Prof. José Gilbert
Arruda Martins*
Importe-se porque,
quando você menos esperar, a violência da intolerância baterá a sua porta para
levar um dos teus.

Quem sai às ruas para
defender a ditadura e a violência que a acompanha, ignora a história. O ditador
tem pouquíssimos amigos. Todo o restante da sociedade é inimigo em potencial.
Os ditadores e os
usurpadores de poder ou de governo são sempre “testas-de-ferro” dos 1% da
população, os super-ricos que dominam as forças produtivas e exploram violentamente
a classe trabalhadora e os mais pobres.
Às vezes, os ditadores
camuflam suas caras e ações em pele de cordeiro, se escondem até atrás de
discursos progressistas de liberdade e de democracia mas na realidade, são
defensores do autoritarismo e da violência, principalmente contra o povo.
Para o escritor inglês
Aldous Huxley “a ditadura perfeita terá a aparência da democracia. Uma prisão
sem muros na qual os prisioneiros não sonharão sequer com a fuga. Um sistema de
escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à
sua escravidão”.
Desta forma a ditadura
de Huxley, pode nos trazer diversos significados, como por exemplo: a ditadura
militar ou civil nua e crua; a ditadura do machismo, da fome, da homofobia, da
violência contra os pobres, do ódio pelo pensar diferente; a ditadura que
esmaga o indivíduo em sua humanidade causando sofrimento e dor.
O Brasil vive uma
espécie de cultura do ódio de classes que não é nova, pergunte aos negros e às
negras, às mulheres, às populações pobres das periferias, pergunte aos
homossexuais, “minorias” que historicamente sofreram a mão de ferro da
intolerância.
O ódio, no entanto
recrudesceu após as eleições de 2014. Partidos políticos de direita, e o grande
capital internacional não aceitaram a derrota nas urnas e a partir daí, iniciaram
uma campanha que derrubou um governo eleito democraticamente instalando um
grupo à frente da nação que, além de pregar o ódio, com a ajuda da grande
mídia, estão desmontando o Estado do Bem-Estar Social brasileiro.
De que lado você está?
Ao lado das maiorias trabalhadoras que, com suor e muito trabalho sustentam a
nação ou ao lado da minoria rica dona do capital e meios de produção de
riquezas que exploram dia a dia o povo?
Entender como funciona
essa máquina de produzir riquezas é importante não apenas para a sociedade como
um todo mas, para você que se deixou envenenar com ódio e ideias elitistas.
Importe-se com o outro,
com a outra, importe-se com a causa e os sentimentos das maiorias, principalmente
dos mais necessitados, mais vulneráveis, isto é comportamento social e humano.
Porque quando você ignora a intolerância, sua ação
ou inação, ajuda a potencializar todo tipo de desrespeito e desumanidade, desta
forma instalou-se o nazismo na Alemanha que provocou muito sofrimento e, mesmo depois
de mais de meio século, os alemães ainda sofrem as consequências.
Pense nisto!
As consequências não
estão na materialidade do desenvolvimento econômico do país, que é espetacular,
mas impregnadas na alma daquele povo. Não existe um só alemão que não carregue
consigo, de uma forma ou de outra, mesmo que não queira, mesmo que não tenha
colaborado, a marca de um povo que hospedou o nazismo. A violência nazista, de
uma forma ou de outra, marcou para sempre o povo alemão. É muito difícil ficar
livre.
Nesse sentido, o ódio
que escorre nas redes sociais todos os dias; o massacre dos Sem Terras em Mato
Grosso, onde nove pessoas foram assassinadas (21/04/2017); o caso dos
palestinos presos em São Paulo (03/05/2017), a prisão absurda de três ativistas
do MTST em São Paulo (28/04/2017); o massacre do Maranhão (02/05/2017), no qual
indígenas Gamelas foram atacados por capangas de fazendeiros armados, um dos
indígenas, inclusive, teve as mãos decepadas; a agressão da PM a um estudante
universitário em Goiânia (28/04/2017); as agressões da guarda municipal
paulista contra um “morador” de rua; os outdoors contra Lula em Curitiba; o
abuso de autoridade de parte da justiça brasileira, fundamentalmente, da
denominada “República de Curitiba”, com prisões provisórias ilegais, a capa da
revista veja desta semana trazendo Dona Marisa Letícia, numa campanha de ódio
contra Lula, são sinais mais que claros do recrudescimento da brutalidade e da
intolerância no Brasil.
Quem conheceu as
sangrentas ditaduras militares da América Latina, sabe da importância de lutar
contra todo tipo de violência e se importar com o sofrimento alheio. Apenas na
ditadura militar argentina entre os anos de 1976 e 1983 cerca de 30 mil civis
foram assassinados. Por sua vez, a ditadura militar chilena ceifou 40.280
vidas.
Quem conheceu a
história de Adolfo Hitler e seus lacaios assassinos que assumiram o poder na
Alemanha no período entre guerras, implantando um sistema industrial de
extermínio em massa de judeus, negros, homossexuais e a todo tipo de oposição,
sabe da importância de lutar contra a violência e se importar.
A quem interessa o
sentimento de ódio que vem sendo destilado na grande mídia e nas redes sociais?
Quem ganha e quem perde com essa verdadeira barbárie?
Com certeza o Brasil
todo perde, todos nós, de alguma forma, perdemos.
Importe-se com as
vítimas da intolerância. Não ignore, não vire as costas.
Para as perseguidos do
nazismo hitlerista, uma das coisas que mais doíam era a indiferença da sociedade
alemã da época. Essa indiferença matava não apenas os corpos das vítimas do
holocausto, mas principalmente, suas almas.
Do final da Segunda
Grande Guerra (1945) aos dias de hoje, a sociedade alemã luta todos os dias
para retirar o estigma nazista que impregnou gerações após gerações.
A ideologia nazista e
seus campos de concentração marcou de tal forma, que atrapalhou e atrapalha o
sentimento social de solidariedade e de paz daquela nação, isso por que, como
destacado, o nazismo marcou para sempre a alma dos alemães.
Nesse contexto, é bom
que se diga, na maioria das escolas alemãs hoje, o holocausto é debatido pelos
estudantes desde tenra idade, é uma forma inteligente de mostrar às atuais e
futuras gerações o sofrimento causado pelo nazismo, para que nunca mais se
repita.
Importe-se com a violência
que cresce no Brasil.
Antes de apoiar
qualquer tipo de discurso ou de campanha pública, informe-se em outras fontes,
reflita que país e que sociedade você deseja ajudar a construir.
Importe-se com o sofrimento
dos outros e outras. Somos humanos e como tal devemos sentir a dor moral quando
presenciamos qualquer tipo de iniquidade.
A democracia, mesmo a
representativa, ainda é uma ferramenta política importante de organização da
sociedade. Ela permite o debate e a busca de caminhos e projetos de construção
de um país melhor para todos e todas.
Por fim, em uma frase
célebre Winston
Chuchill referindo-se à democracia representativa afirmou que “A democracia é a
pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram
experimentadas.”
Lute por suas ideias e
projetos. Mas lute dentro das regras do respeito, da humanidade que há em todos
nós e dentro das normas democráticas.
* José Gilbert Arruda
Martins, professor graduado em História pela UECE e mestre em Ciência Política
pelo Centro Universitário Euro-americano (Unieuro)