quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Mulheres fazem protesto na Urca contra 'gordofobia'

Um grupo de mulheres fez um ensaio fotográfico no último dia 18 de janeiro, na praia Vermelha, na Urca, contra o preconceito às mulheres fora dos padrões de beleza.
no Catraca Livre
Foto: Filipe Reis
O ato foi em apoio à professora Thaís Oliveira, moradora de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, que foi ofendida por internautas após publicar uma foto de biquíni em sua página no Facebook. Como o perfil dela era público, um amigo curtiu a imagem, que foi parar em sua timeline.
Reprodução/facebook
A professora Thaís Oliveira posa para foto com um amigo

Um amigo desse rapaz reproduziu a foto da jovem em seu perfil e resolveu ofendê-la pelo fato de ser gordinha e dizendo que “pessoas acima do peso não deveriam se expor”. “Meninas, por favor, não façam isso”, comentou ao publicar a foto.
A imagem, que acabou sendo compartilhada por outras pessoas, recebeu dezenas de comentários pejorativos. Mas outras dezenas de mensagens recriminaram a atitude do rapaz, que acabou excluído o perfil.
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Alertada por uma amiga, Thaís procurou a delegacia e registrou um boletim de ocorrência por injúria.
“Sou super bem resolvida, sempre fui. E nunca passei por isso, foi a primeira vez”, disse a professora ao site O Melhor da Baixada.
O ensaio fotográfico, organizado por uma amiga de Thaís, teve a participação da modelo plus size Simone Daher. “Aqui na Baixada são poucas as gordinhas que conhecem o termo plus size, então o ensaio veio para quebrar qualquer tipo de padrão, porem nós também temos o nosso padrão que se chama: felicidade e amor próprio”, disse Gabrielen Alexandrino, uma das idealizadoras do ensaio.
Foto: Filipe Reis
 As meninas foram fotografadas por Filipe Reis e maquiadas por Jessica Cistina.
 Com informações do site  O Melhor da Baixada

GOLPES CONTRA O TRABALHO - Terceirização: um problema conceitual e político

Forças empresariais atacam em diversas frentes para legitimar um novo ciclo generalizante da terceirização no Brasil. Mas, afinal, o que é terceirização? Quais são as reais consequências desse fenômeno que provoca grande celeuma em todos os campos em que é tratado?
por Vitor Filgueiras e Sávio Machado Cavalcante no Le Monde Diplomatique Brasil

Desde o início da reorganização capitalista da produção, globalmente desencadeada no último quarto do século passado, a terceirização tem sido utilizada, por todos os tipos de empresa, como um dos instrumentos centrais de suas estratégias de acumulação.
Trata-se da forma de contratação laboral que melhor tem se ajustado ao formato neoliberal imposto aos mercados de trabalho, concedendo às empresas uma série de benefícios, como a flexibilidade de manejar força de trabalho a um custo econômico e político reduzido. As consequências podem ser ainda mais amplas: internalizar nas mentes e corpos – e, é claro, positivar no direito – um novo valor e um novo discurso que eliminem o fundamento da regulação social anterior do capitalismo, isto é, que possam dissociar – ideológica, política e juridicamente – a empresa de seus trabalhadores; algo que possa quebrar, portanto, a noção de que há qualquer vínculoentre os lucros auferidos e os trabalhadores necessários à reprodução dessa riqueza.
Esse discurso aportou no Brasil durante a década de 1980. Buscando um lugar na nova ordem econômica, a terceirização vem sendo, desde então, crescentemente utilizada e ferrenhamente defendida pelo empresariado e seus representantes. Em 1993, essas forças obtiveram uma significativa vitória, pois lograram a liberalização dessa forma de contratação por meio da edição da Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que permitiu a contratação de trabalhadores por empresa interposta desde que a atividade em questão não atingisse o que se denominou de “atividades-fim” da empresa contratante. Todavia, hoje nos encontramos diante de uma nova ofensiva patronal no Legislativo e no Judiciário, que tem por objetivo superar qualquer obstáculo jurídico às possibilidades de terceirização, permitindo sua utilização em todas as atividades das empresas.
Mas, para entender o ponto a que chegamos e o horizonte que se apresenta, é preciso resgatar uma discussão mais conceitual e analítica. Afinal, o que é, efetivamente, terceirização? Quais são suas reais consequências? Esse fenômeno provoca grande celeuma em todos os campos em que é tratado. A própria definição de terceirização não é gratuita, o que é, evidentemente, expressão de interesses opostos e em conflito.
Convidamos o leitor, portanto, a discutir o que está em jogo.

A luta pelo conceito
Nas ciências sociais em geral, afirmar que os conceitos não são neutros não é nenhuma novidade. Qualquer discussão só pode começar a partir dessa constatação, o que significa, sobretudo, identificar os interesses subjacentes a cada tipo de formulação com pretensões analíticas. Por exemplo, isso já se faz, de longa data, com os conceitos de globalização e flexibilização do trabalho, formulados nos marcos de uma visão de modernidade acrítica, segundo a qual só existiriam progresso e ganhos econômicos para todos.
O conceito de terceirização está igualmente longe de ser ingênuo. É reproduzido, comumente, como se fosse algo inexorável e positivo. O corolário, assim, é a restrição ao contraditório. Mesmo a literatura crítica, ao assumir o conceito, tem caído na armadilha analítica criada pela noção hegemônica de terceirização, pois, a despeito de identificar consequências nefastas do fenômeno, acaba por admitir sua inevitabilidade, mesmo que a negue retoricamente.
Vejamos em que ponto está o atual consenso, suas contradições e inconsistência.
A terceirização é generalizadamente conceituada como a transferência de parte do processo produtivo de uma empresa, a contratante, que passaria a ser feita por outra organização (normalmente classificada como pessoa jurídica) – a contratada ou “terceirizada”. A ideia é que a contratante passaria a focar as atividades em que seria especializada, deixando de realizar aquelas menos importantes para seus propósitos. A contratada, por sua vez, teria justamente nessas áreas o seu foco, ou seja, seria supostamente especializada nas atividades que foram sujeitas à terceirização. Quando bem realizada, os resultados dessa reengenharia seriam o aumento na qualidade de produtos, serviços e maior eficiência.
É esse, em linhas gerais, o argumento empresarial. Ele é sustentado por estudiosos da administração que enfatizam a necessidade de a empresa definir seu foco de ação, seucore business, e transferir as demais para terceirizadas – luta vitoriosa, como apontamos, pois a ideia foi incorporada por súmula do TST que criou, dentro dessa lógica, os termos jurídicos de “atividade-fim” e “atividade-meio”.
Em suma, supõe-se que a terceirização seria a radicalização da divisão do trabalho numa economia capitalista “pós-fordista”. Ou seja, se a figura de empresa típica do fordismo foi caracterizada como extremamente vertical, com a reestruturação produtiva adveio um formato de empresa mais horizontalizada, que exigiria a fragmentação do processo produtivo.
Contudo, empiricamente, a terceirização está distante dessa imagem. Ela não implica a externalização das atividades nem a radicalização da divisão social do trabalho das empresas capitalistas, apesar de reivindicar e procurar vestir esse traje.
Esse fato pode ser apurado nos resultados concretos de centenas de pesquisas sobre o tema. Um olhar mais atento às atividades empresariais – o qual adentra o interior das empresas, analisa os contratos que firmam, a organização do trabalho, seu modus operandi– demonstra que, nos casos estudados, inclusive os que nós pesquisamos, de empresas de todos os portes, setores, nacionais e transnacionais, as empresas contratantes não deixam de comandar a atividade terceirizada.
É importante que esse ponto seja destacado: a terceirização aparentemente divide e fragmenta o processo, podendo haver, eventualmente, segregação espacial de atividades, mas a relação não se efetiva entre empresas “autônomas”. Pelo contrário, a essência docontrole de fatodo processo produtivo das atividades terceirizadas não muda, continua sendo da empresa contratante. Esse controle pode ser feito por diferentes métodos (até insidiosamente), mas invariavelmente inclui a detenção do know-how da atividade e a gestão da força de trabalho empregada.
Portanto, a terceirização não significa externalização de fato de atividades da produção. O que se efetiva é uma contratação diferenciada da força de trabalho por parte da empresa tomadora de serviços. Com isso, procura-se redução de custos e/ou externalização de conflitos trabalhistas, aumento de produtividade espúria, recrudescimento da subsunção do trabalho, flexibilidade e externalização de diversos riscos aos trabalhadores. Em suma, com maior ou menor intencionalidade, as empresas buscam diminuir as resistências da força de trabalho e as limitações exógenas ao processo de acumulação.1
A divisão do trabalho sempre existiu e continuará existindo no capitalismo. Por isso, confundi-la com a terceirização apenas serve para fortalecer o argumento da inevitabilidade. Todavia, o próprio caráter do capitalismo global comprova essa diferença. Afinal, se seus defensores estivessem corretos, ou seja, se a terceirização representasse transferência de partes do processo produtivo para redes de empresas especializadas e autônomas, o resultado seria uma crescente pulverização de capitais. No entanto, presenciamos exatamente o inverso, isto é, o acirramento da centralização de capital em escala global.
Por isso talvez seja interessante repensar o próprio conceito de terceirização, que poderia ser conceituada como o processo de valorização do capital por meio de organização e gestão do trabalho em que não há admissão da relação contratual com os trabalhadores em atividade e que se utiliza, para tanto, de um ente interposto (seja pessoa jurídica, cooperativa etc.).

Resultados empíricos:
precarização do trabalho
Estamos diante, portanto, de uma forma específica de contratação de trabalhadores, que se vale de figuras interpostas (normalmente pessoas jurídicas) para atingir seus objetivos. Mas poder-se-ia objetar: isso é necessariamente ruim? Não seria apenas o modelo de contratação mais adequado aos novos tempos e a novos padrões de consumo, os quais exigem rapidez e qualidade na produção de mercadorias e prestação de serviços?
Ocorre que o sentido histórico da terceirização é outro. Se o assalariamento em si desconhece limites à exploração, a terceirização potencializa esse processo. Não por acaso, o uso desse mecanismo tem um efeito visível, identificado pelas pesquisas sobre o tema: a precarização do trabalho.
O grau de atrelamento das terceirizadas em relação às contratantes e a precarização do trabalho que é gerada podem ser demonstrados de diversos modos e por meio de vários indicadores. O caso emblemático discutido pelos estudos do trabalho é o chamado “modelo japonês”, formulado originalmente pela empresa automobilística Toyota, que, para promover uma forma de produção com ampla redução de custos, criou uma rede extensa de pessoas jurídicas terceirizadas totalmente vinculadas à empresa central. A diferença essencial era que os direitos e benefícios atrelados à empresa principal não se estendiam à rede de subcontratação.
Para o capitalista individual, a intenção imediata da terceirização comporta alguma variação, o que quase sempre inclui corte de custos. Mas essa forma de contratação também acarreta redução dos limites impostos à exploração do trabalho, mesmo quando tal consequência não se insere deliberadamente nos cálculos empresariais.
No Brasil, as implicações deletérias da terceirização, fartamente apontadas, não são meras contingências ou desvios, mas derivam da redução ou ausência de limites à acumulação na vigência desse mecanismo de contratação. Os trabalhadores terceirizados recebem salários menores, têm jornadas mais extensas e menor resguardo de direitos e benefícios.
E, sobre um aspecto ainda mais grave, segundo dados do Ministério do Trabalho, a terceirização tende a promover o trabalho análogo ao escravo mais do que uma gestão do trabalho estabelecida sem a figura de ente interposto, o que a vincula às piores condições de trabalho apuradas em todo o país (degradantes, exaustivas, humilhantes etc.).
Considerando os dez maiores resgates de trabalhadores em condições análogas às de escravos no Brasil em cada um dos últimos quatro anos (2010 a 2013), em 90% dos flagrantes os trabalhadores vitimados eram terceirizados. Poder-se-ia objetar que são casos apenas de terceirizações informais, realizadas por empresas fraudulentas. No entanto, mesmo em situações plenamente formalizadas, ou seja, em que os trabalhadores têm carteira de trabalho assinada, a maioria dos resgates ocorre com terceirizados formalizados por empresas interpostas. Entre esses resgates com terceirizados formalizados, figuram desde médias empresas desconhecidas até gigantes da mineração e da construção civil, do setor de produção de suco de laranja, fast-food, frigorífico, multinacional produtora de fertilizantes e obras de empresas vinculadas a programas do governo federal.
No Brasil, as terceirizações também elevam a probabilidade média de morrer trabalhando. Com base em dados da Rais, pudemos identificar fortes indícios da relação entre setores econômicos com maior incidência de mortes e o predomínio maciço de terceirizados entre as vítimas.2
Interessante observar que as empresas não apresentam em suas pesquisas as comprovações de seu discurso e ignoram, ou não reconhecem, os inúmeros estudos acadêmicos das organizações sindicais e das instituições do direito do trabalho.

Conjuntura
O cenário atual é desanimador, mas ainda pode piorar muito, pois há vasto espaço para o crescimento da terceirização, cujas estimativas de existência no país apontam para algo em torno de um quarto da força de trabalho contratada.
Na prática, as terceirizações muitas vezes acontecem mesmo nas chamadas atividades-fim, a despeito da proibição jurídica. Justamente por isso, a nova ofensiva empresarial procura acabar com essas amarras. O empresariado agora quer anular quaisquer limites e controles sociais existentes.
A luta mais avançada nesse sentido concentra-se hoje em dois flancos. No Legislativo, com a tentativa de aprovação do Projeto de Lei n. 4330. No Judiciário, a ofensiva reside no Supremo Tribunal Federal (STF), onde tramita um processo específico de terceirização ao qual foi atribuído um caráter de repercussão geral e que, se a Corte Suprema considerar, por meio dele, inconstitucional a Súmula n. 331 do TST, vai agora permitir, na prática, a terceirização indiscriminada.
Após mais de vinte anos, paradoxalmente, as entidades e os movimentos dos trabalhadores contrários à terceirização são forçados a se amparar nos termos criados pelo próprio discurso empresarial. Mesmo que as noções de atividade-meio e atividade-fim sejam apenas construções jurídicas que podem amenizar a tendência predatória que decorre da verdadeira finalidade das empresas – isto é, seu fim é a busca de lucro, e as próprias mercadorias e serviços são apenas meios para tanto –, o fato é que, na atual conjuntura, essas noções ainda permitem colocar um freio às tendências precarizantes, especialmente se vigorar a responsabilidade solidária das empresas contratantes e a prevalência da norma coletiva mais favorável entre os sindicatos de trabalhadores envolvidos.

Qual futuro?
Ao se lançarem numa ampla cruzada para demolir os obstáculos à terceirização em atividades-fim, os grupos empresariais apenas comprovam que a estratégia diz respeito à flexibilização da contratação de trabalhadores. Ora, como poderiam auferir lucros abdicando de todas as atividades, inclusive o que eles próprios alegam ser o “principal” de sua produção?
Durante décadas, as empresas defenderam a retórica de que precisariam externalizar para se concentrar no essencial. Se agora querem terceirizar tudo, simplesmente confirmam que o conceito defendido é inconsistente. Na verdade, querem fazer com a atividade-fim o que já fazem com as atividades-meio: gerir sua força de trabalho, com o uso de um ente interposto, obtendo todos os benefícios que essa forma de contratação lhes propicia.
A terceirização, se liberada ainda mais, será um grande golpe contra o direito do trabalho. A história, contudo, já nos dá subsídio para desmascará-la, com base na realidade concreta exposta nas diversas pesquisas sobre o tema e na própria retórica daqueles que se beneficiam dessa forma destrutiva de gestão do trabalho.
Vitor Filgueiras e Sávio Machado Cavalcante
Vitor Filgueiras é auditor fiscal do trabalho, pós-doutorando em Economia no Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (Cesit); e Sávio Machado Cavalcante é professor do Departamento de Sociologia (IFCH-Unicamp).


Ilustração: Adão Iturrusgarai


1         Para uma definição que enfatiza essas características, ver Paula Marcelino e Sávio Cavalcante, “Por uma definição de terceirização”, Caderno CRH, Salvador, v.25, n.65, 2012.
2          Para uma descrição detalhada desses pontos, ver Vitor Filgueiras, “Terceirização e os limites da relação de emprego: trabalhadores mais próximos da escravidão e morte”, Campinas, 2014. Disponível em: http://indicadoresderegulacaodoemprego.blogspot.com.br/2014/08/terceirizacaoe-os-limites-da-relacao-de.html

Por um governo de Esquerda e Popular

Por José Gilbert Arruda Martins

https://www.google.com.br/search?q=imagem+da+esquerda+popular+no+mundo

O que a Europa e os Estados Unidos têm a ensinar sobre a questão específica da Terceirização? Que é, ao final das contas, a busca de mais lucro, a qualquer custo, pelos grandes grupos econômicos.

De Ronald Reagan até hoje, os EUA, conseguiram produzir crescimentos do Produto Interno Bruto (PIB), seguidos de decréscimos e, consequentemente, de crises profundas que abalaram e provocaram descrença no tipo de modelo econômico adotado.

A Inglaterra de Thatcher também, convive, desde a década de 1980, com desmonte do Estado do Bem -Estar Social e com ciclos vulneráveis de crescimento e crises advindas dos modelos econômicos que depauperam a cada dia a sociedade e a Classe Trabalhadora inglesas.

E, mesmo nos momentos de vulnerabilidades, os dois países campeões do liberalismo, produziram acúmulos de riqueza nas mãos de poucos, mas também, aumento da pobreza como, talvez, nunca na história.

Essa concentração de riqueza produziu e produz, por exemplo, nos EUA, uma das maiores populações carcerárias do mundo e milhares de "moradores" de rua - Nova Iorque tem cerca de 100 mil pessoas em situação de rua -, milhares de moradores de túneis, famílias inteiras que perderam suas casas, habitam túneis em várias grandes cidades do país. (Nassif, GGN).

Na Inglaterra e na maioria dos países da Europa o que se observa é desemprego, aumento exponencial da miséria, milhares de pessoas em situação de rua etc.

Na outrora bela e rica avenida Champs Elysees em Paris, transeuntes e frequentadores de lojas de marca, convivem com centenas de mendigos, pedintes e desempregados. Em Barcelona e Madri, na Espanha idem.

Esse cenário de caos social e econômico foi criado a partir da implantação das políticas de austeridade que possuem um fundo e alma neoliberal.

Políticas de austeridade que valorizam o lucro do grande capital em detrimento da qualidade do emprego e do salário dos trabalhadores.

Políticas econômicas que jogaram no lixo, em boa parte dos países europeus, o Estado do Bem -Estar Social.

Outro exemplo fácil de enxergar de que o “modelo não se sustenta” é o que acontece com a Grécia, o país elegeu um governo de esquerda que, por sinal, se aliou à um partido de direita nacionalista para ter apoio necessário com o objetivo de retirar a Grécia da situação de vulnerabilidade econômico-social em que se encontra.

O modelo neoliberal trouxe desemprego, precarização do trabalho, crises profundas e mais concentração da riqueza nas mãos de uma minoria já super-rica nos EUA e em grande parte da Europa.

É um modelo econômico exaurido, que não deu certo, pelo menos para os trabalhadores e trabalhadoras.

O continente europeu inclusive, é palco do surgimento de movimentos denominados pós-capitalistas, exatamente por conta da descrença da sociedade em modelos de desenvolvimento que pregam o consumismo, a competitividade predatória, a irresponsabilidade com o meio ambiente e a precarização social e humana. Conheçam o “Podemos” e as Zads. (Le Monde)

No Brasil pós Ditadura Militar, 1985 em diante, com o advento do Estado de Direito, a Classe Trabalhadora e o país tinham a esperança de que, finalmente o bolo seria distribuído a todos e todas.

Vieram Sarney, Itamar, Collor - todos, com exceção do primeiro, presidentes eleitos pelo povo que, ao contrário do que a sociedade ansiava, iniciaram a implantação de políticas neoliberais de arrocho salarial, enfraquecimento dos sindicatos de trabalhadores, demissões, sucateamento da coisa pública e privatizações.

Na década seguinte  1990, a eleição de Fernando Henrique Cardoso (FHC), professor e sociólogo, foi aguardada com muita esperança de que, finalmente o Brasil entraria numa nova fase onde o Estado enxergaria o social. Não foi o que novamente aconteceu, FHC aprofundou o neoliberalismo e, com muita sofisticação, produziu um dos maiores desmontes de um Estado já vistos na história. (veja o filme – Privatizações: A distopia do capital)

Com Lula da Silva e Dilma Roussef, houve uma espécie de freio nesse tipo de política, mas nem tanto, apesar de não termos mais tantas privatizações, por exemplo, a terceirização cresceu, a presença do privado na vida pública também cresceu enormemente.

Apesar do Projeto de Lei n. 4330/2004, ser de autoria de um deputado e, partir, portanto do Poder Legislativo, o Poder Executivo, com sua base de apoio e Ministros, pode sim derrubar e propor projetos que assegurem os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. Não permitindo, que seu governo seja marcado pelos avanços de políticas nefastas aos trabalhadores. (http://www.camara.gov.br/proposicoes)

É, como diz o professor Vladimir Safatle em seu livro “A esquerda que não teme dizer seu nome”:

“(...) o principal problema que acomete a esquerda atual é a dificuldade em ser uma esquerda popular.”

Luis Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef, apesar dos importantes e fundamentais avanços, não conseguiram barrar ou impedir o crescimento e ampliação do espectro neoliberal, que tem nesse modelo predatório denominado de terceirização, uma das suas principais fontes de lucratividade.

Governaram e governam, em grande parte do tempo, como direita, e, de uma certa forma traindo a Classe Trabalhadora, os Movimentos Sociais e os Militantes, que ainda acreditam e que os colocaram no Governo Central.

Está na hora dos governos de esquerda governarem como esquerda, está na hora de ser “Esquerda Popular”.

Referências:

SAFATLE, Vladimir. A esquerda que não teme dizer seu nome. São Paulo: Três estrelas, 2012.

Sitio da Câmara dos Deputados - http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=267841 – acesso dia 29/01/2015.

Filme: Privatizações: A Distopia do Capital de Sílvio Tendler.

Blog do Luís Nassif – GGN.


Sítio do Le Monde Diplomatique Brasil.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Rio: moradores lutam por universidade no Complexo do Alemão

Verba para a construção foi liberada pelo governo federal
Por Fania Rodrigues na Caros Amigos
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A população do conjunto de favela do Alemão está indignada, pois está prestes a perder um ambicioso projeto de educação que prevê a construção de um campus universitário do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ). O motivo é a negligência da Prefeitura do Rio de Janeiro. A verba, aprovada pelo governo federal, está prestes a expirar, pois já se passaram mais de três anos e nada foi feito.
Em 2011, o Governo Federal aprovou a criação de 120 campi do IFRJ, mediante o compromisso de que os governos municipais teriam que contribuir com esses projetos e, no caso do Alemão, doando o terreno para a construção do campus do instituto.
Para o município do Rio, foram aprovados dois campi e um campus avançado: Complexo do Alemão, Cidade de Deus/Curicica e Centro/Praça XI. Atualmente a cidade já conta com dois campi: Rio de Janeiro/Maracanã e Realengo. 
Líderes de movimentos sociais do Alemão se reuniram com o reitor do IFRJ, o professor Paulo Roberto de Assis Passos, no dia 7 de janeiro, com o objetivo de obter mais informação sobre as razões as quais o campus do Instituto Federal nunca saiu do papel.
Surpresa
“Só final do mês de dezembro que nós descobrimos a existência desse projeto que prevê a criação de um Instituto Federal. O IFRJ nos informou que o único empecilho para ainda não ter iniciado a construção é que a Prefeitura do Rio de Janeiro não cumpriu a parte dela no acordo, que era doar o terreno”, conta o morador do Alemão e coordenador do Instituto Raízes em Movimentos, Alan Brum, uma das organizações que estão se mobilizando para cobrar uma solução da Prefeitura Municipal.
Para a surpresa dos moradores, o terreno onde seria construída a unidade de ensino foi cedido ao Governo Estadual do Rio de Janeiro para a instalação da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP). “A Prefeitura do Rio de Janeiro chegou a apresentar esse terreno oficialmente à reitoria do IFRJ, em 2011. Nessa época ainda não existia UPP no Alemão. Depois disso, em 2012, o Governo do Estado pediu o terreno e instalou a Polícia Pacificadora”, informou Alan Brum.
Ainda segundo ele, na primeira quinzena de janeiro foi iniciado um diálogo entre a prefeitura e a reitoria do IFRJ. Os coletivos do Alemão também já solicitaram uma reunião com o prefeito Eduardo Paes e entraram com um pedido para realizar uma audiência pública na Câmara de Vereadores do Rio. As duas solicitações ainda não foram respondidas.
Centenas de jovens do Alemão, que sonham com uma vida melhor, depositam suas esperanças na educação como forma de superar a pobreza. É o caso do estudante do Ensino Fundamental, Jonas Vieira, de 14 anos, que ainda não escolheu a sua profissão, mas já sonha com a possibilidade de dar uma vida melhor para sua mãe. “Ela é empregada doméstica. Quero estudar algo que possa ter um bom trabalho e comprar uma casa boa para minha mãe”, afirmou o pequeno.
Mobilização
Moradores do Alemão estão organizando uma mobilização para o dia 31 de janeiro com o objetivo de pressionar as autoridades para viabilizarem a construção desse instituto. Está programada uma assembleia popular e atividades culturais que serão realizadas na praça principal do Morro Itararé/Alvorada. “Inclusive, a PM colocou uma barricada nessa praça, por isso estamos chamando esse evento de ‘ReintegraAção’”, destacou Alan.
Diversas organizações e movimentos sociais unem-se para o ato: Oca dos Curumins, Instituto Raízes em Movimento, Verdejar, Voz das Comunidades, Novo Complexo do Alemão, Educap, Gestores da Vila Olímpica do Alemão, CoopLiberdade e Coletivo Papo Reto.
Em um documento assinado por coletivos do Alemão, lideranças comunitárias afirmam que: “Julgamos essencial que tenhamos no bairro Complexo do Alemão uma unidade de ensino público de qualidade como o IFRJ. (...) Nossa juventude precisa urgentemente de espaços educacionais amplos que possam promover suas habilidades e capacidades, além de criar espaços de novas sociabilidades projetando-os para a inclusão plena em nossa sociedade”.
O que é IFRJ?
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) é uma instituição com autonomia universitária, que integra a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Suas unidades se dividem em polos (estruturas menores) e campus (estruturas maiores e com grande número de cursos e laboratórios).
Os IFRJ realizam formação inicial e continuada de trabalhadores, Ensino Médio Técnico - integrado, presencial e a distância, educação de jovens e adultos em Nível Médio Integrada ao Ensino Técnico, Graduação, Pós-Graduação lato sensu (Especialização) e Pós-Graduação stricto sensu (Mestrado e Doutorado).

Família de Lula vai começar a processar responsáveis por boatos

Iniciativa contra o responsável pela divulgação da informação falsa de que o filho do ex-presidente é proprietário do frigorífico Friboi é apenas o começo da investida.

por Lino Bocchini no site da Carta Capital
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Fábio Luís, o Lulinha, e o verdadeiro dono da Friboi, Joesley Batista

Nesta terça-feira 27 Fábio Luis Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, anunciou que iria processar o ex-candidato à presidência da República pelo PV, Eduardo Jorge, por conta de um tuíte divulgado no último domingo 18. A mensagem divulgava um antigo boato que ganha força todo período eleitoral, o de que Lulinha (apelido de Fábio) seria o dono do frigorífico Friboi. Na verdade a Friboi pertence ao grupo JBS, do qual fazem parte outras marcas como Swift e Seara. O proprietário é de Joesley Batista.
Lulinha errou o alvo. O tweet havia sido feito por uma conta falsa que se passa por Eduardo Jorge. A conta oficial do político é @EduardoJorge43, e a conta responsável pelo tweet é a@EduadoJorge43. O post em questão foi apagado. O Instituto Lula informou que não há processo contra o ex-candidato do PV, e sim uma “interpelação judicial” para se apurar se era ou não Jorge o responsável pela conta. Não sendo, informa o Instituto, será buscado o responsável “por dizer mentiras sobre o filho do ex-presidente” e aí então “se buscará responsabilizar o autor das calúnias”.
Apesar de ter atirado no alvo errado (ameaçado Eduardo Jorge quando não foi ele o autor da difamação), CartaCapital apurou que a resposta marca uma mudança de postura do ex-presidente Lula e de seus familiares em relação aos ataques difamatórios que lhes são dirigidos diariamente. A partir de agora os responsáveis serão processados.
O tweet que irritou o filho de Lula brincava com o bordão da então candidata à reeleição Dilma Roussef, que repetiu durante o período eleitoral que não mexeria nos direitos trabalhistas "nem que a vaca tussa". Dizia a mensagem do fake: "A vaca que tossiu não é do frigorífico do filho do Lula. Então pode comer à vontade".
Na interpelação judicial os advogados de Lulinha afirmam, entre outros argumentos que é “vítima de atos criminosos na internet que lhe atribuem, de forma mendaz, a propriedade de fazendas e, ainda, a participação societária em frigoríficos e empresas do gênero. Invariavelmente, tais afirmações – associadas a insinuações ou afirmações da prática de alguma conduta irregular ou ilegal – são lançadas por pessoas que se colocam no plano político como adversárias do Partido dos Trabalhadores (PT), pelo qual o genitor do interpelante, como é público e notório, já foi eleito Presidente da República em duas oportunidades”.
O boato difamatório de que “Lulinha é dono da Friboi” existe há anos e já foi desmentido diversas vezes por todos os envolvidos. Na última campanha, esta e outras informações mentirosas alimentaram uma grande quantidade de memes que circularam com força em toda a internet, em especial nas redes sociais e no Whatsapp.


Marginalzinho: a socialização de uma elite vazia e covarde

Parada em um sinal de trânsito, uma cena capturou minha atenção e me fez pensar como, ao longo da vida, a segregação da sociedade brasileira nos bestializa

por Rosana Pinheiro-Machado no site da Carta Capital
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                       "Não é difícil imaginar o impacto de esse olhar no inconsciente do menino negro e pobre"

por José Gilbert Arruda Martins

Vivemos sim um Apartheid à brasileira.
Somos um sociedade profundamente racista e preconceituosa.
Temos sim uma das elites mais ricas e indiferentes à tudo que diz respeito aos negros e aos pobres.
Os sinais da apartação estão em todos os lugares, bairros de rico e classe média, possuem melhores ruas, esgotos, policiamento, limpeza etc. As escolas particulares são, na sua maioria, prédios fabulosos, limpos, murados, protegidos; com equipamentos de última geração. (pagam muito mal a seus professores e professoras) mas, tirando isso, são espaços concretamente bem equipados e luxuosos.
Não podemos esquecer de citar uma questão interessante referente à educação. Boa parte dos alunos e alunas, filhos e filhas de classe média alta e das elites ricas que estudam a vida inteira em escola particular, quando vão fazer a graduação, normalmente se valem das Universidades Federais pagas e mantidas por toda a sociedade, inclusive pelo garoto negro e pobre da periferia.
Outro ponto, quando finalizam a graduação, por exemplo, em medicina, os filhos dos ricos, normalmente, montam suntuosas clínicas para atender seus pares, esquecendo completamente que suas graduação foi financiada por todos e todas.

Marginalzinho: a socialização de uma elite vazia e covarde

Parada em um sinal de trânsito, uma cena capturou minha atenção e me fez pensar como, ao longo da vida, a segregação da sociedade brasileira nos bestializa
ra a largada de duas escolas que estavam situadas uma do lado da outra, separadas por um muro altíssimo de uma delas. Da escola pública saíam crianças correndo, brincando e falando alto. A maioria estava desacompanhada e dirigia-se ao ponto de ônibus da grande avenida, que terminaria nas periferias. Era uma massa escura, especialmente quando contrastada com a massa mais clara que saia da escola particular do lado: crianças brancas, de mãos dadas com os pais, babás ou seguranças, caminhando duramente em direção à fila de caminhonetes. Lado a lado, os dois grupos não se misturavam. Cada um sabia exatamente seu lugar. Desde muito pequenas, aquelas crianças tinham literalmente incorporado a segregação à brasileira, que se caracteriza pela mistura única entre o sistema de apartheid racial e o de castas de classes. Os corpos domesticados revelavam o triste processo de socialização ao desprezo, que tende a só piorar na vida adulta.
Mas eis que, de repente, um menino negro, magro e sorridente, ousou subverter as regras tácitas. Brincando de correr em ziguezague, ele “invadiu” a área branca e se esbarrou num menino que, imediatamente, se agarrou desesperadamente no braço da mulher que lhe buscara. Foi um reflexo automático do medo. O menino “invasor” fez um gesto de desculpas – algo como “foi mal” -, e voltou a correr entre os seus, enquanto que a outra criança seguia petrificada.
No olhar do menino “invadido”, havia um misto de medo, de raiva, mas principalmente, de nojo – como que se a outra criança tivesse uma doença altamente contagiosa. Não é difícil imaginar o impacto de esse olhar no inconsciente do menino negro e pobre. Este aprendia, desde muito cedo, que era um intocável, que vivia em uma sociedade na qual seu corpo, na esfera pública, valia menos que o de um menino da mesma idade, que ainda não tinha nenhum mérito conquistado, apenas privilégios herdados.  As consequências desse gesto minúsculo serão trágicas para o menino "invadido", pois é vítima da ignorância social. Mas será muito mais trágica para quem é negro e desprovido de capital econômico, social e cultural. Para que essa que criança não se corrompa no futuro, ela precisa ser salva do olhar de nojo.
É possível que, por meio de leitura e mistura, o menino amedrontado se engrandeça politicamente no futuro, se liberte do muro que lhe protege e dispense o braço da babá. Mas, infelizmente, há uma tendência grande de que ele, cercado por medo e preconceito, passe o resto de sua existência se protegendo do “marginalzinho”. Pivetes, favelados, fedorentos: isso é tudo que o ele ouve sobre seus vizinhos. Trata-se de uma verdade histórica a priori, para além da qual não se consegue pensar. Essas categorias compõem o discurso forjado sobre a pobreza, que, em última instância, visa à intervenção e à manutenção do poder. Reproduzindo este discurso, então, o menino tornar-se-á um adulto. Ele blindará seu carro, colocará alarme em sua casa, pedirá a morte de traficantes. Dirá que rolezinho é arrastão, pedirá mais polícia e curtirá a vida em camarotes. Pode ser até que ele peça a volta da ditadura. Achando que é um cidadão de bem que age contra a marginalidade do mal, forma-se um perfeito idiota.
Ah, mas os pobres da África a gente gosta
Em 2012, enquanto eu estava em Harvard, recebi a visita de uma orientanda do Brasil. Ela tirava fotos e se exibia no Facebook: “#Orgulho”, “Minha orientadora é pós-doutora por Harvard, e a sua?”. Em uma pausa, ela me perguntou em que escola eu havia estudado para ter chegado a uma universidade da elite internacional. Ela buscava identificação. Eu era um exemplo de uma mulher jovem, branca e “bem sucedida”, exatamente como ela se projetava nos próximos dez anos. Eu, sabendo que ela havia estudado do lado de dentro do muro, respondi que passei a parte mais rica da minha vida, dos 2 aos 17 anos de idade, do outro lado do muro. Ela não postou, mas bem que pensou: #MinhaOrientadoraÉMarginalzinha...".
A reação dela era de decepção, vergonha e certa pena de mim. Ela ficou vermelha, desconcertada, sem chão. Engasgou-se e começou a tossir para disfarçar a cor de suas bochechas. Isso tudo porque ela sabia muito bem que tinha passado aproximadamente quinze anos de sua vida chamando pessoas como eu de “tigrada”. Ela se socializou negando a alteridade e, portanto, nunca imaginou que a relação de poder entre os atores dos diferentes lados do mundo se inverteria. Tudo que ela havia aprendido sobre aquele Outro era simplesmente de que se tratava de uma não-persona. O motivo pelo qual o seus vizinhos tinham menos do que ela não cabiam em sua imaginação. Fazendo parte da meritocracia sem mérito, ela simplesmente merecia ter o que tinha.
Ela, então, tinha que desvendar um enigma: como uma pessoa que tinha vindo de um lugar tão ruim podia estar em uma Universidade tão boa? A única maneira de ela se reconciliar com seus próprios preconceitos era me classificar como um daqueles casos excepcionais de superação que aparecem Globo Repórter. Eu respondi que não, que o destino de quem sai de lá tem sido muito variado. Há quem entra para o crime e morre antes dos 18 anos, mas a maioria tem histórias de lutas, perdas, mas, sobretudo, conquistas. Uma pena que ela nunca quis saber dessas histórias e deixou de crescer por meio da alteridade.
Ironicamente, essa aluna estava voltando de um programa voluntário para ajudar uma comunidade miserável de Ruanda.  Havia poesia – e alívio cristão – em (arrogantemente) querer salvar a África. Por algum motivo, os pobres e negros do lado de lá do oceano (que não assaltariam a sua caminhonete já adquirida aos 21 anos) eram mais dignos de sua profunda bondade do que os pobres e negros que ela havia ignorado por toda a sua existência.
Eu sempre me pergunto as razões pelas quais esse perfil de elite se comove com a pobreza romantizada, mas nega a solidariedade ao pobre da mesma cidade. Nessas horas, me vem à cabeça o dia em que meus colegas de escola estavam participando de um campeonato de futsal, mas não tinham quadra para treinar. Marcamos uma reunião com a diretora da escola do lado no intuito de solicitar, em nome de nossa vizinhança, o uso da quadra durante a noite, que ficava inativa. Em um ato de profunda humilhação, fomos “escoltados” até o escritório e recepcionados com as piadas das outras crianças (que não teriam tido coragem de debochar fora da fortificação). Depois de muita resistência, a diretora liberou o uso do ginásio, o que foi vetado uma semana depois em função de uma bola que tinha desaparecido. Apesar de eu ter convicção de que não houve roubo, eu nunca vou poder afirmar isso com 100% de certeza. O que eu posso afirmar para o resto da minha vida é que, desde então, eu sou contra a pena de morte – e de toda a concepção de que bandido bom é bandido morto - justamente porque muitos inocentes terão suas vidas abortadas por causa do preconceito. Quinze jovens tiveram seu sonho de competir interrompido por causa de uma falsa verdade: a de que nós só poderíamos ser ladrões. Consequentemente, “não adianta mesmo querer ser generoso e dar oportunidade para marginal”.
Entender que o pobre do lado tem o mesmo valor do pobre da África é uma tarefa para uma vida toda, pois envolve uma postura política de grandeza reflexiva intelectual e o reconhecimento de nossa responsabilidade sobre o Outro. Reclama-se da ineficiência do Estado brasileiro, mas toda a violência estrutural gerada por este Estado é reproduzida por sujeitos covardes e apáticos que negam, estigmatizam e inviabilizam o Outro.
Faz vinte anos que eu deixei a escola. Em minha última visita, em 2014, as instalações estavam muito mais deterioradas. As goteiras continuam lá. Sem professores em sala de aula, os alunos não podem ir para área de esportes porque o lugar está interditado há seis anos por risco de o teto desabar. Mas o muro da escola do lado continua a crescer.
Desde pequena eu aprendi que a violência é holista. As elites não são vítimas da violência urbana. A agressão sofrida é a mesma que se pratica.  O olhar de nojo é também assassino. E os muros ferem mais do que protegem.  Será que as pessoas imaginam o quanto podem crescer derrubando muros?