terça-feira, 1 de dezembro de 2015

SÃO PAULO - Um dia após anúncio de 'guerra' contra ocupações, alunos reclamam de truculência

na Rede Brasil Atual
CUT-SP protocolou pedido de audiência na Secretaria da Segurança Pública para que governo Alckmin responda sobre denúncias de violência praticada por policiais nas escolas ocupadas
por Sarah Fernandes

Protesto
Estudantes levaram cadeiras para o cruzamento das avenidas Faria Lima e Rebouças: aula na rua

São Paulo – Um dia depois de vazar a informação de que a Secretaria Estadual da Educação de São Paulo prepara uma “guerra” contra o movimento de estudantes que ocupam escolas em protesto à reorganização escolar, os adolescentes denunciaram hoje (30) ações truculentas da Polícia Militar nas unidades ocupadas. Mesmo indo contra determinação judicial, PMs entraram uma escola no extremo sul da capital e um aluno foi levado para a delegacia. Em Pinheiros, na zona oeste da capital paulista, policiais agiram com truculência contra estudantes que realizaram um ato. Na zona norte, estudantes têm sofrido intimidações.
Pelo menos dez policiais entraram, sem mandato judicial, na escola Honório Monteiro, em M'Boi Mirim, extremo sul da capital. “Havia uma aglomeração de estudantes, pais e professores na porta da escola. Foi quando chegaram cinco viaturas da PM. Ficamos com medo de bater de frente e eles entrarem na força, por isso fomos obrigados a dar passagem. Eles entraram pressionando. Eu e um aluno de 17 anos filmamos a ação e fomos presos e encaminhados à 100ª delegacia de polícia”, conta Gilberto Abreu Almeida, morador vizinho da escola que tem ajudado os estudantes a cuidar da escola ocupada.
Na delegacia, foi feito um boletim de ocorrência para relatar o fato, na presença de um advogado voluntário, e os dois foram liberados na sequência. “Foi desnecessário. Agora estamos alerta. Sabemos que nessa hora quem mais sofre são os mais pobres, que estão nas periferias”, critica Almeida. A ocupação continua.
Na escola Martin Egídio Damy, na Vila Brasilândia, zona norte da capital, um grupo de policiais militares tem pressionado os estudantes a saírem da escola. Na manhã de hoje (30), oficiais intimidaram os jovens. Na quarta-feira (25), um grupo de PMs chegou a pular o muro e invadir o colégio. "Os policiais estão mais agressivos. A gente não consegue dormir à noite direito. Tem pressão psicológica dos policiais, que chegam cedo na frente da escola, chamam aluno para sair da ocupação, para ‘conversar de homem para homem’. Mas vem com arma na mão. Na quarta passada, à noite, pularam o muro, com lanterna na mão, enquanto a gente fazia atividade na quadra", diz um dos estudantes, que preferiu não se identificar.
A CUT de São Paulo protocolou hoje um pedido de audiência na Secretaria daSegurança Pública (SSP-SP) para que o governo paulista responda sobre denúncias de violência praticada pela Polícia Militar nas ocupações de escolas. A instituição alega que há dias vem recebendo informações de professores e estudantes sobre a pressão exercida por policiais militares diariamente nas escolas públicas estaduais ocupadas por alunos e comunidade escolar, mesmo depois de a 7ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça proibir as reintegrações de posse na capital.
“Exigimos esclarecimento sobre essa pressão exercida pelo governo Alckmin (PSDB). Ainda mais depois do áudio que vazou pela internet com a fala do Fernando Padula Novaes, chefe de gabinete do secretário de Educação (Herman Voorwald), dizendo ser preciso organizar ações de guerra, e que parte dessa estratégia seria utilizar a PM para amedrontar os estudantes”, afirmou o presidente da CUT São Paulo, Douglas Izzo, em nota publicada no site da central.
Na manhã de ontem, pelo menos 40 dirigentes de ensino do estado se reuniram com Novaes e receberam instruções de como quebrar a resistência de alunos, professores e funcionários. O chefe de gabinete repetiu inúmeras vezes que se trata de "uma guerra", que merece como resposta "ações de guerra" e que "vai brigar até o fim”. Ele fala de isolar as escolas mais organizadas e diz que o objetivo é mostrar que o "dialogômetro" do lado deles só aumenta, e que a radicalização está "do lado de lá". O áudio foi publicado pelo coletivo Jornalistas Livres.
Como resposta, pelo menos 100 estudantes fizeram um protesto durante a manhã: eles levaram cadeiras da sala de aula para o cruzamento da avenida Faria Lima com a Rebouças, sentaram e travaram o fluxo de veículos. Trabalhadores que passaram pelo local aderiram ao movimento. Um grupo de policiais tentou apreender a força as cadeiras dos alunos. A ação provocou tumulto.
Entre as medidas da “reorganização” está o fechamento de pelo menos 93 escolas e a transferência compulsória de 311 mil alunos. Como resposta, 205 escolas estão ocupadas em todo o estado, segundo o último levantamento do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), divulgado na noite de hoje (30).
O governo Alckmin justificou o fechamento alegando que vai reunir apenas alunos do mesmo ciclo – fundamental 1 e 2 e médio – nas escolas e com isso melhorar a qualidade do ensino. Professores e estudantes temem que as mudanças levem à superlotação de salas, demissão de docentes e à redução de salários decorrente da redução de jornada. Além disso, a Apeoesp acredita que o número de escolas a serem fechadas será muito maior.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Leio, Logo...

por José Gilbert Arruda Martins

Foto: PG


Escrever bem é técnica?

Quem lê desde criança, escreve e se comunica melhor?

Uma coisa, observo desde muitos anos nesse ofício de professor, o jovem que a família incentiva a leitura desde cedo, se expressa muito melhor quando escreve e fala.

É gratificante ver, todos os dias, em salas de aula e corredores de escola, estudantes com livros nas mãos, fazendo deles, ferramenta de diversão e aprendizagem.

Se pesquisarmos os estudantes que foram bem, por exemplo, na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), dos últimos anos, a maioria é leitor frequente, é aquela garota ou garoto, que possui intimidade com os livros.

Não conheço nenhuma pesquisa que defenda que as pessoas já nasçam sabendo, ou que seres humanos, de alguma forma, nasçam com habilidades extraordinárias, isso é muito raro e, com certeza, não é a regra.

O que os especialistas, na sua maioria defendem, é que, certas habilidades são desenvolvidas com muita persistência, muito treino, muita disciplina.

Escrever bem, correto e com clareza é uma delas.

Portanto, leitura, leitura, muita leitura e livros, muitos livros, desde tenra idade. É fórmula mais que comprovada, pela realidade da vida de pessoas comuns.

Sua família tem alguma intimidade com os livros?

Nas reuniões com pais e mães, muita reclamação de que os filhos e filhas não leem, mas como? se o pai e a mãe, nunca pegaram num livro?

A família adquiri todo tipo de coisa e bugiganga, num consumismo louco,mas livro que é bom, nada!

Depois reclama dos filhos e filhas que não gostam da leitura, do livro...

Quem na sua casa é leitor contumaz?

Quantas livrarias sua rua, seu bairro ou sua cidade possui?

Segundo a Associação Nacional de Livrarias (ANL), o Brasil possui 3,1 mil livrarias, número muito pequeno em um país com mais de 202 milhões de habitantes e cerca de 5.650 municípios.

Mais pesquisa. Essa informação abaixo, preocupa e muito, pois a pesquisa demonstrou queda significativa no número de leitores, principalmente entre crianças e jovens.

"Dados da edição de 2012 da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, encomendada pela Fundação Pró-Livro e pelo Ibope Inteligência, mostram que os brasileiros estão cada vez mais trocando o hábito de ler jornais, revistas, livros e textos na internet por atividades como ver televisão, assistir a filmes em DVD, reunir-se com amigos e família e navegar na rede de computadores por diversão."

"Atualmente, as mulheres são maioria entre as pessoas com o hábito de ler pelo menos um livro a cada três meses (57%), e as faixas etárias que mais reúnem pessoas com o hábito de ler são entre 30 e 39 anos (16% do total), entre 5 e 10 anos (14%) e entre 18 e 24 anos (14%)."

Olha que boa notícia, a região Nordeste, uma das mais esquecidas pelo sistema e pelos governos ao longo de séculos, foi a única região brasileira, onde não houve queda na leitura.

"A queda do número de leitores foi apontada em todas as regiões brasileiras, com exceção do Nordeste, que ganhou um milhão de leitores entre 2007 e 2011, e onde a penetração da leitura subiu de 50% para 51%. Hoje, 29% de todos os leitores brasileiros vivem nesses estados, contra 25% em 2007. Por outro lado, no Sudeste, a penetração caiu de 59% para 50% do total da população e hoje responde por 43% do total de leitores, dois pontos percentuais a menos que na última edição da pesquisa. Nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sul vivem 8%, 8% e 13% dos leitores brasileiros, respectivamente."

Fontes:

http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cultura/literatura/noticia/2015/05/14/cidades-brasileiras-tem-poucas-livrarias-e-bibliotecas-diz-estudo-181256.php

http://br.blastingnews.com/cultura/2015/04/sete-em-cada-dez-brasileiros-nao-leram-um-livro-sequer-em-2014-00337047.html

http://g1.globo.com/educacao/noticia/2012/03/numero-de-leitores-caiu-91-no-pais-em-quatro-anos-segundo-pesquisa.html

http://rdplanalto.com/noticias/3457/dia-do-leitor-pesquisa-aponta-queda-no-numero-de-leitores-no-brasil





terça-feira, 24 de novembro de 2015

Uma escritora que mostra que a África não se resume a pobreza.

no Diário do Centro do Mundo

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Chimamanda Ngozi Adichie

por : 

“O problema com estereótipos não é que eles sejam falsos, mas sim que eles são incompletos. Eles fazem com que uma história se torne a única história”, diz Chimamanda Ngozi Adichie em sua palestra no TED Talks, The danger of a single story. Nessa palestra, a escritora nigeriana fala sobre a recepção dos seus romances e a surpresa de alguns leitores ao se depararem com a diversidade multicultural e multiétnica na Nigéria e na África em geral: a África não se resume apenas a miséria e pobreza. Chimamanda escreve sobre sua realidade, aliás, as diversas realidades presentes na Nigéria, suas tribos, tradições, hábitos e costumes. Pessoas ricas e pobres, boas e más, pessoas solidárias e pessoas que lucram com a guerra.
Meio Sol Amarelo, segundo romance da autora, tem como pano de fundo a guerra civil da Nigéria: alguns anos após a sua independência, em 1960, a região do sudeste da Nigéria, dominada pela etnia igbo, clamou pela separação do seu território, instaurando, em 1967, a República de Biafra. Lembremos que o território da Nigéria foi colonizado e “desenhado” de maneira arbitrária pelos europeus, de modo que as diversas tribos etnicamente diferentes que ali viviam (yorubás, hauçás, igbos etc) passaram a fazer parte de um mesmo país, juntamente com os seus conflitos culturais e religiosos – conflitos estes, aliás, instigados pelos britânicos.
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Voltando ao perigo da história única, neste romance vemos a mesma história na perspectiva de três personagens: Olanna, nigeriana de etnia igbo, tendo crescido em um lar abastado, fez sua graduação na Inglaterra e resolve se mudar para o sul do país, Nsukka, e lecionar sociologia na universidade, ao lado de seu companheiro revolucionário Odenigbo. Ugwu, rapaz vindo do vilarejo, de origem humilde, trabalha como empregado de Odenigbo e começa a ter uma visão diferente das coisas, numa casa visitada por intelectuais, onde reinam os debates sobre o desenvolvimento e a secessão de Biafra. Richard, jornalista inglês, decide ir para a Nigéria para escrever um romance. Lá, se apaixona por Kainene, irmã gêmea não-idêntica de Olanna, de personalidade forte e que frequenta os altos círculos sociais de Lagos.
Através do eixo Olanna-Ugwu-Richard, observamos as mudanças na Nigéria ao longo de uma década, desde a sua independência até o fim da República de Biafra. E vemos, sim, miséria, fome e guerras, mas também temáticas tão comuns a nós, americanos e europeus: conflitos familiares, discórdias e traições. Um primeiro aspecto que me chamou a atenção foi a relação de Olanna e Kainene que, apesar de irmãs gêmeas, possuem personalidades tão diferentes e uma relação marcada por desavenças, rivalidades e silêncio. Diante das atrocidades da guerra, uma das irmãs chega a afirmar, ao final da narrativa: “Há certas coisas que são tão imperdoáveis que tornam outras facilmente desculpáveis”. Outro ponto interessante no romance é o olhar de Richard, europeu deslocado, que se sente finalmente em casa quando a República de Biafra é instaurada em 1967: ele é cidadão biafrense desde o início, como um recomeço. Há cena marcante em que ele demonstra seu orgulho, a europeus como ele, de ser um cidadão biafrense e de dominar o idioma igbo. O livro ainda discute o racismo – que será aprofundado no romance seguinte de Chimamanda -, especialmente num belo trecho em que Odenigbo e seus colegas discutem o fato de o homem branco ter rotulado e dividido os negros africanos.
A escrita de Chimamanda é clara e direta, mas também bastante poética. Além do ponto de vista destes três personagens, a narrativa é fragmentada, indo e vindo entre o início e o final da década de 1960. Meio Sol Amarelo foi publicado em 2006 e ganhou os prêmios Baileys Women’s Prize for Fiction, um dos prêmios mais prestigiados de literatura na Inglaterra, o Anisfield-Wolf Book AwardPEN Open Book Award. O título se refere ao meio sol desenhado na bandeira da República de Biafra. O romance foi adaptado para os cinemas em 2013 e conta com a participação do astro de Doze anos de escravidão, Chiwetel Ejiofor, no papel de Odenigbo. O filme também traz cenas reais da época da guerra e do presidente de Biafra, Ojukwu.
Chimamanda Adichie tem ainda dois outros romances publicados, Hibisco Roxo(2003) e Americanah (2013), que também está sendo adaptado para o cinema, e um livro de contos, The thing around your neck (2009), ainda não publicado em português. Ela também declarou seu feminismo em uma outra palestra no TED, We should all be feminists. Alguns trechos desse discurso estão presentes na música Flawless, de Beyoncé, o que tem dado a Chimamanda uma certa notoriedade na América. We should all be feminists virou um pequeno livro, cujo e-book você poderá ler gratuitamente em português aqui.
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Luísa Gadelha
Sobre o Autor
Luísa é servidora da Universidade Federal da Paraíba. Graduada e mestra em Letras, é apaixonada por literatura desde sempre, dos clássicos aos contemporâneos. Também adora quadrinhos e atualmente é graduanda em Filosofia.

domingo, 22 de novembro de 2015

Os coxinhas perderam, e as crianças dos coxinhas mais ainda...

por José Gilbert Arruda Martins

Não sou muito afeito a ditados populares, mas existe um que diz "filho de peixe, peixinho é". Por que essa agora de ditado popular?

Retirada à força dos coxinhas da Esplanada

A questão é psicopedagógica, esquizofrênica e de formação.

Psicopedagógica, porque envolve, infelizmente, os coxinhas pequenos. Filhos e filhas dos coxinhas.

Esquizofrênica, porque os caras além de serem completamente desinformados, mergulharam em uma verdadeira loucura coletiva.

De formação, por que envolve além das crianças, vítimas da descompustura e da irresponsabilidade dos "responsáveis", envolve adultos, e esses adultos, são analfabetos políticos, que pedem a volta da ditadura militar e não foram as aulas de história para aprender que, a ditadura militar só trouxe tristeza e violência.

Muitos coxinhas mais velhos, que como todos sabem, não são contra corrupção nenhuma, por que se fossem, estariam nas ruas e em casa batendo panelas contra o Cunha e o próprio PSDB, e não dando provas diárias de sua ignorância histórica e política, atacando um governo legítimo, eleito democraticamente pela maioria do povo brasileiro.

Esses mesmo coxinhas, que atacaram a caminhada de mulheres negras na quinta feira passada, além de esparramar seu ódio, quase incontrolado, contra tudo que é democrático nesse país, levam seus filhos e filhas pequenas - cerca de 4, 5 e sete anos -, para gritar e xingar palavrões de discursos de ódio nos movimentos golpistas que patrocinam em várias partes do país.

Aqui em Brasília, 3a. capital, com mais coxinhas do país, só perde para São Paulo e Coritiba, mães e pais coxinhas, levam filhos pequenos aos movimentos.

Na quinta - feira passada, a CUT, que também armou acampamento na Esplanada, foi notificada para retirar suas barracas, de pronto desarmamos tudo e saímos, os coxinhas não respeitaram a ordem legal estabelecida pelas autoridades e permaneceram, foram retirados à força.

No meio disso tudo, muitas crianças, muitas mesmo.

O que fazer?

O que fazer, se os responsáveis continuam a levá-las a movimentos cheios de ódio?

Essas crianças, infelizmente têm tudo para, no futuro, replicarem o que estão aprendendo com os adultos que deveriam respeitá-las.

Aprendendo o quê?

Como odiar, como desrespeitar o estado de Direito, como forjar um golpe, como entrar em movimentos com total desconhecimento dos fatos, como ser teleguiado por uma mídia irresponsável.

O Ministério Público deveria atuar, deveria entrar nessa seara para, à força da lei, ensinar a esses pais e mães coxinhas que os filhos e filhas, devem ser poupados dessa avalanche de ódio.

Os coxinhas, nunca leram muita coisa além da revista esgoto veja, por que se tivessem lido, teriam visto que os especialistas da área, entre eles, Piaget, sempre defenderam que as pessoas têm suas etapas de desenvolvimento psico-motor etc. que devem ser respeitadas para o bem da própria criança.

Os pais e mães coxinhas, estão plantando sementes de ódio que poderão, num futuro breve, serem colhidas, não apenas pela sociedade, mas por eles próprios, esse ódio pode se virar contra esses pais e mães irresponsáveis na primeira esquina da vida.

RACISMO À BRASILEIRA - Superada a tese da superioridade branca, restou a desigualdade

na Rede Brasil Atual
A ciência já desconstruiu teses que atribuíam a uma suposta inferioridade genética a origem da discriminação racial. As estruturas da sociedade, porém, ainda estão em débito com o senso de igualdade
por Letícia Vidor
Racismo_Unesp
O professor Juarez: “Comportamento orquestrado”


“Juarez Macaco.” “Unesp cheia de macacos fedidos.” “Negras fedem.” As frases nas paredes de um banheiro no campus Bauru da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), no final de julho, escancaram o racismo crônico brasileiro. O desprezo não poupa ninguém com raízes africanas. Mesmo alguém que tenha vencido a discriminação e alcançado título de docente numa universidade estadual. Aos 55 anos, Juarez Tadeu de Paula Xavier, professsor do curso de Jornalismo, cravou, em entrevista à TV Unesp: “Os banheiros sempre serão porta para esses comportamentos. Mas de forma tão orquestrada assim é a primeira vez que eu vejo”.
O preconceito de raça tem raízes profundas, do tempo em que o homem habitava as cavernas. Embora sua origem tenha explicação na necessidade de defesa para garantir assim a sobrevivência, a discriminação resulta de aspectos biológicos articulados com sociais e ambientais ao longo do tempo. No século 19, quando apenas os povos europeus eram considerados civilizados, raça era considerada fundamental para definir o potencial “civilizatório” de uma nação. Segundo a teoria predominante na Europa na primeira metade do século 19, o evolucionismo social, a espécie humana é uma só, mas se desenvolveria em ritmos desiguais e passaria pelas mesmas etapas até atingir o último nível que é o da “civilização”.
No topo estaria a “civilização” europeia e na base, os povos negros e indígenas. Uma teoria criticada por considerar apenas critérios ocidentais de progresso.
A partir da independência do Brasil, em 1822, a identidade nacional foi para o centro do debate. Estudiosos estrangeiros viam o país como um laboratório racial por causa da miscigenação. O naturalista alemão Von Martius, ao defender que a trajetória social brasileira funde o branco, o negro e o índio, venceu em 1844 o concurso “Como escrever a História do Brasil”, de um recém-criado Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Com o fim da escravidão, em 1888, e a proclamação da República, em 1889, é concedida igualdade jurídica a todos os brasileiros. Em 1890, é promulgado o primeiro Código Penal republicano. Quatro anos depois, o médico baiano Nina Rodrigues publica As Raças Humanas e a Responsabilidade Penal no Brasil. Sua intenção era definir critérios diferenciados de cidadania para negros e brancos.
Ganhava força o determinismo racial, teoria criada na segunda metade do século 19 por cientistas europeus. Para eles, a raça determinava as características físicas, o caráter e o comportamento dos indivíduos. A preservação de “tipos puros” seria o remédio contra a degeneração racial e social causada pela mistura de raças. Temiam as características físicas e psicológicas do mestiço, até então desconhecidas. Acreditavam que a miscigenação poderia inviabilizar o Brasil como nação.
O livro A Curva Normal (1994) tentou consolidar um suposto conceito de raça. Segundo seus autores, os norte-americanos Charles Murray e Richard Herrnstein, a inteligência seria mais generosa entre os brancos, especialmente os mais ricos. Sem fundamento científico, o trabalho remete ao pensamento da metade do século 19, aferindo os “limites” da raça negra, biologicamente incapaz de se adaptar à “civilização” que se impunha.
A ciência, no entanto, mostra que existe apenas uma raça humana: a que surgiu na África. Em 2002, pesquisadores norte-americanos, franceses e russos se dedicaram a comparar 377 partes do DNA de 1.056 pessoas provenientes de 52 populações de todos os continentes. Concluíram que 95% da diferença genética entre os seres humanos está nos indivíduos de um mesmo grupo, e que a diversidade entre as populações é responsável por menos de 5%. Ou seja, o genoma de um africano pode ter mais semelhanças com o de um norueguês do que com o de alguém que tenha nascido na África, de família negra.
A descoberta veio a confirmar que raças são populações que apresentam diferenças significativas quanto à frequência de seus genes, embora exista entre diferentes raças um grande número de genes em comum, como aqueles que formam o fígado, por exemplo, conforme explica o pioneiro da genética humana no Brasil, Oswaldo Frota-Pessoa (1917-2010).
Para ele, o conceito de raça é comparativo porque a “raciação” é um processo longo e contínuo, produzindo raças dentro de raças, é o grau de diferença entre as raças varia. E mesmo que um grupo étnico indique o conjunto de suas características culturais e genéticas, as raças não são estáticas porque representam estágios de evolução em constante mudança.

O bem da mestiçagem

O determinismo racial começou a ser descartado a partir de 1933, com a publicação de Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre. O mestiço é alçado à principal marca da originalidade nacional e os símbolos étnicos negros são transformados em símbolos nacionais. Exemplo disso é o samba carioca, consagrado no país e no exterior como ícone da diversidade racial e cultural. Surgido na década de 1910, nos redutos negros dos bairros da Saúde, Gamboa e Cidade Nova, nas casas das lendárias “tias baianas”, como a famosa Tia Ciata, o samba foi ganhando espaço no Brasil e no mundo. Tanto que, em 1922, Paris recebeu o conjunto musical Oito Batutas, do qual faziam Pixinguinha e Donga – que assina ao lado de Mauro de Almeida a autoria de Pelo Telefone (1917), o primeiro samba gravado.
A obra de Freyre foi divisor de águas para o entendimento do racismo como subproduto de conflitos de classes, pondo abaixo qualquer interpretação de ordem biológica, genética ou evolucionista.
Último país a abolir a escravidão, o Brasil ainda preserva o preconceito contra afrodescendentes, embora em diversas pesquisas a maioria declare não ser racista. O racismo definido pelo cientista social Florestan Fernandes (1920-1995) como “o preconceito de ter preconceito” leva muita gente a chamar uma pessoa negra de mulata, escurinha ou moreninha.
A partir de 1989 o racismo passou a ser um crime inafiançável. A pretensa igualdade racial, porém, não se ampara no cotidiano. Os indicadores sociais também não são um atestado de fé para nossa democracia racial. O Censo do IBGE 2010 mostra que 52% da população se autodeclara negra e parda. Mas do total dos 10% mais pobres do país, 70% são negros. A renda média mensal dos que não têm instrução é de R$ 1.284 entre os brancos e R$ 1.038 entre os negros. Entre as brancas, essa média é de R$ 925, e de R$ 658, para as negras. Segundo um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2014 a chance de um adolescente negro ser assassinado era 3,7 vezes maior do que a de um adolescente branco.
Algumas iniciativas vêm sendo tomadas para combater o racismo. Há cinco anos foi promulgado o Estatuto da Igualdade Racial, que determina a promoção da igualdade de oportunidades. Por meio dele foi criado o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial, para articular políticas das três esferas do governo, as cotas nas universidades e no serviço público, além da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.

Há ainda a Lei 10.639/03, que determina o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena nos currículos de Ensino Fundamental e Ensino Médio nas escolas. É possível que a partir do momento em que seja posta em prática, a disciplina possa contribuir com a formação de uma nova visão a respeito de nossa formação. Como a lei mal saiu do papel para a maioria das escolas, essa omissão ilustra tanto o racismo oculto brasileiro como o papel omisso do sistema educacional em suas origens.

O que esperar de fascistas?

no Pragmatismo Político

Manifestante ferido na cabeça durante confronto com os acampados pró-ditadura militar em Brasília conta como os intervencionistas tentaram acabar com a Marcha das Mulheres Negras

Marcha Mulheres negras fascistas

O que essa roupa manchada de sangue revela (imagem acima) é a face truculenta de um movimento que clama pelo retorno à ditadura militar. O movimento está acampado em frente ao Congresso Nacional, e é o mesmo que tinha entre eles um policial civil, que há poucos dias foi preso por porte ilegal de arma, e que ontem foi flagrado disparando tiros para o alto quando a Marcha se manifestava em frente ao Congresso.
O grupo entrou em confronto com a grande Marcha das Mulheres Negras, que teve como bandeira ser “contra o racismo, a violência, e pelo bem viver”. Num momento de tumulto, ocasionado pelo incômodo do grupo fascista ao ver as milhares de mulheres e homens negras(os) em marcha, o grupo passou a lançar rojões e bombas de efeito moral contra a marcha, e incitar o confronto. Um dos homens dizia “queria ver vocês era no ‘pau de arara’!!”.
Num outro momento um homem branco, vestido com roupas pretas e um boné preto, agredia mulheres e homens da Marcha com um guarda-chuva grande, que a cada golpe quebrava a estrutura metálica podendo furar alguém.
Um manifestante da Marcha (foto) se aproximou para somar esforços às mulheres e homens que estavam ali e gritou para o fascista “Ninguém aqui vai bater em mulher negra!”. Essa era uma das bandeiras da Marcha: o fim da violência contra mulheres, e é sabido que as mulheres negras representam 60% do total de agressões de violência de gênero, e que o total de homicídios contra mulheres negras aumentou 54% em uma década.
O homem que defendia a ditadura militar e que estava sendo contido por mulheres da Marcha deixou de bater com o guarda-chuva nas pessoas ao seu redor e se voltou contra o militante negro para agredi-lo, ao que este reagiu, mas pouco depois foi derrubado por outros acampados defensores da ditadura.
Pelo visto, o que abriu o ferimento na cabeça do militante da Marcha foi o ferro do guarda-chuva, causando-lhe um ferimento leve, mas o bastante para provocar a hemorragia mostrada na foto. O rapaz, que prefere não se identificar, passa bem, e afirmou que barrar a violência, a ditadura e o racismo é um caminho necessário para um mundo igualitário, e que apesar de ser ferido na cabeça, os ideais defendidos na Marcha seguem agora mais fortes ainda.
Relato e imagem enviados a Pragmatismo Político por um manifestante que prefere não se identificar a fim de preservar sua integridade

Democracia só é plena se produz e distribui conquistas econômicas

na Rede Brasil Atual
Dilma conseguiu reunir as forças em defesa do mandato e afinou discurso em direção a sua base social. Mas enquanto não mudar a condução de sua política econômica, não terá sossego
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Dilma no congresso da CUT ao lado de Carmen Foro, Lula, Vagner Freitas e José Mujica: discurso duro e otimista

Passado pouco mais de um mês de uma reforma ministerial calculada pelo governo como meio de reorganizar sua base no Congresso, os resultados ainda não são palpáveis. Paira no ambiente político, no entanto, a sensação de que o mandato de Dilma Rousseff ganhou fôlego. Tornaram-se frequentes os sinais de que o Planalto pretende corrigir um defeito antigo: a ausência de diálogo. As reuniões com governadores, prefeitos e parlamentares de partidos que em tese compõem a coligação governista – mas não dão segurança sobre de que lado estarão em votações importantes para fechar o ano – tornaram-se mais frequentes nas agendas da presidenta e dos ministros escalados para tocar a articulação política: Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo).
Por votações importantes entenda-se as que devem transformar em leis medidas provisórias fundamentais para o Executivo, os projetos de adversários que podem transformar planos do governo em pesadelos e, por fim, os que podem levar adiante no Legislativo um processo de impeachment. A fragilização de um dos principais inimigos declarados do governo petista, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ainda não bastou para o governo pôr ordem na base. Atolado em evidências de que tem dinheiro sujo depositado em contas na Suíça, Cunha só não foi destroçado politicamente por ser a penúltima cartada da oposição, inclusive a midiática, no intuito de manter o governo acuado. O tratamento dado a ele e seus familiares por lideranças de PSDB, DEM e SD – a tropa de choque do golpe –, pelos jornais e por setores do Judiciário chega a ser mais indecente do que as suspeitas que a qualquer momento podem encerrar seu mandato.
Além desses respiros, a presidenta fez gestos mais contundentes em direção à base social que proporcionou a vitória eleitoral do ano passado. Ensaiados desde o início do segundo semestre, com a recepção de movimentos sociais e eventos no Planalto, esses sinais tiveram como ponto alto a participação de Dilma na abertura do congresso da CUT, em 13 de outubro. Confirmada de última hora, a presença deixou uma marca de otimismo entre seus apoiadores pelo discurso mais duro desde 2014 dirigido aos opositores. Dilma definiu sem rodeios os que pretendem “criar uma onda” que leve ao “encurtamento” de seu mandato como golpistas e “moralistas sem moral”.
“Vivemos uma crise política séria no nosso país, que se expressa na tentativa de nossos opositores de fazer um terceiro turno. Jogam sem nenhum pudor no quanto pior, melhor. Pior para a população e melhor para eles. Envenenam a população todos os dias nas redes sociais e na mídia. Espalham o ódio e a intolerância”, afirmou a presidenta. Ela mandou indireta a Cunha de que não negociaria sobre a situação dele – “Jamais negociaremos com os malfeitos” – e desafiou detratores: “Quem tem força moral, reputação ilibada e biografia limpa suficientes para atacar a minha honra?”.

É a economia, companheira

Antes de partir para o ataque contra os adversários, porém, Dilma começou sua intervenção na defesa, tentando explicar “escolhas dolorosas” de início de mandato, em busca de governabilidade e equilíbrio fiscal. Voltou a afirmar que os programas sociais são o “centro e espírito deste governo” e o objetivo de fazer uma transição para um “novo ciclo de desenvolvimento”. “Não estamos parados. Sabemos que existem dificuldades econômicas. E fazemos tudo para que o país volte a crescer.”
A presidenta deixou o local após concluir seu discurso. Não presenciou as falas que se seguiram. Teria ouvido do presidente reeleito da CUT, Vagner Freitas, que a central rejeitará qualquer tentativa de “golpe” e irá às ruas para defender a democracia e a manutenção de conquistas sociais, mas que caberá ao governo tomar decisões políticas com mais diálogo e menos rigor fiscal. Freitas cobrou redução dos juros, ampliação do crédito do ­BNDES para micros e pequenas empresas, tributação dos mais ricos e ressaltou: “O ajuste não pode sufocar o país. Com essa política econômica é impossível retomar o crescimento com distribuição de renda. Não é possível que o ajuste seja a única proposta econômica para o Brasil”.
Em seguida, Lula registrou com entusiasmo que Dilma começou a fazer história como líder política. “É essa Dilminha que elegemos”, disse, ao defender que a presidenta precisa de “paz” para exercer o mandato, e que isso exige também mudanças na economia. “Não tem um país no mundo que tenha feito ajuste e que tenha melhorado a economia”, afirmou o ex-presidente, alertando para o risco de adotar o discurso “da direita”, de que é preciso ter desemprego para não haver inflação. “A impressão que passamos à sociedade é que adotamos o discurso dos que perderam a eleição.”
Mas a eleição não foi totalmente perdida pelo campo conservador, como observou, no dia seguinte, o sociólogo Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). “Há uma pauta regressiva e antipopular. Hoje talvez a direita não está unificada em sua tática, mas está na estratégia de fazer um programa de contrarreformas”, avalia Boulos, que vê três táticas distintas em operação pelo conservadorismo: uma, capitaneada pelo “moleque chamado Aécio Neves”, de anular o resultado das urnas por meio de processos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE); outra “mais esperta e mais perigosa”, representada pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e pelo ex-presidente Fernando Henrique, que não quer o impeachment, mas “sangrar” o governo até 2018 com objetivo de destruir moralmente as conquistas; e uma terceira posição, que seria a de Michel Temer e José Serra, que trabalha pelo impeachment via Congresso.
“Neste cenário complexo e difícil estamos diante do desafio de evitar dois erros fundamentais. O primeiro seria, em nome de enfrentar o ajuste fiscal, subestimar a ofensiva conservadora e o golpismo, achando que essa onda antipetista é só contra o PT. Tenho clareza que esse antipetismo que está nas ruas é antiesquerda. O problema deles é com as causas populares. Se alguém da esquerda achar que vai tirar algum caldo dessa onda, vai é se afogar nela”, alertou. “O segundo erro a evitar seria, em nome da necessidade clara e definida de combater o golpismo da direita, silenciar sobre o ajuste fiscal e ignorar ataques a direitos. Achar que fazer crítica é fazer o jogo da direita também é um erro cruel, um tiro no pé, porque nos tiraria a capacidade de dialogar com os trabalhadores e com a maioria que está insatisfeita.”
Para Boulos, esse diagnóstico põe a esquerda no fio na navalha. “Temos de defender a democracia, mas não apenas a democracia política. Precisamos também defender a democracia econômica. Não há democracia no mundo em que 1% da população tem mais do que os outros 99%. Precisamos recuperar um espaço que perdemos de se fazer política, as ruas, e não há espaço vazio. Se o perdemos, a direita vem e toma.”
Os debates do congresso da CUT conduziram a alguns consensos em relação ao momento das esquerdas. Um deles foi essa constatação de que a democracia política por si só não se sustenta. A associação foi feita em vários momentos por personalidades o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia, o presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), João Felício, e o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Gilmar Mauro.
Os oradores apontaram para situações de golpes contra a democracia econômica em direção à qual os governos da América do Sul vêm tentando caminhar desde o início do século 21. Garcia lembrou que a ausência do acesso das maiorias da população a conquistas materiais e sociais ao final das ditaduras sangrentas do século passado quase frustraram as sociedades. Mas, para ele, foi com a democracia que a reconstrução dos movimentos sindicais e sociais e dos partidos de esquerda após os períodos autoritários levou à conquista dos governos pós-neoliberais. “Chile, Venezuela, Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia, Equador, todos foram sacudidos pela vontade popular por mais igualdade”, observou. “Foi essa a demanda que moveu a revolução democrática em curso no continente.”
E seria esse processo social o maior ameaçado pelas pretensões golpistas, das quais fazem parte as corporações mais preocupadas com a competitividade em escala global do que com a realidade social dos países em que atuam, como lembrou João Felício. “Sabemos que muitas se envolveram na derrubada de governos democráticos e muitas participaram em episódios de tentativas de desestabilização.”
Mais que desestabilização, “tempestade”, classificou Gilmar Mauro. “Mas quem tem raízes não teme tempestade. No mundo todo os movimentos sociais sofrem ataques”, destacou, traduzindo como democracia econômica combater a “coisificação do ser humano”. Para ele, inverter essa lógica é disputar a democratização dos recursos do petróleo, do direito à educação, à informação, à terra. “Quem faz mudança social é o povo organizado, não é dirigente de movimento. A política foi sequestrada pelos empresários.”
*Com reportagens de Helder Lima, Paulo Donizetti de Souza e Vitor Nuzzi
Deseducação política

O predomínio dos interesses empresariais no Congresso é objeto de advertência do diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) Antônio Augusto de Queiroz, o Toninho. A esquerda, além de buscar a unidade nas diversas frentes de resistência que vêm se formando no âmbito dos movimentos sociais, precisa de uma estratégia institucional. Para Toninho, o campo progressista deve evitar erros para que não seja “atropelado pela direita e perca o trem da história nas próximas eleições”.Em sua avaliação, cita o que considera equívocos na formação de alianças eleitorais, lembrando que o PT se coligou em Pernambuco, por exemplo, com a centro-direita e não elegeu nenhum deputado – se tivesse saído sozinho, teria elegido três. “Em Brasília, se tivesse saído sozinho elegia dois, mas na coligação elegeu um cara da extrema-direita. Essa lógica dos partidos de querer fazer aliança para ter mais recursos do fundo partidário contribuiu para distorcer a representação, favoreceu os conservadores.”O analista ilustra o teor nocivo dessa falta de coerência no processo de discussão do orçamento da União para 2016. O relator, deputado Ricardo Barros (PP-PR), sugeriu corte de R$ 10 bilhões do Bolsa Família. “Absurdo completo sobre um programa social estrutural do governo. Isso significa que não há coerência nessa vontade da base”, avalia Toninho. Barros é vice-líder do governo na Câmara. “Esses caras entraram para implementar sua própria agenda e não a do governo. As forças à esquerda no espectro político não estão percebendo isso e não vão para o enfrentamento. Fica nessa coisa de compor e fazer concessões, não faz o menor sentido”, critica.O diretor do Diap admite que a atual legislatura piorou em relação à anterior em parte como resultado da campanha “moralista, justiceira, de associar a esquerda a corrupção, houve uma série de movimentos que foram determinantes para a alteração dessa composição”. E teme que isso piore nas próximas eleições.Para o cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília, os ataques indiscriminados da oposição ao governo, sobretudo aos programas sociais, seguem uma lógica perversa. “A eficiência do governo está sendo colocada em xeque principalmente pelo problema da corrupção, que não tem relação direta com os programas sociais, mas trabalha a percepção das pessoas no sentido de dizer que o governo não cumpre bem seu papel. E aí surge uma confusão traiçoeira. Em vez de discutir o aperfeiçoamento do processo, você começa a discutir o fim do processo, algo do tipo ‘então vamos acabar com isso, vamos acabar com o Estado’. É uma opção de não avançar na solução dos desequilíbrios estruturais e históricos da sociedade.”

sábado, 21 de novembro de 2015

A mídia e a idiotização política

no Pragmatismo Político
jornalismo mídia desonesta economia crise

André Falcão*
Para impedir a eleição de Lula, a grande imprensa divulgou que Abílio Diniz, aquele do Pão de Açúcar, fora sequestrado por militantes do PT. Mentira. Noutro episódio, fez um escarcéu da gota com uma pedra-petista que teria sido desferida contra o-cara-que-não-sossega-enquanto-não-entregar-o-pré-sal-ao-capital-estrangeiro, o Zé Serra, uma dos maiores vendilhões tupiniquins, ao lado do candidato-chorão-que-nunca-deu-um-tapa-numa-broa-mas-que-adora-aeroporto-helicóptero-dar-porrada-em-mulher-e-outras-coisitas-mais, o Aébrio, ops, Aécio. Descobriu-se que a pedra tinha sido uma perigosa bolinha de papel.
Às vésperas da última eleição, a revista-esgoto-do-jornalismo-nacional noticiou, em mais uma de suas capas e matérias criminosas, que Lula e Dilma “sabiam de tudo”. Resultado: Mentira. Não há nada contra um, nem contra o outro, mas o há, na própria Lava Jato, e contra a maior parte dos que lhe fazem oposição, inclusive em outras operações que não têm o amparo midiático, como Furnas, Zelotes, o Trensalão Tucano, etc.
A mesma mídia grande — não uso a expressão “grande mídia”, por razões óbvias — martela nossos olhos e ouvidos diariamente com manchetes e matérias alarmantes que transitam da “crise”, para “apesar da crise” — quando a notícia é boa e daquelas que não podem ser omitidas. A crise que nos assola(!), e não aquela que permeia toda a economia mundial desde 2008, aí incluídos, entre suas vítimas, nada menos do que a Europa inteira, os EUA e até a China.
Passamos a sentir os efeitos da crise apenas em 2015. De 2008 a 2014, vivemos com as menores taxas de desemprego da história, com inúmeros programas sociais inéditos e vitoriosos, uma carreada de universidades federais e escolas técnicas construídas e com inflação baixa e controlada. Formos fazer uma análise do que é veiculado na mídia internacional, constataremos que o principal temor da população é a instabilidade econômica mundial. Aqui, entretanto, a crise é tratada fora do contexto em que se encontra, como se fosse um mal nosso, fruto de um governo inoperante e que inventou a corrupção.
Enquanto isto, Lula é o presidente que mais homenagens de países e organismos internacionais recebeu de toda a história; Dilma, a presidente que mais combateu a corrupção e mais entregou casas à população; e o Brasil-gastador o país com mais de 370 milhões de dólares de reservas (FHC deixou a presidência, em 2002, com um caixa de 37 milhões de dólares, devendo ao FMI e ao escambau). Tá bom ou quer mais?
*André Falcão é advogado e autor do Blog do André Falcão. Escreve semanalmente para Pragmatismo Político

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Consciência "Branca"?

por José Gilbert Arruda Martins

Vamos mudar a cor da foto do perfil hoje?

Você mudou sua foto de perfil em abril de 2015, quando 150 pessoas, na sua grande maioria, jovens, foram mortos em um atentado na Universidade de Garissa? (http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/04/quenia-enterra-vitimas-de-massacre-em-universidade.html)


Massacre na Universidade de Garissa no Quênia, abril 2015


Quantos de nós conhece a realidade sócio-cultural e política do País, ao ponto de parar um pouco, pensar um pouco e saber o porquê do "Dia da Consciência Negra"?

Quantos de nós, parou para refletir que a construção desse imenso país, que deveria ser de todos e todas, foi, e é um trabalho coletivo, que envolveu e envolve brasileiros e brasileiras de todas as cores?

Quantos de nós, percebeu ou percebe a importância do trabalho do negro e da negra na construção econômica e social desse país?

A História parece que passou e, muitos de nós não a vivemos, ficamos na janela da nossa mesquinhez, impávidos, inertes, assistindo, como ainda hoje nós fazemos, a exploração, a violência, os maus-tratos e os assassinatos de meninos e meninas negras.

Mudar a cor da foto do perfil, numa atitude de solidariedade a um outro país que viveu a violência covarde e absurda de um ato terrorista, é bacana, beleza mesmo, mas...

Mas, você conhece como foi construída a relação da Europa com a Ásia e a África ao longo desses 500 anos?

Você vai dizer dizer que é besteira, que estou, de uma forma ou de outra apoiando o terror. Não, não estou, minha exposição é clara, o terrorismo, qualquer um, é covardia.

A questão é: quando mudo a cor da foto do meu perfil na internet, em apoio a uma causa, é apenas para ficar mais bonita? é apenas para entrar na onda? ou tenho um propósito? sei dos fatos, conheço ou procurei conhecer o contexto?

Você mudou sua foto de perfil em abril de 2015, quando 150 pessoas, na sua grande maioria, jovens, foram mortos em um atentado na Universidade de Garissa? (http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/04/quenia-enterra-vitimas-de-massacre-em-universidade.html)

Qual ou quais as diferenças básicas entre os atentados de Paris e o do Quênia?

Duas diferenças básicas: O país era o Quênia na África e as vítimas eram negras.

Negros e negras, de todas as idades, sexo e credos, vêm sendo assassinados aos milhares ao longo desses últimos 500 anos e você aí mudando a cor da foto do perfil com as cores da França.

A moda passa, a morte fica.

Se sua mesquinhez permitir, olha ao redor que ouvirás o som da morte de teus irmãos e irmãs negras do Brasil e da África.

O 20 de novembro é para lembrar. É para pensar. É para enxergar.

Mude a cor da sua foto do perfil, mas mude também sua consciência, milhares de jovens negros estão sendo assassinados no Brasil e você só viu que é bonitinho, pôr as cores da bandeira francesa na tua cara, para encobrir tua estupidez e ignorância dos sons e imagens reais ao redor.


Cotas garantem o acesso de 150 mil negros ao ensino superior no Brasil

no Pragmatismo Político

Consideradas constitucionais pelo Supremo Tribunal Federal (STF) há três anos, cotas já incluíram 150 mil negros nas universidades brasileiras

negros universidade cotas Brasil

A batalha para combater o racismo no Brasil é longa. Para se ter uma ideia, o primeiro projeto de lei propondo ações afirmativas para população negra foi apresentado em 1983, com o nº 1.332, para garantir o princípio da isonomia social do negro. Mas somente em 2012, tais ações foram consideradas constitucionais pelo Supremo Tribunal Federal (STF), com a aprovação da Lei das Cotas nas universidades.
O ministro Ricardo Lewandowski, relator do projeto, ressaltou na época que apenas 2% dos negros conquistavam o diploma de ensino superior.
A aprovação da lei que institui cotas raciais nas universidades federais completou três anos em 2015. Nesse tempo, garantiu o acesso de 150 mil estudantes negros ao ensino superior, segundo a Secretaria de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial (Seppir).
A lei instituiu a reserva de 50% das vagas em todos os cursos nas instituições federais de ensino superior levando em conta critérios sociorraciais. A meta era atingir esse percentual gradualmente, chegando à metade de vagas reservadas até o final de 2016. Segundo os números do Ministério da Educação, em 2013, o percentual de vagas para cotistas foi de 33% e em 2014, 40%.
A quantidade de jovens negros que ingressaram no ensino superior também cresceu, passando de 50.937 vagas preenchidas por negros, em 2013, para 60.731, em 2014. Atualmente, entre universidades federais e institutos federais, 128 instituições adotam a lei de cotas.
O Secretário Nacional de Combate ao Racismo do PT, Nelson Padilha, comemora que “finalmente” o Brasil percebe que quem precisa das políticas de igualdade racial não são só os negros, mas toda a população brasileira.
“Quem perde com a ausência dos negros nos espaços privilegiados é o Brasil. São milhões de cérebros qualificados e saudáveis que acabam sendo preteridos por conta do racismo institucional”, afirma.
Para Padilha, as políticas implementadas nos governos do PT significam um grande avanço para o Brasil. “Mas precisamos aumentar a quantidade de universidades que não instituíram a política de cotas”, completa.
O secretário cobra, no entanto, mais foco no cumprimento e fiscalização da lei 10.639/03, que pretende levar para as salas de aula mais sobre a cultura afro-brasileira e africana, propondo novas diretrizes para valorizar e ressaltar a presença africana na sociedade.
“Garantindo a inclusão dos conteúdos relacionados a África em todo o espectro de ensino, ela vai ajudar a desmontar os preconceitos”, ressalta.

Políticas públicas

Os estudantes negros têm acesso também ao Fies e ao Prouni, que auxiliam noingresso e na permanência desses estudantes em instituições privadas de ensino superior. Dados do Ministério da Educação referentes a 2014 mostram que os negros são maioria nos financiamentos do Fies, cerca de 50,07% e nas bolsas do Prouni, 52,1%.
Em entrevista ao “Portal Brasil”, a representante da ONU Mulheres Brasil, Nadine Gasman, ressaltou que na última década o Brasil decidiu acumular esforços e criar um espaço para que sejam criadas estratégias que façam a diferença para as populações afrodescendentes, com ênfase na intersecção entre raça e gênero, porque as mulheres negras estão em situação de maior vulnerabilidade.
De acordo com o Mapa da Violência 2015, o número de mulheres negras mortas cresceu 54% em entre 2003 e 2013, enquanto o número de mulheres brancas assassinadas caiu 10% no mesmo período. No total, 55,3% dos crimes contra mulheres foram cometidos no ambiente doméstico, e em 33,2% dos casos os homicidas eram parceiros ou ex-parceiros das vítimas.
Para Nadine, a criação de leis como Maria da Penha e do Feminicídio devem reduzir essa violência nos próximos anos.