segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Um bebê Kaigang foi assassinado. Cadê as panelas? Cadê a foto de perfil com as cores indígenas?

por José Gilbert Arruda Martins

Hipocrisia, preconceito e muita, muita indiferença, é o que vemos nesse país com a falta de reação ao assassinato do bebê de dois anos Vitor Pinto, da etnia Kaingang, morto em Santa Catarina.


                 Fotos: Jacson Santana e Marina Oliveira (Cimi - Regional Sul)

O assassinato aconteceu no último dia 30 de dezembro e nada até agora de reação.

Cadê as panelas? As fotos com as cores indígenas no perfil do facebook?

E se fosse uma criança branca, rica, filho de um artista global ou de um empresário, a reação seria a mesma?

Escolhemos, baseados em uma moral e ética profundamente duvidosa, a quem ou a que, vamos nos solidarizar ou reclamar. 

Com a hipocrisia de sempre, escolhemos com muito cuidado o momento de reclamar dos políticos, da corrupção e do assassinatos de crianças. 

Se for político de um partido y, reclamo, se for o governo x, sou contra a corrupção, se for criança branca e rica, me solidarizo. Quanta falsidade!

O caso do bebê Kaigang é um exemplo concreto dessa seletividade neonazista.

Ano passado, um atentado terrorista matou vários pessoas em Paris, as redes sociais se encheram de cores da bandeira francesa, até agora, já se passaram, praticamente duas semanas e nada de panelas ou de mudança nas fotos do perfil.

Somos seres humanos, pobres, ricos, pretos, brancos, vermelhos; daqui ou de qualquer lugar do planeta; quando um ser humano é assassinado, devemos chorar por ele ou ela, não importa quem seja ou onde resida.

Selecionar por quem nossas lágrimas caem, é perversidade, é indiferença, é completa hipocrisia.

Um bebê foi brutalmente assassinado, é fato.

É fato que, principalmente no Sul do país, as terras originárias dos vários grupos indígenas, foram invadidas e entregues aos fazendeiros ou grandes corporações nacionais e internacionais.

É óbvio, que, para não morrerem de fome, os grupos Kaigangs precisam vender seus artesanatos para poder sobreviver. Porém, são "proibidos" de circular pelas cidades e pelas praias e ruas livremente.

“Esperamos que haja justiça, que exista respeito e menos discriminação contra o nosso povo”, afirmou Idalino Kaingang, liderança da aldeia Toldo Chimbangue, que fica também em Chapecó. Idalino afirma que existe muito preconceito com os Kaingang que vendem seus artesanatos nas cidades e que, inclusive, já foram expulsos diversas vezes da rodoviária de Chapecó. “Mas eu acho que o direito de ir e vir ninguém pode tirar. O artesanato é algo que é cultural, é histórico do nosso povo. Construíram a cidade em cima da nossa terra e agora querem nos dizer onde podemos ou não podemos ficar”

A Globo, os velhos jornais, a Veja, Isto É...não deram nenhuma atenção ao fato, e se fosse uma criança branca?

A comoção nacional seria enorme, todos, embalados pela manipulação e a "midiotização" global, seriamos levados ao choro coletivo, com cenas de pessoas desesperadas esbravejando na TV exigindo justiça.

Como somos hipócritas!!!


Com informações:

http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=8541&action=read


INDIGNAÇÃO SELETIVA - 'Se não fosse uma criança indígena, a repercussão seria muito grande', diz Cimi

na Rede Brasil Atual

Indígenas da região Sul realizam atos e pedem justiça pelo assassinato de bebê da etnia Kaingang. “Enfrentamos um cenário de muito preconceito”, diz membro do Conselho Indígena Missionário

por Sarah Fernandes, da RBA


Manifestação
Em Curitiba, índios se manifestam contra morte de menino em Santa Catarina


São Paulo – A coordenação do Conselho Indígena Missionário na região Sul condenou a pouca repercussão sobre o caso o bebê indígena assassinado em uma rodoviária de Imbituba, cidade do litoral sul de Santa Catarina. Na manhã do último dia 30, um jovem se aproximou da criança no terminal de ônibus, tirou um estilete do bolso, cortou a garganta do bebê de 2 anos, chamado Vitor, e foi embora.
“Se fosse criança não indígena a repercussão seria muito maior, mas como são indígenas parece que fica só uma comoção nos primeiros dias. A gente tenta ajudar divulgando mais”, disse um dos coordenadores da instituição, Jacson Santana. A opinião é a mesma da mãe do menino, Sônia da Silva: “se um indígena cortasse a garganta de uma criança branca o Brasil viria abaixo. Quero a mesma indignação pela morte do meu filho”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo.
Durante o verão, vários indígenas da etnia Kaingang, como Vitor e os pais, migram para as cidades do litoral catarinense para tentar vender artesanatos, única fonte de renda dos índios da região. A família do bebê passaria todo o verão no local, dormindo na rodoviária. Sônia estava em Imbituba com o marido, Arcelino Pinto, de 42 anos, e os três filhos (além de Vitor, um de seis anos e outro de 12 anos) desde 26 de dezembro.
“O espaço nas aldeias é tão pequeno que ele não tem espaço para plantar e caçar. A única forma de eles sobreviverem é sair para vender artesanatos”, diz Santana. “Enfrentamos aqui um cenário de muito preconceito. Há uma interferência grande do poder público para retirá-los do espaço público, com a visão de que eles estão sujando a cidade e a rodoviária, que é o local de chagada dos turistas.”
Desde quarta-feira (6), indígenas realizam uma série de manifestações exigindo justiça para o caso de Vitor. O primeiro deles foi às 12h, foi na rodoviária onde ocorreu o assassinato. Na tarde do mesmo dia, cerca de 100 indígenas também protestaram no Centro de Chapecó, local de origem da família. Em Curitiba, índios que estão acolhidos na Casa de Passagem Indígena fizeram uma manifestação na manhã de ontem (8) contra a morte de Vitor.
“O preconceito tem muitas formas. Dizer que os índios estão sujando um local é discriminação. No município de São Miguel do Oeste (SC), um caminhão contratado pela prefeitura retirou a força indígenas que estavam na rodoviária. A jornalista que denunciou isso foi até ameaçada”, conta Santana.
A mãe do bebê relatou ao coordenador substituto da Funai em Chapecó (SC), Clóvis Silva, que o crime ocorreu por volta do meio dia, enquanto Vitor brincava embaixo de uma árvore, perto dela. Um homem se aproximou, simpático e sorridente, passou a mão na cabeça da criança, retirou do bolso um estilete, cortou a garganta do bebê e foi embora.

O ainda suspeito pelo crime, Matheus de Ávila Silveira, de 23 anos, foi detido dois dias depois do assassinato e foi encaminhado para o presídio de Tubarão (SC), depois de confessar o crime. O delegado responsável avalia que ele tem características de um psicopata, pois não demonstrou sentir culpa.

domingo, 10 de janeiro de 2016

A direita fascista e o possível redirecionamento das manifestações do MPL

por José Gilbert Arruda Martins

O serviço de transporte coletivo de São Paulo é horrível e caro, o Movimento Passe Livre e a comunidade, tem todo o direito de sair ás ruas para lutar contra o aumento, mas precisa ver o que pode ser feito para evitar urgentemente o uso desse movimento pela direita.


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O Movimento Passe Livre, se tem alguma responsabilidade, direcionamento e planejamento de suas ações, precisa ter a clareza do que a direita fascista fez em 2013 e o que poderá fazer agora. 

Em 2013 as manifestações foram redirecionadas pela direita, juntamente com a mídia, apenas contra o governo federal.

Apesar do cenário ser outro, um pouco melhor que o de 2013, isso porque os principais atores da direita, estão na berlinda, envolvidos com fatos notórios de corrupção, as organizações sociais, que lutam pela cidadania nas ruas, precisam atentar para o fato da manipulação das manifestações democráticas pela grande mídia e pelos golpistas.

O governo de São Paulo de Geraldo Alckmin do PSDB, foi quase que completamente, deixado de fora, pelo menos pela Globo e demais TVs abertas, o ataque se concentrou contra o governo Dilma e inflou os movimentos golpistas daí em diante.

Precisamos lembrar que as manifestações de rua organizadas pelos Movimentos Sociais no final do ano passado, praticamente enterrou o movimento golpista, mas, se o  MPL não tomar as devidas precauções, poderá perder o controle novamente, como aconteceu claramente em 2013, e o caos se instalar, dando novo fôlego à direita do seu Aécio, Moro, Agripino, Cunha...

O serviço de transporte coletivo de São Paulo é horrível e caro, o Movimento Passe Livre e a comunidade, tem todo o direito de sair ás ruas para lutar contra o aumento, mas precisa ver o que pode ser feito para evitar urgentemente o uso desse movimento pela direita.

Sabemos da grande dificuldade que é direcionar e controlar um movimento de massas, mas alguma coisa precisa ser feita para que os grupos mais reacionários, principalmente de São Paulo, não manipulem e redirecionem o Movimento.


TIROS, BOMBAS E SURRAS - Violência policial liquida primeiro ato contra o aumento das tarifas em São Paulo

na Rede Brasil Atual

Apesar da forte repressão, o Movimento Passe Livre já marcou nova manifestação para a próxima terça-feira (12) e garante que não sairá da rua até barrar o aumento

por Rodrigo Gomes, da RBA

pm
Concentração começou pacífica em frente ao Teatro Municipal. Contingente policial foi desproporcional


São Paulo – Na primeira grande manifestação do ano na capital paulista, a Polícia Militar mostrou ontem (8) que nada mudou em relação à repressão aos movimentos sociais jovens. O primeiro ato contra o aumento das tarifas de Metrô, trens e ônibus de R$ 3,50 para R$ R$ 3,80, organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL) terminou em uma chuva de bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e viaturas policiais a toda velocidade pelas ruas do centro de São Paulo, e com várias pessoas detidas e feridas – inclusive policiais. O MPL estimou em 10 mil pessoas o engajamento no ato.
O centro de São Paulo se tornou uma praça de guerra e mesmo quem estava apenas voltando para casa após o trabalho de 2016 ficou aterrorizado com a quantidade de bombas e balas de borracha disparadas pela Tropa de Choque na região do Viaduto do Chá. Muitos PMs usavam máscaras para cobrir o rosto e identificação alfanumérica. Pessoas imploravam para entrar na estação Anhangabaú, da Linha 3-Vermelha do Metrô, fechada pelos funcionários após o início da repressão.
Segundo a militante do MPL Laura Vieira, pelo menos dez manifestantes foram detidos e muitas pessoas se feriram. A PM não informou o número de manifestantes detidos. Alguns policiais também se machucaram, atingidos por pedras. "A PM atacou o ato gratuitamente. Foi uma repressão muito violenta, mas que só vai fazer crescer a nossa mobilização contra o aumento das tarifas", disse Laura, que anunciou novo ato na próxima terça-feira (12), as 17h, ainda sem local definido.


Desde a saída do ato do Teatro Municipal, onde os manifestantes se concentraram, o que se viu foi um jogo de gato e rato com a PM, que reuniu um grande efetivo de agentes da Tropa de Choque, da Força Tática e das Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas (Rocam) e seguiu o protesto ostensivamente em duas filas laterais. Sem revelar o destino final da marcha, os ativistas seguiram primeiro para o Largo do Paissandu. Depois paravam em toda esquina, parecendo redefinir por onde seguir. O que fazia os policiais que seguiam terem de correr para recompor a formação a todo momento.
repressão
Enfim, a marcha seguiu pelo Vale do Anhangabaú, sem nenhum incidente de depredação ou confusão. A caminho do Terminal Bandeira, um grupo de manifestantes mascarados tentou tomar o sentido centro da via, em direção à prefeitura de São Paulo. A PM fechou o cerco sobre eles. Bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha foram disparadas na direção dos demais manifestantes. Vários foram feridos, um deles com um tiro de bala de borracha no rosto.
Houve muita correria e parte dos ativistas revidou com pedras e rojões contra a PM. Um grupo de policiais ficou isolado do Batalhão de Choque e tentou se defender das pedradas com escudos. Alguns policiais ficaram feridos. Pequenos grupos de manifestantes correram em várias direções e foram perseguidos pela Tropa de Choque.
A PM lançou bombas contra cidadãos que cruzavam a passarela do Terminal Bandeira. E também em direção ao Viaduto do Chá – do Vale do Anhangabaú – e à Rua Xavier de Toledo – da Ladeira da Memória –, sem ter como observar quem seria atingido. Muitas pessoas que voltavam para casa do trabalho foram atingidas pelo gás lacrimogêneo.
Parte dos manifestantes percorreu as ruas do centro espalhando lixo e ateando fogo, depredando ônibus, carros da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e agências bancárias. Todas as lojas da região fecharam as portas. A polícia cercou um grupo grande na Rua da Consolação, que foi reprimido com bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e cassetetes.
Os PMs utilizaram a Praça Roosevelt como praça de detenção. E ali protagonizaram uma cena de pura violência. Skatistas, transeuntes e alguns manifestantes estavam parados na praça quando dois veículos da Tropa de Choque, recém-comprados de Israel pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB), pararam e os policiais desceram atirando balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo contra todos que ali estavam, provocando correria. Em seguida, voltaram aos veículos e partiram. Viaturas subiam e desciam as ruas da região central em alta velocidade a todo momento.

Contra a tarifa

O ato reuniu milhares de manifestantes, entre ativistas de diversos movimentos, estudantes secundaristas – que no final do ano passado barraram a reorganização escolar proposta pelo governador de São Paulo – e sindicalistas.
Segundo a militante do MPL Laura Vieira, o objetivo dos protestos é reverter o aumento de R$ 3,50 para 3,80. “Não vamos sair da rua enquanto não atingirmos esse objetivo. E não adianta dizer que o aumento é abaixo da inflação ou que é uma parcela pequena que vai ser afetada por isso. Não combatemos a ação de um governo, mas uma política que prioriza o lucro dos empresários sobre o atendimento à população. Nada justifica esse valor de tarifa”, afirmou.
“Os ônibus estão sempre cheios, sempre demoram muito. Não tem um dia que o Metrô ou os trens não apresentem falhas”, completou ela, que lembrou que a tarifa é um mecanismo excludente. “Muitas pessoas não têm dinheiro para pagar a tarifa de hoje. Outras vão ser excluídas com a nova tarifa.”
O presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Altino de Melo Prazeres Júnior, destacou que o Metrô de São Paulo é um dos menores do mundo, quando comparado com outras metrópoles, e tem a tarifa proporcionalmente mais cara. “Mas esse valor não reflete na qualidade do serviço, nas condições de trabalho dos funcionários nem na expansão da malha ferroviária. É apenas extorsão de recursos da população. Nós também somos contra esse aumento e defendemos que o governo estadual subsidie a tarifa, fazendo com que ela diminua”, afirmou.
O estudante do ensino médio João Vitor Santos, de 17 anos, do Comando das Escolas em Luta, garantiu que os alunos que barraram a reorganização de Alckmin vão ajudar a barrar o aumento das tarifas. “Ainda que os estudantes tenham passe livre, que é bastante limitado, o aumento impacta na vida de todos. Aumenta o custo de vida, prejudica a vida do povo”, afirmou.
Segundo a Secretaria Municipal de Transportes, responsável pelos ônibus municipais, e a Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos, responsável pelo transporte dos metrôs e trens estaduais, o reajuste ficou abaixo da inflação acumulada desde o último reajuste, ocorrido em 6 de janeiro de 2015. A inflação acumulada neste período foi de 10,49%, enquanto o aumento das tarifas foi estipulado em 8,57% para o bilhete unitário. A tarifa de integração entre ônibus e trilhos (metrô e trens) passarão de R$ 5,45 para R$ 5,92. Já os bilhetes temporais 24 horas, madrugador, da hora, semanal e mensal não terão seus preços aumentados.


sábado, 9 de janeiro de 2016

"B*..., b*..., b*... eu como a seco. No C*..., eu passo cuspe. Medicina, medicina é só na USP..."

por José Gilbert Arruda Martins

Se tivesse vivo Hipócrates, "O Pai da Medicina", morreria de vergonha dos futuros médicos que a USP forma todos os anos.


EACH USP

Estudantes do curso de medicina da instituição foram denunciados por várias vítimas de estupros coletivos em festas feitas dentro da própria universidade. Os alunos embebedavam as garotas, que eram estupradas por vários rapazes, todos, ou a maioria, estudantes de Medicina.

Os estupros da USP vêm acontecendo há anos, segundo as matérias divulgadas em dezenas de jornais e blogs, as denúncias foram feitas e nenhum dos estupradores foi punido até o presente momento, com exceção de um rapaz, que foi impedido de colar grau ano passado.

Os futuros "doutores", talvez se juntarão aos atuais que foram pegos roubando o SUS, após a manifestação do "fora Dilma".


"A Polícia Federal deflagrou, na madrugada desta terça-feira (2), a Operação Desiderato, com o objetivo de combater e desarticular organização criminosa composta por médicos, profissionais da saúde e representantes da indústria farmacêutica de próteses cardíacas, que viabilizavam procedimentos cardiológicos sem a real necessidade clínica dos pacientes, muitas vezes simulando procedimentos, com o objetivo de desviar verbas do Sistema Único de Saúde"

A USP e a justiça, precisam, efetivamente, tomar as providencias necessárias e punir todos os estupradores, não permitindo que esses caras cheguem aos hospitais do país e a sociedade tenha que conviver com a insegurança de tê-los como profissionais de medicina, cuidando de pessoas, entre elas milhares de mulheres.


"Estudantes criticam ausência de política institucional para punição de casos de violência contra mulher; especialista cobra mapeamento da violência
Violência física e psicológica tem feito parte da vida estudantil de muitas alunas do Campus Butantã da Universidade de São Paulo. Relatos de assédios, estupros, agressões físicas e verbais contra a mulher nos espaços da universidade são comuns."
Todo ano é a mesma coisa, os trotes violentos, racistas, homofóbicos, machistas, marcam a abertura do ano letivo.

Um fato que deveria ser de acolhimento democrático, humano, se torna um evento marcado pela selvageria e o desrespeito.


"A ritualística de trote, então, revela as relações de veteranismo que demarcam a inserção do recém-ingresso nas dinâmicas hierárquicas da universidade. As brincadeiras guardam um implícito constitutivo de submissão performática, isto é, joga-se ludicamente com a autoridade teatral do veterano sobre o calouro. As piadas, em geral, destacam-se das prerrogativas que o mais velho tem sobre o mais novo. E esse humor costuma ser embalsamado por todos os pressupostos mais preconceituosos e marginalizantes contidos na sociedade (não são raras as piadas e cantos machistas, racistas, transfóbicos, lgbtfóbicos etc. [3]).

“Buceta, buceta, buceta eu como a seco. No cu, eu passo cuspe. Medicina, medicina é só na USP!” – gritam os veteranos, rodeando as calouras - “Eu tava no banheiro comendo a empregada, o índio abriu a porta e eu comi a bunda errada”
Na rápida e superficial pesquisa que fizemos na grade curricular da USP, em seu curso de Medicina, encontramos a oferta de uma única disciplina - Medicina e Humanidades -, que parece ser voltada para as questões humanas e, talvez sociais.

Por quê?

Escrevemos sobre o tema outras vezes aqui no blog, enquanto as Faculdades e Cursos de graduação em Medicina não se preocuparem verdadeiramente, com a formação humana e social desses jovens, a situação tende a piorar.

As instituições precisam humanizar os cursos de Medicina no país como um todo, precisam ir além das grades curriculares ditas normais e saírem também das "grades" que cercam as escolas, para irem de encontro ao social, ao povo.

Estudante de Medicina, precisa gostar de gente, respeitar direitos, respeitar as diversidades que marcam a sociedade brasileira.

Do contrário, os profissionais que sairão para o mercado de trabalho, terão uma grande dificuldade em pensar as questões sociais, trabalhar, por exemplo, uma Medicina preventiva, humanizada e socialmente libertadora.

Poderão ter dificuldades em respeitar as mulheres, os negros, os índios, os pobres, o idoso, o homossexual, etc.

Além da ausência no currículo real, de disciplinas que poderiam tornar os cursos mais humanizados, existe o que os especialistas denominam de "currículo oculto", para quem não sabe, o currículo oculto é fortemente e presentemente trabalhado em escolas de todos os níveis, através do dele, passamos valores e crenças, potencializamos atitudes e comportamentos, reforçamos e cristalizamos ideologias.


"Se quisermos enumerar as designações por que é conhecido este mundo de realidades nublosas, mas insistentemente presentes, teríamos que, em justiça, referir os que se ocuparam delas, sem lhes atribuírem esse rótulo, e passar, depois, por termos como: currículo encoberto, escondido, implícito, latente ou, pela negativa, não intencional, não conhecido, não observável, não estudado ou não escrito."
Uma coisa é certa, felizmente, temos muitos bons profissionais que dedicam parte do tempo de suas vidas para atender ao povo, que lutam por um atendimento mais humano, que demonstram no dia a dia respeito pelas pessoas.

Afinal, o Brasil não tem apenas a USP, do contrário estaríamos em maus lençóis...

Fontes Consultadas:

1. http://www.todabiologia.com/pesquisadores/hipocrates.htm

2. http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/10/aluno-da-medicina-da-usp-acusado-de-estupros-recebe-nova-suspensao.html

3. http://g1.globo.com/sp/sao-paulo/educacao/universidade/usp.html

4. http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2015/03/1603431-aluna-da-usp-diz-que-foi-estuprada-por-estudante-de-medicina-e-trancou-curso.shtml

5. http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,estudante-de-medicina-da-usp-acusado-de-estupro-e-suspenso,1666061

6. http://www.revistaforum.com.br/mariafro/2015/02/22/estudante-de-medicina-estuprada-resiste-ninguem-toca-nos-meus-sonhos/

7. https://uspdigital.usp.br/jupiterweb/listarGradeCurricular?codcg=5&codcur=5042&codhab=0&tipo=N

8. http://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-docente/curriculo-oculto.htm.

9. http://www.paulofreire.ufpb.br/paulofreire/Files/seminarios/mesa13-a.pdf.

10. http://www.ipv.pt/millenium/inv6_3.htm.

11. http://jornalggn.com.br/noticia/medicos-simulavam-cirurgia-cardiaca-sem-necessidade-para-desviar-recursos-do-sus.

12. http://www.jornaldocampus.usp.br/index.php/2013/04/alunas-vitimas-de-violencia-criticam-omissao-da-usp/

'Há uma operação de enfeitiçamento em curso', diz sociólogo

na Carta Maior

Em seminário do Fórum 21, professor denuncia que as versões da velha mídia reverberadas pelas redes sociais abalaram a relação entre verdade e ficção


Najla Passos

reprodução

“A mídia não cobre mais os acontecimentos. Ela gera versões e tenta transformá-las em verdade”, alertou o sociólogo Laymert Garcia dos Santos, professor titular do Departamento de Sociologia da Unicamp e membro do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania da USP, que participou da mesa Comunicação e Novas Tecnologias, durante os “Seminários para o avanço social”, promovido pelo Fórum 21, em São Paulo de 9 a 13 de novembro.

De acordo com ele, mesmo após o advento das redes sociais e dos 13 anos de governos petistas, o sistema da comunicação no Brasil é ainda extremamente concentrador e preocupante porque, historicamente, o PT não soube avaliar o real poder da mídia e a esquerda não conseguiu formular uma análise crítica do seu potencial de formação de consensos.

Santos afirma que, desde a década de 80, o PT já contava que, quando chegasse ao poder, teria a velha mídia brasileira ao seu lado, devido à postura dos oligopólios, como as Organizações Globo, de sempre se posicionarem a serviço dos governos de plantão. Mas não foi o que aconteceu. Para agravar, as redes sociais amplificaram o potencial da mídia de repetir versões para transformar fatos em verdade, o que gerou o quadro atual.

“A esquerda não tem uma visão crítica em relação aos meios de comunicação. E se ela não consegue ter essa relação em relação à velha mídia - se o máximo que consegue é propor a democratização e ponto - imagina com as novas mídias”, criticou.
Para o professor, o quadro é de tamanha gravidade que a relação entre verdade e mentira, entre verdade e ficção, está completamente abalada. “Nós chegamos a um ponto em que os ladrões gritam ‘pega ladrão’ para os não-ladrões. E isso cola! É uma inversão de valores gigantesca”, ironizou.

Linguagens totalitárias

O sociólogo sustenta que a dimensão totalitária que a linguagem da velha mídia, reverberada pelas redes sociais, adquiriu no país só encontra precedentes no período pré-nazista e na Guerra Fria. “A mídia é uma parte não só ativa na definição do que acontece, mas é parte ativa na criação de ficções, de versões do que ocorre”, ressaltou.

Para piorar o quadro, a esquerda não consegue sequer reagir aos sucessivos ataques, porque seus instrumentos são poucos e de curto alcance, enquanto os dos oligopólios que dominam a mídia no país vão longe e promovem uma espécie de “enfeitiçamento” contínuo. “Se você coloca só um pouquinho de voz de um lado, não é suficiente para fazer contraponto. A assimetria é enorme”, destacou.

O resultado, conforme ele, portanto, é um campo de versões e mentiras deliberadas, programadas por uma máquina poderosa, que tem uma capacidade de mobilização das mentes das pessoas bastante importante. “Não só a classe média já foi ganha, como também existe a uma capilaridade em setores beneficiados pelas políticas desse governo que começam a se submeter a este enfeitiçamento. Há uma operação de enfeitiçamento em curso”, denunciou.

Como exemplo, Santos cita as pequenas manifestações por impeachment ou a favor de “intervenção militar” que reúnem meia dúzia de manifestantes e um boneco, mas ganham um espaço enorme no noticiário e na agenda política do país, em detrimento de outras muito maiores organizadas pelos movimentos sociais. “Há todo um encadeamento de redes de transmissão que fazem com que não-acontecimentos se tornem acontecimentos, com o objetivo de manter no ar permanentemente a perspectiva de golpe”, alertou.

O não-diálogo

Para o professor, este enfeitiçamento está na base da falta de diálogo que domina o país. “Todo mundo aqui já tentou argumentar com uma dessas pessoas de direita, no sentido de demonstrar os absurdos que ela está dizendo, e bateu em um muro. O esclarecimento não resolve. Não há possibilidade de diálogo nem de discussão, porque o irracional surge. Elas não querem ser esclarecidas. São movidas pelo ódio e o ódio é visceral. E esse ódio é alimentado o tempo todo pela mídia e pelas redes sociais”, argumentou.

Para o professor, o mais grave é que o governo sequer reage a essa ofensiva, tratando essa explosão da linguagem totalitária no país como natural ou próprio da democracia. “Nem corte de grana para emissoras houve. A reação do governo é de submissão e isso estimula o avanço conservador”, acrescentou. Santos sustenta que as forças de esquerda precisam compreender os sinais de perigo e agir. “A linguagem não é só sentido e produção de conteúdo. A linguagem também é ação. E a ação da linguagem totalitária é mobilizar o negativo das pessoas”, denunciou.

O mercado da atenção

Professor de Sistemas de Informação da USP, Mário Moreto Ribeiro, fez uma comparação entre o ambiente do mundo do trabalho e o das redes sociais, que hoje exigem a atenção total do trabalhador/internauta, em uma desgastante briga por sua atenção. “Na internet hoje, o que está em disputa é essa atenção total. Não só o tempo [do internauta], mas a atenção”, afirmou.

Segundo ele, o capital se apropriou do que deveria ser espaço de interação e lazer para os trabalhadores e o transformou em mais uma mercadoria. É por isso que ele classifica o esforço exercido por milhares de usuários das redes sociais para formularem comentários e disputar a atenção de seus seguidores, gratuitamente, é um tipo de trabalho voluntário que contribui para valorizar a marca da empresa, e gerar lucro para o capital.  

“Escrever no facebook também é um trabalho. Você gasta tempo, valoriza a empresa. E disputa a atenção dos colegas. Existe um mercado da atenção nas redes sociais. E a gente está disputando esse mercado quando escreve no Facebook. Mas não é um mercado aberto. Ele é controlado por uma empresa”, alertou.

O Estado de Direito e o estado de direita

na Rede Brasil Atual

Estamos em plena vigência de um Estado de Direito? Ou de um “estado” de direita, que está nos levando, na prática, a um estado de exceção?

por MAURO SANTAYANA


Paulista
No estado de direita, a indignação é seletiva

Do Blog – É curiosa a situação que vive hoje o Brasil. Afinal, no Estado de Direito, você tem o direito de ir e vir, de frequentar um bar ou um restaurante, ou desembarcar sem ser incomodado em um aeroporto, independente de sua opinião.
No estado de direita, você pode ser reconhecido, insultado e eventualmente agredido, por um bando de imbecis, na saída do estabelecimento ou do avião.
No Estado de Direito, você pode cumprimentar com educação o seu vizinho no elevador, desejando-lhe um feliz ano novo.
No estado de direita, você tem grande chance de ouvir como resposta: “Tomara que em 2016 essa vaca saia da Presidência da República, ou alguma coisa aconteça com essa cadela, em nome do Senhor.”
No Estado de Direito, você pode mandar “limpar” o seu computador com antivírus quando quiser.
No estado de direita, você pode ficar preso indefinidamente por isso, até que eventualmente confesse ou invente alguma coisa que atraia o interesse do inquisidor.
No Estado de Direito, você tem direito a ampla defesa, e o trabalho dos advogados não é cerceado.
No estado de direita, quebra-se o sigilo de advogados na relação com seus clientes.
No Estado de Direito, a Lei é feita e alterada por quem foi votado para fazer isto pela população.
No estado de direita, instituições do setor público se lançam a promover uma campanha claramente política – já imaginaram a Presidência da República colhendo assinaturas na rua para aumentar os seus próprios poderes? – voltada para a aprovação de um conjunto de leis que diminui – em um país em que 40% dos presos está encarcerado sem julgamento – ainda mais as prerrogativas de defesa dos cidadãos.
No Estado de Direito, você é protegido da prisão pela presunção de inocência.
No estado de direita, inexistem, na prática, os pressupostos da prisão legal e você pode ser detido com base no “disse me disse” de terceiros; em frágeis ilações; do que “poderá” ou “poderia”, teoricamente, fazer, caso continuasse em liberdade; ou subjetivas interpretações de qualquer coisa que diga ao telefone ou escreva em um pedaço de papel – tendo tudo isso amplamente vazado, sem restrição para a “imprensa”, como forma de manipulação da opinião pública e de chantagem e de pressão.
No Estado de Direito, você pode expressar, em público, sua opinião.
No estado de direita, você tem que se preocupar se alguém está ouvindo, para não ter que matar um energúmeno em legítima defesa, ou “sair na mão”.
No Estado de Direito, os advogados se organizam, e são a vanguarda da defesa da Lei e da Constituição.
No estado de direita, eles deixam agir livremente – sem sequer interpelar judicialmente - aqueles que ameaçam a Liberdade, a República e os cidadãos.
No Estado de Direito, membros do Ministério Público e da Magistratura investigam e julgam com recato, equilíbrio, isenção e discrição.
No estado de direita, eles buscam a luz dos holofotes, aceitam prêmios e homenagens de países estrangeiros ou de empresas particulares, e recebem salários que extrapolam o limite legal permitido, percebendo quase cem vezes o que ganha um cidadão comum.
No Estado de Direito, punem-se os corruptos, não empresas que geram riquezas, tecnologia, conhecimento e postos de trabalho para a Nação.
No estado de direita, “matam-se” as empresas, paralisam-se suas obras e projetos, estrangula-se indiretamente seu crédito, se corrói até o limite o seu valor, e milhares de trabalhadores vão para o olho da rua, porque a intenção não parece ser punir o crime, mas sabotar o governo e destruir a Nação.
No Estado de Direito, é possível fazer acordos de leniência, para que companhias possam continuar trabalhando, enquanto se encontram sob investigação.
No estado de direita, isso é considerado “imoral”.
Não se pode ser leniente com empresas que pagam bilhões em impostos e empregam milhares de pessoas, mas, sim, ser mais do que leniente com bandidos contumazes e notórios, com os quais se fecha “acordos” de “delação premiada”, mesmo que eles já tenham descumprido descaradamente compromissos semelhantes feitos no passado.
No Estado de Direito, existe liberdade e diversidade de opinião e de informação.
No estado de direita, as manchetes e as capas de revista são sempre as mesmas, os temas são sempre os mesmos, a abordagem é quase sempre a mesma, o lado é sempre o mesmo, os donos são sempre os mesmos, as informações e o discurso são sempre os mesmos, assim como é sempre a mesma a parcialidade e a manipulação.
No Estado de Direito você pode ensinar História na escola do jeito que a história ocorreu.
No estado de direita, você pode ser acusado de comunista e perder o seu emprego pela terceira ou quarta vez.
No Estado de Direito você pode comemorar o fato de seu país ter as oitavas maiores reservas internacionais do planeta, e uma dívida pública que é muito menor que a dos países mais desenvolvidos do mundo.
No estado de direita você tem que dizer que o seu país está quebrado para não ser chamado de bandido ou de ladrão.
No Estado de Direito, você pode se orgulhar de que empresas nacionais conquistem obras em todos os continentes e em alguns dos maiores países do mundo, graças ao seu know-how e capacidade de realização.
No estado de direita, você deve acreditar que é preciso quebrar e destruir todas as grandes empresas de engenharia nacionais, porque as empresas estrangeiras – mesmo quando multadas e processadas por tráfico de influência e pagamento de propinas em outros países – “não praticam corrupção.”
No Estado de Direito você pode defender que os recursos naturais de seu país fiquem em mãos nacionais para financiar e promover o desenvolvimento, a prosperidade e a dignidade da população.
No estado de direita você tem de dizer que tudo tem de ser privatizado e entregue aos gringos se não quiser arrumar confusão.
No Estado de Direito, você pode defender abertamente o desenvolvimento de novos armamentos e de tecnologia para a defesa da Nação.
No estado de direita, você vai ouvir que isso é um desperdício, que o país “não tem inimigos”, que as forças armadas são “bolivarianas”, que o Brasil nunca vai ter condições de enfrentar nenhum país poderoso, que os EUA, se quiserem, invadem e ocupam isso aqui em cinco minutos, que o governo tem de investir é em saúde e educação...
No Estado de Direito, é crime insultar ou ameaçar, ou acusar, sem provas, autoridades do Estado e o Presidente da República.
No estado de direita, quem está no poder aceita, mansamente, cotidianamente, os piores insultos, adjetivos, acusações, insinuações e mentiras, esquecendo-se que tem o dever de defender a Democracia, a liturgia do cargo, aqueles que o escolheram, a Nação que representam e, teoricamente, comandam, e a Lei e a Constituição.
No Estado de Direito, você pode interpelar judicialmente quem o ameaça pela internet de morte e de tortura ou faz apologia de massacre e genocídio ou da quebra da ordem institucional e da hierarquia e da desobediência à Constituição.
No estado de direita, muita gente acha que “não vale a pena ficar debatendo com fascistas” enquanto eles acreditam, fanaticamente, que representam a maioria e continuam, dia a dia, disseminando inverdades e hipocrisia e formando opinião.
No Estado de Direito você poderia estar lendo este texto como um jogo de palavras ou uma simples digressão.
No estado de direita, no lugar de estar aqui você deveria estar defendendo o futuro da Liberdade e dos seus filhos, enfrentando, com coragem e informação, pelo menos um canalha por dia no espaço de comentários – onde a Democracia está perdendo a batalha – do IG, do Terra, do MSN, do G1, do UOL...

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

A direita brasileira e o "estado" mentecápto

por José Gilbert Arruda Martins

A classe rica e a média reacionária, querem um país de escravos, um país de dependentes, não desejam o bem de todos e todas, desejam criar guetos de miseráveis que possam apenas trabalhar para esses grupos durante toda a sua vida miserável.



Mauro Santayana, escreveu no seu blog, o texto: "O Estado de Direito e o estado de direita", a matéria faz pensarmos nas estruturas escravocratas que teimam a não nos abandonar.

Mas o que desejas com essa afirmação, professor?

Qualquer pessoa, com o mínimo de inteligência, deve ter percebido nas manifestações pró-golpe, pró-intervenção militar, e na manifestação de três imbecis ontem (07/12), em frente ao hospital onde nasceu o neto da presidenta Dilma Roussef, como nossa mentalidade é tacanha, míope, burra, estrábica, atrasada, escravocrata, desinteligente...

Toda essa desinteligência, toda essa imbecilidade esconde uma intenção, que é a defesa dos privilégios de quem nasceu e viveu um país onde apenas uns poucos querem ter acesso às riquezas e bens.

Essa intenção é muito clara, por trás do ódio, que é visceral, encontramos a política da direita, infelizmente, essa política puxa para si e para seu ódio de classe, até pessoas comuns e pobres, arrasta mesmo, pois a grande mídia, como conhecido por muitos, faz da mentira verdade, faz dos fatos, notícias que costumam selecionar e divulgar, com texto editado à sua forma e bel prazer, a apologia ao completo desrespeito ao Estado de Direito.

Com isso o "estado" de direita continua seu caminho de desconstrução daquilo que foi pensado quando nos referimos às questões sociais e de cidadania e, em sua trajetória autoritária, até o aumento real do salário mínimo divulgado dias atrás, é motivo para que a direita e a mídia golpista, ataquem o governo e a classe trabalhadora.

A classe rica e a média reacionária, querem um país de escravos, um país de dependentes, não desejam o bem de todos e todas, desejam criar guetos de miseráveis que possam apenas trabalhar para esses grupos durante toda a sua vida miserável.

Um país que, da invasão em 1500 aos dias de hoje, tratou pobre, negro, mulheres, homossexuais como lixo, não poderia esconder-se por mais tempo atrás de uma máscara hipócrita que defende que somos um país de cordialidade.

Nossa história é completamente recheada de violências, fomos, por mais de três séculos, mais precisamente do século XVI ao XIX oficialmente escravocratas, éramos todos escravagistas, ricos e pobres, leigos e padres, homens e mulheres.

Os escravos faziam parte da paisagem brasileira como a palmeira, como as montanhas ou como os rios.

Os escravos trabalhavam em todos os ofícios e profissões. Da prostituta à empregada doméstica, do capitão do mato ao vendedor de rua, respirávamos escravidão.

Parte da sociedade brasileira acredita fortemente que ainda vivemos assim ou podemos voltar a viver e desfrutar dos "prazeres" da escravidão.

Mesmo porque, se olharmos bem, veremos que as partes ricas das cidades em confronto com as partes pobres, parece querer nos dizer que as coisas não mudaram tanto assim.

O contraste entre pobreza e riqueza é gritante, não tem máscara que consiga esconder. Os trabalhadores, que na sua maioria tem direito ao salário mínimo, sobrevivem, apesar dos avanços dos últimos 12 anos, em pura e concreta violência. Moram mal, comem mal, estudam mal, mal se divertem...

Esse é o "estado" de direita debatido no texto do Mauro Santayana, esse é o estado autoritário que muitos desejam que volte e se perpetue no país.

Quem está dormindo, chegou a hora de acorda!!!




Violações de Direitos Humanos e Currículo Oculto

na Carta Maior

Presente na Faculdade de Medicina da USP, o 'currículo oculto' é o conjunto de práticas que visa a manutenção do corporativismo e da exclusão social.


Allan Brum* e Ricardo Koba **

Estudantes de medicina da USP fazem piada com cirurgia de redesignação sexual

Em 2014 aconteceu a CPI dos Trotes, aberta na Assembleia Legislativa de São Paulo - Alesp, para apurar inúmeras denúncias que chegaram até aquela Casa referentes à violações de Direitos Humanos nas faculdades paulistas. Devido a gravidade dos fatos apresentados, nos quatro meses de duração da CPI, a imprensa não deixou de dar cobertura aos trabalhos da Comissão comandada pelo então deputado Adriano Diogo. Em novembro de 2015 completou-se um ano da Audiência Pública, também na Alesp, que deu origem à CPI; e, em março, fará um ano que a CPI  se encerrou.

No domingo último, o jornal Estado de São Paulo (edição de 3/1/2016, pp. E11), na capa principal do Caderno Metrópole, fez um balanço dos desdobramentos da CPI e das recomendações por ela feitas. A conclusão do jornal é a de que pouco se avançou na maioria das faculdades, sendo que impunidade e leniência parecem ser traços preponderantes de agentes públicos e dirigentes que deveriam dar prosseguimento aos trabalhos da CPI dos Trotes de forma efetiva e não cosmética, com exceção da promotora Paula de Figueiredo e Silva, que deu o primeiro acolhimento às denúncias encaminhadas ao MPE/SP e abriu inquérito; das colegas que a sucederam no caso, as promotoras Beatriz Helena Budin Fonseca e Silvia Chakian de Toledo Santos; da direção da PUCCAMP (Pontifícia Universidade Católica de Campinas); e, claro, da ação corajosa das vítimas e testemunhas que se apresentaram e de coletivos de estudantes e professores que, por fora da instituição, colocaram em prática mecanismos para coibir abusos e gerar uma cultura mais humanizada.

Não vamos tratar aqui da matéria de o Estado de São Paulo, mas discorrer sobre uma das consequências mais salientes e pouco debatida sobre o que pode levar a esse estado de coisas quando não tomado a sério e solucionado. Falamos aqui do pouco conhecido, mas presente no cotidiano de muitas instituições de ensino: o currículo oculto.

Currículo oculto
 
O enfoque que damos abaixo é nas escolas médicas, uma vez que foram as mais trabalhadas durante a CPI dos Trotes, mas é válido para todas as instituições de ensino que permitem práticas trotistas em seus ambientes acadêmicos.
 
Um texto descritivo que enumerasse formas de trote: tinta, farinha, cabelo raspado; pasta de dente perianal; álcool forçado; banho de urina; piscina de vômito; formas eufêmicas de abuso sexual etc. A lista, como demonstrou a CPI das universidades, não teria fim. Mas seria perda de tempo escrever um texto só pra dizer que não é legal jogar fezes nos colegas, certo?
 
Grande parte das pessoas entende trote enquanto conjunto de práticas de recepção supostamente amistosas, com intuito humorístico, mas que de vez em quando saem do controle. A intenção aqui é rechaçar esse discurso e mostrar que as barbaridades relatadas não são ‘acidentes’ ou ‘exageros’, tampouco se limitam ao período de recepção. Pelo contrário: tais casos são derivações naturais daquilo que representa a própria essência do fenômeno trote. E suas consequências se desdobram por muito além das primeiras semanas de curso.
 
A cultura de trote tem origem anterior à entrada na universidade. Isso fica evidente pelo folclore em torno da temática, que embebe o imaginário escolar, a abordagem do cinema e da literatura, o marketing das empresas de “cursinhos” etc. Nesse sentido, o recém-ingresso geralmente não é surpreso pelos grupos trotistas – ele já os esperava, muitas vezes com euforia e ansiedade.
 
Vale mencionar que essa expectativa só é possível em uma conjuntura de restrição do direito à educação. O ensino superior (sobretudo de medicina) é entendido como prêmio, disputado de forma desigual pelos setores privilegiados da sociedade que tiveram acesso ao ensino privado e\ou pelo subgrupo que pode pagar pelas caríssimas mensalidades. Os estudantes que ingressam são então nutridos com auto-enaltecimento e ufania em relação a sua “conquista” e sua faculdade (o que foi bem exemplificado pelas canções de atléticas e fraternidades durante a CPI [1]). É frequente que os grupos trotistas alimentem essa cultura de ufanismo e de superioridade [2], deixando em evidência seu classismo e arrogância.
 
A ritualística de trote, então, revela as relações de veteranismo que demarcam a inserção do recém-ingresso nas dinâmicas hierárquicas da universidade. As brincadeiras guardam um implícito constitutivo de submissão performática, isto é, joga-se ludicamente com a autoridade teatral do veterano sobre o calouro. As piadas, em geral, destacam-se das prerrogativas que o mais velho tem sobre o mais novo. E esse humor costuma ser embalsamado por todos os pressupostos mais preconceituosos e marginalizantes contidos na sociedade (não são raras as piadas e cantos machistas, racistas, transfóbicos, lgbtfóbicos etc. [3]).
 
“Buceta, buceta, buceta eu como a seco. No cu, eu passo cuspe. Medicina, medicina é só na USP!” – gritam os veteranos, rodeando as calouras - “Eu tava no banheiro comendo a empregada, o índio abriu a porta e eu comi a bunda errada”.
 
Diante disso, observamos que a essência do trote repousa sobre a verticalidade das relações entre veteranos e calouros, sobre a desigualdade de poder, de voz e de prerrogativas entre esses personagens. Esse fenômeno pode se expressar em dinâmicas amistosas, mas também pode se radicalizar em situações mais violentas, o que varia e decorre de sua própria natureza.
 
A verticalidade imposta na relação de veteranismo perfaz a maior parte das instituições universitárias (CAs, DAs, atléticas, fraternidades etc) e se estende pelo próprio ambiente de ensino, em que os mais velhos, na hierarquia, tendem a ensinar aos mais novos (internos, residentes, preceptores) as condutas pertinentes. A despeito das dificuldades próprias no aprendizado dos saberes técnicos, isso evidentemente gera consequências de método para a maneira como se desenvolve a cultura universitária. Aulas são expositivas, entidades estudantis são hierarquizadas, conhecimento e decisões são construídos verticalmente.

Em suma, observamos que opera, sobretudo nos cursos de medicina, um currículo oculto, paralelo às grades oficiais. Através de entidades estudantis, em muitos casos financiadas e vigiadas por antigos membros (agora formados, médicos, professores), perpetuam-se tradições incontestáveis e arquiteturas sociais permeáveis ao assédio e a violência sistemática. A abrangência das consequências é incalculável, mas não por isso menos palpável, como indicam os inúmeros casos de estupro e de sequelas devido a trotes.
 
A construção da cultura do trote e de seus fundamentos (hierarquia, ufanismo, violência coletiva) confere homogeneidade aos grupos universitários e conforma unidade corporativa avessa a contestação. Em outras palavras, a submissão performática do trote não tem fim no trote em si, mas esbanja sua continuidade na construção de uma postura passiva dos estudantes, que se inserem numa dinâmica social de saúde mercantilizada, não enquanto agentes transformadores, mas como operadores diante de uma ordem social adoecedora.  
 
É importante ressaltar que o trote constitui uma cultura exclusiva. Aqueles que se recusam a aceitar os rituais ou enfrentam os grupos trotistas são, então, perseguidos pelo bloco hegemônico. A CPI das Universidades deixou evidente tanto a falta de instituições que acolhessem as denúncias, quanto a dificuldade de garantir a proteção dos denunciantes, em muitos casos ameaçados por professores, vítimas de agressões físicas etc.
 
Quebrar com a cultura do trote e com sua ritualística significa, além de defender vítimas de violações de direitos humanos e apurar denúncias, afirmar com categoria que a universidade é espaço de construção coletiva e, portanto, apenas um ideário democrático pode formar práticas, concepções e profissionais empenhados na saúde da população.


* Allan Brum é coordenador da Denem (Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina) e estudante de medicina.
** Ricardo Koba é professor e ativista de Direitos Humanos.



Apêndice:
[1] – “Escola de tradição, grande sem comparação. Nos esportes soberana, na ciência sem igual” – trecho de música do Show Medicina, fraternidade da FMUSP denunciada em escândalos de prostituição e violência
[2] – É bem elucidadivo o conceito freudiano de narcisismo das pequenas diferenças, que explica a atitude muito frequentemente hostil das atléticas para com seus supostos inimigos, num claro mecanismo psicológico de inferiorização do agrupamento rival a fim de elevar-se a patamares superiores
[3] – “Buceta, buceta, buceta eu como a seco. No cu, eu passo cuspe. Medicina, medicina é só na USP!” ou “Eu tava no banheiro comendo a empregada, o índio abriu a porta e eu comi a bunda errada”– cantos da AAAOC (Associação Atlética Acadêmica Osvaldo Cruz da FMUSP), sendo “índio” um termo usado pra se referir aos estudantes de outra faculdade (Escola Paulista de Medicina)