quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Jovem faz sucesso com vídeos sobre personagens negros da história do Brasil

na Rede Brasil Atual

Com série "Meus Heróis Negros Brasileiros", adolescente de São Paulo chama a atenção para o racismo e a importância da valorização da cultura africana

Pedro Henrique
"O racismo é um assunto que sempre me incomodou"

São Paulo – O adolescente Pedro Henrique, de 13 anos e morador de São Paulo, está fazendo sucesso na internet com um canal de vídeos sobre heróis brasileiros negros. Educativos, os vídeos chamam a atenção para o racismo e para a importância da valorização da cultura africana.
Com linguagem ágil e descontraída, Pedro Henrique conta a história de grandes expoentes da história do movimento negro brasileiro Zumbi, Luiz Gama e João Cândido, além do escritor Machado de Assis. O próximo vídeo será sobre Dandara, que liderou o quilombo de Palmares, ao lado do marido, Zumbi.
O garoto, que fazia vídeos de temas variados em um canal do Youtube, decidiu criar a série Meus Heróis Negros Brasileiros depois de assistir à peça O Topo da Montanha, protagonizada por Lázaro Ramos e Taís Araújo, que conta a história dos últimos dias do ativista negro norte-americano Martin Luther King
"O racismo é um assunto que sempre me incomodou. Essa peça fala muito sobre isso. Depois que eu vi, me tocou muito e eu queria fazer alguma coisa, não podia ficar parado", conta Pedro, em reportagem da TV Brasil reproduzida na edição de ontem (5) do Seu Jornal, da TVT.
A mãe, Egnalda, auxilia o filho nas pesquisas históricas e se diz orgulhosa do resultado. "É ele se ver, enxergar os heróis afrodescendentes com sua grande importância, ter se inspirado e se colocar na frente de uma câmera, como protagonista, contando histórias de grandes protagonistas."
A repercussão vem sendo muito positiva, conta Pedro: "Já tinha um ano de canal, antes de começar com esse quadro, com 156 inscritos. Agora já estou com 6 mil inscritos."

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

A desigualdade social em Brasília

por José Gilbert Arruda Martins

Brasília tem 2,6 milhões de habitantes, mas com poucos privilegiados, que concretamente, usufruem da riqueza e beleza da capital, por isso mesmo a velha máxima de que a cidade é  a "Ilha da Fantasia", mas aqui, nem tudo são flores, o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em análise feita em 2011, constatou que a capital federal, possui sim a maior desigualdade social na média nacional.

Lago Sul
Águas Lindas de Goiás, periferia de Brasília - DF


"Análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre a dimensão, a medição da pobreza extrema e a situação social no Distrito Federal confirma que Brasília é mais desigual socialmente que a média nacional."
A curta história da capital, não consegue esconder, aos olhos de quem quer ver, essa triste e nefasta constatação. Nas beiradas do Plano Piloto, a miséria corre solta.

Apesar da "fotografia" da cidade feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostrar que aqui os serviços públicos funcionam melhor e que os extremamente pobres têm acesso à condições também melhores que os extremamente pobres do resto do país, a desigualdade entre ricos e pobres é maior que a média do nacional.


"Apesar das condições de vida dos extremamente mais pobres em Brasília serem melhores do que as condições dos extremamente pobres na média nacional, a distância econômica entre o estrato mais pobre da sociedade e a classe mais rica é maior. O coeficiente de Gini é 0,61 em Brasília e 0,54 no Brasil. Conforme a medida de desigualdade, que varia de zero a 1, quanto mais próximo de zero menos desigual."
A desigualdade social fica mais evidente, se compararmos, por exemplo, o Lago Sul, bairro criado em 1994, com uma população de 28 mil habitantes e uma estrutura de fazer inveja a qualquer país nórdico, com a periferia da Ceilândia ou Águas Lindas de Goiás, cidades que fazem parte do cinturão ao redor do chamado Plano Piloto.


"Mas o impacto da qualidade de vida do Distrito Federal fica ainda mais evidente com o cálculo do IDH de Brasília e cada um dos bairros e cidades satélites de forma isolada. Pelo estudo, feito pela Secretaria de Planejamento e Coordenação de Brasília, o Lago Sul, moradia de cerca de 28 mil privilegiados, teria 0,945 de IDH, o mais alto do mundo, superando a líder Noruega com seus 0,942."
 A Noruega é aqui, aqui no Lago Sul e Plano Piloto, não nas beiradas, não ao redor.


"Mesmo sendo grande o desenvolvimento da região, há um enorme contraste entre o chamado Plano Piloto de Brasília e as cidades-satélites que formam o Distrito Federal. O IBGE aponta índice de pobreza e desigualdade social na capital federal de 37,71% em pesquisa realizada em 2003. Na mesma pesquisa, foram registrados índices de 23,85% e 28,09% nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, respectivamente."

Nesse "ao redor" moram, principalmente, aqueles e aquelas que fazem os trabalhos mais pesados e mal pagos do DF. Moram mal, na sua maioria, em casas simples, com dificuldades com a coleta de lixo, com dificuldade de acesso à equipamentos e eventos culturais...

O "ao redor" abastece de trabalhadores e trabalhadoras as regiões centrais, são milhares e milhares de pessoas, que no dia a dia, viajam cerca de 20 a 45 km, para vir trabalhar no centro da cidade.


Rodoviária do Plano Piloto: A volta para casa



Fontes Consultadas:

1. http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2011/05/ipea-brasilia-tem-maiores-indices-de-desigualdade-do-pais

2. https://pt.wikipedia.org/wiki/Lago_Sul

3. http://www.istoe.com.br/reportagens/14204_NORUEGA+CANDANGA

4. http://www.senado.gov.br/noticias/especiais/brasilia50anos/not01.asp

5. https://www.google.com.br/search?q=imagem+da+rodovi%C3%A1ria+do+Plano+Piloto


A desigualdade social chega a níveis alarmantes

na Carta Capital

A concentração de riqueza no mundo é hoje semelhante à da Inglaterra de charles Dickens ou da França de Victor Hugo

por Antonio Luiz M. C. Costa

Os Miseráveis
Há mais gente, menos posses e mais dívidas na base da pirâmide

Em 2013, com O Capital no Século XXI, Thomas Piketty alertou para o crescimento contínuo da desigualdade de riqueza desde a década de 1970, contrária à tendência dos 60 anos anteriores e muito mais acentuada e socialmente relevante que a desigualdade de renda, mais fácil de pesquisar e na qual se concentrava a maioria dos estudos anteriores.
 Na Europa, a parcela detida pelo décimo superior subiu de 60% em 1970 para 64% em 2010 e a do centésimo superior de 21% para 24%. Nos EUA, o décimo superior subiu de 64% para 72% e o centésimo superior de 28% para 34%. Na falta de políticas ativas contra a desigualdade (como, por exemplo, impostos progressivos sobre o capital), esses países retornarão em meados do século XXI a um patamar de desigualdade semelhante àquele do fim do século XIX e início do XX.
Nesse período, o 1% mais rico (“classes dominantes”, na terminologia de Piketty) detinha metade de toda a riqueza, o décimo superior (“classes superiores”, sendo os não incluídos no primeiro 1% referidos como “classes abastadas”) , quase 90%, enquanto o 50% mais pobre (“classes populares” na terminologia do economista) ficava com meros 5%. A nostalgia chama esses tempos e de belle époque, mas poucos, mesmo nos países mais ricos, puderam usufruir de sua beleza.
O ano de 2010 foi também aquele no qual o banco Credit Suisse publicou o seu primeiro Global Wealth Report (Relatório da Riqueza Global). Naquele ano, os 50% mais pobres dos 4,44 bilhões de adultos possuíam pouco menos de 2% dos ativos mundiais estimados em 194,5 trilhões de dólares, “embora a riqueza esteja crescendo rapidamente para alguns membros deste segmento”, acrescentava esperançosamente o relatório. Os 10% superiores possuíam 83% da riqueza mundial e o centésimo superior, 43%. A riqueza média equivalia a 43,8 mil dólares líquidos. Era preciso possuir 4 mil para deixar de pertencer aos 50% mais pobres, 72 mil para chegar aos 10% mais ricos e 588 mil para o centésimo superior.
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Piketty: sem medidas ativas, como imposto sobre o capital, vai piorar ainda mais.
Cinco anos depois, o relatório de 2015, publicado em 13 de outubro, mostra que a concentração de renda mundial alcançou níveis tão críticos quanto o do mundo industrializado antes da Primeira Guerra Mundial. Apesar do relativo otimismo de 2010, a metade mais pobre dos 4,8 bilhões de adultos ficou ainda mais depauperada: agora possui menos de 1% da riqueza planetária estimada em 250,1 trilhões de dólares, enquanto o décimo mais alto controla quase 90% (87,7%, para ser exato) e o centésimo no topo, exatos 50%. A riqueza média líquida subiu para 52,4 mil, um aumento nominal de 19,6% que se reduz a 9,3% se descontados 9,5% de inflação do dólar nos Estados Unidos em cinco anos, mas os níveis de corte passaram para 3,21 mil (27% mais baixo em termos reais), 68,8 mil (13% mais baixo) e 759,9 mil (18% mais alto), respectivamente.
Percebeu-se há algum tempo, em vários países, como a limitada recuperação da economia após a crise de 2008 fluiu para os bolsos dos privilegiados, enquanto as classes média e popular ficaram ainda mais pobres pela estagnação (ou mesmo redução) dos salários reais, o aumento do desemprego e o maior endividamento. Na Espanha, por exemplo, o número de milionários em dólares (pelo critério do Capgemini e Royal Bank of Canada, que ao contrário do Credit Suisse, não inclui residência e bens de consumo) cresceu de 127,1 mil em 2008 para 178 mil em 2014, enquanto a rendaper capita caiu de 35,6 mil para 30,3 mil, o desemprego subiu de 11% para 26% e a dívida pública saltou de 39,4% para 99,3% do PIB.
Nos EUA, o 1% mais rico absorveu 95% do crescimento após a crise financeira e o empobrecimento da camada inferior reflete-se até na mortalidade. Em 1960, os 20% de homens com 50 anos mais pobres podiam esperar viver até os 76,6 anos, enquanto, em 2010, esse número caiu para 76,1. No caso das mulheres, a queda foi de 82,3 para 78,3. Enquanto isso, a expectativa de vida para os 20% mais ricos atingiu 88,8 anos para homens e 91,9 para mulheres.
Na União Europeia, a renda combinada dos dez mais ricos, 217 bilhões de euros, superou o valor total das medidas de estímulo de 2008 a 2010, cerca de 200 bilhões. A novidade do relatório está em oferecer, em números, um panorama sintético dos resultados desse processo na escala do planeta.
O efeito do crescimento das dívidas na riqueza líquida foi tão importante que resultou no paradoxo de que agora há entre os 10% mais pobres (inclusive os de patrimônio negativo) mais europeus e norte-americanos do que chineses. Nem todos esses vivem na miséria. Alguns, principalmente nos EUA, são jovens cujo patrimônio foi zerado por crédito educativo, hipoteca ou cartão de crédito, mas têm diploma, um padrão de consumo decente e o sonho de um dia chegar ao topo, mas a precariedade da sua situação ficará evidente se tiverem de enfrentar uma crise ou uma doença inesperada.
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Parte do aumento recente da desigualdade está relacionada à valorização do dólar perante a outras moedas do mundo. Quem não vive nos Estados Unidos ou em países de câmbio fixo ficou, só por isso, mais pobre em dólares. Em muitos países, esse efeito é neutralizado ou amenizado pela queda do custo de vida local em moeda estadunidense. Mas quando se refere às relações internacionais de poder e riqueza, esse empobrecimento é real, como constata qualquer brasileiro ao viajar para o exterior, pagar por serviços de internet ou, se está no topo da escala, ao negociar com bancos como o Credit Suisse.
Para usar a terminologia do banco suíço, o número de adultos na “base da pirâmide” (com menos de 10 mil dólares líquidos) cresceu de 3,038 bilhões (68%) para 3,386 bilhões (71%), sua irrisória fatia no bolo da riqueza mundial caiu de 4,2% para 3% e sua riqueza média, ou melhor, pobreza média, caiu de 2,7 mil para 2,2 mil, um tombo de 26% em termos reais.
A camada do meio (10 mil a 100 mil dólares) diminuiu de 1,045 bilhão (24%) para 1,003 bilhão (21%), sua parcela caiu de 16,5% para 12,5% e sua riqueza média passou de 30,7 mil para 31,2 mil, ilusão monetária sobre uma queda real de 7,2%. Em 2000, 3,6% dessa camada vivia na China, em 2010, pouco menos de um terço e hoje, 36%.
Os não milionários da camada superior (100 mil a 1 milhão de dólares) perderam em termos relativos. Seu contingente passou de 334 milhões (7,5%) para 349 milhões (7,4%) e sua participação na riqueza mundial diminuiu de 43,7% para 39,4%. Em tese, não têm do que se queixar: em termos absolutos, sua riqueza média passou de 254 mil para 282 mil dólares, com leve aumento real de 1,3%.
Compare-se, porém, com o que aconteceu com os milionários: seu número aumentou de 24,2 milhões (0,5%) para 34 milhões (0,7%) e sua riqueza passou de 2,86 milhões para 3,32 milhões, o que significa um aumento real de 6,1%. Sua fatia, já grande, aumentou de 35,6% para 45,2% e passou a ser a maior de todas. A parte do Leão, por qualquer critério. O perfil geográfico desse grupo também se concentrou. Cinco anos atrás, 41% viviam nos EUA, hoje são 46%. Os únicos outros países com ganho perceptível de participação foram o Reino Unido, que ao passar de 5% para 7% tomou o segundo lugar por muito tempo ocupado pelo Japão, a China (de 3% para 4%), a Suíça (de 1% para 2%) e a Suécia (idem). Alguns caíram muito, inclusive Japão (de 10% para 6%), França (de 9% para 5%) e Itália (de 6% para 3%).
O relatório não faz uma estimativa independente do número de bilionários, mas, segundo a revista Forbes, ele aumentou de 1.011 com uma riqueza total de 3,6 trilhões para 1.826 com um valor agregado de 7,05 trilhões. Em 2010, esse grupo possuía praticamente o mesmo que a metade mais pobre da humanidade. Cinco anos depois, açambarca mais que o triplo. Basta juntar num ônibus os 85 mais ricos (com 13,4 bilhões ou mais, incluídos os brasileiros Jorge Paulo Lemann e Joseph Safra), para usar a imagem do Nobel de Economia Joseph Stiglitz, para igualar a metade de baixo da pirâmide, 3,7 bilhões de seres humanos (2,4 bilhões das quais adultos), cujos patrimônios somados igualam os mesmos 2,1 trilhões de dólares.
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O relatório de 2015 do Credit Suisse inclui também pela primeira vez um estudo da “classe média global” com critérios não diretamente comparáveis ao da pirâmide acima. Esta foi definida como possuidora de riqueza líquida de 50 mil a 500 mil dólares nos EUA em meados de 2015 e valores equivalentes em outros países segundo o poder aquisitivo local do dólar conforme a estimativa adotada pela instituição – por exemplo, de 13,7 mil a 137 mil dólares na Índia, 28 mil a 280 mil no Brasil ou na China e 72,9 mil a 729 mil na Suíça, de forma a obliterar o efeito da variação cambial. Em todo o mundo, 664 milhões se encaixam nessa definição, com um patrimônio total de 80,7 trilhões (32% do total mundial), média de 121,5 mil per capita. Acima deles estão 96 milhões, com 150 trilhões (60% do total), 1,56 milhão por proprietário. As duas camadas juntas detêm, portanto, 92% de todos os bens do mundo.
É só nos países ricos que esse conceito de “classe média” se aproxima daquilo que Piketty entende pelo termo, ou seja, aqueles cujas posses estão acima da mediana, mas abaixo dos 10% superiores. Nos menos desiguais (Austrália, Cingapura, Bélgica, Itália e Japão) chega a constituir 60% da população ou mais. Mas no contexto mundial soma só 13,9% da população (com outros 2% no topo) e é na realidade mais comparável às “classes abastadas” de Piketty. Isso é verdade também para quase todos os países pobres e emergentes. Qualificam-se como “classe média” 3% dos indianos, 4% dos argentinos, 8,1% dos brasileiros, 10,7% dos chineses e 17,1% dos mexicanos. No Brasil, em especial, essa “classe média” abrange quase toda a camada conhecida pelos pesquisadores de mercado como A2 (3,6%) e a metade superior da B1 (9,6%), ou seja, é a maior parte do que chamaríamos de “elites”. Acima dela, só a classe dominante no sentido estrito, 0,6% dos brasileiros (a camada A1 conta com 0,5%).
Apesar disso, hoje é a China o país com o maior número de indivíduos na “classe média”: nada menos de 109 milhões, ante 92 milhões nos EUA. Onze outros países têm mais de 10 milhões: Japão, com 62 milhões; França, Itália, Alemanha, Índia, Espanha e Reino Unido, com 20 milhões a 30 milhões; Austrália, Brasil, Canadá e Coreia do Sul, com 10 milhões a 17 milhões.
Que ninguém se engane: essa “classe média” é uma elite em termos planetários, vive com conforto, tem em geral uma educação superior e é muito relevante como consumidora, talvez também como contribuinte. Porém, do ponto de vista do poder econômico e político e do interesse de grupos financeiros internacionais, são os 29,8 milhões de milionários, no mínimo, que contam.  Aqueles com 5 milhões a 10 milhões de dólares são 2,5 milhões e com 10 milhões a 50 milhões, 1,3 milhão, mas o foco visível do interesse do Credit Suisse está nos ultrarricos com mais de 50 milhões, que cresceram de 81 mil em 2010 para 124 mil em 2015 ou 0,0026% dos cidadãos do mundo. Destes, 59 mil vivem nos EUA (48%), 30 mil na Europa (24%), 9,6 mil (9%) na China e Hong Kong e 1,5 mil (1%) no Brasil. A Suíça tem 3,8 mil nessa categoria, mais que a França (3,7 mil).
Esses multimilionários são o equivalente aproximado, quanto ao seu número relativo, à classe senatorial da Roma antiga (600 senadores, mais os filhos adultos, em uma população de 60 milhões) ou à alta nobreza titulada nas grandes monarquias europeias do século XVIII (algumas centenas em populações de dezenas de milhões). Os meros milionários podem ser equiparados à classe curial da antiga Roma (mercadores, conselheiros e funcionários municipais) ou à pequena nobreza não titulada da Europa pré-revolucionária, ambas perto de 1% da população da época.
Conforme Piketty, as grandes novidades do século XX, atribuídas por ele aos choques políticos e econômicos das duas guerras mundiais, foram a redução da participação da classe dominante na riqueza, para cerca de 20% do total em vez dos 50% tradicionais até 1913, e o surgimento de uma  verdadeira classe média, formada por algo como 40% da população e 35% ou 40% da riqueza. Sua parcela é constituída fundamentalmente de residência e bens de consumo e poupanças, representando pouco poder econômico, mas uma razoável segurança. Nas sociedades mais antigas, os 90% inferiores formavam uma massa pouco diferenciada e possuíam 10% ou menos da riqueza social.
O relatório do Credit Suisse mostra uma sociedade global cada vez mais próxima desses padrões antigos e medievais, e mais distantes daqueles atingidos pelos países mais desenvolvidos nos anos do pós-Guerra. Desde o início da era neoliberal, a riqueza acumula-se cada vez mais no topo, enquanto as maiorias empobrecem em termos relativos e até absolutos. As crises mostraram-se, sobretudo, oportunidades de radicalizar esse processo: para conter as falências em massa que agravariam a crise, valores imensos são mobilizados pelos Estados para financiar os poderosos, cuja incompetência é premiada também com cortes de impostos, salários e direitos trabalhistas, enquanto as massas pagam a conta com um salário congelado ou reduzido e impostos mais altos, quando não perdem o emprego e se endividam ainda mais.
O crescimento de alguns países emergentes, principalmente a China, foi o único fator importante a contrariar essa tendência geral, ao incorporar camadas maiores da população à “classe média” mundial (apesar de, no caso chinês, isso também aumentar sua desigualdade interna em relação às massas camponesas). Mas esse fator está em desaceleração, ao passo que as pressões para privilegiar ainda mais os ricos e lhes dar maior liberdade de ação estão em alta em quase toda parte e as crises em formação só tendem a reforçá-las. 
*Reportagem publicada originalmente na edição 873 de CartaCapital, com o título "No mundo de 'Os miseráveis"

Em novo conto de fadas, princesa é acordada com beijo de uma rainha

na Rede Brasil Atual

'A Bela e a Adormecida', do inglês Neil Gaiman, é uma releitura contemporânea que mistura dois contos famosos. A diferença é que desta vez, o herói não é um homem

por Xandra Stefanel, especial para RBA





Era uma vez uma rainha que estava preparando os detalhes finais de seu casamento quando três anões lhe anunciaram que uma maldição assolava a cada dia uma nova cidade e fazia com que todos, humanos e animais, dormissem para sempre. Como poderia a rainha se casar sabendo que o mundo todo cairia em um sono eterno? Ela decidiu deixar seu belo vestido de lado, munir-se de armadura e espada e partir para uma viagem cheia de aventuras para combater um mal de origem desconhecida. “Ela mandou buscar o noivo, pediu-lhe que não fizesse cena; disse que ainda se casariam, mesmo ele sendo apenas um príncipe, e ela, uma rainha, e fez cócegas no belo queixo dele, e beijou-o até que ele abrisse um sorriso.”
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Neil Gaiman: 'Eu não tenho muita paciência para histórias em que mulheres são salvas por homens'
Esta é a história de A Bela e a Adormecida (Editora Rocco, 70 págs.), do escritor inglês Neil Gaiman. Neste conto de fadas contemporâneo, as protagonistas são mulheres e não é um príncipe encantado que vai salvar a adormecida de seu sono profundo. O autor declarou ao jornal britânico The Telegraph: “Você não precisa de príncipe para salvá-la. Eu não tenho muita paciência para histórias em que mulheres são salvas por homens”.
Mas nem tudo é o que parece na história de Gaiman: a princesa que a rainha vai salvar não é exatamente quem parece ser. Apesar de a ilustração principal mostrar a rainha beijando a princesa, também não se trata de uma história com viés homoafetivo.
Lançado no Brasil no final de 2015, o livro marca um ano em que a discussão sobre gênero foi intensa e produtiva. O que A Bela e a Adormecida faz é desconstruir os “tradicionais” (e ultrapassados) papéis de mulheres e de homens dos contos de fada. E tudo isso com uma história cativante e encantadora, que mantém leitores os presos na trama do início ao fim.
O livro voltado para jovens tem edição em capa dura, sobrecapa em papel transparente e as ilustrações do miolo são feitas pelo famoso artista inglês Chris Riddell, cartunista político do jornal The Observer. As imagens, em preto e branco acompanhadas de pantone dourado, guiam o leitor por reinos e florestas encantadas, repletas de sonâmbulos e teias de aranha.
Não é por acaso que a obra ficou em primeiro lugar na cobiçada lista dos livros mais vendidos do jornal americano The New York Times. Forma e conteúdo têm qualidades indiscutíveis. Só não vale esperar pelo tradicional “E viveram felizes para sempre”. Imprevisível, o final do livro é bem melhor que isso. O autor deixa claro que a rainha tem a coragem e a determinação para decidir seu próprio futuro.
A Bela e a AdormecidaAutor: Neil Gaiman
Ilustrações: Chris Riddell 
Tradução: Renata Pettengil
ISBN: 978-85-7980-249-2
Formato: 20cm x 27cm
Páginas: 70
Preço: R$ 49,50
Editora: Rocco Jovens Leitores

Gilberto Mendes (1922-2016) e a homenagem aos Sem Terra de Eldorado

no site do MST

Falecido no dia 1º, compositor musicou poema de Haroldo de Campos sobre os 19 sem-terra assassinados em 1996 no sudeste do Pará; foi militante do PCB



O compositor vanguardista Gilberto Mendes (1922-2016) deixou também sua marca na história social da música brasileira, ao musicar, em 1997, o poema “O Anjo Esquerdo da História”, de Haroldo de Campos.

O texto é uma homenagem aos 19 Sem Terra assassinados no dia 17 de abril de 1996, em Eldorado dos Carajás (PA). A data é considerada o Dia Mundial da Luta Camponesa e Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária.

Mendes faleceu no primeiro dia do ano, aos 93 anos, em Santos (SP). Era professor aposentado da Universidade de São Paulo e foi militante do Partido Comunista Brasileiro entre os anos 40 e 60.

Um dos pioneiros da música concreta no Brasil, destacou-se também no teatro musical. Segundo o crítico Sidney Molina, da Folha de S. Paulo, a música sobre os sem-terra é uma de suas melhores obras.

Ele diz que a força da elegia fez Mendes “passar abruptamente de um registro sacro para a pura declamação do rap”.

Em “Vila Socó, Meu Amor”, Gilberto Mendes prestou homenagem aos 93 mortos no incêndio da favela Vila Socó, de Cubatão (SP), em 1984, que ele chegou a definir como uma Bomba de Hiroshima.

Ele escreveu a música dias após a catástrofe: “Não devemos esquecer os nossos irmãos da Vila Socó, transformados em cinzas, lixo em pó. A tragédia da Vila Socó mostra como o trabalhador é explorado, esmagado sem nenhum dó”.

Confira aqui o poema de Haroldo de Campos para os sem-terra:

O ANJO ESQUERDO DA HISTÓRIA

Os sem-terra afinal
estão assentados na
pleniposse da terra:
com-terra: ei-los
enterrados
desterrados de seu sopro
aterrados
terrorizados
terra que à terra
torna
pleniposseiros terra-tenentes de uma
vala (bala) comum:
pelo avesso afinal
entranhados no
lato ventre do
latifúndio
que de improdutivo revelou-se assim ubérrimo: gerando pingue
messe de
sangue vermelhoso
lavradores sem
lavra ei-los: afinal convertidos em larvas
em mortuários despojos:
ataúdes lavrados
na escassa madeira
(matéria)
atocaiou-os
mortiassentados
sitibundos
decúbito-abatidos predestinatários de uma
agra (magra)
re(dis)(forme) forma
-fome- a- grária: ei-los gregária
comunidade de meeiros
envergonhada agoniada
avexada
- envergoncorroída de
imo-abrasivo remorso a pátria
(como ufanar-se da?)
apátrida
pranteia os seus despossuídos párias pátria parricida:
que talvez só afinal a
espada flamejante
tória cha-
mejando a contravento e
afogueando os
agrossicários sócios desse
fúnebre sodalício onde a
morte-marechala comanda uma
torva milícia de janízaros-jagunços:
somente o anjo esquerdo
contrapelo com sua
multigirante espada poderá (quem dera!) um dia
convocar do ror
nebuloso dos dias vindouros o dia
afinal sobreveniente do
justo
ajuste de
contas
1 Nota do editor: Poema originalmente publicado na coletânea Crisantempo, de autoria de Haroldo de Campos (São Paulo: Editora Perspectiva, 1998). 

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

"Os que andam contra o vento"*

por José Gilbert Arruda Martins


Qual a razão básica da Resistência? Respondo, a Indignação! 

"É verdade, os motivos para se indignar atualmente podem parecer menos nítidos, ou o mundo pode parecer complexo demais. Quem comanda, quem decide? Nem sempre é fácil distinguir entre todas as correntes que nos governam. Não lidamos mais com uma pequena elite cujas ações entendemos claramente. Mas nesse mundo há coisas insuportáveis. Para vê-las é preciso olhar bastante, procurar."

https://www.google.com.br/search?q=imagem+da+juventude&rlz=2C1SAVU_enBR0538BR0538&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa

Dizemos aos jovens, procurem um pouco, vocês vão encontrar. A pior das atitudes é a indiferença, é dizer "não posso fazer nada, estou me virando" Quando assim nos comportamos, estamos perdendo um dos componentes indispensáveis: a capacidade de nos indignar e o engajamento, que é consequência desta capacidade.

"Hoje, podemos identificar dois grandes desafios: 
1. A imensa distância entre os muito pobres e os muito ricos, distância que não para de crescer.
2. Os direitos humanos e o estado do planeta."
Existem muitos outros desafios à juventude brasileira: o extermínio da juventude negra; a intolerância racial e sexual, a precariedade da escola e da saúde públicas; a precariedade das estruturas e equipamentos culturais; o monopólio e a manipulação ideológica da grande mídia, etc.

A juventude, é uma prova viva, da importância da resistência a esse estado de coisas, às políticas de exclusão do sistema econômico capitalista, e a quase tudo que envolva desrespeito à natureza e aos Direitos Humanos.

Quem se lembra da "Primavera Árabe"? uma onda revolucionária de manifestações e protestos que ocorreram no Oriente Médio e Norte da África a partir de 18 de dezembro de 2010, os milhões que se revoltaram e resistiram a anos de autoritarismo, eram principalmente jovens. 

É Claro, não podemos deixar de ver, em praticamente todos os movimentos africanos e asiáticos daquela época, o Ocidente meteu o dedo ora para insuflar a violência, ora para "diplomaticamente", jogar confete para a mídia mundial e defender seus interesses rentistas à custa de milhares de vidas humanas, como sempre fizeram.

O centro nervoso do "Deus Capital", em 2011, tremeu nas bases com Ocupe Wall Stret, "um movimento de protesto contra a desigualdade econômica e social, a ganância, a corrupção e a indevida influência das empresas - sobretudo do setor financeiro - no governo dos EUA".

O Brasil também experimentou as manifestações e protestos, em 2013, as bases da política conservadora e neocolonial, ainda impregnadas, em grande parte da elite, tremeram.

"Os protestos no Brasil em 2013, também conhecidos como Manifestações dos 20 centavosManifestações de Junho ou Jornadas de Junho, foram vários movimentos populares por todo o país que inicialmente surgiram para contestar os aumentos nas tarifas de transporte público,  principalmente nas principais capitais. São as maiores mobilizações no país desde as manifestações pelo impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello em 1992, e chegaram a contar com até 84% de simpatia da população"

Desgraçadamente - vamos colocar dessa forma -, nos protestos e manifestações de 2013, a direita neofascista brasileira e a velha mídia golpista, capitaneada pela rede Globo e pela revista Veja, puxaram o movimento para a violência e para a defesa de interesses elitistas.

"Uma verdadeira democracia tem necessidade de uma imprensa independente", a resistência dos jovens do mundo e do Brasil, sabe disso.

O ano de 2015, foi o ano da luta pela Educação Pública, ameaçada por governos neoliberais em vários estados da federação.

Atualmente, em São Paulo e Goiás, os estudantes ocuparam as escolas num movimento de profundo sentimento de pertencimento, que há muito não se via por estas bandas.

Qual é o saldo positivo de todos esses movimentos? infelizmente, até por consequência de suas estruturas organizacionais não claramente definidas, o que restou de prático, não foi muito, mas pode ter deixado, nos corações e mentes que, quando a juventude deseja mudar, ela enfrenta e anda contra o vento.

Falta planejamento, organização, definição daquilo que é mais imediato, para reivindicar as necessidades de médio e longo prazo depois.

Formar lideranças permanentes e independentes, definir planos de ação, listar pontos de interesse, pensar e planejar também a médio e longo prazo.

*"Os que andam contra o vento", foi tomado emprestado dos Omahas, um povo indígena das planícies da América do Norte ligado à família dos Sioux, que são designados por esta expressão.

Fontes consultadas:

1. https://www.google.com.br/search?q=Primavera+%C3%A1rabe&rlz=2C1SAVU_enBR0538BR0538&oq=Primavera+%C3%A1rabe&aqs=chrome..69i57j0l5.7560j0j7&sourceid=chrome&es_sm=0&ie=UTF-8

2. https://pt.wikipedia.org/wiki/Occupy_Wall_Street

3. https://pt.wikipedia.org/wiki/Protestos_no_Brasil_em_2013

4. Indignai-vos!. Stéphane Hessel; tradução: Marli Peres. - São Paulo: Leya, 2011.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Como a juventude é impactada pela colossal desigualdade social, provocada pelo sistema econômico capitalista.

por José Gilbert Arruda Martins

"85 pessoas mais ricas do mundo detêm juntas o equivalente ao que a metade da população mais pobre do planeta tem"

"Entre março de 2013 e março de 2014, essas 85 pessoas aumentaram sua riqueza em US$ 668 milhões diariamente!"



https://www.google.com.br/search?q=charge+exterm%C3%ADnio+jovem&rlz=2C1SAVU_enBR0538BR0538&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ved=0ahUKEwiys83g_o3KAhVJjJAKHXc


Cerca de 1,5 bilhão de pessoas no mundo de hoje, século XXI, estão abaixo da linha da pobreza, são miseráveis e passam fome.

Quantos dos jovens, na faixa de idade entre 15 e 29 anos, estão nessa situação?

Se a riqueza de um país tem limites e tamanhos, é claro que milhares de pessoas e famílias, espalhadas pelo mundo, ficaram sem sua parte.

Entre os milhões que não receberão nada ou quase nada, estão os jovens e suas famílias.

Todo jovem deseja ter alguma coisa, um livro, um relógio, um brinco, uma roupa da moda, um telefone, o desejo de consumir é próprio dos seres humanos, mais ainda, em um sistema onde a TV aberta, diuturnamente, martela em suas mentes que você tem que adquirir para ser, ter para ser.

Como a juventude pobre, negra, moradora das periferias, é impactada por essa colossal desigualdade?

Vou tentar neste texto levantar algumas questões, que poderão servir como pontos de reflexão, não apenas para nós educadores e educadoras, mas, principalmente, à juventude.

Não que eu tenha a pretensão em ensinar a juventude, é ela que me ensina, nos ensina. Vou apenas cutucar e provocar, esse é o objetivo do texto.

Mesmo por que, no meu entendimento, não tem como enfrentar a desigualdade, que é urgente, sem a participação efetiva dos jovens.

"Observar e aprender com os jovens também pode contribuir para pensar em soluções maiores para o conjunto da sociedade brasileira"

A situação de exclusão social da juventude, não é algo novo, no mundo ou no Brasil.

Entre os milhões de pobres e explorados, durante a Revolução Industrial Capitalista Europeia,  dos séculos XVIII e XIX, milhares eram crianças e jovens.


"Importante ressaltar a preferência de certos burgueses pela utilização em larga escala da mão-de-obra considerada mais “dócil” e – claro – mais barata, como as mulheres (principalmente para a tecelagem), crianças e rapazes abaixo dos 18 anos de idade, o que levava ao desemprego dos homens adultos.
Dessa forma, a miséria e a fome não tardaram a aparecer, assim como doenças como a cólera e o tifo nas humildes regiões habitacionais, devido às péssimas condições de higiene, escassez do fornecimento de água e pelo fato de não terem como se protegerem do frio. Tal quadro levou à morte inúmeros trabalhadores pobres."
No Brasil, dos 1,5 milhões de escravos no Brasil do século XIX, milhares eram crianças e, principalmente jovens, que eram superexplorados em quase todo tipo de serviço.


"O Censo, feito em 1872, foi realizado com sucesso como parte das políticas inovadoras de D. Pedro II. O resultado foi o registro de 10 milhões de habitantes, onde a população escrava correspondia a 15,24% desse total. Os 10 milhões de pessoas estavam distribuídos em 21 províncias, sendo cada uma subdividida em municípios que, por sua vez, eram divididos em paróquias. Ao todo, eram 1.440 paróquias, as unidades mínimas de informação, que serviram de base para o mapa disponibilizado."

Com a crise do sistema em 1929, eram jovens, uma parcela considerável dos que morreram de fome, dos que vagavam pelas ruas das cidades dormindo debaixo de pontes e esgotos, dos desempregados ou subempregados.

A conhecida Crise de 1929, foi mais uma crise cíclica do sistema capitalista selvagem. O sistema, como muita gente conhece, produz suas próprias crises para justificar, entre outras coisas, arrocho salarial, fechamentos de unidades não lucrativas, demissões de operários etc.

Em tempos de crises, o capitalista rentista mais rico, nunca perde, ao contrário, elas - as crises -, são novas e promissoras oportunidades de maiores e mais gordos ganhos.

Quem perde mesmo, é a classe trabalhadora e o povo em geral, que ver desaparecer seu já minúsculo, poder de compra.

As crises, na sua maioria provocadas pelo sistema, enquanto enchem os bolsos dos já ricos, empobrece ainda mais os já pobres.

Os filhos e filhas do povo, de forma direta ou indireta, são afetados, e, milhares, precisam abandonar a escola para trabalhar, com isso, o ciclo da miséria continua, porque a formação fica cada vez mais distante, os filhos, explorados no mercado capitalista, seguem os passos dos pais e mães, como perderam a chance de continuar os estudos, serão os subempregados ou desempregados do presente e do futuro.

A história nos mostra, não é de hoje, que a juventude é impactada pela violenta e arquitetada desigualdade do sistema capitalista.

Como a própria juventude pode enfrentar um monstro como esse? O que ela pode fazer?

As respostas não são fáceis de serem dadas.

Mas uma parte delas - respostas -, pode vir, por exemplo, dos movimentos em defesa da Educação Pública, que acontece atualmente, principalmente, nos Estados de São Paulo e Goiás.

Nessas unidades da federação, os governos resolveram impor uma série de medidas, entre elas, a "Reorganização" das Escolas. Com isso, só em São Paulo, o estado mais rico do Brasil, cerca de 93 escolas seriam fechadas, impactando a vida de milhares de estudantes e de trabalhadores.

Em resposta, a juventude secundarista, em um movimento inédito, ocupou, até novembro, 93 escolas, apenas em São Paulo.

"Em protesto contra a “reorganização” imposta pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que pretende fechar pelo menos 93 escolas e extinguir a oferta de ensino médio no período noturno e ensino de jovens e adultos (EJA) em diversas delas, os alunos ocupam 43 escolas. Ao longo do dia de hoje (17), dez escolas foram ocupadas: uma em Bauru, no interior do estado, três em Santo André, no ABC, duas na capital, uma em Jundiaí, uma em Osasco, uma em Diadema e uma em Jandira."


É óbvio, que apenas esses movimentos, por si só, não são suficientes, mas podem ser o começo de um novo tempo, onde jovens se interessariam pela política e, nesse interesse, as organizações estudantis e sociais dos próprios estudantes, ou que seus pais e mães fazem parte, poderiam ser potencializadas, organizadas, para a atuação na sociedade e interferência na vida política do país.

O jovem e a jovem, não pode jamais, perder de vista a importância do cenário político.

O interesse pela política deve, o mais cedo possível, manifestar-se, não como uma carreira para ganhar dinheiro, mas para fazer pelo país, pelo povo, por sua comunidade.

O grêmio estudantil é um dos espaços mais importantes para o jovem que deseja interferir no mundo da política.

Um dos fatores que ajudaram as elites ricas a acumular bens e capitais, foi a formação educacional dos seus filhos; as famílias tradicionais que dominam a política nos municípios brasileiros e que, de forma quase que natural, nas micro-regiões, nos estados e a nível federal, apostaram e apostam nos filhos e netos para continuar a sua perpetuação no comando da política e, consequentemente, no controle da produção e distribuição de bens e riqueza.

Você, jovem, filho e filha de trabalhador, filho e filha da mulher e do homem do povo, entre na política, faça parte, é importante, não apenas de forma individual, mas, fundamentalmente, comunitária, coletiva.

Os pobres, as populações moradoras das periferias e comunidades, querem e devem consumir o que precisa ser consumido.

Comer, ter acesso ao ensino público de qualidade, aos equipamentos de cultura nos bairros, moradia; mas como, se a brutal concentração da riqueza não permite?

As famílias de trabalhadores pobres, na sua maioria negros, apesar do Programa Federal Bolsa Família, não conseguem dar aos seus filhos, roupas da moda, relógios, telefones, como praticamente, todo jovem gostaria de ter.

A maioria das comunidades periféricas das médias e grandes cidades, não possuem escolas suficientes, equipamentos de cultura: teatro, quadras poliesportivas, espaços cultuais adequados, transporte público, atendimento preventivo de saúde etc.

E quando, a juventude resolve sair do bairro e ir ao "centro" se divertir, o Estado se encarrega de exterminá-la.

"Matou-se mais no Brasil do que nas doze maiores zonas de guerra do mundo. Os dados são da Anistia Internacional no Brasil e levam em conta o período entre 2004 e 2007, quando 192 mil brasileiros foram mortos, contra 170 mil espalhados em países como Iraque, Sudão e Afeganistão.
Os números surpreendem e são um reflexo de uma "cultura de violência marcada pelo desejo de vingar a sociedade", conta Atila Roque, diretor-executivo da base brasileira da Anistia Internacional. De acordo com os últimos levantamentos feitos pelo grupo, 56 mil pessoas foram assassinadas em solo brasileiro em 2012, sendo 30 mil jovens e, entre eles, 77% negros."
Escrevi sobre a matança de jovens, aqui mesmo nesse espaço, dias atrás, infelizmente, tive que encerrar esse texto com os números acima, mas, acredito, que temos saídas, uma delas como dito, seria a maior participação dos jovens filhos do povo, na disputa política, talvez não resolveremos a curto prazo, mas a médio e longo prazo sim, a política pode ser o caminho.

Que apareça desses eventos de ocupação de escolas, outros líderes, com a cabeça voltada para o progresso de todos e todas, e faça a diferença, na luta por um sistema econômico que não exclua, mas inclua mais e mais pessoas.

Fontes Consultadas:

1. http://www.diplomatique.org.br/edicoes_especiais_det.php?id=11

2. https://www.google.com.br/search?q=Jovens+em+situa%C3%A7%C3%A3o+de+pobreza+na+Inglaterra+do+s%C3%A9culo+XIX&rlz=2C1SAVU_enBR0538BR0538&oq=Jovens+em+situa%C3%A7%C3%A3o+de+pobreza+na+Inglaterra+do+s%C3%A9culo+XIX&aqs=chrome..69i57.19879j0j7&sourceid=chrome&es_sm=0&ie=UTF-8

3. http://www.revistaforum.com.br/2013/01/21/populacao-escrava-do-brasil-e-detalhada-em-censo-de-1872/

4. http://www.historia.uff.br/nec/condicoes-da-classe-operaria-epoca-da-revolucao-industrial

5. http://www.redebrasilatual.com.br/educacao/2015/11/43-escolas-ocupadas-em-sp

6. http://www.cartacapital.com.br/sociedade/violencia-brasil-mata-82-jovens-por-dia-5716.html


domingo, 3 de janeiro de 2016

ESPECIAL JUVENTUDE - Desigualdades urbanas e juventudes

no Le Monde Diplomatique Brasil


por Kátia Maia
CONHEÇA O ESPECIAL: JUVENTUDES E DESIGUALDADE NO URBANO

http://www.diplomatique.org.br/edicoes_especiais_det.php?id=11



Por que o tema da desigualdade é prioritário para a Oxfam Brasil?
Considerando a sociedade global e o planeta como um todo, é incontestável que existe atualmente uma concentração de riqueza cada vez maior. As 85 pessoas mais ricas do mundo detêm juntas o equivalente ao que a metade da população mais pobre do planeta tem. Entre março de 2013 e março de 2014, essas 85 pessoas aumentaram sua riqueza em US$ 668 milhões diariamente! Há algo errado. Essa desigualdade é gritante quando se sabe que mais de 700 milhões de pessoas no mundo de hoje, século XXI, ainda passam fome.
Como alguém pode dormir ou viver tranquilamente sabendo que existe uma concentração de riqueza nesse nível?
Enfrentar a desigualdade é algo urgente, tem a ver com os valores éticos de uma sociedade e do que é inaceitável para uma civilização. A desigualdade gera o esgarçamento da sociedade, o que também provoca uma tensão muito grande porque esbarra no limite absurdo das ilhas da fantasia, onde tudo funciona sem questionamento, ao lado de lugares onde as pessoas não têm acesso a absolutamente nada. Então, a desigualdade realmente é um tema prioritário quando se trata de pensar o desenvolvimento de um país.

A desigualdade está presente tanto no meio rural quanto no meio urbano. Por que a Oxfam Brasil está focando agora o urbano?
A Oxfam Brasil é parte da Confederação Oxfam, que começou sua trajetória setenta anos atrás, em 1942, na Inglaterra. Naquela época, a maioria da população se localizava no espaço rural, especialmente a população em situação de pobreza. Nas últimas décadas houve uma mudança, principalmente em regiões como a América Latina, onde hoje a maioria vive em cidades. Por outro lado, num continente com as especificidades da África, por exemplo, o tema rural continua sendo prioritário para a Oxfam.
É desafiador observar as cidades, cidades grandes, cidades inchadas, cidades cheias de pessoas. Elas estão reforçando cada vez mais a desigualdade e a pobreza, o que se agrava em função da situação de violência e quando consideramos recortes de gênero e raça.
Focar o urbano é dar seguimento à luta em prol do combate à pobreza e do enfrentamento da desigualdade. A Oxfam Brasil é solidária aos novos movimentos que estão acontecendo nas últimas décadas em todas essas cidades. Há uma insatisfação das pessoas nos centros urbanos que se expressa em diferentes formas de mobilização e organização social.

Essas mobilizações são impulsionadas, em sua maioria, por jovens. É por isso que vocês decidiram focar a juventude?
Há uma diversidade nas mobilizações, mas há uma realidade incontestável: a situação de exclusão social da juventude. Isso significa excluir toda uma geração e um setor importante da população brasileira.
O foco na juventude tem a ver com a situação que esse segmento de 15 a 29 anos vive hoje e também com o fato de que a juventude está apresentando para a sociedade novas formas de discutir os problemas gerados pela desigualdade e modos alternativos de pensar. As juventudes são mais livres e têm uma perspectiva diferente de mundo muito importante para todas as outras gerações.
Os jovens nos provocam a pensar em soluções diferenciadas, com base naquilo que estão experimentando em sua realidade cotidiana. Observar e aprender com os jovens também pode contribuir para pensar em soluções maiores para o conjunto da sociedade brasileira.

Você está falando de jovens em geral ou de jovens da periferia?
Quando se considera a situação territorial dos jovens em determinados espaços urbanos e as questões de gênero e raça, especialmente as diferenças de situação socioeconômica, aí a desigualdade se apresenta de forma mais explícita. Então existe um lado da abordagem relacionada com o contexto, mas também há questões relativas à juventude que transcendem a territorialidade. Há um diálogo geracional que não é 100% determinado somente pela situação econômica. Há espaços onde ocorre solidariedade e articulação entre jovens de diferentes condições econômicas, como é o caso do Ocupe Estelita, em Recife, que reuniu jovens de diferentes grupos sociais. Pensar nas problemáticas da juventude é levantar um debate para todas as juventudes, inclusive a juventude que está aí no bairro de Pinheiros ou na Vila Madalena, em São Paulo, onde está localizado o escritório da Oxfam Brasil, por exemplo.
Na primeira Conferência Nacional de Juventude, a juventude negra conseguiu influir na decisão de priorizar o tema do genocídio da juventude negra, pobre e de periferia. Há uma expectativa de criar outras políticas públicas nesse sentido?
Esse exemplo emblemático e importantíssimo do genocídio da juventude negra mostra que existem situações em que é necessário construir e colocar em prática políticas específicas que integrem diferentes ações do Estado. Certamente existe essa expectativa de que outras políticas públicas de juventude possam ser criadas.

Por que a Oxfam Brasil está querendo distribuir esta publicação na Conferência Nacional de Juventude?
A ideia é fazer uma contribuição e se somar ao debate. A gente considera a Conferência Nacional de Juventude um espaço muito importante de reflexão e encontro das juventudes e de pessoas que pensam e discutem juventude no Brasil. Não é o único, mas é um espaço institucionalizado que merece ser valorizado.
A Oxfam Brasil é parte de um movimento global por mudanças e transformação social que atua conforme um enfoque baseado em direitos. Um dos valores da Oxfam é trabalhar em parceria com outras organizações. As organizações que participam desta publicação – Ação Educativa, Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e Instituto Pólis, além da professora Regina Novaes – são parceiras históricas com experiências concretas nas temáticas de direitos, desigualdade, cidades, juventude, gênero e raça. A Oxfam Brasil, em conjunto com essas organizações, está se propondo a colaborar com coletivos e nos processos de articulação juvenil, visando fortalecer suas lutas e resistências contra as desigualdades e discriminações de gênero, raça e território nas cidades.
As juventudes se mobilizam para criticar o modelo de desenvolvimento econômico e pensar num projeto de nação. Essas juventudes estão fazendo história.
Falar em juventudes no plural é reconhecer os diferentes grupos, institucionalizados e não institucionalizados, que possuem diferentes olhares, mas têm em comum o projeto de um país mais justo, sustentável e igualitário, onde seja possível usufruir os direitos de fato e construir uma sociedade diferente.

Kátia Maia
Kátia Maia é diretora executiva da Oxfam Brasil.

Inscrições SISU 2016 - Início dia 11/01

por José Gilbert Arruda Martins

Inscrições Sisu 2016 começam em 11 de Janeiro: Muitos dos participantes da ultima edição do Exame Nacional do Ensino Médio – Enem 2015 aguardam ansiosos o mês de janeiro, mês em que serão abertas as inscrições para o 1º processo seletivo do Sistema de Seleção Unificada – SISU 2016.
O período de inscrições terá início no dia 11 e segue aberto até 14/01 (quinta-feira). No dia 18/01 será divulgado o resultado do Sisu 2016. A partir daí estará aberto também o período para manifestar interesse em participar da lista de espera até o dia 29/01 (sexta-feira). As matrículas do selecionados deverão ser procedidas nos dias 22, 25 e 26 de Janeiro na secretaria da instituição ofertante da vaga para o qual se candidatou.
O objetivo do SISU 2016 é selecionar entre seus participantes os melhores classificados no Enem 2015 aptos a conseguir uma vaga para cursos de graduação oferecidos pelas instituições federais ou estaduais de ensino superior que utilizam o sistema informatizado do SISU 2016.
Durante o ano são realizados dois processos seletivos, um no primeiro e outro no segundo semestre do ano. O processo seletivo do primeiro semestre do SISU 2016 vai acontecer a partir de 11 de janeiro, após a divulgação do resultado individual do Enem 2015.
As inscrições do SISU 2016 são gratuitas e podem ser realizadas apenas no endereço eletrônico http://sisu.mec.gov.br/. No ato da inscrição o participante deve informar seu número de inscrição e senha cadastrada na sua participação da ultima edição do Enem. Vale lembrar que o sistema não aceitará dados de participação de edições anteriores ao do Enem 2015.

Entenda como funciona o Processo Seletivo SISU 2016

Inscrições Sisu 2016 começam em 11 de Janeiro
Inscrições Sisu 2016 começam em 11 de Janeiro
Ao realizar a inscrição para o SISU 2016 o candidato participará de um processo seletivo que funcionará em uma única etapa. No ato da inscrição o participante deve informar duas opções de curso, que devem ser em ordem de prioridade do candidato a uma vaga no SISU 2016.
A primeira opção deve ser o curso que o candidato deve ser aquela profissão ou carreira que ele almeja para sua vida. Já a segunda opção deve ser feita de maneira consciente, não uma escolha aleatória, pois caso não consiga a primeira, o Sistema informatizado do SISU 2016.
Vale lembrar que as vagas do SISU atendem todo território nacional, o que significa que as escolhas do participante não se restringem apenas ao estado de origem do candidato, podendo buscar vagas de estudos em todo o país, nas instituições de ensino superior que utilizam o SISU 2016 como uma das maneiras de selecionar seus novos alunos. A lista com todas as instituições que participam do SISU está disponível no endereço eletrônico do INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
Durante o período de inscrições, os participantes devem acompanhar se a nota obtida no Enem esta dentro da nota de corte do curso desejado. A nota de corte é a menor média exigida para estar dentro do número de vagas oferecidas em cada modalidade de curso no SISU 2016. Caso não esteja, durante o período de inscrições é possível alterar as opções de curso, sendo valida a última alteração realizada pelo participante.