domingo, 1 de outubro de 2017

Decisão do STF sobre ensino religioso nas escolas é equívoco, diz professor da PUC

na Rede Brasil Atual

Jorge Cláudio Ribeiro, professor de Teologia e Ciências da Religião da PUC-SP, diz que em vez do ensino religioso confessional, escolas deveriam estimular a diversidade e a tolerância

ensino religioso
Contra a intolerância: "É preciso que a comunidade escolar seja capaz de criar um ambiente de convivência"

São Paulo – Para o professor titular do departamento de Teologia e Ciências da Religião da PUC-SP, Jorge Cláudio Ribeiro, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que liberou o ensino religioso confessional nas escolas públicas é um equívoco e uma contradição. "O modelo que admite aulas sobre uma religião específica é um equívoco porque a sociedade é plural no que se refere às religiões, não é uma paróquia, a docência não é um púlpito", afirmou. 
Em entrevista à Rádio Brasil Atual nesta sexta-feira (29), o professor afirma que "os supremos juízes erraram, porque parece haver uma contradição entre uma disciplina que é optativa e que ao mesmo tempo é confessional, ou seja, é optativa para os alunos e obrigatória para uma religião só". 
Ribeiro diz que essa decisão também representa a perda de uma oportunidade importante de estimular a diversidade e a tolerância religiosa nas escolas, e que é preciso questionar e adaptar essa nova realidade, de modo a afastar o risco de sectarismo e, até mesmo, que uma "guerra religiosa" seja transportada para os bancos escolares. 
"Seria lamentável que a guerra religiosa que existe em alguns nichos bastante difundidos da sociedade fosse transportada para as escolas. O sectarismo é indesejável em qualquer âmbito da vida humana. É preciso que a comunidade escolar seja capaz de criar um ambiente de convivência", frisa o professor.
Ele também ressaltou o risco de que religiões de matrizes africanas, como a umbanda e o candomblé, sejam silenciadas. "Todos nós de alguma forma somos africanos, umbandistas, candomblecistas, a umbanda é uma invenção brasileira. Essa mistura brasileira deveria ser mais incentivada, o Brasil possui uma riqueza religiosa construída há séculos." 

sábado, 23 de setembro de 2017

PROJETO:" Política Arroz com Feijão" - O Violento Cotidiano Fascista

por José Gilbert Arruda Martins

A vida cotidiana no Brasil caminha a passos largos rumo ao fascismo. A perseguição e os assassinatos das lideranças das chamadas minorias aumenta a cada momento, o Estado não age, portanto, resta a luta dos defensores da liberdade.

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É de conhecimento de todos e de todas, aqui e no exterior, que a violência no Brasil, fundamentalmente contra negros e negras, população LGBTS, indígenas, mulheres e pobres fazem parte da construção de país das elites brasileiras. Essa violência e perseguição seguida de assassinatos brutais, são parte de um projeto elitista de país, é uma coisa orquestrada há séculos e, segundo vários especialistas e organizações defensoras de direitos humanos - Veja aqui tem aumentado após o golpe do impeachment de 2015.

Nesse sentido, é importante que todo mundo veja que o Estado, dirigido atualmente pelo grupo de político e empresários golpistas, fecharam os olhos deles próprios e do aparelho de justiça para as seguidas ações violentas de latifundiários, de policiais e dos grupos e movimentos fascistas que crescem a olhos visto por todas as regiões dessa imensa nação. Como afirmou um ator brasileiro em seu canal no Youtube: "O país está à deriva".

No entanto, nem tudo está perdido quando temos um povo que luta. As organizações defensoras dos direitos humanos, os partidos progressistas e todos e todas as defensoras da liberdade estarão, com certeza, como sempre estiveram, à frente dessa luta contra todo tipo de violência.

Em virtude dos fatos mencionados, somos levados a acreditar na possibilidade de estarmos caminhando a passos largos rumo as fascismo. Como debatido no texto, temos, miseravelmente, todos os ingredientes históricos e atuais para isso: a violência é histórica, o Estado, com esse governo, propositalmente, não faz nada para impedir enquanto a violência só cresce. Resta a luta dos defensores da liberdade. Resta a consciência de que podemos e devemos lutar de forma organizada e corajosa na construção de um país onde as pessoas sejam respeitadas não importando que religião siga, não importando sua classe social, sua cor, seu jeito, seu sexo, suas preferências em todos os sentidos.

Imagem:  https://www.google.com.br/search?q=imagens+direitos+humanos+preto+e+branco&rlz=2C1SAVU_enBR0538BR0538&tbm=isch&imgil=4Wk37HMiugserM%253A%253BDSGs46B82DXYiM%253Bhttp%25253A%25252F%25252Finfoativodefnet.blogspot.com%25252F2013%25252F03%25252Fmulheres-direitos-humanos-hoje-e-sua.html&source=iu&pf=m&fir=4Wk37HMiugserM%253A%252CDSGs46B82DXYiM%252C_&usg=__OxJFE1Nau_Y7SKwMv2e4ebmnW4Q%3D&ved=0ahUKEwiH7sSWurvWAhXFkZAKHYYgDygQyjcIQA&ei=G2fGWcf0NcWjwgSGwbzAAg&biw=1280&bih=662#imgrc=4Wk37HMiugserM:

NÃO À HOMOFOBIA - Coletivos LGBT protestam em SP contra decisão sobre 'cura gay'

na Rede Brasil Atual

Ato na Avenida Paulista foi uma resposta à liminar que abre caminho para a aplicação de terapias de "reversão sexual"

por Gabriel Valery, da RBA

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"A psicologia comprometida com a transformação social não vê homossexualidade como doença"


São Paulo – Ativistas de diferentes movimentos organizados da sociedade civil realizaram nesta sexta-feira (22) um ato em defesa da causa LGBT na capital paulista. A manifestação “LGBT não é doença! Revogação imediata da liminar da ‘cura gay’” teve início por volta das 17h no vão livre do Masp, na Avenida Paulista. Com músicas, danças, beijos e sorrisos, os participantes reivindicaram o direito de existir e serem respeitados. Também não faltaram momentos em que todos entoaram em conjunto "Fora Temer".
O ato foi uma resposta à decisão do juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, da 14ª Vara Federal do Distrito Federal que, na última sexta-feira (15), concedeu uma liminar que abre caminho para a aplicação de métodos para reverter a orientação sexual do “paciente”. A medida vai contra a Resolução 01/99, do Conselho Federal de Psicologia, que impede tais métodos, visto que a homossexualidade não é considerada como doença desde 1990 pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
"As chamadas 'terapias de conversão' não apresentam qualquer cientificidade, não sendo reconhecidas pela psicologia, além de estarem associadas ao agravamento do sofrimento vivido por quem a elas é submetido", afirma o Conselho.
A organização do evento convocou todos para a mobilização contra o que consideram ser um absurdo. “Após a Justiça Federal acatar parcialmente a liminar que quer regularizar o uso de terapias de ‘reversão sexual’, nós do movimento LGBT vamos ocupar as ruas com nosso orgulho para revogar essa bizarra decisão que quer retroceder 27 anos de conquistas da luta LGBT”.
"Estamos contra essa balela, contra esses retrocessos. Estamos trabalhando desde 2013 juntos, caminhando com vocês e felizes. A psicologia comprometida com a transformação social não vê homossexualidade como doença", disse o psicólogo Rodrigo Mello, do Conselho Regional de Psicologia.
Participaram da manifestação, entre outras entidades, o coletivo Pão e Rosas Brasil, a Faísca: Anticapitalista e Revolucionária, o Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT), o Mais, o Rua: Juventude anticapitalista, o Afronte: Pra virar o jogo, a Atravessa, o Vamos à Luta SP, a Periferia Antifascista, a Ação Popular, o Conselho Regional de Psicologia (CRP-SP), a Casa 1, o Levante Popular da Juventude, Mães pela Diversidade e a Associação da Parada LGBT de São Paulo.
"Agradeço a todos aqui pela coragem. Não tenham medo. Lutem. Gritem. Mostrem para esse mundo que não temos nada a temer. A vida é para viver. Toda a força do amor está com vocês", disse o padre Júlio Lancellotti, que esteve presente na manifestação.
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"Não somos doentes"

Após a concentração que reuniu, em pouco mais de meia hora, milhares de manifestantes e os presentes seguiram em passeata – por volta das 19h, quando o ato tomou a avenida nos dois sentidos – até o prédio da Justiça Federal, na mesma quadra do Masp, onde realizaram um jogral em repúdio à liminar. "Nossa luta é todo dia contra o racismo, machismo e homofobia. As bi, as gay, as trans e as sapatão estão organizadas para fazer revolução", disseram em coro. Após um pequeno conflito entre a PM e manifestantes, o ato ganhou ainda mais força e os cantos aumentaram de volume.
"Um passo para trás foi dado. Mas não somos doentes. Eu pergunto, a quem serve a cura gay? Ao mesmo Estado que prendeu Rafael Braga e tira direitos com a reforma trabalhista e da Previdência?", questionou Virgínia, da organização.
A professora Flávia, militante do PSTU, disse que "sentimos na pele o que significou a interpretação de que LGBT é doença. Isso significa estupro corretivo, internações compulsórias e mortes. Agora sentimos essa violência vinda do Estado burguês. Homofobia não é doença. Tem que ser crime. Também é importante lembrar que a justiça, o Estado e a bancada evangélica são cúmplices. Doente é o capitalismo".
Dali, o ato seguiu pela avenida pela Rua Augusta até o Largo do Arouche para então encerrar a manifestação.
"Doente é o preconceito que matou a Dandara. Doente é o Bolsonaro. Nosso direito de ser e amar não podem ser criminalizados. Queremos viver sem morrer a cada esquina. Queremos um mundo sem medo, sem essa podridão e sem enterrar as LGBTs todos os dias. Não podemos esperar nada de governo. Por nossos direitos, viramos carro de polícia. Só assim vão nos deixar viver e amar sem dor", disse Magalhães, do coletivo Mais.
"Em 2010, fui vítima do 'atentado da lâmpada'. Estou aqui como resistência. Junto de mim, apanharam mais cinco meninos que estavam voltando para suas casas. Quero provar que podem me bater dez vezes mais. Se bateram com uma lâmpada, podem bater com dez porque estamos juntas nessa luta. LGBT resiste, estaremos sempre unidas", disse Rodrigo, vítima do ataque na Avenida Paulista.

A decisão judicial

O deputado federal Ivan Valente (Psol-SP) também participou do ato e conversou com os presentes. "Queremos um Brasil sem ódio, intolerância ou preconceito. Quem está aqui está para defender nossos direitos, queremos democracia e o fim desse ódio plantado. Nossa bancada entrou no Conselho Nacional de Justiça contra o juiz que deu o parecer espúrio, uma sentença que não condiz com a liberdade e é um retrocesso de acordo com o que estamos vendo no Brasil."
O juiz Waldemar Cláudio de Carvalho se pronunciou sobre o caso por meio de nota divulgada ontem (21). “Em nenhum momento este magistrado considerou ser a homossexualidade uma doença ou qualquer tipo de transtorno psíquico passível de tratamento”, afirmou. Carvalho disse que houve uma interpretação equivocada de sua decisão e que não irá se pronunciar novamente nem conceder entrevistas. Caso existam discordâncias, afirma o magistrado, estas devem ser “feitas judicialmente”, o que o Conselho Federal de Psicologia deve fazer na próxima semana.
“Considerando ser vedado ao magistrado manifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento”, afirmou o juiz. A decisão atendeu a uma liminar de um grupo de psicólogos que alegou ser “censura” o impedimento de “tratar” homossexuais. Entre as signatárias da ação está Rozangela Alves Justino, psicóloga que ocupa um cargo comissionado no gabinete do deputado da bancada evangélica Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ). O parlamentar é pastor da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, liderada por Silas Malafaia.

Outras cidades do país também contaram com atos similares nesta tarde, como as capitais Cuiabá, Rio de Janeiro, Vitória, Belém e Florianópolis. No interior de São Paulo, foram realizadas mobilizações em Taubaté, São Carlos, Campinas, Ourinhos e Bauru.

RISCO IMINENTE - Comitê de direitos humanos denuncia 'mortes anunciadas' de defensores

na Rede Brasil Atual

Carta aberta lista 15 casos no Brasil de risco de morte iminente de ativistas. Defensores denunciam inação do governo e cobram respostas ao aumento da violência

por Tiago Pereira, da RBA


Pau D'arco


São Paulo – Para alertar sobre a violência crescente contra pessoas que atuam na defesa dos direitos humanos no Brasil e cobrar a atuação urgente das autoridades para evitar que casos de perseguição e ameaça se consumem, o Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (CBDDH) listou 15 casos espalhados por todo o país em que há risco de morte iminente de ativistas.
Os casos listados incluem ataques e ameaças a comunidades de trabalhadores rurais, indígenas, quilombolas e pescadores que vivem em áreas distantes e até isoladas, mas também traz violações nas grandes cidades e áreas urbanas contra moradores das favelas do Rio de Janeiro e militantes LGBT no Paraná, por exemplo. 
Ainda em julho deste ano, o CBDDH – formado por mais de 30 organizações e movimentos sociais que atuam na defesa dos direitos humanos –  elaborou o dossiê Vidas em Luta em que apontam a morte de 66 defensores em direitos humanos em 2016. Neste ano, a marca deve ser superada, pois até o momento já são 62 os ativistas assassinados.
Para a pesquisadora da ONG Justiça Global e representante do comitêAlice de Marchi, os casos apresentados na "carta das mortes anunciadas", como denomina , são apenas uma "amostra" das violações que vêm ocorrendo em todo o país e servem de alerta para que novas ocorrências venham engrossar as estatísticas. "Diante de todos esses casos que não param de crescer, a gente precisa alertar a sociedade e as autoridades para que mais mortes não venham a ocorrer", afirmou, em entrevista coletiva do CBDDH nesta sexta feira (22) em São Paulo. 
Ela afirma que essa onda de violência contra os defensores cresce desde meados de 2015, mas teve impulso no ano passado, após a "ruptura democrática" do golpe do impeachment que colocou no poder um governo avesso a políticas voltadas aos direitos humanos.

Estado ausente

Os ativistas denunciam a ausência do Estado, na maioria dos casos, com a falta de proteção aos defensores e de investigação e punição aos crimes cometidos, e também o envolvimento de agentes públicos, como no Massacre de Pau D'Arco, ocorrido no Sul do Pará, em maio deste ano, que teve a participação de policiais civis e militares na morte de dez trabalhadores rurais.
Uma das graves situações de violência recorrente relatada ocorre no município de Nova Guarita, no estado do Mato Grosso, onde um casal que vive em um dos assentamentos rurais foi torturado e mantido em cárcere privado. As ameaças de morte se estendem aos demais moradores do Assentamento Raimundo Viera III, que também já tiveram suas casas queimadas, cercas cortadas, além de disparos contra casas e veículos dos assentados. Os agressores, mais uma vez, seriam fazendeiros interessados nos territórios ocupados.
No Maranhão, a violência é contra o povo indígena Akroá Gamela, na aldeia Cajueiro Piraí, município de Viana. Depois de ataque com arma de fogo, em abril deste ano, que deixou mais de 22 índios da etnia feridos, fazendeiros seguem ameaçando com armas, facas, paus e pedras. Em agosto, novos disparos foram registrados. O relatório completo com os 15 casos denunciados você confere aqui.
Alice disse ainda que o Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, criado em 2005 após a morte da missionária Dorothy Stang – que atuava em defesa de povos indígenas da Amazônia e foi morta por pistoleiros a mando de fazendeiros devido a disputas territoriais com os nativos – vem sendo desmantelado pelo atual governo, com corte de recursos e desligamento de defensores. 
Contra as populações indígenas, o integrante do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Lindomar Padilha diz que as ameaças e ações violentas são estruturais e endêmicas. Ainda assim, ele afirma que a atual situação é a mais grave desde meados dos anos de 1980. "Nos assusta também o requinte de crueldade. Não é só violação dos direitos, mas a desvalorização daquilo que é mais fundamental, que é a vida", disse ele.  

O povo guarani-kaiowá, segundo Padilha, contabiliza centenas de mortos, nas últimas décadas, o que configura um verdadeiro genocídio  quando as ações violentas visam o extermínio completo de um determinado grupo. Ele também sinalizou para a inação das autoridades governamentais. "Dia a dia há ataques e assassinatos em acampamentos dos guaranis, com milícias e pistoleiros a mando dos fazendeiros. Não se pode dizer que o governo não sabia, a gente precisa exigir providências do Estado. Se medidas não forem tomadas, a tendência é de agravamento dessa situação", afirmou o conselheiro indigenista.

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

PROJETO: “Política Arroz com Feijão” - EXPANSÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL NA ÚLTIMA DÉCADA

por José Gilbert Arruda Martins

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A educação de nível superior brasileira, segundo vários estudiosos do assunto, sofreu grande expansão na última década, mais precisamente de 2003 a 2014. Isso porque a educação passou a ser uma das prioridades do governo federal; além disso, com a expansão, o país saiu do sistema educacional superior de elite para o sistema de massa. Podemos afirmar que esse avanço importante é o suficiente e que está sob ameaça?

A educação pública de nível superior brasileira, nunca foi prioridade de governo nenhum ao longo da nossa história. No entanto, a partir do início dos anos 2000, o país se destacou no cenário mundial, elevando os gastos públicos “em educação de 10,5% do gasto público total, em 2000, para 14,5%, em 2005, e para 16,8%, em 2009uma das maiores taxas de crescimento entre os 33 países para os quais existem dados disponíveis. O Brasil ocupava a quarta posição em um rol de 32 países para os quais existem dados disponíveis e está acima da média da OCDE que é de 13%.” É de conhecimento público que o governo federal nesse período investiu na educação pública e, dentro dela, a educação de nível superior, foi bastante contemplada.

Essa preocupação em colocar a educação pública (e privada) como prioridade, claro, dentro de sérios limites orçamentários, fez com que o país alcançasse o patamar importante de massificação da educação superior. Segundo modelo teórico desenvolvido por Trow (1973, 2005) a transição ou a transformação histórica dos sistemas de educação superior segue três grandes fases: vai do sistema de elite para o sistema de massa e deste pode chegar ao sistema de acesso universal. Segundo Trow (2005, 16), o sistema de elite tende a atender até 15% do grupo etário relevante (de jovens entre 18 a 24 anos), O sistema de massa é definido, entre outras características, por atender entre 16 e 50% do grupo etário relevante, estando plenamente consolidado em relação ao sistema de elite quando passa a admitir mais de 30% das matrículas do coorte de jovens de 18 a 24 anos. O Brasil ultrapassou a faixa de 15%, portanto, passando a barreira da educação de elite para popular em 2006 no então governo Lula:

O governo de Luís Inácio Lula da Silva dá continuidade ao processo de expansão, por meio de novas iniciativas, o que é verificado pelo crescimento das matrículas, a qual vai corresponder a mais de 19% da população entre 18 e 24 anos em 2006 (GOMES e MORAES)

Ademais, não podemos esquecer, que os avanços foram importantes mas não foram suficientes. Para muitos pesquisadores e estudiosos da área, muita coisa ainda precisa ser feito. O país precisa continuar avançando e ampliando os investimentos para que a educação superior, fundamentalmente a pública, alcance um patamar de excelência, com investimentos financeiros suficientes para incluir mais e mais estudantes. Nesse contexto, infelizmente, com o golpe de 2016 que aprovou no Congresso a PEC do teto dos gastos públicos, mais uma vez é demonstrada de forma clara que a educação pública e ainda mais a educação superior não é prioridade, parece existir um projeto de sucateamento e futura privatização do ensino público brasileiro.

Por tudo isso, é importante ficar claro para todos e todas que a educação superior que passou por fundamental avanço na última década, precisa voltar a ser prioridade dos governantes. Como dito, o avanço não foi e não é suficiente. Além do que, com as medidas tomadas pelo governo, todo o avanço dessa última década está fortemente ameaçado. Precisamos derrotar o golpe e voltar às políticas de investimento em educação pública. A educação é reconhecidamente, instrumento de libertação, autonomia popular e, pode sim ajudar na construção de um país melhor para todos e todas.


Referências:

A EXPANSÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL CONTEMPORÂNEO: QUESTÕES PARA O DEBATE. Alfredo Macedo Gomes – UFPE Karine Nunes de Moraes – UFG Agência Financiadora: CNPq/ FACEPE

Brasil investe mais no ensino superior do que no básico. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2014-09/brasil-investe-mais-no-ensino-superior-do-que-no-basico> Acesso dia 15/09/2017

Education at a Glance: Indicadores OCDE 2012. Disponível em:  <http://download.inep.gov.br/acoes_internacionais/estatisticas_educacionais/ocde/education_at_a_glance/eag2012_country_note_-_Brazil.pdf> Acesso dia 15/09/2017

 IMAGEM: https://www.google.com.br/search?q=imagem+educa%C3%A7%C3%A3o+superior&rlz=2C1SAVU_enBR0538BR0538&tbm=isch&imgil=c6oGbtA4RrLiTM%253A%253BpbGEUCW3F5USwM%253Bhttp%25253A%25252F%25252Fz1portal.com.br%25252Fmec-criacao-de-polos-de-ensino-a-distancia-sera-mais-flexivel%25252F&source=iu&pf=m&fir=c6oGbtA4RrLiTM%253A%252CpbGEUCW3F5USwM%252C_&usg=__Qi1DTMEhcfG8y4EohPGQTRGDYKo%3D&biw=1280&bih=662&ved=0ahUKEwj2sOnCt6fWAhUFHZAKHSRSDx4QyjcIRQ&ei=-Oe7WfbUKYW6wASkpL3wAQ#imgrc=64NkG-6QmlX6XM:



AS POLÍTICAS DE TRANSFERÊNCIA DE ARMAS E A EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE INTERNACIONAL: CONTINUIDADE E MUDANÇA NA COOPERAÇÃO BRASILEIRO-FRANCESA Carlos Federico Domínguez Avila

no BJIR


Disponível em: http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/bjir/article/view/6685/4625

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Resumo: O artigo explora a relevância das políticas de transferência de armas sob a perspectiva da segurança internacional e da evolução da sociedade internacional. Entende-se que as transferências de armas são essencialmente atos políticos, mesmo que existam outros incentivos – econômicos. Elas atingem as relações bilaterais e multilaterais entre Estados fornecedores, receptores – e eventualmente também de atores não-estatais, bem como das vítimas e dos contribuintes de impostos. O Brasil e a França são países que apresentam um longo histórico de cooperação no campo da segurança internacional. Em consequência, torna-se necessário avaliar a recomposição das suas respectivas políticas de transferências.

Palavras-chave: Brasil; França; Segurança Internacional; Indústria de Defesa; Transferência de Armas.

Professor de Mestrado palestra em congresso internacional no México

no Site do Unieuro



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O Professo do Mestrado, Dr. Carlos Dominguez Avila, foi um dos palestrantes convidados no 5º Congresso Internacional de Ciências Políticas que aconteceu de 13 a 16 de setembro, em Cancún, no México. O tema foi “Democracias em Risco: Desigualdades, Discriminação e Corrupção”, bem propício ao debate que se amplia em toda a América Latina diante da conturbada e prolongada cena política em países como a Venezuela e o Brasil, por exemplo.


segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Adeus à democracia

na Carta Maior

A constituição pode coexistir com uma desigualdade econômica extrema?

Zephyr Teachout, The American Prospect

Reprodução/Youtube


"Podemos ter democracia neste país – ou podemos ter fortunas concentradas nas mãos de poucos. Não podemos ter os dois" – Louis D. Brandeis, da Associação de Justiça da Suprema Corte dos Estados Unidos (1856-1941)

Deve haver uma palavra alemã para o sentimento desagradável de quando as previsões terríveis de alguém se tornam realidade. Schmerz-Prognose: a dor da premonição. Algo assim deve ter tomado o professor de Direito de Vanderbilt, Ganesh Sitaraman, às 22h do dia 8 de novembro de 2016, quando um demagogo com tendências cleptocráticas conquistou a Casa Branca. Sitaraman basicamente previu isso e coisa muito pior em seu novo livro, The Crisis of Middle-Class Constitution (A crise da constituição da classe média, sem tradução em português).

Existem muitas teorias sobre a vitória de Donald Trump: misoginia, nativismo, ansiedade cultural, insegurança econômica e o declínio das mídias tradicionais. Sitaraman não refuta nenhuma destas, mas apresenta um argumento estrutural diferente, e muito mais terrível: a desigualdade é incompatível com a estabilidade democrática.

De acordo com Sitaraman, uma sociedade extremamente desigual, com uma constituição construída para a igualdade, não pode durar muito. A menos que algo mude rapidamente, podemos em breve experimentar uma revolução, ou instabilidade, tentativas de golpe e violência, destinos comuns de sociedades desiguais. O mais provável, ele escreve, é que "a república se transforme em uma oligarquia, ou as pessoas sejam seduzidas por um demagogo autoritário".

Quão desiguais somos? Durante gerações, a maior parte dos americanos era de classe média – até 2015. O 1% do topo detém mais de 30% da riqueza dos EUA, enquanto a metade mais pobre possui apenas 2,5%. Somente os bônus de Wall Street são o dobro do ganho de todos os trabalhadores que recebem salário mínimo no país. Somos grotesca, bizarra e grosseiramente desiguais, desiguais em riqueza, acesso à saúde, à escolaridade, ao ar e à água limpos. Desiguais em nosso acesso ao poder. E estamos mais desiguais a cada ano: desde que Ronald Reagan foi presidente, a renda dos que compõem o 1% mais rico duplicou.

Sitaraman acredita que simplesmente não temos o tipo de constituição para sobreviver a esse grau de desigualdade. Ele argumenta que existem dois tipos de estruturas constitucionais: Constituições de luta de classes e Constituições de classe média. Constituições de luta de classes – como as da Roma antiga, da Inglaterra e de Florença – pressupõem a desigualdade. Essas constituições foram projetadas com o objetivo de canalizar um antagonismo natural entre os muito ricos e os pobres através de mecanismos não violentos de negociação. Tanto os ricos quanto os pobres aceitam esses termos como condições para se verem livres da violência e da instabilidade que ameaçam os ricos e do despotismo e da arbitrariedade que ameaçam os pobres. Alguns usaram dispositivos como câmaras representativas específicas de classe para dar influência política a classes diferentes; alguns usaram dispositivos como loterias para garantir que os pobres pudessem ter voz.

O segundo tipo de constituição, a Constituição de classe média, depende de uma relativa igualdade entre classes e, especialmente, de uma classe média forte. A representação é projetada para canalizar diferentes interesses interclasses, e não a luta entre as classes. Os EUA, segundo Sitaraman, têm esse tipo de constituição. Temos, por exemplo, um Senado e uma Câmara sem exigência de propriedade para os candidatos, ou expectativa de que os mandatos sejam preenchidos pelos mais ricos. Não usamos loterias para escolher nossos representantes, mas nossos jurados. Ao contrário de outros países com outras constituições, não podemos sobreviver à desigualdade, porque não nos planejamos para ela.

James Harrington, pensador utópico do século XVII, aparece em todo o livro como o visionário subestimado por trás da Constituição americana. No livro de Harrington The Commonwealth of Oceana, ele apresentou um plano de sociedade onde a propriedade é distribuída uniformemente. A lei básica da política de Harrington é que o poder anda de mãos dadas com a propriedade: a desigualdade de propriedade leva à desigualdade de poder e vice-versa. Harrington parece ir além de Sitaraman, e argumenta que a liberdade depende de distribuição igualitária da riqueza. Ao contrário de Sitaraman, ele considera apenas um tipo de constituição bem-sucedida – o tipo de classe média. Harrington acreditava que a desigualdade leva ao luxo, e o luxo leva a desvios da razão e da justiça.

Os primeiros americanos podiam ser Harringtonianos – como definiu Sitaraman – e evitar uma constituição da luta de classes por causa da surpreendente igualdade que já existia no país. Na América revolucionária, o país era pouco povoado, com forte base agrária. Não havia extrema riqueza nem extrema pobreza, nem títulos de nobreza ou aristocracia hereditária. Sitaraman convoca uma grande variedade de pensadores coloniais de todo o país e do continente europeu para enfatizar a ausência de classes dos EUA, e destacar como isso proporcionou uma formidável oportunidade para a liberdade. Essas condições econômicas, argumenta, significavam que o republicanismo e o liberalismo americanos eram simplesmente diferentes das mesmas correntes de pensamento na velha Europa. Devido a essas diferentes realidades materiais, "a tradição Harringtoniana mescla temas republicanos e liberais" nos EUA, e não é preciso ver o liberalismo e o republicanismo como opostos um do outro.

Sitaraman demonstra, ao longo da história americana, um fio comum que uniu os Jacksonianos, os republicanos durante a reconstrução, os populistas, os progressistas do século XX e a equipe de Franklin Delano Roosevelt, em que pensadores divergentes vincularam nossa Constituição à nossa economia. Mesmo que sua leitura seja enviesada – e, às vezes, confundindo diferentes linhas de pensamento – há belas descobertas. Ele retoma o grande Daniel Webster, que em 1820 argumentava que a herança americana foi fundada na igualdade, e que a "influência natural" da desigualdade na distribuição da propriedade era o despotismo ou a violência.

Conselheiro de Elizabeth Warren e membro sênior do Center for American Progress, Sitaraman traz um olhar novo e um impressionante arco de pensamento histórico para uma questão atemporal: quais são as condições da liberdade? Ele percorre as lutas intelectuais dos séculos XIX e XX, quando os progressistas se esforçaram para reconciliar industrialização e democracia. Ele relembra episódios que levaram à criação progressiva do imposto de renda, ao desenvolvimento de leis antitruste, à criação de um estado de bem-estar... até o ocaso dessas conquistas – uma geração que reduziu impostos, parou de investir em infraestrutura pública e parou de impor as leis antitruste. Para Sitaraman, abandonamos as políticas essenciais à preservação da classe média.

Então, o que fazemos quando as condições em que um país foi fundado não existem mais? Podemos desistir da igualdade e adotar uma abordagem de luta de classe, ao que Sitaraman se opõe, ou podemos soar o alarme e adotar mudanças estruturais maciças, em toda a sociedade. Para ele, as reformas estruturais são a chave. Sitaraman é convincente em sua análise, e ainda mais convincente no nível mais amplo – fortalecer o trabalho, quebrar monopólios – mas menos convincente no que diz respeito às mudanças estruturais precisas que sugere, porque parecem pequenas perto da profundidade da crise com que ele nos aterroriza. A reinstauração da lei Glass-Steagall, embora importante, parece inadequada para a tarefa de revitalizar o igualitarismo americano. Quando se trata do financiamento de eleições, ele explica como o financiamento privado corrompe a formulação de políticas, mas não propõe mudar para o financiamento público. Em vez disso, ele enumera formas de limitar asrevolving doors (a expressão descreve a situação em que servidores públicos assumem cargos na indústria que regulavam anteriormente no governo, e vice-versa), e de fornecer serviços de lobby para comunidades desassistidas. Parece uma receita bem fraca para uma sociedade em crise – especialmente quando ele mesmo lembra que Roma passou de uma república estável para a guerra civil em apenas 53 anos.

O livro é melhor quando aborda a estrutura do pensamento público e como este mudou. Sitaraman conta a empolgante história do ataque de Franklin Roosevelt à plutocracia, e também como Roosevelt acreditava que a "tarefa comum dos homens de Estado e dos empresários" era a "criação de uma ordem econômica constitucional". Ao separar o pensamento econômico do constitucional, a crise eleitoral da crise da desigualdade, traímos não só nossa história, mas as verdades básicas que sustentam nossa sociedade.
Talvez uma das mais difíceis e interessantes questões seja aquela em que Sitaraman apenas esbarra. Qual é a distinção entre propriedade e riqueza? Sitaraman pressupõe que a propriedade e a riqueza desempenham o mesmo papel na teoria democrática. Ele argumenta que uma das falhas de Harrington é que ele fala apenas de propriedade, não de riqueza, e atribui o erro, como ele define, à forma que tinha a riqueza no tempo de Harrington.

Mas talvez o foco de Harrington na propriedade, e não na riqueza, não seja acidental. Propriedade e riqueza, embora relacionadas, desempenharam papéis diferentes na teoria democrática ao longo da história. Por exemplo, em A Condição Humana, Hannah Arendt identifica a tendência moderna de confundir as duas. A propriedade, segundo Arendt, historicamente criou as condições para a cidadania ao criar um espaço privado para o cidadão e as condições da liberdade. "A propriedade, diferentemente da riqueza e da apropriação, indica a parte privada de um mundo comum e, portanto, é a condição política mais elementar para a mundanidade do homem." A riqueza era menos permanente e menos capaz de conferir privacidade e liberdade. O que quer que se pese da crítica de Arendt, o livro de Sitaraman teria se beneficiado de um desenvolvimento mais completo da complicada relação entre propriedade e riqueza. Harrington escreveu: "Tal como é a proporção da propriedade em terra, é a natureza do império", não "Tal como a proporção de riqueza, é a natureza do império", e não há evidências de que estas frases sejam intercambiáveis ou que expressem a mesma teoria política.

As implicações políticas da diferença não são triviais. A redistribuição da riqueza através da tributação não é a mesma coisa que os regimes de propriedade estrutural, que levam à distribuição de propriedade, como leis igualitárias de herança ou regimes igualitários de propriedade intelectual.

Sitaraman está, certamente, correto quando afirma que a desigualdade de riqueza financeira também leva ao despotismo, mas há algo estruturalmente diferente entre as soluções que se concentram nas leis de propriedade como chave para o poder, e aquelas criadas para redistribuir riqueza acumulada. O livro, que tanto se apoia em teóricos do direito de propriedade, ganharia ao examinar as leis e estruturas de propriedade modernas e a atual desigualdade de propriedade – inclusive a propriedade intelectual – em nossa própria sociedade. A estrutura atual das leis de direitos autorais e de patentes tende a um alto grau de concentração de propriedade – e da liberdade que acompanha a propriedade – em nossa sociedade. O processo de patenteamento, por exemplo, é caro e intensivo em mão de obra, o que significa que as grandes empresas adquirem e defendem patentes mais facilmente do que as pequenas. Os proprietários de patentes usam o monopólio de propriedade para obter lucros, que usam então para fazer pressão por maiores proteções e maiores direitos à propriedade. A propriedade também lhes dá poder sobre reinos do pensamento e da ação, e o direito de excluir quem desejarem dos seus reinos de pensamento e ação. Os direitos de propriedade não são intercambiáveis %u20B%u20B com o direito de uso da riqueza financeira.

Quando Sitaraman escreveu o livro, Trump ainda não era presidente. Para quem está descontente com o atual presidente, no entanto, são significativas as implicações de seu raciocínio: nem os erros de Trump, nem candidatos democratas carismáticos, nem melhores aulas de cidadania farão diferença no longo prazo. Podem ajudar os democratas a ganhar uma ou duas eleições, mas não ajudarão a salvar nossa democracia. Não precisamos melhorar a comunicação eletrônica ou o corpo a corpo. O que precisamos é concentrar todos os esforços na luta contra a desigualdade estrutural.

 Tradução de Clarisse Meireles

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

PROJETO: "Política arroz com feijão": O neoliberalismo é a acumulação insaciável do capital

por José Gilbert Arruda Martins

O neoliberalismo é instrumento de acumulação insaciável do capital. Tudo o que pensa ou faz é com o objetivo de lucrar. Isso também ocorre, entre outros fatores, porque ao longo dos anos, com as repetidas crises capitalistas, esse sistema atua, sempre, de forma predatória, desregulamentando a economia, privatizando, destruindo direitos trabalhistas e retirando do imaginário popular a "ideia de que o homem e a mulher eram sim animais comunitários". Além do mais, o neoliberalismo tenta fazer com que as pessoas desacreditem de sentimentos universais importantes como solidariedade e amor ao próximo. Nesse contexto, é de fundamental importância que todos e todas do povo, percebam que a luta diária pela vida precisa incluir projeto de construção coletiva de um novo sistema.

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A abertura das economias dos países pobres e em desenvolvimento, a criação de leis que protejam ainda mais os rentistas e que facilitem as privatizações e a atuação do capital especulativo, além das reformas que acabam com os direitos trabalhistas e sociais, fazem parte do projeto vivo e atuante do sistema neoliberal que preconiza a acumulação infinda de riqueza.

Além do mais, uma sequência de movimentos históricos, sociais, econômicos, políticos, culturais... fizeram com que a sociedade esquecesse de uma parte crucial da sua própria formação que é o fato de que o homem e a mulher  eram, antes de qualquer outra coisa, animais comunitários. Nesse contexto, é importante que a sociedade entenda que o esquecimento de que somos essencialmente animais comunitários, nos afasta uns dos outros, fazendo de nós presas fáceis do sistema hegemônico. Sentimentos nobres de justiça, solidariedade e de amor ao próximo precisam fazer parte do nosso dia a dia.

Ainda convém lembrar que aluta cotidiana por uma boa e digna vida, precisa incluir, necessariamente, outra que é a luta consciente em favor da construção de um novo sistema, de um mundo novo.

Por tudo isso, entender que o neoliberalismo é instrumento de acumulação insaciável do capital, e que ele é parte de um sistema que oprime e exclui, além do que, reduz ou retira nossa percepção sobre nós mesmos, faz-se urgente e fundamental. Nos resta lutar conscientemente e diariamente no sentido de aprofundarmos em nossas mentes o fato de que somos sim, na nossa essência, animais comunitários. Isso o neoliberalismo não nos pode roubar.



Imagem: https://www.google.com.br/search?q=imagem+do+neoliberalismo&rlz=2C1SAVU_enBR0538BR0538&tbm=isch&imgil=lFCff1ZiijnWdM%253A%253BP-SAoaR0AA0aPM%253Bhttps%25253A%25252F%25252Fpt.slideshare.net%25252Fhodukitove%25252Fliberalismo-neoliberalismo-e-globalizao&source=iu&pf=m&fir=lFCff1ZiijnWdM%253A%252CP-SAoaR0AA0aPM%252C_&usg=__pViJOvltv6ueOYwhmv5PphMdrMo%3D&biw=1280&bih=662&ved=0ahUKEwjD6f_9xYTWAhVqqFQKHWJyCfEQyjcIQA&ei=hJ2pWcOXAurQ0gLi5KWIDw#imgrc=dVXeQkBTCRrjXM:

Comuns, a racionalidade do Pós-Capitalismo

no Outras Palavras

POR ELEUTÉRIO F. S. PRADO

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Depois de renovarem visão da esquerda sobre a ordem neoliberal, Pierre Dardot e François Laval sustentam: é possível superá-la, mas no século XXI os caminhos são outros
Por Eleutério F. S. Prado | Imagem: Zoo Project

Resenha de:
Comum – Ensaio sobre a revolução no século XXIDe Christian Laval e Pierre Dardot. Editora Boitempo, a ser publicado em outubro de 2017

Depois de A nova razão do mundo, a editora Boitempo vai publicar no Brasil um novo livro de uma dupla de pensadores radicais, Christian Laval e Pierre Dardot. Numa obra anterior, A Nova Razão do Mundo,como já se sabe, tratam do neoliberalismo que, para eles, não consiste na reabilitação extemporânea do mercado como “ordem natural” e, assim, do laissez-faire; ele versa, isto sim, pela imposição de sua essência como modo de vida, como “ordem moral”, isto é, como uma “lógica normativa global”. Antes de ser uma mera ideologia ou um receituário de política econômica, o neoliberalismo apresenta-se como uma racionalidade que quer estruturar o comportamento tanto dos governantes quanto dos governados. Para reafirmar e fazer sobreviver o capitalismo, ele quer se consolidar nas instituições da sociedade e, assim, nas condutas e nas consciências individuais, implantando “um novo modo de governo dos homens segundo o princípio universal da concorrência” (Laval e Dardot, 2016, p. 17).

170829-DardotLavalO novo livro, Comum — Ensaio sobre a Rvolução no Século XXI, é uma espécie de complemento do anterior. Se o primeiro faz a crítica do neoliberalismo, este outro, que agora aparece em português, procura mostrar como se deve enfrentá-lo. Visa, assim, manter a esperança de que se possa derrotá-lo no futuro por meio de um feixe de lutas bem orientadas, as quais nascem localmente, mas sempre se espraiam e se fundem na escala global. Se o propósito do neoliberalismo é afirmar a propriedade privada e, com ela, a acumulação insaciável de capital, por meio da prescrição ilimitada da norma da concorrência, aquilo que o contraria deve estabelecer o princípio do comum e, com ele, a preservação da vida humana e do ambiente natural, institucionalizando práticas de cooperação democrática em todos os domínios. O livro quer mostrar, portanto, que há alternativa ao capitalismo, mesmo se parece que esta não existe:
“O porvir parece estar em suspenso. Vivemos um momento estranho, desesperante e inquietante, em que nada parece possível. O porquê não tem nenhum mistério; não se deve a nenhuma eternidade do capitalismo, mas sim ao fato de que ele não enfrentou ainda obstáculos suficientes. O capitalismo continua exibindo sua lógica implacável, ainda que a cada dia demonstre sua temível incapacidade para trazer solução para a crise e para os desastres que engendra” (Dardot e Laval, 2017, p. 15).
Uma sequência de movimentos históricos produziu, como se sabe, essa sensação de impotência que ora se experimenta: aquilo que mais abalou a confiança num futuro pós-capitalista foi sem dúvida o afundamento econômico e político do “socialismo real”; ademais, já no curso de sua decadência, a partir dos anos 1980, viu-se a ascensão avassaladora do reformismo neoliberal, assim como o adesismo da socialdemocracia e, assim, a sua descaraterização. A partir da crise de 2008, se o neoliberalismo entrou em crise, o que se viu foi o renascimento da política da extrema direita com a sua carga de ódio, xenofobia, misoginia, enfim, de nacional-populismo. Como, então, recuperar a esperança? É possível superar o capitalismo? É justo ainda aspirar por uma nova forma de organização da sociedade? Há forças sociais capazes de realizá-la?
Em primeiro lugar, segundo os autores, é preciso notar que não há alternativa à luta sem trégua para superar o capitalismo e a sua racionalidade dominadora de mundo. Pois a sua continuidade e, assim, o aprofundamento inevitável de sua lógica de exploração, ameaça hoje a própria existência da humanidade. Ele não só ameaça as condições de vida do planeta, mas também promove uma guerra econômica entre os seres humanos da qual resultam muitos perdedores, precarização da força de trabalho, desigualdade de renda e riqueza crescente, assim como o esvaziamento da democracia. Na verdade, o capitalismo sob a regência neoliberal requer que o governo do povo seja posto entre aspas sempre que possa ameaçar o sistema. E é isto faz com que prevaleça uma tendência para instituir o estado de exceção.
Segundo Laval e Dardot, à medida que essa nova razão do mundo vai se impondo e se sobrepondo às práticas tradicionais, ela não pode deixar de consumir cada vez mais os “comuns” herdados, os quais são necessários à existência e a continuidade da vida humana em sociedade. Sem ar puro, por exemplo, não pode haver boa respiração e, sem esta, não há vida. Ademais, conforme a nova razão do mundo progride, ela reforça o caráter imperativo do sistema econômico e, assim, impede cada vez mais que os seres humanos possam governar-se a si mesmos, escolhendo o futuro que desejam. Nesse sentido, conforme avança, consuma uma tragédia, a “tragédia do não-comum”.
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François Laval (esquerda) e Pierre Dardot: para eles,”vivemos momento desesperante”, mas os caminhos para enfrentar o Capital continuam aberta. Nesta trilha, talvez o Estado tenha perdido centralidade
E essa tragédia, por isso mesmo, suscita a emergência de uma oposição que quer aplastar tanto o mercado como o Estado. O primeiro porque ele é a forma concreta da sociabilidade competitiva. O segundo porque não se pode mais confiar no poder estatal como regulador das condições de operação do que Karl Polanyi chamou de “moinho satânico”. Eis que o Estado – e a história do socialismo real mostra isso com certa clareza – apenas pode criar “formas coletivas de propriedade privada” que nunca deixam de favorecer uma classe dominante. Em consequência, a esperança civilizatória passa e tem de passar a recair na reposição, por meios institucionais, dos velhos comuns, assim como na criação de novos que se mostrem necessários. Eis que a ideia do “comum” assim se alevanta como a verdadeira alternativa ao neoliberalismo.
Longe de ser uma pura invenção conceitual, tem sido a formula dos movimentos e correntes de pensamento que buscaram opor-se à tendência principal de nossa época: a extensão da propriedade privada a todas as esferas da sociedade, da cultura e da vida. Nesse sentido, o termo “comum” designa não o surgimento de uma ideia eterna, mas a emergência de uma forma nova de se opor ao capitalismo — inclusive, de visar a sua superação. Trata-se, igualmente, de um modo de voltar as costas definitivamente ao comunismo estatal. O Estado, convertido em proprietário de todos os meios de produção e de administração, aniquilou metodicamente o socialismo, o qual foi concebido como um aprofundamento da democracia política – e não como a sua recusa (Dardot e Laval, 2017, p. 21).
A luta pelos comuns não é uma ideia na cabeça de filósofos inconformados. Ao contrário, ela está inscrita na prática corrente de muitos movimentos sociais e culturais que vêm se opondo bravamente ao capitalismo seja na esfera mercantil, seja na esfera do Estado empreendedor. O livro de Laval e Dardot, em consequência, não se apresenta como uma estrela que quer guiar uma massa de almas vagantes e perdidas numa modernidade vista como tardia. Ele não tem por vocação ser um instrumento intelectual da vanguarda, mesmo se deseja permanecer no campo revolucionário. O princípio que o orienta não é o do centralismo, mas apenas o da democracia.
O seu propósito consciente é apreender e reforçar essa dinâmica que já está contrariando de múltiplas formas e em muitos lugares o dinamismo cego do capital. O seu objetivo, pois, é “refundar o conceito de comum de forma rigorosa”, conectando esse esforço às práticas correntes da esquerda anticapitalista. A sua meta é questionar incisivamente o fundamento filosófico, jurídico e econômico do capitalismo, desvelando o que ele reprimiu e esmagou historicamente por meio da instituição sempre mais extensiva da propriedade privada.
A ideia de que o homem é um animal comunitário é muito antiga. E ela contraria, como se sabe, a ideia moderna do “homo œconomicus”, privilegiada sempre pela economia política, a ciência burguesa por excelência. E esta, como se sabe, erige-se em última análise para defender e promover a acumulação de riqueza na forma abstrata. Diante do avanço sem medida do capitalismo por meio agora do neoliberalismo, a luta pelos comuns ressurge como um grito contra a destruição dos fundamentos últimos da vida humana. Para enfrentar o princípio de competição desenfreada, essa luta reaparece como busca por formas de vida em comum, radicalmente democráticas. Eis que a verdadeira riqueza é a riqueza concreta apenas suficiente para criar a vida boa.
Nessa perspectiva, por “comuns”, Laval e Dardot designam tudo aquilo que está posto como condição objetiva da atividade coletiva das pessoas; por “comuna”, em complemento, indicam o modo de organização caracterizado pelo autogoverno das próprias pessoas que se valem dos “comuns”. Eles empregam o termo “princípio do comum” para assinalar o princípio político que institui os “comuns” enquanto formas sociais que permitem uma vida plenamente civilizada.
O livro Comum tem três partes. Na primeira, A emergência do comum, Laval e Dardot fazem uma investigação histórica para indicar as condições da emergência da luta pelos comuns na contemporaneidade, à medida mesmo em que eles passaram a ser deliberadamente soterrados pelo neoliberalismo. Ao mesmo tempo, buscam nessa primeira parte submeter à crítica as concepções que surgiram no bojo dessa luta para defender os comuns, assim como para delinear os contornos de sociedades pós-capitalistas. Na segunda parte, Direito e instituição do comum, eles trabalham no campo da ciência jurídica com o fim de encontrar as bases normativas ou institucionais dos comuns em geral. Finalmente, na terceira parte, eles dedica-sem às Propostas políticas. Aí, “sem pretender redigir um programa”, eles fazem proposições concretas para instituir comuns, para emancipar o trabalho, para organizar a democracia participativa, para construir uma federação de comuns, etc.
Segundo Laval e Dardot, a chegada de um mundo novo já pode ser pressentida nos dilaceramentos, nos impasses e nos alvoroços do tempo presente. Mas não se sabe se “esta comoção desemboca no reino tirânico e cada vez mais absoluto do capital ou em uma nova revolução democrática e anticapitalista em escala planetária” (Laval e Dardot, 2017, p. 649). Pois, o que dolorosamente se sabe hoje é que não se tem mais aquela certeza de antigamente — a saber, que o desenrolar da história conduzirá a humanidade, necessariamente, para um mundo melhor. Sabe-se também, por um lado, que o neoliberalismo é uma racionalidade política que se impõe institucionalmente e, por outro lado, que para combatê-lo é preciso lutar politicamente pela institucionalização de outra racionalidade.
Laval e Dardot propõe que o comum, enquanto um princípio político, seja o fundamento dessa nova racionalidade que pretende substituir a racionalidade do mercado total. O que ele significa? Por meio da ação coletiva, os seres humanos se dão o direito de deliberar sobre o que não é apropriável privada ou estatalmente, assim como sobre as normas que regem o uso responsável dos bens postos na condição de comuns. Mas a auto-gestão dos comuns não implica, segundo eles, a supressão total da propriedade privada e dos mercados, mas apenas a sua severa limitação; eis que o capital pode existir em pequenos nichos, mas não pode governar as mulheres e os homens, determinando as condições de sua sobrevivência. Ademais, para que sobrevenha uma sociedade verdadeiramente civilizada, enquanto “comunas” e “democratas”, julgam que é necessário recuperar a grandeza da ideia de revolução:
“É possível e desejável atualmente retomar a ideia de uma revolução que nada tem a ver com uma espécie de apocalipse milenarista ou uma marcha triunfal em direção a um porvir radiante. Numa entrevista intitulada O que é uma revolução, Cornelius Castoriadis quis dissipar uma ilusão: ‘A revolução não significa nem guerra civil nem um banho de sangue. A revolução é uma mudança de certas instituições centrais da sociedade mediante a atividade da própria sociedade: uma autotransformação da sociedade em curto espaço de tempo’” (Laval e Dardot, 2017, p. 656).
Referências
Laval, Christian; Dardot, Pierre – A nova razão do mundo –Ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2106.


quarta-feira, 30 de agosto de 2017

PROJETO: "Política arroz com feijão" - O desmonte do Estado na era FHC

por José Gilbert Arruda Martins


A reforma denominada gerencial promovida nos governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC) na década de 1990 não modernizou, mas, privatizou o Estado brasileiro pois, o patrimônio público foi entregue ao grande capital rentista satisfazendo apenas o mercado, além de reduzir drasticamente o importante papel do Estado como investidor em obras de infraestrutura, expansão dos serviços públicos de qualidade e de políticas públicas de distribuição de renda. Porém, apesar das privatizações que prometiam modernizar e elevar o padrão social, a vida do povo não melhorou.

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Na década de 1990, em seus dois governos de 1995 a 2002, FHC do PSDB-SP, a despeito de fazer reforma com o objetivo de modernizar o Estado brasileiro, promoveu o que é considerado por vários estudiosos, o maior e mais importante desmonte estatal conhecido até então no mundo, para esses especialistas, o patrimônio público foi entregue ao grande capital satisfazendo apenas o mercado sem contrapartida social à altura.

Além do mais, a política de suposta modernização patrocinada por FHC, reduziu fortemente o importante papel do Estado como fomentador e investidor direto em obras de infraestrutura, expansão dos serviços públicos e das políticas públicas de distribuição de renda. Tais medidas, além de enfraquecer o Estado, permitiu a ingerência e controle do setor privado, em diversas áreas.

No entanto, o processo de modernização propalado que, entre outros fatores, entregou o patrimônio brasileiro, não melhorou a vida do povo mais pobre. Ao contrário, o Brasil encerrou o ciclo de dois governos de FHC na lista dos países mais desiguais e com percentual altíssimo de pobres e miseráveis.

Em virtude dos fatos mencionados, somos levados a acreditar que a aludida reforma gerencial de FHC do PSDB-SP, não modernizou, apenas privatizou o Estado brasileiro. Nesse sentido, é fundamental que as próximas eleições de 2018 renove os quadros políticos para que possamos ter uma nova chance de modernizar o Estado mas com inclusão social, justiça, igualdade e respeito à democracia.


Imagem: https://www.google.com.br/search?q=imagem+das+privatiza%C3%A7%C3%B5es+do+FHC&rlz=2C1SAVU_enBR0538BR0538&tbm=isch&imgil=RT9P9RQaGY8GXM%253A%253BwFHeaCD9707QiM%253Bhttps%25253A%25252F%25252Fblogdotarso.com%25252F2012%25252F02%25252F12%25252Ffolha-de-s-paulo-confessa-que-ao-contrario-de-fhc-lula-e-dilma-nao-privatizaram-empresas-estatais%25252F&source=iu&pf=m&fir=RT9P9RQaGY8GXM%253A%252CwFHeaCD9707QiM%252C_&usg=__EvPm6VUvDyE4BsbgqwJSiMdpMWw%3D&biw=1280&bih=662&ved=0ahUKEwipg6q-i__VAhXBHpAKHRHtD_QQyjcIQA&ei=FsGmWamgIsG9wASR2r-gDw#imgdii=tp8ZntbrXoMmaM:&imgrc=RT9P9RQaGY8GXM: