamento de arte. Frampton tocou guitarra com Bowie várias vezes durante sua carreira.

5. A pupila direita de Bowie é permanentemente dilatada pois seu amigo George Underwood acertou um soco em seu olho quando os dois ainda estavam na escola. O motivo da briga foi uma garota.

6. Underwood e Bowie continuaram bons amigos com Underwood sendo o responsável pela arte de design de alguns dos álbuns do início da carreira de Bowie.

7. Bowie começou a tocar saxofone aos 12 anos.

Antes da fama

8. O primeiro lançamento de sua carreira foi Liza Jane/Louie Louie Go Home, em junho de 1964, ainda com o nome Davie Jones, na banda King-Bees.

9. Mais tarde ele mudou seu nome para Bowie para evitar confusão com o integrante dos Monkees, Davy Jones.

10. Bowie é pronunciado para rimar com Joey.

11. Aos 17 anos ele foi entrevistado em um programa da BBC como o fundador da Sociedade para a Prevençaõ da Crueldade com Homens de Cabelos Longos. "Não é legal quando as pessoas chamam você de querido e tal', disse Bowie na época.

12. Por volta de 1967, ele escreveu músicas para o ator britânico Paul Nicholas, que gravou a obra usando o nome Oscar.

13. Ele lançou seu álbum de estréia, cujo título era apenas David Bowie em 1967, depois de tocar em várias bandas de pubs e clubes.

14. Em 1967 também foi lançada a música The Laughing Gnome que, segundo muitos fãs, é a pior música que Bowie já gravou.

15. Quando Bowie sugeriu que seus fãs deveriam votar pelo telefone quais as faixas que seriam tocadas em sua turnê mundial de 1990, a música The Laughing Gnome foi a mais pedida. Bowie não tocou.

'Starman'

16. O primeiro sucesso de Bowie na Grã-Bretanha foi Space Oddity, de 1969, usada pela BBC em sua cobertura da primeira viagem tripulada à Lua.

17. O personagem de ficção Major Tom apareceu em três sucessos do cantor, Space Odity (1969), Ashes to Ashes (1980) e Hallo Spaceboy (1996).

18. O primeiro sucesso de Bowie nos Estados Unidos foi a música Fame, em 1975. Além de Bowie, a música também tem como um de seus autores o ex-Beatle John Lennon, que canta no backing vocal.

19. A modelo Twiggy aparece com Bowie na capa do álbum Pin Ups, de 1973.

20. Na época do lançamento do álbum Young Americans, de 1975, o fundador da banda Chic Nile Rodgers fez um teste para ser o guitarrista da banda de Bowie. Ele não conseguiu a vaga.

21. Mas, mais tarde, Rodgers produziu o álbum campeão de vendas de Bowie, Let´s Dance, de 1983.

22. Acredita-se que Bowie tenha vendido cerca de 140 milhões de álbuns durante toda sua carreira.

23. Ele foi votado em quarto lugar em uma pesquisa recente do programa da BBC Culture Show, para descobrir qual o maior Ícone Vivo da Grã-Bretanha. Acima de Bowie ficaram David Attenborough, no primeiro lugar, Morrissey, em segundo, e Paul McCartney, em terceiro.

No palco e na tela

24. Bowie foi atingido no olho por um pirulito durante uma apresentação em Oslo, na Noruega, em 2004.

25. Toni Basil trabalhou como coreógrafo de Bowie em sua turnê Diamond Dogs, de 1974. Ela trabalhou mais tarde novamente com Bowie na turnê mundial de 1987, Glass Spider.

26. Em 1970, quando Bowie formou por um breve período a banda The Hype, todos os integrantes se vestiam de super-heróis. Eles eram vaiados em todos os lugares em que tocavam.

27. O cineasta Nicolas Roeg escalou Bowie em seu primeiro papel principal, como o alienígena em O Homem que Caiu na Terra, em 1976.

28. Ele deverá fazer a voz de um personagem em um episódio do desenho animado Bob Esponja.

29. No fime Labirinto, Bowie aparece como o Jareth, o Rei dos Duendes.

30. Sua aparição mais recente foi no filme O Grande Truque, com Hugh Jackman e Scarlet Johansson.

31. Em 1969, Bowie formou seu próprio grupo de mímica, Feathers, além de um outro grupo de arte experimental.

32. Bowie também representou Pôncio Pilatos no filme A Última Tentação de Cristo, dirigido por Martin Scorcese.

33. Entre os personagens mais excêntricos de sua carreira cinematográfica está um agente do FBI chamado Philip Jeffries no filme Twin Peaks - Os Últimos Dias de Laura Palmer, dirigido por David Lynch.

Vida pessoal

34. Bowie tem um metro e 78 centímetros segundo a maioria das fontes.

35. O cantor recusou o título de CBE (Ordem do Império Britânico) em 2000 e o título de Cavaleiro do Reino em 2003.

36. Bowie se casou com a modelo somali Iman, em 1992. Eles têm uma filha, Alexandria Zahara Jones, nascida em 2000.

37. Iman tem uma faca do tipo Bowie tatuada em seu tornozelo em homenagem ao marido.

38. Um meio-irmão de Bowie, Terry, que era esquizofrênico, cometeu suicídio em 1985.

39. Nove anos mais velho que David, Terry era a inspiração para músicas, incluindo Aladdin Sane, All the Madmen, The Bewlay Brothers e Jump They Say.

40. Em 2004, Bowie passou por uma cirurgia cardíaca de emergência na Alemanha, para tratar de uma artéria entupida.

O músico

41. Bowie escreveu junto com Lou Reed algumas das melhores faixas do lendário álbum Transformer, de Reed.

42. A música Ziggy Stardust é sobre Vince Taylor, que escreveu a canção Brand New Cadillac que, mais tarde, ganharia uma versão da banda The Clash.

43. Bowie gravou uma versão de Space Oddity em italiano chamada Ragazzo Solo, Ragazza Solo - que significa Menino Solitário, Menina Solitária, literalmente.

44. A faixa Move On do álbum The Lodger é, na verdade, uma versão da música All Young Dudes reescrita de trás para frente.

45. Bowie já participou de dez bandas diferentes - The Konrads, The Hooker Brothers, The King Bees, The Manish Boys, The Lower Third, The Buzz, The Riot Squad, The Hype, Tin Machine and Tao Jones Index (algumas destas bandas se apresentaram com outros nomes).

46. A música de Bowie The Man Who Sold the World já teve covers da cantora Lulu e da banda Nirvana.

47. Bing Crosby gravou com David Bowie seu último single antes de morrer. Sua versão em dueto da música The Little Drummer Boy foi gravada para o Natal de 1977. Foi um sucesso cinco anos depois.

48. Bowie escreveu a trilha sonora para a dramatização de 1993 da obra The Buddah of Suburbia, do autor Hanish Kureishi.

49. Bowie toca saxofone na música To Know Him Is To Love Him do álbum Now We Are Six, de Steeleye Span.

50. O cantor tocou quase todos os instrumentos do álbum Diamond Dogs, incluindo a famosa guitarra da música Rebel Rebel.

Vários

51. Bowie foi o último convidado do programa de TV do cantor britânico Marc Bolan, em 1977. Bolan morreu em um acidente de carro no sudoeste de Londres pouco depois da gravação.

52. Steve Strange, que participou de um reality show da BBC recentemente, estava no vídeo do sucesso de 1980 de Bowie, Ashes to Ashes.

53. As bandas favoritas de Bowie atualmente são Arcade Fire e TV On The Radio.

54. Mary Hopkin, atriz de televisão britânica, faz backing vocals em Sound and Vision.

55. Bowie cantou em uma linguagem totalmente inventada na faixa Subterraneans, do álbum Low, de 1976, quase uma década antes da banda The Cocteau Twins ter popularizado este recurso.

56. A imagem do cantor aparece em todas as capas de seus singles, a não ser na da trilha sonora The Buddha of Suburbia.

57. Bowie é mencionado na música Trans Europe Express, do Kraftwerk ("Meet Iggy Pop and David Bowie - TRANS EUROPE EXPRESS!", ou "Encontre Iggy Pop e David Bowie - Trans Europe Express", em tradução livre), entre outros.

58. Em 1997 David Bowie inova mais uma vez lançando apenas pela internet uma música, Telling Lies. Um ano depois ele lançou seu próprio provedor de internet, Bowienet.

59. Bowie desenha, pinta, escreve e também é escultor em suas horas livres. Seus artistas prediletos são Tintoretto, John Bellany, Erich Heckel, Picasso e Michael Ray Charles.

60. Em seu histórico escolar, Bowie tem apenas uma nota zero, em arte.


Mantenha a fonte ao citar o texto: David Bowie: conheça 60 fatos da vida do camaleão http://whiplash.net/materias/curiosidades/051486-davidbowie.html#ixzz3wxzdOh6H
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Fonte consultada:

https://pt.wikipedia.org/wiki/David_Bowie

http://whiplash.net/materias/curiosidades/051486-davidbowie.html

Um bebê Kaigang foi assassinado. Cadê as panelas? Cadê a foto de perfil com as cores indígenas?

por José Gilbert Arruda Martins

Hipocrisia, preconceito e muita, muita indiferença, é o que vemos nesse país com a falta de reação ao assassinato do bebê de dois anos Vitor Pinto, da etnia Kaingang, morto em Santa Catarina.


                 Fotos: Jacson Santana e Marina Oliveira (Cimi - Regional Sul)

O assassinato aconteceu no último dia 30 de dezembro e nada até agora de reação.

Cadê as panelas? As fotos com as cores indígenas no perfil do facebook?

E se fosse uma criança branca, rica, filho de um artista global ou de um empresário, a reação seria a mesma?

Escolhemos, baseados em uma moral e ética profundamente duvidosa, a quem ou a que, vamos nos solidarizar ou reclamar. 

Com a hipocrisia de sempre, escolhemos com muito cuidado o momento de reclamar dos políticos, da corrupção e do assassinatos de crianças. 

Se for político de um partido y, reclamo, se for o governo x, sou contra a corrupção, se for criança branca e rica, me solidarizo. Quanta falsidade!

O caso do bebê Kaigang é um exemplo concreto dessa seletividade neonazista.

Ano passado, um atentado terrorista matou vários pessoas em Paris, as redes sociais se encheram de cores da bandeira francesa, até agora, já se passaram, praticamente duas semanas e nada de panelas ou de mudança nas fotos do perfil.

Somos seres humanos, pobres, ricos, pretos, brancos, vermelhos; daqui ou de qualquer lugar do planeta; quando um ser humano é assassinado, devemos chorar por ele ou ela, não importa quem seja ou onde resida.

Selecionar por quem nossas lágrimas caem, é perversidade, é indiferença, é completa hipocrisia.

Um bebê foi brutalmente assassinado, é fato.

É fato que, principalmente no Sul do país, as terras originárias dos vários grupos indígenas, foram invadidas e entregues aos fazendeiros ou grandes corporações nacionais e internacionais.

É óbvio, que, para não morrerem de fome, os grupos Kaigangs precisam vender seus artesanatos para poder sobreviver. Porém, são "proibidos" de circular pelas cidades e pelas praias e ruas livremente.

“Esperamos que haja justiça, que exista respeito e menos discriminação contra o nosso povo”, afirmou Idalino Kaingang, liderança da aldeia Toldo Chimbangue, que fica também em Chapecó. Idalino afirma que existe muito preconceito com os Kaingang que vendem seus artesanatos nas cidades e que, inclusive, já foram expulsos diversas vezes da rodoviária de Chapecó. “Mas eu acho que o direito de ir e vir ninguém pode tirar. O artesanato é algo que é cultural, é histórico do nosso povo. Construíram a cidade em cima da nossa terra e agora querem nos dizer onde podemos ou não podemos ficar”

A Globo, os velhos jornais, a Veja, Isto É...não deram nenhuma atenção ao fato, e se fosse uma criança branca?

A comoção nacional seria enorme, todos, embalados pela manipulação e a "midiotização" global, seriamos levados ao choro coletivo, com cenas de pessoas desesperadas esbravejando na TV exigindo justiça.

Como somos hipócritas!!!


Com informações:

http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=8541&action=read


INDIGNAÇÃO SELETIVA - 'Se não fosse uma criança indígena, a repercussão seria muito grande', diz Cimi

na Rede Brasil Atual

Indígenas da região Sul realizam atos e pedem justiça pelo assassinato de bebê da etnia Kaingang. “Enfrentamos um cenário de muito preconceito”, diz membro do Conselho Indígena Missionário

por Sarah Fernandes, da RBA


Manifestação
Em Curitiba, índios se manifestam contra morte de menino em Santa Catarina


São Paulo – A coordenação do Conselho Indígena Missionário na região Sul condenou a pouca repercussão sobre o caso o bebê indígena assassinado em uma rodoviária de Imbituba, cidade do litoral sul de Santa Catarina. Na manhã do último dia 30, um jovem se aproximou da criança no terminal de ônibus, tirou um estilete do bolso, cortou a garganta do bebê de 2 anos, chamado Vitor, e foi embora.
“Se fosse criança não indígena a repercussão seria muito maior, mas como são indígenas parece que fica só uma comoção nos primeiros dias. A gente tenta ajudar divulgando mais”, disse um dos coordenadores da instituição, Jacson Santana. A opinião é a mesma da mãe do menino, Sônia da Silva: “se um indígena cortasse a garganta de uma criança branca o Brasil viria abaixo. Quero a mesma indignação pela morte do meu filho”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo.
Durante o verão, vários indígenas da etnia Kaingang, como Vitor e os pais, migram para as cidades do litoral catarinense para tentar vender artesanatos, única fonte de renda dos índios da região. A família do bebê passaria todo o verão no local, dormindo na rodoviária. Sônia estava em Imbituba com o marido, Arcelino Pinto, de 42 anos, e os três filhos (além de Vitor, um de seis anos e outro de 12 anos) desde 26 de dezembro.
“O espaço nas aldeias é tão pequeno que ele não tem espaço para plantar e caçar. A única forma de eles sobreviverem é sair para vender artesanatos”, diz Santana. “Enfrentamos aqui um cenário de muito preconceito. Há uma interferência grande do poder público para retirá-los do espaço público, com a visão de que eles estão sujando a cidade e a rodoviária, que é o local de chagada dos turistas.”
Desde quarta-feira (6), indígenas realizam uma série de manifestações exigindo justiça para o caso de Vitor. O primeiro deles foi às 12h, foi na rodoviária onde ocorreu o assassinato. Na tarde do mesmo dia, cerca de 100 indígenas também protestaram no Centro de Chapecó, local de origem da família. Em Curitiba, índios que estão acolhidos na Casa de Passagem Indígena fizeram uma manifestação na manhã de ontem (8) contra a morte de Vitor.
“O preconceito tem muitas formas. Dizer que os índios estão sujando um local é discriminação. No município de São Miguel do Oeste (SC), um caminhão contratado pela prefeitura retirou a força indígenas que estavam na rodoviária. A jornalista que denunciou isso foi até ameaçada”, conta Santana.
A mãe do bebê relatou ao coordenador substituto da Funai em Chapecó (SC), Clóvis Silva, que o crime ocorreu por volta do meio dia, enquanto Vitor brincava embaixo de uma árvore, perto dela. Um homem se aproximou, simpático e sorridente, passou a mão na cabeça da criança, retirou do bolso um estilete, cortou a garganta do bebê e foi embora.

O ainda suspeito pelo crime, Matheus de Ávila Silveira, de 23 anos, foi detido dois dias depois do assassinato e foi encaminhado para o presídio de Tubarão (SC), depois de confessar o crime. O delegado responsável avalia que ele tem características de um psicopata, pois não demonstrou sentir culpa.

domingo, 10 de janeiro de 2016

A direita fascista e o possível redirecionamento das manifestações do MPL

por José Gilbert Arruda Martins

O serviço de transporte coletivo de São Paulo é horrível e caro, o Movimento Passe Livre e a comunidade, tem todo o direito de sair ás ruas para lutar contra o aumento, mas precisa ver o que pode ser feito para evitar urgentemente o uso desse movimento pela direita.


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O Movimento Passe Livre, se tem alguma responsabilidade, direcionamento e planejamento de suas ações, precisa ter a clareza do que a direita fascista fez em 2013 e o que poderá fazer agora. 

Em 2013 as manifestações foram redirecionadas pela direita, juntamente com a mídia, apenas contra o governo federal.

Apesar do cenário ser outro, um pouco melhor que o de 2013, isso porque os principais atores da direita, estão na berlinda, envolvidos com fatos notórios de corrupção, as organizações sociais, que lutam pela cidadania nas ruas, precisam atentar para o fato da manipulação das manifestações democráticas pela grande mídia e pelos golpistas.

O governo de São Paulo de Geraldo Alckmin do PSDB, foi quase que completamente, deixado de fora, pelo menos pela Globo e demais TVs abertas, o ataque se concentrou contra o governo Dilma e inflou os movimentos golpistas daí em diante.

Precisamos lembrar que as manifestações de rua organizadas pelos Movimentos Sociais no final do ano passado, praticamente enterrou o movimento golpista, mas, se o  MPL não tomar as devidas precauções, poderá perder o controle novamente, como aconteceu claramente em 2013, e o caos se instalar, dando novo fôlego à direita do seu Aécio, Moro, Agripino, Cunha...

O serviço de transporte coletivo de São Paulo é horrível e caro, o Movimento Passe Livre e a comunidade, tem todo o direito de sair ás ruas para lutar contra o aumento, mas precisa ver o que pode ser feito para evitar urgentemente o uso desse movimento pela direita.

Sabemos da grande dificuldade que é direcionar e controlar um movimento de massas, mas alguma coisa precisa ser feita para que os grupos mais reacionários, principalmente de São Paulo, não manipulem e redirecionem o Movimento.


TIROS, BOMBAS E SURRAS - Violência policial liquida primeiro ato contra o aumento das tarifas em São Paulo

na Rede Brasil Atual

Apesar da forte repressão, o Movimento Passe Livre já marcou nova manifestação para a próxima terça-feira (12) e garante que não sairá da rua até barrar o aumento

por Rodrigo Gomes, da RBA

pm
Concentração começou pacífica em frente ao Teatro Municipal. Contingente policial foi desproporcional


São Paulo – Na primeira grande manifestação do ano na capital paulista, a Polícia Militar mostrou ontem (8) que nada mudou em relação à repressão aos movimentos sociais jovens. O primeiro ato contra o aumento das tarifas de Metrô, trens e ônibus de R$ 3,50 para R$ R$ 3,80, organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL) terminou em uma chuva de bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e viaturas policiais a toda velocidade pelas ruas do centro de São Paulo, e com várias pessoas detidas e feridas – inclusive policiais. O MPL estimou em 10 mil pessoas o engajamento no ato.
O centro de São Paulo se tornou uma praça de guerra e mesmo quem estava apenas voltando para casa após o trabalho de 2016 ficou aterrorizado com a quantidade de bombas e balas de borracha disparadas pela Tropa de Choque na região do Viaduto do Chá. Muitos PMs usavam máscaras para cobrir o rosto e identificação alfanumérica. Pessoas imploravam para entrar na estação Anhangabaú, da Linha 3-Vermelha do Metrô, fechada pelos funcionários após o início da repressão.
Segundo a militante do MPL Laura Vieira, pelo menos dez manifestantes foram detidos e muitas pessoas se feriram. A PM não informou o número de manifestantes detidos. Alguns policiais também se machucaram, atingidos por pedras. "A PM atacou o ato gratuitamente. Foi uma repressão muito violenta, mas que só vai fazer crescer a nossa mobilização contra o aumento das tarifas", disse Laura, que anunciou novo ato na próxima terça-feira (12), as 17h, ainda sem local definido.


Desde a saída do ato do Teatro Municipal, onde os manifestantes se concentraram, o que se viu foi um jogo de gato e rato com a PM, que reuniu um grande efetivo de agentes da Tropa de Choque, da Força Tática e das Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas (Rocam) e seguiu o protesto ostensivamente em duas filas laterais. Sem revelar o destino final da marcha, os ativistas seguiram primeiro para o Largo do Paissandu. Depois paravam em toda esquina, parecendo redefinir por onde seguir. O que fazia os policiais que seguiam terem de correr para recompor a formação a todo momento.
repressão
Enfim, a marcha seguiu pelo Vale do Anhangabaú, sem nenhum incidente de depredação ou confusão. A caminho do Terminal Bandeira, um grupo de manifestantes mascarados tentou tomar o sentido centro da via, em direção à prefeitura de São Paulo. A PM fechou o cerco sobre eles. Bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha foram disparadas na direção dos demais manifestantes. Vários foram feridos, um deles com um tiro de bala de borracha no rosto.
Houve muita correria e parte dos ativistas revidou com pedras e rojões contra a PM. Um grupo de policiais ficou isolado do Batalhão de Choque e tentou se defender das pedradas com escudos. Alguns policiais ficaram feridos. Pequenos grupos de manifestantes correram em várias direções e foram perseguidos pela Tropa de Choque.
A PM lançou bombas contra cidadãos que cruzavam a passarela do Terminal Bandeira. E também em direção ao Viaduto do Chá – do Vale do Anhangabaú – e à Rua Xavier de Toledo – da Ladeira da Memória –, sem ter como observar quem seria atingido. Muitas pessoas que voltavam para casa do trabalho foram atingidas pelo gás lacrimogêneo.
Parte dos manifestantes percorreu as ruas do centro espalhando lixo e ateando fogo, depredando ônibus, carros da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e agências bancárias. Todas as lojas da região fecharam as portas. A polícia cercou um grupo grande na Rua da Consolação, que foi reprimido com bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e cassetetes.
Os PMs utilizaram a Praça Roosevelt como praça de detenção. E ali protagonizaram uma cena de pura violência. Skatistas, transeuntes e alguns manifestantes estavam parados na praça quando dois veículos da Tropa de Choque, recém-comprados de Israel pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB), pararam e os policiais desceram atirando balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo contra todos que ali estavam, provocando correria. Em seguida, voltaram aos veículos e partiram. Viaturas subiam e desciam as ruas da região central em alta velocidade a todo momento.

Contra a tarifa

O ato reuniu milhares de manifestantes, entre ativistas de diversos movimentos, estudantes secundaristas – que no final do ano passado barraram a reorganização escolar proposta pelo governador de São Paulo – e sindicalistas.
Segundo a militante do MPL Laura Vieira, o objetivo dos protestos é reverter o aumento de R$ 3,50 para 3,80. “Não vamos sair da rua enquanto não atingirmos esse objetivo. E não adianta dizer que o aumento é abaixo da inflação ou que é uma parcela pequena que vai ser afetada por isso. Não combatemos a ação de um governo, mas uma política que prioriza o lucro dos empresários sobre o atendimento à população. Nada justifica esse valor de tarifa”, afirmou.
“Os ônibus estão sempre cheios, sempre demoram muito. Não tem um dia que o Metrô ou os trens não apresentem falhas”, completou ela, que lembrou que a tarifa é um mecanismo excludente. “Muitas pessoas não têm dinheiro para pagar a tarifa de hoje. Outras vão ser excluídas com a nova tarifa.”
O presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Altino de Melo Prazeres Júnior, destacou que o Metrô de São Paulo é um dos menores do mundo, quando comparado com outras metrópoles, e tem a tarifa proporcionalmente mais cara. “Mas esse valor não reflete na qualidade do serviço, nas condições de trabalho dos funcionários nem na expansão da malha ferroviária. É apenas extorsão de recursos da população. Nós também somos contra esse aumento e defendemos que o governo estadual subsidie a tarifa, fazendo com que ela diminua”, afirmou.
O estudante do ensino médio João Vitor Santos, de 17 anos, do Comando das Escolas em Luta, garantiu que os alunos que barraram a reorganização de Alckmin vão ajudar a barrar o aumento das tarifas. “Ainda que os estudantes tenham passe livre, que é bastante limitado, o aumento impacta na vida de todos. Aumenta o custo de vida, prejudica a vida do povo”, afirmou.
Segundo a Secretaria Municipal de Transportes, responsável pelos ônibus municipais, e a Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos, responsável pelo transporte dos metrôs e trens estaduais, o reajuste ficou abaixo da inflação acumulada desde o último reajuste, ocorrido em 6 de janeiro de 2015. A inflação acumulada neste período foi de 10,49%, enquanto o aumento das tarifas foi estipulado em 8,57% para o bilhete unitário. A tarifa de integração entre ônibus e trilhos (metrô e trens) passarão de R$ 5,45 para R$ 5,92. Já os bilhetes temporais 24 horas, madrugador, da hora, semanal e mensal não terão seus preços aumentados.