terça-feira, 30 de setembro de 2014

Dilma a 4 pontos do 1°. turno! Quem com pesquisa feria, o Tijolaço agora fere

De Graça, no face do C Af

No Conversa Afiada - 30/09/2014
O Fernando Brito está impossível: assim a Bolsa fecha, Fernando !

PESQUISA CNT/MDA: DILMA A 4 PONTOS DE FECHAR NO 1° TURNO. MARINA DESPENCA, AÉCIO SOBE

Na pesquisa CNT/MDA  divulgada agora há pouco, Dilma Rousseff subiu para 40,4% das intenções de voto, 4,4 pontos a mais que no levantamento  divulgado na semana passada. Marina Silva teria  com 25,2%, com redução de 2,2 pontos em relação à pesquisa anterior. Aécio Neves (PSDB) aproximou-se de Marina, com 19,8% e aumento de 2,2 pontos.


No segundo turno, onde Masrina e Dilma apareciam empatadas tecnicamente na pesquisa anterior (42% para Dilma, 41% para Marina) a diferença agora é de nove pontos: Dilma tem  47,7% das intenções de voto, enquanto Marina aparece com 38,7%.


Numa escolha  entre Dilma Rousseff e Aécio Neves, ela tem a preferência de 49,1% dos eleitores e o tucano aparece com 36,8%. E quando se  simula a disputa de segundo turno entre Marina e Aécio, ela tem 41,1% das intenções de voto, contra 36% do candidato do PSDB.


Em uma semana, a avaliação positiva do governo cresceu para 41%, fração dos  dos entrevistados o consideram ótimo ou bom. Antes, o índice estava em 37,4%. A avaliação negativa (ruim/péssimo) passou de 25,1%, do levantamento anterior, para 23,5% no divulgado nesta segunda-feira. A aprovação do desempenho pessoal de Dilma Rousseff também cresceu e chegou a 55,6%. Os eleitores que a desaprovam caíram  de 43,8% para 40,1%.


A rejeição de Marina Silva ultrapassou a de Dilma Rousseff. Agora, a candidata do PSB, em quem 38,7 % não votariam de jeito nenhum tem a rejeição de 42,5%. Já Dilma, que era rejeitada por 43,9% agora tem um índice de 41,1%.


Reparem: o intervalo entre as duas pesquisas foi de uma semana. O mesmo intervalo que temos até a eleição.

Vox no 1°: Dilma 40 vs 24 Bláblá Aécio tem 18

Segundo (se houver) da Vox: Dilma 46 x 39 da Fadinha da Floresta.

Dilma tem 6 dias  para fechar o 1°. turno.

Com a rapidez da queda da Bláblá, vai ser mole.

Paulo Henrique Amorim

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Bens comuns: da privatização à democracia real

140902-Democracia
Estudo revela: multiplicam-se iniciativas que mobilizam inteligência social para gerir serviços públicos, livrando-os da burocracia estatista e dos riscos de mercantilização
Por Ladislau Dowbor
The other side of pushing for democracy-driven transformationis the building of democracy in the internal running of the public sector.1
O setor público, a máquina do Estado, com os seus ministérios, secretarias, divisões de poder, direito público administrativo e outras heranças institucionais estão sendo pressionados pela chamada modernidade. É significativo que quase todos os países disponham hoje de ministérios ou departamentos de reforma administrativa, pois com a expansão das políticas sociais, a urbanização generalizada e o poder das novas tecnologias de informação e comunicação, os pontos de referência estão se deslocando radicalmente. Sentimos os arranjos institucionais existentes como congelados no tempo.
Bastante mais precário ainda, no entanto, é o referencial jurídico e administrativo das organizações da sociedade civil, e de forma geral emerge como desafio a dimensão participativa das nossas democracias. Quando vemos manifestações como as de junho de 2013 no Brasil, mas também mobilizações semelhantes nos mais variados países, com milhões de pessoas saindo à rua para fazer política – centrada nos protestos contra os bancos privados e Wall Street ou contra os governos, reclamando regulação financeira ou saúde e mobilidade urbana, ou ainda democracia na gestão dos recursos em geral – aparece claramente a fragilidade das correias de transmissão, digamos assim, entre as necessidades e interesses das populações e os aparelhos administrativos estatais.
As corporações privadas, a bem da verdade, também enfrentam estes desafios. Em termos de burocracia e de falta de resposta (responsiveness) aos usuários não deixam muito a desejar ao setor público. O resgate da governança, da capacidade de articulação do conjunto das políticas de uma sociedade moderna, está se tornando no desafio principal que enfrentamos.
Poder votar a cada dois ou a cada quatro anos já não basta para assegurar as dimensões democráticas de uma sociedade complexa. Há inúmeras iniciativas interessantes como os sistemas de consulta direta entre a administração central ou regional e as administrações locais na China, o sistema direto de consulta do NEDLAC (National Economic Development and Labor Council) na África do Sul, os acertos entre as administrações locais, empresas e OSCs (Organizações da Sociedade Civil) na linha da negotiated economy na Dinamarca e outras experiências. E temos evidentemente os conselhos como o CDES em Brasília, com representação de empresas, sindicatos, academia e movimentos sociais, hoje surgindo no nível dos Estados da federação e dos municípios. São Paulo hoje tem, além do Conselho da Cidade, conselhos eleitos nas 32 subprefeituras. O denominador comum é sem dúvida a necessidade de uma maior densidade de presença do cidadão nos processos decisórios da sociedade. Democracia representativa já não basta, isto está se tornando claro, e apesar das resistências, aos trancos e barrancos e passando por estruturas experimentais, estamos avançando.

Inovações estão surgindo justamente onde temos os maiores problemas. Trata-se dos bens públicos (commons), por exemplo a água, e bens de consumo coletivo como por exemplo saúde, educação, cultura, segurança. Vemos aqui idas e vindas com privatizações (em geral desastrosas), Organizações Sociais (em definição), retomadas pela administração pública direta (frequentemente com pesadas burocracias), terceirizações (que tendem a reproduzir a burocracia mas sem o controle correspondente) e diversas formas de parcerias. No conjunto, uma grande fragilidade e insegurança organizacional, busca insegura de novos arranjos institucionais.
No pano de fundo, está o fato de que no caso dos bens públicos, a apropriação privada leva à liquidação das florestas e dos recursos pesqueiros oceânicos, à contaminação dos rios e dos lençóis freáticos e assim por diante. Quem protege o que parece não ter dono? Aqui a competição de grupos privados associada à falta de regulação leva a uma corrida por quem arranca o pedaço maior, e com as novas tecnologias e o crescimento do consumo no mundo estamos correndo ao desastre.
Dilema análogo encontramos nas áreas de consumo coletivo, onde a saúde privatizada vira indústria da doença, a educação indústria do diploma, a cultura indústria do enlatado e da publicidade e semelhantes. Um sistema privado de saúde está interessado em ter clientes, e se possível de renda elevada, e não tem nenhum interesse em sistemas preventivos que reduzem as doenças, e por tanto a clientela. Há contradições que são estruturais. Produzir saúde, criar um ambiente comunitário culturalmente rico, gerar paz social não são “produtos” da mesma natureza que produzir automóveis.
Um estudo particularmente interessante, de Hilary Wainwright, e publicado pelo Public Services International em colaboração com o Transnational Intitute, organiza de maneira muito feliz os argumentos no sentido de se reorientar as parcerias público privadas do seu sentido Estado-Empresa para uma visão de articulação mais rica entre o Estado e as diversas formas de organização de usuários e de sindicatos. Para um país como o nosso, que acaba de aprovar o marco regulatório das organizações da sociedade civil e uma Política Nacional de Participação, estas ideias têm muita relevância. Intitulado The Tragedy of the Private:the Potential of the Public (A tragédia do privado: o potencial do público), o estudo vai no contrapé do famoso Tragedy of the Commons dos anos 1960, frequentemente utilizado para justificar privatizações.
Wainwright trabalha numa linha inovadora, que é de ver como funcionam, em diversas partes do mundo, as administrações municipais onde a solução dominante passou a ser uma aliança entre o interesse dos funcionários e da administração em geral em serem mais produtivos e valorizados, e o interesse dos usuários por serviços mais eficientes. As sua intenção é de “pesquisar os mecanismos de mudança quando esta é guiada pelos objetivos de serviços públicos democráticos mais do que pelo lucro”.(29)
O exemplo inicial é o da administração da água. “Das lutas transnacionais muito efetivas contra a privatização da água emergiu uma ideia inovadora de parceria público-público, ou público-civil, em que as organizações públicas e organizações da sociedade civil que administram serviços públicos colaboram por cima das fronteiras nacionais para dividir experiências, colaborar na busca de financiamentos, e de maneira geral para fortalecer o poder das instituições públicas e civis na gestão de serviços e utilidades públicas. Este modelo público-público/público-civil está se tornando uma ferramenta institucional cada vez mais central na luta contra a privatização e na busca de uma gestão pública de alta qualidade”.(7)
O ponto de apoio desta visão é que com a generalização da educação e dos meios de informação, já não temos um hiato tão profundo entre elites com elevado nível de formação (mas também de interesses privados) e a massa de funcionários e de usuários desinformados. Continuamos sem dúvida com um grande elitismo em termos de dinheiro e de poder, mas a compreensão das prioridades reais da sociedade está se generalizando. “O ponto de partida dos esforços que relatamos, de uma transformação centrada na democratização e na melhoria dos serviços públicos, é o know-how e a criatividade tanto dos funcionários de serviços públicos quanto dos que usam os serviços”. (7)
Trata-se aqui de gerar ferramentas institucionais para que esta compreensão se transforme em políticas mais adequadas. E não mais “eficientes” como no caso da privatização, em que a eficiência dos processos se consegue às custas da deformação dos objetivos. A tragédia dos planos privados de saúde, a elitização da educação privada, o travamento dos sistemas de mobilidade urbana (transporte individual privado em detrimento do sistema público) e outros demonstram claramente este dilema. “A lógica do lucro simplesmente não responde aos imperativos das necessidades sociais e dos direitos humanos”.(33)
Há hoje uma certa reversão de tendências. Wainwright cita “o estudo de David Hall para o European Public Service Union (sindicato europeu de serviço público) que mostra claros sinais de que as municipalidades estão continuando a se orientar para a “remunicipalização” e não a privatização em numerosos países da Europa, incluindo a Alemanha, a França e o Reino Unido.”(32)
Paris, por exemplo, como outras cidades, retomou o controle da gestão da água, bem público essencial e de consumo coletivo, desastrosamente administrado após a privatização. “A água em Paris é agora administrada por um conselho que inclui representantes dos trabalhadores e dos usuários, supervisionado de forma independente por cientistas e representantes públicos. Enquanto os preços subiram de forma continuada durante a gestão privada, caíram de 8% depois do primeiro ano de volta à propriedade pública. Os preços agora estão 40% mais baixos do que nas periferias da cidade onde a água ainda é administrada por uma empresa privada.” (26)
O resgate da gestão pública não é aqui um simples retorno ao passado: central neste processo, é a simultânea democratização: “A expansão da ideia de se fortalecer o controle local democrático sobre o dinheiro público está focada no reforço da participação cidadã. A experiência de Newcastle (Reino Unido) eleva a nossa compreensão da democratização ao expor e democratizar os processos normalmente escondidos e rotineiros de gestão dos recursos públicos. Enquanto as formas de organização interna do setor público continuarem a ser de cima para baixo, fragmentadas e desconhecedoras do potencial real dos funcionários, qualquer democracia participativa do mundo poderá ser absorvida e esterilizada ou bloqueada pelas estruturas hierárquicas e procedimentos burocráticos. O processo interno de democratização é portanto fundamental.”(31)
A tendência que Wainwright apresenta nesta revisão de tendências em vários países, é a mobilização dos tão frequentemente criticados funcionários públicos e das suas organizações para a racionalização e a democratização dos próprios serviços, ao gerar arranjos institucionais que permitam a sua efetiva interação com as organizações dos usuários. “A ideia da natureza dual do trabalho implica que o que estamos vendo é uma extensão das prioridades das organizações de trabalhadores públicos para além do valor de troca (por exemplo, o nível de remuneração ou a jornada de trabalho) para incorporar uma preocupação efetiva com o valor de uso (por exemplo, a qualidade do serviço público prestado).(35)
O que este argumento implica, “é que a ideia de ‘participação’ precisa ser ampliada para incluir um envolvimento maior dos trabalhadores no processo decisório público sobre como o seu trabalho é utilizado. Desta maneira, os trabalhadores do serviço público poderão se assegurar de que a sua criatividade será utilizada para o benefício e em colaboração com os seus concidadãos”. (36)
Esta outra visão de arranjos institucionais, envolvendo parceiras já não apenas do Estado com as empresas, e sim envolvendo um resgate da força e da dignidade do servidor público, articulado com os movimentos sociais e as organizações da sociedade civil em geral, abre perspectivas de uma sociedade ao mesmo tempo mais democrática nos processos decisórios e mais eficiente nos resultados. Este breve estudo, de 48 páginas, com descrição das formas inovadoras de organização e com numerosos exemplos, constitui uma ferramenta importante tanto para pesquisadores como para gestores sociais.
The Tragedy of the Private: the potential of the public – Public Services International, Transnational Institute, 2014, 48p. Documento completo online, em inglês, emhttp://dowbor.org/2014/07/hilary-wainwright-the-tragedy-of-the-private-the-potential-of-the-public-julho-2014-48p.html/ ou http://www.world-psi.org/sites/default/files/documents/research/alternatives_to_privatization_en_booklet_web_april.pdf
1 O outro lado da luta por uma transformação centrada na democracia é a construção da democracia no funcionamento interno do setor público. (7)

A cultura e os índios

Índios Ashanika no Acre
Ashaninkas no Acre. Juca denuncia: “Soube há uma semana que quatro deles foram massacrados e que alguns dos líderes daquele povo não podem sair da aldeia”


Prezada presidenta Dilma Roussef, sou professor de História, sou filho de Grajaú, no Estado do Maranhão, cidade secular, fincada no meio de aldeias guajajaras.
Sou filho do seu Amadeu e dona Neuza, sou filho da América e do Brasil. Sou parte de uma nação forjada pelo sangue e pelas cores da África. Felizmente ou infelizmente sou também filho da Europa portuguesa, nossos invasores e dominadores do século XVI.
Presidenta, como afirma o texto logo abaixo, a vida dos povos indígenas está ligada ao nosso DNA, somos parte deles e eles parte de todos nós.
Somos os invasores? Antes da chegada dos portugueses essa terra tinha dono, fomos nós, brancos, cristãos e "civilizados" que, com arrogância, empreendemos uma das mais violentas formas de conquista. Nos apossamos das suas mulheres, das suas riquezas e da sua terra.
A terra, que para o sistema hegemônico é mercadoria que vende/compra/penhora/herda, para o indígena é extensão de seu ser, é parte de sua cultura milenar, é instrumento de ligação com os deuses.
Não podemos continuar jogando no lixo da história uma cultura esplendorosa que, se respeitada, poderá ser incorporada por toda a nação brasileira, fortalecendo, agregando valores de solidariedade, de amizade, de paz, numa relação harmoniosa do homem e mulher com a natureza.
Nossa nação brasileira será mais forte, pujante e democrática quando decidirmos por defender os povos que nos deram origem. Os Ashaninkas estão sendo assassinados, madeireiros, fazendeiros, grileiros e aventureiros inescrupulosos, estão dizimando essa maravilhosa nação.
Presidenta, o que vou dizer ao meu filho de seis anos? 
Meu filho vive ao meu lado assistindo o que assisto, lendo o que leio, falando sobre o que falo, ele, com certeza, vai saber dos Ashaninkas, o que direi?
Sei que você está no meio de uma campanha eleitoral, na última semana antes das eleições, mas presidenta, quando fores eleita em primeiro turno dia 5, leia esta carta e tome em suas mãos a decisão de solucionar a questão da demarcação e proteção das terras indígenas do Brasil.
Os Ashaninkas, Guajajaras, Timbiras, Ianomames, Kaiapó, Tapirapé, Bororó...agradecem.

por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

__________________________________

A Cultura e os Índios

Por Juca Ferreira | Imagem: Mike Goldwater - Fonte: Outras Palavras - 29/09/2014

O Brasil democrático tem que reconhecer a importância dos povos indígenas. Sem eles, o Brasil não será democrático. Nosso país não pode permitir que eles sejam dizimados, que seus direitos sejam massacrados, que esses povos fiquem vulneráveis frente a garimpeiros, latifundiários e agricultores, sejam eles pequenos, médios ou grandes. Não digo isso só por notícia de jornal. Eu acompanhei esse tema de perto, quando fui ministro. Fui a algumas aldeias, fortalecer uma relação cultural com os povos indígenas, pois eles são parte da singularidade cultural brasileira, são parte do nosso DNA. Não podemos perder a possibilidade de incorporá-los ao projeto democrático, não podemos deixá-los ao relento, à sua própria sorte.
Uma das aldeias que visitei foi a dos Ashaninka, perto da fronteira com o Peru. Soube há uma semana que quatro de seus indígenas foram massacrados e que alguns dos líderes daquele povo não podem sair da aldeia. Isso porque capangas, interessados em suas terras, já disseram que esses líderes estão numa lista para serem mortos. Isso não é um caso excepcional, é parte da realidade que a gente vive no Brasil.
Nós, os não índios, temos que incorporá-los como parte da sociedade brasileira, plenos de direitos; como irmãos. Precismos perceber os indígenas como parte da nossa sociedade. E eles só podem se sentir assim se estiverem plenos de direitos e em condições de serem o que são. Eu me lembro de um cacique, acho que de nação Tucano, que chegou lá no Ministério e disse: “sabe o que eu mais gosto em vocês? O Ministério da Cultura do governo Lula não diz como a gente deve ser índio. Chegam por lá uns antropólogos querendo dizer como a gente deve ser índio. Eles às vezes sabem bastante da nossa cultura, mas esquecem de uma coisa, essa relação com o mundo de vocês modifica tão profundamente a nossa realidade que nós não podemos ser apenas o que éramos antes de ter esse contato. Esse desafio tem que ser uma opção diária, nós queremos ter o direito ao protagonismo na construção de soluções na relação com o mundo de vocês”.
Outro cacique, desta vez um Bororo, também me revelou muito sobre sua identidade cultural quando disse assim: “eu quero ser índio, porque se eu tentar ser um de vocês eu não serei nada, mas eu gosto de televisão, de novela, de computador, de celular”. É um direito deles, ter acesso a equipamentos e ferramentas que os auxiliem na construção de suas vidas.
A Funai precisa ser fortalecida. É preciso recompor a Funai para que possa cumprir as funções que lhe cabe no século 21, garantir a todos os indígenas os direitos básicos. Mas isso não basta. Nós, no Ministério da Cultura do Governo Lula, abrimos as portas do ministério para os povos indígenas. Nos aproximamos com nossos programas e ações de mais de 100 nações. Impressionou-nos a receptividade de grande parte deles, pois tinham tudo para ser desconfiados. Confiaram na gente e também abriram as portas de suas aldeias. Não fomos aos índios para concorrer com a Funai. Fomos para ampliar o trabalho do Estado brasileiro, para reforçar o princípio de que a terra é fundamental para os povos indígenas, mas que também é importante e fundamental para sua sobrevivência a garantia das condições culturais de preservação da identidade e de um contato com a sociedade não indígena que seja positivo. Só cabe a eles definir quão índio querem continuar sendo e o que da nossa sociedade eles querem incorporar.

Uma das alegrias que tive na aldeia Ashaninka foi conhecer um Ponto de Cultura Indígena. Eu não sabia que eles tinham um ponto ali: vários índios usando computadores, um deles conversando com a Alemanha, preparando um evento baseado em um trabalho de coleta de informações e dados dos conhecimentos da floresta para que não fossem roubados, para que aqueles conhecimentos pudessem ser reconhecidos como patrimônio deles. Não estavam querendo impedir o acesso das pessoas àquele patrimônio, mas que esse acesso, uma vez que ocorresse, trouxesse algum dividendo para o povo Ashaninka. Queriam impedir que aquilo que eles são se tornasse propriedade de uma indústria farmacêutica, alimentícia ou de cosméticos e que chegassem lá e levassem para patentear esse conhecimento.
Essa manutenção da visão etnocêntrica em relação aos índios é uma perda para nossa sociedade. Se formos capazes de incorporar os índios na sua singularidade, com suas terras, seus conhecimentos, e isso fizer parte do Brasil do Século 21, nosso país vai ter um cabedal de conhecimento enorme para ser potência e ampliar o seu desenvolvimento.
Não há possibilidade do Ministério da Cultura do Brasil no Século 21 permitir que a contribuição indígena para o Brasil volte à invisibilidade. Essa noção de que nós estamos vivendo um processo complexo cobra de nós uma enorme responsabilidade na construção de uma nação democrática, plural, que respeite a diversidade humana, e ajude a construir a humanidade de todos os brasileiros. E isso só se consegue na democracia.

Cantinho da História 43: metodologia - fichamento

Hoje vamos inaugurar as aulas na Biblioteca da escola. Vamos fazer uma pesquisa sobre a Idade Média/Feudalismo com destaque para a denominada Baixa Idade Média que vai do século XI ao XV. Esse vídeo da profa. Gicelle é muito bom para nos ajudar a criar fichamentos.
Bons Estudos.

por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

Cantinho da História 75: o conceito de Idade Média em Le Goff, Huizinga, Duby e Bloch

Estamos fechando o estudo de Idade Média/Feudalismo. O vídeo acima nos ajuda bastante no entendimento da Idade Média. Aqui há uma discussão inicial sobre Idade Média/Idade das Trevas. A professora cita grandes e importantes autores/especialistas sobre o período.
Você estudante de Ensino Médio/Superior, que pretende entender, por exemplo, capitalismo, precisa antes estudar Idade Média e esse vídeo é fundamental.
Sugestões de livros, de autores importantes sobre esse período histórico que, segundo vários autores, criou a Europa.
Bons estudos.

por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

Nova é esta Marina Silva A candidata do PSB pratica a velha política enquanto prega o contrário. Destruiu o ideário de Eduardo Campos e talvez consiga demolir o próprio partido que representa



O que representa, se eleita, um governo da Marina?
Existe um ponto de interrogação enorme pairando sobre a cabeça de muita gente hoje no Brasil.
No final da década de 60, no Estado de São Paulo, existia um cara chamado Jânio que nem a cidade conhecia bem, mas como mágica, usando um discurso fácil de pureza, apolítico - como se fosse possível - eis que surgiu um candidato para salvar o país da roubalheira, Jânio Quadros, como um foguete, subiu e depois caiu; breve foi seu voo, pois não existia sustentação política, ideológica, programática.
Anos depois - cerca de 30 anos - eis que surgiu Collor de Mello, o "caçador de marajás", o povo embarcou de novo no canto da sereia, deu no que deu.
A candidatura de Marina é uma incógnita, nem os mais "especializados especialistas", conseguem explicar de forma clara o fenômeno.
Prometeu novidade, criticou os políticos, e, ao contrário do que defendeu, aparece na campanha com o que há de mais atrasado, em Santa Catarina, por exemplo, eufórica, pediu votos ao filho de um dos políticos mais ligados à ditadura militar brasileira, o Sr. Jorge Bonrhausen, Bornhausen Filho é candidato ao Senado naquele Estado.
Como FHC - um dos pais do complexo de vira-latas no país - parece pedir que todos esqueçam seu passado como defensora do meio ambiente, da preservação da Amazônia etc.
Marina é uma 2a. opção da direita? É uma saída para os grandes grupos conservadores que perderam espaço com os governos Lula da Silva e Dilma Roussef?
O que representa sua candidatura?
O que o país ganha?
Ou vamos retroceder nas políticas públicas que foram criadas nas áreas social, educacional, trabalhista, humana dos últimos 12 anos?

por José Gilbert Arruda Martins (Professor)

__________________________________

Editorial

Nova é esta Marina Silva

A candidata do PSB pratica a velha política enquanto prega o contrário. Destruiu o ideário de Eduardo Campos e talvez consiga demolir o próprio partido que representa

Não há quem segure a candidata Marina Silva nesta caminhada final rumo à eleição. Em Florianópolis, subiu ao palanque de Paulinho Bornhausen e com empenho apaixonado pediu votos para sua candidatura a senador. Precioso trunfo para o filho de Jorge Bornhausen, governador biônico de Santa Catarina durante a ditadura, liderança do ex-PFL e patriarca de uma das mais ricas famílias do estado. Direita reacionária na sua acepção mais desbragada.
Esta adesão eufórica à velha política assinala a enésima contradição de pregadora da nova. Uma análise da personagem do ponto de vista psicológico exibe, isto sim, uma nova Marina. A contida, austera ambientalista na qualidade de candidata em campanha mudou radicalmente o seu estilo, a ponto de pôr em xeque as crenças professadas até ontem.  A perspectiva do poder leva-a a renovar seu verbo e seus gestos e a buscar a companhia de quantos aparentemente haveriam de ser seus adversários, se não inimigos. Vale tudo para chegar lá, é o que se deduz sem maiores esforços.
Confesso minha surpresa. Marina Silva revela uma determinação obcecada  que não imaginava. Certo é que a candidatura de Eduardo Campos, sua plataforma, suas ideias, seus projetos e propósitos, Marina conseguiu destruir. Receio que logre ir além, para demolir o próprio Partido Socialista. Em lugar da nova política, temos a nova Marina.
Humoristas midiáticos
Há momentos de puro humorismo propiciados pela mídia nativa. No momento a Folha de S.Paulo celebra a instituição do ombudsman há 25 anos, de sorte a estabelecer a autocrítica dentro do próprio jornal. O Folhão se apressa a esclarecer, pomposo, que o exemplo não foi acompanhado pelas demais publicações brasileiras enquanto em vários países do mundo a prática salutar é adotada. O nome ombudsman, admito, me soa desagradável. De todo modo, tivesse funcionado sempre para valer, viveria física e moralmente esgotado.
A leitura e a audiência que parcimoniosamente dedico à mídia nativa me revelam o autêntico responsável por todos os males no momento padecidos pelo Brasil. Ou melhor, a responsável, Dilma Rousseff, a começar, pasmem, pela crise econômica mundial, que ninguém poupa, até a inflação e o desemprego. Mas os porcentuais não são bastante baixos em relação aos números globais? Segundo o Cérbero da família Marinho, o cão de três cabeças à porta do Hades, a presidenta maquia os dados. Ou finge ignorá-los?
Tudo é culpa da Dilma, até, quem sabe, o 7 a 1 imposto pela seleção alemã aos canarinhos, ou o tráfego congestionado, ou falta de luz em casa. Só mesmo a crescente, inexorável escassez de água em São Paulo não pode ser atribuída à presidenta. No caso, entretanto, o culpado, o governador, Alckmin, é prontamente perdoado e se prepara ao passeio eleitoral.

sábado, 27 de setembro de 2014

Conheça propostas de Dilma, Marina e Aécio para 5 questões centrais de política externa Patrícia Dichtchekenian e Vitor Sion



Mercosul, Brics, EUA, China e Conselho de Política Externa: saiba o que os três principais presidenciáveis defendem em cada um desses temas.

Opera Mundi

A oito dias das eleições presidenciais no Brasil, Opera Mundi publica as propostas de política externa dos três candidatos mais bem posicionados nas pesquisas de intenção de voto para o dia 5 de outubro. O posicionamento expressado abaixo por Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) é fruto de entrevistas dadas pelos candidatos durante a atual campanha, bem como por seus programas de governo.

As propostas de Dilma, Marina e Aécio apresentam pontos em comum, como a busca pela valorização dos Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), bem como divergências: a atual presidente é a única que apoia a criação de um Conselho Nacional de Política Externa. Leia abaixo o que os três principais presidenciáveis defendem para cinco temas diplomáticos essenciais, escolhidos por Opera Mundi:
1. Mercosul e integração do continente

DILMA ROUSSEFF: A integração regional aparece como prioridade da política externa da atual presidente, que busca, na cooperação Sul-Sul, “uma ordem mundial multipolar e menos assimétrica”. “Durante séculos, os países da América do Sul estavam de costas uns para os outros, com os olhos voltados para a Europa e para os EUA. Essa realidade começou a mudar. Passos importantes foram dados nos planos econômico, comercial, político e de segurança com o fortalecimento do Mercosul e a criação da Unasul”, disse à Revista Política Externa.

Para Dilma, a integração tem que avançar em outros planos. “O Mercosul nunca se propôs a ser apenas uma área de livre comércio (...). Sempre insistimos em que, para que ela seja consolidada, é fundamental que haja uma integração entre os povos, inclusive com a criação de uma cidadania comum, como se deu no caso da União Europeia”, aponta.

MARINA SILVA: A candidata do PSB (Partido Socialista Brasileiro) aposta no combate à suposta estagnação do Mercosul, reforçando a necessidade de investir em negociações com outros países. “O Mercosul não tem cumprido bem o desígnio original de constituir uma modalidade de ’regionalismo aberto’”, escreve em seu programa de governo.

Marina Silva propõe uma política de aproximação do Mercosul com a Aliança do Pacífico e também destaca a necessidade de acelerar as negociações para o tratado de associação entre o bloco e a União Europeia. Para ela, “salvo um par de acordos de livre comércio com mercados inexpressivos, a tônica [do Mercosul] foi o imobilismo (...) As tratativas iniciadas há mais de uma década com vistas à associação com a União Europeia permanecem inconclusas”, completa.

Para a candidata, a construção de infraestrutura para internacionalizar a economia brasileira deve ter “receptividade e apoio à cooperação empresarial”. Para além do caráter econômico, a presidenciável acredita que a integração continental deve também se expandir para questões socioambientais e culturais.

AÉCIO NEVES: Sobre esta temática, o candidato classifica que, nos quatro anos de administração de Dilma, a política exterior foi caracterizada pela “timidez” e por “afinidades político-ideológicas”. Aos olhos de Aécio, o que é fundamental é que o país “participe ativamente da comunidade internacional, negociando com todos continentes”, diz à Revista Política Externa.

Para Aécio, é necessária, em primeiro lugar, uma análise do próprio Mercosul, que, segundo ele, “passa por uma crise de identidade, inibida por crises de países importantes como Argentina e Venezuela”. Essa condição, sustenta o candidato, sugere dificuldades de interação com outros grupos de países, contrariando a “tendência mundial”.

“É preciso um reexame urgente do processo de integração, para recalibrá-lo e readaptá-lo. Não se trata de desfigurar o Mercosul, mas de fortalecê-lo para de novo torná-lo apto a engajar-se em negociações efetivas com outros parceiros e prepará-lo para maior abertura comercial”, argumenta. Na última semana, Aécio também defendeu a revisão das relações bilaterais do Brasil com países sul-americanos produtores de drogas, como Bolívia e Colômbia.

2. Importância do BRICS

DILMA ROUSSEFF: A candidata do PT (Partido dos Trabalhadores) coloca como compromisso dar continuidade ao aperfeiçoamento do BRICS como polo de estabilização da ordem mundial. “Creio que ninguém mais, hoje, questiona a importância do BRICS. (...) A criação do Novo Banco de Desenvolvimento e do Arranjo Contingente de Reservas foi reconhecida mundialmente como a mais importante iniciativa da economia global nas últimas décadas”, afirma.

Para Dilma, a função do bloco é abrir fronteiras com relações em continentes até “esquecidos”, como a África, além de reforçar laços na Ásia. Nesse sentido, o BRICS ajudaria na capacidade político-diplomática “seja pela presença de membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, seja pela capacidade de diálogo de Brasil, Índia e África do Sul”.

MARINA SILVA: Para a candidata, a participação do Brasil no BRICS cumpre necessidade de articulação internacional na direção de um mundo mais multipolar. “A identificação de interesses comuns do Brasil com outros países do BRICS contribui para maior equilíbrio na geopolítica atual, fortalecendo países emergentes sub-representados nas instâncias internacionais criadas após a 2ª Guerra Mundial”, elogia.

Opinião - Racismo contra Aranha: quando os estádios vão sair do século 19?

No entanto, Marina Silva ressalta a importância de se reconhecer as diferenças nas agendas econômica, política, cultural e ambiental, assim como na pauta de direitos humanos e liberdades civis de cada um dos países do bloco. Para ela, também é preciso um olhar mais cuidadoso com a África. “Não bastasse o reconhecimento ao legado histórico, étnico e cultural que nos foi transmitido em séculos de história, a aproximação com o continente africano permite a identificação de vasto leque de oportunidades para empresas brasileiras”, destaca.

AÉCIO NEVES: O candidato do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) acredita que o bloco tem uma crescente relevância e funciona como plataforma de projeção do Brasil, mas sustenta que ele ainda não se “consolidou como interlocutor de peso no equacionamento de temas relevantes da agenda internacional”. Aécio afirma que continuará a participar do grupo em seu mandato de “maneira construtiva”, mas aponta que um dos principais desafios do BRICS é a definição de um perfil mais claro do bloco.

“O grupo tem três pilares: diálogo, coordenação e cooperação. Pelo diálogo, o grupo deveria aumentar sua confiança mútua e ir desenvolvendo uma visão comum da situação internacional, sem negar as diferenças entre seus membros (...). A influência do grupo dependerá, contudo, da capacidade de coordenar-se melhor em temas políticos em que divergências entre membros são importantes. Ao mesmo tempo interessa ao Brasil aprofundar a cooperação entre os cinco países em áreas como agricultura, energia e ciência e tecnologia”, sugere.



Putin, Modi, Rousseff, Jinping e Zuma: Órgãos dos Brics desafia controle do Ocidente sobre finanças globais

3. Relação Brasil-EUA e espionagem da NSA

DILMA ROUSSEFF:
 Para a presidente, a relação bilateral com os EUA é essencial e ainda há um enorme potencial de oportunidades que não se limitam só às ações do governo no que tange à cooperação em educação, ciência, tecnologia e inovação. Apesar de classificar a espionagem como “inaceitável”, Dilma acredita que “tal atrito não deverá impedir nossos sinceros esforços para aprofundar essas relações bilaterais tão importantes”.

MARINA SILVA: Para a candidata, as relações com os Estados Unidos carecem de atualização, já que houve uma queda da participação brasileira no mercado norte-americano, um dos principais destinos das nossas manufaturas. Ela acredita na necessidade de “desenvolver um diálogo maduro, equilibrado e propositivo com Washington, que não dramatize diferenças naturais entre parceiros com interesses econômicos e políticos reconhecidamente amplos”.

AÉCIO NEVES: O candidato também acredita no potencial entre os dois países e ressalta que isso não pode ser ignorado “por preconceitos ou desconfiança”. “Um dos desafios das próximas décadas será expandir a oferta mundial de alimentos. Brasil e EUA têm duas das maiores e mais competitivas agriculturas do mundo e têm muito a ganhar com maior cooperação”, diz. Para ele, o incidente da NSA produziu justificável mal-estar e que o governo dos EUA deve tomar medidas para superá-lo, mas não devemos ficar “reféns desse episódio”.




Isolamento não é prova de inconformismo



Por que a esquerda no Brasil não consegue andar unida?
O que leva, personagens importantes da esquerda a apoiar políticos da direita com claras intenções neoliberais como a candidata Marina?
Se analisarmos a trajetória dos partidos de esquerda no Brasil dos últimos 50 anos veremos a grande dificuldade de associação dessas agremiações rumo a um projeto de priorize as lutas dos trabalhadores e do Povo.
É mesquinharia?
É poder pelo poder? Qual poder? se as classes ricas são os detentores?
Ou é pura incompetência?
Ouvir de um professor que o Partido dos Trabalhadores é de direita e que o país não mudou em nada é desconhecer completamente a situação dos trabalhadores, da sociedade mais pobre desse país dez anos atrás, e isso é inadmissível para um educador.
Enquanto parte da esquerda brasileira ajuda a direita bater no PT, as elites, por seu turno, se reorganizam e conseguem se reunir facilmente. Um telefonema, uma conversinha aqui outra ali, já estão juntos manobrando, maquinando uma forma de controlar, influenciar ou assumir o governo, por que o poder elas possuem.
Os artigos que postamos, esse abaixo é o terceiro, pode nos dar uma ajuda no entendimento dessa desunião da esquerda brasileira.

por José Gilbert Arruda Martins (Professor)



Isolamento não é prova de inconformismo

Por Breno Altman
Caros Amigos

A banalização das conquistas, (...) da qual o PSOL e seus parceiros parecem depender para respirar, acaba confluindo para a seguinte conclusão: “este também é um governo da direita"

No início dessa semana, um importante dirigente do PSOL, Juliano Medeiros, deu-se ao trabalho de responder nota que eu havia recentemente escrito, acerca do caráter marginal de agremiações políticas que buscam se situar à esquerda do PT. Seu artigo atende pelo título “Resposta a Breno Altman: por uma esquerda inconformista”.
A questão proposta em meu texto era simples e o encabeçava: “Por que a ultraesquerda brasileira é residual?”. Não houve qualquer intenção ofensiva na pergunta enunciada. A história está repleta, afinal, de pequenos grupos que lograram rapidamente plantar frondosas alternativas de poder.

Não é o que ocorre, no entanto, com os agrupamentos mencionados em meu breve artigo. O desempenho eleitoral do PSOL, PSTU, PCB e PCO, tudo junto e misturado, dificilmente chegará a 2% nas eleições presidenciais. A curva de resultados, após atingir seu pico em 2006, é declinante e beira a inanição. Tampouco sua influência nos movimentos sociais e nas lutas populares é relevante, com a exceção de alguns segmentos minoritários.

Essa constatação foi feita apenas para fazer jus a um clássico axioma: a prática é o critério da verdade. Maus resultados, depois de um longo período, deveriam obrigar à revisão de orientações adotadas. Outra opção é sobreviver como pequenas seitas, senhoras da luz e da razão, mas cujas ideias supostamente corretas jamais são capazes de servir como amálgama para uma força social expressiva.

Medeiros labuta para explicar, em sua resposta, a existência de diferentes concepções entre as correntes citadas. Aceitemos que suas explanações sejam certeiras e apropriadas. Todos estes grupos, ainda assim, têm em comum, mesmo com distintas matizes, a mesma caracterização sobre o Partido dos Trabalhadores: o maior instrumento político que o proletariado brasileiro logrou forjar teria se passado, de malas e bagagens, para o campo da burguesia.

Tal conclusão é seminal para a atuação de legendas pretensamente situadas à esquerda da esquerda. Ela nasce da compreensão de que o governo petista configurou-se em comitê gestor a serviço das companhias capitalistas e, portanto, no principal inimigo a ser combatido. No curso dessa transição, teria arrastado o próprio partido para a posição de apêndice político das classes dominantes.

O dirigente do PSOL ensaia certo cuidado em sua análise, mas em termos que ressaltam seu ponto de partida. Ao se referir à presumida posição do PT como fiador de um “pacto conservador”, Medeiros indaga e responde a si próprio: “Isso é o mesmo que dizer que o PT e os demais partidos burgueses seriam farinha do mesmo saco? Evidente que não.” O fato é que, ao determinar diferenças táticas no tratamento de diferentes partidos, o psolista reafirma o eventual transformismo de classe operado pelo PT, agora vicejando ao lado dos “demais partidos burgueses”.

Este padrão de raciocínio não é novo. Trata-se de comparar a trajetória petista a de partidos sociais-democratas europeus que, nascidos no movimento operário, acabaram por se alinhar a suas respectivas burguesias nacionais durante a Guerra Fria. Foram ainda mais longe: com o colapso da União Soviética, aprofundaram sua submissão à hegemonia norte-americana, ao capital financeiro, à doutrina neoliberal e a excrecências como o chauvinismo.

Pode-se argumentar, com razoável comprovação nos fatos e narrativas, que o PT veio a se converter em um partido reformista, a partir de sua estratégia de aproximação do poder pela via institucional. Eventualmente alguns de seus quadros tenham saltado o alambrado. Mas não há qualquer fundamento na realidade para se afirmar que tenha reproduzido o curso social-democrata europeu, o da passagem para outro campo de classe, ou que esteja próximo de fazê-lo, ainda que o risco esteja sempre presente em um partido que opera por dentro do Estado.

As medidas e políticas adotadas desde 2003, ainda que possam ser consideradas débeis e insuficientes, tiveram caráter de resistência ao modelo rentista herdado dos governos anteriores e emulado de projetos animados pelos países centrais do capitalismo. Ao lado de outras experiências latino-americanas, mais ou menos radicais, o PT impulsionou programa na contramão do ciclo histórico aberto nos anos oitenta.

A aplicação de políticas distributivistas promoveu a maior e mais prolongada onda de crescimento de renda e emprego entre os trabalhadores desde os anos quarenta. A inclusão social se transformou na principal ferramenta para ampliação do mercado interno de massas como força propulsora do desenvolvimento, apoiada também por iniciativas que ampliaram direitos de acesso à moradia e à educação.

O Estado vem recuperando papel regulador e protagonismo econômico, com a expansão dos investimentos públicos e o fortalecimento dos bancos estatais. Outras empresas sob controle governamental também tiveram suas atividades alavancadas, a começar pela Petrobrás, cuja musculatura foi tonificada após a descoberta do pré-sal e a substituição do regime de concessão pelo de partilha.

Essas reformas, no fundamental, não alteraram as estruturas da economia e do poder político, mas representam alternativa programática distinta daquela defendida pelos núcleos dirigentes da burguesia interna e seus sócios internacionais. Não é à toa a guerra permanente dos meios tradicionais de comunicação, efetivos partidos das classes dominantes, contra os governos de Lula e Dilma.

A adaptação de determinadas corporações ao predomínio da agenda petista não anula sua oposição de classe. O capital, como sabe qualquer curioso pelos assuntos da história, busca acomodação, se possível, até a processos revolucionários. Quanto mais a uma situação instável, no quadro de um governo de coalizão, sem maioria parlamentar de esquerda, com as velhas instituições praticamente intactas, na qual são vastos os espaços para a disputa entre diversos projetos e interesses.

Ainda que limitadas, na essência, à realocação de recursos orçamentários e ao redirecionamento de fundos públicos, as mudanças implementadas pelas administrações petistas se contrapõem à lógica rentista e aos primados neoliberais, em movimento inverso ao da social-democracia europeia.

Medeiros até chega a considerar estes fatos como “ganhos reais”. Mas logo emenda que “não comprovam qualquer compromisso em si”. Do bolso de seu colete saca uma espantosa tese para tentar argumentar exatamente o contrário, que esses “ganhos reais” são um sinal de capitulação do PT: “aumentar a renda e expandir gastos públicos são instrumentos utilizados pela burguesia sempre que as condições conjunturais permitem.”

A afirmação reflete ilusão escandalosa. Quer dizer que há vontade patronal natural para “aumentar renda e expandir gastos públicos”, cujo obstáculo seriam apenas “condições conjunturais”? Em qual momento da história a burguesia aceitou aumentar a renda dos trabalhadores sem que fosse por poderosa pressão do movimento operário, interna ou internacional, através de lutas sindicais ou governos de caráter popular?

Mas o pior aspecto de sua peroração fantasiosa diz respeito ao desconhecimento do mundo no qual vivemos depois do colapso da União Soviética. Todos os países capitalistas, nos últimos quase 25 anos, sob governos conservadores ou sociais-democratas, padeceram com a redução dos salários reais dos trabalhadores e a diminuição dos gastos públicos com programas sociais. As únicas exceções foram nações governadas por partidos de esquerda, de oposição ao neoliberalismo, como é o caso do Brasil no período petista.

Trata-se de estelionato político da pior qualidade reconhecer “ganhos reais”, mas classificá-los como normais aos interesses da burguesia ou triviais em um cenário internacional ainda dominado pela hegemonia unipolar do imperialismo norte-americano.

A banalização das conquistas, para enquadrá-las na teoria da suposta domesticação petista, da qual o PSOL e seus parceiros parecem depender para respirar, acaba confluindo para a seguinte conclusão: “este também é um governo da direita, ou ao menos de parte dela”.

Obviamente esta afirmação vem acompanhada da crítica à política de alianças, tanto no campo econômico quanto institucional. Medeiros não se deu ao respeito de citar, como caberia a um quadro responsável, a contradição fundamental decorrente da eleição de um presidente de esquerda sem maioria parlamentar. Qual a alternativa para uma situação como essa, a propósito, além da negociação com setores e partidos da burguesia que, se descolando da fração dirigente do neoliberalismo, aceitassem respaldar um programa mínimo e progressista de governo? Afinal, não foi assim que se obtiveram os tais “ganhos reais” reconhecidos até pelo açodado crítico?

Não passa de charlatanismo caracterizar o atual governo, por sua natureza de coalizão, como “da direita” ou de parte dela. Basta analisar seu rumo, com alguma honestidade, para reconhecer que o princípio reitor foi a construção de um modelo econômico-social que se choca com a fórmula propugnada pelo capital financeiro desde o Consenso de Washington.

Outra coisa é questionar seu ritmo e profundidade, ou identificá-lo como um “reformismo fraco”, repetindo André Singer, que fica aquém das possibilidades políticas reais e debilita a disputa pela hegemonia no Estado e na sociedade. Uma posição é considerar este governo inimigo, outra é carimba-lo como insuficiente ou recuado.

A história está cheia de exemplos como uma ou outra destas conclusões sobre governos frentistas levam a distintas estratégias.

O MIR chileno não participava do governo da Unidade Popular, durante a presidência de Salvador Allende. Classificava-o como reformista, indisposto a conduzir rupturas que julgava indispensáveis. Buscava, no limite de suas forças, mobilizar setores do povo e da juventude para radicalizar as medidas palacianas e reivindicar mudanças mais profundas. Mas diante de qualquer ataque da direita, cerrava fileiras com a UP e formava nos primeiros batalhões em sua defesa. Marchava separado, mas golpeava junto.

O grupo Bandeira Vermelha, na Venezuela, poucos meses após a eleição do presidente Hugo Chávez, passou a considerá-lo um braço populista do Fundo Monetário Internacional, destinado a reorganizar o Estado burguês em crise. Passou a defini-lo, portanto, como um inimigo a ser abatido. Seus militantes, aplicando essa linha, estavam ombro-a-ombro com os golpistas de 2002, a ocupar provisoriamente o Palácio de Miraflores. Estabeleceram, desde então, aliança implícita com a oposição de direita, pois partilham o mesmo objetivo tático, qual seja, derrubar o governo de Nicolás Maduro, como antes o de Chávez.

"O caráter residual da ultraesquerda não a condena, por si só, ao desaparecimento, mas deveria ser suficiente para (...) repensar opções que conduziram ao raquitismo"

Os fatos não deixam quaisquer dúvidas que, até o presente, com raros momentos de bom senso, o pensamento majoritariamente assumido pelo PSOL aproxima-se mais da variante venezuelana que da chilena. A diferença é que, retoricamente, também bate nos partidos da direita, mas efetivamente movimenta-se pela lógica de considerar o governo petista seu inimigo principal.

Basta relembrar o comportamento durante a crise de 2005 e a AP 470. Ou no curso da operação conservadora contra a Petrobrás. Ou nas campanhas presidenciais de Heloísa Helena e Plínio de Arruda Sampaio. Ou a facilidade com que filiados importantes – como a própria ex-senadora alagoana e o senador Randolfo Rodrigues, entre outros – já anunciam apoio à candidatura de Marina Silva para o segundo turno da corrida presidencial.

O grande problema da linha adotada pelo PSOL e companhia, no entanto, é a existência de um abismo entre a caracterização do governo como “da direita” e a potente mudança positiva da situação dos trabalhadores. O “inconformismo” receitado por Medeiros esbarra no apoio de massas ao processo liderado pelo PT. Ainda que existam insatisfações concretas, especialmente nos últimos anos, os pobres da cidade e do campo não reconhecem, em sua experiência concreta, a identificação do governo petista como traidor ou patronal. Pelo simples fato que essa afirmação não se sustenta sobre a história dos últimos doze anos, refletindo apenas uma análise sectária e inócua.
Medeiros parece não dar muita bola para isso. Diante da sustentação popular ao governo petista, recorda que assim também se portava “a maioria dos trabalhadores que viviam sob o fascismo da Itália dos anos 20”. Vamos saltar seu desconhecimento sobre qual era a base social dos fascistas, que jamais conseguiram maioria entre operários e camponeses sem-terra. Ainda que adesão social não seja definidora sobre o caráter progressista ou não de um determinado partido, isolamento tampouco é prova de inconformismo eficaz, a serviço da boa causa socialista.
A incorreta apreciação sobre o significado contemporâneo do PT e seu governo, além de estimular tendência à reclusão em um gueto político, propicia certa dinâmica mercadológica: vale tudo para tentar o desgaste do partido que ocupa o espaço social supostamente dedicado à autodenominada “esquerda inconformista”, incluindo exacerbar os piores preconceitos de setores médios naturalmente antipetistas.

A ineficácia desta postura, no entanto, parece que ainda não incomoda seus autores, mesmo que os dividendos correspondentes sejam recolhidos por correntes reacionárias que celebram a possibilidade de encontrar ajuda objetiva de agrupamentos estranhos ao seu campo político-ideológico. Apropriam-se da produtividade denuncista da ultraesquerda, sugando mais um pouco de seu potencial de inserção autônoma na luta de classes.

Ainda que esta situação residual da ultraesquerda não a condene, por si só, ao desaparecimento, deveria ser suficiente para levar seus melhores dirigentes e agremiações a repensar opções que conduziram ao raquitismo, mesmo com o importante espaço à esquerda aberto pelo gradualismo petista. A preferência por atitude de rejeição, em prejuízo à hipótese de defesa e radicalização das mudanças, parece tornar inepto o acionar dos que se imaginam o último biscoito do pacote revolucionário.

Estas escolhas serão colocadas em xeque, mais uma vez, no segundo turno das eleições presidenciais de 2014. Qual será a orientação do PSOL, por exemplo? Marchando separado, golpear junto com o PT para derrotar a restauração neoliberal representada por Marina e Aécio? Ou lavar as mãos porque, conforme reza sua bem-sucedida cartilha, são todos farinha do mesmo saco e da mesma classe?
* Versão atualizada às 20h30 a pedido do autor, que ajustou os últimos parágrafos

 Breno Altman é jornalista e diretor do site Opera Mundi.

Resposta a Breno Altman: Por uma esquerda inconformista

Por Juliano Medeiros

"Acredito que, convencido de que a sociedade brasileira não suportava mais que um "reformismo fraco", o PT abandonou a perspectiva de superação política e econômica do modelo das elites em favor de uma adaptação às regras do jogo, um aggiornamento, no dizer de Lincoln Secco"

Dias atrás foi publicado artigo de autoria de Breno Altman, com o provocativo título que pergunta "por que a ultra-esquerda brasileira é residual". Curiosamente, Altman coloca a questão em debate justamente no momento em que o PT busca apoderar-se de um discurso mais ideológico contra sua principal adversária nessas eleições, Marina Silva, evocando uma contundente crítica aos bancos e defendendo - ainda que timidamente - o controle público sobre o Banco Central. Não considero que Altman, conhecido por estimular debates fundamentais para a esquerda brasileira, esteja apenas servindo como anteparo a uma estratégia que busca proteger o flanco petista junto aos eleitores assumidamente de esquerda. Ainda assim, seu artigo sugere questões que não poderiam deixar de ser respondidas.
Começo com o título do artigo, que apresenta uma premissa no mínimo questionável: seriam os partidos por ele citados membros de uma mesma "ultra-esquerda", digna de ser assim definida? O PCO, por exemplo, desde o início da campanha eleitoral deixou claro que seu objetivo é estritamente propagandístico. O PCB, por sua vez, embora não diga com essas palavras, vai mais ou menos pelo mesmo caminho, quando afirma que a prioridade nas eleições é a denúncia do capitalismo. Já o PSTU relativiza esse discurso, uma vez que admite que a eleição de parlamentares socialistas cumpre um importante papel na luta anticapitalista. O PSOL, por sua vez, nega peremptoriamente essas perspectivas e não esconde de ninguém que vê na disputa das instituições um elemento essencial na construção de uma alternativa de poder dos trabalhadores. Assim, além do fato de acreditarem que o socialismo é um objetivo a ser alcançado, pouco há em comum entre um partido minúsculo como o PCO e uma agremiação como o PSOL, que governa uma capital e elegeu parlamentares em todos os níveis desde que foi criado. Portanto, rotular pontos de vista tão distintos simplesmente como parte de uma "ultra-esquerda" não passa de um recurso de desqualificação que não pega bem para quem quer discutir a sério os dilemas da esquerda brasileira.
Mas não é aí que reside a diferença fundamental entre a análise de Altman e aquela que fazem os partidos – e falo apenas em nome do PSOL – que optaram por manter-se fora da grande concertação liderada pelo PT. Na verdade, a questão de fundo é a validade do pacto conservador – no dizer de um intelectual petista de boa-fé – como forma de superação dos limites historicamente impostos pela dinâmica capitalista brasileira. Particularmente, não estou entre aqueles que imputam à uma suposta "traição" do PT o abandono de sua vocação anticapitalista. Acredito que, convencido de que a sociedade brasileira não suportava mais que um "reformismo fraco", o PT abandonou a perspectiva de superação política e econômica do modelo das elites em favor de uma adaptação às regras do jogo, um aggiornamento, no dizer de Lincoln Secco.

Mas é compreensível que Altman busque forjar uma caricatura de nossas posições. Só assim pode simplificar a realidade para colocá-la a favor de seu discurso conformista. Quem conhece o mínimo da dinâmica econômica do capitalismo brasileiro, sabe que não é possível manter uma política macroeconômica que privilegie igualmente todos os ramos da economia. E ao fazer determinadas opções em favor deste ou daquele setor, o PT acaba forjando suas alianças. Por exemplo, enquanto o agronegócio lucra como nunca com a atual política cambial – herdada dos neoliberais e mantida pelo PT – a indústria definha ano a ano. Assim se constrói o pacto de classes que permite que um poderoso partido com raízes profundas no movimento de massas possa servir como elemento estabilizador da hegemonia de determinas frações da burguesia. Isso é o mesmo que dizer que "o PT e os demais partidos burgueses seriam farinha do mesmo saco"? Evidente que não. Essa seria uma leitura pobre (ou, pelo menos, propagandística) da realidade. Tão pobre quanto a que coloca PSOL e PCO “no mesmo saco”...

Afora os preconceitos e caricaturas que não merecem comentários (como a da "origem de classe" dos partidos que não compõem o governo petista), Altman agarra-se a duas teses principais: a) o PT tem grande base social e enraizamento popular – coisa que falta a muitos partidos da tal "ultra-esquerda" – porque representa verdadeiramente os interesses de classe dos trabalhadores; b) ao não apoiar o governo petista, a "ultra-esquerda" alia-se indiretamente à burguesia.
Burguesia
As premissas de Altman poderiam ser corretas, não fossem os ensinamentos da história. Os elementos destacados por ele como prova do compromisso do PT com os trabalhadores – expansão dos gastos públicos, políticas distributivistas, aumento do emprego e da renda dos trabalhadores – são, objetivamente, ganhos reais, mas que não comprovam qualquer compromisso em si. Por exemplo, o PMDB, partido que melhor representa os interesses do agronegócio, antagônicos ao desenvolvimento e aos trabalhadores, está alinhadíssimo com o governo. E por que seria? Porque, objetivamente, os ganhos listados por Altman não foram obstáculos ao projeto desta parte das elites. Pelo contrário. Aumentar a renda e expandir os gastos públicos, por exemplo, são instrumentos utilizados pela burguesia sempre que as condições conjunturais permitirem. Ou a Ditadura Militar também não aumentou o emprego e a renda, angariando ampla simpatia popular, no período do chamado “milagre econômico”? Não representava o regime militar um tipo de nacionalismo conservador, útil a determinadas frações da burguesia? Evidentemente, o aumento do emprego, da renda, das políticas redistributivas, é resultado de determinadas opções que podem ser consideradas corretas. Mas o fato de que a maioria da população não tenha se convencido dos limites do lulismo – tal como não estava convencida das propostas radicais do PT em 1989, optando por Collor – não colocam a "narrativa" de Altman mais próxima da realidade.

"O núcleo da burguesia que assumiu protagonismo com o crescimento da economia mundial e a explosão das commodities em meados da década passada é aquele que hoje está ao lado do governo e não contra ele: o agronegócio, as empreiteiras e setores do capital financeiro"



Por isso o petismo precisa lançar mão de outro argumento central: o de que não apoiar o governo é fazer, objetivamente, o jogo da direita. O problema, aqui, é que Altman considera a "direita" um bloco homogêneo, cujo "núcleo central" está em oposição ao governo. Nada mais falso. O núcleo da burguesia que assumiu protagonismo com o crescimento da economia mundial e a explosão das commodities em meados da década passada é aquele que hoje está ao lado do governo e não contra ele: o agronegócio, as empreiteiras e setores do capital financeiro. Ficaram no prejuízo a indústria e outra parte dos financistas. A CNA, de Kátia Abreu, não está com o governo? As empreiteiras, não estão com o governo? Os partidos que representam esses setores não estão com o governo?
Conformismo

A narrativa que coloca a direita como um bloco homogêneo é pobre, mas funcional. Através dela, todos os que estiverem contra o governo, estão com a direita. A retomada das privatizações (ou "concessões", como prefere o governo), a regressão da legislação ambiental e indígena, o crescimento do fundamentalismo no Congresso Nacional, as altas taxas de juros que inviabilizam o investimento produtivo e garantem o lucro dos bancos, tudo isso, não pode ser imputado exclusivamente a uma direita abstrata, que só existe em oposição ao governo. A direita também está no governo. E não através de um golpe, mas convidada pelos anfitriões do baile. Com isso, este também é um governo da direita, ou ao menos de parte dela. Da mesma forma, há milhares de trabalhadores que consideram, por ausência de uma alternativa, que este também é seu governo. Como achava a maioria dos trabalhadores que viviam sob o fascismo na Itália dos anos 20. Com isso, quero dizer que legitimidade não é suficiente para determinar o caráter de um projeto.

Por fim, afora todo o conformismo de Altman, para o qual o governo está no limite do possível, encontro em seu artigo uma afirmação verdadeira: há espaço à esquerda do PT. Não para cumprir o papel sugerido por Altman – a saber, a de uma "consciência crítica" do PT – mas para apresentar uma alternativa de poder que considere a hipótese de enfrentamento com os senhores que, há quinhentos anos, determinam os rumos do país. Esse é o bloco histórico do qual o Brasil precisa, e espero sinceramente que nele estejam muitos pós-petistas, que não tendo abandonado a crença de que os trabalhadores podem determinar seu destino, não aceitaram os limites do conformismo que a realpolitik impôs ao PT.