segunda-feira, 5 de maio de 2014

25 dos melhores livros sobre o golpe de 1964 e a ditadura civil militar que acabou em 1985


Hoje em nossa aula finalizando o Projeto "Ecos da Ditadura", algumas alunas me solicitaram dicas de livros sobre a ditadura militar brasileira. Segue aí, espero que contemple a todas e a todos.




O golpe civil-militar de 1964 vai se tornar cinquentão entre os dias 31 de março e 1º de abril. A direita afirma que o golpe se deu em março. A esquerda, para conectar com o dia da mentira, sustenta que ocorreu em 1º de abril. Há vários livros sobre o golpe e os governos ditatoriais. Listei 25, mas poderia ter arrolado mais de 50. Algum livro de alta qualidade ficou fora da lista? É provável. Mas listas são sempre lacunares. O Jornal Opção poderia ter arrolado, por exemplo, livros de Octávio Ianni (“O Colapso do Populismo no Brasil”), Francisco de Oliveira (“Crítica à Razão Dualista”), Maria da Conceição Tavares (“Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro”), Carlos Lessa (“15 Anos de Economia Brasileira”), Carlos Castello Branco (“Introdução à Revolução de 1964”) e Francisco Weffort (“O Populismo na Política Brasileira”). Poderia ter citado um livro básico, como “O Governo Goulart e o Golpe de 64” (Brasiliense, 144 páginas), de Caio Navarro de Toledo, ou o terceiro tomo de “O Brasil Republicano”.

1 – Ilusões Armadas, de Elio Gaspari
A história geral mais ampla do golpe de 1964 e sobre os governos da ditadura civil-militar, além da reação da guerrilha, pode ser encontrada nos quatro volumes escritos por Elio Gaspari: “A Ditadura Envergonhada”, “A Ditadura Escancarada”, “A Ditadura Encurralada” e “A Ditadura Derrotada”. Quem não conhece nada a respeito do regime instalado há quase 50 anos, ou conhece pouco, pode consultar, com grande proveito, os quatro livros do jornalista (ele está escrevendo o quinto volume). A Editora Intrínseca está lançando uma edição revista.
2 – 1964: A Conquista do Estado, de René Armand Dreifuss
O uruguaio René Armand Dreifuss, no livro “1964: A Conquista do Estado — Ação Política, Poder e Golpe de Classe” (Vozes, 814 páginas, tradução de Ayeska Branca, Ceres Ribeiro, Else Ribeiro e Glória de Mello), escreveu o clássico sobre o golpe. A obra foi publicada em 1981, mas, 32 anos depois, sua pesquisa resiste — tal a sua qualidade. Claro que novos documentos foram divulgados, o que, de certo modo, desatualiza parte da pesquisa anterior. Dreifuss documenta bem a conexão militares e civis, o que prova que o golpe, além de militar, também foi civil. Documenta as ações do Ipes e do Ibad na articulação e financiamento da derrubada do presidente João Goulart.
3 – Os Senhores das Gerais, de Heloisa Starling
“Os Senhores das Gerais — Os Novos Inconfidentes e o Golpe de 1964” (Vozes, 378 páginas), de Heloisa Maria Murgel Starling, é uma espécie de “1964: A Conquista do Estado” de Minas Gerais (René Armand Dreifuss foi orientador da dissertação de mestrado da autora) . Com farta documentação e uma bibliografia vasta — por exemplo, as memórias dos generais Carlos Guedes e Olímpio Mourão Filho—, Starling rastreia a ação do Ipes em Minas Gerais. Minas, como se sabe, “começou” o golpe, com Olímpio Mourão e Magalhães Pinto, civil.
4 – Além do Golpe, de Carlos Fico
“Além do Golpe — Versões e Controvérsias Sobre 1964 e a Ditadura Militar” (Record, 391 páginas), do historiador Carlos Fico, examina criticamente as principais obras sobre o golpe e a ditadura. Examina, com rigor, as virtudes e os problemas das obras de outros pesquisadores, como René Armand Dreifuss e Elio Gaspari (talvez seja a crítica mais consistente à pesquisa de Gaspari). Pesquisadores ganham um amplo e fundamental guia bibliográfico. No final da obra, Fico arrola documentos importantes, como a íntegra do AI-5.
5 – O Grande Irmão, de Carlos Fico
“O Grande Irmão: Da Operação Brother Sam aos Anos de Chumbo — O Governo dos Estados Unidos e a Ditadura Militar Brasileira” (Civilização Brasileira, 334 páginas), de Carlos Fico, é um livro muito documentado sobre o golpe de 1964 e o regime civil-militar. A história de um “contragolpe preventivo”, a ser dado por João Goulart, é contestada pelo historiador: “Trata-se de especulação inconsistente não apenas porque é anacrônica. (...) não há nenhuma evidência empírica de que Goulart planejasse um golpe e todos sabemos que um golpe era planejado contra ele”. Fico nota que civis foram mais presentes na campanha de estabilização do governo de Jango. A participação americana “foi decisiva” para o golpe. “A Operação Brother Sam não foi pouca coisa.” Fico publica vários documentos.
6 – Brasil: de Getúlio a Castello, de Thomas Skidmore
O brasilianista Thomas Skidmore é autor de duas histórias gerais de qualidade sobre o Brasil: “Brasil: de Getúlio a Castello — 1930-64” (Companhia das Letras, 496 páginas, tradução de Berillo Vargas) e “Brasil: De Castello a Tancredo: 1964-1985” (Paz e Terra, 608 páginas, tradução de Mário Salviano Silva). Novos livros, como os de Gaspari e Fico, ampliaram a história do período. Mas as obras de Skidmore permanecem — com erros aqui e ali — como uma narrativa de qualidade de 55 anos de história do Brasil.
7 - 1964 — História do Regime Militar Brasileiro, de Marcos Napolitano
Marcos Napolitano, professor da USP, escreveu uma síntese em “1964 — História do Regime Militar Brasileiro” (Contexto, 368 páginas). O doutor em história assinala que civis e militares atuaram unidos para derrubar João Goulart — portanto, o golpe foi civil-militar —, mas discorda da tese de que houve uma ditadura civil-militar. “Os militares sempre se mantiveram no centro decisório do poder”, frisa. Outros historiadores, como Daniel Aarão Reis Filho, defendem a tese de que o regime foi, sim, civil-militar. Os civis, além de governarem os Estados, foram responsáveis, em larga escala, pela política de planejamento e fazendária e pela formulação do arcabouço institucional do regime.
8 - 1964 — O Verão do Golpe, de Roberto Sander
O jornalista Roberto Sander teve uma boa ideia (que pode ser ampliada). No livro “1964 — O Verão do Golpe” (Maquinária, 269 páginas), o jornalista construiu uma boa síntese do golpe, com uma leitura atenta da bibliografia, paralelamente faz a uma história cultural do período. Em suas páginas desfilam desde João Goulart, Castello Branco até a atriz francesa Brigitte Bardot, a cantora Nara Leão (estrela da Bossa Nova), o músico Jorge Ben e o cineasta Glauber Rocha (o Cinema Novo). Mesmo na crise, o brasileiro estava de bem com a vida.
9 - João Goulart — Uma Biografia, de Jorge Ferreira
Uma biografia pode ser uma grata história de um período. É o que mostra o historiador Jorge Ferreira no livro “João Goulart — Uma Biografia” (Civilização Brasileira), de longe, o melhor estudo sobre o presidente deposto em 1964. Ferreira não pretende criar um novo mito. Pelo contrário, tira a roupa do mito criado pelo esquerda e pela direita e vai além da imagem do herói e do vilão. Jango ressurge com cores novas, um político mais articulado do que se tem mostrado e pelo menos pusilânime.
10 – Visões do Golpe — A Memória Militar Sobre 1964, de Maria Celina D’Araújo
Aos militares são dadas poucas chances de se manifestarem de forma isenta. O livro “Visões do Golpe — A Memória Militar Sobre 1964” (, organizado por Maria Celina D’Araújo, Celso Castro e Gláucio Ary Dillon Soares, contém entrevistas de vários militares que contribuíram para derrubar João Goulart e participaram dos governos ditatoriais. Há depoimentos moderados e radicais, apresentados de maneira integral, sem cortes. É um documento histórico valioso, um maná para pesquisadores. Porque os militares não falam com facilidade.
11 - Cães de Guarda — Jornalistas e Censores, de Beatriz Kushnir
Há um livro que as redações de alguns jornais não podem resenhar — nem contra. “Cães de Guarda — Jornalistas e Censores, do AI-5 à Constituição de 1988” (Boitempo, 408 páginas), da historiadora Beatriz Kushnir. A pesquisadora, num estudo alentado, mostra que, além de apoiar o golpe de 1964, a chamada grande imprensa coonestou os atos da ditadura. A relação com a censura foi bem menos tensa do que dizem alguns editores e donos de jornais e redes de televisão. Alguns veículos colaboraram, de boa vontade, com a ditadura civil-militar. O dono de uma revista teria enviado um profissional para treinar censores. Agora, quando todo mundo se apresenta “contra” o regime militar, o livro se tornou “maldito”.
12 - Carlos Lacerda — A Vida de Um Lutador
O brasilianista John W. F. Dulles escreveu uma biografia ampla de Carlos Lacerda, o civil que mais trabalhou para derrubar o presidente João Goulart, em “Carlos Lacerda — A Vida de um Lutador” (Nova Fronteira, dois volumes, 1263 páginas, tradução de Vanda Mena Barreto de Andrade e Daphne F. Rodger). Nada escapa do meticuloso Dulles, desde a história do golpista profissional e do governador eficiente da Guanabara até os casos amorosos com as atrizes Shirley MacLaine e Maria Fernanda Correia Dias (filha da poeta Cecília Meirelles). “Não praticava o homossexualismo, como alegaram no final da sua vida alguns detratores”, relata o pesquisador.
13 – Os Militares na Política: As Mudanças de Padrões na Vida Brasileira, de Alfred Stepan
O brasilianista Alfred Stepan é autor de alguns livros sobre o Brasil, como “Os Militares na Política: as Mudanças de Padrões na Vida Brasileira” (Artenova, de 1975) e “Os Militares. Da Abertura à Nova República (Paz e Terra, 115 páginas, de 1986). Mesmo fazendo críticas ao primeiro livro, Carlos Fico diz que o cientista político “apontou, corretamente, a necessidade de se estudar os militares considerando-se tanto suas interações com a sociedade quanto suas características específicas de grupo especializado”.
14 – El Caudilho — Leonel Brizola, de F. C. Leite Filho
Leonel Brizola, que foi governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, merece uma biografia tão alentada quanto a que Jorge Ferreira escreveu sobre João Goulart. Não um “ataque” ou uma “apologia”, e sim uma interpretação detida do político gaúcho, uma espécie de Carlos Lacerda do nacionalismo de esquerda. Na falta de um estudo mais abalizado, vale a pena ler “El Caudilho — Leonel Brizola: Um Perfil Biográfico” (Aquariana, 544 páginas), do jornalista F. C. Leite Filho. O capitão José Wilson da Silva, no livro “O Tenente Vermelho” (Tchê!, 272 páginas), conta que Brizola recebeu (mas não desviou) dinheiro de Cuba.
15 – Brasil: Nunca Mais, “organizado” por Paulo Evaristo Arns e Jaime Wright
Um livro fundamental na historiografia do regime militar é “Brasil: Nunca Mais” (Vozes, 312 páginas), patrocinado por d. Paulo Evaristo Arns e pelo reverendo Jaime Wright. A obra relatou como atuava o aparelho repressivo e listou os principais torturadores dos porões da ditadura. Trata-se de uma obra rigorosa. Setores da direita atacam o levantamento, sugerindo que há falhas, mas, no geral, trata-se de uma pesquisa rigorosa e desapaixonada. Honestino Guimarães e a uruguaia Maria Cristina Uslenghi Rizzi, que foi casada com Tarzan de Castro, são citados. Honestino foi torturado e morto pelos militares. Cristina escapou.
16 – Os Anos do Condor, de John Dinges
O livro “Os Anos do Condor — Uma Década de Terrorismo Internacional no Cone Sul” (Companhia das Letras, 445 páginas, tradução de Rosaura Eichenberg), de John Dinges, mostra a conexão da ditadura brasileira com as ditaduras de outros países sul-americanos, como a chilena de Augusto Pinochet. Dinges conta, detalhadamente, como foi formatada a Operação Condor. Na página 215, relata que a brasileira Regina Marcondes foi sequestrada na Argentina, ao lado de Edgardo Enríquez, líder do MIR. As mortes de Juscelino Kubitschek, João Goulart e Carlos Lacerda são mencionadas na página 336.
17 – Castello — A Marcha Para a Ditadura, de Lira Neto
O general-presidente Castello Branco permanecia um homem enigmático. O jornalista Lira Neto contribui para iluminá-lo na biografia “Castello — A Marcha Para a Ditadura” (Contexto, 428 páginas). Ele era uma espécie de Fouché, um homem das sombras, articulado e inteligente. E, sim, queria mesmo devolver o poder aos civis — desde que a um aliado, como Bilac Pinto. Mas, sob pressão da linha dura, aceitou a candidatura de Costa e Silva a presidente. “O que está em jogo é a sagrada unidade das Forças Armadas”, disse Castello aos aliados. “Vamos vender o futuro por uma solução precipitada do presidente”, contestou o general Ernesto Geisel. Ao exonerar Sylvio Frota do Ministério do Exército, anos depois, Geisel não quis ser o Castello Branco 2.
18 – Ernesto Geisel, organizado por Maria Celina D’Araújo e Celso Castro
O livro “Ernesto Geisel” (Fundação Getúlio Vargas, 494 páginas), organizado pelos historiadores Marina Celina D’Araújo e Celso Castro, contém uma longa entrevista do general-presidente que, com o apoio de Golbery do Couto e Silva, matou a ditadura. Geisel mostra-se de uma sinceridade impressionante: “Acho que a tortura em certos casos torna-se necessária, para obter confissões”. Garante que o comandante do Exército de São Paulo, Ednardo d’Ávila Melo, era omisso e seus subordinados faziam o que queriam — daí as mortes do jornalista Vladmir Herzog e do operário Manuel Fiel Filho. Admite que Juscelino Kubitschek não era corrupto. E relata como evitou o golpe militar do general Sylvio Frota.
19 – Combate nas Trevas, de Jacob Gorender
“Combate nas Trevas” (Ática, 294 páginas), do historiador Jacob Gorender, publicado há quase três décadas, permanece o mais importante relato sobre as ações da esquerda contra os governos militares. Embora crítico da ditadura, mostrando os abusos de militares e delegados de polícia, Gorender não faz uma defesa desbragada da esquerda. Faz críticas, aponta insuficiências de interpretação da realidade brasileira e revela justiçamentos feitos pelos esquerdistas. “A Revolução Impossível — A Esquerda e a Luta Armada no Brasil ” (Best Seller, 755 páginas), de Luís Mir, é um bom livro, embora seja criticado por acadêmicos. Ele antecipou, por exemplo, uma história relatada por Gorender: o encontro de Carlos Marighella com o general Albuquerque Lima. Em plena ditadura.
20 – Ministério do Silêncio — A História do Serviço Secreto Brasileiro, de Lucas Figueiredo
“Como Eles Agiam — Os Subterrâneos da Ditadura Militar: Espionagem e Polícia Política” (Record, 269 páginas), do historiador Carlos Fico, é excelente. Fico talvez seja o principal historiador do período ditatorial. Sua história pode ser complementada pelo livro “Ministério do Silêncio — A História do Serviço Secreto Brasileiro de Washington Luís a Lula: 1927-2005” (Record, 591 páginas), de Lucas Figueiredo. “O modelo do SNI era mais parecido com o adotado pela ditadura comunista da União Soviética”, escreve Figueiredo.
21 – Os Advogados e a Ditadura de 1964, organizado por Fernando Sá, Oswaldo Munteal e Paulo Martins
Ser advogado de presos políticos na ditadura não era fácil. Mesmo assim, sob ameaças e pressões, alguns advogados trabalharam para encontrar (as prisões não eram notificadas às famílias) e defender presos políticos. “Os Advogados e a Ditadura de 1964 — A Defesa dos Perseguidos Políticos no Brasil” (PUC Rio e Vozes, 279 páginas), organizado por Fernando Sá, Oswaldo Munteal e Paulo Emílio Martins, com prefácio de d. Paulo Evaristo Arns, conta a história de Sobral Pinto, Modesto da Silva, Mário de Passos Simas, Heleno Fragoso, Aírton Soares, Marcello Alencar, Sigmaringa Seixas, George Tavares, Hélio Bicudo, Luiz Eduardo Greenhalgh e, entre outros, Dalmo Dallari.
22 – Gracias a la Vida — Memórias de um Militante, de Cid Benjamin
Cid Benjamin é autor de um dos melhores livros de memória da esquerda (muito superior aos livros de Carlos Eugênio Paz, da ALN). “Gracias a la Vida — Memórias de um Militante” (José Olympio, 292 páginas) relata a história de jovens guerrilheiros, entre eles Benjamin e um irmão, Cesar, que combateram a ditadura civil-militar. Porém, no lugar de euforia, ufanismo e grandiloquência, o jornalista faz um relato sóbrio e extremamente sincero. Apesar das autocríticas, sempre equilibradas, não rompeu com a esquerda, embora seja um crítico contundente do PT de Lula da Silva. Sua crítica ao sindicalismo petista (de resultados e pelego) é muito bem elaborada. Trata-se de uma denúncia séria, fundamentada e grave. Mas quem quer discutir isto? Os sindicalistas só querem dinheiro e mais dinheiro.
23 – Mata! — O Major Curió e as Guerrilhas no Araguaia, de Leonencio Nossa
O jornalismo e, mesmo, a academia ainda não digeriram a qualidade do livro “Mata! O Major Curió e as Guerrilhas no Araguaia” (Companhia das Letras, 443 páginas), do jornalista Leonencio Nossa. Como Curió é apresentado como uma figura execrável, porque teria contribuído para matar pessoas a sangue frio, um livro que apresenta sua versão acaba por ser mal visto. No entanto, ainda que se mantenha reservas, é provável que a obra deva ser vista sobretudo como um documento histórico. Mais: a pesquisa do repórter vai além das versões do militar. O jornalista Hugo Studart é autor de “A Lei da Selva — Estratégias, Imaginário e Discurso dos Militares Sobre a Guerrilha do Araguaia” (Geração Editorial, 383 páginas). A guerrilha deixou de ser “propriedade” da esquerda.
24 – Marighella — O Guerrilheiro Que Incendiou o Mundo, de Mário Magalhães
Falta um grande livro sobre a oposição democrática à ditadura. Ancorada no MDB, enfrentou os militares e seus aliados civis. Enquanto o livro não é publicado, vale a pena ler a biografia “Marighella — O Guerrilheiro Que Incendiou o Mundo” (Companhia das Letras, 732 páginas), de Mário Magalhães. O estudo consumiu nove anos e é excelente. É uma história do Brasil vista a partir da perspectiva de um indivíduo. Como não se trata de obra de condenação de Carlos Marighella (líder máximo da Ação Libertadora Nacional, ALN), que evidentemente não era democrata, acabou criticada com aspereza em blogs e na revista “Veja” (Augusto Nunes) Entretanto, embora empática, não se trata de obra de exaltação. É rigorosa, precisa.
5 – História Indiscreta da Ditadura e da Abertura, de Ronaldo Costa Couto

A tese de doutorado de Ronaldo Costa Couto, apresentada na Sorbonne, é um dos melhores livros sobre a ditadura civil-militar. “História Indiscreta da Ditadura e da Abertura — Brasil: 1964-1985” (Record, 518 páginas) mostra, de maneira didática e analítica, como se deu a Abertura. É uma história minuciosa, que valoriza os políticos democráticos, evidenciando como trabalharam pela Abertura, atuando tanto no MDB quanto na Arena. Indica também a vocação de alguns militares pela redemocratização, casos de Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva.

sábado, 3 de maio de 2014

Homens Invisíveis - Documentário sobre moradores de rua


Homens Invisíveis é um documentário que fala sobre pessoas excluídas do cardápio social, pessoas que estão diante de nós todos os dias e muitas vezes não as notamos e para isso foram usadas as falas de especialistas, pessoas comuns e dos próprios moradores de rua. 




Para fazer download deste vídeos clique no http://www.4shared.com/file/102251581...

PARA BAIXAR A TRILHA SONORA PRINCIPAL, AUTORIA: SAULO LEAL "TIO MARUZO"
http://www.4shared.com/zip/_mBspwyM/T...

Contato
Saulo Leal
tiomaruzo@gmail.com

Dicas de Livros com resumos





A obra conta a história de quando o rei de Portugal D, João VI ameaçado pelas invasões napoleônicas por ter furado o bloqueio continental com a Inglaterra, foge para a sua maior colônia na época o Brasil. Incluindo fatos e dados como a Revolução Francesa que “redesenhou o mapa da Europa”, a formação do Império Napoleônico, a vitoriosa resistência Inglesa, as tentativas de dominação francesa e a Colonização do Brasil, cuja riqueza sustentou a realeza lusitana, para onde a Família Real transferiu a sede do governo Português, fato sem precedentes na história conforme afirma autor.








 Uma pessoa assim pode andar pelas ruas e praças do centro das capitais brasileiras, como o Rio de Janeiro ou Curitiba, e observar os monumentos sem saber muito acerca do contexto histórico de vários republicanos homenageados, tais como Marechal Deodoro, Marechal Floriano, Benjamin Constant, Silva Jardim ou Rui Barbosa. Exemplos não faltariam uma vez que foi feito um esforço consistente e proposital por parte dos instauradores do novo regime no sentido de fixar símbolos e personagens, em detrimento, inclusive, da memória do regime monarquista. Para entender melhor como ocorreu este processo e destrinchar esse período complexo de transformações a leitura do livro "A Formação das Almas – O imaginário da República no Brasil" de José Murilo de Carvalho, publicado em 1990, em comemoração ao centenário da República brasileira, pode nos fornecer importantes subsídios.
 Quem conta um conto, aumenta um ponto.
Esse ditado popular brasileiro de certa forma se aplica também quando o que se conta é a própria história do nosso país (e também do mundo).
 Isso quer dizer que os historiadores inventam? Aumentam? Distorcem? Não! Não fazem isso... Ao menos não os historiadores rigorosos e dignos dessa denominação.
Mas os historiadores fazem opções, escolhem caminhos, selecionam (ou descartam) fontes de informações, tem mais ou menos acesso a documentos históricos.
Enfim, a vida, como já bem o disse Caetano Veloso, “é sempre vista de viés”. E a história também. Tudo depende da interpretação, embora nem tudo seja possível de ser interpretado de duas formas muito diversas.  E é isso que podemos aprender um pouco assistindo à série História do Brasil por Boris Fausto. A visão do historiador, no caso Boris Fausto, está sempre presente: seja na seleção de quais momentos merecem maior destaque, seja nas conclusões a que chega.
E quando se trata de resenhar toda a história do Brasil, como faz Boris Fausto, isso não é apenas necessário: é fundamental. Caso contrário o historiador se perderia em minúcias. O que talvez comprometesse (ou até mesmo inviabilizasse) o seu trabalho de busca por reconstruir os processos históricos a que se propôs analisar e estudar.


 A Revolução Francesa foi, antes de mais, um acontecimento cujo alcance abalou de forma irreversível as estruturas sociais e políticas da Europa. Neste sentido, importa conhecer o seu percurso e analisar a forma como se desenrolou - a expansão revolucionária, a guerra, o Terror, a Contra-Revolução. Mas a Revolução foi também um corte radical com o antigo regime, possibilitando a génese de um novo conjunto de valores, fosse no domínio político, social ou económico; valores que se consubstanciam na célebre Declaração dos Direitos do Homem. Para se perceber a Era Moderna, que, aliás, inaugurou, é crucial perceber o que esteve na origem deste acontecimento que tão profundas modificações iria causar, não só em França, mas também no resto da Europa. 

A Revolução Francesa, 1789-1799 - Michel Vovelle

Neste revelador livro, onde curiosos documentos ilustram a descrição do aumento progressivo da técnica e a preponderância da máquina, observa-se a forma inevitavelmente incidente que estes conhecimentos tiveram no campo industrial.






 Mais que pensar em uma monarquia, com a figura do rei como centro e controle de poder, durante a realização da leitura dos textos designados dentro da obra de Shwarcz, nos deparamos de início com o mito “jê” para ser umas das representações de como Dom Pedro II era retratado nos diversos segmentos culturais existentes no Brasil, exaltado em algumas situações como a “Festa do Divino”, colocado como figurante em outra ou até mesmo deixado como expectador, mas valendo-se dessa informação detectamos talvez uma circularidade cultural no processo monárquico do segundo reinado brasileiro.
 No livro As origens do pensamento grego, o autor Jean Pierre Vernant fala da história da Grécia Antiga que foi marcadamente caracterizada por inúmeras invasões, contato direto com o Oriente, fases de desenvolvimento e retrocesso. Esses fatores desencadearam no surgimento do pensamento filosófico.
A queda do sistema palaciano Micênico, herdado dos cretenses, mas que ganhou uma forma própria, é decisivo para a quebra do equilíbrio soberano do anáx, o rei. O palácio era responsável e dominava todos os âmbitos a vida do povo aqueu: do setor econômico ao religioso, do político ao militar, ou seja, todos os setores da vida social de seu povo. Gerando, entretanto, constante dependência. O rei tinha o apoio direto dos seus subordinados: os escribas, funcionários reais, etc. que garantiam todos os desejos do Rei por todo o seu território. 
Com as invasões dóricas o rei não tem mais poder de controle. A queda desse sistema divide a sociedade e cria-se um conflito entre e a aristocracia, rica e dona das terras, com os aldeães, pobres e trabalhadores da terra. É a partir desses conflitos que vai haver uma desorganização e uma reflexão moral, inicia-se primeiros sinais de discussão, debate, enfim de política. 
 Livro histórico do jornalista Bueno, de 1998 lançado em função aniversário oficial do país, 500 anos em 2000. Os feitos de figuras como Vasco da Gama, Duarte, Cabral, João II ou Nicolau Coelho, pontuam a narrativa de Bueno, preocupada em recuperar detalhes sobre a empreitada de Pedr´Alvares que, por muito tempo, ficou conhecida como uma viagem de descoberta ocasional do Brasil.
Preocupado mais com o pitoresco da viagem lusa, o leitor fica sabendo desde o tamanho das naus, a tripulação, quanto em dinheiro receberam, até planos dos reis, o desgosto de gente como Diogo Cão e referências aos aspectos científicos da viagem, assim como a verdadeira história de Dom Henrique, enfim… um painel da aventura do descobrimento (achamento) do Brasil. Por outro lado, senti falta da ligação de Portugal com o contexto europeu, uma vez que o fim do feudalismo estava anunciado e uma nova ordem política, na Europa se expunha. Em que pé estariam, por exemplo, os espanhóis, nesse processo expansionista? E holandeses?
Desde a viagem de Vasco da Gama (1498) havia necessidade clara de circundar a região do cabo Bojador, trazendo as naus mais para oeste, a fim de escapar de calmarias, encontrando ventos melhores, rumo às Índias. Vasco da Gama teria sugerido o movimento mais amplo para a expedição encabeçada por Cabral, rumo a oeste, não só pela necessidade dos tais ventos, mas também para que se pudesse ter a certeza de que, por aquela rota alternativa, achariam terras. E deu certo.
É fato que duas outras figuras, ironicamente espanholas, costearam o litoral nordeste e norte, do Brasil, em 1500, entre janeiro e março: Pinzon e Lepe. Contudo, historiadores como Capistrano de Abreu querem dar importância maior ao feito de Cabral em função do contato com pessoas, dando caráter sociológico destacável mais ao feito do português que do espanhol. Puro ciúme. Pinzón e Lepe descobriram o país e é difícil para o brasileiro, em geral, aceitar a coisa. Talvez muitos nem saibam disso, o que me lembra a história birrenta que o brasileiro criou entre irmãos Wright e Dumont, desde o final do século 19 e começo do 20, sobre quem teria voado primeiro.
Não é possível, segundo o que se lê, separar Gama de Cabral, mesmo que Camões, em 1572, tenha se esquecido de mencionar Pedro em seu poema épico. Gama possui, no Mosteiro dos Jerônimos, um túmulo especial, elevado, próximo ao de Camões, em Belém. Merecido. A Cabral restou o quase esquecimento, assim como a própria terra dos papagaios ficou, por trinta anos, abandonada pela corte. Poderia ter ficado mais tempo, de repente mais índios nasceriam e seria difícil dizimar a todos em tão pouco tempo. Contudo, em 1534 vieram os jesuítas…a força da Companhia de Jesus era mesmo potente.




 Em 1933, após exaustiva pesquisa em arquivos nacionais e estrangeiros, Gilberto Freyre publica Casa-Grande & Senzala, um livro que revoluciona os estudos no Brasil, tanto pela novidade dos conceitos quanto pela qualidade literária.
Gilberto Freyre foi buscar nos diários dos senhores de engenho e na vida pessoal de seus próprios antepassados a história do homem brasileiro. As plantações de cana em Pernambuco eram o cenário das relações íntimas e do cruzamento das três raças: índios, africanos e portugueses.
Em Casa-Grande & Senzala, o escritor exprime claramente o seu pensamento. Ele diz: "o que houve no Brasil foi a degradação das raças atrasadas pelo domínio da adiantada" . Os índios foram submetidos ao cativeiro e à prostituição. A relação entre brancos e mulheres de cor foi a de vencedores e vencidos.
"Casa-Grande & Senzala foi a resposta à seguinte indagação que eu fazia a mim próprio: o que é ser brasileiro? E a minha principal fonte de informação fui eu próprio, o que eu era como brasileiro, como eu respondia a certos estímulos." 
Havia tempos Gilberto Freyre procurava escrever sobre o ser brasileiro. Pressões políticas e familiares o levaram, entre 1930 e 1932, a viver o que chamou de "a aventura do exílio". Partiu para a Bahia e pesquisou as coleções do Museu Afro-Brasileiro Nina Rodrigues e a arte das negras quituteiras na decoração de bolos e tabuleiros. Observou que a culinária baiana era neta da velha cozinha das casas-grandes.
Depois da Bahia partiu para a África e Portugal. Iniciou em Lisboa as pesquisas e estudos que sedimentariam o livro Casa-Grande & Senzala. De Portugal foi, como professor visitante, para a Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, onde viajou pelo Sul e pôde constatar a existência, durante a colonização americana, do mesmo tipo de regime patriarcal encontrado no nordeste brasileiro.
"Eu venho procurando redescobrir o Brasil. Eu sou rival de Pedro Álvares Cabral. Pedro Álvares Cabral, a caminho das Índias, desviou-se dessa rota, parece já baseado em estudos portugueses, e identificou uma terra que ficou sendo conhecida como Brasil. Mas essa terra não foi imediatamente auto-conhecida. Vinham sendo acumulados estudos sobre ela... mas faltava um estudo convergente, que além de ser histórico, geográfico, geológico, fosse... um estudo social, psicológico, uma interpretação. Creio que a primeira grande tentativa nesse sentido representou um serviço de minha parte ao Brasil."  
Durante o período de estudos na universidade americana, o escritor elaborou uma linha de pensamento que diferenciava raça e cultura, separava herança cultural de herança étnica; trabalhou o conceito antropológico de cultura como o conjunto dos costumes, hábitos e crenças do povo brasileiro.
"Gilberto Freyre diz que Franz Boas foi a figura de mestre que nele ficou maior impressão, porque foi com Franz Boas que ele aprendeu a distinguir raça de cultura, e nessa distinção ele se baseou para escrever Casa-Grande & Senzala. Agora, o conceito de antropologia de Freyre era muito mais amplo, ele partiu para uma interpretação global do povo brasileiro. É uma história ao mesmo tempo econômica, religiosa, folclórica, sociológica." Édson Nery da Fonseca, historiador (Olinda, PE)
"Quando, em 1532, se organizou econômica e civilmente a sociedade brasileira, já foi depois de um século inteiro de contato dos portugueses com os trópicos; de demonstrada na Índia e na África sua aptidão para a vida tropical. Formou-se na América tropical uma sociedade agrária na estrutura, escravocrata na técnica de exploração econômica, híbrida de índio, e mais tarde de negro, na composição." Trecho de Casa-Grande & Senzala.  
Portugal, um país largamente marítimo, recebia sempre povos de todos os lugares do mundo. Seus portos eram rota de comércio e de migrações. O contato com estrangeiros estimulava, no povo português, tendências cosmopolitas, imperialistas e comerciais. Na Península Ibérica as raças se misturavam havia milênios. 
O encontro das culturas árabes e romana impregnava a moral, a arte, a economia e a vida do português. Os árabes - excelentes técnicos navais - e os judeus - financistas e com altos cargos de administração, no conselho real -, emprestavam conhecimento e dinheiro para o empreendimento das navegações e dos descobrimentos. A burguesia comercial ganhava mais poder que a aristocracia territorial portuguesa e buscava no além-mar terras e riquezas nunca exploradas.
Além da mobilidade, o português tinha a capacidade de se misturar facilmente com outras raças. Os homens vinham sem família, sozinhos. Chegavam carentes de contato humano e começavam a se reproduzir primeiro com as índias e depois com as negras escravas. Era preciso povoar o território. No momento em que embarcou na aventura ultramarina, Portugal tinha três milhões de habitantes. O Brasil era imenso; então, como povoar esse território? 
"Durante quase todo o século XVI a colônia esteve escancarada a estrangeiros, só importando às autoridades que fossem de fé católica. Temia-se no adventício acatólico o inimigo político capaz de quebrar aquela solidariedade que em Portugal se desenvolvera junto com a religião católica. Essa solidariedade manteve-se entre nós esplendidamente através de toda a nossa formação colonial." Trecho de Casa-Grande & Senzala.  
Foi aqui que chegou...dia 02 de março de 1535...um português chamado Duarte Coelho Pereira, viu essa bela vista e deu uma exclamação:Oh! linda situação para se construir uma vila. Por isso que a cidade se chama Olinda. Antigamente chamava Marino Caetês, habitada pelos índios. Em Pernambuco e no Recôncavo baiano, a colonização se desenvolvia à sombra das grandes plantações de cana-de-açúcar e das casas-grandes de taipa ou de pedra e cal, longe das cabanas de aventureiros e do extrativismo predatório.
"A casa-grande do engenho que o colonizador começou, ainda no século XVI, a levantar no Brasil - grossas paredes de taipa ou de pedra e cal, telhados caídos num máximo de proteção contra o sol forte e as chuvas tropicais - não foi nenhuma reprodução das casas portuguesas, mas expressão nova do imperialismo português. A casa-grande é brasileirinha da silva." Trecho de Casa-Grande & Senzala.  
Num processo de equilíbrio de antagonismos, o branco e o negro se misturavam no interior da casa-grande e alteravam as relações sociais e culturais, criando um novo modo de vida no século XVI. As relações de poder, a vida doméstica e sexual, os negócios e a religiosidade forjavam, no dia-a-dia, a base da sociedade brasileira.
A casa-grande abrigava uma rotina comandada pelo senhor de engenho, cuja estabilidade patriarcal estava apoiada no açúcar e no escravo. O suor do negro ajudava a dar aos alicerces da casa-grande sua consistência quase de fortaleza. Ela servia de cofre e de cemitério. Sob seu teto viviam os filhos, o capelão e as mulheres, que fundamentariam a colonização portuguesa no Brasil. Embora diretamente associada ao engenho de cana e ao patriarcalismo nortista, a casa-grande não era exclusiva dos senhores de engenho. Podia ser encontrada na paisagem do sul do país, nas plantações de café, como uma característica da cultura escravocrata e latifundiária do Brasil.
O clima tropical e as formas agressivas de vida vegetal e animal impossibilitavam a implantação de uma cultura agrícola, nos moldes do costume europeu. O português teve então de mudar seus hábitos alimentares. A mandioca substituía o trigo; no lugar das verduras, o milho; e as frutas davam um colorido novo à mesa do colonizador. Mas sua dieta ficava empobrecida, devido à ausência de leite, ovos e carne, que só apareciam em datas especiais, festas e comemorações. 
A terra foi usada para o cultivo da cana em detrimento da pecuária e da cultura de alimentos, o que provocou a apatia, a falta de robustez e a incapacidade para o trabalho. Males geralmente atribuídos à mestiçagem. Os portugueses não traziam para o Brasil nem separatismos político, nem divergências religiosas, e não se preocupavam com a pureza da raça. Assim o país se formava. E a unidade dessa grande extensão territorial com profundas diferenças regionais, garantida muitas vezes com o uso da força, aconteceu devido à uniformidade da língua e da religião.
A Igreja desenvolvia planos ambiciosos de evangelização da América Latina, toda ocupada por países de tradição católica. Nessa quase cruzada no Novo Mundo, os padres jesuítas desempenhavam um papel importante na tentativa de implantar uma sociedade estruturada com base na fé católica. Para catequizar os índios, os jesuítas decidiram vesti-los e tirá-los de seu hábitat. Já o senhor de engenho tentava escravizá-los. Nos dois casos, o resultado era o extermínio e a fuga dos primitivos habitantes da terra para o interior.
"Os portugueses, além de menos ardentes na ortodoxia que os espanhóis e menos estritos que os ingleses nos preconceitos de cor e de moral cristã, vieram defrontar-se na América com uma das populações mais rasteiras do continente... Uma cultura verde e incipiente, sem o desenvolvimento nem a resistência das grandes semi-civilizações americanas, como os Incas e os Astecas." Trecho de Casa-Grande & Senzala.  
"O ambiente em que começou a vida brasileira foi de grande intoxicação sexual. O europeu saltava em terra escorregando em índia nua. Os próprios padres da Companhia precisavam descer com cuidado, se não atolavam o pé em carne." Trecho de Casa-Grande & Senzala.  
A sociedade brasileira, entre todas da América, era a que se formava com maior troca de valores culturais. Havia um aproveitamento de experiências dos indígenas pelos colonizadores. Mesmo quando inimigo, o índio não provocava no branco uma reação que levasse a uma política deliberada de extermínio, como a que ocorria no México e Peru. A reação dos índios ao domínio do colonizador era quase contemplativa. 
O português usava o homem para o trabalho e a guerra, principalmente na conquista de novos territórios, e a mulher para a geração e formação da família. Esse contato provocava o desequilíbrio das relações do índio com o seu meio ambiente.
"Eu sou índio da tribo pataxó. Eu aprendi com meus pais a fazer artesanato. A gente faz cocares..., a gente vive só disso, de artesanato, a não ser no inverno, quando a gente tem que pescar mucussu. Mucussu é peixe. A gente planta mandioca para fazer cuiúna, feijão e arroz. A gente fala em pataxó: jocana baixu significa mulher bonita e jocana baixa é mulher feia." Paturi, índio pataxó (Coroa Vermelha, BA)
"A grande presença índia no Brasil não foi a do macho, foi a da fêmea. Esta foi uma presença decisiva, a mulher índia tomou-se de amores pelo português, talvez até por motivos fisiológicos, porque, segundo pude apurar quando escrevi Casa Grande & Senzala, as sociedades ameríndias ou índias, inclusive a brasileira, eram sociedades que precisavam de festivais como que orgiásticos para provocar nos homens, nos machos, desejos sexuais. O que há de acentuar é o grande papel da índia fêmea na formação brasileira, essa índia fêmea não só através do relacionamento mencionado sexual, mas através do papel social que ela começou a desempenhar magnificamente, tornou-se uma figura capital na formação brasileira." 
"Da cunhã é que nos veio o melhor da cultura indígena. O asseio pessoal. A higiene do corpo. O milho. O caju. O mingau. O brasileiro de hoje, amante do banho e sempre de pente no bolso, o cabelo brilhante de loção ou de óleo de coco, reflete a influência de tão remotas avós. Ela nos deu, ainda, a rede em que se embalaria o sono ou a volúpia do brasileiro." Trecho de Casa-Grande & Senzala.  
A união do português com a índia havia gerado os mamelucos que atuavam como bandeirantes e, junto com os índios, formavam a muralha movediça da fronteira colonial. O mameluco e o índio, que excediam o português em mobilidade, atrevimento e ardor guerreiro; que defendiam o patrimônio do senhor de engenho contra o ataque de piratas estrangeiros, nunca firmaram as mãos na enxada. Os pés de nômades não se fixavam na plantação da cana-de-açúcar.
"Essa arte é descendência dos índios, né! Aí nós somos seguidores já dos índios. A gente ficou fazendo as panelas de barro, que eu aprendi com meu pai. Meu pai já trabalhava, aí eu fiquei trabalhando. Agora meus filhos também trabalham na mesma arte." Zé Galego, artesão (Caruaru, PE).
Dos costumes dos primitivos habitantes da terra eram as relações sexuais e de família, a magia e a mítica que marcavam a vida do colonizador. A poligamia e a sexualidade da índia iam ao encontro da voracidade do português, ainda que a vida sexual dos indígenas não se processasse tão à solta quanto o relatado pelos viajantes que aqui estiveram. 
Para as tribos mais primitivas, a união do macho com a fêmea tinha época; o costume de oferecer mulheres aos hóspedes era prática de hospitalidade, quase um ritual. A mulher nativa resgatava o sonho da ninfa, que se banhava no rio e penteava os longos cabelos negros. Uma imagem deixada pela invasão moura na Península Ibérica e adormecida no inconsciente do português.
"Figura vaga, falta-lhe o contorno ou a cor que a individualize entre os imperialistas modernos. Assemelha-se nuns à do inglês; noutros, à do espanhol. Um espanhol sem a flama guerreira nem a ortodoxia dramática do conquistador do México e do Peru; um inglês sem as duras linhas puritanas. O tipo do contemporizador. Nem idéias absolutas, nem preconceitos inflexíveis. ...Um rio que vai correndo muito calmo e de repente se precipita em quedas de água..." Trecho de Casa-Grande & Senzala.  
  Os portugueses davam uma contribuição criativa ao novo mundo através da produção de açúcar. E implantavam um sistema econômico que aprenderam com os mouros durante a ocupação da Península Ibérica. Os mouros, de grande tradição agrícola, introduziram a laranjeira, o limoeiro e a tangerina e implantaram a tecnologia do fabrico do açúcar em Portugal. O engenho mouro é avô do engenho pernambucano.
Essa contribuição criativa é que diferenciava o português do holandês e do francês, que para cá traziam apenas aperfeiçoamentos tecnocráticos. O choque das duas culturas, a européia e a ameríndia, no Brasil colônia, se dava mais lentamente, não por meio da guerra, mas nas relações entre homem e mulher, mestre e discípulo. A Igreja ganhava no Brasil capelas simples dentro do complexo arquitetônico da casa-grande. Lá morava o capelão, que dela tirava seu sustento. E essa mesma Igreja, através dos jesuítas, partia maciça e indiscriminadamente para a catequização dos índios.
O animalismo e a magia impregnavam a vida dos índios: desde o berço, quando a mãe entoava cantigas de ninar e, já meninos, nas brincadeiras de imitar animais. Entre os jogos infantis dos curumins, o jogo de cabeçada com a bola de borracha ficava como contribuição da cultura indígena. Apesar de crescerem livres de castigos corporais e de disciplina paterna, os meninos estavam sempre em contato com rituais da vida primitiva. Na puberdade eram levados para o baíto, a casa secreta dos homens, onde passavam por provas de iniciação à fase adulta. 
Para os padres da Companhia de Jesus, os índios acreditavam em tudo e aprendiam e desaprendiam os ensinamentos rapidamente. Havia uma enorme quantidade de aldeias espalhadas pela floresta, que falavam diferentes línguas. Era preciso unificar as tribos para poder pregar a doutrina católica. O menino indígena servia de intérprete aos jesuítas, que aprendiam com ele as primeiras palavras em tupi. Os padres puderam então escrever uma gramática, unificando a língua dos Brasis. Estava criando o tupi-guarani.
Tanto a Igreja quanto o senhor de engenho fracassavam nos esforços de enquadrar o índio no sistema de colonização que iria criar a economia brasileira. Fora de seu hábitat natural, o índio não se adaptava como escravo: morria de infecções, fome e tristeza. Para suprir a deficiência da mão-de-obra escrava, os senhores de engenho de Pernambuco e do Recôncavo baiano começavam a importar negros caçados na África. 
Agora, as escravas negras substituíam as cunhãs tanto na cozinha como na cama do senhor. Na agricultura, a presença do negro elevava a produção de açúcar e o preço do produto no mercado internacional. O Brasil, esquecido por quase duzentos anos, despertava finalmente o interesse do Reino de Portugal.
Entre os africanos que vinham para o Brasil, eram os negros muçulmanos, de cultura superior não só à dos índios como também à da maioria de colonos brancos, que aqui chegavam e viviam quase sem nenhuma instrução, que para escrever uma carta necessitava da ajuda do padre-mestre. O movimento malê da Bahia, em 1835, foi considerado um desabafo da cultura adiantada, que era oprimida por outra menos nobre. Contava-se que os revoltosos sabiam ler e escrever em alfabeto desconhecido. Eram negros que liam e escreviam em árabe.
"Pode-se juntar à superioridade técnica e de cultura dos negros sua predisposição como que biológica e psíquica para a vida nos trópicos. Sua maior fertilidade nas regiões quentes. Seu gosto pelo sol. Sua energia sempre fresca e nova quando em contato com a floresta tropical." Trecho de Casa-Grande & Senzala.  
O Brasil importava da África não somente o animal de tração que fecundou os canaviais, mas também técnicos para as minas, donas de casa para os colonos, criadores de gado e comerciantes de panos e sabão.Os negros vindos das áreas de cultura africana mais adiantada eram um elemento ativo, criador e pode-se dizer nobre na colonização do Brasil, degradados apenas pela condição de escravos. O negro escravo e a cana-de-açúcar fundamentavam a colonização aristocrática e a estrutura básica do mundo dos coronéis se repetiria nos ciclos do ouro e do café, em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, com o mesmo fundamento: a ocupação da terra.
Na sociedade escravocrata e latifundiária que se formava, os valores culturais e sociais se misturavam à revelia de brancos e negros. Sua convivência diária favorecia o intercâmbio de culturas e gerava sadismos e vícios, que influenciavam a formação do caráter do brasileiro. A escravatura degradava senhores e escravos.
"Na verdade, senhores, se a moralidade e a justiça de qualquer povo se fundam, parte nas sua instituições religiosas e políticas, e parte na filosofia, por assim dizer doméstica de cada família, que quadro pode apresentar o Brasil quando o consideramos debaixo desses dois pontos de vista?" Trecho de Casa-Grande & Senzala.  
O senhor de engenho, um homem extremamente rico e poderoso, passava a maior parte do tempo deitado na rede, cochilando e copulando. Quando saía, a passeio ou em viagem, o negro era seus pés e mãos. O sinhô não precisava levantar-se da rede para dar ordens aos negros, bastava gritar.
Os negros veteranos, os ladinos, iniciavam os recém-chegados na moral e nos costumes dos brancos. Ensinavam a língua e orientavam nos cultos religiosos sincretizados. Eram ainda os ladinos que ensinavam aos boçais a técnica e a rotina na plantação da cana e no fabrico do açúcar.
A escravidão desenraizava o negro de seu meio social e desfazia seus laços familiares. Além dos trabalhos forçados, ele era usado como reprodutor de escravos: era preciso aumentar o rebanho humano do senhor de engenho. As crias nascidas eram logo batizadas e ainda assim consideradas gente sem alma. A Igreja, esteio dos poderosos, agia da mesma forma no tratamento dado ao negro. A mulher escrava fazia a ponte entre a senzala e o interior da casa-grande e representava o ventre gerador. As negras mais bonitas eram escolhidas pelo sinhô para serem concubinas e domésticas. 
Objeto dos desejos sádicos dos homens, do senhor de engenho ao menino adolescente, a negra sofria por parte da mulher branca os castigos mais variados. Se a beleza dos seus dentes incomodava a desdentada sinhá, esta mandava arrancá-los. A escrava adoçava a boca do senhor e recebia chicotadas à mando da senhora, mas cumpria as tarefas que normalmente estariam destinadas à mãe de família. As damas da sociedade se casavam entre os doze e os quinze anos com homens muito mais velhos. 
O conhecimento que tinham da vida de casada, os acontecimentos de fora do engenho e outras histórias - nem sempre românticas - elas ouviam da boca das mucamas. As sinhazinhas sentadas à mourisca, tecendo renda ou deitadas na rede e as escravas a lhes catar piolho ou fazendo cafuné. 
Cedo se casavam e cedo morriam por causa de sucessivos partos ou se tornavam matronas aos dezoito anos. O ócio e a vida reclusa faziam das sinhás mulheres amarguradas. E ignorantes: era raro encontrar uma que soubesse ler e escrever. A presença da negra na vida do menino vinha desde o berço, quando ela o amamentava e acalentava o seu sono. A ama de leite ensinava as primeiras palavras num português errado, o primeiro "pai nosso", o primeiro "oxente", e amaciava com a própria boca a comida do menino de engenho. 
Os sofrimentos da primeira infância - castigos por mijar na cama e purgante uma vez por mês os meninos descontariam tornando-se pequenos diabos. O moleque, o pequeno escravo, companheiro do sinhozinho em brincadeiras e aventuras, servia também de saco de pancadas. Tornava-se objeto do prazer mórbido de tratar mal os inferiores e os animais, prazer de todo menino brasileiro filho do sistema escravocrata. Criança mimada e educada para ser o herdeiro todo-poderoso, o menino desde o início da adolescência era entregue aos cuidados eróticos da fulô.
"Costuma dizer-se que a civilização e a sifilização andam juntas. O Brasil, entretanto, parece ter-se sifilizado antes de se haver civilizado. A contaminação da sífilis em massa ocorreria nas senzalas, mas não que o negro já viesse contaminado. Foram os senhores das casas-grandes que contaminaram as negras das senzalas. Por muito tempo dominou no Brasil a crença de que para um sifilítico não há melhor depurativo que uma negrinha virgem." Trecho de Casa-Grande & Senzala.  
Os senhores de engenho casavam-se sucessivas vezes, sempre preferindo as jovens sobrinhas; exagerava-se, então, o sentimento da propriedade privada. As heranças eram disputadas por filhos legítimos e parentes próximos. Aos filhos bastardos, gerados nas casa-grande e paridos na senzala, restava a tolerância do senhor, que ao morrer os libertava. 
Nomes e sobrenomes se confundiam: os escravos mais próximos, que ganhavam a simpatia do senhor, conseguiam adotar o sobrenome dos brancos. Na tentativa de ascensão social, os negros imitavam dos senhores as formas exteriores de superioridade. Mas muitos nomes ilustres de senhores brancos vinham dos apelidos indígenas e africanos das propriedades rurais - a terra recriava os nomes dos proprietários à sua imagem e semelhança.
A música, o canto e a dança dos escravos tornavam a casa-grande mais alegre. A risada do negro quebrava a melancolia e o silêncio infinito do senhor de engenho. As mães negras e as mucamas, aliadas aos meninos, às moças das casas-grandes e aos moleques, corrompiam o português arcaico ensinado pelos jesuítas aos filhos do senhor. A nova fala brasileira não se conservava fechada nas salas de aula das casas-grandes, nem se entregava de todo à maior espontaneidade de expressão da senzala. Mas o modo carinhoso do brasileiro colocar os pronomes: me diga, me espere... vem do africano. Também do seu modo de falar ficaram as formas diminutivas:benzinho, nézinho, inhozinho.
Era um novo jeito de falar, um novo jeito de andar, um novo jeito de comer... A culinária da senzala aproveitava as sobras de carnes da casa-grande, usava o aipim indígena e as verduras, misturava aos temperos africanos, principalmente o dendê e a pimenta malagueta. Surgiam a feijoada, a farofa, o quibebe, o vatapá. 
Alimentos que combinavam com a dureza do trabalho no cativeiro. As crenças e magias trazidas pelos portugueses eram transformadas em feitiçaria nas mãos dos africanos. Aos negros feiticeiros recorriam os senhores brancos idosos a procura de afrodisíacos; as jovens sinhás, que não conseguiam engravidar; e as belas mucamas, que aprendiam a receita do café mandingueiro, um filtro amoroso feito com café bem forte, muito açúcar e sangue de mulata.
Na religião conviviam a cultura do senhor e a do negro. O catolicismo praticado aqui era uma religião doce, doméstica, de intimidade com os santos. Os padres se vangloriavam de conceder aos negros certas vantagens, como o direito de manifestar suas tradições nas festas do terreiro. Nasciam então as religiões afro-brasileiras: São Jorge é o orixá Ogum e Nossa Senhora é Iemanjá.
"Esse terreiro tem 110 anos. A minha avó era descendente de escravos. Tinha uma aldeia que se chamava Catongo. Nessa aldeia ela também cultivava os orixás, quando chegavam assim os escravos chicoteados de outros lugares, fazendas, engenhos, essas coisas. Aí ela curava com aquelas difusões de ervas, né, aqueles remédios das folhas, e curava esses escravos, que ficavam gratos e acabavam ficando com ela. Quer dizer, ela era assim uma espécie de protetora desses escravos. E a minha mãe falava que era uma senzala, onde ela abrigava esses escravos."  Ilza R.P. Santos, mãe-de-santo (Ilhéus, BA) (??)  
"Não foi só de alegria a vida dos negros escravos dos ioiôs e das iaiás brancas. Houve os que se suicidaram comendo terra, enforcando-se, envenenando-se com ervas e potagens dos mandingueiros. O banzo deu cabo de muitos. O banzo - a saudade da África. Houve os que de tão banzeiros ficaram lesos, idiotas. Não morreram, mas ficaram penando." Trecho de Casa-Grande & Senzala.  
Os negros, muitos agora, libertos pela alforria, pela revolta ou pelas fugas, unidos nos quilombos, lutavam pelo fim da escravidão. Aliavam-se aos ideais libertários os filhos de poderosos senhores de engenho que se tornavam abolicionistas por motivos econômicos, humanitários ou, simplesmente, pelo apego que tinham às suas mães de leite.
  " Os brancos diziam que em nenhum país do mundo essa nefanda instituição foi tão doce como no Brasil. Agora não me passa pela cabeça - não deve passar pela cabeça de ninguém - que essa nefanda instituição, como os próprios brancos chamavam a escravidão, que ela pudesse ser doce em algum lugar. Ela só pode ser doce da perspectiva de quem estivesse na casa-grande e não na perspectiva de quem estivesse na senzala." Florestan Fernandes, cientista social.
Em 1984, numa de suas últimas entrevistas, o escritor Gilberto Freyre resumia o seu pensamento sobre a situação presente do negro, lembrando o abolicionista pernambucano Joaquim Nabuco: 
"O problema é que a abolição da escravatura, embora tenha sido fato notável na história da formação brasileira, foi muito incompleta." 
Com a abolição, os problemas do negro estariam apenas começando. Mas quem se interessou por isso? Ninguém se interessou. 
O negro livre deixou as fazendas e os engenhos e foi inchar as periferias das cidades. Abandonado, constituiu-se num sub-brasileiro.


Fonte: 
Vestibular1







A obra Evolução Política do Brasil e outros Estudos do autor Caio Prado Junior, é como o próprio autor diz, um ensaio sobre a História do Brasil. Logo de inicio ele deixa claro que se refere à interpretação materialista da História e que não tem a intenção de fazer uma analise profunda sobre o tema. Prado cita Oliveira Viana e, diz que este foi o primeiro a tentar uma analise sistemática e seria da constituição econômica e social do país.
Já na Segunda parte do texto Prado dará ênfase ao período de Menoridade e diz que os historiadores não deram e não dão tanta importância para este período. Mas não é apenas pelo seu fundo crítico que esta obra se destaca é também por ser consagrada como inovadora.
A maneira que Caio Prado encara os fatos modifica de forma absurda a dimensão dos mesmos, e o exemplo mais evidente disso é o fato do autor afirmar ainda em seu prefácio, que o movimento de Independência do Brasil se constituiu numa revolução, que tem como período preparatório de 1808 (com a chegada de D. João VI no Brasil) a 1822 (Proclamação da Independência), e que se consolida em 7 de abril de 1831.
Ao analisarmos o primeiro capitulo da obra “A Colônia”, percebemos que para justificar a ideia de evolução que está contida não apenas no título em toda sua obra Prado começa fazendo uma analise do período, dividindo–o em duas partes: a primeira parte vai até a metade do século XVII e a segunda se inicia nessa metade e vai até 1808 com a chegada de D. João VI para o Brasil.












Comunidades gritam “nunca mais” contra UPPs e polícia que mata

O Estado que mata seu próprio Povo não pode ser respeitado, não pode existir, esse tipo de Estado já está ultrapassado. As populações pobres do Brasil, principalmente das grandes e médias cidades, foram esquecidas; apesar dos avanços do governo Lula da Silva para cá, com as políticas públicas, como o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida entre outras, parece que apenas deram um alento, um certo fôlego, falta muita coisa. 
E, o que mais preocupa nesse momento é a possibilidade da Direita voltar ao poder e desmantelar as Políticas Públicas criadas de 2002 a 2014. Precisamos de um Estado do tamanho das necessidades do Povo. E, a Direita brasileira não tem condições morais e políticas de dar continuidade aos Programas Sociais, não tem.
No Estado do Rio de Janeiro o que se observa é a matança indiscriminada de centenas de pessoas, principalmente jovens negros, das periferias pobres. O que essas populações esquecidas, abandonadas, podem fazer? Como agir?

Por: José Gilbert Arruda Martins



Comunidades gritam “nunca mais” contra UPPs e polícia que mata


Mãe de dançarino encontrado morto no morro Pavão-Pavãozinho pede uma ouvidoria “transparente e digna”
02/05/2014 
Daniele Silveira,
Da Radioagência BdF
Os casos de assassinatos em ações de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas favelas do Rio de Janeiro estão ainda mais em evidência. A sequência de violações torna o programa de ocupação militar cada vez mais impopular. As UPPs viraram alvo de diversas manifestações organizadas pela população atingida, com apoio de organizações de defesa dos direitos humanos.
No último dia 27, mais uma vítima foi baleada em um tiroteio entre policiais e supostos traficantes, no Conjunto de Favelas do Alemão, zona norte da capital carioca.
Arlinda Beserra, de 72 anos, conhecida como Dona Dalva, morreu após ser atingida por um disparo de arma de fogo. De acordo com a família da idosa, ela teria entrado na frente do neto, de 10 anos, para protegê-lo do tiroteio.
Após a notícia da morte de Dona Dalva, moradores interditaram a Estrada de Itararé, que passa às margens da comunidade, para protestar contra a violência policial.
Com palavras de ordem como “polícia que mata, nunca mais”, um ato em Copacabana homenageou Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG, e lembrou o assassinato de outros jovens.
O dançarino, de 26 anos, foi morto no dia 22 de abril com um tiro nas costas, no morro Pavão-Pavãozinho. A mãe de DG denuncia que ele foi torturado por policiais antes de ser assassinado, o que contraria a primeira versão oficial, de que a morte do rapaz seria por decorrência de uma queda.
Na semana passada, a mãe de DG, Maria de Fátima Silva, recusou um encontro com o governador Luiz Fernando Pezão. A auxiliar de enfermagem, afirmou que nenhum político iria se projetar em cima da imagem de seu filho. Em declarações à imprensa, ela ainda lembrou de outros crimes cometidos por policiais e que ainda não foram solucionados, como o da auxiliar de serviços gerais Claudia da Silva Ferreira, que foi arrastada por uma viatura da PM.
“O povo da comunidade virou marginal e o cidadão é o PM. Uma polícia não capacitada para estar nesses locais. Uma polícia armada. Isso aqui está virando uma guerra urbana.”
Maria de Fátima também pede uma ouvidoria “transparente e digna” nas comunidades. Ela ainda questiona a ação e a própria existência das UPPs
“Está virando um ‘Mortal Kombat’. Planta uma gaiola de ferro, duas bandeiras, coloca arma em pessoas não capacitas e a população da comunidade está virando inimiga, virando caça e eles caçadores. Ele que reformule essas UPPs, se é que elas têm que ficar. Porque eu não vi nenhuma solução. Eu vi uma máscara, uma maquiagem. E não é isso que o povo quer. O povo da comunidade quer saúde, quer educação. É com educação que se constroi um país, não é com armas.”
No mesmo dia da morte de DG houve uma manifestação dos moradores do Pavão-Pavãozinho, que terminou com outra tragédia. Edilson da Silva dos Santos, de 27 anos, foi morto após ser atingido por um tiro na cabeça durante o protesto.
No último dia 24, a Anistia Internacional divulgou uma nota pedindo esclarecimento das mortes de DG e Edilson, “considerando que há suspeitas de que foram cometidas por policiais militares (PMs)”.
Diante do contexto de violência, a entidade ainda solicitou que seja “reconhecida a necessidade urgente de mudanças estruturais na organização das polícias, que incluam a sua desmilitarização, o aumento da transparência e a implementação de um controle externo efetivo das atividades policiais."
A entidade destacou que o índice de homicídios de jovens em favelas e periferias brasileiras é “alarmante”. Em nota, ressaltou também que “a polícia brasileira está entre aquelas que mais matam no mundo, segundo dados da ONU [Organização das Nações Unidas]. Utilizando como exemplo o estado do Rio de Janeiro, dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostram que, de 2002 a 2011, foram registradas 10.134 mortes derivadas de intervenções policiais".
Outro caso de violência policial que ganhou grande repercussão é o do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza. O pedreiro está desaparecido desde junho do ano passado, após ser levado por policiais militares para a sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), para averiguação por suspeita de envolvimento com o tráfico.
A esposa de Amarildo, Elisabete Gomes da Silva, foi presa no dia 26 de abril por desacato a autoridade, após ter sido abordada por PMs na Rocinha.