quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Receituário neoliberal coloca direito à moradia em segundo plano

na Rede Brasil Atual

Em novo livro, arquiteta Raquel Rolnik conta experiência, como relatora da ONU, que a permitiu verificar em diversos países como os ditames do mercado financeiro ampliam a exclusão habitacional

por Helder Lima, da RBA


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Raquel Rolnik: habitação passa pelo crivo do neoliberalismo, prática hegemônica que persegue a consolidação do Estado mínimo


São Paulo – Na era do capitalismo global, o direito à moradia – um direito humano fundamental – é relegado a segundo plano em todos os países que seguem o receituário neoliberal. Desde os anos 1970, a habitação e a urbanização passam por um processo que a arquiteta e urbanista Raquel Rolnik chama de financeirização, em que a lógica dos projetos, mais do que atender a um direito, busca assegurar o retorno dos investimentos.
“A financeirização é a tomada do segmento da produção habitacional para as lógicas de rentabilidade dos investimentos financeiros envolvidos naquilo, não apenas da habitação mas também da política urbana e da terra urbana. Isso significa que as políticas, os programas são moldados para criar novos campos de aplicação para promover remunerações e rentabilidades para o capital financeiro investir”, afirma Raquel, que em dezembro lançou o livro Guerra dos lugares: a colonização da terra e da moradia na era das finanças (editora Boitempo).
Elaborado a partir da experiência da arquiteta como Relatora Especial para o Direito à Moradia Adequada da Organização das Nações Unidas (ONU), o livro traz as constatações de Raquel em 12 missões em diferentes países, nos quais ela pôde verificar o abandono de políticas habitacionais para a adoção do modelo da era financeira, colocando sobretudo os mais pobres em situação de ainda mais vulnerabilidade.
Palavras como reificação, coisificação, mercantilização são nossas conhecidas, sobretudo quando se trata de desmascarar as ideologias nas relações capitalistas. Mas você aplica o conceito de financeirização para falar sobre a questão de moradia. O que você quer dizer com esse termo, como o define?
Eu diria que financeirização é um passo a mais no movimento de mercantilização e coisificação no sentido do domínio das finanças sobre todo o processo de produção e consumo capitalista. Estamos falando da hegemonia da era financeira. A financeirização é a tomada do segmento da produção habitacional para as lógicas de rentabilidade dos investimentos financeiros envolvidos naquilo, não apenas da habitação mas também da política urbana e da terra urbana.
Isso significa que os programas são moldados para criar novos campos de aplicação para promover remunerações e rentabilidades para o capital financeiro investir. Nós estamos falando de um excedente global de capital que circula pelo planeta à procura de campos onde aportar para extrair renda, é um capital não produtivo, ele é rentista. Há o processo de transformação das políticas habitacionais. A construção de um novo paradigma de política habitacional que eu descrevo no livro tem a ver com a tomada deste setor pelo setor financeiro.
Essa é a lógica da entrada dos fundos de investimentos nesse setor, a lógica dos tempos e as suas necessidades de remunerações, enfim, isso tudo é o que eu estou chamando de financeirização e no livro eu falo sobre isso tanto do ponto de vista da política habitacional, como também da política urbana, a política de terra urbana. Hoje, nós temos claramente uma hegemonia do capital financeiro.
Você verificou isso em todos os países que visitou?
Exatamente, eu pude me aprofundar por meio de missões como relatora sobre direito à moradia adequada, ou por meio de pesquisas respondidas diretamente pelos governos, que eu pude fazer enquanto relatora da ONU. Claro que se trata de um processo global, mas que tem especificidades em cada um desses países. Há inclusive processos que ocorrem em tempos diferentes da história, pois estamos falando que é no fim dos anos 70 que os primeiros países passam por essa transformação, mas há países que passam por isso agora. Há especificidades e isso depende da economia política de cada país.
O processo coincide com a expansão do próprio conceito de globalização...
Nós estamos falando do ajuste estrutural, das políticas de ajuste, da tese da redução do estado, do estado mínimo, é no bojo desse movimento, dessa ideologia, que é também uma prática hegemônica no planeta hoje em vários campos. E o que eu tento mostrar é como isso aconteceu dentro do campo específico da moradia.
E no campo da moradia a partir de 2008, o que acontece em termos da crise global?
JAILTON GARCIA / RBA
A arquiteta dá entrevista no antigo prédio da FAU-USP, em Higienópolis: espaço para reflexão crítica
A crise financeira e hipotecária que começa nos Estados Unidos coloca a nu e contesta esse modelo, porque a promessa dessa política é a tese de que todas as pessoas do planeta podem ter acesso à moradia, casa própria individual registrada e titulada desde que tenha acesso a um crédito financeiro capaz de fazer com que ela compre este bem produzido pelo mercado privado. Aí existem vários movimentos, várias questões envolvidas. Primeiro, a moradia é um bem consumido privadamente e produzido pelo mercado privado. Isso já é uma enorme ruptura porque nos países que desenvolveram o estado de bem-estar social, ou nos países que viveram a experiência do comunismo ou do socialismo, a moradia não é isso – ela é um bem social, é um direito humano, um direito inclusive que independe da renda, não é um bem de consumo. A transmutação da moradia em um bem de consumo é um primeiro movimento.
O segundo movimento é que esse bem de consumo, como ele é caro, ele vai ser obtido por meio de um instrumento que é o crédito hipotecário, é a ideia de que você como garantia do crédito oferece o próprio bem. E a ideia de que isso poderia ser generalizado, inclusive para os mais pobres, utilizando novas ferramentas criativas, que são exatamente o crédito subprime. Eu mostro que do crédito subprime ao microcrédito para a habitação, que é a ideia de o crédito chegar para os mais pobres, é toda uma engenharia que vai tentar atingir camadas de renda muito mais baixas, que historicamente não acessavam o crédito, não estavam incluídas no mercado financeiro, achando que isso é totalmente possível, atingir essas camadas, portanto, sem estado, sem recurso público com crédito privado etc., e por meio de mecanismos como a securitização, ou seja, você poder vender as hipotecas que foram empacotadas com outros produtos financeiros para poder circular no mercado financeiro. Seria possível alavancar mais e mais recursos para isso ser mais e mais amplamente produzido e, portanto, todos teriam casa no final das contas.
Mas o que a gente verificou com a crise? A crise derruba essa tese. Na hora que você liga a casa onde as pessoas moram com os produtos financeiros, e faz isso circular no mercado internacional, você expõe isso aos riscos que são inerentes ao mercado financeiro, um mercado de jogo, de risco, que ganha, que perde, só que na hora que expõe isso, você faz justamente expor as pessoas mais pobres e vulneráveis. Essa é a lógica do mercado financeiro, em que quanto mais pobre for aquele que pegou emprestado, maior o juro que ele vai pagar e, portanto, maior vai ser o tombo quando por alguma razão ele não conseguir mais pagar; ele vai perder a casa e no meio desse caminho toda a intermediação financeira já ganhou, já repassou essas hipotecas e no fim as pessoas vão ficar sem dinheiro e sem casa.
Esse é o aspecto mais perverso desse processo, além de que na 'debacle' o que conseguimos fazer foi uma crise de moradia em países que não tinham isso e já haviam reduzido muito seu déficit habitacional. Você tem crise de moradia na Inglaterra, nos Estados Unidos, em países ex-socialistas ou ex-comunistas porque junto com a promoção desse modelo teve a destruição de todas as políticas alternativas que protegiam os mais pobres. E na hora que as pessoas se viram sem a casa e sem o dinheiro não havia nenhuma política colocada no lugar. É isso que a crise de 2008 põe a nu, é o efeito disso.
O documentário do Michael Moore, 'Capitalismo, uma história de amor', de 2009, trata exatamente dessa questão, de famílias que tinham suas casas, entraram no mercado hipotecário e perderam tudo...
Exatamente. Nos Estados Unidos, você sempre teve uma política dual, de um lado a promoção de crédito hipotecário já desde os anos 1930, que era um modelo subsidiado, com isenção fiscal, e responsável por desenvolver aqueles subúrbios norte-americanos, mas havia uma política pública de construção de habitação social, alugada por preços razoáveis para os mais pobres que não tinham acesso ao mercado. E essa política foi totalmente desmontada a partir do final dos anos 1970, os conjuntos perderam os recursos que tinham para sua manutenção, foram se degradando até que inclusive começou a demolição desses conjuntos, literalmente.
Você teve uma experiência polêmica na Inglaterra em 2013 e sofreu ataques da mídia conservadora. Você identifica essa experiência no bojo de processo do neoliberalismo?
Claro, temos de entender duas coisas. Primeiro, quando eu pedi para fazer uma missão no Reino Unido, que é um país em tese aberto a missões de qualquer relator, eu estava desde o começo da relatoria, que coincidiu com o estouro da crise financeira e hipotecária, seguindo essa questão, estudando esse tema. E verifiquei que a Inglaterra era muito importante para entender essa lógica, porque foi um dos locais onde se originou esse paradigma neoliberal, conservador. Foi justamente na Inglaterra de Margareth Thatcher, quando ela decide privatizar todos os conjuntos habitacionais que existiam, vender as unidades para os próprios moradores a preço de banana, e com isso ela constitui uma base política, dela e dos conservadores. Entrando na base trabalhista, porque eram os trabalhadores que viviam nessas casas, ao mesmo tempo encontrando uma forma de as pessoas usarem suas próprias casas para financiar o consumo em períodos de perdas salariais e arrochos salariais, que foi o que se sucedeu nesse processo.
Tudo isso o que estou contando era muito importante para conseguir entender o processo; ir à Grã Bretanha, estudar esse processo e a história toda e também conhecer a política habitacional anterior, porque foi uma das políticas mais avançadas do mundo em termos de quantidade e qualidade desde os anos 1930 e particularmente no período pós-guerra. No fim dos anos 1960, 38% do estoque habitacional total no Reino Unido era público e de habitação alugada com fortes subsídios, isso tudo era muito importante e eu queria conhecer.
Só que, e isso foi uma absoluta coincidência, quando eu chego no país para fazer a minha missão, naquele exato momento, estava sendo muito contestada por movimentos sociais que estavam se armando e por uma imprensa também crítica ao governo conservador as últimas reformas que estavam sendo criadas no campo da habitação e uma reforma era a tal da bedroom tax, que era a chamada 'taxa do quarto'. Ela fazia com que as pessoas já muito pobres e vulneráveis, e que tinham sobrado morando nos conjuntos habitacionais públicos, tivessem de pagar se quisessem continuar morando em uma casa que tivesse um cômodo a mais do que caberia a ela, dependendo do número de pessoas, sendo que elas não tinham opção de outro conjunto habitacional público com apartamento menor para se mudar. Só restava mesmo pagar e a reação foi muito grande contra a medida.
Eu chego quando o movimento contra está se armando, indo para as ruas, se organizando para fazer pressão sobre o parlamento.  E foi uma coincidência, eu não fui para lá por causa da bedroom tax, mas queria compreender a experiência britânica, e o que estava acontecendo naquele momento. Indo nos conjuntos, visitando as pessoas, eu descubro que aquilo estava violando direitos. Tinha gente que tinha de pagar essa taxa e não podia mais comer, ou não podia pagar o aquecimento no inverno.
E eu falei: 'A bedroom tax é uma violação do direito de moradia' e a reação do governo conservador era 'shot de messenger' ('mata o mensageiro') se você não está de acordo com a mensagem que ele traz. E aí foi procurar me desqualificar. E para fazer isso mobiliza toda a mentalidade colonialista, racista e conservadora presente ali, dizendo 'como uma urbanista brasileira pode vir aqui falar sobre política habitacional? Como uma pessoa, cujo país tem favelas, vem ousar a dar opiniões sobre a política habitacional?'
Foi dessa forma que se tentou desqualificar a mensagem que eu trazia, que era claramente de apoio aos movimentos de contestação, mas que evidentemente eu não tinha tido nenhum contato anterior com eles. A minha missão como relatora era examinar a situação à luz do direito à moradia adequada e eu percebi porque eu fui lá falar com as pessoas para ver os efeitos do que estava sendo implantado.
JAILTON GARCIA / RBA
A Inglaterra tem uma mídia sensacionalista, conservadora, que é o 'Daily Mail', racista, antissemita
As críticas que você recebeu da imprensa por ficar em um hotel de luxo foi um contra-ataque?
A imprensa noticia que eu fiquei em um hotel de luxo. Quando se monta a relatoria, o relator não é pago. O trabalho do relator é voluntário. Não há nenhum tipo de salário e isso é definido nesse sistema como uma garantia para a independência do relator. Ele não tem de prestar contas para ninguém. O relator é independente. E nós temos recursos para os relatores fazerem as missões, pagar os hotéis, os deslocamentos, as passagens, é isso o que é pago pelo alto comissariado da ONU. E as missões normalmente são de 12, 15 dias. E são absolutamente intensas, você tem reuniões e visitas de manhã, de tarde e de noite, você encontra com governos, você vai às comunidades, fala com as pessoas, você tem uma coisa muito muito pesada, então, nós procuramos sempre ficar em hotéis confortáveis para minimamente chegar no final do dia e poder descansar. E mais, eu procurei um hotel muito perto do edifício do governo, onde ficava toda a área da moradia, para eu poder economizar de táxi e de tempo. Eu saía do hotel e ía a pé ao departamento do governo responsável por política urbana e habitacional, que era ponto focal da minha missão. Então, eu fiquei em um hotel perto, confortável e que era caro assim como a maior parte dos hotéis da Grã-Bretanha. Apenas isso. Então, usaram o fato do hotel, mas isso não teve a menor importância.
Isso alimentou alguma opinião sua sobre a mídia?
A Inglaterra tem uma mídia sensacionalista, conservadora, que é o Daily Mail, racista, antissemita, inclusive; usaram o pior dos xingamentos possíveis, é muito pesado e difícil e por outro lado outros meios de comunicação muito importantes ali, como o The Guardian, e o Independent, que deram muito espaço e fizeram outro tipo de cobertura muito séria em relação à relatoria. Mas de qualquer maneira eu mesma decidi naquele momento, porque o The Guardian me ofereceu espaço para responder, mas eu achei que não valia a pena alimentar uma polêmica e evidentemente eu sozinha jamais vou ganhar dos conservadores britânicos. Isso aí é uma luta muito mais ampla e acho que o mais importante no fim foi o efeito contrário porque muitas vezes, como relator, temos a frustração de ver coisas e soltar comunicados de imprensa e relatórios e ninguém fica sabendo porque não tem cobertura nenhuma. Passa batido. Contraditoriamente, o fato de terem tentado me desqualificar chamou muito a atenção para o meu relatório, para o direito humano à moradia adequada no mundo, porque isso circulou amplamente, ele acabou servindo de uma maneira muito importante não só para a Inglaterra mas para outros lugares onde essa informação circulou.
Isso mostra a relatividade das notícias. Nem sempre uma notícia negativa cumpre só esse papel...
Pessoalmente, é muito difícil enfrentar uma situação como essa, mas do ponto de vista da relatoria, essa polêmica serviu muito para chamar a atenção para o tema, depois a discussão continuou intensa, e a Escócia logo em seguida rompeu com a política da bedroom tax, teve desdobramentos importantes.
Quantos países visitados estão no livro?
De acordo com as regras do mandato, que faz duas missões em países por ano, com seis anos de mandato, foram 11 países e mais uma missão ao Banco Mundial. Eu fui ao banco porque percebi o quanto esse modelo da moradia se transformou em um modelo hegemônico e o Banco Mundial foi um dos agentes de disseminação desse modelo. Não foi o único, e muito menos foi o responsável pela adoção desse modelo em cada país – a adoção no país é decorrente das hegemonias e coalizões do próprio país. Mas o banco tem uma importância grande na disseminação do paradigma. E o banco foi outro que reagiu pesadamente contra o meu relatório, não publicamente por meio da imprensa, mas junto ao Conselho de Direitos Humanos. Além das missões oficiais, eu pude fazer 'working visits': são visitas no país em que você é convidado para participar de um debate, ou para visitar uma comunidade, mas isso não produz um relatório oficial, mas permite entrar em contato com o tema. Então, eu fiz algumas visitas dessa forma, como por exemplo no Haiti no âmbito da construção depois do terremoto, chamada pelos próprios organismos da ONU, envolvidos com as dificuldades de reconstrução quando o aparato inteiro da reconstrução está montado para resgatar as propriedades perdidas das pessoas. Mas você chega no Haiti e a maior parte não tem propriedade. O que se destrói são assentamentos informais. E eles estavam totalmente paralisados, sem saber como é que podiam reconstruir as casas em uma terra que não pertencia a cada pessoa que dizia que morava ali.
Nesse tipo de visita, fui também duas vezes a Barcelona, encontrando com os afetados pelas hipotecas porque me pediram para apresentar o relatório sobre o tema, que eu tinha apresentado no conselho. E finalmente, para poder escrever os relatórios das missões nós preparamos relatórios temáticos. Por exemplo: crise financeira hipotecária e o direito à moradia foi um tema que eu trabalhei muito no meu mandato. Fiz dois relatórios sobre isso. Fiz também dois relatórios sobre a questão da reconstrução pós conflito, pós desastre e o direito à moradia. Eu trabalhei para fazer esses relatórios. Para escrever esses relatórios, eu tinha de pesquisar e muitas vezes um dos instrumentos que o relator tinha era enviar questionários oficiais aos países. E eu obtive muitas respostas. Isso tudo acabou produzindo um cabedal de informação muito além dos 12 países contemplados nas missões. Eu acho que a gente tem menção a mais de 20 países de diferentes continentes, das Ilhas Maldivas ao Cazaquistão.
Mas nenhum país rompe ou questiona esse modelo da financeirização?
Não, nenhum. Claro que há países dos quais tive conhecimento que mantêm ainda algumas alternativas, como o Uruguai, que tem um programa de cooperativas autogeridas. Outro exemplo, a Áustria, especialmente em Viena, tem uma política habitacional muito financiada pelo governo, muito forte ainda.
Que movimentos de resistência que você encontrou, além do caso da bedroom tax?
Encontrei a plataforma dos afetados pela hipoteca na Espanha, greve de fome por afetados pela crise hipotecária no Cazaquistão, enfim, encontrei movimentos de resistência em diversos lugares, tanto diante da crise e das reformas habitacionais, mas eu encontrei também movimentos de resistência à política urbana financeirizada.  Isso é importante, porque eu tento mostrar no livro a relação entre a produção em massa de moradia, do tipo casa própria nas periferias urbanas e metropolitanas, e a abertura de frentes de expansão para o complexo mobiliário financeiro ligado ao capital financeiro e internacional em antigas áreas centrais, bem localizadas, áreas de reconversão urbana. Então, tem uma ligação entre eles. Isso no trabalho fica muito claro, por exemplo, nas operações de preparação das cidades para sedes de grandes eventos, onde se armam projetos urbanos financeirizados, ligados a esses circuitos financeiros globais, se abrem frentes de expansão e para fazer isso os pobres, por exemplo, como no caso de Atlanta, que mantinha conjuntos habitacionais públicos e esses conjuntos são demolidos para dar lugar a esses projetos. No caso da África do Sul ou do Brasil, o que tinha nesses territórios eram favelas, assentamentos informais e elas são removidas e colocadas nessa máquina de produção de casas sem cidade e no lugar delas se abre uma frente de expansão dessa outra frente urbana, essa sim totalmente financeirizada.
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Críticas à esquerda: governo dos trabalhadores é quem vai desenvolver no Brasil a financeirização da terra e da moradia
Na terceira parte do livro, você trata do Brasil. O que define o nosso país nesse contexto da financeirização?
O Brasil é uma das versões do modelo de financeirização da moradia, que é muito parecida com o modelo chileno, que tem origem no governo de Pinochet, mas está em vigor até hoje e já tem 20 anos, então, você pode ver seus efeitos. Isso dá para ver o modelo do Minha Casa, Minha Vida, que é uma das coisas que eu analiso, como tudo que existiu de política habitacional no país, em que mais ou menos se tentou armar a partir da democratização, da Constituição de 1988, das experiências de gestão municipal e democrática nos anos 1990, os mutirões, cooperativas, urbanizações de favela, enfim, tudo isso é desconstituído, tem um programa único, que é o Minha Casa, Minha Vida, que produz casa própria para pobre na periferia, com grande subsídio público.
O subsídio é o único diferencial...
Sim, da mesma forma que no Chile e no México...
Não muda o modelo de afastar os pobres do centro, mas agrega o subsídio...
Sim, agrega o subsídio e produz uma habitação que não atende o direito à moradia adequada dos mais pobres...
Porque não mexe na estrutura da questão e continua colocando os pobres em localidades periféricas...
Exato, e isso é estrutural do programa. A possibilidade da rentabilidade da empresa privada repousa unicamente na necessidade de ela economizar o máximo possível e terra barata no meio urbano significa terra sem urbanidade. No Brasil, é isso: terra sem cidade. Eu mostro como foi armado o Minha Casa, Minha Vida no país, e a abertura das construtoras, com capital em bolsa, embora o programa seja menos financeirizado do que a experiência norte-americana ou espanhola. Aqui o programa não é securitizado, enfim, tem muito menos do que essas outras experiências, mas eu falo do Minha Casa, Minha Vida e falo também da experiência dos megaeventos, da evolução da política urbana, que também vai tomando a terra urbana, para implantar projetos, cuja única lógica é a rentabilidade financeira dos produtos que vão ser implantados ali. Estou falando do Porto Maravilha, do Cais da Estelita, essa é a lógica, como também na tentativa de fazer isso em São Paulo na região da Luz. E eu tento explicar como foi possível, por onde passaram as conexões entre os agentes privados, no caso incorporadoras, empreiteiras e fundos de investimentos com os governos do campo que se chamava de democrático popular: PT, PCdoB, PSB, como que se deu essa conexão, por meio de uma história que tem a ver com os fundos de pensão, dos trabalhadores, com a liderança sindical que foi para os fundos de pensão e a partir daí os fundos de pensão foram os grandes investidores do imobiliário nos anos 1990. Foi ali que se encontraram com as incorporadoras e construtoras e o que consegue explicar isso, que justamente um governo supostamente de esquerda, dos trabalhadores, é quem vai implantar no Brasil a financeirização da terra e da moradia. Foi isso o que eu fui pesquisar e tentar entender, e aí isso faz parte da minha própria trajetória, porque é como a trajetória da reforma urbana que foi a trajetória que uma das linhas, um dos movimentos que lutou para construir os partidos, como o PT e o PCdoB, e para levá-los ao poder foi derrotada politicamente, completamente derrotada, abandonada. No lugar dela o que se abriu, o que aconteceu na cidade, a relação com o financiamento de campanha, de modelo político-eleitoral, e as empreiteiras, que no caso brasileiro não só elas são muito importantes, nos grande projetos de infraestrutura, mas elas é que estão por trás também dos grandes projetos urbanos financeirizados, como o Porto Maravilha, como o Estelita, são os mesmos atores, não se fala muito disso neste momento, mas é isso. Então, eu tento mostrar essas conexões e tento explicar aquilo que aparentemente era inexplicável. Como é possível que essas reformas de natureza neoliberal aconteçam no âmbito de uma política desenvolvimentista, de inclusão via consumo, melhoria das condições salariais etc.
Você acredita que o governo progressista compôs com a financeirização por conta de uma visão pragmática, para ter resultados rápidos?
Eu mostro como o Minha Casa, Minha Vida vai atendendo à demanda dos vários atores, e isso explica sua hegemonia. Ele tem apoio generalizado. Eu comento que até os governos do PSDB aderiram. Pararam de construir casa na CDHU para botar um dinheirinho a mais no Minha Casa, Minha Vida para cortar fitinha junto e ganhar o ativo político. Isso mostra como são articulados os interesses das incorporadoras que tinham aberto seu capital em bolsa, que tinham comprado terra para lançar um produto, que é a habitação social do mercado, habitação para uma renda um pouco mais baixa com a crise financeira. Os fundos que tinham injetado dinheiro começam a cair fora e elas vão quebrar, como quebraram no Cazaquistão e vão ao governo. Com essa demanda para evitar a quebradeira, mais a necessidade de tomar medidas anticíclicas diante da ameaça da crise financeira econômica, que estava presente com a necessidade política dos governos de obter resultados rápidos, distribuindo casa porque isso é perfeito. O governo local, a prefeitura, só faz a lista da demanda. Ela diz quem vai ganhar, não precisa fazer nada.
Tem sorteios...
Sorteio é uma parte, a outra parte é remoção. E acabou o próprio movimento social ficando sem nada e aí negociando, foi o parto da negociação e eu vou contando isso no livro, como o Minha Casa, Minha Vida Entidades aparece como parte da negociação, e um por cento do dinheiro vai também para as entidades do movimentos sociais construírem suas casas para os seus filiados e como forma de obter apoio dos próprios movimentos sociais. Com isso, fica uma coisa completamente sem oposição nenhuma. Entretanto, a gente já vê os problemas de tudo isso.
Porque o modelo excludente com base no preço da terra continua prevalecendo...
E mais: o Minha Casa, Minha Vida é muito mais uma política econômica do que uma política habitacional. Ele não parte das necessidades habitacionais. Se parte das necessidades, em primeiro lugar você não vai ter um modelo único, porque essas necessidades são muito diversas.
E como você vê o Plano Diretor Estratégico de São Paulo, com foco nas Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis) e dando suporte para a ideia de aproximar a habitação do emprego, trazendo as habitações para as áreas centrais?
Primeiro temos de levar em consideração a trajetória das Zeis, como instrumentos que vão surgir no âmago da luta pela reforma urbana e das tentativas de implementação de política fundiária para a habitação, de uma política de terras urbanas para a habitação. Partindo da experiência pioneira de Recife e Belo Horizonte, ainda nos anos 1980, na luta pelo reconhecimento dos direitos dos assentamentos informais permanecerem onde estão, pelo direito de romper a invisibilidade pela política da cidade, e romper a ambiguidade que esses assentamentos sempre têm em relação à política... eles fazem parte ou não da cidade? Vão ficar ou sair, é para sempre ou transitório? Essa transitoriedade permanente e que marca isso... Então, as Zeis procuram romper com isso, e depois a experiência de Diadema dá mais um passo para além do reconhecimento e fala, 'não', ela é também uma política para garantir que terras vazias bem localizadas possam ser usadas por moradia e Diadema cria conjuntos habitacionais por meio dessas Zeis em seu plano diretor – 1993 é a primeira experiência – e a partir daí essa ideia vai crescendo pelo país até chegar em São Paulo, no Plano Diretor em 2002. Graças ao apoio dos movimentos sociais e de moradia, as Zeis permanecem como um instrumento tanto de resistência como de promoção de política fundiária e de habitação. Agora, isso não quer dizer que todas as Zeis que existiam deixaram de ser removidas. Você tem Zeis que sumiram, foram totalmente removidas, e ao mesmo tempo tem as que, graças ao fato de serem Zeis, conseguiram permanecer onde estão. Trata-se de um instrumento de luta, não é exatamente uma coisa que garante, resolve, mas é importante. Graças ao protagonismo dos movimentos sociais e de moradia, ela continua presente no Plano Diretor de 2014, ganhando mais terra, envergadura e importância.
Agora, o plano tem isso, e tem também um outro lado. Eu diria que 50% da terra urbanizável ficou definida no plano diretor como áreas para o estabelecimento de parcerias público privadas, as PPPs,  operações urbanas, tipicamente. São esses projetos urbanos ligados ao complexo imobiliário e financeiro, de novo, cuja lógica essencial é a rentabilidade dos produtos. Então, o plano diretor da cidade não poderia ser de outro modo, pois estamos falando do estado político atual da cidade, que é uma mistura de coisas muito diferentes, para um lado e para o outro.
Então, você condena as operações urbanas...
A experiência concreta que nós tivemos com as operações urbanas em São Paulo, os projetos que vingaram e foram implementados, que são as operações Faria Lima e Água Espraiada, há toda uma literatura já muito estabelecida, que mostra que foram projetos excludentes, para a abertura de frentes de expansão do capital corporativo, com esses produtos imobiliários financeirizados, enfim, e nenhuma delas foi capaz de produzir outra coisa. Houve uma tentativa de revisão, por exemplo, da operação urbana Água Branca, no sentido de poder ter outros elementos na sua própria revisão, agora ela foi vender Cepac e não vendeu nenhum. Então, não sei se essa operação, que tem outro jeito, vai conseguir se implementar, digamos, é uma operação urbana do bem, mas se não se viabiliza então... Estou falando não em tese, mas a partir da experiência concreta. Mas eu não vejo elementos positivos nas operações Faria Lima e Água Espraiada, que são as duas que realmente pegaram.
MARIANA MORAES/FLICKR
Raquel Rolnik: 'Faria Lima foi projeto excludente, para a abertura de frentes de expansão do capital corporativo'
Você acha que a gestão Haddad está promovendo uma discussão sobre mudanças na ocupação da cidade e também sobre a humanização do espaço urbano?
Eu acho que a gestão do Haddad está colocando pautas muito importantes e transformadoras, eu acho que esses desejos de transformação estavam colocados como demandas da sociedade, e acho que a prefeitura está ressoando essas demandas, especialmente no campo da mobilidade, a prioridade para valer do transporte coletivo, os modos não motorizados, através das ciclovias, a abertura para vivência nos espaços públicos, o apoio a esses movimentos, tudo isso me parece positivo e em sintonia com o que são demandas da nossa cidade, de movimentos também muito presentes. Mas, como não podia deixar de ser, na natureza de um governo de coalizão, que tipo de coalizão é essa, que representa esse governo, ela também tem vários aspectos, por exemplo, na política de habitação, a substituição de secretário, agora acabou de nomear um novo, em outra direção muito melhor, mas é o último ano de governo, é um desastre. Então, tem elementos também desastrosos dentro dessa política. É uma prefeitura que do ponto de vista dessas pautas avançou.
O movimento dos alunos da rede estadual chama a sua atenção do ponto de vista de as comunidades abraçarem os espaços da cidade?

Eu acho que a ocupação das escolas públicas pelas meninas e meninos é o fato mais relevante deste ano, porque derruba vários mitos, e dá uma esperança incrível porque estamos falando de jovens de 15 a 18 anos descobrindo a política e do melhor jeito possível, que é descobrir o sentido do público. O espaço público não é propriedade do governo, nem de partidos, o espaço público é propriedade coletiva nossa, e portanto temos de nos apropriar e nossa participação do que é feito desse lugar é essencial. Isso é essencial para a construção de uma cultura política nova no país. É sensacional o que essas ocupações foram capazes de fazer.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

O mensalão tucano

no Blog Amigos do Presidente Lula



O jornalista da Folha diz em seu artigo que o PSDB é uma organização criminosa... De vez em quando da um momento de sinceridade lá na Folha...Veja um trecho do artigo...

A Justiça de Minas Gerais condenou o ex-governador Eduardo Azeredo a 20 anos e 10 meses de prisão. De acordo com a sentença da juíza Melissa Pinheiro Costa Lage, o tucano desviou dinheiro público para financiar sua campanha frustrada à reeleição, em 1998.

O esquema envolveu três estatais mineiras, que fecharam contratos de fachada para repassar verba de publicidade a políticos. Em valores atualizados, o rombo foi de R$ 10 milhões. (....)

Azeredo não é um tucano qualquer. Chegou a ser presidente nacional do PSDB, cargo hoje ocupado pelo senador Aécio Neves. Estava no Senado quando a Procuradoria-Geral de República o denunciou ao Supremo Tribunal Federal, em 2007. Dois anos depois, a corte decidiu transformá-lo em réu.

O mensalão mineiro virou um símbolo da morosidade judicial. O caso se arrastou no STF até 2014, quando Azeredo renunciou ao mandato de deputado para escapar da punição. Sob protestos do então ministro Joaquim Barbosa, que acusou o tucano de "debochar" da Justiça, o processo voltou à primeira instância.

Na semana passada, Azeredo foi finalmente condenado por peculato e lavagem de dinheiro, mais de 17 anos depois dos desvios. Graças à manobra para fugir do STF, ele poderá recorrer em liberdade até que o caso volte a ser analisado pela corte.

Desde que perdeu a eleição presidencial para o PT, o senador Aécio repete que não foi derrotado por um partido, e sim "por uma organização criminosa".(....)talvez seja a hora de virar o disco. Na sentença do mensalão tucano, a juíza Costa Lage afirma que seu aliado Azeredo também integrou "uma organização criminosa complexa", montada para assaltar os cofres mineiros.Trechos do artigo de Bernardo Melo Franco - Na Folha

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

No natal do consumismo, é bom pensar no livro como presente

por José Gilbert Arruda Martins

Não sou muito afeito ao consumismo natalino, o velhinho não me enrola mais, passei da fase. Mas, procurando algo sobre livros hoje, encontrei a matéria a seguir no Catraca que me chamou a atenção, árvores de natal com livros.

Divulgação

Essa o velhinho, não contava.

Há!, falei acima que não sou muito afeito ao consumismo dessa época, pois é, não sou mesmo, o natal, como o dia dos namorados, das mães, foi criado pelo sistema para vender mais, muita gente, é o que me parece, nem liga ou desconhece a importância dessas datas além da compra de bugigangas.

Comprar, comprar e comprar, não importa, o desejo é de consumir, mesmo que muito do adquirido seja deixado dentro de um armário e esquecido.

A indústria é que vibra, não sei se a economia também, pode até ser, a economia é movida pelo consumo, mais consumo mais emprego, mais emprego maior o crescimento...

"Saara no Rio", "25 de março" em São Paulo, "feira dos Importados" em Brasília, tudo repleto de gente consumindo. 

Pessoal! Cadê a crise?

Na realidade, aqueles que encherão seus armários com mais bugigangas são exatamente os que mais reclamam...

É, mas ficarei apenas com os livros. Árvore de livros. Uma boa ideia!

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Faça você mesmo: dicas para uma decoração de Natal linda e sustentável

Divulgação
Inove na hora de montar sua árvore

no Catraca Livre
O Natal pode ser a época mais maravilhosa do mundo. Mas, conforme o tempo vai passando, não tem Papai Noel que dê conta de sublimar o frenesi típico.
É tipo assim: pensa nas multidões dos shoppings, nos estacionamentos dos shoppings, nas filas pra entrar e sair dos estacionamentos dos shoppings. E pra quem é do Rio, e frequenta, pensa no Saara.
Mas já que temos que passar por essa época mesmo, que tal ressignificar? Mesmo que não seja a sua data do ano preferida, mesmo que não tenha nenhuma importância religiosa pra você, a proposta é reconectar-se com o Natal de outra maneira: resgatando o lúdico e o mágico! Encarar o Natal com os mesmos olhos de quando éramos crianças!
Portanto, vamos as dicas do que é possível:
1- Menos é mais. Foca em fazer uma decoração que encaixe no seu ambiente, que não dê trabalho para montar e nem para desmontar. A questão é deixar a sua casa com carinha de Natal, e não montar uma cenografia de Natal da novela da Globo 
2- O dilema da árvore. Eu já comprei um pinheiro de Natal de verdade na Cadeg. Mas consegui replantá-lo. Até o ano que não foi possível, e a culpa bateu forte. Há quem recomende a árvore artificial, porque a longo prazo, deixa menos pegada ecológica do que a árvore que foi retirada da natureza apenas por um capricho. Já li alguns estudos a respeito, mas ainda não tenho opinião formada. Neste ano, que resolvi que a árvore vai ser de um projeto factível do Pinterest – descobri várias opções!

domingo, 20 de dezembro de 2015

O povo precisa conhecer quem está por trás do golpe no Brasil

por José Gilbert Arruda Martins

O livro abaixo, entre outras boas informações, fala da tentativa de desestabilização política na América Latina, patrocinada por grandes capitalistas estadunidenses. O livro é prefaciado, pelo grande Noam Chomsky, professor e estudioso das relações dos Estados Unidos da América com a América Latina e o mundo.

Recebi, em um grupo que participo no Watzap, a matéria "Michael Fox: a direita golpista brasileira financiada por grupos econômicos dos EUA", matéria que saiu no portal da  Revista Fórum, no blog da genial Maria Frô, não vou replicá-lo na íntegra, vou usar partes da matéria para fazer meu texto.
Maria Frô escreve:
"Agora, um jornalista estadunidense, especialista em política latino americana, diz com todas as letras que o Tea Party estadunidense financia agremiações de extrema-direita como os Revoltados Online, Vem Pra Rua e Movimento Brasil Livre.

No vídeo abaixo, uma tradução do original “Koch Brothers’ Funds Backs Anti-Dilma Protests in Brazil”, produzido pela organização e agência de notícias independente The Real News, o jornalista Michael Fox, um dos autores do livro Transições turbulentas da América Latina- O futuro do Socialismo no século XXI é o entrevistado."

Quem, no Brasil, conhece com profundidade, a política externa dos EUA para a região da América Latina e o mundo?

O que os autores do livro acima destacam, apesar de muito coerente e oportuno, muita gente na América Central caribe e América do Sul, já sabia há muitos anos, os EUA, usam o poder político, "diplomático" e bélico, para impor suas vontades e interesses.

Nesses tempos de tentativas de golpes no Brasil, é bom ficar de olho e conhecer essa história macabra e repleta de violência.

Os Estados Unidos da América, não são apenas Shoppings e compras em Nova Iorque e Miami, os coxinhas brasileiros que adoram levar seus filhos aos parques temáticos do Tio Sam, deveriam saber que não há divertimento nesse tipo de relação.

Noam Chomsk, professor da Filadélfia, em vários livros, editados no Brasil pela editora UnB, denuncia a violência e o terror da política externa estadunidense.

Praticamente 100% dos golpes militares na América Latina, que cassaram direitos, que desrespeitaram os direitos humanos, que derrubaram governos democraticamente eleitos pelo povo, que prendeu, assassinou e rasgou as leis, foram patrocinados pelo governo e pelos rentistas estadunidenses.

Apesar de estarmos, infelizmente, presenciando esse tipo de manobra hoje no Brasil, com a tentativa de derrubar o governo Dilma Roussef, essa é uma prática corriqueira e histórica daquele país.

"Em nome da democracia e da liberdade", os EUA patrocinaram e patrocinam todo tipo de violência no mundo.

Uma contradição que é justificada, na defesa interna e nos interesses dos cidadãos estadunidenses. Uma contradição que vem sendo criticada por, praticamente, 100% dos especialistas em Direitos Humanos e Política Internacional de todo o mundo.

Uma contradição que já pois em risco nuclear o planeta terra por dezenas de vezes.

Os coxinhas brasileiros, devem ser responsabilizados por mais essa violência e desrespeito ao Brasil, as pessoas de bom senso, que desejam o bem do nosso país e do nosso povo precisam enxergar mais esse absurdo e começar a combater esse tipo de gente.

Mas os coxinhas brasileiros, não estão sozinhos nesse sonho esquizofrênico, o mais sério e surreal, para dizer o menos, é que temos ao lado desses loucos, partidos políticos brasileiros como o PSDB e o DEM, parte da justiça, em sua maior instância e, claro, praticamente, toda a velha mídia, capitaneada pela Rede Globo, revista Veja, Estadão, Folha de S Paulo etc.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

A Saída é pela esquerda (Sempre)

por José Gilbert Arruda Martins

O projeto vencedor das eleições passadas, não inclui Levy e seu neoliberalismo, não inclui privatizações, não inclui arrocho salarial e desemprego, não inclui fome e miséria para nosso Povo



Esta semana o Outras Palavras trouxe uma boa matéria - O governo enxergará sua única saída?. No texto, o autor faz uma exposição resumida da crise, dos avanços que tivemos, nos últimos 13 anos, e das tentativas de golpe no Brasil, incluindo os golpistas, Eduardo Cunha, Aécio, FHC e o Temer.

A matéria do doutor Felipe Amin Filomeno - O governo enxergará sua única saída? -, divulgado no Outras Palavras, trás para todos nós, de forma lúcida, alguns pontos importantes:

* A crise do Lulismo.
* A crise globa do sistema (não fala diretamente, mas fica a menção implícita).
* A tentativa explícita de golpe por parte da direita, capitaneada pelo PSDB, DEM e parte do PMDB.
* A fragilidade das argumentações dos golpistas.
* A honradez e seriedade da presidenta Dilma Roussef.
* E, após os movimentos de rua da última quarta feira, as mudanças de rumo que o governo tende e deve seguir.

Acredito que seja importante salientar, que a crise do Lulismo acontece dentro de um espaço e tempo de profunda crise no sistema capitalista mundial. E que, apesar de toda a crise do sistema, a presidenta Dilma Roussef, sustentou o seu primeiro mandato sem arrocho salarial e, o mais importante, com emprego, e, em nenhum momento,  chegamos nem perto dos números do desemprego da Europa.

Pois bem, sabemos que a escolha de Joaquim Levy para dirigir a economia, foi uma cartada do governo para acalmar o mercado, vimos também que isso não funcionou, estamos há mais de uma ano angustiados, tendo que ir às ruas todas semana, para garantirmos a governabilidade mínima e a manutenção da normalidade democrática.

Dilma Roussef, simplesmente, implantou parte do modelo dos derrotados na última eleição para dar início ao seu segundo mandato, exemplo disso, foi a escolha de um neoliberal para dirigir a economia.

Agora, com toda essa tentativa de golpe, e a reação da militância e de grande parte da sociedade, organizações sociais, intelectuais, artistas, trabalhadores, sindicatos, UNE, etc. contra o golpe e a favor do mandato da presidenta, o que resta ao governo é implantar urgentemente o projeto vencedor das eleições de 2014.

O projeto vencedor das eleições passadas, não inclui Levy e seu neoliberalismo, não inclui privatizações, não inclui arrocho salarial e desemprego, não inclui fome e miséria para nosso Povo.

 Votamos em 2014 num projeto popular, que inclua,  mais e mais democrático e justo.

O projeto que venceu a direita no final do ano passado, é um projeto de continuidade e ampliação dos avanços sociais.

Mais Reforma Agrária Popular, mais demarcação das terras indígenas e quilombolas, mais Educação Pública de Qualidade, mais liberdade e democracia.


A cidade em que os jovens índios suicidam-se

no Outras Palavras


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Jovens do povo Hupd’äh em um dos acampamentos do Beiradão, assistindo às gravações do documentário Beiradão/Hup Boyoh.

Em São Gabriel da Cachoeira, extremo Oeste do Amazonas, indice de mortes auto-infligidas é dez vezes maior que média nacional. Por que?
Por Jessica Mota, na Pública
Tímido, ele não olha diretamente para a câmera. Tem uma lanterna na mão para iluminar a densa noite na beira do rio Negro. Ali, quando não há lanternas, só se veem as estrelas que se apagam nas cidades grandes. Enquanto responde às perguntas de Miguel Seabra, um adulto, ele liga e desliga a lanterna, um pouco constrangido pela posição de interlocutor.
Estamos no Beiradão, nome popular dado aos acampamentos sazonais que indígenas Hupd’äh e Yuhupd’eh montam durante os meses de férias, de dezembro a março, nas beiras de praia de São Gabriel da Cachoeira. A cidade fica na região conhecida como “Cabeça do Cachorro”, no extremo noroeste do estado do Amazonas. Faz divisa com a Colômbia e a Venezuela e abriga uma população 93,2% indígena, com mais de 22 povos diferentes.
A região é marcada, historicamente, pelas missões catequizadoras empreendidas por missionários salesianos do início do século 20, que até hoje estão presentes. Além dos católicos, também estão os evangélicos. A própria cidade de São Gabriel foi fundada como missão, em 1916, pelos salesianos. Por ser região de fronteira, que se limita a oeste com a Colômbia e a norte com a Venezuela, ali também se instalaram bases do Exército Brasileiro para proteger as fronteiras da imensa São Gabriel. São mais de 109 mil km² que abrigam terras indígenas e da União, com um diminuto núcleo urbano onde a cidade realmente acontece. (Para ler mais sobre a dinâmica de São Gabriel, relembre a reportagem São Gabriel e seus demônios)
O rapaz adolescente que nos concede a entrevista improvisada no Beiradão, em fevereiro deste ano, conta que está ali com a família. “Moro em Boca do Traíra, rio Japu”, fala ele na língua Hupd’äh. A comunidade fica distante cerca de três dias de viagem numa canoa com motor e rabeta. Como tantos outros rapazes, moças, crianças, idosos e adultos, ele está ali com a família para ter acesso a documentos e benefícios sociais oferecidos pelo governo federal (bolsa-família, auxílio-maternidade, auxílio-doença, aposentadoria…). A permanência na cidade por tempos prolongados se intensificou a partir de 2004, quando foram contratados os primeiros agentes de saúde e professores da etnia. “Fizemos essa viagem para vir ver se o dinheiro da aposentadoria saiu”, diz. O dinheiro ainda não havia saído e a canoa deles, afundado. Não tinham como voltar para a comunidade, nem como pagar pela comida. O jeito era esperar.
São 452 pessoas, de 73 famílias Hupd’äh e Yuhupd’eh vivendo em 14 acampamentos em situação de extrema vulnerabilidade. As famílias Hupd’äh eram oriundas de comunidades dos rios Tiquié, Uaupés, Japu e Papuri e havia um acampamento da comunidade de Vila Fátima, que fica em Iauareté, no limite da fronteira com a Colômbia. A maior parte dessas pessoas não domina a língua portuguesa nem a maneira de lidar com as instituições burocráticas locais. Os acampamentos na beira da praia próxima ao porto da cidade não têm água potável, nem oferta de caça para se alimentarem. Ali também há alta incidência de malária, diarreia, DSTs e espaço aberto para o consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Não é difícil ouvir relatos de crianças Hupd’äh mortas por desnutrição.

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Quando vão à cidade, os Hupd’äh acampam em praias próximas ao porto de São Gabriel da Cachoeira, como essa da foto. Ao fundo, se vê o caminho do rio Negro em direção às aldeias. Foto: Reprodução do documentário Beiradão/Hup Boyoh
A dificuldade em retornar para as comunidades pela demora no atendimento burocrático ou por falta de meios de transporte faz com que os Hupd’äh se endividem junto aos comerciantes locais, que os ameaçam, retêm seus cartões bancários e documentos, e os forçam a trabalhar nos roçados – é a servidão por dívida, que constitui situação análoga à escravidão. A situação não é exclusiva de São Gabriel da Cachoeira como mostra a série de reportagens especiais “Favela Amazônia”, publicada pelo Estadão. Em outubro, Moisés Freire da Cunha, um dos comerciantes que atuava em São Gabriel, foi preso pela Polícia Federal com 284 cartões do bolsa família.
Suicídios de jovens indígenas no Mapa da Violência
A entrevista do início deste artigo faz parte do curta-documentário “Beiradão/Hup Boyoh”, realizado por mim e uma documentarista independente. Estivemos em São Gabriel para registrar a situação dessas famílias. Desde o início, porém, o que havia atraído minha atenção para a cidade, havia sido o alto índice de suicídios ali cometidos. Eu queria entender por que a cidade era a líder no ranking de suicídios por habitantes no Brasil, a maior parte deles cometidos por jovens indígenas.
Em 2014, o Mapa da Violência elaborado pela Secretaria-Geral da Presidência, cujo título é “Os Jovens do Brasil”, colocou São Gabriel como a cidade com maior taxa de suicídios por 100 mil habitantes no país. Através da análise de dados fornecidos pelo Ministério da Saúde até o ano de 2012,  o relatório concluiu que a taxa de suicídios aumentou no Brasil de 2002 a 2012, chegando a ser três vezes maior do que a taxa de crescimento da população brasileira no mesmo período. O documento também classificou como preocupante o significativo aumento de suicídios na região Norte, onde houve um crescimento de 77,7% nesse período.

A diferença de padrão entre suicídios da população total e da população jovem ocorre em todas as unidades da federação, mas foi também na região Norte que se constatou um grande aumento nas taxas de vitimização juvenil por suicídio. Segundo os dados do relatório, o índice mais que duplicou em relação ao restante da população. Encabeçam o ranking referente às taxas de suicídio por 100 mil jovens os estados de Roraima (12,9), Mato Grosso do Sul (12,1), Acre (10,4) e Amazonas (9,5). Em relação à população total (ou seja, jovens e adultos), as maiores taxas de suicídio por 100 mil habitantes são do Rio Grande do Sul (10,9), Santa Catarina (8,6), Mato Grosso do Sul (8,4) e Roraima (8,1).
Na listagem dos 100 municípios brasileiros com os mais altos índices de suicídio, o documento da Presidência da República atenta para o fato de que nos primeiros lugares do ranking “temos alguns municípios com taxas acima dos 30 suicídios em 100 mil casos, que é a marca de países como Lituânia ou República da Coreia, que encabeçam a listagem no nível internacional”.
Também chama a atenção nestes rankings a presença de altas taxas de suicídio em cidades com assentamentos indígenas, como São Gabriel da Cachoeira, São Paulo de Olivença e Tabatinga, no Amazonas, e Amambaí, no Mato Grosso do Sul. Em São Gabriel da Cachoeira, assim como no restante dos municípios com assentamentos indígenas (com exceção de Dourados, no MS), os suicídios cometidos por indígenas representam mais da metade no total de suicídios cometidos nestes municípios.
O documento destaca: “O total Brasil da tabela nos oferece uma primeira constatação: segundo o Censo Demográfico de 2010 tínhamos um total de 821,5 mil indígenas, o que representa 0,4% da população total do país. Mas os suicídios indígenas representam 1,0%: duas vezes e meia do que seria de se esperar pela participação demográfica. Mais ainda: esse mesmo Censo verifica que no Amazonas os indígenas representam 4,9% da população total. Mas (…) nos últimos anos, 20,9% dos suicidas são indígenas. Acima de quatro vezes que o esperado.
Em Mato Grosso do Sul, a participação indígena nos suicídios é ainda mais chocante. Enquanto eles representam 2,9% do total da população, são indígenas 19,9% das vítimas de suicídio: quase sete vezes mais.
Um último fato significativo: pelas PNADs [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE] desse período, a média de jovens indígenas de 15 a 29 anos de idade representava 26% do total da população indígena. Mas dos 475 suicídios indígenas registrados pelo SIM [Sistema de Informação sobre Mortalidade, registrado pelo SUS] nesses cinco anos, 289 eram jovens na faixa de 15 a 29 anos de idade, isto é, 60,9% do total de suicídios indígenas, mais que o dobro do que seria esperado.”
No caso de São Gabriel da Cachoeira, o índice de suicídios foi de 51,2 por 100 mil habitantes em 2012. 75% dos suicídios indígenas foram de jovens entre 15 e 29 anos. Em relação aos Hupd’äh, especificamente, um levantamento feito em 2012 por pesquisadores em diferentes comunidades, documentou 25 suicídios entre os anos de 2008 e 2012 (em 2006, eram 1.500 moradores dessas comunidades). O número representa aproximadamente um terço do total de mortes contabilizadas no mesmo período em São Gabriel da Cachoeira (73 mortes entre os anos de 2008 e 2012, segundo o Mapa da Violência). A principal forma que encontram para dar fim a suas vidas são o enforcamento e o envenenamento. Até 2005, a prática do suicídio era inexistente entre os Hupd’äh.
Experiências e reflexões
A experiência no Beiradão me mostrou que para refletir acerca dos suicídios cometidos por indígenas da etnia Hupd’äh em São Gabriel da Cachoeira é importante considerar tanto as dimensões simbólicas desse povo, como a situação social a que estão submetidos hoje, com contatos mais frequentes e prolongados com a vida urbana. Um fato parece se destacar nessa realidade: a violência permeia todas as situações de convívio na cidade.
Minha impressão é de que o jovem Hupd’äh vive hoje sob tensão entre dois espaços, carregados por conteúdos simbólicos. Em um deles, eles são os moradores tradicionais da floresta, integrados às comunidades, os jovens que percorrem os caminhos da mata com os anciãos para aprender sobre a caça, a coleta de frutos e as propriedades das plantas. “Nós caçamos lá porco, cotia, nambu… Aqui é mais diferente. Só compra frango no dia do almoço.  Um ranchinho que pegou com dinheirinho. É assim aqui na cidade”, como nos contou em português o indígena Miguel Seabra, que também faz parte dessa etnia.
O outro espaço é a cidade, uma realidade em que são vistos de forma pejorativa e incômoda pelas pessoas que ali circulam. Não são aceitos. Nesse tempo e espaço que ocupam na cidade, os Hupd’äh ficam submetidos a uma lógica de extrema dependência e vulnerabilidade em relação aos atores locais. Eles são alvo de violências cometidas por comerciantes e outros moradores citadinos, por agentes públicos do governo federal e, em última instância, pela própria ausência de um tratamento social e institucional que respeite sua identidade enquanto povo indígena.
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Crianças da etnia Hupd’äh brincam com estilingues e pedras na beira do rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira. Foto: Reprodução do documentário Beiradão/Hup Boyoh

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Redação

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