Por Pastor Lenon Andrade
Madrugada de sexta-feira, o nazareno está no jardim do Getsêmani com seus discípulos. Um pouco antes desfrutaram de um momento que marcaria as suas vidas para sempre, durante o jantar pascal em Betânia. Agora, porém, é chegada a hora da escuridão. Sua oração é intensa, ansiosa, carregada de pavor e medo. Sua humanidade assume a liderança do seu ser. Sua respiração é ofegante. Por isso, suplica ao Pai que o livre do cálice do sofrimento. Seu suor converte-se em gotas de sangue. O mestre de Nazaré inicia a travessia pelo vale da sombra e da morte…
Começam os golpes contra a vida daquele que só fez o bem por onde andou. Judas guia seus inimigos até o jardim e lhe dá um beijo com o amargor da traição. Talvez nutrisse a falsa esperança de que o galileu reagiria sacando a sua espada de fogo para eliminar seus adversários. Esqueceu que o trono almejado pelo Rei Jesus é o coração humano e não a submissão a um Deus tirânico. Arrastam-no manietado, como um criminoso. Iniciou-se ali uma sessão interminável de tortura física e psicológica, com requintes de crueldade contra a vítima inocente.
Segue o script da injustiça. Abandonado por todos é levado ao palácio da Galileia. Herodes debocha do Cristo. Devolvido à Jerusalém, colocam-no diante de um tribunal farsesco onde, emprenhada pelas fake news disseminadas pelos líderes do templo, a multidão, feito um juri ensandecido, dá à luz ao veredicto mais insano da história da humanidade: condenam Jesus e libertam Barrabás... Pilatos lavou as suas mãos. Porém, jamais conseguirá livrar-se da culpa dos covardes diante da destruição da vida inocente. Jesus de Nazaré, sob tortura intensa, carrega a sua cruz até a colina da caveira onde será crucificado...a narrativa do evangelho é dramática:
–“...Os chefes dos sacerdotes e os líderes judeus convenceram a multidão a pedir ao governador Pilatos para que soltasse Barrabás e condenasse Jesus à morte. Então o Governador perguntou:
– Qual dos dois vocês querem que eu solte?
– Barrabás! Responderam eles. Pilatos perguntou:
_– Que farei então com Jesus, que é chamado de Messias? _
– Crucifica! Responderam todos. Ele perguntou:
– Que crime ele cometeu?
Aí começaram a gritar bem alto: – Crucifica! Então Pilatos viu que não conseguia nada e que o povo estava começando a se revoltar. Aí mandou trazer água, lavou as mãos diante da multidão…” (Mateus 27:20-24).
Onde existir o sacrifício da vida de inocentes, onde o oprimido clamar contra a exploração injusta, onde houver a violência do Estado contra cidadãos indefesos, onde quer que a intolerância assassina prevaleça contra a liberdade de ser, enfim, onde o desamor predominar contra o direito se viver com dignidade, ali o Salvador ainda estará sendo crucificado.
A questão mais importante é a escolha que faremos: tomar a nossa cruz e segui-lo ou abandoná-lo pelo caminho…
Sigamos esperançando, ainda não terminou.
ESTÁ CONSUMADO!
Às 12 horas da sexta-feira Ele estava pregado no madeiro, vítima da violência brutal gestada num conluio perverso entre a religião do templo e o Estado opressor de Roma. Jesus clama aos céus protestando o abandono. O Pai, que também é Mãe, silencia...não é um silêncio de abandono, mas, de uma dor que parece não ter fim...por também sentir a dor do abandono naquele lugar de morte. A dor do Filho é também a dor do Pai. A natureza se constrange. O sol para de brilhar. A terra treme por não suportar o sangue inocente tocando um solo cansado da violência dos homens maus.
Três horas da tarde. O dia, que para os judeus termina com o por do sol, naquela sexta-feira terminou mais cedo. Jesus, absolutamente exaurido, grita forte em seu último suspiro: “está consumado!”. As cortinas do templo de Jerusalém que impediam os fieis de terem acesso ao santíssimo se rasga de alto abaixo! O salvador completa a travessia. O mestre de Nazaré realizou a sua páscoa... Aquele longo dia finalmente termina. O sábado se converte num absoluto silêncio…
Onde acaba a fronteira da racionalidade, inicia o terreno fértil da fé. Assim, minha mente é conduzida pela iluminação das Escrituras para ver o que aconteceu após o brado do último suspiro. Havia silêncio na superfície da existência, mas, uma batalha final nos domínios da morte. Seus grilhões foram despedaçados pela força do amor. A luz da esperança tornou-se insuportável para as forças da escuridão. O Salvador estava ali, no reino da morte, semeando o evangelho da vida. O jogo inverteu. O autor da existência arranca das mãos da morte seu poder sobre a vida. A morte e o inferno foram derrotados. Era impossível impedir a ressurreição!
“Assim, quando este corpo mortal se vestir com o que é imortal, quando este corpo que morre se vestir com o que não pode morrer, então acontecerá o que as Escrituras Sagradas dizem: “A morte está destruída! A vitória é completa!” (1 Coríntios 15:54-55).
Essa leitura da Bíblia, que se conecta com a vida, me dá esperança. Penso nisso enquanto caminho, seguindo as pisadas de Jesus de Nazaré. Um dia também faremos a travessia, porém, eu sei, não estaremos sozinhos.
Pr Lenon Andrade
Publicado no Livro Café com esperança, para deixar a vida mais leve
Não leio a bíblia, por isso tive a chance de conhecer a visão do pastor Lenon no artigo acima. Que o amor universal nos fortaleça cada vez mais.
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